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II SÉRIE-A — NÚMERO 113 6

PROJETO DE RESOLUÇÃO N.º 877/XIII (2.ª)

PELA CRIAÇÃO DE UM MUSEU NACIONAL DA EMIGRAÇÃO

Portugal precisa de ter um Museu Nacional da Emigração, que espelhe uma parte essencial da nossa

identidade e história coletiva, que foi sendo construída ao longo de séculos através de um legado humano rico

e variado, disperso por todos os continentes na cultura, no património e na Língua. O legado português merece

ser conhecido de todos, através dos milhares de factos e histórias de emigração protagonizados por sucessivas

gerações de emigrantes.

Tanto se lhe pode chamar expansão marítima ou emigração forçada por razões económicas, missões de

Estado ou espírito de aventura. A verdade é que, a partir do momento que um cidadão deixa o seu país, há um

novo mundo que o espera, com regras e contextos culturais diferentes.

De uma maneira geral, a emigração portuguesa carateriza-se por uma extraordinária capacidade de

adaptação nos quatro cantos do mundo, das zonas desérticas aos lugares mais frios, onde os portugueses foram

deixando a sua marca material e imaterial na História das nações, não obstante as dificuldades, obstáculos e

contrariedades que encontraram pelo caminho.

Existem inúmeras evidências dispersas em documentos e outros materiais das múltiplas expressões da

emigração portuguesa ao longo dos séculos, que foi variando consoante os contextos económicos, sociais e

políticos. Durante todo o século XX, registaram-se dois movimentos migratórios bem definidos. Um, na primeira

metade do século, que foi uma emigração transoceânica, dirigida essencialmente para a América, primeiro para

o Brasil e os Estados Unidos e, mais tarde, para o Canadá. O outro, na segunda metade do século XX, foi

sobretudo para a Europa, após a Segunda Grande Guerra e dirigiu-se acima de tudo para França e para a

Alemanha, ambas com características muito distintas, no âmbito do forte desenvolvimento industrial da Europa

ocidental. Mas tanto num caso como noutro, a ditadura exerceu sempre o seu controlo sobre a vida de cada um

dos emigrantes e da emigração em geral, combatendo-a com os seus meios de repressão e propaganda,

condicionando-a, negando-a e utilizando-a em proveito do regime. E, após os anos 60 e 70, a emigração

portuguesa continuou para países como o Luxemburgo, a Suíça, o Reino Unido e outros, sempre obrigada pela

ditadura a processar-se de forma irregular e com os riscos inerentes a essa circunstância, mas que nem por isso

deixou de ter uma influência considerável no desenvolvimento económico, cultural e político desses países.

Não basta evocar a proeza de um povo que deu novos mundos ao mundo e exaltar constantemente o nosso

universalismo. Temos também de olhar de frente aquilo que representa a nossa emigração e assumi-la na sua

integralidade, particularmente os períodos mais difíceis e traumáticos, como ocorreu nos anos 60 e 70 para

França, em que cerca de três quartos dos emigrantes deixaram o país clandestinamente.

É importante conhecer como se caracterizou a emigração portuguesa nas suas várias facetas, na sua

dimensão cultural e humana, no seu valor económico, na sua importância política e diplomática, mas também

nos seus aspetos menos positivos e mais complexos.

É também paradoxal que a emigração portuguesa esteja retratada em grandes museus na França, Alemanha

ou Suíça e noutros países, e que em Portugal apenas esteja presente em algum museu municipal, com as

limitações que isso representa em termos de sustentabilidade, desenvolvimento e dimensão, uma vez que, por

maior que seja a boa vontade e a qualidade dos seus espólios, não chega para exprimir a importância e o

impacto das migrações portuguesas.

A criação de um Museu Nacional da Emigração, abarcando de forma o mais abrangente possível todos os

períodos migratórios, deve ter como objetivo estratégico dignificar e valorizar os portugueses de todas as épocas

e gerações que deixaram o país, independentemente das razões por que o fizeram.

Um Museu Nacional da Emigração terá de ter tudo aquilo que de mais positivo caracteriza o fenómeno

migratório português nas suas múltiplas vertentes, ser dinâmico, criativo e um lugar de reflexão, dotado dos

recursos adequados para a sua sustentabilidade e contribuir para o reconhecimento da importância da

emigração portuguesa. Com efeito, compreender a emigração portuguesa significa também compreender as

dinâmicas económicas, sociais e políticas que em diferentes épocas geraram fenómenos migratórios tão

expressivos.

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