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II SÉRIE-A — NÚMERO 126 122

estes. Segundo a mesma especialista, o papel do pai durante o parto “parece ser um dos aspetos mais

relevantes entre os fatores que influenciam positivamente o comportamento materno e o processo de vinculação

mãe/filho em particular no contato pele a pele no pós-parto. A presença do pai na sala de partos vai diminuir a

ansiedade e o stress sentido pela mulher. As mulheres acompanhadas durante o trabalho de parto estão mais

sossegadas e relaxadas, manifestando mais prazer no primeiro contato com os seus filhos.”

Isto demonstra a importância da presença de ambos os responsáveis parentais num momento que é tão

especial para a família, o do nascimento do seu filho ou filha.

Importa, no entanto, referir que historicamente as mulheres, no momento do parto, sempre foram apoiadas

por outras mulheres. Contudo, desde meados do século XX, a maioria das mulheres passou a parir em hospitais,

e por isso se perdeu a prática deste acompanhamento continuado.

Esta mudança no que diz respeito ao local dos nascimentos foi um marco importante, pois permitiu uma

redução acentuada da morbilidade, tanto das parturientes como dos bebés, mas teve como consequência a

impossibilidade de acompanhamento das mulheres como era normal fazer-se até àquela época.

Passados cerca de 60 anos, é possível perceber melhor as vantagens do parto hospitalar mas também os

benefícios de permitir um apoio continuado à mulher. Assim, a preocupação com a desumanização do parto tem

vindo a fazer com que vários países, entre eles por exemplo o Reino Unido, tenham retornado ao sistema de

apoio contínuo, das mulheres para as mulheres2. Este é um apoio emocional que implica a presença permanente

da pessoa em questão, a partilha de experiências de parto, conselhos e medidas de conforto a adoptar e a ajuda

na comunicação com terceiros.

Há duas explicações complementares para a importância do apoio continuado no parto e os benefícios que

o mesmo traz para os pais e a criança, suportadas por vários estudos científicos. Chalmers e Hofmeyr afirmam

que o apoio continuado melhora a fisiologia do trabalho de parto assim como traz segurança à mulher e maior

sentimento de competência no momento do nascimento, reduzindo a necessidade de intervenções médicas3.

O momento do parto é particularmente vulnerável para as mulheres, daí o ambiente em que se encontram

ser tão importante. A medicina obstétrica moderna sujeita as mulheres a elevados níveis de intervenções

médicas, a um atendimento pouco pessoal e a determinadas rotinas que podem ser experienciadas pelas

mulheres como invasivas, verificando-se em alguns casos manifesta falta de privacidade. Todos estes fatores

podem elevar o nível de stress da mulher e diminuir a qualidade da sua experiência de parto. Além disso, podem

ter efeitos adversos no progresso do parto e no desenvolvimento de sentimentos de competência e confiança.

Por outro lado, podem também prejudicar a adaptação à parentalidade e ao processo da amamentação, e

aumentar o risco de depressão. A possibilidade de apoio e companheirismo durante o trabalho de parto pode,

em certa medida, amortecer tais fatores de stress.

O segundo estudo aborda principalmente os efeitos fisiológicos do apoio continuado, concluindo que este

provoca a diminuição do stress o que por sua vez aumenta a probabilidade de parto natural, ou seja, sem

qualquer intervenção médica, assim como diminui a probabilidade de utilização de fórceps ou outras técnicas

que são utilizadas para auxiliar ou provocar a expulsão da criança, para além de aumentar o sentimento de

satisfação com o parto por parte das mulheres4.

A otimização das relações fetopélvicas pode ocorrer incentivando-se a mobilidade e o uso efetivo da

gravidade, apoiando as mulheres a assumirem as suas posições preferenciais e recomendando posições

específicas para situações específicas. Estudos sobre as relações entre medo e ansiedade, a resposta ao stress

e as complicações da gravidez mostraram que a ansiedade durante o parto está associada a altos níveis da

hormona de stress epinefrina no sangue, o que, por sua vez, pode levar a padrões anormais de frequência

cardíaca fetal no trabalho de parto, diminuição da contratilidade uterina e uma fase de trabalho ativa mais longa5 6. Como tal, reconhece-se que o apoio emocional, a informação e o conselho, as medidas de conforto e o

2 Klaus MH, Kennell JH, Klaus PH. The doula book: how a trained labor companion can help you have a shorter, easier and healthier birth. 2nd Edition. Cambridge, MA: Perseus Books, 2002. 3 Chalmers B, Wolman WL, Hofmeyr GJ, Nikodem C. Companionship in labour and the mother-infant relationship: preliminary report of a randomised trial. Proceedings of the 9th Conference on Priorities in Perinatal Care; 1990 March; Johannesburg, South Africa. 1990:139-41. 4 Hodnett ED, Lowe NK, Hannah ME, Willan AR, Stevens B, Weston JA, et al. Effectiveness of nurses as providers of birth labor support in North American hospitals. A randomized controlled trial. JAMA2002;288(11):1373-81. 5 Lederman RP, Lederman E, Work BA, Jr, McCann DS. The relationship of maternal anxiety, plasma catecholamines, and plasma cortisol to progress in labor. American Journal of Obstetrics and Gynecology1978;132(5):495-500. 6 Lederman E, Lederman RP, Work BA Jr, McCann DS. Maternal psychological and physiologic correlates of fetal-newborn health status. American Journal of Obstetrics and Gynecology1981;139(8):956-8.

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