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II SÉRIE-A — NÚMERO 62 60

o glifosato. Esta substância atua nos animais como desregulador hormonal e cancerígeno e tem uma

degradação suficientemente lenta para ser arrastado (pela água da chuva, da rega ou de lavagem, em conjunto

com um resíduo também tóxico resultante da sua degradação), para a água, quer a superficial (rios, ribeiros,

albufeiras e lagos), quer a subterrânea. Em França mais de metade das águas superficiais analisadas tinham

resíduos de glifosato e/ou de AMPA, o seu metabolito tóxico.

A empresa Monsanto investiu no herbicida glifosato e coloco-o no mercado com o nome comercial de

Roundup em 1974. O crescente uso de glifosato nos últimos anos pode ser em parte explicado pelo facto de a

Empresa Monsanto ter vendido o Roundup para departamentos municipais de parques e jardins e também a

consumidores, publicitando-o como sendo biodegradável e estando de acordo com o meio ambiente,

promovendo o seu uso em valetas, parques infantis, campos de golf, pátios de escola, relvados e jardins

privados. Por este motivo, em 2009 esta multinacional foi condenada pelo Supremo Tribunal francês ao

pagamento de uma multa de 15 mil euros, por publicidade enganosa. Outra explicação para o aumento do uso

a nível mundial prende-se com a sua utilização no cultivo de Organismos Geneticamente Modificados (OGM),

que entre 1996 e 2011 aumentou o uso de herbicidas nos Estados Unidos em 243 milhões de kg – ainda que a

Monsanto tenha assegurado que os cultivos de OGM reduziriam o uso de pesticidas e herbicidas. Tal situação

é agravada pelo facto dos produtos e sementes de plantas transgénicas desenvolvidas para resistirem ao

glifosato poderem transportar maiores concentrações deste tóxico, que é usado nestas circunstâncias para

matar as plantas “daninhas”.

De acordo com informações disponibilizadas pela Quercus, mais de 80% das plantas transgénicas

produzidas no mundo (sobretudo soja, mas também milho) foram geneticamente modificadas precisamente para

receber aplicações de glifosato. Isto significa um acréscimo adicional de resíduos deste herbicida na

alimentação, aumento esse que se deve exclusivamente ao uso de OGM. Considerando que os primeiros

transgénicos foram autorizados na União Europeia em 1996, não será coincidência que em 1999 a UE tenha

aumentado em 200 vezes a sua tolerância aos resíduos de glifosato na alimentação (passaram de 0.1 para 20

mg/kg no caso da soja). Fica assim evidente que os transgénicos pioram a exposição das populações a

substâncias perigosas.

Na Europa, o tipo de agroquímico mais vulgarmente detetado na água é o dos herbicidas. Os herbicidas,

para além da sua toxicidade, têm diversos outros efeitos negativos, destacando-se a diminuição da

biodiversidade do solo o que contribui para uma diminuição significativa da atividade de bactérias e fungos

benéficos ao desenvolvimento das plantas.

O glifosato já foi detetado em análises de rotina a alimentos, ao ar, à água da chuva e dos rios, à urina, ao

sangue e até ao leite materno, tendo sido elaborados vários estudos ao longo dos anos que demonstram a sua

perigosidade.

A Organização Mundial de Saúde, através da sua estrutura especializada IARC – Agência Internacional para

a Investigação sobre o Cancro sediada em França, declarou em março de 2015 o glifosato (junto com outros

pesticidas organofosforados) como "carcinogénio provável para o ser humano". Na sequência de vários estudos

efetuados, esta classificação significa que existem evidências suficientes de que o glifosato causa cancro em

animais de laboratório e que existem também provas diretas para o mesmo efeito em seres humanos.

O IARC é a maior autoridade mundial no que toca ao estudo do cancro, tendo esta decisão sido tomada por

unanimidade entre os 17 especialistas do painel liderado pelo Dr. Aaron Blair, um geneticista que durante 30

anos dirigiu a unidade de neoplasias profissionais do Instituto Nacional de Cancro norte-americano. O IARC

avaliou toda a investigação científica publicada até à data nesta área, nomeadamente em termos

epidemiológicos.

Decorrente de estudos do IARC, bem como de especialistas que há vários anos estudam esta questão e que

se encontram documentadas, concluiu-se que a exposição ao Roundup e ao glifosato aparece associada ao

aparecimento de vários problemas de saúde como: Alzheimer, autismo, afetação do desenvolvimento normal do

feto, pelas alterações provocadas à vitamina A, diabetes, doenças cardíacas, esclerose lateral amiotrófica

(doença de Lou Gehrig), doença de Parkinson, problemas reprodutivos e durante a gravidez, doenças

respiratórias e de vários tipos de cancro, nomeadamente cerebral ou da mama.

Um dos impactos concretamente identificados pelo IARC foi entre a exposição ao glifosato e um cancro do

sangue: o Linfoma não Hodgkin (LNH). Muito embora não se possam atribuir todos os casos deste cancro a

uma única substância, é relevante que Portugal apresente, dos 41 países europeus para os quais o IARC