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37 | II Série A - Número: 024 | 29 de Outubro de 2014

poderia ter sido travada pelo Estado não fosse este, apesar da sua oposição inicial, se ter vergado à pressão do maior acionista da PT: o BES.
Como hoje, já na altura os acionistas privados da PT, como Ricardo Salgado, não viam a empresa de acordo com o seu potencial estratégico para o país, mas como uma cashcow, destinada à satisfação das suas necessidades imediatas de liquidez.
Foram essas necessidades que fizeram com que a PT, durante anos e anos, fosse a empresa que mais generosos dividendos distribuiu. Nos últimos 14 anos a PT distribuiu 11 600 milhões de euros em dividendos aos seus acionistas. Para perceber a dinâmica que tomou conta da empresa nos últimos anos, basta reparar que 9500 desses 11600 milhões foram distribuídos desde o anúncio da gorada tentativa de Opa da Sonaecom, em 2006.
A distribuição de dividendos muito acima das suas possibilidades, foi o esquema encontrado pelos gestores Zeinal Bava e Henrique Granadeiro para gerirem uma complexa teia de interesses. O resultado está à vista. A sua ligação umbilical às necessidades da finança, leia-se Banco Espírito Santo, acabou por descapitalizar a empresa, endividando-a, e retirando-lhe capacidade de investimento.
Desta política de desresponsabilização do Estado e de subjugação das empresas industriais portuguesas à finança sobram apenas dúvidas e preocupações. Preocupações sobre o futuro do operador incumbente de comunicações, sobre o futuro de milhares de trabalhadores ou o futuro do investimento em infraestruturas vitais para a modernização do País.
PSD, PS e CDS garantiram ao longo dos últimos anos que as privatizações não iriam colocar em causa a permanência dos setores estratégicos em mãos nacionais. Mais que isso, o país não pode esquecer que a alienação da Golden Share foi um dos temas da campanha interna do PSD, juntando todos, à vez, na defesa desta irresponsabilidade. Dizia o Primeiro-Ministro que o fim das Golden Share do Estado teria lugar acautelando os interesses estratégicos do País.
Hoje é claro. Não só as privatizações de setores como a energia ou combustíveis não trouxeram os proclamados benefícios da concorrência, como monopólios naturais fundamentais para a soberania nacional foram parar às mãos de regimes ditatoriais ou aos bolsos de fundos especulativos sem nenhum interesse de médio ou longo prazo.
Em nome dos interesses financeiros que a governavam, a PT tomou sempre as decisões erradas: vendeu a Vivo, o seu maior ativo, apenas para gerar receitas de curto prazo; distribuiu dividendos para contentar acionistas em detrimento do investimento na própria empresa; fundiu-se com uma empresa, a Oi, que a canibalizou; e, como se não bastasse, empenhou o seu fundo de tesouraria na dívida ruinosa na RioForte, que lhe viria a custar quase 30% da sua participação na empresa brasileira. Agora, sem poder, a PT arrisca-se a ser vendida a um qualquer fundo estrangeiro.
Todas estas más decisões podiam ter sido evitadas se, em vez do BES ou da Ongoing, o acionista da Portugal Telecom fosse o Estado e, se em vez dos interesses puramente financeiros, o interesse nacional tivesse prevalecido.
Toldado pelo seu dogmatismo liberal, este governo de maioria PSD/CDS, não sem a colaboração das decisões dos governos PS anteriores, desfez-se de todos os mecanismos de intervenção na PT – desde a Golden Share à participação da Caixa Geral de Depósitos – e agora contenta-se em assumir a posição de mero espectador de uma cena sem final feliz.
Este não é, nem pode ser, o papel de um Estado que quer zelar pelo futuro da sua economia e, até, da sua soberania. Não é aceitável que o Governo assista impavidamente à alienação e definhamento de uma boa parte das suas empresas estratégicas nacionais, peças chave na implementação de qualquer política económica futura.

A situação atual da PT Portugal A PT Portugal não é hoje mais que uma subsidiária da Oi, empresa brasileira que detém o controlo integral sobre toda a operação portuguesa.
A antiga estrutura acionista da PT Portugal, a Portugal Telecom SGPS, SA, é agora um sócio minoritário da Oi, sem qualquer poder de decisão sobre o futuro do grupo em Portugal. A recente e continuada derrocada do valor das ações da PT não deixa antever qualquer possibilidade de reversão desta situação subalterna, antes pelo contrário.

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