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II SÉRIE-A — NÚMERO 126 144

nenhuma, porque a maior parte das grávidas são pessoas saudáveis, a forma mais segura de se ter o bebé é

através de um parto normal. Não é de um parto que é provocado, porque isso também tem um risco maior para

o bebé e também um risco maior de acabar em cesariana, é de um parto que, chegando a altura certa, o bebé

dará sinais de quando é que quer nascer. E começará a ter um trabalho de parto de início espontâneo. É assim

que devem nascer a maioria dos bebés em todo o mundo porque é mais seguro. As cesarianas devem ser

reservadas para aquelas situações onde há indicação prévia, ou para as situações em que, durante um trabalho

de parto não há evolução ou há alguns sinais do bebé que poderá não estar a ser adequadamente oxigenado.

Nessas situações, pode e deve ser feita uma cesariana para que ocorra o nascimento de um bebé normal que

é o que todos nós queremos”.

Ainda em resposta à mesma questão do inquérito, 47,6% das mulheres tiveram um parto com alguma

intervenção, sendo que apenas 19,2% das mulheres revelaram ter tido parto vaginal natural, portanto uma

minoria.

Estas respostas são ilustrativas do nível de intervenção médica que existe neste âmbito, tornando o parto

cada vez mais instrumentalizado e menos humanizado, quando deveria acontecer exatamente o contrário.

Quando questionadas sobre se tiveram o parto que queriam, 43,5% das mulheres responderam que não.

Nesta questão, as mulheres podiam justificar a sua resposta escrevendo um comentário e, apenas a título de

exemplo, citamos alguns:

“Não porque tive tudo o que não queria: episiotomia, rebentamento das águas artificialmente, posição de

parto deitada”; “não queria que me fizessem a episiotomia, mas nem sequer me deram a escolher”.

A autora do relatório do inquérito conclui: “Estes testemunhos são reveladores de situações e práticas de

coerção, de desrespeito pelo direito à recusa e ao consentimento informado, de abuso e de violência obstétrica

que persistem nos serviços de saúde materna portugueses”7.

Relativamente à informação sobre as opções de parto, fundamental para escolhas esclarecidas, 43,3% das

mulheres inquiridas revelaram que não lhes foi dada qualquer informação sobre as suas possíveis opções, ou

seja, indução, cesariana, parto domiciliar, etc.

Cerca de 23% das inquiridas também revelaram desconforto com a posição adotada para o parto, tendo a

obrigação de permanecer numa posição que não era a pretendida afetado a sua experiência.

A questão “Perguntaram-me se concordava com cada intervenção ou exame antes de este acontecer?”

ganha especial relevância por estarem em causa direitos humanos, tal como foi reconhecido pela OMS8 mas

também porque 43,8% das mulheres referiram que não lhes foi solicitado consentimento para as intervenções.

Ou seja, infelizmente, o resultado do inquérito indicia alguma vulgaridade na prática de atos não consentidos e

esclarecidos. Inclusivamente, dispõe o Código Penal, no seu artigo 157.º, que “(…) o consentimento só é eficaz

quando o paciente tiver sido devidamente esclarecido sobre o diagnóstico e a índole, alcance, envergadura e

possíveis consequências da intervenção ou do tratamento (…)”. A referida norma exceciona, naturalmente, as

situações de emergência, que são uma minoria. Esta questão dava ainda oportunidade às mulheres de

escreverem um comentário, sendo que, se é verdade que houve mulheres que disseram “Logo quando fui

admitida, entreguei o meu plano de parto e mostrei-me aberta ao diálogo. As enfermeiras foram maravilhosas –

leram o plano, discutiram algumas dúvidas (sem nunca pressionar em nenhum sentido) e ao longo do parto,

respeitaram EM ABSOLUTO esse mesmo plano”, outras afirmaram que “Uma episiotomia não consentida é uma

violação. Manifestar intenção de não ser anestesiada foi, no meu caso, uma luta pela qual nenhuma mulher

grávida deverá passar… sobretudo num momento como o trabalho de parto” ou “Não fui informada acerca de

nenhuma intervenção”.

Por fim, importa salientar a percentagem de mulheres que revelaram ter sido sujeitas a episiotomia,

intervenção médica que implica uma incisão efetuada na região do períneo (área muscular entre a vagina e o

ânus) para ampliar o canal de parto, que foi de 72,2%. Valor este que vai ao encontro da média de episiotomias

nacional. Estes dados têm especial importância por mostrarem como o nosso país está longe de respeitar as

recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) quanto a esta prática. A OMS recomenda que a taxa

7 Op. Cit., página 15. 8 Declaração da Organização Mundial de Saúde, “Prevenção e eliminação de abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto em instituições de saúde”, disponível online em http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/134588/3/WHO_RHR_14.23_por.pdf

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