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Sexta-feira, 22 de dezembro de 2017 II Série-A — Número 46

XIII LEGISLATURA 3.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2017-2018)

SUPLEMENTO

S U M Á R I O

Ministério das Finanças e da Administração Pública (Conta Geral do Estado 2016):

— Parecer do Tribunal de Contas.

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Parecer sobrea Conta Geral do Estado

de 2016

Tribunal de Contas

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2014

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO

Ano Económico de 2016

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Tribunal de Contas

Índices

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Tribunal de Contas

ÍNDICE

SUMÁRIO.................................................................................................................................................. I

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................... 3

a) Objeto, âmbito e metodologia; condicionantes ............................................................. 3

b) Normas de enquadramento orçamental ........................................................................ 4

c) Principais medidas de política orçamental em 2016 ..................................................... 5

d) Normas de execução orçamental de 2016 ...................................................................... 6

e) Estrutura do Parecer ....................................................................................................... 7

f) Exercício do contraditório .............................................................................................. 7

Caixa 1 – Implementação do Sistema de Normalização Contabilística para as Administrações Públicas (SNC-AP) e da Entidade Contabilística Estado

(ECE) .............................................................................................................. 8

Parte A – Enquadramento Macroeconómico e Orçamental

1. ENQUADRAMENTO MACROECONÓMICO E ORÇAMENTAL ....................................................... 13

1.1. A economia em 2016 ...................................................................................................... 13

1.1.1. A economia internacional ................................................................................. 13

1.1.2. A economia portuguesa ..................................................................................... 14

1.2. As previsões macroeconómicas e orçamentais em 2016 ............................................. 16

1.2.1. O cenário macroeconómico, revisão e valores verificados .............................. 17

1.2.2. O cenário orçamental, revisão e valores verificados ........................................ 19

Parte B – A Conta Geral do Estado

2. ORÇAMENTO DO ESTADO – ALTERAÇÕES ............................................................................... 25

3. A EXECUÇÃO ORÇAMENTAL (CGE) .......................................................................................... 27

3.1 Síntese da CGE .............................................................................................................. 27

3.2. Receita da Administração Central ............................................................................... 30

3.2.1. Receita Consolidada ......................................................................................... 30

3.2.2. Receita Fiscal .................................................................................................... 35

3.2.3. Despesa Fiscal .................................................................................................. 42

3.2.4. Dívida Fiscal ..................................................................................................... 42

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

3.2.5. Programa Especial de Redução do Endividamento ao Estado ........................ 51

3.2.6. Receita Não Fiscal ........................................................................................... 53

3.2.7. Receita por cobrar ............................................................................................ 59

Caixa 2 – Atividade dos Fundos de Estabilização Tributário e Aduaneiro ................. 61

3.3. Despesa da administração central ............................................................................... 64

3.3.1. Despesa por classificação económica .............................................................. 64

3.3.2. Despesa por programas.................................................................................... 67

3.3.3. O quadro plurianual de programação orçamental .......................................... 71

3.3.4. Fiabilidade e comparabilidade da execução orçamental ─ Irregularidades .. 74

3.4. Consolidação da administração central ...................................................................... 83

3.4.1. Consolidação .................................................................................................... 83

3.4.2. Evolução ........................................................................................................... 84

4. DÍVIDA PÚBLICA ........................................................................................................................ 86

4.1. Dívida Financeira .......................................................................................................... 86

4.1.1. Dívida direta dos SI .......................................................................................... 86

4.1.2. Dívida direta dos SFA ...................................................................................... 98

4.1.3. Dívida direta consolidada do Estado ............................................................. 105

4.1.4. Custo do financiamento antecipado ............................................................... 106

4.1.5. Dívida de Maastricht ...................................................................................... 107

4.2. Garantias do Estado ................................................................................................... 109

4.2.1. Garantias a operações de financiamento ....................................................... 110

4.2.2. Garantias a seguros de crédito e similares .................................................... 120

4.2.3. Apoio aos clientes de retorno absoluto do BPP ............................................. 122

4.2.4. Balanço entre receita e despesa orçamental associada às garantias ............ 123

4.2.5. Observância dos limites fixados na Lei do Orçamento .................................. 123

Caixa 3 – Custos públicos associados a linhas de crédito com garantia mútua (2008-2016) ........................................................................................................... 125

4.3. Dívida não financeira .................................................................................................. 127

4.3.1. Serviços integrados e serviços e fundos autónomos (excluindo EPR) ........... 127

4.3.2. Entidades do Serviço Nacional de Saúde ....................................................... 128

4.3.3. Entidades públicas reclassificadas ................................................................. 128

4.3.4. Reporte de dados ............................................................................................ 130

Caixa 4 – Conta consolidada do Ministério da Saúde ............................................... 131

5. FLUXOS FINANCEIROS COM A UNIÃO EUROPEIA .................................................................. 133

5.1. Saldo global ................................................................................................................. 133

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Tribunal de Contas

5.2. Fluxos financeiros para a União Europeia ................................................................ 134

5.3. Fluxos financeiros da União Europeia para Portugal .............................................. 135

5.3.1. Reflexo das transferências da União Europeia na CGE ................................. 135

5.3.2. Fluxos relativos ao Período de Programação 2014-2020 .............................. 137

5.3.3. Fluxos relativos ao Período de Programação 2007-2013 .............................. 139

5.3.4. Outros fluxos ................................................................................................... 139

6. FLUXOS FINANCEIROS ENTRE O ORÇAMENTO DO ESTADO E O SECTOR PÚBLICO

EMPRESARIAL .......................................................................................................................... 141

6.1. Fluxos financeiros para o SPE .................................................................................... 142

6.2. Fluxos financeiros provenientes do SPE .................................................................... 144

7. FLUXOS FINANCEIROS COM AS REGIÕES AUTÓNOMAS E COM AS AUTARQUIAS LOCAIS ... 146

7.1. Fluxos financeiros com as Regiões Autónomas ......................................................... 147

7.1.1. Da Administração Central para as Regiões Autónomas ................................. 147

7.1.2. Das Regiões Autónomas para a Administração Central ................................. 148

7.2. Fluxos financeiros com as Autarquias Locais ........................................................... 148

7.2.1. Da Administração Central para as Autarquias Locais ................................... 148

7.2.2. Das Autarquias Locais para a Administração Central ................................... 151

8. BENEFÍCIOS FISCAIS, SUBSÍDIOS E OUTRAS FORMAS DE APOIO .......................................... 152

8.1. Benefícios Fiscais ......................................................................................................... 152

8.1.1. Objeto do exame .............................................................................................. 152

8.1.2. Resultado do exame ......................................................................................... 153

8.2. Subsídios e outros apoios financeiros não reembolsáveis ........................................ 167

Caixa 5 – Apoios públicos ao sector financeiro .......................................................... 171

9. PATRIMÓNIO DO ESTADO ........................................................................................................ 174

9.1. Património Financeiro ................................................................................................ 174

9.1.1. Património financeiro dos serviços integrados ............................................... 174

9.1.2. Património financeiro dos serviços e fundos autónomos ................................ 183

9.1.3. Património financeiro consolidado dos SI e SFA ........................................... 193

9.1.4. Aplicação das receitas das privatizações ........................................................ 194

Caixa 6 – Saldo das receitas e das despesas orçamentais relativas ao BPN .............. 195

9.2. Património Imobiliário ................................................................................................ 197

9.2.1. Inventário e Balanço ....................................................................................... 197

9.2.2. Operações Imobiliárias ................................................................................... 200

9.2.3. Princípio da Onerosidade ............................................................................... 202

9.2.4. Atividade do Fundo de Reabilitação e Conservação Patrimonial .................. 204

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

10. OPERAÇÕES DE TESOURARIA ................................................................................................. 207

10.1. Fluxos Financeiros na Tesouraria do Estado ........................................................... 208

10.1.1. Limitações da Conta dos Fluxos Financeiros ................................................ 208

10.1.2. Limitações do Balanço da Tesouraria do Estado........................................... 210

10.1.3. Subsistência de deficiências por corrigir ....................................................... 212

10.2. Unidade da Tesouraria do Estado ............................................................................. 213

10.2.1. Limitações dos sistemas de informação e controlo ........................................ 213

10.2.2. Disponibilidades e rendimentos relevantes fora do Tesouro ......................... 215

10.2.3. Incumprimento da UTE por Serviços Integrados (SI) .................................... 216

10.2.4. Incumprimento da UTE por Serviços e Fundos Autónomos (SFA) ................ 216

10.2.5. Incumprimento da UTE por Empresas Públicas (EP) ................................... 218

10.2.6. Dispensa do cumprimento da UTE ................................................................. 220

10.2.7. Subsistência de deficiências por corrigir ....................................................... 221

Caixa 7 – Atividade do Fundo de Resolução .............................................................. 223

Parte C – A Conta da Segurança Social

11. ENQUADRAMENTO, LIMITAÇÕES E CONDICIONANTES ......................................................... 231

11.1. Enquadramento .......................................................................................................... 231

11.2. Limitações e condicionantes ....................................................................................... 237

12. ORÇAMENTO E CONTA DA SEGURANÇA SOCIAL .................................................................. 238

12.1. Orçamento da Segurança Social ................................................................................ 239

12.1.1. Principais medidas legislativas com impacto na execução orçamental ......... 239

12.1.2. Orçamento inicial, alterações orçamentais e orçamento final....................... 240

12.2. Conta da Segurança Social ......................................................................................... 242

12.2.1. Consolidação de contas .................................................................................. 242

12.2.2. Execução orçamental ..................................................................................... 245

12.2.3. Balanço ........................................................................................................... 266

12.2.4. Demonstração de resultados .......................................................................... 304

13. ANÁLISES COMPLEMENTARES ............................................................................................... 308

13.1. Caracterização do sistema de pensões da responsabilidade da SS ......................... 308

13.1.1. Caracterização da população alvo ................................................................. 308

13.1.2. Pensões médias mensais da SS ....................................................................... 310

13.1.3. Despesas com pensões .................................................................................... 311

13.1.4. Financiamento do sistema de pensões da SS .................................................. 313

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Tribunal de Contas

13.1.5. Pensões – Análise procedimental e processual ............................................... 317

13.2. O desemprego ............................................................................................................... 322

13.2.1. Enquadramento geral ...................................................................................... 322

13.2.2. Beneficiários de prestações de desemprego .................................................... 324

13.2.3. Prestações de desemprego médias mensais .................................................... 325

13.2.4. Despesa com prestações de desemprego......................................................... 326

13.2.5. Financiamento ................................................................................................. 329

13.3. Património financeiro .................................................................................................. 330

13.3.1. Comportamento dos mercados financeiros ..................................................... 330

13.3.2. Desempenho do Fundo de Estabilização ........................................................ 331

13.3.3. Análise da estratégia e resultados .................................................................. 338

Caixa 8 – Caixa Geral de Aposentações (CGA) ......................................................... 342

Parte D – Conclusões e Recomendações; Juízo sobre a Conta

14. CONSOLIDAÇÃO DAS CONTAS .................................................................................................. 351

14.1. Conta consolidada da administração central e segurança social ............................ 351

14.2. Procedimentos de consolidação na CGE de 2016 ..................................................... 354

14.3. O saldo estrutural ........................................................................................................ 355

14.4. O saldo para efeitos do Procedimento dos Défices Excessivos (PDE) ..................... 356

15. ACOLHIMENTO DE RECOMENDAÇÕES DO TRIBUNAL ........................................................... 358

15.1. Recomendações não acolhidas pela administração central ...................................... 358

15.2. Recomendações não acolhidas pela segurança social ............................................... 364

16. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ......................................................................................... 370

Caixa 9 – Riscos para a sustentabilidade das finanças públicas nacionais ............... 407

17. JUÍZO SOBRE A CONTA ............................................................................................................ 411

A) Conta da Administração Central ............................................................................... 411

B) Conta da Segurança Social ......................................................................................... 413

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 9

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

ÍNDICE DE QUADROS Quadro A. 1 – Cenário base do OE 2016, revisão, projeções de outras entidades e valores verificados .......... 17

Quadro A. 2 – Previsão orçamental, revisão e valores verificados (em contabilidade nacional) ...................... 19

Quadro A. 3 – Portugal – principais indicadores económicos ........................................................................... 22

Quadro B. 1 – Administração central – alterações de natureza económica ....................................................... 25

Quadro B. 2 – Execução orçamental da administração central ......................................................................... 27

Quadro B. 3 – Receita da Administração Central – Principais Agregados ....................................................... 31

Quadro B. 4 – Principais casos de deficiente contabilização por incumprimento de princípios orçamentais ... 32

Quadro B. 5 – Receita da Administração Central – Receita Fiscal ................................................................... 36

Quadro B. 6 – Omissão de fluxos financeiros na contabilização da receita dos principais impostos ............... 41

Quadro B. 7 – Ciclo da Dívida em Cobrança Coerciva (DCC) ......................................................................... 42

Quadro B. 8 – Redução de dívida ..................................................................................................................... 44

Quadro B. 9 – Receita cobrada pela AT ............................................................................................................ 44

Quadro B. 10 – Ciclo da Dívida Fiscal por Ação Inspetiva (DFAI) ................................................................... 47

Quadro B. 11 – Receita Fiscal por Ação Inspetiva com Regularizações Voluntárias ......................................... 48

Quadro B. 12 – Ciclo da Dívida Fiscal por Combate à Fraude e à Evasão (DFCFE) ......................................... 50

Quadro B. 13 – Impacto do PERES na Receita do Estado de 2016 .................................................................... 52

Quadro B. 14 – Receita consolidada da Administração Central – Receitas correntes não fiscais ...................... 53

Quadro B. 15 – Receita consolidada da Administração Central – Receitas de capital ........................................ 55

Quadro B. 16 – Receita da Administração Central – Financiamento do Estado às EPR .................................... 57

Quadro B. 17 – Receita e Despesa do FET na CGE de 2016 .............................................................................. 61

Quadro B. 18 – Receita e Despesa do FEA na CGE de 2016 ............................................................................. 61

Quadro B. 19 – Erros nos Fluxos de Caixa do FET ............................................................................................ 62

Quadro B. 20 – Erros nos Fluxos de Caixa do FEA ............................................................................................ 62

Quadro B. 21 – Despesa face ao orçamento e evolução face ao ano anterior (2015-2016), por classificação económica .................................................................................................................................. 65

Quadro B. 22 – Despesa consolidada da administração central por programa orçamental e agrupamentos de despesa ....................................................................................................................................... 68

Quadro B. 23 – QPPO 2016 – previsão, revisões, execução e desvio ................................................................ 73

Quadro B. 24 – Erros detetados na especificação da classificação económica ................................................... 78

Quadro B. 25 – Erros na reclassificação da despesa de 2015, para efeitos da sua comparação com a despesa de 2016 ........................................................................................................................................... 80

Quadro B. 26 – Incorreções na despesa por Programa de 2015, para efeitos da sua comparação com a despesa de 2016 ........................................................................................................................................... 80

Quadro B. 27 – Transferências para entidades do mesmo programa que não foram consolidadas ..................... 81

Quadro B. 28 – Despesa em projetos que não foi incluída nos mapas 53 a 62 da CGE ..................................... 82

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Tribunal de Contas

Quadro B. 29 – Receitas, despesas e saldo global da AC (2016) ....................................................................... 83

Quadro B. 30 – Valor nominal do stock da dívida pública (SI) .......................................................................... 86

Quadro B. 31 – Evolução da dívida representada por derivados financeiros (SI) .............................................. 89

Quadro B. 32 – Stock da dívida consolidada em valor nominal (SI) .................................................................. 93

Quadro B. 33 – Dívida consolidada por tipo de instrumento (SI) ....................................................................... 94

Quadro B. 34 – Valor nominal do stock da dívida (SFA) ................................................................................... 98

Quadro B. 35 – Evolução da dívida representada por derivados (SFA) ............................................................. 98

Quadro B. 36 – Fluxos financeiros (SFA) ........................................................................................................ 100

Quadro B. 37 – Valor nominal do stock da dívida consolidada (SFA) ............................................................. 103

Quadro B. 38 – Fluxos financeiros consolidados (SFA) ................................................................................... 104

Quadro B. 39 – Stock da dívida consolidada – principais SFA ......................................................................... 104

Quadro B. 40 – Valor nominal do stock da dívida consolidada do Estado ....................................................... 105

Quadro B. 41 – Dívida direta do Estado e dívida das administrações públicas (Conceito de Maastricht) – 2016 ......................................................................................................................................... 107

Quadro B. 42 – Responsabilidades efetivas do Estado por garantias prestadas ................................................ 110

Quadro B. 43 – Garantias pessoais concedidas pelo Estado em 2016 .............................................................. 110

Quadro B. 44 – Alterações a garantias de anos anteriores ................................................................................ 111

Quadro B. 45 – Responsabilidades acumuladas do Estado ............................................................................... 112

Quadro B. 46 – Carteira por tipo de operação e por banco aderente ................................................................ 114

Quadro B. 47 – Dívida das Sociedades veículo do ex-BPN garantida pelo Estado .......................................... 115

Quadro B. 48 – Responsabilidades de SFA por garantias pessoais prestadas .................................................. 116

Quadro B. 49 – Pagamentos do Estado em 2016 em execução de garantias .................................................... 117

Quadro B. 50 – Pagamentos ao FGCG em execução de garantias ................................................................... 118

Quadro B. 51 – FCGM – Nível de sinistralidade .............................................................................................. 119

Quadro B. 52 – Apólices de seguro garantidas em 2016 .................................................................................. 120

Quadro B. 53 – Responsabilidades do Estado no final de 2016 ....................................................................... 121

Quadro B. 54 – Balanço entre receita e despesa associada às garantias ........................................................... 123

Quadro B. 55 – Outras pessoas coletivas de direito público – Limite orçamental ............................................ 123

Quadro B. 56 – Execução das linhas de crédito a 31/12/2016 .......................................................................... 125

Quadro B. 57 – Bonificações da taxa de juro e da comissão de garantia em 31/12/2016 ................................. 126

Quadro B. 58 – Passivos financeiros e contas a pagar na CGE/2016 ............................................................... 127

Quadro B. 59 – Dívida não financeira das EPR ................................................................................................ 129

Quadro B. 60 – Resultados económicos consolidados do Ministério da Saúde – triénio 2014-2016 ............... 131

Quadro B. 61 – Estrutura do Balanço consolidado ........................................................................................... 131

Quadro B. 62 – Composição da dívida consolidada a fornecedores do “Ministério da Saúde” ....................... 132

Quadro B. 63 – Indicadores financeiros ........................................................................................................... 132

Quadro B. 64 – Transferências da União Europeia – Divergências apuradas................................................... 135

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 11

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

Quadro B. 65 – Resumo dos fluxos entre a administração central e o SPE ...................................................... 141

Quadro B. 66 – Fluxos financeiros para o SPE ................................................................................................. 142

Quadro B. 67 – Empresas beneficiárias de empréstimos, aumentos de capital e indemnizações compensatórias ........................................................................................................................ 143

Quadro B. 68 – Fluxos financeiros com origem no SPE ................................................................................... 144

Quadro B. 69 – Fluxos financeiros para as Administrações Regional e Local em 2016 ................................... 146

Quadro B. 70 – Fluxos financeiros destinados à Administração Regional ....................................................... 147

Quadro B. 71 – Fluxos financeiros da Administração Regional destinados à Administração Central.............. 148

Quadro B. 72 – Fluxos financeiros destinados à Administração Local ............................................................. 149

Quadro B. 73 – Fluxos financeiros da Administração Local destinados à Administração Central ................... 151

Quadro B. 74 – Evolução da despesa fiscal ...................................................................................................... 152

Quadro B. 75 – Principais benefícios da despesa fiscal em IRC ....................................................................... 159

Quadro B. 76 – Apreciação dos processos de candidatura a BFCI ................................................................... 164

Quadro B. 77 – Concessão, avaliação e extinção de BFIC em 2016 ................................................................ 165

Quadro B. 78 – Apoios financeiros não reembolsáveis (2014-2016) ................................................................ 167

Quadro B. 79 – Apoios financeiros não reembolsáveis – por classificação económica (2016) ........................ 168

Quadro B. 80 – Apoios financeiros não reembolsáveis – por entidade pagadora ............................................. 169

Quadro B. 81 – Fluxos com o Sector Financeiro Nacional - 2008-2016 (por tipo e entidade beneficiária) ..... 171

Quadro B. 82 – Fluxos com o Sector Financeiro Nacional – 2016 (por tipo e entidade beneficiária) .............. 172

Quadro B. 83 – Apoios Públicos ao Sistema Financeiro 2008-2016 (por tipo de apoio) .................................. 173

Quadro B. 84 – Carteira de ativos financeiros dos SI ....................................................................................... 175

Quadro B. 85 – Empréstimos contratados em 2016 pela DGTF ....................................................................... 177

Quadro B. 86 – Receita e despesa com ativos financeiros 2016 ....................................................................... 182

Quadro B. 87 – Evolução do património financeiro não consolidado dos SFA/EPR ....................................... 184

Quadro B. 88 – Variação registada em 2016 na carteira de créditos da Parvalorem ......................................... 186

Quadro B. 89 – Confronto entre as receitas orçamentadas, as executadas e as apuradas através das Instruções ................................................................................................................................. 189

Quadro B. 90 – Confronto entre as despesas orçamentadas, as executadas e as apuradas através das Instruções ................................................................................................................................. 191

Quadro B. 91 – Evolução do património financeiro consolidado dos SFA/EPR .............................................. 193

Quadro B. 92 – Património Financeiro Consolidado - Evolução Global em 2016 ........................................... 194

Quadro B. 93 – Saldo das receitas e despesas referentes ao BPN – 31/12/2016 ............................................... 195

Quadro B. 94 – Evolução dos registos no SIIE ................................................................................................. 199

Quadro B. 95 – Receita obtida em 2016 com operações imobiliárias ............................................................... 201

Quadro B. 96 – Despesa paga em 2016 com operações imobiliárias ................................................................ 201

Quadro B. 97 – Princípio da Onerosidade entre 2014 e 2016 – Valor anual devido, cobrado e em dívida ...... 203

Quadro B. 98 – Receitas e Despesas do FRCP em 2016................................................................................... 204

Quadro B. 99 – Erros na Demonstração dos Fluxos de Caixa .......................................................................... 206

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Tribunal de Contas

Quadro B. 100 – Conta dos Fluxos Financeiros ................................................................................................. 209

Quadro B. 101 – Balanço da Tesouraria do Estado ............................................................................................ 210

Quadro B. 102 – Disponibilidades e Rendimentos de OSUTE........................................................................... 215

Quadro B. 103 – Disponibilidades e Rendimentos de Serviços Integrados ........................................................ 216

Quadro B. 104 – Disponibilidades e Rendimentos de SFA ................................................................................ 217

Quadro B. 105 – Disponibilidades e Rendimentos de EPR ................................................................................ 217

Quadro B. 106 – Disponibilidades e Aplicações de IES ..................................................................................... 218

Quadro B. 107 – IES em incumprimento da UTE em 31/12/2016 ..................................................................... 218

Quadro B. 108 – Disponibilidades e Rendimentos de EP ................................................................................... 219

Quadro B. 109 – OSUTE dispensados do cumprimento da UTE ....................................................................... 220

Quadro B. 110 – Rendimentos auferidos e rendimentos entregues ao Estado .................................................... 222

Quadro B. 111 – Principais receitas e despesas .................................................................................................. 224

Quadro B. 112 – Condições dos empréstimos – principais alterações ................................................................ 225

Quadro C. 1 – Alterações orçamentais ........................................................................................................... 241

Quadro C. 2 – Receitas por classificação económica ..................................................................................... 246

Quadro C. 3 – PERES – Dados provisórios .................................................................................................... 247

Quadro C. 4 – PERES – Adesões ................................................................................................................... 248

Quadro C. 5 – PERES – Adesões expressas e “tácitas” .................................................................................. 248

Quadro C. 6 – PERES – Forma de pagamento ............................................................................................... 249

Quadro C. 7 – Desagregação da receita de “Contribuições”........................................................................... 250

Quadro C. 8 – Receitas por origem ................................................................................................................. 252

Quadro C. 9 – Despesas por classificação económica .................................................................................... 253

Quadro C. 10 – Despesa por aplicações ............................................................................................................ 254

Quadro C. 11 – Saldo de execução orçamental (SEO) por componentes e subsistemas .................................. 260

Quadro C. 12 – Saldo de execução efetiva por componentes e subsistemas .................................................... 261

Quadro C. 13 – Balanço da segurança social .................................................................................................... 266

Quadro C. 14 – Evolução do Imobilizado no triénio 2014 a 2016 .................................................................... 267

Quadro C. 15 – Linhas de crédito de apoio à economia social ......................................................................... 269

Quadro C. 16 – Instituições com liquidação por incumprimento ..................................................................... 269

Quadro C. 17 – Localização dos bens no módulo AA – Por tipo de bem ......................................................... 273

Quadro C. 18 – Localização dos bens no módulo AA – Por Instituto .............................................................. 274

Quadro C. 19 – Bens adquiridos em 2016 – Por Instituto ................................................................................ 274

Quadro C. 20 – Bens não amortizados – Por Instituto ...................................................................................... 276

Quadro C. 21 – Bens que não foram totalmente amortizados - Por Instituto .................................................... 276

Quadro C. 22 – Dívida de terceiros .................................................................................................................. 285

Quadro C. 23 – Dívida de contribuintes, por conta corrente e cobrança duvidosa ........................................... 287

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 13

Página 14

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

Quadro C. 24 – Dívida de Terceiros (contribuintes), por conta corrente e cobrança duvidosa ......................... 287

Quadro C. 25 – Disponibilidades ...................................................................................................................... 298

Quadro C. 26 – Reconciliações bancárias (em número e valor) ....................................................................... 300

Quadro C. 27 – Documentos por reconciliar 31/12/2014 – 31/12/2016 ........................................................... 300

Quadro C. 28 – Subvalorização de saldos em disponibilidades (IGFSS e ISS) ................................................ 301

Quadro C. 29 – Antiguidade dos documentos por contabilizar (IGFSS e ISS) ................................................. 301

Quadro C. 30 – Demonstração de resultados da segurança social – 2014 a 2016 ............................................. 305

Quadro C. 31 – Beneficiários de pensões ......................................................................................................... 308

Quadro C. 32 – Pensões e complementos ......................................................................................................... 312

Quadro C. 33 – Pensões do regime contributivo (sistema previdencial – repartição) ....................................... 314

Quadro C. 34 – Pensões do sistema regimes especiais ..................................................................................... 315

Quadro C. 35 – Pensões do regime não contributivo (sistema de proteção social de cidadania) ...................... 315

Quadro C. 36 – N.º de prestações de desemprego no período 2012/2016 ......................................................... 325

Quadro C. 37 – Valor médio mensal processado com SD e SSD por beneficiário no período 2012/2016 ....... 325

Quadro C. 38 – Evolução da despesa com prestações de desemprego e apoio ao emprego ............................. 327

Quadro C. 39 – Financiamento das prestações de desemprego do sistema previdencial - repartição ............... 329

Quadro C. 40 – Variação do valor da carteira ................................................................................................... 332

Quadro C. 41 – Composição e variação homóloga dos ativos da carteira ........................................................ 333

Quadro C. 42 – CGA – Fontes de financiamento.............................................................................................. 344

Quadro C. 43 – CGA – Reservas dos Fundos de Pensões................................................................................. 346

Quadro C. 44 – CGA – Aplicação de Recursos ................................................................................................ 347

Quadro D. 1 – Conta consolidada da administração central e segurança social de 2016 ................................ 351

Quadro D. 2 – Erros de classificação económica ............................................................................................ 353

Quadro D. 3 – Composição do saldo estrutural – 2016 (Saldo PDE em % do PIB, saldo estrutural e componentes em % do PIB potencial) ........................................................................................................... 355

Quadro D. 4 – Saldos e ajustamentos – ótica da contabilidade pública para a da contabilidade nacional (2016) ...................................................................................................................................... 357

Quadro D. 5 – Evolução da dívida pública – 2012-2016 ................................................................................ 407

22 DE DEZEMBRO DE 2017 14

Página 15

Tribunal de Contas

ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico A. 1 – PIB por regiões (variação anual em %) ..................................................................................... 13

Gráfico A. 2 – PIB na área do euro (variação anual em %) .............................................................................. 13

Gráfico A. 3 – Saldos orçamentais na área do euro (% PIB) ............................................................................ 14

Gráfico A. 4 – Dívidas públicas na área do euro (% PIB) ................................................................................. 14

Gráfico A. 5 – Contributos para a variação do PIB (em p.p.) ........................................................................... 15

Gráfico A. 6 – Componentes da despesa (t.v. real, em %) ................................................................................ 15

Gráfico A. 7 – Previsões macroeconómicas e valores verificados .................................................................... 18

Gráfico A. 8 – Desvios entre os valores verificados e as previsões orçamentais .............................................. 20

Gráfico B. 1 – Evolução e distribuição da dívida em cobrança coerciva .......................................................... 43

Gráfico B. 2 – Revisões do quadro plurianual de programação orçamental ..................................................... 72

Gráfico B. 3 – Reposições não abatidas nos pagamentos e saldos de gerência anterior ................................... 76

Gráfico B. 4 – Serviços/ orgânicas com o peso das outras despesas correntes e de capital na despesa total superior a 20% ........................................................................................................................... 78

Gráfico B. 5 – Evolução das receitas, despesas e saldo da administração central (2012-2016) ........................ 84

Gráfico B. 6 – Evolução dos principais agregados da receita e da despesa da administração central (2012-2016) ................................................................................................................................................... 84

Gráfico B. 7 – Detentores da dívida em dezembro 2016 ................................................................................. 87

Gráfico B. 8 – Detentores da dívida transacionável em dezembro 2016 ......................................................... 87

Gráfico B. 9 – Maturidade da dívida de m/l prazo ............................................................................................ 88

Gráfico B. 10 – Evolução das responsabilidades do Estado por garantias pessoais prestadas .......................... 113

Gráfico B. 11 – Responsabilidades do Estado no final de 2016 por países ...................................................... 121

Gráfico B. 12 – Dotações financeiras no capital do FCGM por entidade promotora – situação a 31/12/2016 . 126

Gráfico B. 13 – Fluxos financeiros entre Portugal e a União Europeia – 2014 a 2016 ..................................... 133

Gráfico B. 14 – Transferências para a União Europeia em 2016 ...................................................................... 134

Gráfico B. 15 – Fluxos financeiros recebidos da União Europeia em 2016 (FEEI e FEAC) ............................ 137

Gráfico B. 16 – Execução financeira acumulada do Portugal 2020 .................................................................. 138

Gráfico B. 17 – Verbas para as Autarquias Locais excluindo os fluxos processados pela DGAL ................... 150

Gráfico B. 18 – Evolução da despesa fiscal ...................................................................................................... 152

Gráfico B. 19 – Distribuição sectorial dos apoios financeiros em 2016 ........................................................... 168

Gráfico B. 20 – Distribuição dos apoios financeiros por áreas – 2016 ............................................................. 170

Gráfico B. 21 – Valor dos apoios em % das necessidades de financiamento da CGE 2008-2016 .................... 171

Gráfico B. 22 – Garantias Pessoais do Estado ao Sistema Financeiro 2008-2016 – Responsabilidades efetivas .................................................................................................................................... 173

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 15

Página 16

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

Gráfico C. 1 – Receita e despesa efetiva por componentes e subsistemas ...................................................... 258

Gráfico C. 2 – Valor e variação homóloga do saldo de execução efetiva ....................................................... 261

Gráfico C. 3 – Variação (%) da receita e despesa efetiva ............................................................................... 263

Gráfico C. 4 – Variação (%) das contribuições e pensões ............................................................................... 263

Gráfico C. 5 – Receitas em percentagem do PIB ............................................................................................ 263

Gráfico C. 6 – Despesas em percentagem do PIB ........................................................................................... 263

Gráfico C. 7 – Evolução do sistema previdencial (SP) ................................................................................... 265

Gráfico C. 8 – Beneficiários ativos e passivos do SSS – índice de dependência ............................................ 309

Gráfico C. 9 – Taxa de substituição do rendimento ........................................................................................ 310

Gráfico C. 10 – Pensões médias mensais .......................................................................................................... 311

Gráfico C. 11 – Evolução da despesa com pensões no quinquénio ................................................................... 316

Gráfico C. 12 – Taxas de emprego e taxas de desemprego ............................................................................... 322

Gráfico C. 13 – Taxas de desemprego por duração de procura ......................................................................... 322

Gráfico C. 14 – Oferta de emprego no ano de 2016 .......................................................................................... 324

Gráfico C. 15 – Procura de emprego no ano de 2016 ........................................................................................ 324

Gráfico C. 16 – N.º de desempregados (total e inscritos) vs N.º de prestações de desemprego ........................ 325

Gráfico C. 17 – Evolução do valor do Fundo .................................................................................................... 332

Gráfico C. 18 – Limites à composição da carteira ............................................................................................ 336

Gráfico C. 19 – Rendibilidade e dimensão das componentes da carteira .......................................................... 336

Gráfico C. 20 – Rendibilidade e Risco .............................................................................................................. 338

Gráfico C. 21 – Cobertura das Pensões pelo FEFSS ......................................................................................... 339

Gráfico C. 22 – FEFSS em % do PIB ............................................................................................................... 339

Gráfico C. 23 – Grau de dependência do n.º de aposentados/pensionistas face ao n.º de subscritores ............. 343

Gráfico C. 24 – Índice de cobertura das despesas com pensões ........................................................................ 348

Gráfico D. 1 – Composição da receita e da despesa públicas – 2017-2022..................................................... 408

22 DE DEZEMBRO DE 2017 16

Página 17

Tribunal de Contas

SUMÁRIO

Página 18

Tribunal de Contas

I

SUMÁRIO

1. O Tribunal de Contas emite o Parecer sobre a

Conta Geral do Estado de 2016, incluindo a

da Segurança Social, dentro do prazo fixado

na lei.

2. O Parecer incide sobre a Conta Geral do

Estado, que inclui as contas da administração

central [serviços integrados (SI) e serviços e

fundos autónomos (SFA), incluindo estes as

designadas entidades públicas reclassificadas

(EPR)] e a conta da Segurança Social. As

contas da administração central são

apresentadas apenas em contabilidade

orçamental. A conta da Segurança Social é

apresentada, também, em base patrimonial. A

CGE continua a não comportar um balanço e

uma demonstração de resultados da

administração central, sendo as

demonstrações financeiras que apresenta

suportadas por diferentes sistemas

contabilísticos em vigor. Neste contexto, o

Tribunal exprime a sua opinião em termos

não completamente coincidentes com o

modelo previsto nas Normas Internacionais

de Auditoria.

3. A verificação das contas assenta em trabalhos

preparatórios realizados pelo Tribunal junto

das entidades executoras, designadamente no

Ministério das Finanças e no Ministério do

Trabalho, Solidariedade e Segurança Social,

e em auditorias realizadas a áreas específicas

da gestão e execução orçamentais.

Implementação do SNC-AP e da ECE

4. A aplicação do Sistema de Normalização

Contabilística para as Administrações

Públicas (SNC-AP) foi adiada por um ano,

para 01/01/2018, mas mantem-se o objetivo

de elaborar as demonstrações financeiras

previsionais do OE para 2019 e as respetivas

demonstrações financeiras na CGE.

SUMMARY

1. The Court of Accounts hereby issues its

Opinion on the General State Account and the

Social Security Account for the year 2016,

within the deadline set by law.

2. The opinion refers to the General State

Account, which includes the accounts of

central government (integrated services and

autonomous services and funds, including the

so-called reclassified public entities) and the

social security accounts. Central government

accounts are presented only on a cash basis.

Social security accounts are presented both

on cash and on accrual basis. The General

State Account still does not comprise a

balance sheet and an income statement of

central government, whereas the financial

statements included in the account are

supported by the different accounting

systems in use. In this context, the Court's

opinion is presented in terms that may not

fully coincide with International Standards on

Auditing.

3. The examination of the accounts is based

upon preparatory work carried out by the

Court in the departments responsible for

budget implementation, namely in the

Ministry of Finance and in the Ministry of

Labour, Solidarity and Social Security, and

upon audits directed at specific areas of

budget management and execution.

System of Accounting Standards for Public Administrations (SNC-AP) and State Accounting Entity (ECE)

4. The application of the Accounting Standards

System for Public Administrations (SNC-AP)

was postponed by one year to 01/01/2018,

even though maintaining the aim of preparing

the projected financial statements for the

2019 State Budget and the related financial

statements in the General State Account.

Constraints found in the implementation of

22 DE DEZEMBRO DE 2017 18

Página 19

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

II

Verificam-se constrangimentos na

implementação do SNC-AP e da Entidade

Contabilística Estado (ECE) que exigem o

reforço de ações, de forma a cumprir

atempadamente as obrigações decorrentes da

lei, nomeadamente, ao nível do

desenvolvimento do quadro legal, da

conceção e desenvolvimento dos sistemas de

informação, da preparação e emissão de

orientações para o tratamento e harmonização

de políticas contabilísticas, e do início da

aplicação do SNC-AP por algumas entidades.

Enquadramento Macroeconómico e Orçamental

5. No Relatório do OE 2016 subsistem

insuficiências relativamente à informação

sobre a relação dos pressupostos

macroeconómicos com a orçamentação das

receitas e despesas públicas. O Relatório da

CGE 2016 não apresentou os impactos, de

forma quantificada, das medidas de

consolidação orçamental.

Conta Geral do Estado – Administração Central

6. O OE inicialmente aprovado pela Assembleia

da República foi significativamente alterado

ao longo do ano, tendo a receita efetiva

aumentado € 1.755 M e a despesa efetiva € 2.393 M. A dotação provisional voltou a ser predominantemente utilizada para reforçar

dotações suborçamentadas e não para fazer

face a despesas imprevisíveis e inadiáveis,

como determina a lei.

7. A receita consolidada da administração

central (€ 56.596 M) aumentou 1,9% (€ 1.069 M), impulsionada pelo acréscimo de 2,4% (€ 973 M) nas receitas fiscais (€ 41.096 M) e de 2,1% (€ 95 M) nas contribuições sociais (€ 4.696 M). Os impostos indiretos registaram um acréscimo

de 6,7% (€ 1.466 M) e os diretos uma quebra de 2,7% (€ 493 M). A evolução positiva da receita fiscal beneficiou da cobrança de

€ 444 M ao abrigo do Programa Especial de Redução do Endividamento ao Estado

the SNC-AP and of the State Accounting

Entity require the strengthening of ongoing

actions, in order to comply in a timely manner

with the obligations arising from the law,

namely: the development of the legal

framework, the design and development of IT

systems, the preparation and issuance of

guidelines for addressing and harmonizing

accounting policies, and the start of SNC-AP

implementation by some entities.

Macroeconomic and Budgetary Framework

5. The Report on the 2016 State Budget

maintains shortcomings concerning

information on the relationship between the

macroeconomic assumptions and the

budgeting of public revenue and expenditure.

The Report on the 2016 General State

Account does not quantify the impact of fiscal

consolidation measures.

General State Account – Central Government

6. The State Budget initially adopted by

Parliament was substantially amended

throughout the year, resulting in an effective

increase of EUR 1.8 billion in revenue and

EUR 2.4 billion in expenditure. The

provisional appropriation was again mainly

used to reinforce underestimated

appropriations rather than to meet

unforeseeable and unavoidable expenditure,

as decreed by law.

7. The central government consolidated revenue

(EUR 56.6 billion) increased by 1,9%

(EUR 1,7 billion), driven by a 2,4%

(EUR 973 million) increase in tax revenue

(EUR 41.1 billion) and 2.1% (EUR 95

million) in social contributions (EUR 4.7

billion). Indirect tax revenues increased by

6.7% (EUR 1.5 billion) and direct tax

revenues decreased by 2.7% (EUR 493

million). The tax revenue increase benefited

from the collection of EUR 444 million under

the Special Program for Reducing

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 19

Página 20

Tribunal de Contas

III

(PERES) e de € 150 M de impostos de 2015 arrecadados em 2016. O aumento das

contribuições sociais decorre do acréscimo de

1,8% (€ 73 M) na receita da CGA e de 2,9% (€ 16 M) na receita da ADSE.

8. A CGE continua a evidenciar casos

relevantes de desrespeito de princípios

orçamentais, incumprimento de disposições

legais que regulam a execução e a

contabilização das receitas e insuficiências

dos sistemas de contabilização e controlo,

situações que permitem omissões materiais e

a manutenção de autonomia financeira a

entidades que, indevidamente registam

receitas do Estado como receitas próprias.

São disso exemplos a contribuição para o

audiovisual entregue à RTP e outros impostos

indevidamente contabilizados por serviços e

fundos autónomos (v.g.: resultados de

exploração de apostas mútuas, lotarias e

imposto sobre o jogo).

9. A CGE continua sem apresentar resultados

específicos do combate à fraude e à evasão

fiscais. Segundo a informação prestada ao

Tribunal pela Autoridade Tributária e

Aduaneira (AT), a receita em questão

totalizou € 491 M, mais € 252 M (105,4%) face a 2015.

10. A despesa consolidada da administração

central atingiu € 64.272 M (incluindo parte da despesa com ativos financeiros e a despesa

com passivos financeiros das Parvalorem,

Parups e Parparticipadas). Excluindo a

despesa com ativos e com passivos

considerada, cifrou-se em € 62.976 M, mais € 1.111 M do que em 2015. Destacam-se as transferências correntes e de capital e os

subsídios (€ 27.007 M, 42,9% do total) e as despesas com pessoal (€ 15.837 M, 25,1% do total).

11. Os aumentos mais significativos ocorreram

nas despesas com pessoal (€ 619 M, influenciados pela reversão da redução

remuneratória) e nos juros e outros encargos

(€ 191 M) As maiores reduções verificaram-

Indebtedness to the State and EUR 150

million from 2015 taxes collected in 2016.

The increase in social contributions is due to

an increase of 1.8% (EUR 73 million) in CGA

(Civil Servants Pension Scheme) revenue and

2.9% (EUR 16 million) in ADSE (Civil

Servants Health System) revenue.

8. The General State Account continues to

observe relevant cases of non-compliance

with budgetary principles and legal

provisions ruling revenue collection and

accounting, as well as shortcomings in

control and accounting systems. These allow

for material omissions and the maintenance

of financial autonomy for entities that,

unduly, record state revenues as their own

revenues. Examples of this are the audio-

-visual contribution awarded to RTP (Public

Broadcasting Corporation) and other taxes

improperly accounted for by autonomous

services and funds (e.g., mutual betting,

lotteries and gambling taxes).

9. The General State Account presents no

quantitative outcomes on the fight against

fraud and tax evasion. According to

information provided to the Court by the Tax

and Customs Authority, the revenue in

question totalled EUR 491 million, EUR 252

million (105.4%) more than in 2015.

10. The central government consolidated

expenditure (including part of the

expenditure on financial assets and liabilities

of Parvalorem, Parups and Parparticipadas)

was EUR 64.3 billion. Excluding these

financial assets and liabilities, it amounted to

EUR 63 billion, EUR 1.1 billion more than in

2015. Main expenditures were current and

capital transfers and subsidies (EUR 27

billion, 42.9% of total) and staff costs

(EUR 15.8 billion, 25.1% of the total).

11. Major increases occurred in staff costs

(EUR 619 million, influenced by the reversal

of salary cuts) and in interest and other

charges (EUR 191 million). The main

reduction took place in capital goods

22 DE DEZEMBRO DE 2017 20

Página 21

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

IV

se na aquisição de bens de capital (€ 242 M, com destaque para a quebra em € 151 M nas despesas da Infraestruturas de Portugal).

12. Os Programas PO 12 – Trabalho, Solidariedade e Segurança Social

(€ 19.513 M), PO 13 – Saúde (€ 9.881 M) e PO 05 – Gestão da Dívida Pública (€ 7.381 M) registaram os montantes mais significativos de despesa, e no conjunto

representam 58% da despesa. Não é possível

uma avaliação dos resultados da execução

orçamental uma vez que não foram definidos

no OE, nem objetivos, nem indicadores para

as medidas de cada um dos 18 programas.

13 Na contabilização da despesa verificaram-se

situações de desrespeito dos princípios da

anualidade (contabilização como despesa

paga de transferências para contas bancárias

dos próprios serviços destinadas a serem

utilizadas no ano seguinte), da universalidade

(a CGE não integra a despesa de todos os

serviços e entidades públicas) e da

especificação (despesas incorretamente

classificadas, com impacto no total da

despesa efetiva e no saldo). A correção da

despesa consolidada, ao nível dos programas

orçamentais foi também afetada por lapsos na

identificação de transferências entre

entidades do mesmo programa.

14. Os valores inicialmente fixados no Quadro

Plurianual de Programação Orçamental

(QPPO) para cada um dos programas

orçamentais, que são vinculativos para o ano

em questão, foram sucessivamente alterados;

a própria Lei do Orçamento do Estado não

respeitou os limites do QPPO aprovados na

mesma data. Estes procedimentos pervertem

o efeito disciplinador que o QPPO deveria ter

nas finanças públicas.

15. Em 2016 os principais instrumentos de

financiamento foram as Obrigações do

Tesouro (taxa fixa e variável) e a dívida de

retalho (Certificados de Aforro e Certificados

acquisition (EUR 242 million), mainly due to

the decrease of EUR 151 million in the

expenditure of Infraestruturas de Portugal

(public rail and road infrastructures

company).

12. The major expenditure amounts, accounting

for 58% of the total, were registered on

Budget Programs 12 – Employment, Solidarity and Social Security (EUR 19.5

billion), 13 - Health (EUR 9.9 billion) and 05

– Public Debt Management (EUR 7.4 billion). It is not possible to evaluate the

performance of budget programs since the

State Budget had no objectives nor indicators

for the measures included in each of the 18

programs.

13. In expenditure accounting procedures, the

Court found cases of non-compliance with

the budgetary principles of annuality (fund

transfers to bank accounts allocated to be

used only in the following year accounted for

as expenditure of the current year),

universality (the General State Account does

not include the expenditure of all public

services and agencies) and specification

(incorrectly classified expenditure, with

impact on the amount of effective

expenditure and on the balance). The

accuracy of consolidated expenditure at

budgetary programs level was also affected

by flaws in selecting all transfers between

entities of the same program

14. Amounts initially set for each of the budget

programs in the Multiannual Framework of

Budget Programming, which are binding for

the year in question, were successively

increased; the State Budget Law itself did not

respect the limits of the Framework that were

adopted on the same date. These procedures

prevent the disciplining effect on public

finances, which was the main purpose of the

Multiannual Framework of Budget

Programming.

15. In 2016, fixed interest rate bonds and retail

debt (Savings Certificates and Treasury

Certificates Savings Plus) were the main

sources of financing. The debt of the

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 21

Página 22

Tribunal de Contas

V

do Tesouro). A dívida dos empréstimos

obtidos por via do Programa de Assistência

Económica e Financeira sofreu uma redução

de € 4.496 M em resultado da amortização parcial antecipada do empréstimo do Fundo

Monetário Internacional.

16. A CGE (mapa XXIX) continua a não incluir

a dívida dos SFA (onde se integram as EPR),

bem como a dívida representada por

derivados e locações financeiras.

17. O Tribunal apurou que o valor nominal da

dívida consolidada do Estado (SI, SFA e SS)

era de € 234.573 M em 31/12/2016, mais € 9.472 M (4,2%) do que em 31/12/2015. A dívida consolidada e os respetivos encargos

não foram apresentados na CGE. Foram

pagos € 8.011 M de juros e € 131 M com outros encargos da dívida pública. Ao nível

dos SFA, assinalam-se omissões e numerosas

incorreções de classificação económica, com

particular relevância no âmbito das EPR. De

entre as incorreções avultam as relativas à

classificação da receita proveniente de

aumentos de capital de EPR, considerada na

CGE como receita de passivos financeiros.

18. Ao longo do ano de 2016, o Estado manteve

na Tesouraria um saldo médio de € 12.378 M (em boa parte resultante da emissão de

dívida), cujo custo líquido atingiu € 182 M.

19. Foram concedidas garantias pessoais do

Estado a operações de financiamento no total

de € 872 M, envolvendo o Fundo de Resolução e o Fundo de Contragarantia

Mútuo. No final do ano, as responsabilidades

por garantias a financiamentos totalizavam

€ 23.339 M, incluindo € 2.283 M prestadas por SFA, e € 948 M de seguros de crédito e similares, reduzindo-se em € 1.761 M (-7%) face ao ano anterior. As responsabilidades

que constam da CGE encontram-se

subavaliadas em cerca de € 2.258 M, por não incluírem a maior parte das garantias

Economic and Financial Assistance

Programme loans dropped by EUR 4.5 billion

due to an early partial repayment of the

International Monetary Fund loan.

16. The General State Account (Map XXIX) still

does not present data on the outstanding debt

of autonomous services and funds (which

include the reclassified public entities) nor on

the debt arising from financial derivatives and

leasing contracts.

17. The Court estimates that on 31 December

2016 the nominal value of the outstanding

State consolidated debt (integrated services,

autonomous services and funds and social

security) was EUR 234.6 billion, EUR 9.5

billion (4,2%) more than on 31 December

2015. The consolidated debt and related

charges were not presented in the General

State Account. Interest in the amount of

EUR 8 billion and EUR 131 million of other

debt charges were paid in 2016. At the level

of autonomous services and funds, there are

omissions and numerous economic

misclassifications, mainly in the sector of

reclassified public entities, particularly the

cases where revenue from equity capital

increases was considered in the General State

Account as loan income.

18. During 2016 the Treasury kept an average

cash balance of EUR 12.4 billion, (largely

resulting from debt issuance) with a net cost

of around EUR 182 million.

19. In 2016, the State issued EUR 872 million of

new guarantees for borrowing operations,

involving the Resolution Fund and the

Mutual Counter-Guarantee Fund. By the end

of the year, liabilities concerning such

guarantees reached EUR 23.3 billion,

including EUR 2.3 billion issued by

autonomous services and funds, and

EUR 948 million for credit insurance and

similar operations, a reduction of EUR 1.8

billion (-7%) over the previous year.

Liabilities included in the General State

Account are undervalued by approximately

22 DE DEZEMBRO DE 2017 22

Página 23

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

VI

prestadas por SFA. Foram pagos € 58 M em execução de garantias.

20. O relatório da CGE apenas evidencia a dívida

não financeira no final de 2016 dos

subsectores dos SI, parte dos SFA (porque

não inclui as EPR) e parte do Serviço

Nacional de Saúde (SNS). Porém, esses

dados não são rigorosos no que respeita aos

valores que servem de base ao seu

apuramento. Em 31/12/2016 a dívida a

fornecedores externos das entidades do SNS,

incluindo hospitais empresarializados, era

cerca de € 1.841 M e a dívida de “passivos não financeiros” das EPR (excluindo as do SNS) de € 199 M.

21. A CGE regista progressos significativos na

identificação dos recursos comunitários

transferidos para Portugal e no reflexo dos

fundos europeus na execução orçamental.

A utilização dos fundos europeus em 2016

permite concluir que a fase final dos

Programas Operacionais cofinanciados do

período de programação 2007-2013 decorreu

de forma regular, mas a execução dos

programas do período 2014-2020 apresenta

níveis muito baixos, com exceção dos

programas da área do desenvolvimento rural

e dos financiados pelo Fundo Social Europeu.

22. A CGE não reflete, ainda, de forma fidedigna,

completa e agregada os fluxos financeiros

destinados às autarquias locais, omitindo os

empréstimos a médio e longo prazos e a

totalidade das operações extraorçamentais. O

Tribunal apurou que os fluxos financeiros

para as regiões autónomas atingiram € 863 M (€ 450 M para a Madeira e € 413 M para os Açores) e para as autarquias locais

€ 3.252 M.

23. A despesa fiscal (receita cessante por

benefícios fiscais) relevada na CGE

(€ 2.538 M) continua subavaliada. Estão

EUR 2.3 billion, since they do not include

most of the guarantees provided by

autonomous services and funds. Because of

collateral enforcement, EUR 58 million were

paid.

20. The Report on the General State Account

only presents the non-financial debt at the end

of 2016 of the integrated services and

autonomous services and funds (but without

reclassified public entities) subsectors and

part of the National Health Service. On 31

December 2016, debt to external suppliers of

the National Health Service, including

incorporated public hospitals, was

approximately EUR 1.8 billion and the non-

financial liabilities of reclassified public

entities (excluding those belonging to the

National Health Service) were EUR 199

million.

21. The General State Account shows significant

progress in identifying the European Union

funds transferred to Portugal and reflecting

those funds in budget execution.

The use of EU funds in 2016 shows that the

final stage of implementation of the co-

financed operational programmes for the

period 2007-2013 took place in a regular way,

but the 2014-2020 programmes execution

have very low implementation levels, with

the exception of the rural development

programmes and those financed by the

European Social Fund.

22. The General State Account still does not

show, in a true, complete and aggregate way,

financial flows to autonomous regions and

local government, as it doesn’t record medium and long term loans and the out of

budget transactions in its statements. The

Court found that financial flows to

autonomous regions reached EUR 863

million (EUR 450 million to Madeira and

EUR 413 million to the Azores) and to local

government EUR 3.3 billion.

23. The tax expenditure reported in the General

State Account (EUR 2.5 billion) is still

undervalued. About EUR 60 million in

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 23

Página 24

Tribunal de Contas

VII

omissos de € 60 M em IRC e parte dos € 5.795 M em IVA relevados como receita cessante por desagravamentos fiscais

estruturais. Não foi quantificada despesa

fiscal relativa a operações e atos isentos de

imposto do selo declarados por sujeitos

passivos no montante de € 67.051 M, em que a simples aplicação das taxas mínimas

previstas na tabela geral aos montantes

declarados apura o valor de € 89 M.

24. Em 2016, a administração central pagou em

apoios financeiros € 2.684 M (4,2% da despesa consolidada), € 2.636 M ao sector privado e € 48 M ao sector público.

25. Entre 2008 e 2016 foram concedidos apoios

públicos ao sector financeiro cujos fluxos

líquidos atingiram, no final do período,

€ -14.606 M.

O Fundo de Resolução promoveu a revisão

das condições dos empréstimos concedidos

pelo Estado (€ 4.389 M) e por entidades participantes do Fundo (€ 700 M) no que respeita a prazos de vencimento e taxas de

juro. Apesar dos prazos de vencimento terem

sido alargados em mais de 25 anos, os

contratos continuam a prever o ajustamento

desses prazos em função das receitas a

receber ou das responsabilidades adicionais

decorrentes das medidas de resolução

aplicadas.

26. O património financeiro consolidado do

Estado (SI e SFA, incluindo EPR) em

31/12/2016 cifrava-se em € 59.054 M, mais € 3.562 M do que em 2015, em consequência, sobretudo, do aumento do valor das

participações sociais do sector dos SI.

27. O saldo acumulado das receitas e despesas

orçamentais decorrentes da nacionalização e

reprivatização do BPN e da constituição e

funcionamento das sociedades-veículo

Parups, Parvalorem e Parparticipadas

ascendia, no final de 2016, a € -3. 658 M. Estas sociedades apresentavam capitais

próprios negativos que totalizavam

corporate income tax and part of the EUR 5.8

billion recorded as outgoing VAT revenue

due to structural tax relief, have been omitted.

Furthermore, relevant tax expenditure was

not quantified, namely relating to acts and

transactions exempt from stamp duty

declared by taxpayers in the amount of

EUR 67.1 billion. Applying the minimum

rate of stamp duty to these amounts adds up

to EUR 89 million.

24. In 2016, subsidies paid by central government

amounted to EUR 2.7 billion (4, 2% of its

consolidated expenditure), EUR 2.6 billion to

the private sector and EUR 48 million to the

public sector.

25. Between 2008 and 2016, the net flows of

State aid granted to the financial sector

reached EUR -14.6 billion.

The Resolution Fund was able to review the

conditions of the loans granted by the State

(EUR 4.4 billion) and the entities

participating in the Fund (EUR 700 million)

in terms of maturities and interest rates.

Although the maturity dates were extended

by more than 25 years, the contracts still

foresee the adjustment of these dates based on

revenue to be received or additional liabilities

resulting from resolution measures.

26. By the end of 2016, the State consolidated

financial assets (integrated services and

autonomous services and funds, including

reclassified public entities) amounted to

EUR 59.1 billion, EUR 3.6 billion more than

in 2015, as a result of increased value of

shareholdings owned by Integrated Services.

27. By the end of 2016 the net balance of revenue

and expenditure resulting from

nationalization and privatization of Banco

Português de Negócios and from the

establishment and operation of special

purpose vehicle companies Parups,

Parvalorem and Parparticipadas, amounted to

EUR -3.7 billion. Together, these companies

22 DE DEZEMBRO DE 2017 24

Página 25

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

VIII

€ 2.033 M (excluindo do passivo € 2.875 M de empréstimos do Estado) e beneficiavam de

€ 2.714 M de garantias prestadas pelo Estado.

28. Subsistem a falta de inventário e da

valorização adequada dos imóveis. A

informação sobre o património constante da

CGE continua inconsistente e permanece

afetada por várias deficiências: o Relatório da

Conta é manifestamente insuficiente para

confirmar a contabilização, nos respetivos

mapas, das receitas obtidas (€ 115 M) e das despesas pagas (€ 207 M) com operações imobiliárias realizadas por organismos da

administração central; estas operações estão

afetadas por erros (€ 3 M) e, sobretudo, por falta de validação (€ 270 M).

29. A conta dos fluxos financeiros não comporta

a totalidade dos movimentos dos organismos

da administração central (€ 3.474 M das receitas reportadas na execução orçamental

não constam da contabilidade da tesouraria).

Com efeito, parte relevante das

disponibilidades financeiras dos organismos

da administração central e das empresas

públicas (com saldos médios de € 569 M e muitas entidades sem informação reportada)

continua a ser movimentada fora do Tesouro,

não sendo registada na contabilidade da

tesouraria. Parte dos juros (€ 99 M, 86%) auferidos, desde 2011, em incumprimento da

unidade de tesouraria ainda não foi entregue

ao Estado.

Conta da Segurança Social

30. Para dois dos institutos que integram o

perímetro de consolidação da segurança

social não foi emitida certificação legal de

contas e para três as certificações legais de

contas foram emitidas com opiniões de

reserva. Compete ao Conselho Consultivo do

IGFSS emitir parecer sobre o orçamento e a

conta da segurança social, órgão que ainda

não foi nomeado, pelo que se encontra

prejudicado o exercício destas competências.

had negative equity in the amount of EUR 2

billion (excluding liabilities of EUR 2.9

billion from State loans) and benefited from

EUR 2.7 billion of State guarantees.

28. The absence of a properly valued State owned

real estate inventory persists. The information

in the General State Account about State

owned real estate is persistently inconsistent

and affected by flaws. The Report on the

General State Account is clearly insufficient

to confirm, as it should, the revenue

(EUR 115 million) and the expenditure

(EUR 207 million) resulting from real estate

transactions carried out by central

government departments. These transactions

are affected by errors (EUR 3 million) and,

especially, by lack of validation (EUR 270

million).

29. The financial flows account does not include

all central government bodies’ transactions (EUR 3.5 billion of the revenue reported in

the budget execution are not included in the

treasury accounts). In fact, a significant

portion of central government agencies and

public companies cash resources (with an

average balance of EUR 569 million and no

data from many entities) is being kept and

managed outside the Treasury and is not

recorded in the Treasury’s cash accounts. Besides, most of interest earned since 2011 in

violation of the Treasury’s central system was not surrendered to the State (EUR 99 million,

86%).

Social Security Account

30. No statutory certification of accounts was

issued for two of the agencies that are part of

the social security consolidation perimeter,

and for three others statutory certifications

were issued with reservations. It is incumbent

upon the Consultative Council of the Institute

of Financial Management of Social Security

to issue an opinion on the budget and the

social security account, but the members of

that Council have yet to be appointed, which

hinders the issuance of that opinion.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 25

Página 26

Tribunal de Contas

IX

31. A receita total ascendeu a € 31.973 M, 75,8% do previsto, menos 8,6% que em 2015. O total

da receita efetiva foi de € 25.712 M (mais 4,5% que em 2015), destacando-se a

proveniente de contribuições e quotizações

(€ 14.778 M), e de transferências correntes (€ 9.941 M), que integram a transferência extraordinária para financiamento do défice

do sistema previdencial - repartição

(€ 650 M). As transferências do OE destinadas ao sistema de proteção social de

cidadania têm vindo sistematicamente a

revelar-se superiores ao necessário. O regime

excecional de regularização de dívidas de

natureza contributiva (PERES) permitiu

arrecadar até final de 2016 € 52 M e associar a esta medida uma dispensa de juros de

€ 13 M. Os prazos de adesão e de pagamento foram alargados sem que tenha sido adotada

a forma devida, o que importou num aumento

de € 40 M na cobrança e de € 12 M em juros dispensados. Para os contribuintes que

optaram pelo pagamento em prestações

foram dispensados juros a 100%

relativamente ao capital inicial de, pelo

menos, 8% sobre o valor em dívida,

contrariando o estabelecido no diploma legal.

32. A despesa total atingiu € 30.030 M, 73,8% do previsto, menos 9,3% que em 2015, e a

despesa total efetiva foi de € 24.148 M (mais 2,5% que em 2015), sendo as despesas com

pensões (€ 16.124 M) e as despesas com ação social (€ 1.727 M) as mais significativas no âmbito das despesas efetivas. O saldo de

execução orçamental foi de € 818 M, permitindo um acréscimo de 26,5% no saldo

acumulado. O saldo de execução efetiva foi

de € 1.564 M, mais 50,8% que em 2015.

33. Mais de metade da receita proveniente de

contribuições e quotizações foi contabilizada

com recurso a uma tabela de imputação, não

sendo integralmente garantida a sua afetação

real de acordo com a respetiva origem, em

incumprimento do estabelecido no

classificador económico das receitas

públicas.

31. The total revenue collected by the social

security system amounted to EUR 32 billion,

75.8% of the budget, and 8.6% less than in

2015. The total effective revenue was

EUR 25.7 billion (4.5% more than in 2015),

the major sources being employers and

worker’s contributions (EUR 14.8 billion) and current transfers (EUR 9.9 billion) which

include the extraordinary transfer from

central government in order to finance the

social insurance system deficit (EUR 650

million). The transfers from the State Budget

to the social welfare system have been

consistently higher than necessary. The

Special Program for Reducing Indebtedness

to the State allowed for EUR 52 million to be

collected until the end of 2016 and exemption

from payment of interest in the amount of

EUR 13 million. The deadlines for adhesion

and payment set in this Program were

extended, although without due form, which

implied an increase of EUR 40 million in

collection and EUR 12 million in discharged

interest. For taxpayers who opted for payment

in instalments, interest was waived at 100%

for an initial capital of at least 8% of the

amount owed, in disregard of the law.

32. Total expenditure reached EUR 30 billion,

73.8% of the budget estimate, 9.3% less than

in 2015, and the effective total expenditure

was EUR 24.2 billion (2.5% more than in

2015). The most relevant effective

expenditure items were pensions (EUR 16.1

billion), and welfare benefits (EUR 1.7

billion). The balance of budget execution was

EUR 818 million, resulting in a 26.5%

increase in the accumulated balance. The

balance of effective revenue and expenditure

was EUR 1.6 billion, 50.8% more than in

2015.

33. The accounting of more than half of the social

security contributions revenue was based on

a table of allocation, a procedure that does not

fully ensure the allocation of contributions in

accordance with their respective sources and

in breach of the public revenues classifier.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 26

Página 27

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

X

34. Em 2012 foram celebrados dois protocolos

entre o MTSSS, a CNIS, a UM e a UMP para

apoiar a atividade das entidades do setor

social através da criação de duas linhas de

crédito garantidas pelo MTSSS por via do

IGFSS, com a constituição, por 7 anos de dois

depósitos bancários junto da CEMG. Estes

protocolos foram objeto de alterações, através

de acordos, declarações ou aditamentos,

relativas quer ao prazo quer à taxa de

remuneração dos depósitos dados em

garantia, as quais se consubstanciaram em

condições menos vantajosas para a segurança

social. Aderiram à medida 296 instituições e

até 31/12/2016 foram executadas garantias

devido a incumprimento por parte de 4

instituições.

35. No imobilizado continua a verificar-se no SIF

a ausência de informação integral sobre a

localização dos bens móveis, impedindo a

realização de um efetivo controlo físico.

Existem bens cujo período de vida útil já

decorreu e ainda não estão totalmente

amortizados, em virtude de deficiências na

introdução de dados no sistema informático e

de ausência de mecanismos de monitorização

de inventários. Regista-se a impossibilidade

de validação do valor da maioria dos itens de

uma amostra de imóveis e a existência de

incorreções nas contas de imobilizado e de

amortizações, em virtude, designadamente,

de: inclusão na parcela do terreno dos imóveis

de valores com origem em benfeitorias

inicialmente contabilizadas em imobilizado

em curso; inexistência de registo de terreno

com registo de titularidade a favor da

segurança social; cálculo de amortizações

sobre a parcela do valor dos terrenos;

edifícios sem registo de amortizações desde

2002; e incorreta atribuição de vida útil aos

imóveis.

36. As dívidas de terceiros ascendem, em termos

brutos, a € 12.579 M, com destaque para os créditos sobre “Contribuintes” e “Clientes”, representando, respetivamente, 75,5% e

11,1% do total. As dívidas de cobrança

duvidosa representam 61,8% do total,

34. In 2012, two protocols were signed between

the Ministry of Labour, Solidarity and Social

Security and three entities representing

private social solidarity institutions aimed at

supporting activities of social sector entities

through two credit lines. Guarantees given by

the Ministry took the form of two 7-year term

bank deposits made by the Institute of

Financial Management of Social Security

with Montepio Geral bank. Amendments to

these protocols by means of agreements,

declarations or additions changed both the

term and rate of remuneration of the above-

mentioned deposits, resulting in less

advantageous conditions for Social Security.

Up to 31 December 2016 296 institutions had

benefited from the credit lines and, due to

non-compliance by 4 institutions, guarantees

were foreclosed.

35. In fixed assets, there still exists a lack of full

information on the location of equipment in

the Financial Information System, preventing

effective physical control procedures. The

useful life of some assets has already elapsed

but they are not yet fully depreciated, due to

deficiencies in information system data entry

and absence of monitoring instruments. It is

noted that the value of most items in a sample

of real estate could not be validated.

Inaccuracies were also found in the property

and equipment and depreciation accounts,

due, in particular, to: the undue inclusion of

values regarding improvements in buildings

in the land component of real estate

properties; absence of accounting records in

the balance sheet of properties already

registered in favour of social security in the

land registry; absence of depreciation of the

land components of some real estate assets;

buildings without depreciation records since

2002; and mistakes in the years of useful life

assigned to some buildings.

36. Accounts receivable amount, in gross terms,

to EUR 12.6 billion, mostly regarding claims

on taxpayers and clients, representing,

respectively, 75.5% and 11.1% of total. Bad

debts represent approximately 61.8% of this

total, the corresponding provisions

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 27

Página 28

Tribunal de Contas

XI

situando-se as respetivas provisões em

€ 7.775 M. Mantêm-se as reservas quanto à fiabilidade dos valores relevados no balanço

relativos à dívida de contribuintes, uma vez

que não se revela possível validá-los através

do cruzamento com os valores registados nas

contas correntes dos contribuintes (GC e

SEF); registam-se deficiências na

constituição de provisões para dívida

contributiva e incumprimento do princípio da

especialização do exercício relativamente aos

juros vencidos até 31/12/2016, que

ascendem, se considerado o período de 1976

a 2016, a € 2.072 M.

37. Em 2016, o ISSA efetuou um ajustamento ao

valor da dívida de contribuintes por

comparação entre o valor relevado no SIF e

em GC. Porém, a metodologia adotada não

acautelou aspetos relevantes.

38. O valor do resultado líquido do exercício não

é fiável, porquanto não reflete o impacto das

incorreções na contabilização de operações

relativas a imobilizado e a dívidas de terceiros

e do incumprimento do princípio da

especialização dos exercícios.

39. A despesa com pensões e complementos paga

pelo SSS totalizou € 16.124 M. Desta, 78,9% destinou-se a fazer face aos encargos com

pensões de velhice. De uma ação de controlo

à atribuição de pensões, verificou-se a

ocorrência de erros nos períodos

considerados para efeitos do seu cálculo, bem

como a indevida aplicação às pensões

atribuídas ao abrigo da Lei 90/2009, que

institui um regime especial, de norma

constante do regime geral vertido no Decreto-

Lei 187/2007, o que é suscetível de diminuir

indevidamente algumas pensões.

40. A despesa com prestações de desemprego foi

de € 1.510 M e destinou-se, em 72,9%, a fazer face a encargos com subsídio de

desemprego. No triénio iniciado em 2014,

período em que o mercado de trabalho

começou a apresentar alguma recuperação,

amounting to EUR 7.8 billion. Reservations

about the reliability of the amounts shown in

the balance sheet relating to contributors' debt

remain unchanged, since it is not possible to

validate those amounts by cross-checking

with the amounts recorded in the

contributors’ current accounts (Management of Contributors and Contributions

Foreclosures systems); there were

shortcomings in the recording of provisions

for contributors debts and non-compliance

with the principle of accrual for interest

accrued up to 31 December 2016, which adds

up to EUR 2.1 billion, considering the time

span from 1976 to 2016.

37. In 2016, the Azores Social Security Institute

adjusted the value of contributors' debt by

comparing the amount reported in the

Financial Information System and in the

Current Account Management System.

However, the adopted methodology did not

take into account relevant aspects.

38. Net income disclosed on the Social Security

Account is unreliable, as it is affected by

inaccuracies in the accounting records

relating to fixed assets and accounts

receivable and to non-compliance with the

accrual principle.

39. Expenditure on pensions and supplements

paid by the Social Security System totalled

EUR 16.1 billion, 78.9% of which refers to

old-age pensions. An audit on the pension

granting procedures has shown errors in the

time periods taken into account for the

purposes of calculating pensions and the

improper application to pensions granted

under Law 90/2009 (establishing a special

scheme) of the general scheme defined by

Decree-Law 187/2007, which is likely to

unduly reduce the amount of some pensions.

40. Expenditure with unemployment benefits

amounted to EUR 1.5 billion, of which 72.9%

to cover costs of unemployment subsidy. In

the three-year period starting in 2014, when

the labour market started to show some

recovery, all indicators show a decrease

22 DE DEZEMBRO DE 2017 28

Página 29

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

XII

todos os indicadores evidenciam uma

diminuição (n.º de desempregados e n.º de

prestações de desemprego atribuídas e

pagas), o mesmo acontecendo em termos

homólogos. No quinquénio em análise

(2012/2016), apenas em 2012 e 2013 se

verificaram necessidades de financiamento

das prestações de desemprego suportadas

pelo sistema previdencial-repartição, as quais

totalizaram € 516 M, compensadas pelos excedentes verificados nos restantes anos de

2014 a 2016.

41. O FEFSS aumentou 1,0%, para € 14.246 M, equivalentes a 116,4% da despesa anual com

pensões do sistema previdencial (suficiente

para suportar 14 meses) e a 7,7% do PIB. A

volatilidade baixou para 4,8% e a rotação da

carteira para 0,835. As dotações atingiram

€ 227 M, pelo que o valor acrescentado pela gestão foi negativo. Apesar do reforço do

montante aplicado em dívida garantida pelo

Estado Português, o seu valor diminuiu 2,0%

(€ 219 M) e o peso caiu para 75,8% da carteira, dada a diminuição no valor de

mercado das OT (ainda assim, € 911 M acima do valor de reembolso). A taxa de

rendibilidade foi negativa (-0,6%),

influenciada pelo desempenho da carteira de

dívida pública nacional (-1,7%). O Fundo

apresenta uma rendibilidade média anual de

4,65%, que permitiu acumular € 6.474 M.

42. Apenas a carteira constituída por dívida

pública estrangeira e ações (19,7% do total) é

gerida contra benchmarks (interno e da

Tutela) e apresentou excess returns

negativos, de 0,25% e 2,83%,

respetivamente. Algumas premissas

importantes surgem secundarizadas, como o

compromisso entre risco e rendibilidade, a

diversificação e a autonomia técnica. A

transparência deve ser reforçada,

nomeadamente nas componentes da carteira

não sujeitas a uma gestão ativa, onde a

Reserva Estratégica constitui um caso

extremo de perda de valor. A informação

disponível não possibilita uma adequada

identificação dos impactos das decisões de

(number of unemployed persons and of

unemployment benefits granted and paid), the

same being observed on a year-on-year basis.

During the five-year review period

(2012/2016), the need to finance the

unemployment benefits supported by the

social insurance system occurred only in

2012 and 2013, totalling EUR 516 million,

compensated by surpluses in the remaining

years.

41. The value of the Social Security Financial

Stabilization Fund increased by 1% to

EUR 14.2 billion, equivalent to 116.4% of

annual expenditure with social insurance

system pensions (enough to cover 14 months)

and 7.7% of GDP. Volatility dropped to 4.8%

and portfolio turnover to 0.835. The capital

inflows amounted to EUR 227 million, so the

value added by management was negative.

Despite increased investment in Portuguese

Sovereign debt, its value decreased by 2.0%

(EUR 219 million) and its weight fell to

75.8% of the portfolio, given the decrease in

the market value of Treasury Bonds (even so,

EUR 911 million above redemption value).

The yield was negative (-0.6%), influenced

by the performance of the Portuguese

Sovereign debt portfolio (-1.7%). The Fund

has an average annual return of 4.65%, which

allowed for the accumulation of EUR 6.5

billion.

42. Only the portfolio consisting of foreign

public debt and shares (19.7% of the total) is

managed against two benchmarks (one

internal and one fixed by the Ministry) and

showed negative excess returns of 0.25% and

2.83%, respectively. Important assumptions

were not given the adequate importance, such

as the compromise between risk and return,

portfolio diversification and technical

autonomy. Transparency must be

strengthened, particularly in the portfolio

components not subject to active

management, where the Strategic Reserve is

an extreme case of value loss. The available

information does not allow an adequate

identification of the impact of management

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 29

Página 30

Tribunal de Contas

XIII

gestão, não existindo um efetivo comparativo

de desempenho ou dados que permitam

avaliar o resultado das operações mais

significativas.

43. As receitas efetivas da CGA totalizaram

€ 9.790 M e as despesas efetivas situaram-se em € 9.703 M, destacando-se a despesa com pensões, que representou 98,0% daquelas e

manteve uma tendência crescente continuada.

A receita proveniente de quotas dos

subscritores apenas cobriu 13,3% da despesa

com pensões, indicador que tem vindo a

degradar-se desde 2006, obrigando a um

esforço financeiro acrescido por parte do

Estado. As reservas referentes aos fundos de

pensões das empresas de capitais públicos

transferidos para a CGA representavam, no

final de 2016, 85,9% das iniciais. Entre 2011

e 2014, as reservas de 4 destes fundos

esgotaram-se, passando as inerentes

responsabilidades a ser suportadas por verbas

provenientes de receitas próprias da CGA

e/ou do Orçamento do Estado. Também os

encargos com complementos de pensão

pagos aos ex-militares por conta do ex-Fundo

de Pensões dos Militares das Forças Armadas

se encontram na mesma situação. Entre 2011

e 2016 o esforço financeiro do Estado para

fazer face a estes encargos foi de € 1.069 M.

Consolidação

44. A conta consolidada da administração central

e da segurança social, excluindo as receitas e

despesas em ativos e passivos financeiros,

evidencia receita de € 72.080 M, despesa de € 76.895 M e o consequente saldo de € -4.815 M. Acrescendo os ativos e passivos financeiros da administração central a

considerar, o défice aumenta para € 5.568 M.

decisions and there is no effective

performance referential, or data, that allow

evaluation of the most significant operations.

43. The effective revenue of the Civil Servants

Pension Scheme amounted to EUR 9.79

billion, whereas the effective expenditure

amounted to EUR 9.70 billion, with pension

expenditure accounting for 98% and showing

a continued growing trend. Revenue from

contributions covered only 13.3% of pension

expenditure, an indicator that has been

deteriorating since 2006, forcing the State to

an increased financial effort. The reserves of

the pension funds of state owned enterprises

transferred to the Civil Servants Pension

Scheme accounted, at the end of 2016, for

85.9% of their initial value. Between 2011

and 2014 the reserves of four of these funds

came to an end, so their liabilities have since

been funded by the Civil Servants Pension

Scheme own revenue and/or by the State

Budget. The same occurs with the pension

supplements paid to ex-servicemen on behalf

of the former Pension Fund of the Armed

Forces. Between 2011 and 2016, the state's

financial effort to cover these costs was

EUR 1.1 billion.

Consolidation

44. Excluding all income and expenditure related

to financial assets and liabilities, the

consolidated account (integrated services,

autonomous services and funds and social

security) recorded revenue of EUR 72.1

billion, expenditure of EUR 76.9 billion and

a negative balance of EUR 4.8 billion.

However, adding the central government

revenue and expenditure arising from

financial assets and liabilities the deficit

increases to EUR 5.6 billion.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 30

Página 31

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

XIV

Recomendações

45. 63% das recomendações formuladas no

Parecer de 2014 à Assembleia da República

e/ou ao Governo, foram acolhidas total ou

parcialmente.

46. Neste Parecer formulam-se 75

recomendações, contributo deste Tribunal

para a correção dos erros e deficiências

assinalados e para a melhoria da fiabilidade,

do rigor e da transparência da CGE.

Juízo sobre a Conta1

47. O Tribunal considera que a Conta da

Administração Central está afetada por um

conjunto de erros materialmente relevantes

que determinaram a formulação de reservas e

ênfases nos domínios dos sistemas

contabilísticos, da legalidade e da correção

financeira e de uma limitação de âmbito.

A Conta da Segurança Social está afetada por

erros materialmente relevantes, pelo que o

Tribunal formula reservas no âmbito do

controlo interno, da legalidade e da correção

financeira.

Recommendations

45. 63% of the Court of Accounts

recommendations to Parliament and/or to the

Government in its 2014 Opinion were totally

or partially implemented.

46. This Opinion includes 75 recommendations,

aiming to correct errors and shortcomings

detected and to improve the reliability,

accuracy and transparency of the General

State Account.

Opinion on the Account1

47. The Court finds that the central

administration account is influenced by a set

of materially relevant errors from which

derive reservations and emphasis of matter

with regard to accounting systems, legality

and financial correction and a limitation of

scope.

The social security account is influenced by

materially relevant errors and therefore the

Court has reservations concerning internal

control, legality and financial correction.

1 Este Juízo é emitido de acordo com a Lei de

Organização e Processo do Tribunal de Contas

(LOPTC).

1 This opinion is issued in accordance with the Court of

Accounts Organization and Procedure Act.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 31

Página 32

Tribunal de Contas

INTRODUÇÃO

Página 33

Tribunal de Contas

3

INTRODUÇÃO

O Tribunal de Contas emite o Parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2016 em conformidade com as

atribuições e competências estabelecidas na Constituição da República Portuguesa1, na Lei de

Organização e Processo do Tribunal de Contas2 e na Lei de Enquadramento Orçamental3.

A Conta, elaborada e apresentada pelo Governo, foi remetida ao Tribunal em 30 de junho de 2017.

a) Objeto, âmbito e metodologia; condicionantes

O Parecer incide sobre a Conta Geral do Estado (CGE), que abrange as contas da administração central

do Estado (serviços integrados – SI e serviços e fundos autónomos – SFA), apresentadas apenas em contabilidade orçamental e suportadas por diferentes sistemas contabilísticos em vigor, e a conta da

segurança social, apresentada, também, em base patrimonial.

O subsector dos SI abrangeu 283 unidades orçamentais e o dos SFA integrou 356 entidades, das quais

155 eram EPR.

O Tribunal aprecia a atividade financeira do Estado nos domínios das receitas, das despesas, da

tesouraria, do recurso ao crédito público e do património e pronuncia-se sobre a legalidade e a correção

financeira das operações examinadas, a economia, a eficiência e a eficácia da gestão e a fiabilidade dos

sistemas de controlo interno e formula recomendações à Assembleia da República ou ao Governo com

vista a serem supridas as deficiências detetadas.

O Parecer suporta-se nos resultados das ações de controlo e das auditorias realizadas de acordo com os

métodos e técnicas constantes dos Manuais de Auditoria do Tribunal e as normas internacionais (ISSAI

– International Standards of Supreme Audit Institutions). Foram ainda aprovados 4 relatórios de acompanhamento da execução orçamental da administração central e da segurança social4.

A CGE não comporta, ainda, um balanço e uma demonstração de resultados da administração central

do Estado, não permitindo que o Tribunal exprima a sua opinião em termos completamente coincidentes

com o modelo previsto pelas Normas Internacionais de Auditoria, o qual pressupõe a implementação de

um sistema contabilístico que possibilite o registo integrado das operações orçamentais, patrimoniais e

financeiras do Estado, conforme previsto na nova lei de enquadramento orçamental (LEO) e no sistema

de normalização contabilística para as administrações públicas (SNC-AP)5.

1 Art. 214.º. 2 Cfr. art. 41.º da Lei 98/97, de 26/08, alterada pelas Leis 87-B/98, de 31/12, 1/2001, de 04/01, 55-B/2004, de 30/09,

48/2006, de 29/08, 35/2007, de 13/08, 3-B/2010, de 28/04, 61/2011, de 07/12, 2/2012, de 06/01, e 20/2015, de 09/03. 3 Lei 91/2001, de 20/08, com as sucessivas alterações, a última introduzida pela Lei 41/2014, de 10/07; revogada pela Lei

151/2015, de 11/09, com aplicação diferida, na maioria do seu articulado, por 3 anos. 4 Administração Central – Relatórios 4/2016 e 3/2017 relativos ao 1.º trimestre de 2016 e aos valores provisórios de 2016,

respetivamente; Segurança Social – Relatórios 1/2017 e 2/2017 respeitantes ao 1.º semestre de 2016 e aos valores provisórios de 2016.

5 Aprovado pelo DL 192/2015, de 11/09, com produção de efeitos a 01/01/2017, adiado para 01/01/2018 (DL 85/2016, de

21/12). O SNC-AP tem por base o normativo internacional expresso nas IPSAS - International Public Sector Accounting

Standards e substitui o plano oficial de contabilidade pública (POCP) e os planos de contas sectoriais.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 33

Página 34

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

4

b) Normas de enquadramento orçamental

Nos termos da Constituição da República Portuguesa (CRP)1, a lei do orçamento é elaborada,

organizada, votada e executada anualmente, de acordo com a lei de enquadramento, devendo a respetiva

proposta ser acompanhada de relatórios, designadamente sobre a previsão da evolução dos principais

agregados macroeconómicos com influência no orçamento, a justificação das variações de previsões das

receitas e despesas face ao ano anterior, a dívida pública, as operações de tesouraria e as contas do

Tesouro, os benefícios fiscais e a estimativa da receita cessante.

Com a aprovação da nova LEO (Lei 151/2015) iniciou-se um período de transição na aplicação do novo

processo orçamental decorrente da derrogatória de três anos para a produção de efeitos dos artigos 3.º e

20.º a 76.º2; por conseguinte, no exercício orçamental de 2016 aplicaram-se as normas constantes do seu

Título I (Objeto e âmbito), com exceção do artigo 3º (Âmbito orçamental e contabilístico), e dos Capítulos I

(Política orçamental) e II (Princípios orçamentais) do Título II.

Durante o período transitório mantêm-se em vigor as normas da Lei 91/2001 respeitantes ao processo

orçamental, ao conteúdo e estrutura do OE, à execução orçamental, às alterações orçamentais, ao

controlo orçamental e responsabilidade financeira, ao desvio significativo e mecanismo de correção, às

contas, à estabilidade orçamental, às garantias de estabilidade orçamental e às disposições finais3.

O novo enquadramento orçamental apenas se aplicará na sua plenitude ao exercício orçamental de 2019.

Em estreita articulação com as regras previstas no SNC-AP, introduz mudanças significativas no

processo orçamental, nos sistemas contabilísticos e no modelo de programação, execução e controlo

orçamental; visa reduzir a fragmentação do processo orçamental e introduz um conjunto de

procedimentos com vista à melhoria da disciplina financeira, da transparência e da qualidade da

informação contabilística e de gestão.

Destacam-se os seguintes aspetos: redefinição do modelo de programação orçamental plurianual;

implementação de um sistema contabilístico que compreende a contabilidade financeira, orçamental e

de gestão e a apresentação de demonstrações orçamentais e financeiras consolidadas para a

administração central e para a segurança social; introdução de uma nova estrutura do OE assente nos

programas orçamentais, agregados em missões de base orgânica; criação da Entidade Contabilística

Estado (ECE), que centralizará as operações contabilísticas da responsabilidade do Estado,

designadamente, receitas gerais, ativos e responsabilidades.

Introduz, ainda, alterações às atribuições cometidas ao Tribunal de Contas, destacando-se: i) a

certificação da CGE; ii) a antecipação do prazo para a emissão do PCGE para 30 de setembro do ano

seguinte ao ano económico a que a conta respeita (cujo prazo de apresentação é antecipado para 15 de

maio); e iii) a audição do Tribunal pela Assembleia da República no âmbito da discussão da proposta

de lei do OE, relativamente ao acolhimento das recomendações formuladas nos PCGE4.

1 Art. 105.º, 106.º e 162.º, alínea d), da CRP. 2 Prevista nos artigos 7.º, n.º 2, e 8º da Lei 151/2015. 3 Para clareza de expressão, no presente Parecer a referência à LEO aprovada pela Lei 91/2001 designar-se-á LEO 2001 e

a aprovada através da Lei 151/2015, LEO 2015. 4 Cfr. art. 66.º e 38.º, n.º 6, com eficácia diferida por 3 anos.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 34

Página 35

Tribunal de Contas

5

c) Principais medidas de política orçamental em 2016

O OE 2016, aprovado pela Lei 7-A/2016, de 30/03, entrou em vigor a 31/03/2016, tendo-se verificado

no primeiro trimestre a prorrogação da vigência das disposições constantes do OE 2015 e do decreto-lei

de execução orçamental1. O DL 253/2015, de 30/12, estabeleceu um conjunto de normas destinadas a

disciplinar a aplicação do regime transitório, designadamente quanto à clarificação do orçamento de

referência para a aplicação do regime de execução por duodécimos2.

O OE 2016 definiu um conjunto de medidas de política orçamental e continha implícitas outras

contempladas em diplomas próprios, a maioria publicados no final de dezembro de 2015. Merecem

destaque as seguintes:

 Redução da sobretaxa do IRS em 2016 (Lei 159-D/2015, de 30/12)3;

 Aumento da retribuição mínima mensal garantida (DL 254-A/2015, de 31/12) e prorrogação da redução da taxa contributiva para a segurança social a cargo das entidades que empreguem

trabalhadores que auferem essa retribuição;

 Redução da contribuição extraordinária de solidariedade (Lei 159-B/2015, de 30/12)4;

 Extinção progressiva da redução remuneratória em 2016 (60% a partir de 01/04, 80% a partir de 01/07 e eliminação completa a partir 01/10) (Lei 159-A/2015, de 30/12);

 Reposição das regras de atualização do valor das pensões do regime geral da segurança social e do regime de proteção social convergente aplicável às pensões até € 628,82, e a reposição do valor de referência do complemento solidário para idosos (DL 254-B/2015, de 31/12);

 Manutenção em vigor em 2016 da contribuição extraordinária sobre a indústria farmacêutica, do adicional em sede de imposto único de circulação, do adicional às taxas do imposto sobre os

produtos petrolíferos e energéticos, da contribuição sobre o sector bancário e da contribuição

extraordinária sobre o sector energético (Lei 159-C/2015, de 30/12);

 Aumento do valor de referência do rendimento social de inserção (DL 1/2016, de 06/01);

 Atualização dos valores dos abonos de família para crianças e jovens e pré-natal e respetivas majorações, incluindo a da bonificação por deficiência (Portaria 11-A/2016, de 29 /01);

 Redução do IVA na restauração – sujeição da prestação de serviços de alimentação (com exclusão da maioria das bebidas) à taxa intermédia a partir de 01/07/2016, incluindo neste

escalão as refeições prontas a consumir, com ou sem entrega ao domicílio;

 Alterações em sede de IRS - eliminação do quociente familiar, reposição do quociente conjugal anterior à reforma do IRS e aumento das deduções à coleta fixa por dependente e ascendente e

por dependente e ascendente portador de deficiência;

1 Em conformidade com o disposto no art. 12-Hº da LEO 2001. 2 Complementado pela Circular da Direção-Geral do Orçamento (DGO) 1380, de 26/02/2016. 3 Eliminação para os rendimentos até € 7.070, progressividade entre 1% e 3% para os rendimentos até € 80.000 e

manutenção de 3% para os rendimentos superiores a esse montante; eliminação da sobretaxa em 2017. 4 Determina, também, a sua extinção em 2017.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 35

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

6

 Alterações em sede de IRC – modificações aos regimes de participation exemption1, redução do prazo de reporte dos prejuízos fiscais de 12 para 5 anos, exceto para as PME, reavaliação do

ativo fixo tangível2 e manutenção da taxa de 21% (não se concretizando a sua redução

programada para 2016, 19%3);

 Alterações no cálculo do imposto sobre veículos (reforço do peso da componente CO2) e do imposto sobre o tabaco; agravamento da tributação do recurso ao crédito ao consumo; aumento

do imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos; reforço da tributação em imposto de

selo das comissões cobradas pelo sector financeiro;

 Manutenção da proibição de valorizações remuneratórias no setor público, da atribuição de prémios de desempenho e de gestão e condicionamentos do posicionamento remuneratório na

sequência de procedimentos concursais;

 Aprovação de um regime excecional de regularização de dívidas fiscais e contributivas à segurança social, através de pagamento integral ou em prestações (DL 67/2016, de 03/11).

d) Normas de execução orçamental de 2016

O DL 18/2016, de 13/04, alterado através do DL 35-A/2016, de 30/06 (DLEO)4 aprovou as normas de

execução orçamental para 2016; destacam-se os seguintes aspetos:

 Imposição de cativações adicionais às previstas no OE 2016, correspondentes ao valor do aumento das despesas com pessoal financiadas por receitas gerais face à execução orçamental

provisória de 2015 e, no que se refere a receitas próprias, aos montantes em que o aumento seja

superior a 4%;

 Não aplicação do regime da execução do orçamento por duodécimos, ficando as entidades obrigadas a respeitar as previsões mensais de execução orçamental;

 Obrigatoriedade da divulgação da lista dos municípios que tenham dívidas com um prazo médio superior a 60 dias, a efetuar pela Direção-Geral das Autarquias Locais;

 Alteração do modelo organizativo centralizado nas secretarias gerais das atribuições de organismos nos domínios da gestão de recursos humanos, administrativos, financeiros e

patrimoniais5, estabelecendo um novo modelo assente na partilha de atividades comuns, através

da constituição de centros de responsabilidade e de custos com níveis de crédito próprios das

subentidades;

 Aplicação de um regime especial de controlo da execução orçamental às EPR em geral e de um regime excecional às EPR que preencham os requisitos estabelecidos no n.º 10 do art. 3.º do OE

1 Visa a eliminação da dupla tributação pela redistribuição de lucros e reservas e a isenção de tributação de mais-valias na

alienação de participações societárias. 2 Decreto-Lei 66/2016, de 03/11. 3 Conforme se encontrava previsto na Lei 2/2014, de 16/01, (reforma do IRC). 4 Cfr., ainda, Declarações de Retificação 5 e 10-A/2016, publicadas em 21/04 e 09/06, respetivamente. 5 Implementado em anos anteriores nos Ministérios das Finanças, dos Negócios Estrangeiros e da Economia e na

Presidência do Conselho de Ministros.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 36

Página 37

Tribunal de Contas

7

20161, identificadas no Anexo II ao DLEO2, as quais se encontram dispensadas da observância

das regras relativas às previsões mensais de execução, à assunção de encargos plurianuais, ao

princípio da unidade de tesouraria, ao parecer prévio à contratação de prestação de serviços

(tarefa e avença) e de aquisição de serviços de consultadoria técnica e à prestação de informação

sobre fundos disponíveis, compromissos, contas a pagar e pagamentos em atraso; aplicam, ainda,

um regime simplificado de classificação económica das receitas e das despesas e encontram-se

dispensadas das cativações impostas pelo art. 3.º do OE 2015;

 Redução de prazos para a prestação de informação sobre a execução orçamental e sobre fundos disponíveis, compromissos, contas a pagar e pagamentos em atraso;

 Introdução de disposições relativas à recuperação de créditos, à gestão de património e à gestão de pessoal que, em anos anteriores, se encontravam previstas na lei do orçamento;

 Prorrogação de medidas excecionais de estabilidade orçamental, nomeadamente quanto à remuneração dos membros de gabinetes ministeriais e dos dirigentes de institutos públicos de

regime especial;

O incumprimento das normas previstas no DLEO origina, cumulativamente, o apuramento de

responsabilidades financeira, a impossibilidade de recurso ao aumento temporário de fundos disponíveis

e, após três incumprimentos, a retenção de 1% da dotação orçamental relativa a receitas gerais (exceto

as destinadas a remunerações certas e permanentes), líquida dos cativos iniciais, a repor no mês seguinte

à prestação da informação, salvo em situações de incumprimento reiterado, em que apenas são repostos

90 % dos montantes retidos.

e) Estrutura do Parecer

O Parecer encontra-se estruturado em quatro partes: Enquadramento Macroeconómico e Orçamental, Conta

Geral do Estado, Conta da Segurança Social e Conclusões, Recomendações e Juízo sobre a Conta.

Em regra, os valores são apresentados nos quadros em milhões de euros, podendo, por isso, os totais

não coincidir com a soma das parcelas; as percentagens encontram-se arredondadas à décima. A

abreviação dos montantes efetua-se do seguinte modo: milhões de euros – € xx M; milhares de euros – € xx m.

No presente Parecer a referência à LEO aprovada pela Lei 91/2001 designar-se-á LEO 2001 e a aprovada

através da Lei 151/2015, LEO 2015.

f) Exercício do contraditório

O anteprojeto do Parecer foi enviado às entidades responsáveis pela execução orçamental para

pronunciamento sobre o teor do mesmo; as alegações apresentadas foram tidas em conta na fixação do

texto final do Parecer. No Anexo I identificam-se as entidades ouvidas, as matérias em causa e indica-

-se se apresentaram ou não alegações. A fim de dar expressão plena ao princípio do contraditório, as

respostas encontram-se apresentadas integralmente no Anexo II.

1 EPR que não recebam transferências do OE ou de serviços e organismos da administração direta e indireta do Estado,

cujas receitas próprias não provenham de um direito atribuído pelo Estado, ou que apresentem nos últimos três anos

custos médios inferiores a € 1.500.000. 2 Para além das EPR identificadas, o regime excecional é ainda aplicado à SPGM – Sociedade de Investimentos, SA, e à

ANI – Agência Nacional de Inovação, SA (cfr. art. 21.º).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 37

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

8

CAIXA 1 – IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA PARA AS ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS (SNC-AP) E DA ENTIDADE CONTABILÍSTICA

ESTADO (ECE)

Com a publicação da nova Lei de Enquadramento Orçamental e a aprovação do SNC-AP, no final de 2015,

teve início uma alteração profunda do regime orçamental e contabilístico do Estado.

A aplicação do SNC-AP por todas as entidades da AP, então prevista para 1 de janeiro de 2017, foi adiada

para 1 de janeiro de 2018. A CGE, com a inclusão de demonstrações orçamentais e financeiras consolidadas

para os subsectores da administração central e da segurança social, preparadas de acordo com o SNC-AP,

mantém-se prevista legalmente para o exercício orçamental de 2019.

A ECE será constituída pelo conjunto das operações contabilísticas da responsabilidade do Estado enquanto

ente soberano, “tais como as receitas gerais, o património, a tesouraria, a dívida direta do Estado e respetivos encargos, as transferências para outras entidades e administrações públicas, os contratos de

parceria público-privadas e outras concessões, as provisões e os passivos contingentes”. Pela materialidade financeira desse conjunto de operações, a implementação da ECE é fundamental para concretizar o novo

modelo de gestão das finanças públicas.

Neste contexto, o Tribunal tem vindo a auditar os processos de implementação do SNC-AP e da ECE tendo

publicado 4 relatórios de auditoria. As principais conclusões e recomendações dos dois últimos1 constam da

presente Caixa.

1. Comuns aos dois relatórios:

a) Gestão dos processos de implementação do SNC-AP e da ECE atribuída à Unidade de Implementação

da LEO (UniLEO). Porém, entre a criação desta Unidade, em setembro de 2015 e o início da sua

operacionalização decorreu mais de um ano, não obstante o prazo legal de 180 dias fixado para o

efeito. A constituição e regras de funcionamento da UniLEO só foram aprovadas em novembro de

2016 e os respetivos responsáveis nomeados no final desse ano. Até à entrada em funcionamento da

UniLEO o processo esteve sob a dependência da DGO, já registava atrasos significativos e não se

encontrava integralmente definido nem calendarizado.

b) Dificuldades na operacionalização do Gabinete de Gestão e Coordenação de Projetos da UniLEO, ao

nível da afetação dos recursos humanos, com prejuízo para a execução da sua missão.

c) Aspetos positivos durante 2017: definição clara dos responsáveis pela coordenação e monitorização

do processo de transição; articulação com o processo de implementação da nova LEO; apresentação

de um plano de implementação da LEO que inclui, designadamente, a revisão do modelo de controlo

interno e auditoria.

2. Sobre a implementação do SNC-AP:

a) O calendário legal fixado continua a ser exigente, presente todos os constrangimentos identificados

nos relatórios de auditoria deste Tribunal e que podem pôr em causa as metas fixadas para o curto

prazo:

 Diplomas sobre a arquitetura financeira do Estado ainda por rever, com impacto no desenvolvimento de projetos, respetivos custos e no cumprimento dos prazos.

1 Relatórios de Auditoria n.os 22 e 23/2017–2.ª Secção, disponíveis em: www.tcontas.pt.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 38

Página 39

Tribunal de Contas

9

 Sensibilização insuficiente das entidades e seus dirigentes para uma abordagem integrada do processo de transição para o SNC-AP, com prejuízo para a afetação adequada de recursos em

tempo oportuno.

 Arquitetura técnica de referência do Sistema Integrado de Gestão Financeira Pública ainda por definir, com prejuízo para o desenvolvimento de módulos críticos para implementar o SNC-AP e

cumprir a LEO.

 Atraso na adaptação dos sistemas contabilísticos ao SNC-AP, na sua interligação com os sistemas centrais e/ou com os sistemas complementares locais (sistemas de negócio próprios de cada

entidade), com entidades a reconhecer a impossibilidade de efetuar a transição no prazo fixado.

 Subdimensionamento das estruturas de apoio ao processo de transição, face aos pedidos, resultando em prazos de resposta alargados, que prejudicam a qualidade do processo de transição.

 Atraso na configuração do modelo de formação adequado ao novo normativo. No final de outubro de 2017 foram disponibilizados on line os primeiros módulos do plano de formação aprovado

pelo Despacho n.º 9101/2017, de 17 de outubro, do Ministro das Finanças.

b) A estes riscos acrescem os relacionados com o cumprimento das novas regras e procedimentos no

exercício orçamental de 2019, nomeadamente a apresentação no OE 2019 de demonstrações

financeiras previsionais e a apresentação da CGE 2019 com demonstrações orçamentais e financeiras

consolidadas.

c) Ainda não foram definidos aspetos chave para preparar a consolidação do OE e da CGE, que poderão

vir a integrar um manual de consolidação, nomeadamente, identificação das entidades abrangidas,

entidade consolidante, políticas contabilísticas uniformes, critérios de mensuração compatíveis,

identificação de operações comuns.

d) Existe risco elevado de descontrolo de custos: o atraso no planeamento global levou a concentrar fases

de transição num horizonte temporal muito curto, dificultando a sua sequência e a afetação adequada

de recursos. Tal pode conduzir a reformulações sucessivas dos processos e respetivos sistemas de

suporte.

e) Continuam em desenvolvimento aspetos iniciados em 2016, como a definição de regras para a

intercomunicabilidade entre os sistemas de informação locais e centrais; ajustamentos ao plano de

contas central; revisão do manual de implementação; alargamento do mecanismo para o

esclarecimento de questões contabilísticas a todas as entidades; realização de ações de formação.

3. Sobre a implementação da ECE:

a) O planeamento do processo de implementação da ECE limita-se aos termos acordados com o Eurostat

em contrato celebrado para o desenvolvimento de um projeto piloto da ECE. O contrato foi objeto de

duas adendas, que procederam a uma restruturação e recalendarização das atividades do projeto e à

aprovação de um novo cronograma para as dez atividades que compõem as três fases do projeto (Fase

1 – Modelo Concetual e Instrumentos Normalizadores, Fase 2 – Implementação do Sistema de Informação e Formação e Fase 3 - Implementação Piloto).

b) A ECE é um elemento de um novo modelo de gestão das finanças públicas que se encontra

parcialmente por definir e quase integralmente em implementação:

 As recalendarizações do projeto, com a dilação dos prazos para o desenvolvimento de todas as atividades, traduziram-se no adiamento por 15 meses da conclusão do projeto piloto da ECE

previsto no contrato com o Eurostat. A duração total do projeto quase duplica, da calendarização

inicial (16 meses) para a resultante da segunda revisão (31 meses).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 39

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

10

 A implementação do balanço de abertura (BA) piloto tem um âmbito material mais restrito do que o definido para a ECE pela LEO ao excluir, por exemplo, as operações associadas à dívida pública,

às receitas fiscais, ao património imobiliário do Estado e às parcerias público-privadas. A exclusão

de ativos e passivos de tal materialidade põe em causa a utilidade da elaboração do BA piloto.

 Os responsáveis da UniLEO admitem a possibilidade de não haver condições para elaborar um BA piloto, não obstante reiterarem o compromisso de apresentar um BA da ECE, reportado a

01/01/2019, ainda que incompleto.

 Não se encontra previsto um período experimental abrangendo todas as operações a reconhecer e mensurar nos termos da LEO, o que permitiria avaliar em que medida estariam garantidos os

requisitos técnicos e institucionais para uma plena aplicação no exercício orçamental de 2019.

 Cumprir as metas definidas para os demais projetos de implementação da LEO é, também, fator crítico de sucesso da implementação da ECE, sobretudo os relativos aos sistemas de informação,

dada a necessidade da interligação entre os sistemas de informação das entidades que atuam como

agentes do Estado e o de suporte à ECE e a relação a estabelecer entre este e os outros sistemas

de informação a implementar no quadro do novo modelo da LEO1.

 O envolvimento das entidades que atuam como principais agentes do Estado e que terão de prestar a informação para a contabilização das operações pela ECE é diminuto, sobretudo nos casos da

Autoridade Tributária e Aduaneira e da Unidade Técnica de Acompanhamento de Projetos.

 A execução do projeto piloto da ECE depende de serviços contratados a entidades externas (para oito das dez atividades) reforçando a necessidade de efetivo e adequado acompanhamento do

processo pela UniLEO.

4. Recomendações

O Tribunal formulou recomendações no sentido de que, para a correta e atempada implementação do SNC-

AP e da ECE, continua a ser necessário tomar medidas pertinentes, que permitam recuperar os atrasos que

se verificam (no desenvolvimento do quadro legal, na conceção e desenvolvimento dos sistemas de

informação, na preparação e emissão de orientações para o tratamento e harmonização de políticas

contabilísticas e no início da aplicação do SNC-AP por algumas entidades), de forma a cumprir os objetivos

de apresentação, no OE 2019, de demonstrações financeiras previsionais e, na CGE 2019, de demonstrações

orçamentais e financeiras consolidadas.

***

O Tribunal acompanhou, igualmente, a implementação do POCP nos estabelecimentos de ensino não

superior, tendo aprovado o Relatório de Auditoria n.º 26/2017-2.ª Secção, onde, essencialmente, concluiu:

a) O POCP foi aplicado no ano de 2016 em todos os estabelecimentos de ensino não superior;

b) Porém, a maioria desses estabelecimentos apresentaram as contas de gerência no modelo simplificado.

1 Sistemas a implementar: Sistema Central de Receitas Públicas, Sistema de Planeamento Financeiro e Orçamento, Sistema

Central de Contabilidade e Contas Públicas, Sistema Central de Gestão de Tesouraria e Sistema de Faturação Eletrónica.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 40

Página 41

Tribunal de Contas

PARTE A

ENQUADRAMENTO

MACROECONÓMICO E

ORÇAMENTAL

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Tribunal de Contas

13

1. ENQUADRAMENTO MACROECONÓMICO E ORÇAMENTAL

1.1. A economia em 2016

1.1.1. A economia internacional

Em 2016 a economia mundial desacelerou o seu ritmo de crescimento para 3,2% (3,4% em 2015) em

virtude do abrandamento nas economias avançadas (-0,6 p.p. face ao ano anterior) e da ligeira melhoria

do desempenho dos países emergentes e em desenvolvimento (+0,1 p.p.). Estes países mantiveram uma

posição determinante no crescimento económico mundial (4,3% face a 1,7% nas economias avançadas),

no contexto da heterogeneidade entre países e regiões1.

Gráfico A. 1 – PIB por regiões (variação anual em %) Gráfico A. 2 – PIB na área do euro (variação anual em %)

Fonte: FMI , World Economic Outlook Update, outubro de 2017.

Na generalidade das economias avançadas, o motor do crescimento continuou a ser a procura interna,

em particular o consumo privado, impulsionada pela recuperação do mercado de trabalho. O PIB na

área do euro registou uma variação anual de 1,8% (2,0% em 2015) em resultado da evolução favorável

do rendimento real disponível das famílias, num contexto de crescimento do emprego, de melhoria das

condições de financiamento bancário e de redução dos preços do petróleo; o abrandamento registado

deveu-se, sobretudo, à desaceleração das exportações (3,2% contra 6,4% em 2015), em linha com a

evolução do comércio mundial (2,4% que compara com 2,8% em 2015).

A atividade económica nos países emergentes e em desenvolvimento manteve-se condicionada pela

redução dos preços das matérias-primas (nomeadamente do petróleo), pelo crescimento moderado da

procura externa e pela manutenção de tensões geopolíticas em alguns países.

O crescimento económico moderado a nível mundial foi acompanhado pela tendência generalizada de

uma taxa de inflação reduzida em 2016 (em média 2,8%, igual à registada em 2015), decorrente em

grande parte da continuada queda do preço das matérias-primas, designadamente do preço do petróleo

bruto Brent que diminuiu para 43 dólares por barril (51 dólares por barril em 2015). Nas economias

avançadas, o crescimento médio anual dos preços no consumidor ascendeu a 0,8% (0,3% em 2015),

enquanto nos países emergentes atingiu 4,3% (4,7% em 2015).

1 Os dados apresentados ao longo deste ponto têm como fontes o FMI, World Economic Outlook de outubro de 2017, e a

CE, AMECO de maio de 2017.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 42

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

14

Em matéria de finanças públicas, em 2016 manteve-se a alteração na posição das regiões ao nível da

evolução do saldo orçamental iniciada no ano anterior, com as economias emergentes a alcançaram um

défice de 4,8% do PIB (4,5% em 2015), superior ao registado nas economias avançadas que se situou

em 2,8% do PIB (2,6% em 2015). A dívida pública atingiu nas economias avançadas 106,3% do PIB

(104,1% em 2015), contrastando com 46,8% do PIB nas economias emergentes (43,8% em 2015).

Gráfico A. 3 – Saldos orçamentais na área do euro (% PIB)

Gráfico A. 4 – Dívidas públicas na área do euro (% PIB)

Fonte: AMECO, maio de 2017.

As medidas de reequilíbrio das contas públicas aplicadas pelos países da área do euro contribuíram para

a redução do défice orçamental em 2016 que atingiu 1,5% do PIB (2,1% em 2015), com oito países a

apresentarem excedentes orçamentais e apenas dois países responsáveis por défices superiores ao limite

de 3% do PIB. Em 2016 o rácio da dívida pública no PIB manteve a trajetória descendente iniciada no

ano anterior, ascendendo a 91,3% (92,5% em 2015), com treze países a serem responsáveis por rácios

superiores ao valor de referência de 60%.

1.1.2. A economia portuguesa

Em 2016 a economia portuguesa teve um crescimento de 1,5%1 (1,8% em 2015), situando-se 0,3 p.p.

abaixo do observado na área do euro. O menor dinamismo da atividade económica refletiu o crescimento

menos robusto da procura interna, em especial do investimento, a par da desaceleração das exportações

de bens e serviços, em linha com a evolução menos favorável da procura externa. A tendência verificada

de contributo positivo da procura interna e de contributo negativo da procura externa na variação real

do PIB manteve-se pelo terceiro ano consecutivo.

1 Os dados apresentados ao longo deste ponto têm como fontes o INE, Contas Nacionais de setembro de 2017, e o BdP,

Boletins Económicos de maio e de outubro de 2017.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 43

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Tribunal de Contas

15

Gráfico A. 5 – Contributos para a variação do PIB (em p.p.) Gráfico A. 6 – Componentes da despesa (t.v. real, em %)

Fonte: INE.

O consumo privado cresceu a um ritmo mais moderado (-0,2 p.p. face a 2015), mantendo-se em linha

com a redução do serviço da dívida das famílias e com a melhoria das condições no mercado de trabalho;

o seu menor dinamismo em 2016 refletiu a desaceleração do consumo de bens duradouros (11,7% face

a 14,8% em 2015). O consumo público também cresceu a um ritmo mais lento (-0,7 p.p. face a 2015)

em resultado da redução do consumo intermédio e das prestações sociais em espécie. O investimento

registou uma queda de 4,2 p.p. por comparação com o ano anterior, em virtude da evolução da

componente de equipamento de transporte (8,4% face a 21,8% em 2015), da construção (-0,3% face a

4,9%) e de outras máquinas e equipamentos (4,3% face a 7,5%).

As exportações e as importações de bens e serviços tiveram uma variação anual negativa em relação a

2015 (-2,0 p.p. e -4,4 p.p., respetivamente). Quanto às exportações, a evolução reflete o comportamento

da componente de bens, que cresceu 4,3%, contra 6,6% em 2015, e da componente de serviços, que

registou uma desaceleração de 1,3 p.p. para 3,4%. A evolução das importações reflete o menor

dinamismo das importações de bens (4,5% que compara com 8,8% em 2015) e de serviços (1,6% após

uma variação de 6,4% em 2015).

Em 2016 a taxa de inflação, medida pela variação do Índice Harmonizado de Preços no Consumidor

(IHPC), foi de 0,6% (+0,1 p.p. face a 2015) resultante da evolução dos preços dos bens alimentares e

dos serviços (0,0% e 1,5%, respetivamente), destacando-se a variação média anual dos preços dos bens

alimentares não transformados (1,6%). Os bens industriais contribuíram negativamente para a variação

média do IHPC, devido aos preços dos bens energéticos (-1,8%).

A melhoria das condições do mercado de trabalho continuou em 2016, com a taxa de desemprego a

reduzir-se em 1,3 p.p., fixando-se em 11,1% da população ativa, mantendo a trajetória de redução

iniciada em 2013; o desemprego de longa duração sofreu uma ligeira melhoria, ascendendo a 62,1% dos

desempregados (63,5% em 2015). Para a variação do emprego em 1,2% destacaram-se os serviços

(2,7%) e a indústria transformadora (2,6%). No conjunto, esta evolução refletiu-se numa redução de

0,3% da população ativa (-0,6% em 2015), com a taxa de atividade a fixar-se nos 58,5%.

O saldo da balança corrente e de capital situou-se em 1,7% do PIB no final de 2016 (1,3% em 2015),

devido à redução do défice das balanças de bens e de rendimento primário (ambos em 0,3 p.p. do PIB)

e de um aumento do excedente da balança de serviços (em 0,2 p.p. do PIB), associado ao desempenho

do sector do turismo. O excedente da balança de capital diminuiu para 1,0 p.p. do PIB, contra 1,2 p.p.

em 2015, relacionado com a redução das transferências de fundos europeus destinados a investimento.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 44

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

16

Em 2016, o défice das AP, na ótica da contabilidade nacional, situou-se nos 2,0% do PIB, menos 2,4

p.p. do que em 2015. A dívida bruta das AP voltou a crescer, atingindo 130,1% do PIB no final do ano,

o que compara com 128,8% em 2015; a variação registada deveu-se aos ajustamentos défice-dívida (3,1

p.p. do PIB), num contexto em que o saldo primário contribuiu para a redução do rácio da dívida (em -

2,2 p.p. do PIB), justificado, principalmente, pelo aumento de depósitos detidos pelas AP1.

1.2. As previsões macroeconómicas e orçamentais em 2016

Excecionalmente, o Projeto de Plano Orçamental (PPO 2016) e a proposta do Orçamento do Estado (OE

2016) foram apresentados em 22 de janeiro e 5 de fevereiro de 2016, respetivamente, e não a 15 de

outubro de 2015, devido às eleições legislativas ocorridas em outubro de 2015.

O cenário macroeconómico implícito no PPO 2016 e no Programa de Estabilidade para o período de

2016 a 2020 (PE 2016/2020) foram objeto de parecer prévio do Conselho das Finanças Públicas (CFP).

Quer o PPO 2016, quer o PE 2016/2020 foram sujeitos à divulgação pública de informação quantitativa

e qualitativa sobre os agregados macroeconómicos e orçamentais, em conformidade com os modelos de

prestação de informação à CE definidos a partir de 20122.

O Parecer do CFP sobre as previsões macroeconómicas incluídas no PPO 2016 concluiu que as mesmas

apresentavam riscos relevantes, realçando que “a presente conjuntura internacional deveria levar a maior prudência na hipótese assumida para a evolução da procura externa [e](…) as previsões quanto ao comportamento dos preços, do investimento e do comércio externo em 2016 podem ser consideradas como pouco

prudentes”. No PE 2016/2020, o CFP manteve a opinião expressa quanto às previsões para 20163.

Neste contexto, as previsões macroeconómicas e orçamentais subjacentes ao PPO 2016 foram alteradas

no relatório que acompanhou a proposta do OE 2016 (ROE 2016). Ao nível do cenário macroeconómico,

a previsão para a variação do PIB foi revista em baixa (de 2,1% para 1,8%) em virtude da perspetiva

menos favorável para a evolução do consumo privado e das exportações. Em matéria orçamental, a

proposta do OE 2016 integrou medidas adicionais, no valor total de € 1.125 M, com vista a acolher a recomendação da CE para um maior ajustamento estrutural4.

Os documentos de programação orçamental têm vindo a apresentar, desde 2012, uma melhoria ao nível

do reporte de informação sobre as previsões, como observado pelo Tribunal de Contas no PCGE.

Destaca-se o tratamento dos seguinte temas, geralmente em anexos específicos e/ou quadros: i) riscos

do cenário macroeconómico com a inclusão de análises de sensibilidade e cenários alternativos; ii) riscos

orçamentais; iii) projeções de receita e despesa num cenário de políticas invariantes; iv) previsões

macroeconómicas e orçamentais divulgadas por outras entidades; v) maior especificação dos dados

quantitativos sobre as previsões macroeconómicas e os objetivos orçamentais; vi) principais medidas de

política orçamental incluídas na proposta do OE; e vii) medidas implementadas ou a implementar para

acolher as recomendações emitidas pelo Conselho Europeu e para a concretização das metas nacionais

relativas à Estratégia Europa 2020.

1 € 22.537 M em 2016 face a € 18.647 M em 2015 – cfr. PDE, 2.ª notificação de 2017. 2 Expressos no Código de Conduta para a aplicação do Pacto de Estabilidade e Crescimento e no Código de Conduta para

a aplicação do Pacote Duplo. 3 Na opinião sobre o PPO 2016, a CE considerou o cenário macroeconómico otimista. No mesmo sentido, o Parecer do

Conselho Europeu sobre o PE para 2016 de Portugal. 4 De acordo com a informação constante de carta de 05/02/2016 enviada pelo MF à CE.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 45

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Tribunal de Contas

17

1.2.1. O cenário macroeconómico, revisão e valores verificados

A política orçamental para 2016 teve por base o cenário macroeconómico apresentado no ROE 2016.

Nele previa-se o crescimento do produto em 1,8%, assegurado pela evolução positiva de todas as

componentes da procura interna e das exportações, num contexto de recuperação do emprego e de

descida da taxa de desemprego. O PE 2016/2020, de abril de 2016, manteve o mesmo cenário.

No ROE 2017, o MF reviu em baixa a evolução do PIB em 0,6 p.p. como resultado da perspetiva do

crescimento menos acentuado do consumo privado e da quebra no crescimento previsto do investimento.

No quadro seguinte apresentam-se as previsões oficiais, a sua comparação com as projeções efetuadas

pelo Banco de Portugal (BdP) e por organismos internacionais de referência (CE, FMI e OCDE), bem

como os valores verificados para a economia portuguesa em 2016 (INE).

Quadro A. 1 – Cenário base do OE 2016, revisão, projeções de outras entidades e valores verificados

(taxas de variação real, em %, salvo indicação em contrário)

Principais agregados

macroeconómicos

PPO

2016

ROE

2016

ROE

2017 BdP CE FMI OCDE INE

jan

16

fev

16

out

16

dez

15

mar

16

out

16

fev

16

mai

16

nov

16

fev

16

abr

16

out

16

nov

15

jun

16

nov

16

set

17

1. PIB real e componentes

PIB 2,1 1,8 1,2 1,7 1,5 1,1 1,6 1,5 0,9 1,4 1,4 1,0 1,6 1,2 1,2 1,5

Consumo privado 2,6 2,4 2,0 1,8 1,8 1,8 1,9 1,8 1,8 1,5 - - 1,6 2,2 2,0 2,1

Consumo público 0,0 0,2 0,6 0,3 1,1 1,0 0,4 0,6 0,6 0,0 - - 0,5 0,1 1,1 0,6

FBCF 4,9 4,9 -0,7 4,1 0,7 -1,8 3,0 1,6 -1,4 3,0 - - 3,0 -1,5 -2,0 1,6

Exportações 4,9 4,3 3,1 3,3 2,2 3,0 4,3 4,1 2,8 4,2 4,8 2,9 5,9 2,8 3,3 4,1

Importações 5,9 5,5 3,2 3,6 2,1 3,0 4,9 4,3 3,3 4,0 4,3 3,0 6,0 2,8 3,6 4,1

2. Mercado de trabalho

Emprego total 1,0 0,8 0,8 - - 1,0 0,8 0,9 1,0 1,0 1,0 0,9 0,9 - - 1,2

Taxa de desemprego (%) 11,2 11,3 11,2 - - 11,2 11,7 11,6 11,1 11,6 11,6 11,2 11,3 12,1 11,0 11,1

3. Preços

Taxa de inflação (IHPC) 1,4 1,2 0,8 1,1 0,5 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,3 0,7 0,6

Deflator do PIB 2,0 2,0 2,0 - - - 1,5 1,4 1,8 1,5 1,5 1,8 0,5 1,2 1,5 1,4

Fonte: MF, PPO 2016, ROE 2016, ROE 2017; BdP, Boletins Económicos de dezembro de 2015, de junho e de outubro de 2016; CE, European Economic Forecast

Winter 2016, Spring 2016 e Autumn 2016; FMI, Country Report 16/97 de março de 2016, World Economic Outlook de abril e de outubro de 2016; OCDE,

Economic Outlook n.º 98, n.º 99 e n.º 100; INE, Contas Nacionais Trimestrais, setembro de 2017.

Considerando as previsões divulgadas entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016, o BdP e os três

organismos internacionais antecipavam um crescimento económico em 2016 entre 1,4% e 1,7%, abaixo

da previsão do MF (1,8%). Esta estimativa ligeiramente superior refletia a perspetiva de uma evolução

mais favorável do consumo privado e do investimento1, bem como um maior crescimento dos preços.

Relativamente à evolução das variáveis do mercado de trabalho, o cenário do ROE 2016 apresentava-

se em linha com as expectativas da CE, do FMI e da OCDE.

As previsões do BdP e do FMI publicadas entre março e abril de 2016 mantiveram válidas estas

observações face à comparação com o cenário expresso no PE 2016/2020.

A revisão em baixa da evolução do PIB no ROE 2017, devido à evolução menos dinâmica do consumo

privado, do investimento e das exportações, foi igualmente seguida nas previsões do BdP e dos três

1 Atendendo à data da publicação dos exercícios de previsão, os cenários do BdP e da OCDE não incluíram a informação

do PPO 2016 e as previsões da CE e do FMI não consideraram as medidas adicionais integradas na proposta do OE 2016.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 46

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

18

organismos internacionais; a variação anual do PIB esperada pelo MF (1,2%) era inferior à da CE (1,5%)

e igual à da OCDE, publicadas em maio e junho de 2016, respetivamente. As previsões divulgadas em

outubro e novembro de 2016 apontavam para um crescimento do PIB entre 1,0% e 1,1%.

Ao nível dos cenários apresentados pelas várias instituições, verificou-se uma tendência comum nas

previsões para a sobrestimação da previsão do crescimento do investimento e das exportações, em parte

amortizado pela expetativa do aumento das importações.

Os valores verificados na economia portuguesa em 2016 comportaram desvios face às previsões

macroeconómicas apresentadas pelo MF, conforme gráfico seguinte.

Gráfico A. 7 – Previsões macroeconómicas e valores verificados

Fonte: MF, ROE 2016, PE 2016/2020 e ROE 2017; INE, Contas Nacionais Trimestrais, setembro de 2017.

Ao nível do crescimento do PIB, o desvio de -0,3 p.p. entre a previsão constante no ROE 2016 e o valor

verificado deveu-se, sobretudo, à sobrestimação do crescimento da procura interna, em especial do

investimento (desvio de -3,3 p.p.), atenuada pela subestimação do crescimento da procura externa, com

destaque para as importações (-1,4 p.p.).

Pelo contrário, as variáveis do mercado de trabalho encontravam-se subestimadas no cenário do ROE

2016 (o valor do emprego previsto em 0,4 p.p. abaixo do verificado e a taxa de desemprego 0,2 p.p.

acima do verificado), tal como na estimativa do ROE 2017. Ao nível dos preços, a variação verificada

da taxa de inflação foi inferior à previsão embora positiva e motivada pela variação anual positiva do

consumo privado em resultado do aumento do rendimento das famílias.

Em termos do reporte da informação sobre as previsões macroeconómicas nos diversos documentos, o

ROE 2016 identificou as rubricas orçamentais com maior sensibilidade a uma alteração da taxa de

crescimento da atividade económica e das condições do mercado de trabalho (em particular por via da

variação da receita fiscal, da receita de contribuições sociais e da despesa com subsídio de desemprego).

Porém, não quantificou o impacto de alterações das variáveis macroeconómicas na orçamentação das

rubricas da receita e da despesa com que se correlaciona1.

1 O ROE 2017 também não apresenta este efeito desagregado por categorias de receita e despesa embora apresente valores

para o efeito de alterações do cenário macroeconómico no saldo orçamental e em conjunto com o impacto de “restantes efeitos” (Quadro III.1.1).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 47

Página 48

Tribunal de Contas

19

1.2.2. O cenário orçamental, revisão e valores verificados

O ROE 20161 fixou um limite para o défice orçamental das AP, ótica da contabilidade nacional, de

€ 4.183 M em 2016 (2,2% do PIB), permitindo corrigir a situação de défice excessivo2. O cenário orçamental definido no PE 2016/2020 mantinha o rácio, como reflexo da diminuição residual da receita

(€ 206 M) e da despesa (€ 315 M). Já o ROE 2017 previa um agravamento do défice (€ 462 M) motivado pelo desvio esperado na execução da receita (-€ 554 M) face ao da despesa (-€ 91 M).

Quadro A. 2 – Previsão orçamental, revisão e valores verificados (em contabilidade nacional)

(em milhões de euros)

Administrações Públicas

Ano 2015(a) Ano 2016

Estimativa de

execução PPO 2016 ROE 2016 PE 2016/2020 ROE 2017

Verificado

(INE)

Receita total 78 877 80 136 81 606 81 400 80 846 79 706

Despesa total 86 645 84 988 85 790 85 475 85 384 83 371

Saldo global -7 768 - 4 852 -4 183 -4 076 -4 538 -3 665

Saldo global em % PIB -4,3 -2,6 -2,2 -2,2 -2,4 -2,0

Por memória:

PIB nominal - 186 722 186 327 186 303 185 267 185 179

Dívida pública (em % PIB) 128,7 126,0 127,7 124,8 129,7 130,1

(a) Estimativa para 2015 expressa no ROE 2016.

Fonte: MF, PPO 2016, ROE 2016, PE 2016/2020, ROE 2017; INE, Contas Nacionais Trimestrais por Setor Institucional, setembro de 2017.

Perante a estimativa da execução orçamental de 2015, a previsão expressa no ROE 2016 assumia um

perfil de ajustamento orçamental assente essencialmente num aumento da receita de € 2.729 M (3,5%), face a uma ligeira redução da despesa de € 855 M (1,0%), com uma melhoria do saldo orçamental em € 3.585 M (46,2%) e uma variação positiva da dívida pública de 2,9 p.p.. Em termos de rácio do PIB, este ajustamento permitiria reduzir o défice de 4,3% para 2,2% do PIB.

Para a evolução das receitas, o cenário do ROE 2016 determinava um crescimento da receita fiscal em

2,9%, assente na subida da receita de impostos indiretos (6,6%), da receita de contribuições sociais em

3,1% e de outra receita corrente em 8,6%, bem como da receita de capital em 32,8%. Do lado da despesa,

a previsão de redução assentava na evolução das despesas de capital (-38,0%)3, uma vez que para as

outras componentes se previa um aumento.

Na realidade verificou-se que a receita e a despesa total das AP em 2016 se situou abaixo da previsão

apresentada no ROE 2016 em € 1.900 M e em € 2.419 M, respetivamente, originando um desvio favorável de € 518 M no saldo orçamental em 2016 (+0,2 p.p. do PIB), que se fixou nos 2,0% do PIB.

1 Versão revista (cfr. Nota Explicativa sobre a Proposta de Orçamento de Estado de 2016). 2 A 16/06/2017 o Conselho Ecofin aprovou a decisão de encerramento do procedimento de défice excessivo. 3 A redução das despesas de capital encontrava-se influenciada pelo efeito base do registo da operação de resolução do

BANIF em dezembro de 2015 (Lei 159-E/2015, de 30/12).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 48

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

20

Gráfico A. 8 – Desvios entre os valores verificados e as previsões orçamentais

(em milhões de euros)

Fonte: MF, ROE 2016, PE 2016/2020 e ROE 2017; INE, Contas Nacionais Trimestrais por Setor Institucional, setembro de 2017.

A redução do défice entre 2015 e 2016 deveu-se, na sua maioria, à redução da despesa (78%) e apenas

22% se deveu ao aumento da receita. Esta repartição não estava prevista no ROE 2016 nem nos dois

documentos subsequentes (PE 2016/2020 e ROE 2017), que previam uma melhoria implícita do saldo

orçamental face aos valores verificados em 2015 assente, principalmente, no aumento da receita por

comparação com a redução da despesa1.

O desvio no total da receita (-€ 1.900 M) decorreu, maioritariamente, do comportamento das vendas e outras receitas correntes (divergência de € 883 M, dos quais € 635 M respeitam a outras receitas correntes) e das receitas de capital (que ficaram aquém do objetivo previsto em € 832 M). O desvio desfavorável da receita fiscal (-€ 532 M) resultou, sobretudo, da evolução dos impostos indiretos (-€ 411 M).

O desvio no total da despesa (-€ 2.419 M) foi motivado, em particular, pela redução do consumo intermédio (-€ 1.107 M) devido à contabilização inicial dos cativos permanentes nesta rubrica. Por outro lado, a despesa com juros ficou aquém do orçamentado no ROE 2016 (-€ 728 M), verificando-se a mesma situação para as outras despesas correntes (-€ 507 M) devido à utilização da dotação provisional e da reserva orçamental que inicialmente estavam imputadas nesta rubrica. As despesas de capital

registaram uma execução inferior à prevista no ROE 2016 (-€ 960 M), em especial o investimento (€ 866 M), justificada pela execução dos fundos europeus do atual quadro comunitário de apoio.

Em termos de reporte de informação, o ROE 2016 caracterizou-se por uma melhoria qualitativa ao nível

da especificação das medidas orçamentais (do valor total das medidas, 7% encontravam-se

insuficientemente especificadas2 face a 40% na proposta do OE 2015). Apesar de o ROE 2016 ter

apresentado a estimativa quantificada do efeito das medidas orçamentais para esse ano na receita e na

despesa, o RCGE 2016 não discriminou os resultados quantitativos atingidos com a implementação de

cada uma dessas medidas. Por sua vez, o RCGE 2016 apresentou, com maior detalhe, informação sobre

1 Receita vs despesa na melhoria do saldo orçamental: ROE 2016: 75% vs 25%; PE 2016/2020: 69% vs 31%; e ROE 2017:

62% vs 38%. Apenas o PPO 2016 previa um contributo da despesa (55%) superior ao da receita (45%). 2 “Poupanças sectoriais e simplificação administrativa de processos” (€ 183 M) e “Redução de gastos – programa

aproximar e outros” (€ 70 M) – cfr. Quadro II.3.6 do ROE 2016.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 49

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Tribunal de Contas

21

os desvios nas previsões orçamentais, mas não incluiu na análise, de forma quantificada, o impacto do

cenário macroeconómico e das medidas orçamentais previstas no ROE 2016 na execução orçamental.

Da análise realizada extraem-se as seguintes observações:

 O cenário macroeconómico base do OE 2016 apresentou-se mais favorável face ao cenário do BdP e dos organismos internacionais de referência (CE, FMI e OCDE), em particular quanto à

evolução da procura interna e dos preços. No cenário do MF destaca-se o desvio face ao valor

verificado do investimento que se encontrou sobrestimado em 3,3 p.p. no ROE 2016.

 As previsões orçamentais constantes do ROE 2016 incluíram um aumento da receita fiscal, em € 1.332 M, e da receita de contribuições sociais, em € 635 M, assim como a redução da despesa com subsídio de desemprego e outros apoios, em € 152 M. A trajetória destes agregados orçamentais revelava-se consistente com perspetiva de crescimento da atividade económica e de

melhoria das condições do mercado de trabalho. O PE 2016/2020 e o ROE 2017 reviram em

baixa a receita fiscal em € 97 M e € 544 M, respetivamente, em linha com a expetativa de desaceleração da atividade económica. A execução da receita ficou aquém dos objetivos

previstos no ROE 2016, no PE 2016/2020 e no ROE 2017 (desvio de -2,3%, -2,1% e -1,4%) e a

despesa teve um desempenho mais favorável (-2,8%, -2,5% e -2,4%), destacando-se os desvios

na receita corrente não fiscal e nas despesas com consumo intermédio.

 Subsistem ainda insuficiências na informação divulgada no âmbito da orçamentação – o ROE 2016 não apresentou a estimativa quantificada do impacto do cenário macroeconómico

(crescimento do PIB, aumento do emprego e queda do desemprego) na orçamentação das

rubricas da receita e da despesa das AP com que se correlaciona – e da execução orçamental – RCGE 2016 não quantificou os impactos atingidos com a implementação das medidas

orçamentais previstas no ROE 2016 e na análise dos desvios nas previsões orçamentais não

integrou o efeito, de forma quantificada, de cada uma daquelas medidas orçamentais e dos

valores verificados na economia portuguesa.

Em sede de contraditório, o Ministro das Finanças alegou que “os documentos de programação orçamental (…) explicitam os pressupostos macro orçamentais subjacentes às previsões das receitas e das despesas

públicas”. Porém, consideramos que um cenário macroeconómico robusto deve vir acompanhado de

dados sobre a sensibilidade das rubricas da receita e da despesa a alterações desses mesmos

pressupostos, o que ainda não é apresentado nos documentos citados.

Ao nível da CGE o Ministro das Finanças referiu que a “informação sobre a execução das medidas encontra-

se quantificada na CGE 2016 ainda que de forma não sistematizada”, dando como exemplos os resultados

alcançados com as medidas temporárias e operações extraordinárias (Quadros 7 e 32 do RCGE), bem

como os dados referentes à receita fiscal. No entanto, esta informação não só não está sistematizada

como continua incompleta pois cobre apenas algumas dessas medidas.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

22

ANEXO

Quadro A. 3 – Portugal – principais indicadores económicos

Unidades 2013 2014 2015 2016

Contas Nacionais – Produto e Despesa (1)

Produto Interno Bruto Milhões de euros 170 269 173 079 179 809 185 179

Produto Interno Bruto t.v. real, % -1,1 0,9 1,8 1,5

Procura Interna t.v. real, % -1,9 2,2 2,7 1,6

Consumo Privado t.v. real, % -1,2 2,3 2,3 2,1

Consumo Público t.v. real, % -2,0 -0,5 1,3 0,6

Formação Bruta de Capital Fixo t.v. real, % -5,1 2,3 5,8 1,6

Exportações de bens e serviços t.v. real, % 7,0 4,3 6,1 4,1

Importações de bens e serviços t.v. real, % 4,7 7,8 8,5 4,1

Rendimento e Poupança (1)

Rendimento Disponível dos Particulares t.v. nominal, % -0,2 -0,2 3,4 3,6

Taxa de Poupança Interna % PIB 15,4 15,0 14,9 15,6

Sociedades % PIB 12,7 13,4 12,2 12,1

Particulares % PIB 5,5 3,6 3,6 4,0

Administrações Públicas % PIB -2,8 -2,0 -0,9 -0,5

Preços, Salários e Custos Unitários do Trabalho

Inflação (IHPC) (2) t.v. média, % 0,4 -0,2 0,5 0,6

Deflator do PIB (1) t.v., % 2,3 0,8 2,0 1,4

Remunerações Nominais por Trabalhador (3) t.v. média, % 3,6 -1,8 0,4 2,1

Custos Unitários do Trabalho (3) t.v. anual, % 1,8 -1,3 0 2,2

Mercado de Trabalho (4)

População Ativa Milhares 5 285 5 226 5 195 5 178

Emprego Total (tempo completo e parcial) Milhares 4 429 4 500 4 549 4 605

Taxa de Atividade % Pop. Total 59,3 58,8 58,6 58,5

Taxa de Desemprego % Pop. Ativa 16,2 13,9 12,4 11,1

Finanças Públicas (5)

Saldo Global das Administrações Públicas % PIB -4,8 -7,2 -4,4 -2,0

Saldo Primário das Administrações Públicas % PIB 0,0 -2,3 0,2 2,2

Dívida Bruta das Administrações Públicas (consolidada) % PIB 129,0 130,6 128,8 130,1

Balança de Pagamentos (3)

Balança Corrente + Balança de Capital % PIB 3,2 1,6 1,3 1,7

Balança Corrente % PIB 1,6 0,1 0,1 0,7

Balança de Bens % PIB -4,7 -5,5 -5,2 -5,0

Balança de Serviços % PIB 6,6 6,6 7,0 7,2

Balança de Capital % PIB 1,6 1,4 1,2 1,0

Taxas de Juro

Taxa de Juro Euribor a 3 meses (6) Em % (dezembro) 0,3 0,1 -0,1 -0,3

Taxa de Rendibilidade das OT e taxa fixa a 10 anos (3) Em % (dezembro) 6,0 2,8 2,5 3,7

Taxas de Juro Bancárias (3)

Crédito a Sociedades não Financeiras t.acordada anualizada, % 5,1 4,1 3,0 2,8

Crédito a Particulares, Habitação t.acordada anualizada, % 3,3 3,0 2,2 1,8

Agregados de Crédito Bancário (3)

Crédito ao Sector Não Monetário, exceto A.P. t.v. anual, % -3,7 -3,7 -1,7 -0,9

Crédito a Sociedades Não Financeiras t.v. anual, % -5,0 -2,6 -1,3 -0,7

Crédito a Particulares t.v. anual, % -4,0 -5,0 -2,3 -1,5

Índice de Cotação de Ações (PSI-20) (7) t.v. hom. (dez.) 16,0 -26,8 10,7 -11,9

t.v. = taxa de variação; t.v. hom. = taxa de variação homóloga.

(1) INE - Contas Nacionais (base 2011), setembro de 2017.

(2) INE - Preços.

(3) BdP - Boletim Estatístico, novembro de 2017.

(4) INE - Mercado de trabalho.

(5) INE - Reporte dos défices excessivos, setembro de 2017.

(6) Instituto Europeu dos Mercados Monetários. (7) CMVM - Indicadores mensais do mercado de capitais português.

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Tribunal de Contas

PARTE B

A CONTA GERAL DO ESTADO

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Tribunal de Contas

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2. ORÇAMENTO DO ESTADO – ALTERAÇÕES

As alterações orçamentais na receita e na despesa da administração central (SI e SFA), excluindo

transferências (correntes e de capital) e rendimentos de propriedade/juros entre esses serviços, constam do

quadro seguinte segundo a classificação económica e a sua natureza.

Quadro B. 1 – Administração central – alterações de natureza económica

(em milhões de euros)

Classificação económica

Orçamento

inicial

Alterações Total das

alterações

Orçamento

final Dotação provisional

Créditos

especiais Outras

(SI+SFA) (SI) (SI) (SI+SFA) (valor) (%) (SI+SFA)

Receitas correntes 60 271 - 202 1 144 1 346 2,2 61 617

Receita fiscal 41 521 - 2 233 235 0,6 41 757

Impostos diretos 17 913 - - 23 23 0,1 17 936

Impostos indiretos 23 608 - 2 210 212 0,9 23 821

Contribuições p/ Segurança Social, CGA e ADSE 4 641 - - 90 90 1,9 4 731

Transferências correntes 2 518 - 15 320 335 13,3 2 853

Outras receitas correntes 11 591 - 185 501 686 5,9 12 277

Receitas de capital 1 494 - 259 150 409 27,4 1 902

Venda de bens de investimento 334 - - 22 22 6,6 355

Transferências de capital 917 - 1 138 139 15,1 1 056

Outras receitas de capital 243 - 0 -10 -10 -4,0 233

Saldo da gerência anterior (SI) - - 258 - 258 - 258

Receita efetiva 61 765 - 461 1 294 1 755 2,8 63 520

Ativos financeiros 4 692 - - 196 196 5,4 4 888

Passivos financeiros 92 242 - - 56 56 0,1 92 298

Saldo da gerência anterior (SFA) 87 - - 7 077 7 077 8 158,0 7 164

Receita total 158 786 - 461 8 624 9 084 5,8 167 870

Despesas correntes 64 962 -239 401 1 959 2 121 3,3 67 083

Despesas com pessoal 15 690 262 178 281 721 4,6 16 411

Remunerações certas e permanentes 11 585 208 93 -81 221 1,9 11 806

Abonos variáveis ou eventuais 881 - 19 48 67 7,6 948

Segurança social 3 224 54 66 314 434 13,5 3 658

Aquisição de bens e serviços correntes 13 091 - 116 1 593 1 709 13,1 14 800

Juros e outros encargos 8 120 - 0 74 74 0,9 8 194

Transferências correntes 25 382 - 41 362 403 1,6 25 784

Subsídios 735 - - -16 -16 -2,2 719

Outras despesas correntes (inclui a dotação provisional) 1 944 -502 67 -335 -770 -39,6 1 174

Despesas de capital 4 440 - 109 163 272 6,1 4 712

Aquisição de bens de capital 3 167 - 102 209 311 9,8 3 478

Transferências de capital 1 149 - 3 -24 -22 -1,9 1 127

Outras despesas de capital 124 - 4 -22 -18 -14,2 107

Despesa efetiva 69 402 -239 510 2 122 2 393 3,4 71 795

Ativos financeiros 8 928 - - 494 494 5,5 9 422

Passivos financeiros 80 106 - - 354 354 0,4 80 459

Despesa total 158 435 -239 510 2 970 3 241 2,0 161 676

Saldo efetivo -7 637 239 -50 -828 -638 8,4 -8 275

Nota: Por se excluir as transferências de/para serviços da administração central, no quadro: i) a receita de créditos especiais (€ 461 M) é inferior à despesa (€ 510 M),

quando totalizou € 583 M (dos quais € 122 M de transferências de serviços da administração central); ii) na dotação provisional, os reforços são inferiores às

anulações, em € 239 M, valor que reforçou dotações de transferências para serviços da administração central.

Fontes: SIGO e SGR – Sistemas de informação orçamental, Mapa I da Lei 7-A/2016, de 30/03 e Quadro 48 – Alterações orçamentais da administração central.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 53

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Os orçamentos iniciais1 da receita efetiva (€ 61.765 M) e da despesa efetiva (€ 69.402 M) foram aumentados, respetivamente, em € 1.755 M (2,8%) e € 2.393 M (3,4%), agravando o défice em € 638 M (8,4%), em resultado da abertura de créditos especiais autorizados pelo Governo e das alterações dos

orçamentos privativos dos SFA.

Na abertura de créditos especiais dos serviços integrados destaca-se o reforço das dotações para despesas

com pessoal [€ 178 M, dos Ministérios das Finanças (€ 77 M), da Justiça (€ 54 M) e da Administração Interna (€ 40 M)], aquisição de bens e serviços correntes (€ 116 M, dos quais € 52 M da Autoridade Tributária e Aduaneira) e aquisição de bens de capital (€ 102 M, dos quais € 81 M do Ministério da Defesa Nacional). Essas alterações tiveram contrapartida em receita sobretudo de saldos da gerência anterior

(€ 258 M) e outras receitas correntes (€ 185 M)

A “dotação provisional”, com a classificação económica outras despesas correntes, destinada a despesas imprevisíveis e inadiáveis, foi totalmente utilizada (€ 502 M) no reforço de dotações suborçamentadas, destinando-se 52,3% ao reforço das despesas com pessoal (€ 262 M, essencialmente nos estabelecimentos de ensino não superior) e transferido o restante para serviços autónomos2, o que evidencia, mais uma vez,

a sua utilização indevida e a inobservância do princípio da especificação.

Incumprido este princípio, a “reserva orçamental” com a classificação económica outras despesas correntes, em cada ministério, inicialmente de € 152 M, foi também largamente utilizada (€ 65 M) no reforço de outras classes de despesa, designadamente, as despesas com pessoal que, no total da

administração central, aumentaram € 721 M.

De salientar que, para suportar a reversão da redução remuneratória o OE incluiu no Ministério das

Finanças uma “dotação centralizada” (€ 447 M), a repartir pelos diferentes ministérios de acordo com as respetivas necessidades de execução (utilizados € 338 M). Embora adequadamente classificada em despesas com pessoal, contrariou o princípio da especificação por orgânica, uma vez que as

correspondentes dotações dos ministérios foram suborçamentadas.

De notar o elevado montante do saldo da gerência anterior dos SFA, € 7.077 M, que não figuram nos orçamentos iniciais e são integrados durante a execução orçamental, designadamente no IAPMEI

(€ 497 M), Infraestruturas de Portugal (€ 414 M), ACSS (€ 333 M) e no Instituto do Turismo de Portugal (€ 325 M).

1 Orçamento de Estado para 2016, aprovado pela Lei 7-A/2016, de 30/3, que entrou em vigor a 1 de abril. 2 Totalizando € 239 M, com destaque para a ACSS (€ 120 M, para regularização de pagamentos em atraso de entidades do

SNS) e o IFAP (€ 101 M, para regularização de responsabilidades decorrentes de correções financeiras aplicadas pela Comissão Europeia no âmbito das ajudas FEAGA e FEADER).

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Tribunal de Contas

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3. A EXECUÇÃO ORÇAMENTAL (CGE)

3.1 Síntese da CGE

Neste ponto resume-se a execução orçamental evidenciada na CGE de 2016 discriminada no mapa

XXIII – conta consolidada da administração central e da segurança social (art. 75.º, n.º 2 da LEO). Para efeito deste ponto releva também o relatório da CGE.

O Tribunal examina e aprecia a execução orçamental nos pontos referentes à receita (3.2), à despesa

(3.3) e à consolidação (3.4).

Quadro B. 2 – Execução orçamental da administração central

(em milhões de euros)

Receitas 2015

CGE

2016

Despesas 2015

CGE

2016

Orçamento

final CGE

Orçamento

final CGE

Receitas correntes 53 951 61 617 55 077 Despesas correntes 57 592 67 083 59 090

Impostos diretos 18 265 17 936 17 772 Despesas com pessoal 15 218 16 411 15 837

IRS 12 709 12 406 12 231 Aquisição de bens e serviços 8 533 14 800 8 541

IRC 5 254 5 202 5 239 Juros e outros encargos 7 769 8 194 7 974

Outros 302 328 303 Transferências correntes 24 639 25 784 25 299

Impostos indiretos 21 858 23 821 23 324 Administração local 2 603 2 692 2 675

IVA 14 859 15 326 15 098 Segurança social 9 028 8 978 8 971

ISP 913 3 612 3 447 Famílias 10 183 10 536 10 353

Imposto do selo 1 338 1 376 1 394 Resto do Mundo 1 964 2 189 2 027

Imposto consumo tabaco 1 213 1 514 1 515 Outras 861 1 389 1 273

Outros 3 535 1 992 1 869 Subsídios 739 719 641

Contrib. seg social, CGA, ADSE 4 601 4 731 4 696 Outras despesas correntes 609 1 174 768

Transferências correntes 2 396 2 853 2 496 Diferenças de conciliação 84 - 31

Outras receitas correntes 6 702 12 277 6 717 Despesas de capital 4 027 4 712 3 645

Diferenças de conciliação 129 - 72 Investimento 2 764 3 478 2 515

Receitas de capital 1 331 1 902 1 279 Transferências de capital 1 182 1 127 1 007

Venda de bens de investimento 195 355 200 Adm. regional e local 681 358 354

Transferências de capital 1 031 1 056 946 Outras transf. de capital 500 769 653

Outras receitas de capital 86 491 132 Outras despesas capital 81 107 94

Diferenças de conciliação 19 - - Diferenças de conciliação - - 29

Receita efetiva 55 282 63 520 56 356 Despesa efetiva 61 619 71 795 62 735

Ativos financeiros 6 453 4 888 3 807 Ativos financeiros 12 768 9 422 5 844

Passivos financeiros 80 101 92 298 66 578 Passivos financeiros 66 420 80 459 57 602

Total 141 836 160 706 126 740 Total 140 807 161 676 126 181

Nota: No orçamento são consolidadas as transferências correntes e de capital e os rendimentos de propriedade/juros entre entidades da administração central. Na

execução são consolidadas, também, a venda/aquisição de serviços de saúde entre entidades do Programa Saúde.

Fonte: CGE de cada ano (Mapa XXIII) e Quadro 48 – Alterações orçamentais da administração central.

No relatório da CGE a execução da administração central (AC) mereceu várias considerações analíticas,

das quais se destacam:

A receita efetiva aumentou 1,9% face à execução orçamental de 2015, correspondendo a um acréscimo de

1.073,7 M€, essencialmente pela variação de 6,7% nos Impostos indiretos e a nível inferior, nas Transferências correntes (4,2%) e nas Contribuições para a segurança social, CGA e ADSE (2,1%). Em sentido inverso, destaque

para as diminuições de 8,3% nas Transferências de capital e de 2,7% nos Impostos diretos.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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 A redução nos Impostos diretos (-2,7%, -492,8 M€) foi influenciada pela cobrança do IRS (-478,2 M€), decorrente das alterações na lei da reforma do IRS, com impacto no aumento dos reembolsos, e das

alterações na retenção da sobretaxa.

 Na subida nos Impostos indiretos (6,7%, 1.465,7 M€) relevaram principalmente as variações no ISP (633,7 M€), no IT (302,3M€) e no IVA (239,3M€) que representaram em conjunto 80,1% do acréscimo em causa. O crescimento no ISP foi justificado essencialmente pelo aumento das taxas e do consumo de

combustíveis, bem como dos valores cobrados em janeiro decorrentes da possibilidade concedida de

pagamento até ao dia 4 de janeiro de obrigações cuja data limite coincidisse com o dia 31 de dezembro

de 2015 (tolerância de ponto), sem quaisquer acréscimos ou penalidades. Esta também a principal

justificação para a melhoria na execução do IT. Quanto ao IVA, aponta-se a melhoria da atividade

económica, que só não teve um impacto mais positivo devido à redução das taxas aplicáveis à restauração.

 Nas Contribuições para a segurança social, a CGA e a ADSE (2,1%, 94,8 M€), foi determinante o aumento na receita da CGA (73,5 M€) devido ao acréscimo das quotas dos subscritores e da contribuição das entidades decorrente da extinção da redução remuneratória na administração pública, de forma

progressiva durante o ano.

 Nas Transferências correntes o aumento (4,2%, 100,4 M€) foi suportado pelas transferências de entidades externas às administrações públicas. Com efeito, a mudança de critério na contabilização das

transferências da UE, de pedidos de pagamento a reembolso das ajudas FEADER-PDR 2020 [a

contabilização em 2016 foi realizada em rubricas orçamentais, contrariamente ao verificado em 2015,

maioritariamente em rubricas extraorçamentais], resultou no aumento de 290 M€ na execução orçamental do IFAP. Em sentido contrário, realce-se o nível da cobrança da EDIA, que se consubstanciou

numa redução de 121 M€, em resultado do encerramento da vigência do QREN e do facto de o programa Portugal 2020 ter ainda evidenciado reduzida execução nesta entidade.

 Nas Transferências de capital (-8,3%, -85,5 M€) é de relevar o decréscimo nas transferências da UE para a Infraestruturas de Portugal (-163,6 M€), decorrente do encerramento do QREN, e da reduzida expressão do Portugal 2020 na execução orçamental de 2016.

A despesa efetiva cresceu 1,8% (1.116,3 M€), face a 2015, determinada pelos seguintes aumentos:

 Despesas com pessoal (4,1%, 618,8 M€), principalmente devido à medida de reversão progressiva da redução remuneratória; influenciada ainda pelo pagamento, em 2016, de encargos com contribuições

para os sistemas de proteção social com vencimentos em dezembro/2015 relativas no programa Ensino

Básico e Secundário e Administração Escolar.

 Transferências correntes e de capital (1,9%, 485,2 M€), destacando-se: a concessão de apoios à agricultura e pesca pelo IFAP no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural 2020 [em 2015,

€ 500 M€ foram registados em rubricas extraorçamentais]; a entrega das contribuições para o Fundo Único de Resolução Bancária ao abrigo do Mecanismo Único de Resolução Bancária; o pagamento das

contragarantias executadas pelas sociedades de garantia mútua, da responsabilidade do Fundo de

Contragarantia Mútuo; o acréscimo da contribuição para o orçamento da UE no seguimento de novas

regras no Sistema de Recursos Próprios da União; e o maior valor transferido pelas escolas para os

municípios no âmbito da descentralização de competências. Em sentido contrário, destaca-se o

decréscimo das transferências no âmbito da Lei de Bases da Segurança Social na componente associada

à transferência extraordinária para compensação do défice da Segurança Social.

 Juros e outros encargos (2,6%, 205,1 M€), em resultado do aumento do stock de OT e de certificados de aforro e do tesouro, parcialmente compensado pela redução dos encargos decorrente das amortizações

dos empréstimos contraídos junto do FMI.

 Outras despesas correntes e de capital (24,9%, 171,8 M€), decorrente da evolução com a ação social escolar nas escolas do ensino básico e secundário e da regularização de responsabilidades das correções

22 DE DEZEMBRO DE 2017 56

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Tribunal de Contas

29

financeiras pela Comissão no âmbito das ajudas FEAGA e FEADER relativas ao Programa de

Desenvolvimento Rural 2007-2013.

Em sentido inverso, decresceram os seguintes agregados de despesa:

 Investimento (-9,0%, -249 M€) – influenciado por um conjunto de efeitos de base observados em 2015, nomeadamente: a concentração do investimento pela EDIA - Empresa de Desenvolvimento e

Infraestruturas do Alqueva, SA, no período de financiamento correspondente ao Quadro de Referência

Estratégico Nacional (QREN) 2007-2013; a construção do Túnel do Marão, a cargo da Infraestruturas

de Portugal, SA, também nesse ano; e a intensificação da execução de empreitadas de escolas que

beneficiaram de cofinanciamento, sobretudo no segundo semestre de 2015, a cargo da Parque Escolar,

EPE. Os encargos com concessões e subconcessões rodoviárias, a cargo da Infraestruturas de Portugal,

SA, contrariam esta tendência;

 Subsídios (-13,3%, -98 M€) – pela evolução dos apoios às políticas ativas de emprego, da responsabilidade do Instituto do Emprego e Formação Profissional, IP, influenciada pelo decréscimo da

taxa de desemprego.

A despesa não efetiva (ativos e passivos financeiros) diminuiu 19,9% (15.738,8 M€), influenciada pelas seguintes variações:

 Passivos financeiros (-13,3%, -8.814,4 M€), resultado do menor volume de amortizações de CEDIC subscritos pelos serviços autónomos, da menor amortização do empréstimo concedido pelo FMI ao abrigo

do PAEF e da redução da amortização de OT. Estes decréscimos foram parcialmente atenuados com o

crescimento dos encargos com colaterais de operações de financiamento.

 Ativos financeiros (-54,2%, -6.924,4 M€), explicado por diversos efeitos de base em 2015, nomeadamente, a aplicação de medidas de resolução ao Banif, a redução de aplicações em títulos de dívida pública de

países da zona euro pelo Fundo de Garantia de Depósitos, as dotações de capital destinadas à

Infraestruturas de Portugal e à CP, e o empréstimo concedido à Região Autónoma da Madeira no âmbito

do PAEF-RAM.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 57

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

30

3.2. Receita da Administração Central

No Relatório e Parecer sobre a CGE o Tribunal aprecia a atividade financeira do Estado no domínio das

receitas examinando, designadamente, o cumprimento da LEO e demais legislação relativa à atividade

financeira e comparando as receitas orçamentadas com as efetivamente realizadas1. É dada especial

importância ao controlo das receitas quanto à sua legalidade (com ênfase na aplicação dos princípios

orçamentais), correção financeira e adequada contabilização. No âmbito deste Parecer, as ações

efetuadas para realizar tal controlo centraram-se na:

 Receita consolidada da administração central – vide 3.2.1.

 Receita fiscal complementada com observações específicas sobre despesa fiscal (receita cessante por benefícios fiscais) e dívida fiscal (em cobrança coerciva ou resultante da ação inspetiva e,

em particular, do combate à fraude e à evasão) incluindo a abrangida pelo programa especial de

redução do endividamento ao Estado – vide 3.2.2. a 3.2.5.

 Receita não fiscal – vide 3.2.6.

 Receita por cobrar – vide 3.2.7.

A apreciação do Tribunal decorre da evidência recolhida no âmbito dos trabalhos realizados para o

presente Parecer que envolveram revisões analíticas, formulação de questionários e apreciação das

respostas dos serviços responsáveis, revisão de ficheiros informáticos de dados e sua reconciliação com

mapas de suporte e, em certos casos com materialidade financeira, o exame de operações contabilísticas.

3.2.1. Receita Consolidada

3.2.1.1. Objeto do Exame

A receita da administração central2 inclui a do subsector Estado e a dos serviços e fundos autónomos

(SFA)3. Na CGE de 2016, a receita do subsector Estado totaliza € 112.381 M4, entre receitas orçamentais (€ 109.245 M) e extraorçamentais (€ 3.136 M), e a dos SFA perfaz € 48.835 M de receitas orçamentais5.

A receita do subsector Estado foi registada no SGR por 113 entidades. A dos SFA foi reportada no SIGO

por 356 SFA, incluindo 155 entidades públicas reclassificadas (EPR).

1 Art. 41.º da LOPTC. 2 A informação reportada na CGE sobre a receita da administração central tem por base: para a receita do subsector Estado,

o Sistema Central de Receitas (SCR) que agrega a informação registada no Sistema de Gestão de Receitas (SGR) de

âmbito local e, para a receita dos SFA, o Sistema de Informação e Gestão Orçamental (SIGO). 3 Nos termos do n.º 5 do art. 2.º da LEO, incluem-se nos SFA, desde 2012, as entidades públicas reclassificadas. 4 Volume I – Tomo III – Mapa I – Receita dos Serviços Integrados, por classificação económica. 5 Volume I – Tomo III – Mapa VI – Receita dos SFA, por classificação económica. Os mapas contabilísticos gerais não

incluem receitas extraorçamentais dos SFA, nem sequer as inscritas no Mapa 31 do Volume II – Tomo X e XI

(€ 6.792 M).

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Tribunal de Contas

31

No primeiro trimestre de 2016 vigoraram o OE 20151 e o correspondente DLEO uma vez que o OE

2016 só entrou em vigor em 31 de março2.

O Quadro B. 3 evidencia os principais agregados da receita consolidada da administração central e

compara a execução de 2015 com a prevista no OE 2016. Além da receita efetiva, contém ainda as

receitas objeto de consolidação, o saldo da gerência anterior dos SFA (com EPR) e as receitas de ativos

financeiros, de passivos financeiros e de operações extraorçamentais, relevantes para o controlo da

receita total.

A receita consolidada da administração central (€ 56.596 M) aumenta € 1.069 M (1,9%) devido, sobretudo, ao acréscimo da receita fiscal em € 973 M (2,4%) e das outras receitas em € 105 M (30,2%). A receita fiscal representa 72,6% da receita efetiva, mais 0,4 p.p. em relação a 2015.

Quadro B. 3 – Receita da Administração Central – Principais Agregados

(em milhões de euros)

Receita

2015 2016

Execução OE final (b) Execução Variação Taxa

execução Valor %

Receitas Correntes 53 847 56 532 54 863 1 016 1,9 97,0

Receitas Fiscais 40 123 41 757 41 096 973 2,4 98,4

Impostos Diretos 18 265 17 936 17 772 -493 -2,7 99,1

Impostos Indiretos 21 858 23 821 23 324 1 466 6,7 97,9

Receitas Correntes Não Fiscais 13 724 14 775 13 767 43 0,3 93,2

Receitas de Capital 1 331 1 646 1 279 -53 -4,0 77,7

Outras Receitas 349 715 454 105 30,2 63,5

Receita Efetiva (a) 55 528 58 893 56 596 1 069 1,9 96,1

Transf. correntes da adm.central 15 776 18 165 17 748 1 972 12,5 97,7

Transf. de capital da adm.central 462 975 849 387 83,9 87,0

Juros pagos por SFA à adm.central 196 199 157 -40 -20,3 78,7

VSSOTE de entidades do SNS 4 383 4 699 4 699 316 7,2 100,0

Transferências de capital do FRDP 0 600 542 542 - 90,3

Saldo da Gerência Anterior dos SFA 5 799 7 164 7 106 1 307 22,5 99,2

Ativos Financeiros 6 453 4 888 3 807 -2 646 -41,0 77,9

Passivos Financeiros 80 101 92 298 66 578 -13 524 -16,9 72,1

Receita Orçamental 168 697 187 881 158 080 -10 617 -6,3 84,1

Operações Extraorçamentais 11 861 8 202 9 928 -1 933 -16,3 121,0

Receita Total 180 558 196 082 168 008 -12 550 -7,0 85,7

(a) Excluíram-se da receita efetiva as transferências correntes e de capital entre entidades da administração central (evitando

duplicações), os € 4.699 M obtidos por vendas de serviços de saúde e outros trabalhos especializados (VSSOTE) de entidades

do Serviço Nacional de Saúde (SNS) à Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) (operações assimiláveis a

transferências intrassectoriais dos SFA) e os juros pagos por SFA a entidades da administração central. Em 2010, o Estado

transferiu para o Fundo de Regularização da Dívida Pública (FRDP) € 1.500 M (para que o FRDP adquirisse Bilhetes do

Tesouro, utilizados como colateral em operações de financiamento) e que foram, no exame da execução desse ano, excluídos

da receita efetiva (vide Quadro 10 do PCGE 2010). Em 2016, o FRDP devolveu parte desse montante (€ 542 M) que igualmente

se exclui da receita efetiva.

(b) O orçamento final corresponde ao OE inicial (Mapa I do OE 2016) com as alterações orçamentais da competência do Governo

efetuadas através de créditos especiais. Não houve alterações orçamentais da competência da Assembleia da República.

Nas alterações orçamentais autorizadas pelo Governo com impacto na receita (€ 461 M) destaca-se a abertura de créditos

especiais com contrapartida em receita de saldos da gerência anterior (€ 258 M) e de outras receitas correntes (€ 185 M).

Fonte: SGR e SIGO de 2015 e 2016.

1 Nos termos do art. 12.º-H da LEO. 2 Lei 7-A/2016, de 30/03.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 59

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

32

3.2.1.2. Resultado do Exame

Em matéria de correção financeira, o Tribunal tem formulado reservas sobre a fiabilidade dos valores

inscritos na CGE. Tal como em anos anteriores, o exame da contabilização das receitas da administração

central inscritas na CGE 2016 pôs em evidência casos relevantes de desrespeito de princípios

orçamentais, incumprimento de disposições legais que regulam a execução e contabilização das receitas

e deficiências dos sistemas de contabilização e controlo.

Os principais casos de incumprimento de princípios orçamentais (abordados nos pontos seguintes)

constam do Quadro B. 4.

Quadro B. 4 – Principais casos de deficiente contabilização por incumprimento de princípios orçamentais

(em milhões de euros)

Princípios Âmbito Situações Valor

Anualidade,

Unidade e Universalidade,

Não compensação,

Não consignação e

Especificação

Receita Orçamental

Contribuição de Serviço Rodoviário afeta à Infraestruturas de Portugal 163

Receita Fiscal afeta à Segurança Social 219

Contribuição para o Audiovisual afeta à RTP 176

Receita Fiscal afeta à Administração Central do Sistema de Saúde 108

Receita Fiscal afeta ao Instituto de Turismo de Portugal 112

Receita Fiscal afeta ao Instituto Nacional de Emergência Médica 99

Receita afeta ao Fundo de Estabilização Tributário 40

Receita Fiscal afeta a outros serviços da administração central 355

Subtotal - Receita Orçamental 1 272

Receita Extraorçamental 1

Receita de serviços da administração central não registada na CGE 3 463

Subtotal - Receita Extraorçamental 3 463

Total 4 735

Fonte: SGR, SIGO, CT e CGE 2016.

Na CGE 2016 subsistem deficiências que já foram objeto de recomendações reiteradas pelo Tribunal:

 Incumprimento do regime de contabilização das receitas do Estado (em vigor desde 2001) e consequente desresponsabilização das entidades administradoras.

 Omissão de receitas do Estado no respetivo sistema de contabilização orçamental (SGR) e sua indevida contabilização como receitas próprias de outras entidades públicas.

 Deficiente identificação das entidades intervenientes na contabilização das receitas do Estado e das entidades que constituem o universo dos SFA.

 Omissão de parte substancial dos fluxos financeiros recebidos por entidades da administração central nos sistemas que suportam os mapas contabilísticos gerais da Conta.

1 A receita extraorçamental relevada no quadro corresponde ao valor dos saldos das contas das entidades da administração

central que excedem os correspondentes saldos relevados nos mapas contabilísticos gerais da CGE.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 60

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Tribunal de Contas

33

Incumprimento do regime de contabilização das receitas do Estado

O regime de contabilização das receitas do Estado (RCRE)1 estabelece “níveis de atuação e responsabilidade dos serviços e organismos integrados da administração central que asseguram ou coordenam a

liquidação e contabilização das receitas do Estado”. Destacam-se as principais normas desse regime:

 A contabilização das receitas do Estado é da responsabilidade das entidades administradoras dessas receitas (EAR), serviços integrados que asseguram ou coordenam a liquidação de uma ou

mais receitas e zelam pela sua cobrança2.

 Compete às EAR prestar a informação relativa a todos os movimentos contabilísticos, por dia, por natureza da receita e unidade contabilística, de acordo com os circuitos e os suportes de

informação indicados pela DGO3. Nas EAR existe um responsável pela contabilização dos factos

registados, pela respetiva qualidade, fiabilidade e segurança, assim como pelo envio dessa

informação para as respetivas entidades competentes4.

 Quando nas EAR existirem sistemas próprios de administração das receitas, estes deverão assegurar a interligação com o sistema fornecido pela DGO5.

 A intervenção dos serviços cobradores com funções de caixa do Tesouro (como o IGCP) na contabilização das receitas cessa com a transição das respetivas EAR para o RCRE6.

 Essa transição é efetivada através de despacho conjunto dos Ministros da tutela e das Finanças, sob proposta da DGO, à medida que essas entidades reúnam as condições adequadas para

administrarem as respetivas receitas7.

Ora, subsiste o incumprimento de normas fundamentais do RCRE pois:

 Ainda não foi emitido qualquer despacho de transição para o RCRE apesar de as receitas do Estado de 2016 terem sido contabilizadas no SGR por 113 entidades. A DGO não faz depender

a disponibilização do SGR da prévia emissão, para cada entidade, do respetivo despacho de

transição nem da nomeação formal do responsável pela contabilização.

O Tribunal recomendou ao Governo8 que procedesse, para cada exercício orçamental, à

identificação formal de todas as entidades administradoras de receitas, especificando as receitas

administradas sob a sua responsabilidade direta. Essa informação, para o exercício de 2016 só

foi divulgada pela DGO em abril, faltam-lhe 15 entidades que registaram receita no SGR e

subsistem receitas que, só devendo ter uma EAR, foram contabilizadas por mais do que uma

entidade. Ora, para essa identificação ser útil terá de ser conhecida no início de cada exercício

orçamental, incluir todas as entidades intervenientes na contabilização e ter sido validada cada

intervenção como efetivamente correspondente à função de EAR.

1 Decreto-Lei 301/99, de 05/08, e Portaria 1122/2000, de 28/07. 2 Art. 1.º, n.º 2, e art. 2.º, n.º 1, do Decreto-Lei 301/99. 3 Art. 2.º, n.º 2, do Decreto-Lei 301/99. 4 Art. 3.º, n.º 1, das Normas aprovadas pela Portaria 1122/2000. 5 Art. 3.º, n.º 3, das Normas aprovadas pela Portaria 1122/2000. 6 Artigos 6.º e 8.º do Decreto-Lei 301/99. 7 N.º 3 da Portaria 1122/2000. 8 Vide Recomendações 5 – PCGE 2011, 7 – PCGE 2012, 7 – PCGE 2013, 6 – PCGE 2014 e 6 – PCGE 2015.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

34

 Mantém-se a falta de interligação dos sistemas próprios das EAR com o SGR não estando, por isso, assegurada a consistência da informação apresentada na CGE com a residente nesses

sistemas próprios, para além de inviabilizar o cumprimento de outras normas do regime, como a

prestação diária da informação, com maior impacto na receita fiscal, deficiência que tem sido

objeto de apreciação crítica pelo Tribunal e dado origem à formulação de recomendações em

anteriores Pareceres1 – vide 3.2.2.2.

 A intervenção dos serviços cobradores com funções de caixa do Tesouro (como o IGCP e a AT), prevista como transitória no RCRE2 continua a manter-se na contabilização das receitas. Tal

intervenção limita-se a fazer refletir no SGR: no caso do IGCP, as transferências efetuadas por

outras entidades para receita do Estado e, no caso da AT, as entregas de receita do Estado nos

serviços de finanças. Acresce que desresponsabiliza as EAR pela contabilização dessas receitas

e prejudica a qualidade da informação prestada, porque se limita ao registo de operações de

autoliquidação e cobrança, sem validar os valores cobrados como correspondentes a efetivas e

concretas operações de liquidação.

Omissão de receitas do Estado

Subsiste a omissão de receitas do Estado no SGR e a sua indevida contabilização como receitas próprias

de outras entidades públicas. Apesar de a LEO impor a universalidade e a não compensação de receitas

e despesas bem como a não consignação do produto das receitas à cobertura de determinadas despesas3

verifica-se a prática frequente da indevida dedução, às receitas do Estado, das verbas consignadas e da

omissão, nas despesas do Estado, das transferências dessas verbas para as respetivas entidades

beneficiárias. Acresce ainda a contabilização indevida, pelas entidades beneficiárias, das verbas

recebidas como receitas que não administram e, por isso, não podem validar nem certificar.

Sublinha-se que, para além da consequente falta de transparência da gestão orçamental, a lei não é

cumprida sempre que as receitas do Estado sejam contabilizadas por outras entidades que não as

respetivas entidades administradoras. Estas deficiências são notórias na contabilização da receita fiscal

pois, apesar da administração dessa receita competir à AT, em 2016, outras entidades (incluindo EPR)

contabilizaram € 1.272 M de receita fiscal – vide 3.2.2.2.

Deficiente identificação das entidades

O controlo eficaz das contas públicas inclui verificar que a execução do OE é integralmente reportada,

o que pressupõe, inter alia, a certificação do universo das entidades da administração central. Subsiste a

omissão na CGE, e no OE, de entidades que, apesar das suas características particulares, a lei qualifica

como SFA, dotando-as de autonomia administrativa e financeira. São os casos de: Sistema de

Indemnização aos Investidores, Fundo para a Promoção dos Direitos dos Consumidores, Fundo de

Capital e Quase Capital4 e Fundo de Dívida e Garantias5. Estas omissões desrespeitam os princípios da

unidade e da universalidade.

1 Vide Recomendações 2–PCGE 2010, 3–PCGE 2011, 6–PCGE 2012, 6–PCGE 2013, 7–PCGE 2014 e 7–PCGE 2015. 2 Artigos 6.º e 8.º do Decreto-Lei 301/99. 3 Artigos 5.º a 7.º da LEO. 4 Criado pelo Decreto-Lei 225/2015, de 09/10. 5 Criado pelo Decreto-Lei 226/2015, de 09/10.

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Tribunal de Contas

35

Verifica-se, ainda, a indevida classificação, como EPR, do Fundo de Garantia de Crédito Agrícola

Mútuo, do Fundo de Garantia de Depósitos e do Fundo de Resolução, por integrarem a lista dos SFA do

Sector Institucional das Administrações Públicas do INE. Ora, como o Tribunal tem salientado de forma

recorrente1, a classificação é indevida porquanto estas entidades são SFA da administração central do

Estado, independente e previamente à classificação atribuída pelo INE.

Fluxos financeiros não relevados

Subsiste a omissão de parte substancial dos fluxos financeiros recebidos por entidades da administração

central nos sistemas que suportam os mapas contabilísticos gerais da CGE.

A reconciliação da receita constante no SGR e no SIGO com as entradas de fundos na tesouraria do

Estado é, nos termos legais, integral e não parcial visto incluir receitas extraorçamentais. Porém, o

Quadro B. 4 mostra que parte substancial dos fluxos financeiros (€ 3.463 M) recebidos por entidades da administração central não consta nos pertinentes mapas contabilísticos gerais da CGE.

Uma divergência desta dimensão evidencia a necessidade e a urgência de relevar a totalidade dos fluxos

financeiros dessas entidades nos sistemas que suportam a CGE pois essa omissão, para além de

desrespeitar os princípios orçamentais:

 exime uma parte substancial dos fundos recebidos ao controlo e responsabilização legalmente determinados para as receitas (orçamentais e extraorçamentais);

 inviabiliza a reconciliação das receitas com as correspondentes entradas de fundos registadas quer na contabilidade da tesouraria do Estado, quer nas contas dos serviços.

Para corrigir estas deficiências o Tribunal recomenda, desde 2009, o registo integral dos fluxos

financeiros das entidades da administração central nos sistemas de contabilização orçamental,

classificando em operações extraorçamentais a parte não relevada em operações orçamentais2. Não

obstante, tais deficiências persistem em 2016 nas receitas fiscal (vide 3.2.2.2.) e não fiscal (vide 3.2.6.2.).

3.2.2. Receita Fiscal

3.2.2.1. Objeto do Exame

A receita fiscal (€ 41.096 M) aumenta € 973 M (2,4%) pelo efeito conjugado do acréscimo de € 1.466 M (6,7%) nos impostos indiretos e da quebra de € 493 M (-2,7%) nos impostos diretos.

1 PCGE 2013, 2014 e 2015, bem como Relatórios de acompanhamento da execução orçamental 4/2014, 3/2015, 4/2015,

3/2016, 4/2016 e 3/2017 relativos ao período de janeiro de 2014 a dezembro de 2016. 2 Recomendações: 11 – PCGE/2009, 43 – PCGE 2010, 46 – PCGE 2011, 42 e 43 – PCGE 2012, 48 e 49 – PCGE 2013,

52 e 53 – PCGE 2014 e 51 e 52 – PCGE 2015.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

36

Quadro B. 5 – Receita da Administração Central – Receita Fiscal

(em milhões de euros)

Receita

2015 2016

Execução OE final Execução Variação

valor

Variação

%

Taxa

execução

Impostos Diretos 18 265 17 936 17 772 -493 -2,7 99,1

Imp. sobre o Rend. das Pessoas Singulares (IRS) 12 709 12 406 12 231 -478 -3,8 98,6

Imp. sobre o Rend. das Pessoas Coletivas (IRC) 5 254 5 202 5 239 -16 -0,3 100,7

Outros 302 328 303 1 0,4 92,4

Impostos Indiretos 21 858 23 821 23 324 1 466 6,7 97,9

Imp. sobre os Prod. Petrolíferos e Energéticos (ISP) 2 813 3 612 3 447 634 22,5 95,4

Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) 14 859 15 326 15 098 239 1,6 98,5

Imposto sobre Veículos (ISV) 573 661 672 98 17,2 101,7

Imposto de Consumo sobre o Tabaco (IT) 1 213 1 514 1 515 302 24,9 100,1

Imp. sobre o Álcool e as Bebidas Alcoólicas (IABA) 183 187 194 11 5,9 103,6

Imposto do Selo (IS) 1 338 1 376 1 394 57 4,2 101,4

Imposto Único de Circulação (IUC) 285 311 310 24 8,6 99,5

Outros 594 834 694 100 16,9 83,2

Receita Fiscal 40 123 41 757 41 096 973 2,4 98,4

Fonte: SGR/SIGO.

Pelo impacto na evolução da receita fiscal de 2015 para 2016, salientam-se as situações seguintes:

 A cobrança, em 04/01/2016, de € 150 M de impostos (€ 121 M de ISP e € 29 M de IT) com prazo de pagamento até 31/12/2015, por encerramento, neste dia, dos serviços da AT devido a

tolerância de ponto1.

 A cobrança de € 444 M de dívidas fiscais2, ao abrigo do regime excecional de regularização de dívidas de natureza fiscal e de dívidas de natureza contributiva à segurança social, também

designado por Programa Especial de Redução do Endividamento ao Estado (PERES)3, que

estabeleceu um conjunto de medidas excecionais e temporárias4 de regularização dessas dívidas

através do seu pagamento integral ou em prestações.

A receita do IRS (€ 12.231 M) diminui € 478 M (-3,8%) como resultado do aumento de € 345 M nos reembolsos e restituições (deduzidos à cobrança) e do decréscimo de € 133 M na cobrança. O aumento das verbas reembolsadas decorre de alterações introduzidas com a reforma do IRS5, casos da

substituição do quociente conjugal pelo quociente familiar, da subida da dedução fixa por dependente e

do aumento dos limites máximos das deduções à coleta relativas às despesas de educação e de saúde. A

redução verificada na cobrança resulta do efeito conjugado:

1 Resolução do Conselho de Ministros 96/2015. 2 Valores respeitantes a receita do Estado, pelo que apenas inclui a receita relativa ao Continente. 3 Aprovado pelo Decreto-Lei 67/2016, de 03/11. 4 Vigoraram para as adesões efetuadas de 04/11/2016 a 23/12/2016 e envolveram a anulação dos juros de mora, dos juros

compensatórios e das custas processuais bem como a atenuação das coimas (vide 3.2.5). 5 Lei 82-E/2014, de 31/12 e Decreto-Lei 5/2016, de 08/02.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 64

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Tribunal de Contas

37

 da redução de € 347 M na sobretaxa1 e de € 211 M nas retenções sobre rendimentos de capitais (juros de depósitos e outros rendimentos);

 do aumento de € 424 M nas retenções na fonte sobre rendimentos do trabalho dependente e de pensões2.

A receita do IRC (€ 5.239 M) diminui € 16 M (-0,3%) como resultado do aumento de € 195 M nos reembolsos e restituições (deduzidos à cobrança) exceder o acréscimo de € 179 M na cobrança. Para o aumento das verbas reembolsadas em 2016 concorre o efeito base da redução anormal dos reembolsos

pagos em 2015 resultante da introdução, na regulamentação dos pedidos de reembolso, de condições

mais exigentes para a sua concretização3. Para o aumento da cobrança concorre:

 o acréscimo dos € 291 M obtidos ao abrigo do PERES e dos € 105 M obtidos ao abrigo do regime de reavaliação do ativo fixo tangível4;

 o impacto da redução da taxa de IRC de 23% para 21% em 2015 (com reflexo na receita de 2016) e a reforma do regime de tributação dos organismos de investimento coletivo5 desde 30/06/2015

cujo regime transitório implicou cobrar ainda em 2015 valores que seriam devidos em 2016.

A receita do IVA (€ 15.098 M) aumenta € 239 M (1,6%) como resultado do acréscimo de € 602 M na cobrança ter sido atenuado pelo acréscimo de € 363 M nos reembolsos e restituições (deduzidos à cobrança). Para o aumento das verbas reembolsadas em 2016 também concorre o efeito base da redução

anormal dos reembolsos pagos em 20156 (situação similar à do IRC). No aumento da cobrança avultam

os acréscimos de € 482 M (2,7%) relativo a autoliquidações e de € 66 M na cobrança coerciva.

A receita do ISP (€ 3.447 M) aumenta € 634 M (22,5%) devido ao aumento das taxas unitárias do imposto7 e à atualização do valor adicional sobre as emissões de CO2 para 20168 (mais € 50 M obtidos). A CSR, mesmo sem ter sido agravada em 20169, aumenta € 70 M (10,8%).

1 Lei 159-D/2015, de 30/12, que estabelece para 2016 a extinção da sobretaxa de IRS para os rendimentos até € 7.070 e a

progressividade da sobretaxa entre 1% e 3% para os rendimentos até € 80.000. Para os rendimentos superiores a esse montante, a sobretaxa mantém-se nos 3%.

2 Para o aumento das retenções na fonte do trabalho dependente concorre a reversão da redução remuneratória da função

pública. Nos termos da Lei 159-A/2015, de 30/12, a redução remuneratória foi progressivamente eliminada ao longo de

2016, com reversões trimestrais de 40% a partir de 1 de janeiro, 60% a partir de 1 de abril, 80% a partir de 1 de junho e

a eliminação completa da redução remuneratória a partir de 1 de outubro. 3 Despacho Normativo 7-A/2015, de 30/04, da Ministra de Estado e das Finanças, que entrou em vigor a 01/05/2015. 4 O Decreto-Lei 66/2016, de 03/11, estabelece um regime facultativo de reavaliação do ativo fixo tangível e propriedades

de investimento de acordo com as normas contabilísticas aplicáveis, designadamente, para reforço de capitais próprios.

Para o efeito, sujeita-se a reserva de reavaliação fiscal a uma tributação autónoma especial e, em contrapartida, permite-se,

aos sujeitos passivos abrangidos, a dedução fiscal dos acréscimos de depreciação dos ativos objeto de reavaliação. A

reavaliação fiscal produzirá efeitos em termos de depreciações, a partir do exercício de 2018. 5 Aprovado pelo Decreto-Lei 7/2015, de 13/01. 6 Despacho Normativo 17/2014, de 26/12, do SEAF, que alterou e republicou o Despacho Normativo 18-A/2010, de 01/07. 7 Portaria 24-A/2016, de 10/02, que consubstancia um agravamento fiscal de 6 cêntimos/litro no imposto aplicável à

gasolina sem chumbo e ao gasóleo rodoviário e de 3 cêntimos/litro no imposto aplicável ao gasóleo colorido.

Posteriormente, a Portaria 136-A/2016, de 12/05 procedeu à atualização da taxa unitária do ISP, reduzindo em 1 cêntimo/

litro as gasolinas e gasóleo simples. A Portaria 291-A/2016, de 16/11 procedeu a nova atualização da taxa unitária do

ISP diminuindo 1 cêntimo/litro para o gasóleo. 8 Portaria 420-B/2015, de 31/12, aumentou em 0,004 cêntimos/litro para a generalidade dos combustíveis sujeitos a ISP. 9 A última atualização da CSR ocorreu com o OE 2015 (Lei 82-B/2014, de 31/12).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

38

A receita do IS (€ 1.394 M) aumenta € 57 M (4,2%) em resultado do acréscimo de cobrança em € 25 M (16,4%) nas aquisições de imóveis, de € 9 M (13,8%)1 nas transmissões gratuitas, de € 7 M (0,7%)2 nas entregas através de guias de multi imposto e de € 7 M em execução fiscal.

A receita do IT (€ 1.515 M) aumenta € 302 M (24,9%) por atualização das taxas de imposto introduzidas pelo OE 20163 e pelo crescimento da introdução de produtos de tabaco ao consumo decorrente da não

entrada em vigor do OE no início do ano. Com efeito, o regime legal limita essa introdução, entre 01/09

e 31/12, para impedir a criação de stocks excedentários com o intuito de evitar a aplicação de novas

taxas de imposto que ocorre normalmente com a publicação do OE de cada ano4. A publicação do OE

2016 em 30/03 fez a introdução ao consumo de produtos de tabaco5 crescer 110% no primeiro trimestre

de 2016 (não abrangido pelo referido período de limitação) face ao período homólogo de 2015.

A receita do ISV (€ 672 M) aumenta € 98 M (17,2%) acompanhando a tendência de recuperação de venda de veículos automóveis. Segundo a Associação Automóvel de Portugal (ACAP)6, o mercado de

veículos automóveis cresceu 15,8%, tendo sido comercializados mais 34 mil veículos do que em 2015.

Para o aumento de € 100 M nos outros impostos indiretos concorrem os acréscimos provenientes de lotarias, imposto do jogo e impostos indiretos diversos, mais € 29 M (26,7%), € 23 M (19,7%) e € 37 M (40,0%), respetivamente. Nas lotarias, destaca-se a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), com

mais € 14 M (23,7%) e a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), com mais € 9 M (28,4%). Para o aumento do imposto do jogo avulta o Turismo de Portugal com mais € 21 M (23,6%). No caso dos impostos indiretos diversos, a SCML regista mais € 20 M (€ 1 M em 2015), a ACSS mais € 8 M (€ 91 m em 2015) e o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) mais € 9 M (€ 91 M em 2015).

Já a receita da contribuição especial da indústria farmacêutica (€ 14 M), incluída nos impostos diversos sobre o consumo, passou a ser corretamente registada em 2016 como receita do Estado7, pela AT, quando em

2015 tinha sido indevidamente contabilizada como imposto, pela ACSS.

3.2.2.2. Resultado do Exame

Em 2016, a receita fiscal contabilizada representa 72,6% da receita consolidada da administração central

pelo que as deficiências na sua contabilização têm significativo impacto no rigor e fiabilidade da CGE.

Apesar da correção importante da contabilização da receita do ISP, mantêm-se deficiências referidas em

Pareceres anteriores: a falta de interligação dos sistemas da AT ao SGR, a omissão de impostos na

receita do Estado e a omissão de fluxos financeiros relativos a receita fiscal extraorçamental.

1 Informação divulgada pela AT no Portal das Finanças. 2 Esta variação resulta, por um lado, do aumento do imposto cobrado relativamente a seguros, operações financeiras e

organismos de investimento coletivo em € 14 M (4,6%), € 7 M (1,4%) e € 6 M (273,6%), respetivamente e, por outro, da diminuição do IS relativo a jogos e garantias de obrigações, no valor € 9 M (-4,8%) e € 8 M (-16,3%) respetivamente.

3 Nos termos do art. 157.º resulta um agravamento de 7 cêntimos por maço de tabaco. 4 Vide art. 106.º, n.º 1 do Código dos Impostos Especiais de Consumo, na redação dada pela Lei 82-B/2014, de 31/12. 5 Dados estatísticos de introduções no consumo de produtos sujeitos a IT divulgados pela AT. 6 Disponível em http://www.acap.pt/. 7 Nos termos do art. 197.º do OE 2016.

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Tribunal de Contas

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Falta de interligação dos sistemas da AT com o SGR

Continua por estabelecer a interligação dos sistemas próprios da AT com o SGR determinada pelo

RCRE em vigor (desde 2001). Essa falta de interligação, como o Tribunal tem assinalado, inviabiliza o

cumprimento de outras normas do regime, como as relativas à prestação diária da informação1, e não

garante a consistência entre a receita contabilizada no SGR e a informação dos sistemas próprios da AT.

Omissão de impostos na receita do Estado

Apesar de a administração da receita fiscal competir à AT, outras entidades (incluindo EPR) ainda

contabilizaram, em 2016, € 1.272 M de impostos que deveriam ter sido registados no SGR pela AT. Trata-se de situações em que o produto da receita (ou parte dele) está afeto a outras entidades que

contabilizam indevidamente as verbas recebidas (prévia e indevidamente deduzidas à receita do Estado)

como impostos apesar de não serem (ou não lhes competir ser) a entidade administradora dessa receita

nem terem (ou não lhes competir ter) intervenção na sua liquidação e cobrança.

A receita fiscal é devida ao Estado, na medida em que este é o sujeito ativo da respetiva relação jurídica

tributária, pelo que os princípios constitucionais e legais da unidade e da universalidade impõem a

inscrição da previsão da sua cobrança, como receita do Estado, no OE de cada ano. Acresce que um dos

princípios da execução orçamental determina que nenhuma receita possa ser liquidada ou cobrada,

mesmo que seja legal, sem que, cumulativamente, tenha sido objeto de correta inscrição orçamental e

adequada classificação2. Assim, essas verbas devem ser integralmente registadas pela AT como receita

do Estado e a consequente transferência para outras entidades deve constar da despesa do Estado.

Com a entrada em vigor do OE 2016, a contabilização de impostos cujo produto (ou parte dele) estava

afeto a SFA (incluindo EPR) foi alterada em conformidade com o recomendado pelo Tribunal3. Até

30/03/2016 vigorou o orçamento transitório, tendo sido as verbas ainda transferidas sem registo

orçamental para as entidades beneficiárias e nestas contabilizadas como impostos. A alteração efetuada

corrigiu a maior parte dessas situações através da contabilização dos impostos, pela AT, e o registo

orçamental das subsequentes transferências. Pela primeira vez, a AT registou na receita do Estado:

 a contribuição de serviço rodoviário (CSR)4 afeta à Infraestruturas de Portugal5 – € 556 M;

 a parte do produto do ISP consignada ao Fundo Português de Carbono (FPC) e ao Fundo Florestal Permanente (FFP) – € 19 M e € 16 M, respetivamente;

 a parte da receita cobrada pela AT afeta ao Fundo de Estabilização Tributário (FET) – € 44 M6.

1 A DGO continua a admitir, excecionalmente, que a AT proceda à contabilização mensal (Circular Série A 1373). 2 Nos termos do n.º 3 do art. 42.º da LEO. 3 Vide Recomendações mais recentes 4 – PCGE 2011, 5 – PCGE 2012, 5 – PCGE 2013, 5 – PCGE 2014 e 5 – PCGE 2015. 4 O art. 204.º do OE 2016 procede à alteração do art. 6.º da Lei 55/2007, de 31/08, que regula o financiamento da rede

rodoviária nacional a cargo da Estradas de Portugal (atual IdP), que passa a ter a seguinte redação: «Artigo 6.º [...] Sem

prejuízo do disposto no artigo anterior, o produto da contribuição de serviço rodoviário é transferido do orçamento do

subsector Estado para a Infraestruturas de Portugal, SA, constituindo sua receita própria.» 5 A CSR criada pela Lei 55/2007, de 31/05, para financiar a rede rodoviária nacional a cargo da EP – Estradas de Portugal

(atual Infraestruturas de Portugal), veio substituir parte da receita de ISP. Esta substituição decorre do disposto no art. 7.º

da referida lei que determina a fixação das taxas de ISP de forma a “garantir a neutralidade fiscal e o não agravamento do preço de venda dos combustíveis em consequência da criação desta Contribuição”.

6 A que acrescem € 2,5 M de receita corrente não fiscal.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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A parte da receita do ISP (€ 10 M) afeta ao Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), após ter sido registada adequadamente pela AT, foi indevidamente deduzida à receita do Estado, como

restituição, para ser entregue ao IFAP que, também, registou indevidamente a verba recebida como ISP.

A utilização da restituição para entregar a verba ao IFAP, como o Tribunal já assinalou em situações

análogas, é um procedimento contabilístico inadequado por omitir receita e despesa do Estado, em

desrespeito dos princípios orçamentais da universalidade e da não compensação. Apesar das alterações

verificadas na contabilização e antes referidas, em 2016 ainda subsiste receita fiscal (€ 1.272 M) não contabilizada pela AT mas por outras entidades:

 € 254 M respeitantes ao primeiro trimestre de 2016 (durante o qual vigorou o OE transitório e se manteve o procedimento anterior) foram ainda contabilizados indevidamente como impostos1.

 € 624 M correspondentes a impostos indevidamente contabilizados por SFA (incluindo EPR), com destaque para € 200 M registados pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), € 112 M pelo Turismo de Portugal (TP), € 108 M pela ACSS e € 99 M pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).

 € 219 M correspondentes a impostos indevidamente contabilizados pela Segurança Social.

 € 176 M relativos à contribuição para o audiovisual (CAV), afeta à Rádio e Televisão de Portugal (RTP) e por esta entidade registada como receita de taxas sobre a energia, apesar de se tratar

efetivamente de um imposto visto não constituir a contraprestação de um serviço2. Assim, como

qualquer receita fiscal e não obstante o seu produto estar consignado à RTP, a CAV é uma receita

do Estado a registar pela AT e a transferência para a RTP deve constar da despesa do Estado.

Como o OE 2016 determinou que a receita da CAV fosse transferida do orçamento do subsector

Estado3, o orçamento da RTP não previa receita de taxas sobre a energia mas essa transferência

do Estado. Porém, a contabilização da CAV manteve-se inalterada, não cumprindo o disposto na

LOE. Só em 2017, a CAV passou a ser registada como imposto pela AT e a transferência para a

RTP a ser registada na despesa do Estado4.

À semelhança do que sucedeu em 2015, ficou também por corrigir a contabilização da contribuição

sobre os sacos de plástico leve (CSPL)5, tendo a AT apenas registado no SGR a parte da cobrança que

constitui receita do Estado e, por indicação da DGO, transferido a verba afeta a outras entidades sem

qualquer registo, cabendo a essas entidades a sua contabilização6. O Tribunal reitera que também o

procedimento de contabilização da CSPL deve ser corrigido pois o registo de receitas por entidades que

não são as respetivas administradoras viola o disposto no RCRE. Em contraditório, a DGO continua a

alegar que a CSPL é um caso diferente porque a lei que a cria procede “(…) expressamente, ab initio à afetação da receita cobrada por diferentes entidades, uma das quais o Estado”.

1 Este valor não coincide com o das deduções à receita do Estado (€ 214 M) no primeiro trimestre de 2016 porque as verbas

afetas a essas entidades são transferidas no mês seguinte ao das deduções. 2 Vide Acórdãos 354/98 e 307/99 do Tribunal Constitucional. 3 O art. 198.º do OE 2016 altera o n.º 2 do art. 6.º da Lei que aprova o modelo de financiamento do serviço público de

radiodifusão e de televisão (Lei 30/2003, de 22/08). 4 Para o efeito, a DGO criou uma rubrica própria para a CAV: “0201990299 - Contribuição sobre o audiovisual (CAV)”

incluída nos Impostos Indiretos - Impostos diversos sobre o consumo. 5 Criada pelo art. 30.º da Lei 82-D/2014, de 31/12. 6 O art. 44.º da Lei 82-D/2014, de 31/12, determina a afetação de acordo com as seguintes percentagens: 75% para o

Estado, 13,5% para o Fundo para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade, 8,5% para a Agência Portuguesa do

Ambiente, 2% para a AT e 1% para a Inspeção-Geral dos Ministérios do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia

e da Agricultura e do Mar.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 68

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Tribunal de Contas

41

A CSPL é um imposto e, assim, uma receita fiscal devida ao Estado que é o sujeito ativo da respetiva

relação jurídica tributária. A afetação de parte do seu produto a outras entidades não desobriga a entidade

administradora (AT) da responsabilidade pela sua integral liquidação, cobrança e contabilização (no

SGR) devendo essa afetação ser registada como transferência na despesa do Estado.

Omissão de fluxos financeiros relativos a receita fiscal extraorçamental

O registo de receita extraorçamental no SGR tem sido limitado a reposições abatidas nos pagamentos e

excessos de multi imposto a restituir aos contribuintes, por intervenção da própria DGO, à revelia de

normas legais e de recomendações do Tribunal1. Assim, e de forma recorrente, a AT continua a não

contabilizar a receita fiscal extraorçamental relativa a impostos das regiões autónomas (RA) e dos

municípios2 cujo impacto na receita dos principais impostos (IRS, IVA, IRC, ISP e ainda IUC3 pela não

contabilização de 44% da sua receita4) consta do Quadro B. 6.

Quadro B. 6 – Omissão de fluxos financeiros na contabilização da receita dos principais impostos

(em milhões de euros)

Receita Extraorçamental IRS IRC IVA IUC ISP Total

Receita das Regiões Autónomas 401 476 679 8 132 1 696

Receita dos Municípios 0 274 0 239 0 513

Total 401 750 679 247 132 2 209

Fonte: Fonte: AT - Tabelas mensais de contabilização, SGR e CT.

Estes fluxos continuam por registar em receita extraorçamental, bem como os das verbas transferidas

para a administração regional e local, em despesa extraorçamental. A sua não contabilização pela AT

decorre do entendimento da DGO, sancionado pelo Secretário de Estado Adjunto e do Orçamento

(SEAO)5, que tais receitas “devem ser refletidas na contabilidade das Regiões Autónomas e não na CGE, pelo que a sua entrega deve ser processada com recurso a operações de tesouraria” e “os sistemas que suportam a CGE são sistemas de cariz apenas orçamental, tanto do lado da receita como do lado da despesa, não permitindo

evidenciar nesta o registo de receitas e despesas extraorçamentais, nem os montantes a cobrar e a entregar às RA

no final de cada ano”. O Tribunal reitera que tal posição não tem sustento na lei pois:

 o cumprimento do princípio da especificação previsto na LEO concretiza-se pela aplicação dos códigos de classificação das receitas e das despesas públicas6, os quais incluem as operações

extraorçamentais, sendo extensiva à totalidade dos fluxos financeiros movimentados, obrigando

ao registo, em operações extraorçamentais, dos fluxos que não sejam de operações orçamentais;

 estas operações extraorçamentais suportam a cobrança de receitas fiscais (que compete à AT validar e registar como EAR) e a entrega das verbas devidas completando, de forma verdadeira

e apropriada, o seu registo na contabilidade de RA e municípios (como receitas orçamentais).

1 Recomendações 43-PCGE 2010, 46-PCGE 2011, 43-PCGE 2012, 5 e 48-PCGE 2013, 8-PCGE 2014 e 8-PCGE 2015. 2 A apreciação do Tribunal decorre da evidência recolhida na AT, da sua reconciliação com a contabilidade do Tesouro

(CT), bem como da revisão analítica dos dados contabilísticos através do confronto dos valores registados no SGR com

os das tabelas mensais de suporte à contabilização e, destes, com a informação mensal do GFF da AT. 3 Nos termos do n.º 1 do art. 3.º da Lei 22-A/2007, de 29/06, que aprovou o Código do IUC. 4 A receita de IUC contabilizada no SGR ascendeu a € 310 M. 5 Despacho de 13/10/2014. 6 Aprovados pelo Decreto-Lei 26/2002, de 14/02.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

42

Em contraditório, a AT reitera que a não contabilização dessas verbas decorre do entendimento da DGO

sobre esta matéria que se encontra sancionado pelo SEAO. Em contraditório, a DGO alega que os

sistemas já permitem esses registos para 2017, de acordo com as instruções para preparação do

correspondente OE. Importa salientar, desde já, que não foram previstas para 2017, nas operações

extraorçamentais, classificações económicas específicas para registo dos impostos a entregar às regiões

autónomas e às autarquias e que, até ao final de outubro desse ano, não foram registadas as operações

extraorçamentais em causa.

3.2.3. Despesa Fiscal

O exame da receita fiscal, para a sua total e completa compreensão, deve ter em conta a apreciação

específica da despesa fiscal (receita cessante por benefícios fiscais) constante do ponto 8.1. para o qual

se remete. Aqui apenas se sublinha que a relevação da despesa fiscal na CGE de 2016 (€ 2.538 M) não é integral nem fiável continuando à margem da contabilidade orçamental e manifestamente subavaliada.

3.2.4. Dívida Fiscal

Aspeto importante no exame da receita fiscal, e por isso a merecer uma apreciação específica, é a dívida

fiscal (impostos liquidados por cobrar ou anular) em cobrança coerciva (por incumprimento do prazo

de cobrança voluntária) ou resultante da ação inspetiva e, em particular, do combate à fraude e à evasão

(atividade que visa assegurar o cumprimento das obrigações fiscais).

3.2.4.1. Dívida em Cobrança Coerciva

O ciclo da dívida em cobrança coerciva (DCC) no ano de 2016 consta do quadro seguinte1.

Quadro B. 7 – Ciclo da Dívida em Cobrança Coerciva (DCC)

(em milhões de euros)

Situação Dívida IRC IRS IVA Outra Total

Saldo Inicial (SI)

Ativa 1 558 933 2 506 2 198 7 195

Suspensa 3 453 720 2 770 1 404 8 348

Incobrável (declarada em falhas) 457 452 1 461 746 3 116

Dívida transitada do ano anterior 5 468 2 105 6 738 4 348 18 659

Aumento (A) Instaurada e outros aumentos 742 545 1 204 980 3 471

DCC = SI + A 6 210 2 650 7 942 5 328 22 130

Redução (R)

Cobrada 443 330 326 370 1 470

Anulada 300 130 340 160 930

Prescrita 175 102 512 250 1 039

Saldo Final (SF)

Ativa 1 549 862 2 397 2 106 6 914

Suspensa 3 263 789 2 887 1 625 8 563

Incobrável (declarada em falhas) 480 436 1 480 817 3 213

Dívida a transitar para o ano seguinte (DCC – R) 5 292 2 088 6 763 4 548 18 691

Fonte: AT.

1 A DCC abrange dívida não fiscal e dívida extraorçamental incluídas no quadro em “Outra”.

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Tribunal de Contas

43

A informação sobre o ciclo da DCC constante do quadro e reportada pela AT concorre para suprir a falta

de informação sobre a evolução da dívida fiscal na CGE de 2016 cujo relatório apenas reporta valores

sobre a sua redução por cobrança coerciva (€ 1.307 M), anulação (€ 843 M) ou prescrição (€ 777 M)1.

Da DCC reportada pela AT para 2016 (€ 22.130 M2) apenas foi cobrada 6,6% (€ 1.470 M), anulada 4,2% (€ 930 M) e prescrita 4,7% (€ 1.039 M). No final do ano permanecia em dívida 84,5% (€ 18.691 M), da qual apenas 37% se encontrava ativa, estando 46% suspensa e 17% incobrável.

O gráfico seguinte ilustra, para 2016, a evolução e a distribuição da DCC. O saldo em dívida apenas

aumenta 0,2% (€ 32 M) mas a parte da dívida suspensa e incobrável3, devido a litígio ou à falta de património dos devedores para garantir o seu pagamento, aumenta 2,7% (€ 312 M)4 enquanto a parte da dívida ativa diminui 3,9% (€ 281 M).

Gráfico B. 1 – Evolução e distribuição da dívida em cobrança coerciva

A redução da DCC continua a não ser reportada de forma consistente pela AT5, no SGR e na CGE. O

quadro seguinte evidencia as diferenças em 20166.

1 Vide Volume I – Tomo I – III.2.1.1.2.3. Extinções de Créditos Fiscais (páginas 65 a 67). 2 Dívida transitada do ano anterior (84,3%) e dívida instaurada no ano (15,7%). 3 A dívida suspensa aumenta 2,6% (€ 215 M) e a incobrável 3,1% (€ 97 M). 4 Passa de 61,4% para 63% (€ 11.776 M) do total, correspondendo 45,8% a dívida suspensa e 17,2% a incobrável. Por sua

vez, as situações de insolvência de contribuintes devedores (€ 3.629 M e 42,3%) e de oposição à execução (€ 3.607 M e 42,2%) constituem 84,5% da dívida suspensa.

5 Ao Tribunal e no Relatório de Atividades da AT – 2016 (página 28). 6 Em contraditório, a AT alega que a “diferença existente tem justificação no facto de na CGE os valores contabilizados

são apenas das dívidas fiscais enquanto no Parecer para o TC os valores obtidos são totais independentemente do tributo

ou proveniência” o que “implica um valor sempre superior”. Porém, esta situação não explica todas as diferenças evidenciadas no quadro, como é o caso da cobrança coerciva de receita orçamental reportada pela AT (€ 1.289 M) face à registada no SGR (€ 1.264 M).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Quadro B. 8 – Redução de dívida

(em milhões de euros)

Operação AT SGR CGE Diferença

AT – SGR Diferença

AT – CGE

Cobrança Coerciva 1 470 1.264 1 307 206 163

Anulação 930 51 059 843 - 50 129 87

Prescrição 1 039 631 777 407 262

Total 3 439 52 954 2 927 - 49 515 512

Fonte: AT, SGR e CGE.

Tomando como exemplo a cobrança coerciva (CC) reportada pela AT (€ 1.289 M de receita orçamental e € 181 M de extraorçamental), apenas 86% foi registado no SGR (€ 1.264 M de receita orçamental). Porém, o relatório da CGE reporta € 1.307 M1 de CC de dívida fiscal que inclui receita extraorçamental (impostos municipais) sem a distinguir da orçamental. Para a dívida fiscal anulada2 ou prescrita também

se verificam diferenças por explicar nos valores reportados por AT, no SGR e na CGE.

Importa, também, assinalar que, não obstante o aumento verificado em 2016 (48,8%), a CC representa

apenas 2,5% da cobrança registada pela AT (CAT) no SGR, como se discrimina no quadro seguinte.

Quadro B. 9 – Receita cobrada pela AT

(em milhões de euros)

Receita Cobrança Voluntária Cobrança Coerciva Cobrança da AT – CAT CC / CAT (%)

2015 2016 2015 2016 2015 2016 2015 2016

IRS 14 647 14 404 235 271 14 881 14 675 1,6 1,8

IRC 5 600 5 955 135 409 5 735 6 364 2,4 6,4

IVA 18 503 18 272 240 298 18 743 18 570 1,3 1,6

Outras 6 617 10 026 239 287 6 857 10 313 3,5 2,8

Total 45 367 48 658 849 1 264 46 217 49 922 1,8 2,5

Fonte: SGR.

O acréscimo da CC (48,8%), face ao da cobrança voluntária (7,3%), é devido ao impacto do Programa

Especial de Redução do Endividamento ao Estado (PERES), em particular, na CC de IRC que aumenta

202,5% (€ 273 M). Da CC reportada pela AT, 30,2% respeitam a IRC e, destes, 60,6% a pagamentos efetuados ao abrigo do PERES.

Por outro lado, à semelhança de anos anteriores, a CC do IVA representa apenas 8,8% da respetiva DCC

enquanto 49,3% da dívida prescrita, 46,1% da dívida incobrável e 36,2% da dívida total em 31/12/2016

respeitam a IVA sem serem reportadas as razões dessa incobrabilidade.

1 Volume I – Tomo I – III.2.1.1.2.3. Extinções de Créditos Fiscais – Quadro 36 (página 66). 2 As operações registadas no SGR incluem € 50.413 M de uma DCC de IRS, após lapso em autoliquidação (digitação do

NIF com duas casas decimais em vez da importância a pagar) e consequente anulação sem que na CGE (e na informação

reportada ao Tribunal) essa DCC seja considerada e explicada. Em contraditório, a AT alega que na “fórmula de extração de dados procurou-se retirar uma anulação de um processo instaurado, por erro grosseiro, no valor de

€ 50.412.595.800,00” e que na “gestão diária, não introduzimos o valor nem na instauração nem na respetiva anulação apenas por decisão gestionária para não criar um desvio anormal, e futuramente não identificável, nos mapas do ano

de 2016”. Ora, em vez de omitida da CGE e da informação reportada ao Tribunal, a instauração e consequente anulação de um processo, por “erro grosseiro”, deveria ter sido explicada mais ainda por ter gerado um “desvio anormal” admitido pelos sistemas de gestão e controlo da AT.

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Tribunal de Contas

45

A anulação de dívida reportada na CGE1 decorre, sobretudo, de declarações fiscais de substituição

apresentadas pelos contribuintes (56,4%). Porém, o valor anulado aumenta 97,8% face a 2015 (mais

€ 426 M) sem serem reportadas razões para essa evolução.

Continuando a marcação de penhoras a ser um instrumento eficaz para a CC de dívidas, em 2016 foram

marcadas 3.968.6202 penhoras e, destas, concretizadas 322.951 (8,1%). Como resultado foram

depositados € 208 M e, destes, € 150 M (72,1%) foram afetos a processos de execução fiscal, sendo os “Créditos” os ativos mais frequentemente penhorados e de maior valor.

Por sua vez, as 12.344 vendas marcadas em 2016 representam apenas 25% das marcadas em 2015

(49.363), o que se deve, sobretudo, à alteração verificada no regime legal3. Das vendas marcadas foram

concretizadas 4.291 que geraram, em 2016, depósitos de € 85 M, dos quais € 80 M (95,2%) foram provenientes da venda de “Imóveis”. Porém, à semelhança dos anos anteriores, apenas € 6 M (6,7%) foram imputados à respetiva CC. A ineficácia da venda deste tipo de bem penhorado está associada,

com frequência, à graduação de créditos que envolvem instituições financeiras devido às garantias reais

de que estas últimas são, em regra, titulares.

Neste âmbito continuam por implementar recomendações4 do Tribunal que visam a defesa da legalidade

e dos direitos dos contribuintes como é o caso do registo da fundamentação da escolha do bem

penhorado. A AT alega que a lei não obriga a fundamentar mas a que penhora começe por recair nos

bens com valor pecuniário de mais fácil realização, mais adequados ao valor do crédito e

previsivelmente suficientes para pagar a dívida5. Ora, a falta dessa fundamentação não cumpre a lei pois,

tendo o processo de execução fiscal natureza judicial, a penhora configura um ato materialmente

administrativo6.

Em contraditório a AT reitera que “o sistema não deixa de assegurar o respeito integral pelas regras de competência, na medida em que aos Chefes de Finanças cabe a validação «manual» do cumprimento dos

princípios legais vigentes na efetivação das penhoras”. Ora, essa intervenção dos chefes de finanças não

dispensa a AT de fundamentar, adequadamente, perante os contribuintes, a escolha do bem a penhorar.

Persiste por fixar um prazo legal para a redução e o levantamento de penhoras em caso de erro. A AT

reitera as alegações efetuadas em anos anteriores, referindo que a fixação de um prazo legal poderia ter

um efeito contrário ao pretendido, dado que o levantamento ou a redução das penhoras poderia, nesse

caso, ser efetuado apenas no último dia do prazo legal. Ora, fixar um prazo curto salvaguardaria os

direitos dos contribuintes, mesmo que a redução ou o levantamento da penhora ocorresse no último dia.

Sobre o ressarcimento dos contribuintes em caso de penhoras indevidas, a AT continua a alegar que se

encontra implementada no SIPE (Sistema Informático de Penhoras Eletrónicas) uma funcionalidade

destinada a automatizar o registo dos pedidos de levantamento de penhora e que foi implementado o

SGAC (Sistema de Gestão e Aplicação de Créditos) para promover a correção de cobranças indevidas

e a célere restituição dos montantes aos respetivos titulares, logo que verificada a irregularidade.

1 Volume I – Tomo I – III.2.1.1.2.3. Extinções de Créditos Fiscais –Quadro 37 (página 66). 2 Vide Relatório de Combate à Fraude e Evasão Fiscais e Aduaneiras – 2016 (página 153). 3 Lei 13/2016, de 23/05, que altera o Código de Procedimento e de Processo Tributário, aprovado pelo Decreto-Lei 433/99,

de 26/10, e a Lei Geral Tributária, aprovada pelo Decreto-Lei 398/98, de 17/12, que protege a casa de morada de família

no âmbito de processos de execução fiscal. Este diploma legal é aplicável aos processos de execução fiscal iniciados após

a sua entrada em vigor e aos que se encontravam pendentes a essa data, ou seja, em 24/05/2016. 4 Dirigidas à AT no Relatório de Auditoria 25/2011-2.ª Secção. 5 Nos termos dos artigos 217.º e 219.º do CPPT. 6 Nos termos do n.º 3 do art. 268.º da CRP.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 73

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

46

Ora, implementar sistemas informáticos não garante, por si só, a salvaguarda dos direitos dos

contribuintes, sendo também necessário um quadro normativo com prazos e sanções em caso de

incumprimento.

Em contraditório a AT reconhece que continuam a ocorrer “situações, não o podemos negar, em que os prazos, sobretudo de restituição de valores irregularmente penhorados, se estendem para além do obviamente

desejável, mas tal não invalida, nem pode menorizar, os importantes ganhos de celeridade nesta matéria”.

Continuam por publicar instruções definindo as condições a observar e a fundamentação exigida para o

adiamento da abertura de propostas de compra de bens penhorados1.

Em 424 dos 803 casos reportados pela AT a 2016 não se indicam motivos concretos, mas apenas

denominações genéricas (“Cumprimento de formalidades legais”, “Teor do despacho”), para fundamentar o

adiamento cuja duração mais frequente é de 15 dias, mas em 9 casos excede 100.

Estas situações ilustram que a falta dessas instruções constitui um obstáculo à harmonização dos

respetivos processos de decisão no quadro do respeito pelos princípios da igualdade e da justiça a que

os órgãos de execução fiscal estão legalmente vinculados.

Em contraditório, a AT alega que os três casos passíveis de adiar a abertura das propostas de compra

“se encontram legalmente estabelecidos e delimitados”. Todavia, subsiste a ocorrência de adiamentos sem

serem apresentados motivos concretos, mas formulações vagas e genéricas.

3.2.4.2. Dívida Fiscal por Ação Inspetiva

A apreciação2 específica da dívida fiscal resultante da atividade da inspeção tributária e aduaneira (ITA)3

visa complementar o exame da receita fiscal e suprir a falta de informação sobre a evolução dessa dívida

e a receita que gera, na CGE de 2016.

São autonomizados os resultados da intervenção da UGC4, atenta a importância da receita gerada pelos

designados grandes contribuintes (GC)5.

O ciclo da dívida fiscal por ação inspetiva (DFAI) gerada pela ITA em 2015 e 2016 e respetiva variação

(em %), bem como da gerada pela UGC (em valor e % da ITA para 2016) consta do quadro seguinte.

1 Recomendação dirigida à AT no Relatório de Auditoria 48/2009-2.ª Secção. 2 Decorrente da evidência recolhida nos trabalhos realizados para o presente PCGE que envolveram a obtenção de dados

da AT, o exame das respostas às questões colocadas, dos resultados da ITA, dos planos e dos relatórios de atividades da

AT, da ITA e da Unidade dos Grandes Contribuintes (UGC), bem como dos registos do SGR e dos dados estatísticos

extraídos do Sistema Integrado de Informação da Inspeção Tributária (SII IT). 3 Cometida à AT nos termos do art. 2.º, n.º 2, alínea b) e h), do Decreto-Lei 118/2011, de 15/12. 4 A Portaria 320-A/2011, de 30/12, fixa as competências da UGC inserida na estrutura orgânica da AT para enfrentar a

complexidade das questões sobre os grandes contribuintes.5 A Portaria 107/2013, de 15/03, estabelece os critérios de seleção dos contribuintes cuja situação tributária deva ser

acompanhada pela UGC, para o período de 2013 a 2016. A Portaria 130/2016, em vigor desde 11/05, revogou a Portaria

107/2013, sem que nos relatórios de atividades da ITA e da UGC refiram as implicações disso na atividade operacional

da UGC.

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Tribunal de Contas

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Quadro B. 10 – Ciclo da Dívida Fiscal por Ação Inspetiva (DFAI)

(em milhões de euros)

Dívida Fiscal ITA UGC UGC

2015 2016 2016/15 2016 ITA

Saldo Inicial (SI) 7 824 8 507 8,7% 2 696 31,7%

Liquidação (L) 1 074 916 -14,7% 188 20,5%

DFAI = SI + L 8 898 9 423 5,9% 2 884 30,6%

Anulação (A) 211 359 70,1% 221 61,5%

Anulação / DFAI 2,4% 3,8% 7,7%

Cobrança (C) 180 500 177,8% 269 53,9%

Cobrança / DFAI 2,0% 5,3% 9,3%

Saldo Final (SF) = DFAI - A - C 8 507 8 564 0,7% 2 394 28,0%

SF / DFAI 95,6% 90,9% 83,0%

Variação do Saldo (SF – SI) 683 57 - 91,7% - 302

(SF – SI) / SI 8,7% 0,7% - 11,2%

Reembolsos e Restituições (RR) 16 15 - 8,7% 3 20,0%

Receita Fiscal = C – RR 163 485 196,6% 266 55,0%

Fonte: AT.

Da DFAI reportada pela AT para 2016 (€ 9.423 M)1 apenas foi cobrada 5,3% (€ 500 M) e anulada 3,8% (€ 359 M). No final do ano permanecia em dívida 90,9% (€ 8.564 M).

A receita fiscal obtida por ação inspetiva (RFAI) aumenta € 322 M (196,6%) devido ao impacto do PERES, sobretudo na receita relativa à UGC (€ 266 M), representando esta 55,0% da total. Com este impacto a RFAI aumenta para 5,1% da DFAI (da qual 30,6% é relativa à UGC). Mesmo com a subida

excecional da cobrança (€ 320 M) e da anulação (€ 148 M), além da descida da liquidação (€ 158 M), volta a acumular-se dívida fiscal em 2016 (mais € 57 M).

Adianta-se já que o PERES teve um impacto na RFAI de € 334 M (68,9%) e na receita com origem na UGC de € 229 M (86,2%) – vide em 3.2.5. a apreciação específica às condições especiais de adesão e aos benefícios associados ao PERES.

Além disso, dez dos GC foram responsáveis por 44,2% (€ 214 M) da RFAI, tendo € 199 M sido pagos ao abrigo do PERES (75,5% da receita fiscal relativa à UGC). Porém, € 187 M (93,9%) estão em contencioso, administrativo e judicial, existindo, portanto, risco de restituição de valores relevantes, com

juros, em caso de decisão desfavorável ao Estado.

Acresce que 51,5% da DFAI anulada (€ 359 M) corresponde às dez operações de maior montante e que a primeira dessas anulou € 125 M de IRC a um GC, o que equivale a 34,8% da DFAI anulada e a 56,4% da dívida fiscal anulada pela UGC.

A concentração da DFAI num reduzido número de devedores (que, em regra, contestam as correções

efetuadas pela AT), como os dados reportados sobre a cobrança ao abrigo do PERES e sobre a anulação

ilustram, revela falta de eficácia da ação inspetiva, sobretudo quando se trata de contribuintes

acompanhados no cumprimento das obrigações fiscais pela UGC (criada para reduzir os custos de

contexto e os riscos de incumprimento e de contencioso).

1 Dívida transitada do ano anterior (90,3%) e dívida liquidada no ano (9,7%).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 75

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

48

Importa, também, conhecer e corrigir as deficiências subjacentes à instauração de DFAI objeto de litígio,

sobretudo a que for objeto de decisões judiciais desfavoráveis, para aumentar a eficácia da ação

inspetiva, melhorar a qualidade da informação sobre a RFAI e reportar esse acréscimo de receita no OE

e na CGE para conferir maior rigor e transparência à previsão e à execução da receita fiscal.

Ora, apesar dos progressos efetuados pela AT para reportar ao Tribunal informação detalhada sobre o

ciclo da DFAI1, os instrumentos de planeamento e gestão da atividade da ação inspetiva para 2016, bem

como os resultados apresentados, continuam expressos em “valor de correções”2 (receita potencial e não

liquidada), concretamente, € 1.339 M como meta a atingir e € 1.599 M como executado, quando o correspondente ciclo da DFAI regista € 916 M liquidados e € 485 M de RFAI, apenas 57% e 31% da “receita potencial” executada, respetivamente.

O contributo da atividade da ITA e, em particular, da UGC para a receita fiscal (RF) deve incluir a

receita com origem em regularizações voluntárias (RV) à matéria coletável e de imposto em falta, por

contribuintes alvo de procedimentos de inspeção e de revisão. Porém a liquidação que gera essa receita

não é incluída no ciclo da DFAI. Assim, também foi examinada a informação prestada pela AT sobre a

RF proveniente de RV de imposto em falta, subsistindo a falta de informação sobre a RF proveniente

de RV à matéria coletável.

A discriminação, por imposto, do contributo da RFAI com RV para a receita fiscal de 2016, bem como

a especificação da parte relativa à UGC, consta do quadro seguinte.

Quadro B. 11 – Receita Fiscal por Ação Inspetiva com Regularizações Voluntárias3

(em milhões de euros)

Imposto

RF (a) RFAI com RV

Total GC GC

(%)

ITA UGC

RFAI RV Total ITA

(%) % RFAI RV Total

UGC/ITA (%)

IRS 12 215 2 867 23,5 52 25 77 0,6 12,5 5 0 5 5,9

IRC 5 230 1 810 34,6 356 13 369 7,1 59,9 239 2 241 65,4

IVA 15 082 5 611 37,2 66 91 157 1,0 25,6 16 4 20 13,0

IS 1 394 731 52,4 11 2 13 0,9 2,0 7 0 7 57,2

Outros 6 322 4 556 72,1 0 0 0 0,0 0,0 0 0 0 0,0

Total – 2016 40 243 15 575 38,7 485 131 616 1,5 100,0 266 7 273 44,3

Total – 2015 38 850 15 198 39,1 163 125 288 0,7 48 n/d 48 16,7

2015/2016 (%) 3,6 2,5 - 197,5 4,8 113,8 - 454,8 - 469,4 -

(a) Receita Fiscal registada no SGR / Relatórios de Atividades da ITA e UGC – 2016.

Fonte: AT.

A RFAI com RV (€ 616 M) representa 1,5% da RF (0,7% em 2015), 44,3% provém da UGC (€ 273 M), 59,9% é relativa a IRC (€ 369 M) e 25,6% a IVA (€ 157 M). O acréscimo face a 2015, 113,8% (€ 328 M) no total e 469,4% (€ 225 M) quanto à UGC é devido aos resultados obtidos com o PERES.

1 Sobre as operações de liquidação, anulação, cobrança, reembolso/restituição e os saldos inicial e final em dívida.2 Calculado pela aplicação de um “coeficiente de conversão” ou“taxa teórica” de 20% sobre o valor das correções e

regularizações voluntárias da matéria coletável/rendimento tributável de impostos sobre o rendimento e de 4% para os

outros impostos, acrescido das correções e regularizações voluntárias de imposto em falta. Sobre as limitações da

utilização desta percentagem vide Pareceres sobre a CGE de 2012 e seguintes.3 Receita (cobrança deduzida de reembolsos e restituições) com origem em procedimentos de inspeção e de revisão (RFAI)

e receita com origem em regularizações voluntárias (RV) de imposto em falta, por iniciativa de contribuintes alvo de

procedimentos de inspeção e de revisão.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 76

Página 77

Tribunal de Contas

49

Do exame realizado resultam as conclusões específicas seguintes:

 Falta de rigor e de transparência pela não especificação, na CGE de 2016, da RFAI (€ 485 M) e do ciclo da DFAI (€ 9.423 M) que a gera, bem como pela não definição prévia, no correspondente OE, das respetivas metas a atingir.

 Deficiente apresentação dos resultados da ação inspetiva através do “valor de correções” (receita potencial e não liquidada) em vez da RFAI e do seu peso relativo na DFAI e na RF, prejudicando

a avaliação da qualidade, eficiência e eficácia dos recursos afetos e procedimentos aplicados.

 Reduzido contributo da ITA para a RF (1,5%) e, em particular, da UGC para a RF relativa aos GC (1,8%), mesmo com o impacto excecional do PERES (68,9% da RFAI da ITA e 86,2% da

RFAI da UGC).

 Falta de eficácia da ação inspetiva1.

3.2.4.3. Dívida Fiscal por Combate à Fraude e à Evasão

A apreciação específica da dívida fiscal resultante do combate à fraude e à evasão visa complementar o

exame da receita fiscal e suprir a falta de informação sobre a evolução dessa dívida e a receita que gera,

na CGE de 2016. Com efeito, a CGE continua sem apresentar resultados quantitativos do combate à

fraude e à evasão fiscais e o Relatório que, nesse âmbito, o Governo apresentou à Assembleia da

República não discrimina os valores das liquidações adicionais e das coletas recuperadas por imposto

como exigido pela lei2. Essa falta de informação não tem permitido concluir sobre a evolução desse

combate nem sobre a receita fiscal daí decorrente.

Em contraditório, a AT alega: “As ações desencadeadas pelo SII IT são quantificadas de acordo com um sistema de códigos de atividade e não por normas específicas” o que torna “impraticável quantificar e interligar os resultados das ações inspetivas com as normas específicas dos diplomas legais, considerando ainda que uma

correção pode resultar de um articulado de normas jurídicas”. Ora, não só a apresentação dos resultados quantitativos do combate à fraude e à evasão é uma exigência legal, como é a própria AT que presta

informação ao Tribunal sobre o ciclo da respetiva dívida incluindo a receita gerada por essa dívida.

Os resultados relevantes que constam do Relatório de 2016, em matéria de liquidações e cobranças,

respeitam aos montantes da cobrança coerciva de RF (€ 1.307 M), da cobrança resultante de processos de contraordenação concluídos em 2016 (€ 231 M) e da emissão de notas de cobrança de IRC na sequência de correções da inspeção tributária (€ 435 M).

Ora, a cobrança coerciva é de dívidas não pagas por cobrança voluntária, as coimas não são coletas

recuperadas e a emissão de notas de cobrança corresponde a valores liquidados e não cobrados. Não

sendo os montantes reportados apenas imputáveis ao referido combate continua por cumprir a exigência

legal de explicitar os seus resultados.

1 Em contraditório, a AT alega que devem concorrer para a avaliação da eficácia “os fatores que fazem com que as

correções resultantes de uma ação inspetiva não tenham o correspondente reflexo na liquidação do imposto”, especificando as correções que não cobrem o prejuízo do ano ou aquelas em que ao lucro tributável são deduzidos

prejuízos de anos anteriores. Porém, dos sistemas de informação da ITA e da AT (e dos respetivos instrumentos de

planeamento e gestão) não foi reportada ao Tribunal qualquer informação quantitativa ou de avaliação desses fatores. 2 Nos termos do art. 64.º-B da Lei Geral Tributária.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 77

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

50

Do Relatório também consta o grau de implementação das 109 medidas previstas no Plano Estratégico

de Combate à Fraude e à Evasão Fiscais e Aduaneiras para o triénio 2015-2017 sendo reportado: 55

(50,5%) medidas concluídas, 38 (34,9%) em curso e 16 (14,7%) não iniciadas. Porém, a informação

prestada neste âmbito pela AT regista menos 30 medidas em curso (porque ainda não iniciadas),

identifica 16 medidas concluídas antes de 2015 (pelo que não deveriam ter integrado o Plano) e apenas

apresenta medição de impactos para 17 das restantes medidas concretizadas.

Da informação prestada pela AT ao Tribunal também consta o ciclo da dívida fiscal por combate à

fraude e à evasão (DFCFE) em 2016 cuja receita fiscal totaliza € 491 M (mais € 252 M e 105,4% face a 2015) e representa 8% da DFCFE que o quadro seguinte desagrega em quatro partes (IRS, IRC, IVA

e Outra). Esta informação confirma a incorreção da constante do Relatório acima referida e criticada.

Quadro B. 12 – Ciclo da Dívida Fiscal por Combate à Fraude e à Evasão (DFCFE)

(em milhões de euros)

Dívida Fiscal IRS IRC IVA Outra Total

Saldo Inicial (SI) 934 3 639 368 272 5 213

Liquidação (L) 121 427 340 42 930

DFCFE = SI + L 1 055 4 066 708 314 6 143

Anulação (A) 48 250 16 20 334

Anulação / DFCFE 4,6% 6,1% 2,3% 6,3% 5,4%

Cobrança (C) 63 361 35 32 491

Cobrança / DFCFE 5,9% 8,9% 5,0% 10,3% 8,0%

Saldo Final (SF) = DFCFE - A - C 944 3.455 657 262 5.319

SF / DFCFE 89,5% 85,0% 92,8% 83,4% 86,6%

Variação do Saldo (SF – SI) 10 -184 289 -10 105

(SF – SI) / SI 1,1% -5,0% 78,5% -3,7% 2,0%

Reembolsos e Restituições (RR)

Receita Fiscal = C – RR 63 361 35 32 491

Fonte: AT / Liquidações com origem na Inspeção e na Gestão Tributárias desde 2005.

Da DFCFE reportada pela AT para 2016 (€ 6.143 M)1 apenas foi cobrada 8,0% (€ 491 M) e anulada 5,4% (€ 334 M). No final do ano permanecia em dívida 86,6% (€ 5.319 M).

Constituindo o combate à fraude e à evasão um elemento importante (embora não exclusivo) da ação

inspetiva, os ciclos das respetivas dívidas evidenciam estrutura similar traduzida por receitas inferiores

a 10% das dívidas e saldos superiores a 85%, mesmo com o impacto do PERES. A subsistência desta

estrutura revela a existência de um núcleo importante de dívida fiscal comum ao referido combate, à

ação inspetiva que o concretiza, à fase de cobrança coerciva para a qual evolui e, em regra, ao subjacente

contencioso (entre devedores e administração tributária) que o prolonga.

A AT prestou ainda informação específica sobre as correções com origem na derrogação administrativa

do sigilo bancário que geraram € 32 M de impostos em falta (€ 3 M em IRS, € 5 M em IRC, € 24 M em IVA) e sobre as correções devido a manifestações de fortuna que só geraram € 553 m de impostos em falta (€ 541 m em IRS e € 12 m em IVA).

1 Dívida transitada do ano anterior (84,9%) e dívida liquidada no ano (5,1%).

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Página 79

Tribunal de Contas

51

Para não especificar a receita fiscal obtida por combate à fraude e à evasão, no SGR (que suporta a

CGE), a AT alega que nem o regime legal aplicável à contabilização da receita do Estado o exige, nem

dispõe de um sistema de informação com um desenvolvimento detalhado de caraterização das

liquidações que permita tal especificação. Ora, mesmo assim, a AT reportou o ciclo da dívida fiscal que

gera a receita em causa e registou no SGR € 2 M de IRS relativo a rendimentos abrangidos pela designada diretiva da poupança1.

A AT também reportou dados obtidos através de mecanismos de troca de informações entre Estados

relativos a rendimentos de poupança pagos por operadores económicos a residentes noutro Estado. Ora,

esses mecanismos são suscetíveis de levar os destinatários a adotarem formas jurídicas distintas, tais

como sociedades fictícias ou o registo dos ativos em nome de residentes locais, para evitar a tributação

no Estado onde são residentes. A atuação sobre essas realidades complexas da fiscalidade internacional

exige um controlo adequado e eficaz da efetiva tributação dos ativos financeiros localizados no

estrangeiro (sempre que verificados os pressupostos legais).

Porém, a informação prestada pela AT sobre ativos localizados no estrangeiro e pertencentes a residentes

em Portugal continua a resumir-se aos dados comunicados através de instrumentos jurídicos em vigor2,

não tendo reportado diligências para detetar outros ativos no estrangeiro (devido à existência de

entidades fiduciárias ou de sociedades cujos proprietários não estejam identificados), nem para controlar

a atividade efetuada no estrangeiro pelas instituições de crédito e pelas sociedades financeiras sediadas

em Portugal com vista a apurar a existência de ativos detidos por residentes em Portugal não declarados.

3.2.5. Programa Especial de Redução do Endividamento ao Estado

O regime excecional de regularização de dívidas de natureza fiscal e de dívidas de natureza contributiva

à segurança social, também designado por Programa Especial de Redução do Endividamento ao Estado

(PERES)3, estabeleceu um conjunto de medidas excecionais e temporárias de regularização dessas

dívidas através do seu pagamento integral ou em prestações e teve como objetivo incentivar os

contribuintes a pagar dívidas cujo prazo legal de cobrança já tivesse sido ultrapassado.

A CGE de 2016 reporta € 443 M de receita fiscal obtida ao abrigo do PERES4.

As condições especiais previstas no PERES abrangeram dívidas fiscais liquidadas até 04/11/2016 com

facto tributário verificado até 31/12/2015 e prazo legal de cobrança terminado até 31/05/2016.

1 Diretiva 2003/48/CE do Conselho, de 03/06, transposta pelo Decreto-Lei 62/2005, de 11/03, e revogada, desde

01/01/2016, pela Diretiva (UE) 2015/2060 do Conselho, de 10/11 – O IRS de 2016 registado pela AT é relativo a rendimentos obtidos antes desse ano. A AT reportou ao Tribunal ter recebido informação, ao abrigo desta diretiva, sobre

€ 346 M de rendimentos obtidos em 2015 com ativos localizados no estrangeiro detidos por residentes nacionais. 2 A AT recebeu informação ao abrigo da Diretiva da Poupança, da Diretiva da Cooperação Administrativa em matéria

fiscal (Diretiva 2011/16/UE, transposta para a ordem jurídica interna pelo Decreto-Lei 61/2013, de 10/05) e das

Convenções para evitar a Dupla Tributação (CDT). Mas não foram realizados controlos fiscais com administrações

tributárias de outros países ao abrigo da Convenção relativa à Assistência Administrativa Mútua em Matéria Fiscal

(CAAMMF), aprovada pela Resolução da Assembleia da República 80/2014, de 16/09. 3 Aprovado pelo Decreto-Lei 67/2016, de 03/11. 4 Volume I – Tomo I – Quadro 32 (página 59).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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O período de adesão vigorou de 04/11/2016 a 23/12/20161, tendo os devedores aderentes que incluir

todas as suas dívidas na situação descrita (à exceção das dívidas com execução legalmente suspensa

cuja exclusão era possível) e podendo optar pelo seu pagamento integral ou em prestações, com a

anulação, no primeiro caso, ou a redução, no segundo caso, dos respetivos juros de mora, juros

compensatórios e custas processuais, beneficiando ainda, no primeiro caso, da atenuação das coimas.

Optar pelo segundo caso implicava acumular as dívidas no mesmo plano prestacional, pagar 8% do seu

valor até 23/12/2016 e pagar o restante em prestações mensais desde janeiro de 2017 (com três

prestações vencidas por pagar o devedor volta à situação a que estaria obrigado se não tivesse aderido

ao PERES).

Verificou-se a adesão ao PERES de 65.273 contribuintes com € 1.148 M de dívidas de natureza fiscal2.

A opção pelo pagamento integral (após dedução dos respetivos benefícios) recaiu sobre 46,4%

(€ 532 M) e gerou € 388 M de receita e a perda de € 144 M (por anulação de juros e de custas) e de € 11 M (por redução de coimas).

A opção pelo pagamento em prestações recaiu sobre os 53,6% (€ 616 M) restantes e gerou, em 2016, € 56 M de receita e a perda de € 0,5 M (por redução de juros e custas).

O impacto do PERES em 2016, para IRS, IRC, IVA e outra Receita do Estado consta do quadro seguinte.

Quadro B. 13 – Impacto do PERES na Receita do Estado de 2016

(em milhões de euros)

Extinção de Dívida IRS IRC IVA Outra Total

Por Cobrança – Receita 52 291 87 14 444

Por Anulação – Perda de Receita - - - 155 155

Fonte: AT.

Através do PERES, em 2016, foi extinta dívida no montante de € 599 M, € 444 M (74,1%) por cobrança de receita do Estado e € 155 M (25,9%) por anulação (perda de receita do Estado).

A opção pelo pagamento integral gerou 87,4% da receita obtida e 99,7% da perda de receita.

A receita de IRC representa 66,5% da receita obtida e 94,8% da relativa à opção pelo pagamento integral.

Só dez contribuintes pagaram € 199 M (44,8% da receita obtida) e beneficiaram da anulação de € 78 M (50,5% da perda de receita), porém, € 187 M (93,9%) pagos estão em contencioso, existindo, portanto, risco de restituição de valores relevantes, com juros, em caso de decisão desfavorável ao Estado.

1 O prazo inicial (até 20/12/2016) foi prolongado em 3 dias, por Despacho do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. 2 Valores respeitantes a receita do Estado (não inclui receita das Regiões Autónomas).

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Tribunal de Contas

53

3.2.6. Receita Não Fiscal

3.2.6.1. Objeto do Exame

A receita efetiva não fiscal (€ 15.500 M) aumenta € 96 M (0,5%) em resultado do acréscimo de € 105 M (30,2%) nas outras receitas e de € 43 M (0,3%) nas receitas correntes não fiscais atenuado pela redução de € 53 M (-4,0%) nas receitas de capital.

Receitas efetivas

O aumento de € 43 M (0,3%) nas receitas correntes não fiscais resulta do aumento de € 109 M (4,5%) nas transferências correntes e de€ 95 M (2,1%) nas contribuições para a Segurança Social, CGA e ADSE, a par da redução de € 130 M (-14,0%) nos rendimentos da propriedade e de € 31 M nas demais receitas.

Quadro B. 14 – Receita consolidada da Administração Central – Receitas correntes não fiscais

(em milhões de euros)

Receita

2015 2016

Execução OE final Execução Variação

valor

Variação

%

Taxa

execução

Contrib. para a SS, CGA e ADSE 4 601 4 731 4 696 95 2,1 99,3

Taxas, Multas e Outras Penalidades 2 873 2 787 2 851 -22 -0,8 102,3

Rendimentos da Propriedade 928 1 006 798 -130 -14,0 79,3

Transferências Correntes 2 410 2 882 2 519 109 4,5 87,4

Venda de Bens e Serviços Correntes 2 358 2 628 2 315 -43 -1,8 88,1

Outras Receitas Correntes 554 741 589 34 6,2 79,4

Receitas Correntes Não Fiscais 13 724 14 775 13 767 43 0,3 93,2

Fonte: SGR e SIGO de 2015 e 2016.

Para o aumento das contribuições para a Segurança Social, CGA e ADSE em € 95 M (2,1%) concorre:

 o acréscimo de € 73 M (1,8%), na receita da CGA, proveniente das quotas dos subscritores (€ 29 M) e das contribuições das entidades (€ 72 M), face à eliminação progressiva da redução remuneratória dos vencimentos da função pública durante 2016, atenuado pela redução da

Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES)1 (€ 11 M), das compensações por pagamento de pensões e outras prestações (€ 16 M) e do número de subscritores2;

 o acréscimo de € 16 M (2,9%), na receita da ADSE, oriundo das contribuições dos beneficiários titulares (€ 18 M), face à eliminação progressiva da redução remuneratória dos vencimentos da função pública durante 20163 e apesar da redução de 2,5% no número de beneficiários.

1 A Lei 159-B/2015, de 30/12, estabelece para o ano de 2016 a redução da CES aplicável às pensões, subvenções e outras

prestações pecuniárias de idêntica natureza, prevista no art. 79.º do OE 2015. 2 A CGA tornou-se um sistema fechado deixando de proceder à inscrição de subscritores (art. 2.º da Lei 60/2005, de 29/12),

tendo o número de subscritores descido 2,0% entre 2015 e 2016 (Relatório de Gestão de 31/08 a 31/12/2016). 3 A alínea e) do art. 260.º do OE 2015 revogou o art. 47.º-A do Decreto-Lei 118/83, de 25/02, que regulamentava a

contribuição da ADSE da entidade patronal ou equiparada. Não obstante, em 2016 foram ainda registadas contribuições

dessas entidades resultantes de acertos e pagamentos em atraso (Relatório de Atividades 2016 da ADSE).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 81

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

54

Para a diminuição das taxas, multas e outras penalidades em € 22 M (-0,8%) concorre:

 o aumento das taxas diversas em € 62 M (7,8%) e das portagens da IdP em € 21 M (6,6%);

 a redução das coimas e penalidades por contraordenações tributárias da AT em € 47 M (-24,5%)1, das multas e coimas por infrações ao Código da Estrada aplicadas pela GNR em € 7 M (-36,2%) e pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária em € 5 M (-9,4%), das taxas moderadoras na área da saúde2 em € 21 M (-11,9%), das taxas de justiça em € 12 M (-8,4%) e das taxas de registo comercial em € 9 M (-10,3%).

Para a diminuição dos rendimentos da propriedade em € 130 M (-14,0%) concorre a redução de € 104 M nos juros e de € 44 M nos dividendos pagos pelo Banco de Portugal (BdP) ao Estado (€ 147 M)3. Para a quebra nos juros releva o decréscimo dos juros de instrumentos de capital contingente (coco bonds) em

€ 48 M (-29,8%)4 (devido ao não pagamento, por parte da CGD, dos € 45 M de juros vencidos em 30/12/2016 e convertidos em capital social no âmbito do processo de recapitalização do banco)5 e dos

juros entregues por SFA, em € 31 M (-18,2%)6, com destaque para a redução dos juros pagos pelo Fundo de Resolução em € 26 M (-20,9%).

Para o aumento das transferências correntes em € 109 M (4,5%) concorre o:

 acréscimo de € 143 M (24,5%) nas transferências correntes da UE, para o qual concorrem os € 290 M (274,8%) transferidos para o IFAP, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural 2014-2020, com registo orçamental7 e, em sentido contrário, da redução de € 121 M (-87,9%) nas transferidas para a EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, SA;

 decréscimo de € 32 M (-2,0%) nas transferências correntes da segurança social, devido à redução de € 55 M nos subsídios atribuídos ao Instituto de Emprego e Formação Profissional, IP, para apoio à formação profissional, atenuada pelo aumento das verbas transferidas para a

Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares e para a AT, em € 11 M e € 7 M, respetivamente.

Para a diminuição da venda de bens e serviços correntes em € 43 M (-1,8%) concorre:

 a redução da venda de serviços em € 66 M e de rendas da ESTAMO, SA, em € 24 M;

1 Também por efeito dos benefícios concedidos aos pagamentos efetuados no âmbito do PERES – vide 3.2.4.2 O art. 112.º do OE 2016 dispôs que o Governo promovesse a redução do valor das taxas moderadoras até ao limite de

25% do seu valor total, o que veio a ser concretizado através da Portaria 64-C/2016 (Finanças e Saúde), de 31/03. A título

exemplificativo, a taxa moderadora aplicável a consultas de medicina geral e familiar diminui 10%, de € 5,0 para € 4,5. 3 Menos € 93 M do que o previsto (€ 240 M) e € 39 M aquém do referido a propósito do Relatório de Atividade e Contas

de 2016 (€ 186 M) em comunicado do Banco de Portugal de 22-05-2017. 4 Em 2016 o Estado recebeu € 113 M de juros de instrumentos de capital contingente (BCP: € 71 M e CGD: € 42 M). 5 De acordo com o Relatório de Gestão 2016 da CGD, o aumento do capital social pelo valor em dívida dos instrumentos

de capital contingente (coco bonds) subscritos pelo Estado com o valor nominal de € 900 M, acrescido dos juros vencidos e não pagos desde o último cupão até 04/01/2017, no valor de € 45 M, consubstancia uma das várias operações que concretiza a recapitalização da entidade.

6 Em 2016 o Estado recebeu € 141 M de juros pagos por SFA, com destaque para os pagos pelo Fundo de Resolução

(€ 98 M), Metro do Porto (€ 40 M) e Parque Escolar (€ 2 M). 7 Ponto 65 da Circular Série A 1379 da DGO. A receita de fluxos financeiros da UE em 2015 foi essencialmente registada

como extraorçamental por se tratar de verbas destinadas a cobrir despesa com financiamento 100% comunitário.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 82

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Tribunal de Contas

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 o aumento da venda de bens em € 42 M1, que reflete o impacto da contabilização em 2016, pela primeira vez, da receita entregue pelas escolas (€ 59 M) relativa à venda de produtos alimentares e bebidas e o decréscimo de € 24 M na receita do FPC obtida com leilões de licenças de emissões de gases com efeito estufa2.

As receitas de capital diminuem € 53 M (-4,0%), pelo efeito conjugado da redução de € 104 M (-9,9%) nas transferências de capital e do acréscimo de € 46 M (53,3%) nas outras receitas de capital e de € 6 M (2,9%) na venda de bens de investimento.

Quadro B. 15 – Receita consolidada da Administração Central – Receitas de capital

(em milhões de euros)

Receita

2015 2016

Execução OE final Execução Variação

valor

Variação

%

Taxa

execução

Venda de Bens de Investimento 195 355 200 6 2,9 56,4

Transferências de Capital 1 050 1 057 946 -104 -9,9 89,5

Outras Receitas de Capital 86 233 132 46 53,3 56,7

Receitas de Capital 1 331 1 646 1 279 -53 -4,0 77,7

Fonte: SGR e SIGO de 2015 e 2016.

Na venda de bens de investimento, há que salientar os € 43 M3 obtidos por via da alienação pelo Estado Português de 12 aeronaves F-16 à República da Roménia4 e os € 81 Mobtidos pela ESTAMO com a venda de edifícios. A baixa taxa de execução (56,4%) resulta da não concretização do programa de

alienações do património da SCML5 (com receita prevista de € 69 M).

Para a redução das transferências de capital em € 104 M (-9,9%) concorre:

 o efeito base (menos € 46 M) da transferência, em 2015, do Fundo de Pensões dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e de parte do Fundo de Pensões da Gestnave para a CGA6;

 a diminuição das transferências de capital da UE para a IdP em € 164 M7 e para a Agência Portuguesa do Ambiente em € 14 M;

1 Que atenuou a inexistência de receita de vendas de bens da EMPORDEF – Engenharia Naval, SA, no âmbito do contrato

de construção de dois navios asfalteiros, com previsão de cobrança de € 52 M (ROE 2016, página 76). 2 Atribuídas ao abrigo do regime CELE – Comercio Europeu de Licenças de Emissão (Decreto-Lei 38/2013, de 15/03). 3 Força Aérea (€ 19 M) e Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional (€ 24 M). 4 Autorizada pela Resolução do Conselho de Ministros 55/2013, de 21/08. 5 ROE 2016, página 77. 6 O Decreto-Lei 62/2015, de 23/04, determinou a transferência para a CGA das responsabilidades, designadamente, com

os complementos de pensão de reforma, por velhice ou invalidez dos antigos trabalhadores da Gestnave - Serviços

Industriais e dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), prevendo para tal a transferência para a CGA da

totalidade do património do Fundo de Pensões dos ENVC e parte do património do Fundo de Pensões da Gestnave. 7 Para tal decréscimo concorre o efeito base dos € 156 M de fundos comunitários recebidos em 2015 para a construção da

autoestrada Transmontana (Relatório e Contas 2015 da IdP).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 83

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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 o acréscimo das transferências para a Agência para o Desenvolvimento e Coesão, IP (AD&C) em € 97 M1 e para o IAPMEI em € 82 M.

As outras receitas de capital, registam uma taxa de execução de 56,7%, devido à não concretização das

concessões da IP Telecom e da SILOPOR – Empresa de Silos Portuários, SA2, com as quais se previa obter € 130 M3. Apesar disso, apresentam uma variação positiva de € 46 M (53,3%), influenciada pela entrada do Fundo de Contragarantia Mútuo4 no perímetro orçamental, cuja receita de € 92 M de devoluções de recuperações de capital (pelas contragarantias executadas) por parte das Sociedades de

Garantia Mútua atenuou a redução de € 19 M na receita registada pela DGTF (que em 2015 incluiu € 10 M obtidos com a concessão do Oceanário de Lisboa).

As reposições não abatidas nos pagamentos aumentam € 90 M com destaque para o acréscimo de € 79 M na receita proveniente de reembolsos relativos a transferências de Portugal para o Orçamento da UE5.

Receitas não efetivas

Apesar de não integrarem a receita efetiva foram também examinadas, dada a sua materialidade, as

receitas provenientes de ativos e de passivos financeiros, os saldos da gerência anterior e as receitas de

operações extraorçamentais.

A receita de ativos financeiros diminui € 2.646 M (-41,0%) pelo efeito conjugado da redução de € 2.448 M na receita de outros ativos financeiros6 detidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos (FGD) e do acréscimo de € 361 M na receita do Estado por amortizações de empréstimos a médio e longo prazos, sobretudo de SFA.

A receita com passivos financeiros diminui € 13.524 M (-16,9%) devido à quebra de € 11.550 M (-15,4%) na receita obtida pelo Estado com a emissão de dívida pública, com destaque para o decréscimo de

€ 6.544 M na receita obtida com subscrições de títulos de curto prazo pelos SFA. Há também a redução de € 1.029 M (-34,9%) na receita obtida através das dotações de capital concedidas pelo Estado às EPR (que as contabilizam como passivos financeiros) que, a par dos empréstimos a médio e longo prazos,

constituem formas de financiamento pelo Estado, como evidencia o quadro seguinte.

1 O significativo acréscimo de transferências de capital da UE para a AD&C que ocorreu em 2016 (€ 1 M em 2015 e

€ 97 M em 2016) deve-se ao facto de a entidade ter assumido a qualidade de entidade participante no Fundo de Capital e Quase Capital e no Fundo de Dívida e Garantia, na parte correspondente à componente de financiamento suportada pelos

programas operacionais do Continente nesses Fundos (vide Despacho 13728-E/2015, de 02/09, publicado no Diário da

Republica, 2.ª Serie, de 25/11/2015), vide Relatório de Gestão 2016 da AD&C. 2 O ROE 2016 refere as concessões (páginas 76 e 77). A sua não concretização é confirmada no ROE 2017, página 30. 3 € 90 M da concessão da IP Telecom (operador de telecomunicações e de serviços integrada no grupo IdP), a arrecadar

pela IdP e € 40 M da concessão da SILOPOR, a arrecadar pelo Estado. 4 Mapa V do OE 2016. 5 De acordo com o Projeto de Orçamento Retificativo 8/2015, da UE (Capítulo 14), o recurso da UE baseado no RNB dos

Estados-Membros consubstancia um recurso “complementar”, destinado a fornecer as receitas necessárias à cobertura, num exercício determinado, das despesas que excedam a quantia cobrada graças aos recursos próprios tradicionais, aos

pagamentos baseados no IVA e a outras receitas. Nos termos do referido Projeto, a taxa a aplicar ao RNB dos

Estados-Membros para o exercício orçamental de 2015 foi revista em baixa, dando lugar a reembolsos, que no caso

Português ascenderam a € 114 M, entregues por reposições não abatidas nos pagamentos já no exercício orçamental de 2016.

6 Designadamente, títulos de dívida pública emitidos por países da Área do Euro (Relatório e Contas 2016 do FGD).

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Tribunal de Contas

57

Quadro B. 16 – Receita da Administração Central – Financiamento do Estado às EPR

(em milhões de euros)

EPR

Empréstimos

MLP

Dotações de

Capital

Variação homóloga – Execução

Empréstimos MLP Dotações de Capital

2015 2016 2015 2016 Valor (%) Valor (%)

Metro do Porto 549 558 - - 9 1,5 - -

Parvalorem 285 334 - - 48 17,0 - -

Parups 84 92 - - 8 9,4 - -

Parque Escolar 23 a) 84 - - 62 275,5 - -

Parpública - b) 30 295 b) 260 30 - -35 -11,8

Transtejo 12 4 1 12 -7 -63,5 11 764,1

Infraestruturas de Portugal - - 1.617 950 - - -667 -41,3

Metropolitano de Lisboa - - 189 358 - - 169 89,4

Fundo de Resolução 489 0 - - -489 - - -

Parque Expo, 98 a) 5 0 - - -5 - - -

Empordef 1 0 - - -1 - - -

CP - Comboios de Portugal - - 683 176 - - -508 -74,3

SPMS - Serv. Partilhados do Min. Saúde - - 0 20 - - 20 -

Fundo de Apoio Municipal - - 0 a) 93 - - 93 -

Parparticipadas - - c) 92 d) 16 - - -76 -82,2

Hospitais EPE - - 49 a) 3 - - -46 -93,9

EDIA - - 18 a) 27 - - 10 56,7

Total 1 448 1 101 2 945 1 916 -346 -23,9 -1 029 -34,9

a) Na despesa: Parque Escolar (€ 85 M), Fundo de Apoio Municipal (€ 46 M), EDIA (€ 22 M), Parque Expo 98 (€ 0 M) e Hospitais EPE (€ 0 M).

b) Na despesa, estas operações foram integralmente registadas como dotações de capital (€ 290 M).

c) Na despesa, parte do valor encontra-se registado em empréstimos a médio e longo prazos (€ 40 M).

d) Na despesa, esta operação foi integralmente registada como empréstimos a médio e longo prazos.

Fonte: SIGO/SFA - Os valores correspondem ao reporte da execução orçamental da receita no SIGO não sendo, nos casos assinalados, integralmente

coincidentes com a execução orçamental da despesa.

Dos empréstimos a médio e longo prazos (€ 1.101 M) avultam os concedidos à Metro do Porto (€ 558 M), à Parvalorem (€ 334 M), à Parups (€ 92 M) e à Parque Escolar (€ 84 M). Para o decréscimo de € 346 M (-23,9%) nesses empréstimos concorre o efeito base do empréstimo concedido em 2015 ao FdR

(€ 489 M) no âmbito do apoio financeiro da medida de resolução aplicada ao BANIF. Nas dotações de capital, avultam as relativas à IdP (€ 950 M), ao Metropolitano de Lisboa (€ 358 M) e à Parpública (€ 260 M). O decréscimo de € 1.029 M (-34,9%) nessas dotações decorre, essencialmente, da redução das dotações de capital da IdP1 e da CP, em € 667 M e € 508 M, respetivamente. Refira-se, ainda, como forma de financiamento do Estado às EPR, a conversão em capital social dos montantes devidos em

2016 pela amortização de capital (€ 454 M) e juros (€ 107 M) dos créditos do Estado, designadamente: CP (€ 479 M), Transtejo (€ 47 M) e EDIA (€ 35 M).

O acréscimo de € 1.307 M (22,5%) no saldo da gerência anterior resulta, sobretudo, do aumento do saldo da Parcaixa (€ 700 M), do FGD (€ 558 M) e da IdP (€ 267 M) que supera a quebra verificada nos saldos da Caixa Seguros e Saúde (€ 332 M) e do IFAP (€ 127 M).

A receita de operações extraorçamentais reportada no SGR (€ 3.136 M) resulta, praticamente, das reposições abatidas nos pagamentos registadas pelo IGCP (€ 3.112 M) no âmbito da gestão da dívida pública (quando a previsão de instrumentos de dívida pública a pagar é superior ao valor pago origina a

devolução do remanescente ao Estado). Por sua vez, a receita de operações extraorçamentais reportada no

SIGO (€ 6.792 M) foi apenas registada por 44 dos 356 SFA.

1 A IdP resulta da incorporação por fusão da EP - Estradas de Portugal (EP) na Rede Ferroviária Nacional - REFER, nos

termos do Decreto-Lei 91/2015, de 29/05. Os dados de 2015 incluem a execução orçamental da EP até à fusão.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 85

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

58

3.2.6.2. Resultado do Exame

O exame da receita não fiscal é condicionado pela informação dos SFA ser reportada no SIGO por

valores mensais acumulados, sem autonomizar as operações nem identificar devidamente o mês a que

respeitam os valores contabilizados. Além disso, fica evidente que subsistem por contabilizar operações

subjacentes aos fluxos financeiros de muitas entidades quando 97,4% da receita extraorçamental é

registado por apenas duas entidades: a AD&C (€ 5.665 M) e o IFAP (€ 951 M) que são intermediárias dos fluxos financeiros recebidos da EU e, em regra, registados como operações extraorçamentais.

Ora, omitir a contabilização de operações subjacentes aos fluxos financeiros de cada entidade impede o

controlo apropriado dessa movimentação em sede de execução orçamental e respeitar os princípios

orçamentais da universalidade e da especificação obriga a aplicar o código de classificação das receitas

públicas à totalidade dos fluxos financeiros recebidos por todos os serviços da administração central.

Para corrigir essas deficiências o Tribunal recomenda, desde 2009, o registo integral desses fluxos

financeiros nos sistemas de contabilização orçamental, classificando em operações extraorçamentais a

parte não relevada em operações orçamentais1. Porém, tais deficiências persistem em 2016 nas receitas

fiscal (vide 3.2.2.2.) e não fiscal (vide 3.2.6.2.).

No PCGE 2014, o Tribunal reportou que as inconsistências entre a informação do SIGO e a dos sistemas

contabilísticos locais dos SFA se deviam à obrigação de prever as operações extraorçamentais para as

poder reportar no SIGO. Recomendou, por isso, à DGO que eliminasse os constrangimentos técnicos

dos sistemas de informação pois a imposição dessa regra, que não atende à natureza específica das

operações extraorçamentais, obsta à total relevação no SIGO dos fluxos financeiros movimentados.

Porém, na preparação do OE para 2017, a DGO exigiu a inscrição orçamental (na receita e na despesa)

das operações extraorçamentais2 gerando, deste modo, inconsistências com os sistemas contabilísticos

locais, tanto atualmente (segundo as regras do POCP e POC sectoriais) como no futuro, visto colidir

com o SNC-AP que determina um tratamento diferenciado para estas receitas (despesas) ao não prever

as correspondentes contas de previsões (dotações) iniciais e corrigidas.

A DGO alega, já em 2017, que3 “dada a génese dos sistemas de informação orçamental, o procedimento contabilístico a dispensar às operações extraorçamentais está abrangido pelo processo aplicável às restantes

previsões e dotações orçamentais. A criação de condições diferenciadoras implica uma análise cuidada das suas

implicações e a definição de procedimentos orçamentais, bem como a redefinição de requisitos para os sistemas

de informação”. Ora, os requisitos dos sistemas de informação não podem obstar ao tratamento

diferenciado das operações extraorçamentais determinado pelos referenciais contabilísticos (POCP e

SNC-AP). Em contraditório, o MF e a DGO referem estar “em fase de implementação um conjunto de alterações ao SIGO-SFA que visam permitir o reporte das rubricas extraorçamentais, no decurso da execução,

sem que seja exigida a existência prévia de previsão / dotação (obrigando a realização de alterações orçamentais),

por forma a eliminar os constrangimentos referenciados pelo Tribunal.”

Reitera-se que a incompleta relevação das operações extraorçamentais limita, objetivamente, o controlo

da execução orçamental reportada na CGE visto que a contabilidade orçamental não regista a totalidade

dos fluxos financeiros dos organismos da administração central (como deveria) cujo valor permanece,

nessa sede, desconhecido e, nessa medida, parcialmente insuscetível de exame.

1 Recomendações: 11 – PCGE 2009, 43 – PCGE 2010, 46 – PCGE 2011, 42 e 43 – PCGE 2012, 48 e 49 – PCGE 2013, 52

e 53 – PCGE 2014 e 51 e 52 – PCGE 2015. 2 Ponto 19 da Circular Série A 1384 da DGO. 3 Contraditório da DGO ao Relatório n.º 3/2017-AEOAC-2.ª Secção – Acompanhamento da Execução Orçamental da

Administração Central – janeiro a dezembro de 2016, aprovado em 25/05 e disponível em www.tcontas.pt.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 86

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Tribunal de Contas

59

3.2.7. Receita por cobrar

3.2.7.1. Objeto do exame

O relatório da CGE refere-se às receitas do Estado por cobrar no final de 2016 (€ 13.770 M) como “um saldo contabilístico que traduz as dívidas ao Estado (representado pelos serviços integrados) em resultado da

execução da receita”1. Porém, apenas quatro entidades apresentam saldos de liquidação e a quase

totalidade do respetivo valor corresponde aos saldos de liquidação da AT2.

3.2.7.2. Resultado do exame

No relatório da CGE 2016 subsiste o tipo de informação reportado pelo Tribunal no PCGE 2015 como

inconsistente por não corresponder às “receitas por cobrar” nem traduzir as dívidas ao Estado, pois:

 A generalidade das entidades administradoras da receita do Estado apenas regista liquidações no SGR com a respetiva cobrança, não evidenciando, por essa razão, saldo de receitas por cobrar.

É o caso da DGTF com as contrapartidas devidas por implementação do princípio da onerosidade

já liquidadas e não pagas (€ 26,3 M), não dando origem a qualquer registo no SGR.

 O saldo de liquidação da receita administrada pela AT e registada no SGR (a que se refere a CGE) continua manifestamente subavaliado faltando registar no SGR as liquidações de impostos

abolidos ou não informatizados3 e sendo o saldo das liquidações registadas que, no final do ano,

se encontravam em execução fiscal (€ 11.740 M) muito inferior ao valor por cobrar em execução fiscal a 31/12/2016 (€ 18.691 M) reportado pela própria AT ao Tribunal (vide 3.2.3.1.).

 A autoliquidação também implica registar liquidação e cobrança com a mesma data-valor (operação a que recorrem IGCP, DGO e, em certos casos a AT, como refere o Relatório da CGE).

O RCRE prevê em norma transitória4 a intervenção dos serviços cobradores (com funções de

caixas do Tesouro, como o IGCP e a AT) na contabilização das receitas até as respetivas

entidades administradoras cumprirem as condições do regime para serem reconhecidas como tal.

Essa intervenção reflete no SGR: no caso do IGCP, as transferências de outras entidades para

receita do Estado e, no caso da AT, as entregas de receita do Estado nos serviços de finanças.

Assim, não gera um saldo de receitas por cobrar, pois limita-se ao registo da autoliquidação e da

cobrança, na data em que esta ocorre. Ora, apesar do RCRE estar em vigor desde 2001 e do SGR

ter sido utilizado por 113 entidades, a intervenção, ao abrigo dessa norma transitória, é ainda

significativa tendo o IGCP, nessa qualidade, refletido no SGR cobranças (e, simultaneamente,

autoliquidações) no valor de € 3.877 M, bem superior ao registado em 2015 (€ 2.612 M)5.

1 Volume I – Tomo 1 – III.2.1.1.6. Receitas Liquidadas por Cobrar no Final de 2016. O saldo no final do período resulta

das dívidas que transitaram do período anterior, acrescidas das liquidações ocorridas no período, abatidas das anulações

de liquidação e extinções de créditos equivalentes, bem como da cobrança bruta do período em análise. Trata-se de

liquidações emitidas e que ainda não foram objeto de cobrança, anulação ou extinção. 2 Relativamente aos outros três serviços apura-se um saldo de liquidação de apenas € 682. 3 Como é exemplo a contribuição especial devida pela valorização de imóveis decorrente da construção da nova Ponte

Vasco da Gama, cujo regulamento foi aprovado pelo Decreto-Lei 51/95, de 20/03. 4 Nos termos dos art. 6.º e 8.º do Decreto-Lei 301/99. 5 O valor registado pela AT é substancialmente menor, ainda que não seja possível isolar essas cobranças, dado que a AT

regista as cobranças recebidas nessa qualidade no balcão “0020 – Receita Diversa” conjuntamente com receitas que administra (como cobranças fora do circuito DUC efetuadas pelos serviços locais de finanças, relativas a impostos

abolidos ou não informatizados). A receita total registada pela AT no referido balcão ascende, em 2016, a € 278 M.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Em contraditório, a DGO alega que o documento único de cobrança (DUC) “(…) do SGR não visa responder à questão dos saldos por cobrar, que, de facto, apenas tem expressão no caso da AT, em que os registos

contabilísticos não decorrem da emissão e pagamento de DUC do SGR.” acrescentando que optou por implementar no SGR “(…) um prazo de cobrança dos DUC de 60 dias, após os quais os mesmos são anulados automaticamente pelo sistema originando registos de "Anulação de liquidação", minorando as situações de DUC

pendentes que ficam esquecidos pelos serviços.”

Cada DUC emitido deve ser objeto de registo, em liquidação, no SGR para relevar, em cada momento,

o valor já liquidado que se encontra por cobrar. O procedimento implementado, de anulação da

liquidação gerada por determinado DUC caso não seja cobrado no prazo de 60 dias, impede a adequada

relevação dos montantes liquidados e não cobrados.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 88

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Tribunal de Contas

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CAIXA 2 – ATIVIDADE DOS FUNDOS DE ESTABILIZAÇÃO TRIBUTÁRIO E ADUANEIRO

O Tribunal auditou a atividade, em 2015, do Fundo de Estabilização Tributário (FET) e do Fundo de

Estabilização Aduaneiro (FEA)1, dois fundos autónomos não personalizados e essencialmente destinados a

financiar os encargos com suplementos remuneratórios atribuídos a trabalhadores da AT2. Tal auditoria

concorreu para o Tribunal, no Juízo sobre a CGE desse ano constante do seu Parecer, expressar uma reserva

pela omissão de receitas do Estado contabilizadas diretamente pelas entidades às quais o respetivo produto

está consignado (FET e FEA incluídos) e uma ênfase pela omissão de disponibilidades dos organismos da

administração central nos saldos da contabilidade orçamental, destacando o FET (€ 105 M de saldo com € 1.079 M de disponibilidades).

Para verificar se as deficiências reportadas já se encontravam corrigidas, foi examinada a receita (que inclui

o saldo da gerência anterior) e a despesa dos dois Fundos reportada na CGE de 2016 e refletida nos quadros

seguintes, bem como as respetivas contas. Foram também examinadas as respostas ao questionário sobre o

acolhimento das recomendações.

Quadro B. 17 – Receita e Despesa do FET na CGE de 2016

(em milhares de euros)

Receita Valor Despesa Valor

Impostos Diretos 24 555 Transferências Correntes 71 325

Impostos Indiretos 15 872 Outras Despesas Correntes 930

Taxas, Multas e Outras Penalidades 21 335 Ativos Financeiros 121 325

Rendimentos da Propriedade 3 719

Transferências Correntes 38 378

Venda de Bens e Serviços Correntes 9 275

Saldo da gerência anterior 104 939

Total 218 073 Total 193 580

Fonte: CGE – Volume II – Tomo X (Mapa 31).

Quadro B. 18 – Receita e Despesa do FEA na CGE de 2016

(em milhares de euros)

Receita Valor Despesa Valor

Taxas, Multas e Outras Penalidades 3 075 Transferências Correntes 12 130

Rendimentos da Propriedade 185 Outras Despesas Correntes 46

Venda de Bens e Serviços Correntes 1 693

Saldo da gerência anterior 84 415

Total 89 368 Total 12 176

Fonte: CGE – Volume II – Tomo X (Mapa 31).

O exame revelou que, no essencial, essas deficiências subsistem, estando as contas do FET e do FEA (fluxos

de caixa) e os pertinentes mapas da CGE de 2016 ainda materialmente afetados por erros, como os quadros

e as observações seguintes evidenciam.

1 Entretanto verificou-se a fusão do FEA no FET, nos termos do Decreto-Lei 113/2017, de 07/09. 2 Vide Relatório de Auditoria n.º 04/2017-2.ª Secção, disponível em www.tcontas.pt.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Quadro B. 19 – Erros nos Fluxos de Caixa do FET

(em milhares de euros)

Fluxos de Caixa (FC) Registos Erros Identificação do Erro

Saldo Orçamental da Gerência Anterior 104 939 23 997 1 - Omissão (CGE e FC)

Saldo Extraorçamental da Gerência Anterior 950 000 950 000 2 - Omissão (CGE) / Especificação (FC)

Receita Orçamental 48 161 48 161 3 - Excesso (CGE e FC)

64 972 22 076 4 - Especificação (CGE e FC)

Receita Extraorçamental 2 247 720 2 247 720 5 - Excesso (FC)

Despesa Orçamental 193 580 121 325 6 - Excesso (CGE e FC)

Despesa Extraorçamental 2 126 395 2 126 395 7 - Excesso (FC)

Saldo Orçamental para a Gerência Seguinte 24 492 24 164 8 - Excesso (CGE e FC)

Saldo Extraorçamental para a Gerência Seguinte 1 071 325 1 071 325 9 - Omissão (CGE) / Especificação (FC)

Quadro B. 20 – Erros nos Fluxos de Caixa do FEA

(em milhares de euros)

Fluxos de Caixa (FC) Registos Erros Identificação de Erro

Saldo Orçamental da Gerência Anterior 295

Saldo Extraorçamental da Gerência Anterior 84 120 84 120 10 - Especificação (FC)

Receita Orçamental 4 953 4 953 11 - Especificação (CGE e FC)

8 096 8 096 12 - Excesso (FC)

Receita Extraorçamental 108 874 108 874 13 - Excesso (FC)

Despesa Orçamental 12 176

Despesa Extraorçamental 116 970 166 970 14 - Excesso (FC)

Saldo Orçamental para a Gerência Seguinte 1 168

Saldo Extraorçamental para a Gerência Seguinte 76 024 76 024 15 - Especificação (FC)

 Só parcialmente foi retificada (e só para o FET) a deficiente e inapropriada contabilização (erros 1, 3, 4, 8 e 11) da parte das receitas do Estado consignadas aos Fundos (uma prática excecional e transitória

nos termos da própria lei), bem como das despesas do Estado que estes financiam. Sublinha-se,

sobretudo, o indevido registo, como receitas de 2016, de € 24 M recebidos pelo FET em 2015 e de € 24 M não recebidos pelo FET até 31/12/2016.

 Continua por uniformizar o regime de pessoal, carreiras e estatuto remuneratório (incluindo suplementos) dos trabalhadores da AT.

 Não foi eliminada a afetação desnecessária dos recursos financeiros do Estado (corrigidos os saldos do FET e do FEA, verifica-se apenas a redução global de € 15 M, para € 1.149 M).

 Subsiste a inconsistência do saldo de disponibilidades nos documentos de prestação de contas por omissão dos equivalentes de caixa (CEDIC) do FET na CGE (erros 2 e 9), da sua incorreta

especificação, como saldo extraorçamental, nos fluxos de caixa do FET e do FEA (erros 2, 9, 10 e 15)

e da sua indevida inclusão em receita e/ou despesa (erros 5, 6, 7, 12, 13 e 14). Esta deficiência continua

patente entre o saldo do FET na CGE (€ 24 M) e as suas disponibilidades (€ 1.072 M).

Em contraditório, a DGO e a AT alegam que, com a entrada em vigor do OE para 2016 (no final do primeiro

trimestre desse ano), foram estabelecidas as condições necessárias para regularizar a contabilização das

receitas do Estado consignadas ao Fundo.

Ora, como os quadros ilustram e as contas do FET e do FEA até 07/09/2017 (já entregues ao Tribunal devido

à fusão do FEA no FET) confirmam, a maior parte dessas receitas continua sem ser registada em

transferências do Estado.

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Tribunal de Contas

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Também em contraditório, o MF e a AT alegam que a inconsistência do saldo de disponibilidades nos

documentos de prestação de contas, por omissão dos equivalentes de caixa (CEDIC), decorre das instruções

constantes das Circulares Série A n.º 1379, de 18/12/2015, e n.º 1387, de 03/08/2017.

Sobre esta questão refere-se que a mesma ficará resolvida com a entrada em vigor e plena aplicação do SNC-

AP, o que está legalmente previsto para 01/01/2018. A demonstração dos fluxos de caixa passará a evidenciar

no saldo, também, os equivalentes de caixa.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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3.3. Despesa da administração central

A CGE 2016 apresenta a despesa paga pelos SI e pelos SFA em mapas agregados por classificação

orgânica, funcional e económica1, em mapas que cruzam estas classificações2, podendo também

abranger outros classificadores3, e em mapas comparativos com a despesa registada no ano anterior4. O

Relatório da CGE analisa a despesa da administração central no seu conjunto e a execução orçamental

por programas.

Nos pontos seguintes examina-se a execução da despesa por classificação económica (face ao orçamento

e ao ano anterior) e por programas; o quadro plurianual de programação orçamental; e a fiabilidade e

comparabilidade dos valores. A este exame estão subjacentes os princípios orçamentais da LEO, em

particular os da unidade e universalidade, da especificação, da anualidade e da transparência.

3.3.1. Despesa por classificação económica

O quadro seguinte evidencia a despesa consolidada da administração central: i) a inscrita na CGE

(dotação disponível e execução); ii) a considerada no presente Parecer (ajustamentos metodológicos em

relação aos valores da CGE e execução considerada); e iii) a variação face à execução de 2015. As

diferenças metodológicas, em relação à CGE, são:

 Na “despesa efetiva”, sem ativos e passivos financeiros (vide a correspondente linha A do quadro seguinte), a CGE consolida (elimina) transferências (correntes e de capital) e juros classificados

como pagos entre entidades da administração central, bem como a aquisição de bens e serviços

entre entidades do programa Saúde. Eventuais montantes que não tenham correspondência na

receita são reclassificados, com uma classificação económica distinta, em “diferenças de consolidação”. Neste Parecer são consolidadas as transferências, nos juros, apenas os pagos por SFA a entidades da administração central5 e, no programa Saúde, apenas as aquisições da ACSS

a entidades do SNS. As divergências verificadas com a receita correspondente são mantidas na

respetiva classificação económica6;

 Adicionalmente, considerou-se a despesa em certos ativos financeiros de médio e longo prazos7 e os passivos financeiros das Parups, Parvalorem e Parparticipadas relativos a reembolsos de

empréstimos da CGD referentes ao BPN (cfr. Caixa BPN).

1 Mapas II a IV e VII a IX. 2 Mapas 19 a 21 e 28 a 30. 3 Designadamente, os mapas 22 e 31. 4 Mapas 13 a 18 e 26 a 27. 5 A CGE não apresenta informação fiável sobre o pagamento de juros dos serviços integrados a outras entidades da

administração central: a despesa dos SI é de € 30 M, quando, só a CGA reportou ao Tribunal ter recebido € 188 M relativos a juros de títulos da dívida pública.

6 Sobre o processo de consolidação, cfr. ponto 14.2. 7 Empréstimos a médio e longo prazos, ações e outras participações, unidades de participação e outros ativos financeiros,

dos serviços integrados e de SFA não EPR, exceto os que tenham como beneficiário outra entidade da administração

central.

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Tribunal de Contas

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Quadro B. 21 – Despesa face ao orçamento e evolução face ao ano anterior (2015-2016), por classificação económica

(em milhões de euros)

Classificação Económica

PCGE

2015 CGE 2016 PCGE 2016 Variação 2016/15

Execução

consolidada

(1)

Dotação

disponível

(2)

Taxa de

execução

(3)=(4)/(2)

Execução

consolidada

(4)

Ajustam.

Metodo-

logia (5)

Execução

consolidada

(6)=(4)+(5)

Valor

(7)=(6)-

(1)

%

(8)=(7)/

(1)*100

Despesas correntes, exceto a) a c) 57 837 61 300 96,4 59 090 241 59 331 1 493 2,6

01 - Despesas com pessoal, das quais: 15 218 16 250 97,5 15 837 0 15 837 619 4,1

Remunerações certas e permanentes, das quais: 11 028 11 670 97,4 11 365 11 365 337 3,1

Pessoal dos quadros 7 423 7 859 97,2 7 635 7 635 212 2,9

Pessoal contratado a termo 534 622 95,9 597 597 62 11,6

Abonos variáveis ou eventuais 847 939 97,8 919 919 72 8,5

Segurança social, das quais: 3 344 3 641 97,6 3 553 3 553 210 6,3

Contribuições para a segurança social 2 646 2 889 98,0 2 830 2 830 185 7,0

02 - Aquisição de bens e serviços, exceto a) 8 739 9 343 91,4 8 541 206 8 746 7 0,1

03 - Juros e outros encargos, exceto b), dos quais 7 817 8 192 97,3 7 974 34 8 008 191 2,4

Juros da dívida pública 7 433 7 866 98,1 7 715 34 7 750 316 4,3

Outros juros 282 174 73,2 127 127 -155 -54,9

04 - Transferências correntes, exceto c), das quais para: 24 715 25 781 98,1 25 299 31 25 330 616 2,5

Regiões autónomas 0 362 97,9 355 355 354

Famílias 10 183 10 536 98,3 10 353 10 353 169 1,7

05 – Subsídios 739 719 89,2 641 641 -98 -13,3

06 - Outras Despesas Correntes, das quais: 609 951 80,8 768 768 159 26,1

Estabelecim. de Educação e Ensinos Básico e Secundário 271 420 91,1 383 383 112 41,5

Divergências de consolidação 63 31 -31 0

Despesas de capital, exceto d) a h) 4 027 4 736 77,0 3 645 3 645 -382 -9,5

07 - Aquisição de Bens de Capital, das quais: 2 764 3 436 73,2 2 515 2 515 -249 -9,0

Infraestruturas de Portugal - PPP 1 297 1 946 86,6 1 686 1 686 389 30,0

Infraestr de Portugal - construção, requalif. e conservação 164 25 58,7 15 15 -149 -90,9

EDIA 172 45 68,1 31 31 -141 -82,1

Parque Escolar 121 89 39,2 35 35 -86 -71,1

Entidades do Ministério do Ambiente 132 121 44,3 54 54 -78 -59,3

Entidades do Min. da Ciência, Tec. e Ensino Superior 156 196 41,6 81 81 -75 -47,9

08 - Transferências de Capital, exceto d), das quais para: 1 182 1 117 90,2 1 007 29 1 036 -146 -12,3

Regiões autónomas 467 142 100,0 142 142 -325 -69,6

Instituições da UE pagas pelo Fundo de Resolução 0 149 n.a 145 145 145 -

11 - Outras despesas de capital 81 100 93,3 94 94 13 15,8

Divergências de consolidação 82 29 -29 0

A - Despesa sem ativos nem passivos financeiros 61 864 66 036 95,0 62 735 241 62 976 1 111 1,8

B - Ativos financeiros, excepto e) a h), dos quais: 3 410 912 912 -2 498 -73,2

Capitalização do BANIF 2 255 -2 255 -100,0

Empréstimo de médio e longo prazo à RAM 319 -319 -100,0

Empréstimo de MLP do IAPMEI a empresas privadas 266 388 388 122 46,1

C - Passivos fin Parvalorem, Parups, Parparticipadas 478 384 384 -94 -19,7

D – Ativos e passivos financeiros considerados (A+B+C) 65 752 66 036 95,0 62 735 1 537 64 272 -1 480 -2,3

E - Despesas excluídas 96 117 114 774 76,4 87 681 -1 537 86 144 -9 973 -10,4

a) Consolidação de despesas no programa Saúde 4 383 4 905 100,0 4 906 -207 4 699 316 7,2

b) Consolidação de juros 196 241 75,4 182 -25 157 -40 -20,3

c) Consolidação de transferências correntes 15 776 18 173 97,7 17 757 -9 17 748 1 972 12,5

d) Consolidação de transferências de capital 462 1 576 88,2 1 391 1 391 929 201,3

e) Ativos financeiros de EPR 3 686 2 118 64,4 1 364 1 364 -2 323 -63,0

f) Ativos fin em depósitos, equiv, títulos e em emprést. CP 1 238 1 414 42,3 598 598 -640 -51,7

g) Ativos financeiros em empréstimos de ML prazos 1 482 3 208 52,3 1 678 -590 1 088 -393 -26,6

h) Dotações de capital, participações e outros ativos fin. 2 952 2 680 82,2 2 204 -323 1 881 -1 071 -36,3

i) Passivos Financeiros 65 942 80 459 71,6 57 602 -384 57 218 -8 724 -13,2

TOTAL DA DESPESA 161 869 180 809 83,2 150 416 0 150 416 -11 453 -7,1

Fonte: SIGO - Sistema de Informação para a Gestão Orçamental.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 93

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

66

No ponto 3.3.4 identifica-se um conjunto de situações que afetam a correção dos dados apresentados na

CGE.

3.3.1.1. Execução face ao orçamento

A despesa consolidada evidenciada na CGE, sem ativos nem passivos financeiros, cifrou-se em

€ 62.735 M (vd. linha A, coluna 4, do quadro anterior), o que representou 95,0% da dotação disponível (orçamento final, deduzido de cativos1).

As taxas de execução, por agrupamento económico, ultrapassaram os 90,0% nas despesas com pessoal,

transferências, aquisição de bens e serviços e juros e outros encargos. A aquisição de bens de capital registou

a taxa mais baixa, 73,2%, com € 921 M não utilizados. Para este resultado contribuíram de forma mais significativa a Infraestruturas de Portugal (não utilizou € 317 M, dos quais € 260 M no âmbito das PPP) e os estabelecimentos de ensino superior e respetivos serviços de apoio, incluindo EPR (que, no final do

ano dispunham ainda de € 111 M de dotação neste agrupamento de despesa).

3.3.1.2. Execução face ao ano anterior

A despesa consolidada sem ativos nem passivos financeiros, considerando diferenças de metodologia em

relação à CGE, totalizou € 62.976 M, um aumento de € 1.111 M (1,8%) face ao ano anterior, impulsionado pelo verificado nas despesas correntes em € 1.493 M (2,6%) e pela redução das despesas de capital em € 382 M (-9,5%).

Os principais aumentos de despesa ocorreram nos seguintes agrupamentos:

Despesas com pessoal – crescimento de € 619 M (4,1%), passando para € 15.837 M, salientando-se o aumento das remunerações certas e permanentes (€ 337 M)2, e da segurança social (€ 210 M, dos quais € 185 M em contribuições). Por ministério registaram-se maiores aumentos na Educação (€ 238 M) 3 e na Saúde (€ 206 M, sendo as instituições do SNS responsáveis por € 201 M).

Transferências correntes – subida de € 616 M (2,5%), totalizando € 25.330 M, com destaque para as destinadas às administrações regionais, ao abrigo da repartição de solidariedade, que ascenderam a

€ 354 M em 2016 (em 2015 foram processadas como transferências de capital, no montante de € 352 M) e para as pagas pelo IFAP às famílias, que aumentaram € 221 M.

Juros e outros encargos – aumento de € 191 M, totalizando € 8.008 M (cfr. ponto 4.1).

Outras despesas correntes – um crescimento de € 159 M (26,1%), totalizando € 768 M, sendo de assinalar o aumento das processadas pelo Ministério da Educação, em € 120 M, dos quais € 112 M registados na orgânica Estabelecimentos de Educação e Ensinos Básico e Secundário.

1 Os cativos, nas dotações de despesa efetiva consolidada, totalizaram € 1.005 M (1,5% do total), com destaque para

€ 552 M na aquisição de bens e serviços e € 223 M nas outras despesas correntes. 2 Para o que contribuiu a reversão, faseada, da redução remuneratória (Leis 75/2014, de 12/9, e 159-A/2015, de 30/9, art.

2.º). 3 Dos quais € 234 M no Programa Ensino Básico e Secundário e Administração Escolar, que resultou, em parte, do

adiamento, para 2016, de pagamentos relativos a encargos com contribuições para os sistemas de proteção social.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 94

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Tribunal de Contas

67

As maiores diminuições de despesa verificaram-se nos seguintes agrupamentos:

Aquisição de bens de capital (investimento) – com uma redução de € 249 M (-9,0%), ascendendo a € 2.515 M, com destaque para a quebra das despesas da Infraestruturas de Portugal com construção, requalificação e conservação periódica de vias (€ 149 M, contrabalançados com o aumento da despesa com concessões em € 389 M) e da EDIA (em € 141 M, essencialmente em construções diversas). Assinalam-se também as reduções de despesa registadas pelo conjunto dos serviços dos Ministérios da

Educação (€ 88 M), do Ambiente (€ 78 M), da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (€ 75 M) e da Saúde (€ 47 M).

Transferências de capital – diminuição de € 146 M (-12,3%), fixando-se nos € 1.036 M, com destaque para as destinadas às administrações regionais, ao abrigo da repartição de solidariedade (€ 352 M em 2015) que, no corrente ano, foram pagas por transferências correntes (€ 354 M). Em sentido inverso, salientam-se as transferências, de 2016, do Fundo de Resolução para a União Europeia – Instituições € 145 M), relativas às contribuições das instituições financeiras para o Fundo Único de Resolução.

Já quanto aos ativos financeiros considerados verificou-se uma redução de € 2.498 M (-73,2%), ascendendo a € 912 M, com destaque para operações que ocorreram em 2015, sem correspondência em 2016, que abrangem a capitalização do Banif (€ 2.255 M) e os empréstimos de médio e longo prazos concedidos à Região Autónoma da Madeira (€ 319 M). Em sentido inverso, aumentaram os empréstimos de médio e longo prazos concedidos pelo IAPMEI a empresas privadas (€ 122 M).

A despesa em passivos financeiros considerados, referente a amortizações pela Parvalorem, Parups e

Parparticipadas de empréstimos concedidos pela CGD no âmbito da privatização do BPN, diminuiu

€ 94 M (-19,7%), ascendendo a € 384 M.

Incluindo o impacto dos ativos e passivos financeiros considerados e as diferenças metodológicas, a

despesa totalizou € 64.272 M.

3.3.2. Despesa por programas

O quadro seguinte mostra, por programa orçamental1, a despesa consolidada, excluindo ativos e passivos

financeiros, paga pelos serviços da administração central e a sua distribuição pelas classificações

económicas com maior volume de despesa (parte A). Na linha “C – Despesa consolidada” são excluídos os montantes da linha “B – transferências e juros consolidados entre programas”.

1 Em 2016, conforme em anos anteriores, a cada ministério correspondeu um programa orçamental, exceto no das Finanças

(PO04 e PO05).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 95

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Quadro B. 22 – Despesa consolidada da administração central por programa orçamental e agrupamentos de despesa

(em milhões de euros)

Programa orçamental

Despesa paga 01

Despesas

com

pessoal

02

Aquisição

de bens e

serviços

03

Juros

04, 05, 08

Transfe-

rências e

subsídios

06, 07, 11

Outras Valor Estr

(%)

A – Despesa sem ativos e passivos financeiros, transferências, juros dentro do programa ou aquisições da ACSS a entidades do SNS

63 170 100,0 15 837 8 746 8 051 27 158 3 377

PO01 - Órgãos de soberania 3 180 5,0 116 26 0 3 032 6

PO02 - Governação 130 0,2 79 27 0 16 8

PO03 - Representação externa 354 0,6 182 44 0 104 24

PO04 - Finanças 3 533 5,6 551 213 276 2 356 137

PO05 - Gestão da dívida pública 7 381 11,7 0 0 7 380 0 1

PO06 - Defesa 1 952 3,1 1 248 438 0 24 242

PO07 - Segurança interna 1 966 3,1 1 607 221 0 103 36

PO08 - Justiça 1 391 2,2 1 062 269 0 26 34

PO09 - Cultura 411 0,7 144 186 3 58 20

PO10 - Ciência, tecnologia e ensino superior 2 180 3,5 1 301 286 0 491 102

PO11 - Ensino Básico e secundário e administração escolar 6 127 9,7 4 628 107 23 835 534

PO12 - Trabalho, solidariedade e segurança social 19 513 30,9 369 232 1 18 864 47

PO13 - Saúde 9 881 15,6 3 763 5 902 10 63 143

PO14 - Planeamento e infraestruturas 2 909 4,6 335 487 178 119 1 790

PO15 - Economia 497 0,8 117 88 1 258 35

PO16 - Ambiente 598 0,9 141 134 173 84 68

PO17 - Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural e Mar 1 116 1,8 171 78 6 715 146

PO18 - Mar 51 0,1 25 9 0 11 5

B – Transferências e juros consolidados entre programas 194 43 151

C – Despesa da AC consolidada sem ativos ou passivos (A-B) 62 976 15 837 8 746 8 008 27 007 3 377

Estrutura da despesa (%) 100,0 25,1 13,9 12,7 42,9 5,4

Fonte: SIGO - sistema de informação para a gestão orçamental.

Em cada programa destaca-se:

O PO12 – Trabalho, solidariedade e segurança social gastou € 19.513 M (30,9% do total), do qual € 18.864 M relativos a transferências correntes, de capital e subsídios (€ 9.641 M1 de pagamentos às famílias , € 8.800 M2 à segurança social e € 251 M3 a sociedades e quase sociedades não financeiras); € 369 M a despesas com pessoal (dos quais € 138 M pagos pelo IEFP, € 117 M pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa) e € 232 M a aquisição de bens e serviços (dos quais € 97 M pagos pelo IEFP e € 62 M pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa).

O PO13 – Saúde apresentou € 9.881 M de despesa (15,6% do total), com relevo para € 5.902 M na aquisição de bens e serviços (dos quais € 5.303 M pagos por entidades do SNS4 e € 487 M pela ADSE5) € 3.763 M nas despesas com pessoal (dos quais € 3.646 M pagos por entidades do SNS).

1 Deste montante, € 9.524 M foram pagos pela CGA relativos e pensões e abonos e € 78 M pelo IEFP. 2 Dos quais € 7.401 M pagos ao abrigo da Lei de bases, € 774 M, relativos ao IVA social e € 478 M relativos às pensões

dos bancários, bem como € 145 M pagos pela CGA para pensões e outros abonos da sua responsabilidade processados pela segurança social aos beneficiários finais.

3 Dos quais € 248 M pagos pelo IEFP, destinando-se € 223 M a empresas privadas. 4 Salientam-se € 1.889 M na aquisição de serviços de saúde, € 1.351 M na aquisição de produtos vendidos nas

farmácias, € 1.092 M em produtos químicos e farmacêuticos e € 366 M em material de consumo clínico. 5 € 485 M na aquisição de outros serviços de saúde.

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Tribunal de Contas

69

O PO05 – Gestão da dívida pública utilizou € 7.381 M (11,7% do total), do qual € 7.380 M em juros e outros encargos.

Os PO11 – Ensino básico e secundário e administração escolar e PO10 – Ciência, tecnologia e ensino superior gastaram, no seu conjunto, € 8.307 M (13,2% do total), sendo de destacar € 5.929 M em despesas com pessoal (dos quais, € 4.531 M na orgânica Estabelecimentos de Educação e Ensinos Básico e Secundário e € 1.285 M nos estabelecimentos de ensino superior e serviços de apoio, incluindo as universidades fundação); € 1.326 M em transferências correntes, de capital e subsídios (dos quais € 327 M pagos a famílias1, € 321 M à administração local2, € 263 M a sociedades e quase sociedades não financeiras privadas3, € 173 M a instituições sem fins lucrativos4 e € 159 M à segurança social5); € 636 M de outras despesas (€ 433 M e € 77 M nas rubricas residuais de outras despesas correntes e de capital, respetivamente6 e € 125 M em aquisição de bens de capital7); e € 394 M em aquisição de bens e serviços (dos quais € 271 M pagos pelos estabelecimentos de ensino superior e serviços de apoio, incluindo as universidades fundação, e € 52 M pela Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares).

Os PO06 – Defesa, PO07 – Segurança interna e PO08 – Justiça utilizaram € 5.309 M no seu conjunto (8,4% da despesa), sendo de salientar as despesas com pessoal, a aquisição de bens e serviços correntes, e a

aquisição de bens de capital, que totalizaram € 3.917 M8, € 928 M9 e € 269 M10, respetivamente.

Os PO01 - Órgãos de soberaniaPO02 – Governação e PO03 – Representação externa apresentaram, no seu conjunto, € 3.664 M de despesa (5,8% do total), especialmente com transferências correntes, de capital e subsídios, que ascenderam a € 3.152 M (dos quais € 2.518 M para a administração local11, € 496 M para a administração regional12 e € 87 M para o resto do mundo13) e em despesas com pessoal, que ascenderam a € 377 M (€ 122 M pagas pela Gestão Administrativa e Financeira do Orçamento do MNE, que inclui as remunerações dos serviços externos do ministério, € 45 M pela Assembleia da República, € 33 M pelo Instituto Camões, € 28 M pelo Instituto Nacional de Estatística e € 23 M pela AICEP).

1 Os principais pagadores foram a Direção-Geral do Ensino Superior € 131 M, a Fundação para a Ciência e Tecnologia

€ 102 M e os estabelecimentos de ensino superior e serviços de apoio, incluindo as universidades fundação € 77 M. 2 Destacam-se os pagamentos de € 216 M pela orgânica Estabelecimentos de Educação e Ensinos Básico e Secundário e

€ 105 M pela Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares. 3 Deste montante, € 145 M foram pagos pela Direção-Geral de Administração Escolar e € 115 M pela Direção-Geral dos

Estabelecimentos Escolares. 4 Inclui € 77 M pagos pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e € 49 M pelo Instituto Português do Desporto e da

Juventude. 5 € 129 M pelo Instituto de Gestão Financeira da Educação e € 30 M pela orgânica Estabelecimentos de Educação e

Ensinos Básico e Secundário. 6 Destes montantes € 383 M e € 77 M, respetivamente, foram registados na orgânica Estabelecimentos de Educação e

Ensinos Básico e Secundário, correspondendo a transferências para as contas bancárias das escolas, por conta das quais

estas procedem posteriormente a pagamentos a terceiros. 7 Destacam-se € 63 M pagos pelos estabelecimentos de ensino superior e serviços de apoio, incluindo as universidades

fundação e € 35 M pagos pela Parque Escolar, essencialmente, no âmbito do Programa de modernização do parque escolar.

8 Pagos pelos três ramos das Forças Armadas (€ 1.044 M), pela GNR (€ 827 M), pela PSP (€ 705 M) e pela Direção-Geral

da Administração da Justiça (€ 480 M), pelo Instituto dos Registos e do Notariado (€ 191 M) e pela Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (€ 184 M).

9 Foram responsáveis pelo maior volume de aquisições os três ramos das Forças Armadas (€ 254 M), o Instituto de Gestão

Financeira e Equipamentos da Justiça (€ 107 M) e a Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional (€ 95 M). 10€ 187 M pagos pelos três ramos das Forças Armadas. 11Destacam-se € 1.748 M no âmbito do fundo de equilíbrio financeiro, € 399 M na participação dos municípios no IRS,

€ 189 M no fundo de financiamento das freguesias e € 163 M no fundo social municipal. 12 € 354 M a título de repartição de solidariedade e € 142 M do fundo de coesão. 13 Dos quais € 72 M em contribuições e quotizações para organizações internacionais.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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O PO04 – Finanças utilizou € 3.533 M (5,6% do total), dos quais € 2.356 M em transferências correntes, de capital e subsídios (destes, para o resto do mundo/União Europeia/instituições € 2.035 M1, para famílias € 105 M 2, para sociedades financeiras € 84 M3 e para sociedades e quase sociedades não financeiras € 63 M4), € 551 M em despesas com pessoal (€ 447 M pagos apenas pela Autoridade Tributária e Aduaneira), € 276 M em juros e outros encargos (com € 171 M pagos pela Parpública e € 95 M pelas sociedades veículo criadas no âmbito da nacionalização e reprivatização do BPN) e € 213 M em aquisição de bens e serviços (mais de metade, € 120 M, pagos pela Autoridade Tributária e Aduaneira).

Os PO14 – Planeamento e infraestruturas e PO15 – Economia utilizaram € 3.407 M (5,4% do total), dos quais € 1.787 M em aquisição de bens de capital (€ 1.758 M pagos pela Infraestruturas de Portugal, destacando-se os investimentos de € 1.686 M em PPP na área dos transportes e comunicações e de € 44 M em transportes ferroviários), € 575 M em aquisição de bens e serviços (€ 468 M em atividades ou projetos ligados aos transportes5) € 452 M em despesas com pessoal (dos quais € 114 M pagos pela Infraestruturas de Portugal e € 107 M pela CP), € 377 M em transferências correntes, de capital e subsídios (dos quais € 143 M para entidades da administração central6, € 92 M a sociedades e quase sociedades não financeiras7 e € 76 M a sociedades financeiras8) e € 178 M em juros e outros encargos (€ 133 M pagos pela Infraestruturas de Portugal e € 40 M pela CP).

Os PO16 – Ambiente, PO17 – Agricultura, florestas, desenvolvimento do território e mar e PO18 – Mar gastaram € 1.765 M (2,8% do total), destacando-se as despesas com transferências correntes, de capital e subsídios, que ascenderam a € 810 M. Foram transferidos € 388 M para famílias (€ 379 M pelo IFAP9), € 320 M para sociedades e quase sociedades não financeiras (€ 253 M pelo IFAP10 e € 60 M pelo Fundo Português do Carbono11) e € 61 M para instituições sem fins lucrativos (€ 48 M pelo IFAP). As despesas com pessoal totalizaram € 337 M (dos quais € 82 M em EPR de transportes e € 48 M nas direções regionais de agricultura e pescas), a aquisição de bens e serviços € 221 M (dos quais € 110 M em EPR de transportes), as outras despesas correntes € 121 M (dos quais € 101 pagos pelos IFAP) e a aquisição de bens de capital a € 94 M (dos quais € 37 M pagos por EPR de transportes e € 31 M pela EDIA).

O PO09 – Cultura utilizou € 411 M (0,7% do total), salientando-se a aquisição de bens e serviços (€ 186 M, dos quais € 156 M pagos pela RTP) e as despesas com pessoal (€ 144 M, dos quais € 73 M pagos pela RTP).

1 € 1.883 M relativos a recursos próprios comunitários, e € 145 M correspondendo às contribuições das instituições

financeiras para o Fundo Único de Resolução. 2 Destacam-se € 47 M relativos ao subsídio social de mobilidade e € 24 M pagos pelo Fundo de Garantia Automóvel e o

Fundo de Acidentes de Trabalho. 3 € 48 M relativos a bonificações no crédito à habitação e € 30 M pagos pelo Fundo de Acidentes de Trabalho a

companhias de seguros e fundos de pensões. 4 € 43 M pagos a empresas de transportes públicas e privadas. 5 € 191 M em transportes ferroviários, € 74 M na conservação da rede ferroviária, € 71 na conservação da rede rodoviária,

€ 61 M em infraestruturas de transporte e € 40 M em infraestruturas da rede viária. 6 Destacam-se as transferências da Autoridade Nacional das Comunicações para o Estado (€ 31 M) e da Autoridade

Nacional de Aviação Civil para o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (€ 19 M) e PSP (€ 16 M). 7 Dos quais € 65 M pagos pelo IAPMEI. 8 Essencialmente pagos pelo Fundo de Contragarantia Mútuo. 9 Dos quais € 333 M no Programa de desenvolvimento rural 2014-2020 e € 41 M no âmbito da atividade Produção agrícola

(culturas anuais e permanentes, exceto viticultura). 10 € 196 M no Programa de desenvolvimento rural 2014-2020, € 27 M no PROMAR (Programa operacional da pesca 2007-

2013) e € 26 M no âmbito da atividade Produção agrícola (culturas anuais e permanentes, exceto viticultura). 11 Relativos a atividades de Proteção do ambiente e gestão de recursos naturais, ar, água e solos.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 98

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Tribunal de Contas

71

Segundo a LEO, um programa orçamental inclui as despesas correspondentes a um conjunto de medidas

que concorrem para a concretização de objetivos específicos relativos a políticas públicas, integrando

necessariamente um conjunto de indicadores que permitam avaliar a economia, a eficiência e a eficácia

da sua realização.

O Relatório da CGE quanto à execução dos programas (págs. 175 a 266) foca-se especialmente na

descrição dos recursos financeiros utilizados, apresentando as despesas por agrupamento de

classificação económica e a identificação das classificações económicas com maior peso na despesa 1.

Apenas quatro dos 18 programas orçamentais apresentam os resultados obtidos, partindo dos objetivos,

indicadores e medidas de política económica2, que não foram previamente definidos no Relatório do

OE. Quanto aos outros, num informa quanto aos recursos utilizados3, em quatro menciona apenas

objetivos ou orientações políticas4 e em nove descreve as atividades executadas, sem identificar

indicadores de medida ou quantificar o seu cumprimento.

Constata-se que a orçamentação por programas, visando focar a discussão do orçamento e da sua

execução nos resultados obtidos com os recursos utilizados, mediante a avaliação do cumprimento de

indicadores relevantes, carece ainda de desenvolvimentos significativos.

3.3.3. O quadro plurianual de programação orçamental

A LEO, visando a disciplina das finanças públicas e o cumprimento dos compromissos de coordenação

das políticas económicas e orçamentais assumidos com a UE, incorporou o Pacto Orçamental e

introduziu o princípio da plurianualidade5, abrangendo a aprovação de um quadro plurianual de

programação orçamental (QPPO), alinhado com as Grandes Opções do Plano e com o Plano de

Estabilidade e Crescimento.

A proposta do QPPO foi apresentada em simultâneo com a primeira proposta de lei do OE após a tomada

de posse do Governo6, sendo o mesmo aprovado pela Lei 7-C/2016, de 30/3. Porém, dos elementos

previstos na LEO, apresenta apenas os limites da despesa da administração central financiada por

receitas gerais e, contrariando a LEO (lei de valor reforçado), atribui caráter indicativo aos limites de

despesa de 2017 a 2019 e determina que os limites de despesa por programa e área podem ser

modificados em virtude de alterações orçamentais7.

O QPPO deveria conter também8:

 Uma descrição das políticas previstas a médio prazo com impacto nas finanças das administrações públicas, distribuídas pelas rubricas mais relevantes em termos de despesas e

1 A informação, mais ou menos detalhada, prestada no âmbito de cada programa, varia, abrangendo, designadamente:

identificação das principais despesas, por serviço pagador, principais grupos recebedores ou tipo de despesa (18); despesa

por medidas (17); informações quanto às receitas obtidas (4). 2 PO02 – Governação; PO09 – Cultura; PO12 – Trabalho, solidariedade e segurança social; PO14 – Planeamento e

Infraestruturas. 3 PO01 – Órgãos de soberania. 4 PO05 – Gestão da dívida pública, PO06 – Defesa, PO08 - Justiça e PO15 – Economia. 5 Cfr. 5.ª, 7.ª e 8.ª revisões, operadas pelas Leis n.º 22/2011, de 20/5, n.º 37/2013, de 14/6, e n.º 41/2014, de 10/7. 6 Em cumprimento do art. 12.º-D da LEO. 7 Segundo a LEO os limites da despesa são vinculativos para cada programa orçamental no primeiro ano, para cada

agrupamento de programas no segundo ano e para o conjunto dos programas nos terceiro e quarto anos seguintes. 8 Cfr. art. 12.º-D da LEO.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 99

Página 100

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

72

receitas, revelando a forma como é realizado o ajustamento aos objetivos orçamentais a médio

prazo em comparação com as projeções baseadas em políticas invariantes;

 Uma avaliação do modo como, atendendo ao seu impacto direto a longo prazo sobre as finanças das administrações públicas, as políticas previstas poderão afetar a sustentabilidade a longo prazo

das finanças públicas;

 Projeções de receitas gerais e próprias dos organismos da administração central e do subsector da segurança social para os quatro anos seguintes.

Refira-se que parte destes elementos constam do Programa de Estabilidade 2016-2020, apresentado no

mês seguinte (abril/2016), que inclui uma previsão para a conta das administrações públicas em

percentagem do PIB para aquele horizonte temporal e uma tabela com a projeção da receita e despesa

totais com políticas invariantes, bem como análises de sustentabilidade das finanças públicas a longo

prazo.

O QPPO 2016/2019, aprovado na Lei 7-C/2016, reviu os limites de despesa anteriormente aprovados

para os anos 2016 a 2018, em violação da parte final do n.º 5 do art. 12.º-D da LEO, conforme se

evidencia no gráfico seguinte.

Gráfico B. 2 – Revisões do quadro plurianual de programação orçamental

Fonte: Documentos mencionados na legenda.

A Lei 7-C/2016 alargou os limites de despesa do QPPO que, para o horizonte temporal 2017-2019,

foram logo reduzidos no programa de estabilidade 2016-2019, apresentado à UE em abril de 20161.

As sucessivas revisões dos limites vinculativos do QPPO (incluindo variações significativas no espaço

de um mês), além de contrários à LEO, indiciam fragilidades no processo da sua fixação, que devem ser

colmatadas, de forma a assegurar o comprimento dos objetivos do QPPO, designadamente, de confinar

as decisões políticas dos órgãos legislativo e executivo e de se constituir como um indicador fiável da

gestão orçamental, tornando-se num efetivo instrumento de disciplina das finanças públicas.

Em contraditório, o Ministro das Finanças e a DGO referem que LEO permite a revisão anual dos valores

do QPPO. Ora, as alterações permitidas pela LEO são as que cabem nas margens das vinculações

impostas no n.º 5 do art. 12.º-D. A possibilidade de revisão anual dos valores referida pelo Ministro das

1 Em 2017, repete-se a fórmula, aumentando os limites na revisão do QPPO no âmbito da LOE, de 28/12/2016, para logo

de seguida, para os anos 2018 e 2019, os reduzir no Programa de Estabilidade apresentado em abril de 2017.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 100

Página 101

Tribunal de Contas

73

Finanças e pela DGO são admitidas pela nova LEO, mas apenas em circunstâncias excecionais (art. 35.º,

n.os 3 e 6). Só deste modo se assegura a eficácia disciplinadora das finanças públicas, que é o principal

propósito do Quadro Plurianual das Despesas Públicas. Porém, este novo regime só é aplicável a partir

de setembro de 2018 (n.º 2 do art.º 8.º da Lei 151/2015).

O quadro seguinte mostra os sucessivos valores aprovados para o QPPO do ano 2016, bem como os

desvios verificados no OE aprovado e na execução orçamental ajustada1 face aos limites fixados na Lei

7-C/2016.

Quadro B. 23 – QPPO 2016 – previsão, revisões, execução e desvio

(em milhões de euros)

Despesa coberta por receitas gerais

Limites OE

(dotações

de

despesa)

Desvio

OE

Execução

CGE

Execução

CGE

ajustada

Desvio

face à

Lei

7-C/2016

Lei

28/2012

OE/2013

OE/2014 OE/2015 Lei

7-C/2016

Soberania 4 226 4 571 4 590 -19 4 364 4 540 31

P001 - Órgãos de soberania 3 159 3 178 -19 3 167 3 167 -8

P002 - Governação 110 110 99 99 11

P003 - Representação Externa 285 285 267 267 18

P008 - Justiça 742 742 739 739 3

P009 - Cultura 275 275 91 (b) 267 8

Segurança 3 334 3 335 3 335 3 243 3 243 92

P006 - Defesa 1 722 1 722 1 635 1 635 87

P007 - Segurança Interna 1 613 1 613 1 608 1 608 5

Social 28 338 28 035 28 069 -34 28 725 28 725 -690

P010 - Ciência Tecnologia e Ensino Superior 1 397 1 397 1 415 1 415 -18

P011 - Ensino Básico e Secund. e Admin. Escolar 5 081 5 081 5 510 5 510 -429

P012 - Trabalho, Solidariedade e Seg. Social 13 586 13 620 -34 13 601 13 601 -15

P013 - Saúde 7 971 7 971 8 200 8 200 -229

Económica 11 574 (a) 11 513 (a) 11 613 -100 11 080 11 257 256

P004 - Finanças e Administração Pública (a) 2 592 (a) 2 642 2 393 2 393 199

P005 - Gestão da Dívida Pública 7 546 7 546 7 379 7 379 167

P014 - Planeamento e Infraestruturas 762 762 614 (c) 777 -15

P015 - Economia 202 252 -50 236 236 -34

P016 - Ambiente 80 80 62 (d) 72 8

P017 - Agricult., Florestas, Desenv. Rural e Mar 295 295 368 (e) 372 -77

P018 - Mar 36 36 28 28 8

Total da Despesa, exceto: 46 320 45 809 47 473 47 454 47 607 -153 47 412 47 766 -312

Dotação provisional 502 502 - 502

Dotação Centralizada - Reversão Remuneratória 447 447 - 447

Total da Despesa 46 320 45 809 47 473 48 403 48 556 -153 47 412 47 766 637

a) Não inclui a dotação provisional, nem a dotação centralizada.

b) Inclui € 176 M relativos à entrega da Contribuição para o Audiovisual à Rádio Televisão Portuguesa.

c) Inclui € 163 M relativos à entrega da Contribuição de Serviço Rodoviário à Infraestruturas de Portugal.

d) Inclui € 10 M relativos à consignação do ISP ao Fundo Português do Carbono.

e) Incluí € 5 M relativos à consignação do ISP ao Fundo Florestal Permanente.

Fonte: Para os limites os diplomas legais referidos, para o OE e a execução o SIGO.

1 Manteve-se o ajustamento efetuado no Quadro 112 do Relatório da CGE, por traduzir melhor a despesa da administração

central financiada por receitas gerais: em 2016 alguns SFA (incluindo EPR) foram beneficiários de receitas gerais

consignadas, que lhes foram transferidas através de despesa extraorçamental dos serviços integrados, sendo inscritas nos

orçamentos privativos como receitas próprias. Na coluna CGE ajustada estes montantes foram acrescidos às despesas

financiadas por receitas gerais. Refira-se que o OE 2016 previa que estas verbas fossem inscritas como receitas gerais,

no Orçamento dos serviços integrados, e transferidas para os SFA. Cfr. ponto 2.1.2.1 do Relatório n.º 3/2017-AEOAC – “Acompanhamento da Execução Orçamental da Administração Central – janeiro a dezembro de 2016”.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 101

Página 102

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

74

Constata-se que a Assembleia da República autorizou no OE 2016 dotações de despesa financiadas por

receitas gerais que excedem em € 153 M os limites de despesa fixados no QPPO aprovado na mesma data, evidenciando uma vez mais a incapacidade do QPPO, ainda que revisto, constranger a despesa

pública.

O PO04 – Finanças e Administração Pública, inclui a dotação provisional e a nova dotação centralizada, (destinada ao financiamento da reversão remuneratória), utilizadas no reforço das dotações dos restantes

programas orçamentais, cuja natureza não se ajusta à sua inclusão num dos atuais Programas

Orçamentais, como o Tribunal vem salientando1. Por esta razão e porque o assunto foi resolvido na nova

LEO, foram aquelas dotações destacadas do referido PO04.

Comparando a execução ajustada com o QPPO aprovado na Lei 7-C/2016, verifica-se que os limites

impostos não foram cumpridos em oito dos 18 programas (PO01 – Órgãos de soberania, PO10 – Ciência e ensino superior, PO11 – Ensino básico e secundário e administração escolar, PO12 – Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, PO13 – Saúde, PO14 – Planeamento e Infraestruturas, PO15 – Economia e PO17 – Agricultura, Florestas, Desenvolvimento Rural e Mar), embora o total da despesa financiada por receitas gerais tenha ficado abaixo da previsão.

O Ministro das Finanças e a DGO, em contraditório, referem que: “(…) considerando o efeito dos reforços com contrapartida na dotação provisional e na dotação centralizada, todos os Programas apresentaram níveis

de despesa inferiores aos limites, com exceção dos Programas P001 – Órgãos de Soberania, P012 – Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e P015 – Economia, o que se ficou a dever ao facto das alterações introduzidas na Assembleia da República ao Orçamento do Estado para 2016, não terem sido vertidas na Lei n.º 7-C/2016”.

O Tribunal tem vindo a assinalar que “dotação provisional”, destinada a despesas imprevisíveis e inadiáveis tem sido utilizada no reforço de dotações suborçamentadas, designadamente despesas com

pessoal (cfr. ponto 2). Assim, o desempenho de cada programa deve ser aferido exclusivamente face aos

limites fixados no QPPO, pois só assim constituirá um indicador fiável da disciplina orçamental.

3.3.4. Fiabilidade e comparabilidade da execução orçamental ─ Irregularidades

3.3.4.1. Universalidade da despesa

O princípio da universalidade consagrado na LEO2 e na CRP determina que a CGE deve abranger todas

as despesas dos SI e dos SFA (incluindo EPR), o que não se verificou em 2016, por a Conta não incluir

a receita e a despesa de quatro entidades3 (cfr. ponto 3.2.3), nem € 0,8 M de operações da Empordef e do Fundo Português do Carbono4. A DGO deve zelar pela inclusão de todas as entidades pertencentes à

administração central no Orçamento do Estado e na subsequente execução orçamental. A sua exclusão

afeta o rigor da CGE, não estando identificado o montante global em que a despesa está subavaliada.

1 Pareceres sobre as CGE de 2013, 2014 e 2015. 2 Art. 9.º da nova LEO. 3 Sistema de Indemnização aos Investidores, Fundo para a Promoção dos Direitos dos Consumidores, Fundo de Capital e

Quase Capital e Fundo de Dívida e Garantias. 4 Sobre estas omissões cfr. ponto 9.1.2.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 102

Página 103

Tribunal de Contas

75

3.3.4.2. Anualidade da despesa

A LEO estabelece o princípio da anualidade do orçamento, devendo a correspondente execução incluir

todos os recebimentos e pagamentos que ocorram durante o ano económico. Em 2016, a Agência para

o Desenvolvimento e Coesão registou € 4 M, em ativos financeiros relativos a empréstimos cuja concessão e respetivo pagamento, por via extraorçamental, ocorreu em 20151.

A anualidade pressupõe também a liquidação e pagamento dos encargos assumidos durante a vigência

do orçamento, sem prejuízo do enquadramento plurianual de programação orçamental. Do

incumprimento deste princípio decorrem pagamentos em atraso e práticas que implicam

sobrevalorização e subavaliação da despesa paga, como se descreve nos subpontos seguintes.

3.3.4.2.1. Contas a pagar e pagamentos em atraso

A CGE evidencia os “pagamentos efetuados” 2, o que abrange o pagamento de dívidas de anos anteriores e exclui a despesa por pagar no final do ano. O Relatório da CGE complementa esta informação com

quadros que identificam a despesa por pagar de parte dos serviços da administração central3, que, no

final de 2016, ascendia a € 370 M (quadros 85 a 87), menos € 48 M do que no final de 2015, dos quais € 22 M nas contas a pagar do SNS. Porém, a fiabilidade e integralidade destes dados não está assegurada (cfr. Ponto 4.3).

Os pagamentos em atraso4 da administração central, evidenciados no quadro 81 do Relatório da CGE,

ascendem a € 580 M5, mais € 95 M do que no ano anterior6, destacando-se o aumento de € 93 M nos hospitais EPE. O atraso nos pagamentos tem consequências financeiras para o Estado (juros de mora),

económicas e financeiras para os fornecedores do Estado e também custos sociais. Assim, é

indispensável assegurar o pagamento das faturas durante o seu período de vencimento, desde que

cumpridos os pressupostos legais para o pagamento da despesa.

1 Na sua resposta, a DGO indica que esta situação se refere a juros e outros encargos, porém a Agência para o

Desenvolvimento e Coesão confirma tratar-se de ativos financeiros. 2 Designadamente, nos mapas II a IV, VII a IX, XV a XVII, XX, XXI, XXIII do Volume I, mapas 13 a 21, 26 a 31, 35 a

37, 43 a 44 e 53 a 62 do Volume II da CGE. 3 Estes quadros não incluem dados relativos a SFA/EPR, nem a SFA classificados fora das administrações públicas pelo

INE (situação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, que reportou € 0,1 M de contas a pagar e de quatro entidades que não finalizaram o reporte da informação: Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões,

Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, Fundo de Acidentes de Trabalho e Fundo de Garantia Automóvel). 4 Segundo o enquadramento da Lei dos compromissos e pagamentos em atraso, faturas por pagar há mais de 90 dias após

ter terminado o seu prazo de pagamento. 5 Inclui o subsector da saúde, os hospitais EPE e as entidades públicas reclassificadas, que são apresentadas em linhas

distintas no quadro da CGE. Este valor não se confunde com o montante da dívida não financeira apurado pelo TC e que

se evidencia no ponto 9 deste Parecer (para o qual se remete), dada a diferente natureza e o universo de entidades

abrangidas. 6 Informação reportada no SIGO por serviços integrados e SFA, exceto EPR e subsector da saúde, que são compilados

pela ACSS e pela DGTF, respetivamente.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

76

3.3.4.2.2. Sobrevalorização da despesa paga

A despesa paga registada na CGE pelos SI abrange, para além dos pagamentos a terceiros, as

transferências de verbas para contas bancárias dos próprios organismos1, para contas de operações

específicas do Tesouro2 e para as contas dos serviços dotados de autonomia administrativa e financeira.

Em 2016, continuaram a ser efetuadas transferências de verbas para contas de organismos dotados

apenas de autonomia administrativa, caso dos três ramos das Forças Armadas e do Estado-Maior

General, dos estabelecimentos de ensino básico e secundário e dos serviços externos do MNE, neste

caso, justificado pela localização geográfica.

Transferência de verbas, reposições não abatidas nos pagamentos e saldos de gerência

Registaram-se, ainda, transferências de verbas orçamentais para as contas dos organismos para permitir

a sua transição para o ano seguinte, através da abertura de créditos especiais3, ou como saldo de gerência

em posse do serviço (SFA). Estas verbas constam da CGE como “pagamentos efetuados”, mas não foram utilizadas no ano económico em que foram requisitadas.

Os gráficos seguintes apresentam a evolução das reposições não abatidas nos pagamentos dos SI,

destacando as que deram origem a créditos especiais, e dos saldos da gerência anterior dos SFA,

financiados por receitas gerais.

Gráfico B. 3 – Reposições não abatidas nos pagamentos e saldos de gerência anterior

Reposições não abatidas nos pagamentos de serviços integrados

e créditos especiais abertos em sua contrapartida

Saldos da gerência anterior dos SFA,

financiados por receitas gerais

Fonte: DGO: mapas I, 10-A da CGE e SIGO.

As reposições não abatidas nos pagamentos dos SI registadas na CGE 2016 ascenderam a € 233 M, continuando a não distinguir as que resultam de pagamentos orçamentais indevidos ocorridos em anos

anteriores, das relativas a reposição de saldos. Daquele montante deram origem à abertura de créditos

especiais € 69 M, evidenciando que 29,7% das verbas transferidas em excesso para os serviços (e

1 Incluindo as suas contas no Tesouro com essa natureza, designadamente para constituição e reforço dos fundos de maneio. 2 Caso das verbas orçamentais afetas à gestão da dívida pública, geridas pelo IGCP (€ 66 M em 2016) e de verbas inscritas

no Cap. 60 – “Despesas excecionais” do MF, geridas pela DGTF (€ 48 M, utilizados até 15/02/2017). Estas verbas só dão origem a pagamentos a terceiros no(s) ano(s) seguintes.

3 As verbas são contabilizadas na receita do ano seguinte como reposições não abatidas nos pagamentos e permitem o

correspondente aumento das dotações de despesa.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 104

Página 105

Tribunal de Contas

77

registadas na CGE como “pagamentos efetuados”) visava reforçar as dotações orçamentais do ano seguinte.

Em contraditório, a DGO informa que “(…) alterou o classificador económico da receita para 2017 quanto ao Capítulo 15 – Reposições não abatidas nos pagamentos, prevendo sub-artigos próprios para receitas consignadas de saldos de Escolas, para receitas gerais de saldos de Escolas, para receitas gerais entregues por

SFA's e para receitas gerais de saldos de dotações da LPM”, matéria que continuará a ser acompanhada pelo

Tribunal.

No ano em apreço as reposições não abatidas nos pagamentos permitiram essencialmente reforçar a

dotação de despesa das orgânicas do MDN (em € 37 M) e dos Estabelecimentos de Educação e Ensinos Básico e Secundário (em € 32 M).

Os saldos da gerência anterior dos SFA, financiados por receitas gerais, que em 2016 ascenderam a

€ 354 M, correspondem a verbas que, em anos anteriores foram transferidas dos SI para os SFA, sem que tenham sido utilizadas, quando os decretos de execução orçamental estipulam que as verbas

requisitadas devem ser justificadas “com base na previsão de pagamentos para o próprio mês”1.

Até 31/08/2017, a receita de reposições não abatidas nos pagamentos dos SI ascendeu a € 204 M e a de saldos da gerência anterior de SFA financiados por receitas gerais a € 224 M2, montantes que respeitarão essencialmente a verbas pagas em 2016, correspondendo a uma sobrevalorização da despesa.

Contabilizar verbas orçamentais não utilizadas como "pagamentos efetuados" conduz à

sobrevalorização da despesa dos SI e da receita orçamental do ano seguinte, através de reposições não

abatidas nos pagamentos ou do acréscimo nos saldos de gerência dos SFA e constitui uma violação dos

princípios da anualidade e da transparência.

3.3.4.3. Especificação da despesa

A despesa da administração central classificada em rubricas residuais (06 – Outras despesas correntes e

11 – Outras despesas de capital), em 2016, totalizou € 862 M (0,6% do total da despesa), mais de metade (€ 490 M) foi registada por serviços do Ministério da Educação (correspondendo a 7,6% da despesa do Ministério), € 111 M pelo Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural (7,7%), e € 75 M pelo Ministério das Finanças (0,1%). Os valores mais elevados foram registados nas orgânicas Estabelecimentos de Educação e Ensinos Básico e Secundário (€ 460 M correspondendo a 8,7% das respetivas despesas), IFAP (€ 104 M, 12,6%), Despesas Excecionais (€ 47 M, 1,4%) e Parque Escolar (€ 28 M, 11,7%), o que indicia um insuficiente cumprimento do princípio da especificação3, devendo ser utilizada a classificação económica adequada à natureza de cada despesa.

No gráfico seguinte identificam-se os 10 serviços com mais de 20% da despesa classificada nas rubricas

residuais outras despesas correntes e/ou de capital.

1 Cfr. n.º 4 do art. 13.º do Decreto-Lei de execução orçamental. 2 Cfr. Síntese da Execução Orçamental – julho/2016 e Sistema de Informação para a Gestão Orçamental. 3 Art. 17.º da nova LEO.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

78

Gráfico B. 4 – Serviços/ orgânicas com o peso das outras despesas correntes e de capital na despesa total superior a 20%

Fonte: SIGO.

A DGO, em contraditório, refere ter emitido orientações e prestado esclarecimentos aos serviços,

procurando minimizar a utilização de rubricas de classificação económica residuais.

No âmbito da análise da correção da despesa nas áreas da dívida pública e dos apoios financeiros foram

detetados erros na especificação económica de despesas, que se resumem no quadro seguinte.

Quadro B. 24 – Erros detetados na especificação da classificação económica

(em milhões de euros)

Classificação económica Montante Fundamentação

Utilizada Corrigida

03 – Juros e outros encargos (03.03/06)

03 – Juros e outros encargos (03.01/02/03/05)

137 Várias situações de reclassificação de despesa ao nível do subagrupamento, com destaque para € 108 M de juros classificados pelo Metropolitano de Lisboa como 03.05 – outros juros, quando deveria ser 03.01 – juros da dívida pública (cfr. Ponto 4.1.2)

04 – Transferências correntes

05 – Subsídios 78

Pagamento de indemnizações compensatórias pela Gestão Administrativa e Financeira da Cultura (€ 15 M à OPART e € 4 M ao TNSJ), pelo IMT (€ 2 M à CP e €50 M à Infraestruturas de Portugal) e pela Secretaria-Geral do Ministério do Ambiente (€ 3 M à

Metro do Porto, € 2 M ao Metropolitano de Lisboa, € 1 M à Soflusa e € 1 M à Transtejo) (1)

09 – Ativos financeiros

76 € 43 M em execução de garantias (cfr. Ponto 4.2) e € 32 M relativos a novas aplicações em depósitos a prazo, pelo Fundo de Contragarantia Mútuo (cfr Ponto 9.1.2.3)

05 – Subsídios (05.01.01/07)

05 – Subsídios (05.03.03)

2 Pagamento de subsídios a EPR classificados na 05.01.01 - sociedades e quase sociedades não financeiras/ públicas, que deveriam ser classificadas como 05.03.03 – administração central/ serviços e fundos autónomos (cfr. Ponto 6)

06 – Outras despesas correntes

04 – Transferências correntes

10 Pagamento pela Secretaria-Geral do MDN à CP, correspondendo a 2/3 da dedução concedida ao preço dos bilhetes dos militares (cfr. Ponto 6)

05 – Subsídios 2 Abrange subsídios à exploração pagos pela Secretaria-Geral do MDN à IDD – Indústrias de Defesa Nacional e apoios pagos pelo IEFP a diversas empresas públicas, algumas das quais reclassificadas (cfr. Ponto 6)

09 – Ativos financeiros

04 – Transferências correntes

5 Dotação do Fundo de Inovação, Tecnologia e Economia Circular pelo IAPMEI (cfr. Ponto 9.1.2.3)

08 – Transferências de capital

18 Transferências para países terceiros e organizações internacionais que não configuram ativos financeiros (cfr. Ponto 9.1.1.2))

10 – Passivos financeiros (10.03/05/06/07)

02 – Aquisição de bens e serviços

3 Pagamento de dívida a fornecedores da SPMS (cfr Ponto 4.1.2)

10 – Passivos financeiros (10.03/05/06)

289

Abrange várias situações de reclassificação de despesa ao nível do subagrupamento, com destaque para € 136 M pagos pelo Fundo de Resolução pela classificação 10.07 – outros passivos financeiros, que se referem a um empréstimo, devendo ser registados na 10.06 – empréstimos a médio e longo prazos (cfr. Ponto 4.1.2)

12 – Operações extraorçamentais

1 Devolução de uma caução pela Parups (cfr. Ponto 4.1.2)

11 – Outras despesas de capital

09 – Ativos financeiros

3 Entrega ao Estado, pelo Fundo de Contragarantia Mútuo, de recuperações de créditos garantidos (cfr. Ponto 4.2)

Outras correções 2 Outros erros identificados nos pontos 4.1.1.2, 4.1.2, 6 e 9.1.2.3)

Total 624

(1) O classificador económico da despesa estabelece que devem ser registados como subsídios “(…) os fluxos financeiros não reembolsáveis do Estado para as empresas

públicas (equiparadas ou participadas) e empresas privadas, destinadas ao seu equilíbrio financeiro e à garantia, relativamente ao produto da sua atividade, de níveis de

preços inferiores aos respetivos custos de produção”. A título de exemplo, o classificador refere explicitamente os “(…) apoios financeiros à exploração de empresas de

transporte, tarifas e subvenção de equilíbrio, as compensações financeiras no âmbito do apoio do Estado a serviços de transporte de natureza social (…)”.

Fonte: DGTC.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 106

Página 107

Tribunal de Contas

79

O Ministro das Finanças, em contraditório, informa que o procedimento relativo às transferências para

países terceiros e organizações internacionais “(…) foi já alterado, no âmbito do OE/2017”.

A maioria dos erros detetados continua a ocorrer em operações registadas por EPR ou operações atípicas

às atividades dos serviços, que apontam para a necessidade de um maior acompanhamento deste

conjunto de entidades e também das operações não usuais, especialmente se atingirem valores

materialmente relevantes.

3.3.4.4. Comparabilidade da despesa ao longo do tempo

Nos últimos anos, três fatores têm dificultado a comparabilidade da despesa com prejuízo para a análise

da sua evolução: i) instabilidade no perímetro dos serviços abrangidos pela Conta (foi especialmente

relevante em 2015), ii) alteração dos critérios contabilísticos e iii) valores provisórios de execução

orçamental. Em 2016, a reestruturação orgânica, resultante do XXI Governo Constitucional veio

também dificultar a comparação entre ministérios e programas.

Em matéria de critérios contabilísticos destacam-se as verbas transferidas para as regiões autónomas a

título de repartição de solidariedade, registadas, em 2015, como transferências de capital e, em 2016,

como transferências correntes.

Mantém-se a inconsistência assinalada desde o PCGE 2014 quanto ao pagamento de indemnizações

compensatórias por conta do programa orçamental/ministério onde a entidade recebedora está integrada,

enquanto as indemnizações para entidades não reclassificadas nas administrações públicas continuam a

ser asseguradas pelo PO04 – Finanças, embora se refiram a transportes e comunicações, das áreas do PO16 – Ambiente, a infraestruturas, do PO14 – Planeamento e Infraestruturas, ou atividades culturais, do PO09 – Cultura. Note-se, também, que as indemnizações pagas a EPR são classificadas como transferências correntes e as pagas a entidades fora do perímetro das administrações públicas são pagas

como subsídios1, não se encontrando fundamento legal para esta dualidade de critérios.

A CGE 2016 apresenta os mapas com a comparação da despesa dos SI por ministério e capítulo, face

ao ano anterior2. A fiabilidade destes mapas, depende da correta afetação da despesa de 2015, tendo em

conta as reestruturações orgânicas ocorridas. O quadro seguinte apresenta as incorreções identificadas.

1 Numa perspetiva de despesa consolidada da administração central, apenas se consideram as despesas pagas para fora do

perímetro, classificadas como subsídios. 2 Mapas “15 – Despesas sem receita consignada, nos serviços integrados, comparadas com as do ano económico anterior”

e “17 – Despesas com receita consignada, nos serviços integrados, comparadas com as do ano económico anterior”, do Tomo 1 do Volume II.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 107

Página 108

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

80

Quadro B. 25 – Erros na reclassificação da despesa de 2015, para efeitos da sua comparação com a despesa de 2016

Mapa do

Volume II

Sigla do Ministério/Cap. Valor a

corrigir (€) Fundamentação

A somar A diminuir

Mapa 15

MPI / Serviços das Áreas das Infraestruturas

EGE / Administração Local

623 015 Transferências do OE para as Autoridades Metropolitanas de Transportes de Lisboa e do Porto, que integram a administração local. Dada a missão destas entidades, a área governativa adequada é a do Ministério do Planeamento e Infraestruturas. Adicionalmente, a reafetação efetuada pela DGO não manteve a separação entre despesas de funcionamento e projetos (€ 91.106 estavam afetos a projetos em 2015).

MPI / Projetos 91 106

MCES / Estabelecimentos de Ensino Superior e Serviços de Apoio

MNE / Cooperação, Língua e Relações Externas

2 673 851

Despesas do Instituto de Investigação Científica e Tropical, serviço extinto por fusão sendo as suas atribuições integradas na Universidade de Lisboa (exceto as relativas ao arquivo histórico ultramarino, afetas à Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas).

MPI / Serviços da Área das Infraestruturas

MA / Serviços Gerais de Apoio, Estudo, Coordenação e Controlo

37 791 241

Despesas com indemnizações compensatórias pagas, em 2015, pela Gestão Administrativa e Financeira do Ministério da Economia à CP e à REFER (entretanto integrada na Infraestruturas de Portugal). Em 2016 estas entidades foram integradas no Ministério do Planeamento e Infraestruturas e as respetivas indemnizações compensatórias asseguradas pelo IMT.

Fonte: CGE 2016, SIGO e leis orgânicas dos serviços.

Os erros identificados no quadro anterior, uma vez que existe uma ligação direta entre programa

orçamental e ministério, afetam também a fiabilidade do Quadro 111 – Evolução da despesa consolidada da Administração Central do Relatório da CGE, que compara a execução de cada programa orçamental

com a registada no ano anterior. A reafectação de serviços entre programas obriga também a rever as

despesas (designadamente transferências) que devem ser consolidadas dentro de cada programa. Assim,

os dados de 2015 daquele quadro apresentam as seguintes incorreções:

Quadro B. 26 – Incorreções na despesa por Programa de 2015, para efeitos da sua comparação com a despesa de 2016

(em milhões de euros)

Programa

Orçamental (2016)

Despesas de

2015 (CGE) Correções Fundamento(1)

PO01 – Órgãos de soberania

3 138 -9

€ -8 M de transferências entre entidades do Programa, não identificadas pela DGO; € -1 M, relativo às transferências do OE para as Autoridades Metropolitanas de Transportes de Lisboa e do Porto, afetas (e consolidadas no PO14, que comporta a execução do orçamento privativo destes SFA.

PO02 – Governação 133 -1 € -1 M de transferências entre entidades do Programa, não identificadas pela DGO.

PO03 – Representação externa

382 -4

€ -3 M relativos ao Instituto de Investigação Científica e Tropical (extinto por fusão sendo as suas atribuições essencialmente integradas na Universidade de Lisboa que,

em 2016, pertence ao PO10) (2); € -1 M de transferências entre entidades do Programa, não identificadas pela DGO.

PO04 – Finanças 3 303 52

A DGO consolidou no PO04 – Finanças transferências e juros pagos por entidades do PO05 – Gestão da Dívida Pública: € 48 M de juros pagos pelos Encargos da Dívida; € 4 M de transferências correntes pagas pelo Fundo de Regularização da Dívida Pública.

PO10 – Ciência, tecnologia e ensino superior

2 214 6

€ 3 M relativos ao Instituto de Investigação Científica e Tropical (3); € 3 M relativos a transferências para o Laboratório Internacional de Nanotecnologia incorretamente consolidadas no âmbito deste Programa (esta entidade, em 2016, pertence ao PO15 – Economia).

PO16 – Ambiente 741 -38

€ -38 M relativos a indemnizações compensatórias pagas em 2015 pela Gestão Administrativa e Financeira do Ministério da Economia à REFER (agora Infraestruturas de Portugal) e à CP que, em 2016 passaram a ser pagas pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes, integrado no PO14 – Planeamento e infraestruturas.

(1) Parte das divergências são relativas a transferências entre entidades do mesmo programa orçamental que não foram consolidadas pela DGO. O detalhe relativo a

estes montantes consta do ponto 3.3.2 do PCGE 2016.

(2) A despesa registada no orçamento privativo desta entidade foram consideradas no PO10 e não foram consolidadas (eliminadas) as transferências das entidades

consideradas no PO03 tendo o instituto por beneficiário.

(3) Inclui a despesa registada no orçamento privativo desta entidade e exclui as transferências de que foi beneficiário, efetuadas por outras entidades do PO10.

Fonte: CGE 2016, SIGO.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 108

Página 109

Tribunal de Contas

81

3.3.4.5. Observações ao conteúdo de alguns mapas e quadros da CGE

A CGE 2016, no mapa XV – Despesas correspondentes a programas da administração central, apresenta a despesa de cada programa (não consolidada) e o “total geral consolidado”, o qual exclui apenas as transferências para entidades da administração central, quando deveria excluir todas as operações

materialmente relevantes que ocorreram entre os serviços do universo abrangido1. O mesmo ocorre nos

mapas XVI – Repartição regionalizada dos programas e medidas e “Elementos informativos sobre os programas orçamentais”2.

Os quadros 110 e 111 do Relatório da CGE apresentam, também, a despesa consolidada por programa3,

na qual não se incluem ativos e passivos financeiros, nem juros e transferências para outros serviços da

administração central inscritos no mesmo programa, nem pagamentos efetuados por entidades do

programa saúde a outras entidades do mesmo programa, num conjunto pré-estabelecido de

classificações de despesa4. O mesmo sucede no quadro 46 que apresenta a evolução da despesa

consolidada por classificação económica.

Relativamente à despesa de 2016 evidenciada nestes mapas, foram identificadas no SIGO algumas

transferências entre entidades do mesmo programa orçamental que não foram consolidadas pela DGO5,

conforme se apresenta no quadro seguinte (Quadros 110 e 111 do Relatório):

Quadro B. 27 – Transferências para entidades do mesmo programa que não foram consolidadas

(em milhões de euros)

Programa Orçamental Despesas de

2016 (CGE) Correções Fundamento

PO01 – Órgãos de soberania 3 192 -12 transferências do Orçamento do Estado para a Assembleia da República € 5 M; para a Presidência da República € 6 M; para o Tribunal Constitucional € 1 M

PO02 – Governação 131 -1 € -1 M de transferências entre entidades da Gestão Administrativa e Financeira da PCM

PO03 – Representação externa 355 -2 € -2 M de transferências entre entidades da Gestão Administrativa e Financeira do Orçamento do MNE

Fonte: CGE 2016, SIGO.

Esta situação afeta os quadros subsequentes do Relatório da CGE, nos quais se evidencia a despesa de

cada programa orçamental, com destaque para os quadros 119, 122 e 127, que apresentam a despesa

destes programas por classificação económica.

A DGO, em contraditório, refere que quando a “(…) informação não está adequadamente identificada, esses fluxos não são considerados na consolidação intra-programa orçamental, o que justifica as diferenças apuradas

pelo Tribunal”.

1 Caso dos empréstimos concedidos a SFA que ascendem a € 2.000 M. 2 Apresentado no final do Volume II, tomo 1. 3 O quadro 110 apresenta o orçamento e a execução de 2016, por programa, e o quadro 111 a evolução da despesa por

programa face ao ano anterior. 4 Aquisição de bens: 02.01.09 – produtos químicos e farmacêuticos, 02.01.10 produtos vendidos nas farmácias e 02.01.11

– material de consumo clínico; aquisição de serviços; 02.02.20 –outros trabalhos especializados, 02.02.22 –serviços de saúde, 02.02.23 – outros serviços de saúde e 02.02.25 – outros serviços.

5 A DGO utiliza uma base de dados auxiliar para identificar as entidades pagadoras e beneficiárias de transferências. Nessa

base de dados os beneficiários destas verbas não estavam identificados.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 109

Página 110

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

82

Os mapas 53 a 621, incluídos num ponto com a designação “Desenvolvimento e elementos informativos do mapa XVI”, abrangem apenas a despesa incluída em projetos, sem relação direta com os valores daquele mapa. Esta despesa com projetos exclui apenas a transferência de fundos que os SFA solicitaram

ao OE, mas mantêm as transferências inscritas na despesa de SI destinadas a SFA ou a outros SI (€ 5 M), todas as transferências de SFA (€ 110 M), bem como os passivos financeiros (€ 492 M). Esta mesma informação é sintetizada no quadro 113 do Relatório da CGE. Estes mapas não incluem € 12 M de despesa em projetos, conforme se resume no quadro seguinte.

Quadro B. 28 – Despesa em projetos que não foi incluída nos mapas 53 a 62 da CGE

(em euros)

Entidade Programa Orçamental

Total 001 010 013 014

Centro Hospitalar do Porto 4 991 883 4 991 883

Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve 1 957 708 1 957 708

Hospital do Espírito Santo, de Évora 987 716 987 716

Instituto Politécnico de Setúbal 9 267 9 267

Instituto Português de Oncologia – Lisboa 3 518 434 3 518 434

Instituto Português de Oncologia – Porto 44 077 44 077

Presidência da República 573 696 573 696

Total 573 696 9 267 9 542 110 1 957 708 12 082 781

Fonte: CGE/2016; SIGO

1 Cfr. Volume II, tomo 1 da CGE/2015.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 110

Página 111

Tribunal de Contas

83

3.4. Consolidação da administração central

3.4.1. Consolidação

A CGE de 2016, no Mapa XXIII, excluindo ativos e passivos financeiros1, evidencia como valores

consolidados os seguintes:

– Receita .......................................................... € 56.356 M – Despesa ........................................................ € 62.735 M – Saldo global ................................................. € – 6.379 M

Porém, o Tribunal apura outros valores, apresentados no quadro infra, por:

a) Considerar na consolidação, pelas razões constantes no ponto 14.2., valores inferiores para os

juros e para a aquisição de serviços de saúde, do que resultou um valor superior para a receita e

para a despesa, sem alterar o saldo global;

b) À semelhança de anos anteriores, se excluírem as operações classificadas como passivos

financeiros2 e se considerarem as classificadas como ativos financeiros de médio e longo prazo.

Na realidade, não é correto considerar que todas as receitas e todas as despesas classificadas,

segundo o classificador económico da receita e da despesa pública3, como ativos financeiros, são

insuscetíveis de alterar definitivamente o património financeiro líquido do Estado. É o caso de

receitas e despesas relativas a operações financeiras de médio e longo prazo. Considerar tais

receitas e despesas confere maior rigor e transparência aos documentos de prestação de contas

referentes à execução orçamental. Esta diferença metodológica reflete-se significativamente no

montante global das receitas, das despesas e do saldo (negativo), neste caso maiores do que os

evidenciados na CGE.

Quadro B. 29 – Receitas, despesas e saldo global da AC (2016)

(milhões de euros)

Excluindo todos os ativos e

passivos financeiros (1)

Com ativos e passivos

financeiros considerados (2)

Receita 56 596 57 140

Despesa 62 976 64 272

Saldo global -6 379 -7 132

(1) Consolidadas as transferências, os juros pagos por SFA a entidades da administração central e a

aquisição de serviços de saúde pela ACSS – cfr. Parte A do Quadro 1 do ponto 14.1 e ponto 14.2.

(2) Inclui despesas de ativos e passivos financeiros considerados – cfr. Parte B do Quadro 1 do ponto 14.1.

1 Visto a DGO, com base numa interpretação estritamente literal do art. 9.°, n.os 2, 3, e 4 da LEO, excluir toda a receita e

toda a despesa classificada como ativos e passivos financeiros. 2 Exceto as da Parvalorem, Parups e Parparticipadas, pelas razões constantes do ponto 3.3. 3 Aprovado pelo Decreto-Lei 26/2002, de 14/2.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 111

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

84

Os montantes em causa foram apurados na ótica da contabilidade pública, por aplicação dos critérios

referidos e objeto de consolidação, nos termos descritos nos pontos 14.1 e 14.2, para os quais se remete

e que inserem as respostas do Ministro das Finanças e da DGO, em contraditório, quanto aos ativos

financeiros e à consolidação.

3.4.2. Evolução

Os gráficos e quadros seguintes mostram a evolução das receitas, despesas e do saldo global (apurado

na ótica da contabilidade pública, incluindo ativos e passivos financeiros a considerar), da conta

consolidada da administração central, para o período 2012-2016.

Gráfico B. 5 – Evolução das receitas, despesas e saldo da administração central (2012-2016)

Fontes: Conta Geral do Estado 2012-2016.

Entre 2012 e 2016, assistiu-se ao aumento das receitas e à diminuição das despesas (incluindo ativos e

passivos financeiros a considerar). A evolução dos principais agregados da receita e da despesa consta

dos gráficos seguintes.

Gráfico B. 6 – Evolução dos principais agregados da receita e da despesa da administração central (2012-2016)

Receitas Despesas

Fontes: Conta Geral do Estado de 2012 a 2016, SGR, SIGO e Parecer sobre a CGE do ano respetivo (cfr. Quadro D.1 do ponto 14).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 112

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Tribunal de Contas

85

A carga fiscal voltou a aumentar, atingindo € 41.096 M (71,9% do total), mais 24,2% do que em 2012 (quando representava 62,1%), mantendo-se como o principal fator de crescimento das receitas. As

receitas correntes não fiscais também atingem o valor máximo do período (€ 14.222 M, 24,9% do total), mais 21,8% do que em 2012 (quando equivaliam a 21,9%). A recuperação das receitas de capital

(€ 1.822 M, 3,2% do total) face a 2015 (quando atingiram o valor mínimo do período) não evita a redução de 78,6% desde 2012 (quando valiam 16,0%) com a quebra de receitas extraordinárias1 e das

amortizações de capital contingente (CoCos) recebidas em 20142.

Ao nível da despesa, entre 2012 e 2016, verifica-se um crescimento: de 27% nas despesas com pessoal

(também devido ao efeito da entrada no perímetro orçamental de novas EPR, em particular em 2015 dos

hospitais empresarializados); de 15% nas transferências correntes e subsídios; e de 4% nos juros e outros

encargos. Pelo contrário, as despesas com aquisições de bens e serviços registaram um decréscimo de

37%3 e as despesas de capital reduziram-se em 173%, sobretudo devido às variações nas despesas de

ativos financeiros considerados4.

As razões explicativas para as variações registadas entre 2015 e 2016 encontram-se nos pontos 3.2 e

3.3, para os quais se remete. A comparabilidade da receita e da despesa é influenciada por alterações

nos procedimentos de contabilização e por alterações de universo, designadamente pela integração de

EPR, mais significativa em 2015.

1 Nomeadamente as privatizações da EDP, REN e BPN (€ 2.208 M), Fundo de Pensões do Sector Bancário (€ 2.687 M) e

contrato de concessão da ANA - Aeroportos de Portugal, SA (€ 800 M). 2 No montante de € 3.295 M realizadas pelo BCP (€ 2.250 M), BPI (€ 920 M) e BANIF (€ 125 M). 3 As verbas da ACSS de aquisição de bens e serviços passaram a consolidar com as receitas dos hospitais

empresarializados, diminuindo a despesa da administração central com aquela classificação económica. 4 Por exemplo: em 2014, € 3.900 M do empréstimo ao Fundo de Resolução no âmbito do BES e € 2.283 M do empréstimo

à CP; em 2015, € 2.255 M da resolução do Banif. A capitalização da CGD, inicialmente prevista para 2016, foi adiada para o ano seguinte (€ 3.000 M).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

86

4. DÍVIDA PÚBLICA

4.1. Dívida Financeira

Neste ponto procede-se à análise da composição e evolução da dívida pública em 2016 (em valor

nominal no que toca a empréstimos, títulos e locações financeiras e ao justo valor para os derivados

financeiros) e dos fluxos de receita e despesa que lhes estão associados. Esta análise é feita por tipo de

instrumento e por entidade gestora de dívida, no caso das que integram o subsector dos SFA. São, ainda,

analisados os mapas da CGE mais relevantes em matéria de dívida pública e apura-se o stock da dívida

pública direta consolidada do Estado. Por último, apresenta-se a dívida notificada no contexto do PDE

(dívida de Maastricht).

4.1.1. Dívida direta dos SI

4.1.1.1. Stock nominal da dívida

Com informação obtida junto do IGCP, apurou-se o valor nominal do stock da dívida não consolidado

que no final de 2016 ascendia a € 236.282,4 M, sendo superior ao final de 2015 em € 9.919,7 M, o que representa um aumento de 4,4%. No quadro seguinte apresentam-se os valores apurados, bem como os

correspondentes valores da CGE.

Quadro B. 30 – Valor nominal do stock da dívida pública (SI)

(em milhões de euros)

Designação

Valor nominal

CGE – Mapa XXIX Valor nominal apurado Diferenças apuradas

01/01/2016 31/12/2016 01/01/2016 31/12/2016 01/01/2016 31/12/2016

Dívida de médio e longo prazo 203 735,6 213 844,1 203 735,6 213 844,1 0,0 0,0

Empréstimos (PAEF, BEI e Casa do Douro) 73 575,2 69 070,7 73 575,2 69 070,7 0,0 0,0

Títulos (OT, OTRV, CEDIM, CT, CA e outros) 130 160,4 144 773,4 130 160,4 144 773,4 0,0 0,0

Dívida de curto prazo 22 627,2 22 438,7 22 627,0 22 438,3 0,1 0,5

Títulos (BT a), CEDIC) 20 521,3 20 330,6 20 521,2 20 330,1 0,1 0,5

Outros: Contas-margem b) 2 105,9 2 108,1 2 105,9 2 108,1 0,0 0,0

Total dívida direta não consolidada c) 226 362,8 236 282,8 226 362,6 236 282,4 0,1 0,5

a) No caso dos BT, títulos emitidos a desconto, o valor considerado no stock da dívida é o valor descontado, embora o mapa XXIX não o refira.

b) As contas-margem estão designadas no mapa XXIX como: CALL-ACCOUNT, CALL-ACCOUNT-CAPITALIZE e CALL-ACCOUNT-MONTHLY.

c) Valor nominal sem o efeito da cobertura de derivados.

Fonte: IGCP e CGE 2016.

Como se verifica, no mapa XXIX, o stock da dívida em 01/01/2016 está sobrevalorizado em € 0,1 M, por incluir na dívida de curto prazo receitas de juros obtidas em 2015 na emissão de BT1, no valor de

€ 139.498,99. Estas receitas foram indevidamente contabilizadas como passivos financeiros e acrescidas ao stock da dívida2. Pela mesma razão em 31/12/2016 o stock está sobrevalorizado em € 450.133,80.

No exercício do contraditório o IGCP veio alegar que a “sobrevalorização do stock da dívida, no início e no final de 2016 (…)” resulta do Tribunal “ ter considerado que os fluxos financeiros associados aos Bilhetes do

1 Emissões de bilhetes do Tesouro (BT) com taxas de juro negativas. 2 Ver também ponto 4.1.1.2 deste Parecer.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 114

Página 115

Tribunal de Contas

87

Tesouro, emitidos num cenário de taxas de juro negativas, devem ser contabilisticamente relevados com base em

procedimentos diferentes daqueles que o IGCP tem vindo a utilizar nas emissões com taxas de juro positivas e

sobre as quais não existiu, no passado, qualquer reparo por parte do Tribunal de Contas. Num cenário em que as taxas de juro associadas à emissão de Bilhetes do Tesouro passaram a ser negativas, por

questões de consistência, o IGCP manteve os mesmos procedimentos contabilísticos. A diferença, face ao contexto

anterior (taxas de juro positivas) reside no facto de existir, na data de amortização dos títulos, uma receita de

juros (que é deduzida ao encargo com juros da dívida pública) em detrimento de uma despesa dessa natureza.”

Entende-se, porém, que a situação atual (taxas de juros negativas) é distinta da situação anterior, na

medida em que é geradora de uma receita de juros, situação que não ocorria anteriormente. A LEO

obriga que esta receita seja abatida à despesa da mesma natureza1, pelo que a opção do IGCP de empolar

os passivos financeiros na data de emissão - empolando ficticiamente o stock da dívida – e, posteriormente na data da amortização empolar a despesa de passivos financeiros, com verbas que são

utilizadas no pagamento de despesa corrente (juros), não respeita a LEO e desvirtua os valores da Conta,

designadamente o stock dos bilhetes do Tesouro, apresentado no mapa XXIX da CGE.

Em acolhimento da recomendação deste Tribunal, a CGE 2016 apresenta o stock da dívida em moeda

estrangeira2, no qual são apresentadas por instrumento, os stocks, iniciais e finais, as emissões e as

amortizações nas divisas originais. Em 2016 não se realizaram emissões em moeda estrangeira, mas

foram totalmente amortizados dois instrumentos, no valor de GBP 116,6 M, bem como foram realizadas

amortizações antecipadas3 do empréstimo do FMI. Desta forma, em 31/12/2016 a dívida em moeda

estrangeira, representada nas divisas originais, apresentava o valor nominal de: DSE4 12.802,5 M, USD

4.500 M e NOK 860 M, cujo contravalor em euros correspondia, globalmente, a € 20.691 M (8,8% do stock da dívida em 31/12/2016).

Em 31/12/2016 cerca de 55% do total da dívida direta do Estado era detida por entidades externas –situação para a qual contribuem fortemente os empréstimos do PAEF5 – (50% por não residentes e 5% pelo BCE).

Gráfico B. 7 – Detentores da dívida em dezembro 2016

Gráfico B. 8 – Detentores da dívida transacionável em dezembro 2016

Fonte: IGCP.

1 Ver ponto seguinte deste Parecer. 2 Stock apresentado em quadro anexo ao mapa XXIX. 3 Sobre estas amortizações ver ponto 4.1.1.4 deste Parecer. 4 Cabaz de moedas composto por USD, EUR, GBP, JPY e, desde outubro de 2016, CNY. 5 Em 31/12/2016 os empréstimos do PAEF representavam 29% do stock da dívida e globalmente ascendiam a € 67.956 M.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 115

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

88

De acordo com informação do IGCP, considerando apenas a dívida transacionável em 31/12/2016, cerca

de 40% dos títulos estavam na posse de entidades residentes, 17% no BdP e 9% no BCE (ao abrigo dos

programas de aquisição de títulos de dívida soberana1). Os títulos na posse do BdP juntamente com os

na posse do BCE perfazem 26% (que compara com 19% em 31/12/2015), verificando-se, assim, em

2016, um aumento do peso dos bancos centrais como detentores da dívida pública portuguesa.

Como se pode observar no quadro anterior, a dívida de médio e longo prazo, em 31/12/2016,

correspondia a 91% do total da dívida direta não consolidada, cifrando-se em € 213.844 M. De acordo com informação do IGCP e como o gráfico2 seguinte evidencia, a dívida de médio e longo prazo no final

de 2016 tinha maturidades3 compreendidas entre 20174 e 20455 (um horizonte temporal de 29 anos) e

2021 seria o ano com maior concentração de vencimentos, com necessidades de refinanciamento no

valor de € 25.799 M, das quais 17% para amortização de CEDIM e Certificados de Aforro/Tesouro (€ 4.329 M)6, 17% para pagamento ao FMI (€ 4.280 M) e, a maior fatia, 67% para a amortização de dívida titulada7 (€ 17.190 M). Em 31/12/2016, previa-se que em 2024 as necessidades de refinanciamento de dívida fossem de € 18.647 M, para amortização de OT (€ 12.076 M) e da BND USD15Out2024 (€ 4.269 M). Estavam ainda previstas em 2025 vencimentos no montante de € 16.398M, relativos, designadamente, ao FEEF (€ 3.525 M) e a OT (€ 11.893 M).

Gráfico B. 9 – Maturidade da dívida de m/l prazo

Fonte: CGE 2016 e IGCP.

Para além da dívida resultante de empréstimos e títulos, em 2016, existiam também contratos de

derivados financeiros. O mapa XXIX, da CGE, apresenta o efeito cambial de cobertura de derivados

(líquido) no stock da dívida (SI), no início e no final do ano, de € -2.423,7 M e de € -2.361,6 M, respetivamente. Considerando este efeito no stock da dívida apurado, em 31/12/2015 a dívida (SI)

1 Ao abrigo dos programas Securities Market Programme (SMP) e Public Sector Purchase Programme (PSPP). 2 Só inclui dívida de médio e longo prazo e, no que respeita ao empréstimo do MEEF, pressupõe que Portugal não venha

a ter de pagar qualquer montante antes de 2026 (Ver ponto 4.1.1.4 deste Parecer). Por não terem maturidade definida,

não inclui: certificados de aforro, séries A e B, com valor nominal em 31/12/2016 de € 8.104 M; nem títulos consolidados e Certificados de Renda perpétua, com valor nominal muito residual (€ 11,6 M em 31/12/2016).

3 A análise incide sobre o stock da dívida de médio e longo prazo, em 31/12/2016, mas, salienta-se, anualmente são

realizadas várias operações de gestão da dívida que alteram o perfil da maturidade dos instrumentos, como são exemplos

as trocas de títulos de OT, as recompras, as amortizações antecipadas de empréstimos, etc. 4 Vencimento da OT4.35 16Out2017, no valor de € 6.443 M. 5 Vencimento da OT4.10 15Fev2045, no valor de € 3.000 M. 6 Deste valor € 5,2 M corresponde a CEDIM, € 4.293 M a CT/CTPM e € 30,3 M a CA. 7 OT (€ 13.640 M), OTRV (€ 3.450 M) e FRN EUR (€ 100 M).

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Tribunal de Contas

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totalizava € 223.939 M passando para € 233.921 M no final de 2016. A CGE 2016 apresenta1 também os valores a pagar e a receber no início e no final de 2016, por tipo de derivado financeiro.

O quadro seguinte evidencia o justo valor dos instrumentos derivados (SI) no final de 2015 e 2016.

Quadro B. 31 – Evolução da dívida representada por derivados financeiros (SI)

(em milhões de euros)

Designação Justo valor Variação

Em 31/12/2015 Em 31/12/2016 Total %

Cross currency interest rate swaps 2 463 2 061 -402 -16,3

Swaptions -139 -189 -50 35,9

Interest rate swaps 170 109 -60 -35,6

Outros 59 125 66 112,3

Total 2 552 2 106 -446 -17,5

Fonte: IGCP.

Avaliados ao justo valor, os contratos de derivados passaram de € 2.552 M em 31/12/2015 para € 2.106 M em 31/12/2016, isto é, o valor de mercado desta carteira diminuiu € 446 M, no essencial, devido à variação do valor dos Cross currency interest rate swaps (€-402 M).

Para a variação da carteira de derivados contribuíram vários fatores, designadamente: a desvalorização

da libra, após o referendo para a saída do Reino Unido da UE, que reduziu o valor dos cross-currency

swaps associados à cobertura de libras; os cancelamentos de cross-currency swaps, realizados no âmbito

dos pagamentos antecipados ao FMI; a alteração do cabaz2 de DSE do FMI, que obrigou a um

ajustamento das coberturas cambiais, neste contexto foram anuladas operações nas moedas cujo peso

no cabaz foi reduzido (como dólares norte-americanos e libras) e executados vários forwards cambiais

para a cobertura do renminbi.

4.1.1.2. Fluxos financeiros: receitas e despesas orçamentais

A receita resultante da emissão de dívida, ou produto da emissão de empréstimos, é apresentada na CGE

sob diferentes óticas e valores. Nos mapas I e 12 encontra-se a receita de passivos financeiros utilizada

na execução orçamental de 2016, € 63.332,4 M3, nos mapas XXVIII e 50 o produto de emissão de dívida em 2016, € 66.020 M, e no mapa XXIX o valor nominal das emissões do ano, € 65.453 M. Conjugando estes dados conclui-se que, em 2016, foi emitida dívida com o valor nominal de € 65.453 M que gerou uma receita, líquida de mais e menos valias, de € 65.773 M4. Acrescentando a este montante os € 275 M recebidos5 do MEEF e FEEF e os € 74,7 M do produto das emissões de CA e CT de 2015 que só deram entrada na tesouraria do Estado em 2016 e deduzindo € 102,6 M do produto das emissões de 2016 destes mesmos títulos só deram entrada na tesouraria em 2017 (receita de 2017), apura-se o valor de

1 Quadro anexo ao mapa XXIX da CGE. 2 O renmimbi, moeda chinesa, foi introduzido no cabaz de moedas do FMI em 01/10/2016. 3 Valor que resulta de emissões de dívida pública de 2015 (€ 4.089,7 M) e de emissões de 2016 (€ 59.242,7 M). 4 Produto das emissões realizadas em 2016 (mapa 50), incluindo o valor das emissões de 2016 que só dá entrada na

tesouraria do Estado em 2017, e excluindo o valor das emissões de 2015 (receita de 2015) que deu entrada na tesouraria

do Estado em 2016. 5 Sobre estes valores ver também ponto 4.1.1.4 – Empréstimos do PAEF, deste Parecer.

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€ 66.020 M registado no mapa XXVIII da CGE. Deste montante, € 59.243 M foram utilizados para equilibrar a Conta dos SI, e o remanescente, € 6.777 M, transitou em saldo1 para 2017.

Também a despesa associada à gestão da dívida (amortizações, juros e outros encargos correntes) consta

na CGE em diversos mapas, utilizando conceitos subjacentes nem sempre idênticos pelo que os valores

são, por vezes, diferentes.

No que respeita às amortizações, na CGE, o mapa XXIX apresenta como valor nominal da dívida

amortizada € 55.656 M, os mapas IV, 13 e 52 registam amortizações de € 55.606 M. Conjugando os dados destes mapas conclui-se que o custo das amortizações foi de € 55.932 M e que no seu pagamento foram utilizadas verbas requisitadas ao OE, € 55.606 M, e verbas resultantes de ganhos obtidos na gestão de derivados financeiros, € 326 M, que, nos termos da LEO2, não estão registados na CGE, embora sejam indicadas no mapa 52. Foi ainda anulada3 dívida (valores abatidos ao stock da dívida), no valor

nominal de € 240 m, com um custo de € 238 m, registado na CGE como despesa de passivos financeiros no subsector dos SFA4.

Relativamente aos juros, o mapa 13 regista € 7.278 M e o mapa 51 regista € 7.425 M. Conjugando os dados inscritos nestes mapas conclui-se que os juros das operações de financiamento e de gestão de

derivados financeiros foram, respetivamente, de € 7.644 M e € - 219 M5 e, desta forma, a despesa com os juros foi de € 7.425 M. No seu pagamento o IGCP utilizou verbas do OE inscritas na CGE como juros da dívida (€ 7.278 M), bem como verbas que resultam de ganhos de aplicações de tesouraria6 (€ 4 M7), juros devolvidos pelo MEEF8 (€ 5 M) e juros corridos9 recebidos na emissão de OT (€ 138 M10) e ainda verbas provenientes do FRDP relativos à reconstituição de títulos (€ 0,3 M11).

Por fim, os mapas 13 e 48 registam como “Outros encargos correntes da dívida” € 101 M12 (em 2015 fora € 67 M), respeitantes a comissões e a despesas gerais de gestão.

No que respeita aos fluxos financeiros, de receita e de despesa, associados à gestão da dívida pública

dos SI, a análise realizada permitiu identificar na CGE um conjunto de erros, omissões e incorreções:

 Nos títulos emitidos a desconto, BT, verificou-se que quando as emissões se realizam a taxas de juro negativas13, o IGCP não distingue o fluxo de capital recebido (produto) do fluxo de juros

1 Cfr. CGE, mapa XXVIII – Aplicação do Produto de empréstimos em 2016. Ver também ponto 4.1.4 deste Parecer. 2 Compensação prevista na LEO art. 15.º da Lei 151/2015, de 11/9. 3 Cfr. mapa XXIX, coluna das anulações. 4 Dívida anulada (títulos Consolidados e Certificados de Renda Perpétua) com verbas provenientes do FRDP, nos termos

do Decreto-Lei 453/88, de 13/12, e da Lei 11/90, de 05/04, e inscritos, no subsector dos SFA. 5 O resultado líquido das operações de derivados financeiros foi de € 213,5 M e o das contas-margem de € 5,4 M. Nos

termos da LEO, estas receitas constituem exceção ao princípio da não compensação, devendo ser abatidas à despesa. 6 Compensação prevista na LEO, art. 15.º da Lei 151/2015, de 11/09. 7 Valores identificados na alínea m) do mapa 51 da CGE 2016. 8 Sobre estes juros ver ponto 4.1.1.4 – Empréstimos do PAEF, deste relato. 9 Juros pagos antecipadamente pelos subscritores de empréstimos em colocação. 10 O valor total recebido como juros corridos em 2016, na emissão de OT, foi de € 204 M, deste montante, € 66 M ficou

na posse do IGCP por corresponder a juros com vencimento no ano seguinte. 11 Valor referente à capitalização de CA e CTPM reconstituídos, cuja despesa foi inscrita em orçamentos de anos anteriores.

Cfr. alínea l) do mapa 51. 12 Este valor inclui € 11,1 M relativos à comissão de gestão atribuída anualmente ao IGCP, que no ano em apreço ascendia

a € 22,67 M (Despacho n.º 771/12 - SEATF, de 27/7), e em 2015 fora de € 21,7 M. 13 Situação que resulta num recebimento, que nos termos da LEO, art. 15.º, n.º 3, alínea ii), por ser uma receita de juros

associada à emissão de dívida pública, deve ser abatida às despesas da mesma natureza.

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Tribunal de Contas

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recebidos, classificando, na data da emissão, as receitas obtidas com juros como se tratassem

também do produto de emissão, quando efetivamente não o são.

Em resultado deste procedimento, o produto dos empréstimos públicos (receita de passivos

financeiros), em 2016, está sobrevalorizado em € 625.878,09.

Também a despesa com passivos financeiros está sobrevalorizada em € 315.243,26 porque, na maturidade destes títulos, o IGCP requisita ao OE, como passivos financeiros, o valor dos juros

recebidos na data da emissão e utiliza-o no pagamento de despesa com juros.

Estes procedimentos são pouco transparentes, uma vez que os juros negativos recebidos na

emissão de BT (receitas) não estão indicados na CGE1, e a contabilização destas receitas como

passivos financeiros desvirtua os valores da Conta e viola a LOE.

 Devido a um lapso na classificação de um fluxo de capital de um instrumento derivado, uma despesa no valor de € 3.500,00 foi afeta ao agrupamento 03 – “juros e outros encargos”, em vez de ser ao agrupamento 10 – “Passivos financeiros”.

Em sede do contraditório, o IGCP referiu que o montante em causa assume “um valor material muito pouco relevante para constar num Parecer sobre a CGE, quando verificamos que estamos perante

um orçamento que apresenta uma execução anual que ascende a €62.985.191.124,43”.

 A amortização dos instrumentos designados, no mapa XXIX, por GBP20MAY2016ISIN760 e por BND GBP20MAY2016ISIN653, de valor nominal, respetivamente, de GBP 50.000.000 e

de GBP 66.640.000 apresentam naquele mapa, respetivamente, o contravalor em euros de

€ 61.973.227,57 e de € 82.597.917,70. Porém, usando as taxas de câmbio dos dias das operações, os valores apurados são, respetivamente, de € 64.528.618,44 e de € 86.003.742,66.

De acordo com explicação do IGCP2, os contravalores em euros das amortizações, apresentados

no mapa XXIX, foram calculados com as taxas de câmbio da data de emissão, e não a da operação

em causa (amortização). Contudo, no mesmo mapa foi utilizado outro critério para as

amortizações do empréstimo do FMI, nas quais foram corretamente usadas as taxas de câmbio

das datas de amortização, evidenciando assim o efetivo contravalor em euros.

Na verdade, só o uso da taxa de câmbio dos dias das operações é que permite, no ano da

amortização, a comparação entre o mapa XXIX (valor nominal) e o mapa 52 (custo efetivo) e só

desta forma é que é assegurado o uso do mesmo critério para todos os instrumentos de dívida,

em moeda euro ou em moeda não euro3.

Na sua resposta o IGCP informou “que a elaboração do mapa XXIX para o ano 2017 contemplará a recomendação do Tribunal de Contas no sentido de apresentar o contravalor em euros das amortizações

de empréstimos em moeda estrangeira, calculado com base na taxa de câmbio do BCE da data da

amortização em detrimento da existente na data da emissão”.

 Em 2016, o FEEF devolveu a prepaid margin retida em 2011 acrescida dos juros obtidos no investimento realizado com o valor retido. Esta receita de juros, € 37.480.192,61, foi usada no pagamento de juros vencidos no ano. Todavia, o mapa 51 não evidencia este valor, como faz

com outras situações idênticas, apresentando neste caso, para o empréstimo do FEEF4 juros no

1 Por comparação, os juros corridos recebidos na emissão de OT estão claramente identificados no mapa 51 da CGE, quer

quanto aos recebimentos quer quanto aos pagamentos. 2 Explicação prestada em sede do contraditório do PCGE 2015, ponto 4.1.1.2, e reiterada no âmbito da ação preparatória

do PCGE 2016, realizada junto do IGCP. 3 De salientar, por exemplo, em 2016, foi amortizada a OT 4.20OUT2016 que no mapa XXIX apresenta como valor

nominal amortizado de € 4.396.125.000 e no mapa 52 o valor de custo da amortização de € 4.403.640.917,25. 4 Empréstimo identificado nos mapas XXIX e 51 da CGE 2016 como Loan-Facility-Floating-EFSF.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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valor de € 299.297.848,72, quando os juros foram € 336.778.041,33, e no seu pagamento foram utilizadas verbas requisitadas ao OE (€ 299.297.848,72) e o valor recebido (€ 37.480.192,61).

 Os juros da dívida consolidada, € 233 m, foram integralmente inscritos na classificação económica “03.01.03” e os juros dos Certificados de Renda Perpétua (CRP), € 98 m, foram integralmente inscritos na “03.01.06”. Em ambas as situações não foi feita a adequada desagregação ao nível da rubrica da despesa1, inviabilizando assim a correta imputação destas

despesas aos respetivos sectores institucionais detentores dos títulos2.

Na sua resposta, o IGCP reiterou o que referiu em Pareceres de anos anteriores, explicando que “a aplicação informática que suporta a gestão destes títulos não possui a classificação dos seus titulares (…) situação que condiciona o apuramento dos juros por classificação económica e a consequente

relevação nas respetivas classificações económicas”, acrescentando que “os valores em causa não são

materialmente relevantes pelo que não se justifica o investimento numa nova aplicação”. Assim, a

situação mantem-se em 2016.

Em suma, a CGE 2016 contem erros, como a errada classificação de receitas de juros como passivos

financeiros, e algumas deficiências, como o uso de classificações económicas que não identificam

corretamente o sector económico dos detentores da dívida, bem como alguns dos seus mapas (XXIX,

50 e 51) não refletem com transparência os fluxos (receita/despesa) associados a alguns instrumentos

de dívida, observando-se a existência de vários critérios no mesmo mapa e a ausência de notas

explicativas3.

De acordo com o exposto anteriormente no subsector dos SI, o produto das emissões de 2016 foi de

€ 66.019,5 M (na CGE, mapa 50 e XXVIII, sobrevalorizado em € 0,63 M). A despesa com amortizações foi de € 55.605,7 M (na CGE, mapa 13 e 52, sobrevalorizado em € 0,3 M), com juros foi de € 7.278 M e com outros encargos correntes da dívida foi de € 101 M.

4.1.1.3. Stock consolidado da dívida

O quadro seguinte apresenta o apuramento realizado para a dívida não consolidada, o valor dos títulos

de dívida pública na posse de entidades dos SI, dos SFA e da SS, e a dívida consolidada4 do subsector

dos SI, no final de 2016 e no ano anterior, bem como a respetiva evolução.

1 Prevista no Classificador de receitas e despesas públicas, Decreto-Lei 26/2002, de 14/02. 2 No âmbito do contraditório do PCGE 2014, ponto 4.1.1.2, o IGCP referiu que 80% dos títulos Consolidados encontram-

se sobre custódia dos bancos, inviabilizando o apuramento do sector institucional no qual se inserem os seus detentores. 3 Observa-se a ausência de notas explicativas no “Mapa 51 – Encargos de juros da dívida pública”, nos casos dos BT e do

FEEF, e no “Mapa 50 – Movimento relativo ao Produto dos empréstimos Públicos”, no caso do MEEF e do FEEF. 4 O apuramento da dívida consolidada é realizado com base na informação reportada pelas entidades (SI, SFA e SS) no

âmbito das Instruções do Tribunal 1/2008 – 2.ª Secção. Desta informação constam os ativos financeiros (designadamente títulos de dívida), bem como o respetivo rendimento. Sobre os juros dos títulos da dívida pública auferidos pelos SI e

SFA ver ponto 9.1. deste Parecer.

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Tribunal de Contas

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Quadro B. 32 –Stock da dívida consolidada em valor nominal (SI)

(em milhões de euros)

Designação Em 31/12/2015 Em 31/12/2016 Variação

Total %

Dívida não consolidada (1) 226 362,6 236 282,4 9 919,7 4,4

Títulos na posse do Estado (2) a) 20 757,1 19 978,7 -778,4 -3,7

Títulos na posse SI 0,7 0,7 0,0 2,8

Títulos na posse SFA 11 217,2 10 120,3 -1 096,9 -9,8

Títulos na posse SS 9 539,2 9 857,8 318,5 3,3

Total consolidado (SI) (1)-(2) 205 605,5 216 303,6 10 698,1 5,2

a) Valores reportados ao Tribunal por entidades dos SI, dos SFA e da SS, que não foram auditados. Em

algumas situações, foram confrontados com dados do IGCP. Valores diferentes do PGCE 2015 em resultado

da alteração do universo dos SFA e de correções realizadas.

Fonte: IGCP e reporte no âmbito das Instruções do Tribunal 1/2008-2.ª Secção.

A dívida consolidada (SI) em 2016 aumentou 5,2%, quando comparada com o final do ano anterior,

totalizando € 216.304 M. Paralelamente, os títulos da dívida pública na posse do Estado diminuíram 3,7%, cifrando-se em € 19.979 M. Esta variação resulta da diminuição dos títulos na posse dos SFA1 (-9,8 %), parcialmente compensada com o aumento dos títulos na posse da SS (+3,3%).

Em 31/12/2016, o valor nominal dos títulos de dívida pública na posse dos SFA ascendia a € 10.120,3 M, dos quais 50% correspondia a OT2, 32% a CEDIC, 12% a BT, 6% a MTN3, 0,2% a CEDIM e o

remanescente, com um peso residual, a Consolidados e a CRP4. Na mesma data os títulos na posse da

SS ascendiam a € 9.858 M, deste valor, 87% corresponde a OT5 e o remanescente a CEDIC6. O valor nominal dos títulos na posse do subsector dos SI, em 31/12/2016, era de € 715 m, dos quais 21% correspondiam a Consolidados e 79% a CRP7.

Os Consolidados e os CRP, no seu conjunto, têm um peso diminuto no stock da dívida8, apenas € 11,6 M em 31/12/2016, € 9,4 M de Consolidados (dos quais cerca de 5% estava na posse do Estado, SI+SFA+SS) e € 2,2 M de CRP, dos quais cerca de 45% pertencia ao Estado.

Nos 3 subsectores, há entidades com títulos de valor nominal muito reduzido e com rendimentos muito

baixos. Há também casos em que o IGCP desconhece o atual detentor dos títulos, como é o caso dos

títulos abandonados a favor do Estado9. A manutenção destes títulos na carteira do Estado, em especial

na posse dos SI, acarreta encargos (comissões e custos administrativos associados à gestão dos títulos10),

1 CEDIM, Medium Term Notes (MTN) e CEDIC. Ver também ponto 9.1.2. deste Parecer. 2 Em 31/12/2016, o valor nominal das OT na posse do SFA ascendia a € 5.110 M, do qual 92% pertencia à CGA. 3 Títulos designados no mapa XXIX por Bond EUR 17OUT2022, que estão integralmente na posse da CGA (€ 619,5 M). 4 No que respeita aos CRP na posse dos SFA, tendo presente a informação obtida junto do IGCP, há entidades que embora

sejam titulares de CRP não reportaram informação ao Tribunal e por isso não foram consideradas neste apuramento. Por

outro lado, e em sentido contrário, há entidades a declarar títulos Consolidados ao Tribunal, como são exemplos a CP – Comboios de Portugal e o Fundo de Acidentes de Trabalho, e, por isso, foram consideradas no apuramento realizado,

embora não constem da informação prestada pelo IGCP. Ver ponto 9.1.2 deste Parecer. 5 Títulos na posse do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social. 6 No subsector da SS há ainda entidades com títulos Consolidados e CRP, de valor muito residual. Em 31/12/2016, os

valores destes títulos ascendiam globalmente a € 0,2 M. 7 Ver ponto 9.1.1.1. deste Parecer. 8 O equivalente a apenas 0,005% do valor nominal da dívida pública (SI) não consolidada. 9 Ver ponto 9.1.1.1. deste Parecer. 10 Os Consolidados estão registados na Central de Valores Mobiliários, gerida pela Interbolsa. Anualmente o IGCP paga

comissões a esta central, relativas a estes títulos.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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por vezes mais elevados do que o rendimento auferido pela entidade credora, situação que deverá ser

reconsiderada dando seguimento à recomendação do Tribunal de anos anteriores nesse sentido.

Em sede de contraditório, o IGCP referiu que “concorda com o entendimento do Tribunal de Contas, de que a gestão dos Consolidados e dos Certificados de Renda Perpétua é geradora de custos financeiros e operacionais

que não são compatíveis com a representatividade desses instrumentos de dívida.” Acrescentando que em 2016

deu inicio a um projeto que visa “promover a venda de Certificados de Renda Perpétua junto dos detentores e que conduziu à sua redução. Em 2017, esse projeto foi alargado aos Consolidados na posse de entidades coletivas,

prevendo-se que o impacto no stock da dívida (redução) seja superior ao de 2016”.

4.1.1.4. Dívida consolidada por instrumentos

No quadro seguinte apresenta-se o valor nominal da dívida consolidada, apurada por instrumento, bem

como a sua evolução face ao ano anterior.

Quadro B. 33 – Dívida consolidada por tipo de instrumento (SI)

(em milhões de euros)

Designação

31/12/2015 31/12/2016 Variação

Montante Estrutura

(%) Montante

Estrutura

(%) Total %

Dívida de médio e longo prazo 189 817,2 92,3 199 558,1 92,3 9 740,9 5,1

Empréstimos 73 575,2 35,8 69 070,7 31,9 -4 504,5 -6,1

Empréstimos PAEF

MEEF 24 300,0 11,8 24 300,0 11,2 0,0 0,0

FEEF 27 328,3 13,3 27 328,3 12,6 0,0 0,0

FMI 20 827,1 10,1 16 327,5 7,5 -4 499,6 -21,6

Outros (BEI e Assunção -Casa do Douro) 1 119,8 0,5 1 114,9 0,5 -4,9 -0,4

Títulos 116 242,0 56,5 130 487,4 60,3 14 245,4 12,3

OTRV 0,0 0,0 3 449,7 1,6 3 449,7 -

OT 90 813,2 44,2 96 436,1 44,6 5 622,8 6,2

CEDIM 115,3 0,1 57,5 0,0 -57,8 -50,1

CT 7 926,5 3,9 11 281,2 5,2 3 354,7 42,3

CA 12 793,5 6,2 12 921,9 6,0 128,5 1,0

Outros 4 583,0 2,2 6 330,8 2,9 1 747,8 38,1

Consolidados e CRP 10,5 0,0 10,1 0,0 -0,4 -3,5

Dívida de curto prazo 15 788,4 7,7 16 745,5 7,7 957,2 6,1

Títulos 13 682,5 6,7 14 637,4 6,8 954,9 7,0

BT 13 339,7 6,5 13 962,0 6,5 622,2 4,7

CEDIC 342,8 0,2 675,4 0,3 332,6 97,0

Conta margem 2 105,9 1,0 2 108,1 1,0 2,3 0,1

Total consolidado 205 605,5 100,0 216 303,6 100,0 10 698,1 5,2

Fonte: IGCP e reporte no âmbito das Instruções do Tribunal 1/2008-2.ª Secção.

De seguida faz-se a análise da evolução da dívida pública (SI), em valores consolidados, destacando

apenas os instrumentos de financiamento mais representativos.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 122

Página 123

Tribunal de Contas

95

Dívida de médio e longo prazo

A dívida consolidada de médio e longo prazo ascendia a € 199.558 M, em 31/12/2016, registando um aumento de € 9.741 M. À semelhança de 2015, os empréstimos do PAEF sofreram uma redução, perdendo peso no stock da dívida, em resultado da amortização parcial antecipada do empréstimo do

FMI. Ao contrário, a dívida titulada aumentou o peso no stock da dívida, em resultado das emissões de

OT e OTRV.

Empréstimos do PAEF

Os empréstimos do PAEF1, concedidos pelas instituições internacionais: Facilidade Europeia de

Estabilidade Financeira (FEEF), Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF) e FMI, em

31/12/2016, globalmente ascendiam a € 67.956 M, valor que compara com € 72.455 M, em 31/12/2015.

Em 2016, o Estado Português voltou a proceder à amortização parcial antecipada do empréstimo do

FMI, aproveitando a possibilidade de financiamento a taxas de juro mais baixas, através de outros

instrumentos de dívida e de o FMI não impor penalidades ao reembolso antecipado. Assim, foram

realizados pagamentos em fevereiro, novembro e dezembro de, respetivamente, DSE 1.583 M,

DSE 1.621 e DSE 356 M, o que perfaz DSE 3.560 M (o equivalente a € 4.496 M). Estes reembolsos incidiram sobre amortizações de capital que originalmente estavam previstas para 2018 e 2019. Em

31/12/2016, a dívida ao FMI totalizava DSE 12.802,5 (o equivalente a € 16.327 M). Em 2016 a Conta regista juros pagos ao FMI de € 629 M (em 2015 fora € 861,1 M).

Os empréstimos concedidos pelo MEEF e pelo FEEF, no ano em apreço, não tiveram qualquer variação

dos valores em dívida, assim, em 31/12/2016, ascendiam, respetivamente, a € 24.300 M e a € 27.328 M.

No que respeita ao MEEF foi efetuada a extensão da maturidade2 da tranche vencida em 2016, que

resultou na substituição da transação inicial por 3 novas transações com um preço diferente, dando lugar

ao recebimento de capital, em termos globais, de € 10,4 M3. Por se tratar duma receita obtida na reemissão do financiamento foi contabilizada como produto de empréstimos públicos. Esta operação

deu também origem ao recebimento de juros corridos no valor de € 5 M4. A CGE 2016 regista juros pagos ao MEEF de € 697 M (em 2015 fora € 684,5 M) e comissões pagas no valor de € 10 M.

Também foi devolvida a prepaid margin, retida em 2011, pelo FEEF (€ 264,3 M5), por se tratar do reembolso de parte do empréstimo retido na data da emissão, foi contabilizado como produto de

empréstimos públicos. Conjuntamente foi devolvida uma receita de juros, de € 37 M6 (remuneração do investimento realizado com o valor retido). A CGE 2016 regista juros pagos ao FEEF de € 524 M7 (em 2015 fora € 574 M), bem como comissões no valor de € 5,9 M (em 2015 fora € 2,1 M).

1 Sobre esta matéria ver PCGE de 2011 a 2014, ponto 4.1.1. 2 Conforme decidido no ECOFIN de 21/06/2013, a maturidade média dos empréstimos será estendida por um prazo de 7

anos, passando de 12,5 para 19,5 anos perto da maturidade dos empréstimos. 3 Este valor não tem impacto no stock da dívida, por se tratar de mais-valias na contratação de nova dívida por parte do

MEEF, não havendo alteração do valor nominal da tranche substituída. A receita consta do mapa 50 da CGE 2016, como

produto dos empréstimos do ano, mas sem qualquer nota explicativa. Ver ponto 4.1.1.2 deste Parecer. 4 Valor identificado na alínea b) do mapa 51 da CGE 2016. 5 Sem impacto no stock da dívida, por não haver alteração do valor nominal do respetivo empréstimo. Consta da CGE,

mapa 50 (Produto de empréstimos), mas sem qualquer nota explicativa. Ver ponto 4.1.1.2 deste Parecer. 6 Valor usado no pagamento de juros, omisso no mapa 51 da CGE 2016, como se explica no ponto 4.1.1.2. deste Parecer. 7 Deste valor € 224,8 M respeitam ao Loan Facility-EFSF e € 299,3 M respeitam ao Loan Facility-Floating-EFSF. Ver

também ponto 4.1.1.2 deste Parecer.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 123

Página 124

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

96

Títulos de médio e longo prazo

Na dívida titulada de médio e longo prazo destacam-se as OT que, no final de 2016, atingiam € 96.436 M e representavam 44,6% do total da dívida pública consolidada, observando-se um aumento de € 5.623 M (+6,2%). Destaca-se ainda a emissão, no início de 2016, do instrumento designado no mapa XXIX da

CGE por BNDEUR25Fev2026, no valor de € 1.766 M, que ocorreu na sequência da recapitalização do Banif (final de 2015), tratando-se de uma emissão a 10 anos com taxa de 3,3%.

Obrigações de Tesouro

Em 2016, as emissões de OT em valor nominal não consolidado ascenderam a € 16.403 M. Foram realizadas emissões via sindicato, com o lançamento de uma nova linha a 10 anos, e reabertas outras

duas linhas1, via leilão. Realizou-se ainda uma operação de troca2 de títulos de OT com maturidades

próximas, entre 2017 e 2019, com valor nominal global de € 1.012 M, por títulos3 com maturidades em 2025 e 2037, com valor nominal global de € 1.066 M. Globalmente as emissões do ano geraram mais valias no valor de € 320 M4 e foram pagas comissões de emissão no valor de € 9,75 M.

Para além dos títulos recebidos por troca e da amortização das OT com vencimento no ano5, outros

houve que foram amortizados antecipadamente6, no valor nominal global de € 3.002 M. Globalmente o custo das amortizações de OT, em 2016, foi superior ao respetivo valor nominal em € 249 M.

Em suma, em 2016, o custo das amortizações de OT ascendeu a € 10.440 M e o valor recebido nas emissões realizadas no ano foi de € 16.723 M, o que gerou um produto de emissões líquidas positivas no valor de € 6.283 M. Contudo, o stock da dívida representada por OT, em valores nominais não consolidados, registou um aumento de € 6.212 M, efeito justificado com as mais-valias obtidas nas emissões. Desta forma, em 31/12/2016, a dívida em valor nominal não consolidado representada por

OT totalizava € 110.076 M. A CGE regista o pagamento de juros de OT no valor global de € 4.759 M7 (em 2015 fora € 4.235 M) e de outros encargos de € 9,8 M (em 2015 fora € 20,4 M).

Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV)

Com o objetivo de dinamizar o mercado da dívida pública portuguesa, diversificando e alargando o

conjunto de instrumentos financeiros, em 2016 foram lançadas as OTRV, emitidas com prazo de 5 anos

e uma taxa de juro variável8. Foram emitidas três séries, em maio, agosto e novembro, respetivamente

no valor nominal de € 750 M, € 1.200 M e de € 1500 M, o que perfaz o valor global de € 3.450 M. A CGE regista ainda comissões de emissão no valor de € 31 M e juros no valor de € 8,4 M.

1 A nova OT 2,875Jul2026 e reabertura da OT 2,2Out2022 e da OT 4,1Fev2045. 2 Envolvendo as OT4,35Out2017, OT 4,45Jun2018 e OT4,75Jun2019. 3 Envolvendo as OT2,875Out2025 e 4,1Abr2037. 4 As emissões das OT: 2,20Out2022, 2,875Jul2026 e 4,1Fev2045, geraram menos-valias de valor global de € 153 M. As

emissões das OT: 3,85Abr2021, 4,95Out2023, 2,875Out2025, 3,875Fev2030 e 4,1Abr2037 geraram mais-valias

€ 473 M, o que globalmente gera uma receita em 2016 com mais valias na emissão no valor € 320 M (cfr. mapa 50 CGE). 5 OT 6,40 Fev2016 (€ 2.088 M) e a OT 4,20 Out2016 (€ 4.396 M). 6 Recompras de títulos das OT: OT4,2Out2016, OT4,35Out2017, OT4,45jun2018 e OT4,75Jun2019. 7 Dos quais € 76,8 M respeitam a juros corridos recebidos em 2015 e € 138 M de juros corridos recebidos em 2016. 8 Taxa de juro variável, indexada à Euribor a 6 meses adicionada de um spread. O investidor tem sempre assegurada uma

taxa de juro mínima igual ao spread.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 124

Página 125

Tribunal de Contas

97

Dívida de retalho (Certificados de aforro e do Tesouro)

No que respeita à dívida de retalho (CA e CT), em 2016 manteve-se a tendência de crescimento, com

um contributo de € 3.483 M para o financiamento do ano (em 2015 fora de € 3.531 M).

O stock dos CA (séries A, B, C e D) aumentou cerca de € 128,5 M, cifrando-se em € 12.922 M em 31/12/2016, em resultado de emissões no valor de € 782 M1 e amortizações de € 654 M. A CGE regista o pagamento de € 365 M de juros deste instrumento (€ 373 M em 2015). Por sua vez, os CT, com emissão suspensa desde 2012, deram um contributo líquido negativo para o financiamento do ano

(€-9 M), devido às amortizações ocorridas, tendo sido pagos juros no montante de € 226 M. Por seu turno, os CTPM contribuíram positivamente para o financiamento do ano (+€ 3.364 M), em resultado do elevado valor das emissões (€ 3.479 M) e diminutas amortizações (€ 115 M), com o pagamento de juros no valor de € 201 M. A CGE regista ainda € 29 M de outros encargos correntes, relativos a CA e CT.

Dívida de curto prazo

Em 2016, o stock consolidado da dívida de curto prazo2 aumentou € 957 M (6%), totalizando € 16.745,5 M em 31/12/2016. Desde 20153 que a dívida direta inclui as contrapartidas recebidas no âmbito dos contratos4 de derivados financeiros para cobertura de risco de taxa de juro e cambial,

seguindo o critério adotado pelas autoridades estatísticas para a dívida de Maastricht. Em 31/12/2016, o

valor das contas-margem5 era de € 2.108 M6, superior em € 2 M ao do ano anterior.

Embora as contas-margem só em 2015 passaram a estar refletidas no stock da dívida, os juros pagos por

estes recebimentos são desde 2011 contabilizados como juros da dívida pública e refletidos anualmente

nos respetivos mapas da CGE. No ano em apreço o Estado Português recebeu juros (“pagou juros negativos”) no valor de € 5 M (em 2015 fora € 2 M).

A dívida titulada de curto prazo, representada por CEDIC, em valor nominal consolidado, cresceu 97%,

passando de € 342,8 M em 31/12/2015 para € 675,4 M em 31/12/2016. Na CGE, em valores nominais não consolidados, as emissões ascenderam a € 15.064 M, as amortizações a € 15.368 M e os juros pagos a € 14 M.

O stock consolidado apurado de BT, em 31/12/2016, ascendia a € 13.962 M, superior em € 622 M ao valor de 2015.

Em 2016, de acordo com o valor não consolidado apurado, foram realizadas emissões de BT com

diversas maturidades, no montante global de € 18.656 M7 e amortizações de € 18.543 M8. Desta forma,

1 Inclui capitalização de juros no valor de € 270 M. Valores identificados no mapa XXIX, alíneas c) a f). 2 Engloba contas-margem, CEDIC e BT. 3 Ver PCGE 2015, ponto 4.1.1.4. 4 Contratos regulados pela Internacional Swaps and Derivatives Association/Credit Support Annex (ISDA/CSA). 5 Estes recebimentos têm por objetivo cobrir o risco de default das contrapartes nos derivados negociados ao abrigo dos

contratos ISDA/CSA e dependem do valor de mercado dos derivados. 6 O stock das contas-margem depende da evolução diária do valor de mercado dos derivados, que por sua vez está

diretamente relacionada com a volatilidade das taxas de câmbio e de juro. 7 Valor descontado não consolidado apurado difere da CGE que inclui juros negativos recebidos na emissão, ver ponto

4.1.1.2 deste Parecer. 8 Difere da CGE 2016 que inclui juros negativos. Ver ponto 4.1.1.2 deste Parecer.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 125

Página 126

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

98

no final de 2016, o stock de BT apurado totalizava a € 15.135 M1 (+€ 113 M do que no final do ano anterior). A CGE regista juros pagos de BT no valor de € 9 M.

4.1.2. Dívida direta dos SFA

4.1.2.1. Stock nominal e fluxos financeiros

Em 2016, são 45 as entidades integrantes deste subsector com passivos financeiros tais como

empréstimos, títulos, locações ou derivados financeiros. As mais significativas são empresas que foram

reclassificadas como serviços autónomos e integradas no OE. Com base no inquérito efetuado, concluiu-

se que o valor nominal do stock da dívida era de € 37.899,5 M em 31/12/2015 passando a € 36.585,0 M em 31/12/2016 (valores não consolidados), isto é, diminuiu € 1.314,5 M (3,5%).

Quadro B. 34 – Valor nominal do stock da dívida (SFA)

(em milhões de euros)

Valor nominal apurado Variação

Em 31/12/2015 Em 31/12/2016 Montante %

Empréstimos 26 118,7 25 382,0 -736,7 -2,8

Títulos 11 511,0 10 949,9 -561,8 -4,9

Locação financeira 269,8 253,1 -16,7 -6,2

Total 37 899,5 36 585,0 -1 314,5 -3,5

Fonte: Inquérito aos SFA.

Para além da dívida resultante de créditos, títulos e locações financeiras, 6 entidades detinham contratos

de derivados financeiros cujo justo valor passou de € -1.438,3 M em 31/12/2015 para € -1.399,4 M em 31/12/2016, isto é, aumentou € 38,9 M (2,7%), como se pode ver no quadro seguinte. As operações mais significativas registam-se na Metro do Porto e na Metropolitano de Lisboa. Parte delas estava em

contencioso e não originaram despesas em 20162. Para 2016, apuraram-se despesas líquidas com juros

no valor de € 46,0 M.

Quadro B. 35 – Evolução da dívida representada por derivados (SFA)

(em milhões de euros)

Justo valor Variação

Em 31/12/2015 Em 31/12/2016 Montante %

CP -1,3 0 1,3 100,0

Metro do Porto -519,0 -503,6 15,4 3,0

Metropolitano de Lisboa -736,5 -702,6 33,9 4,6

Parpública -180,4 -192,7 -12,3 -6,8

Parvalorem 0,9 0,2 -0,8 -81,0

Transtejo -2,0 -0,7 1,3 65,2

Total -1 438,3 -1 399,4 38,9 2,7

Fonte: Inquérito aos SFA.

1 Difere da CGE 2016. Ver ponto 4.1.1.1. deste Parecer. 2 Em 2017, o Governo chegou a um acordo extrajudicial com o Banco Santander da execução do qual resultou a realização

de despesas de montante significativo.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 126

Página 127

Tribunal de Contas

99

*

* *

O inquérito permitiu, ainda, apurar o valor das receitas e despesas associadas ao serviço da dívida, que

diverge significativamente do apresentado na CGE 2016. Assim, as receitas de capital com passivos

financeiros estão sobrevalorizadas em 64%, as despesas de capital estão subvalorizadas em 1,8% e as

despesas correntes com o serviço da dívida estão subvalorizadas em 19%.

A diferença na receita de passivos financeiros (€ 2.067 M) resulta, sobretudo, de a receita dos SFA proveniente de aumentos de capital pelo Estado ter sido tratada como receita de passivos financeiros1,

embora esta rubrica apenas abranja “ …receitas provenientes da emissão de obrigações e de empréstimos

contraídos a curto e a médio e longo prazos”. Para além do classificador da receita ser claro na exclusão

dos aumentos de capital da receita de passivos, a própria natureza da receita também não aponta no

sentido da sua inclusão, porque o capital não se integra no passivo, mas antes nos recursos próprios da

empresa. Acresce que se o capital fosse um passivo financeiro das entidades integradas no perímetro da

Conta a dívida dos SFA estaria, assim, subvalorizada em montantes muito elevados pois todo o capital

social/estatutário dessas entidades seria dívida pública. O tratamento contabilístico dado na CGE aos

aumentos de capital resultou num empolamento da receita com passivos financeiros no valor de

€ 2.037,2 M. A restante diferença resulta de empréstimos e suprimentos concedidos que foram classificados como outros passivos financeiros (€ 19,9 M).

Ouvida em contraditório, a DGO reproduz as alegações produzidas no ano anterior, isto é, que ponderou

a hipótese de “…utilização do capítulo de receita 13 – Outras receitas de capital para registar os aumentos de

capital das EPR…” mas entendeu que “… esta opção não é isenta de inconvenientes, dado que a sua utilização

faria com que ocorresse uma melhoria artificial do saldo global da administração central…” e conclui

concordando com a necessidade de revisão do classificador económico, a qual, não tendo ainda ocorrido,

implica que o problema continuará a verificar-se em 2017 e 2018. Assim sendo, reitera-se que o

argumento das consequências no valor do saldo global da administração central não parece muito

sustentável porque a classificação económica visa explicitar a natureza das operações e não assegurar

um qualquer valor “natural” para o citado saldo. Por outro lado, a revisão do classificador que se julga

conveniente e necessária é a que clarifique que estas receitas não são receitas de passivos.

A diferença na despesa com passivos financeiros (€ -36 M) resulta de várias omissões e de erros de classificação económica, como por exemplo: o pagamento de encargos com juros e de dívida a

fornecedores foi classificado como despesas com passivos.

No caso da despesa corrente com juros e outros encargos, a diferença (€ -123,7 M) continua a ser principalmente resultante da utilização de rubricas de natureza residual, como sejam outros juros

(€ 116,7 M) e outros encargos financeiros (€ 6,7 M), que assim ficam empoladas com volumes significativos de encargos da dívida pública e perdem na prática a sua natureza residual. Não se tratou,

no entanto, de uma prática sistemática, isto é, acontece em algumas empresas e não noutras, tal como já

tinha ocorrido em anos anteriores. Tal prática parece traduzir uma continuada falta de controlo por parte

do Ministério das Finanças. Verificou-se, ainda, a incorreta inclusão em juros da dívida pública de

€ 2,6 M de encargos com juros de ativos financeiros (aplicações no Banco de Portugal com taxas de juro negativas efetuadas pelo Fundo de Garantia de Crédito Agrícola Mútuo e pelo Fundo de Garantia de

Depósitos).

1 Em 2014 e 2015, verificou-se que este tipo de receita foi igualmente mal classificado em passivos financeiros.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 127

Página 128

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

100

Quadro B. 36 – Fluxos financeiros (SFA)

(em milhões de euros)

Valor CGE (1) Valor apurado (2) Diferença (1) - (2)

Montante %

12. Passivos financeiros (receitas) 3 245,1 1 177,8 2 067,3 63,7

12.04 Derivados financeiros 0,0 0,0 0,0 0,0

12.05 Empréstimos a curto prazo 21,8 66,8 -45,0 -206,6

12.06 Empréstimos a médio e longo prazo 1 166,2 1 111,1 55,1 4,7

12.07 Outros passivos financeiros 2 057,1 0,0 2 057,1 100,0

10. Passivos financeiros (despesas) 1 996,3 2 032,2 -36,0 -1,8

10.03 Títulos a médio e longo prazo 567,8 561,3 6,5 48,9

10.05 Empréstimos a curto prazo 13,3 82,2 -68,8 -34,1

10.06 Empréstimos a médio e longo prazo 1 213,3 1 388,7 -175,4 -27,9

10.07 Outros passivos financeiros 201,8 0,0 201,8 100,0

03.01. Juros da dívida pública 627,9 731,6 -103,6 -16,5

03.02. Outros encargos correntes da dívida pública 10,8 29,8 -19,0 -176,2

03.03. Juros de locação financeira 0,1 1,2 -1,1 -879,0

Fonte: CGE 2016 e inquérito aos SFA.

A despesa corrente e de capital, associada ao serviço da dívida pública, está subvalorizada, por omissão,

essencialmente por causa do tratamento dado ao serviço da dívida bancária contraída pela Defloc e pela

Defaerloc para aquisição de material de defesa, posteriormente locado ao Ministério da Defesa. Os juros

(€ 6,8 M), outros encargos correntes (€ 0,3 M) e amortizações (€ 40 M) desta dívida, que em 31/12/2016 ascendia a € 280 M, foram pagos à banca diretamente pelo Ministério da Defesa que os contabilizou como pagamento de rendas de locação (agrupamento 02), por força dos contratos de cessão de créditos,

celebrados entre aquelas empresas, proprietárias do material de defesa locado, e os consórcios bancários

financiadores da sua produção e aquisição. O correto seria que, para além do registo do pagamento das

rendas, aquelas duas empresas contabilizassem como receita as rendas recebidas e como despesa o

serviço da dívida bancária.

Por outro lado, a despesa de capital, associada ao serviço da dívida pública, está sobrevalorizada por

força do tratamento dado ao pagamento da dívida a fornecedores dos Agrupamentos Complementares

de Empresas (ACE) “Somos compras”, “Somos pessoas” e “Somos contas” que foram transmitidas para a Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, EPE, em execução do Decreto-Lei 209/2015, de 25/09.

A dívida, não financeira na sua origem, foi paga por esta última entidade e a correspondente despesa

(€ 3,1 M) está classificada na CGE como despesa de passivos financeiros, ou seja, amortizações de capital1. Ora, a alteração do devedor não altera a natureza da dívida que, sendo originariamente não

financeira, não passa, por força da transmissão, a sê-lo. Acresce que, na liquidação da dívida bancária

daqueles ACE, os juros e outros encargos no valor de € 0,4 M foram, também, classificados como passivos financeiros pelo que este tipo de despesa está sobrevalorizado num total de € 3,5 M.

As principais diferenças apuradas nos fluxos de receita e despesa associados à gestão da dívida pública,

apresentadas no quadro anterior, são:

i. Receitas de passivos financeiros:

a. A receita com a classificação económica 12.05 “Passivos financeiros – empréstimos a curto prazo” integra indevidamente € 17 M de receitas da emissão de empréstimos de médio/longo

1 A Serviços Partilhados do Ministério da Saúde informou ter sido a DGO quem indicou, telefonicamente, a rubrica a

utilizar para esta despesa.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 128

Página 129

Tribunal de Contas

101

prazo (RTP), que devia ter sido classificada como 12.06 “Passivos financeiros – empréstimos a

médio e longo prazo”, e omite € 62 M de receita de emissão de empréstimos de curto prazo (Parque Escolar) classificados como 12.06 “Passivos financeiros – empréstimos a médio e longo

prazo”.

b. A receita com a classificação económica 12.06 “Passivos financeiros – empréstimos a médio e longo prazo” integra indevidamente € 62 M de receita de empréstimos de curto prazo (Parque Escolar) e € 30 M de aumento de capital social da Parpública que deviam ter sido classificados como 13.01 “Outras receitas de capital”; omite receita de empréstimos de médio/longo prazo no valor de € 17 M (RTP) e receita de suprimentos e outros empréstimos de médio/longo prazo no valor de € 19,5 M (Parparticipadas e Sociedade Portuguesa de Empreendimentos), que foi classificada em 12.07 “Passivos financeiros – outros passivos financeiros”.

c. A receita com a classificação económica 12.07 “Passivos financeiros – outros passivos financeiros” integra indevidamente receita de aumentos de capital recebidos (Comboios de Portugal, EDIA, Fundo de Apoio Municipal, Infraestruturas de Portugal, Parpública,

Metropolitano de Lisboa, Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, Transtejo, Wolfparts

e diversas do sector da saúde) num total de € 2.037,2 M, que deviam ter sido classificados como 13.01 “Outras receitas de capital”, e de suprimentos e outros empréstimos de longo prazo no valor de € 19,5 M (Parparticipadas e Sociedade Portuguesa de Empreendimentos).

ii. Despesas com passivos financeiros:

a. A despesa com a classificação económica 10.03 “Passivos financeiros –Títulos a médio e longo prazo” omite € 6,8 M de despesa indevidamente classificada em 10.07 “Passivos financeiros – Outros passivos financeiros” (Parparticipadas) e € 7,7 M de despesa indevidamente classificada em 10.06 “Empréstimos a médio e longo prazo” (Metropolitano de Lisboa) e integra indevidamente despesa no valor de € 21 M que devia ser classificada em 10.06 “Empréstimos a médio e longo prazo” (Parpública).

b. A despesa com a classificação económica 10.05 “Passivos financeiros – Empréstimos de curto prazo” omite pagamentos no valor de € 62 M (Parque Escolar) e de € 6,9 M (Sociedade Portuguesa de Empreendimentos), que foram indevidamente classificados em 10.06

“Empréstimos a médio e longo prazo” e 10.07 “Passivos financeiros – Outros passivos financeiros”, respetivamente;

c. A despesa com a classificação económica 10.06 “Empréstimos a médio e longo prazo” integra indevidamente despesa no valor de € 62 M (Parque Escolar) e no valor de € 7,7 M (Metropolitano de Lisboa) que foram indevidamente classificados em 10.05 “Passivos financeiros – Empréstimos de curto prazo” e 10.03 “Passivos financeiros –Títulos a médio e longo prazo” , respetivamente, e omite despesa no valor de € 40 M de encargos com a amortização de empréstimos de longo prazo (Defloc e Defaerloc), despesa no valor de € 21 M de encargos de amortização de empréstimos de longo prazo (Parpública) que foram indevidamente

classificados em 10.03 “Passivos financeiros –Títulos a médio e longo prazo”, e ainda despesa no valor de € 184,1 M indevidamente classificada em 10.07 “Passivos financeiros - Outros passivos financeiros” (Estamo, Fundo de Resolução, Parparticipadas, Sagescur e Serviços Partilhados do Ministério da Saúde).

d. A despesa com a classificação económica 10.07 “Passivos financeiros – Outros passivos financeiros” integra indevidamente encargos no valor de € 6,8 M que deviam ter sido classificados em 10.03 “Passivos financeiros –Títulos a médio e longo prazo” (Parparticipadas), de € 6,9 M (Sociedade Portuguesa de Empreendimentos) que deviam ter sido classificados em 10.05 “Passivos financeiros – Empréstimos de curto prazo”, de € 184,1 M que deviam ter sido classificados em 10.6 “Empréstimos a médio e longo prazo” (Estamo, Fundo de Resolução, Parparticipadas, Sagescur e Serviços Partilhados do Ministério da Saúde), e de € 0,5 M que

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

102

deviam ter sido classificados em 12.02“Operações extra orçamentais – outras operações de

tesouraria” (Parups), bem como € 0,4 M que deveriam ter sido classificados em 03.01 “Juros e outros encargos - Juros da dívida pública” e € 3,1 M que deveriam ter sido classificados no agrupamento 2 – Aquisição de bens e serviços (Serviços Partilhados do Ministério da Saúde).

iii. Despesa com juros da dívida pública: a despesa com a classificação económica 03.01 “Juros e outros encargos - Juros da dívida pública” integra indevidamente despesa com outros juros no valor de € 6,6 M (Agência para o Desenvolvimento e Coesão, FGD e FGCAM) que deviam ser classificados em 03.05 “Juros e outros encargos – outros juros” e € 6,6 M de encargos que deveriam ter sido classificados em 03.02 “Juros e outros encargos – outros encargos correntes da dívida pública” (Parvalorem); e omite juros da dívida pública no valor de € 6,8 M (Defloc e Defaerloc) que estão omissos na CGE, juros no valor de € 109,7 M (GIL, Marina do Parque das Nações, Metropolitano de Lisboa e RTP) que estão classificados em 03.05 “Juros e outros encargos – outros juros”, de € 0,4 M que estão classificados em 10.07 “Passivos financeiros – Outros passivos financeiros” (SPMS) e de € 0,2 M que estão classificados em 02.02 “Aquisição de bens e serviços –Aquisição de serviços” (ENMC);

iv. Despesa com outros encargos correntes da dívida pública: a despesa com a classificação

económica 03.02 “Juros e outros encargos – outros encargos correntes da dívida pública” omite encargos desta natureza no valor de € 6,6 M (Parvalorem) que foram classificados na rubrica 03.01 “Juros e outros encargos - Juros da dívida pública”, no valor de € 12,3 M (CP, Edia, Metropolitano de Lisboa, Parque Escolar e Transtejo) que foram classificados nas rubricas 03.05

“Juros e outros encargos – outros juros” e 03.06 “Juros e outros encargos – outros encargos financeiros” e no valor de € 0,3 M (Defloc e Defaerloc) que estão omissos na CGE;

v. Despesa com juros de locação financeira: a despesa com a classificação económica 03.03

“Juros e outros encargos - juros de locação financeira” omite encargos desta natureza no valor de € 1,3 M (RTP) que foram classificados em 03.05 “Juros e outros encargos – outros juros”.

Como consequência deste apuramento, os valores do total de receita constantes dos mapa V – Receitas dos Serviços e Fundos Autónomos, por classificação orgânica, e mapa VI – Receitas dos Serviços e Fundos Autónomos, por classificação económica, € 48.835 M, e os do total da despesa constantes dos mapa VII – Despesas dos Serviços e Fundos Autónomos, por classificação orgânica, mapa VIII – Despesas dos Serviços e Fundos Autónomos, por classificação funcional, e mapa IX – Despesas dos Serviços e Fundos Autónomos, por classificação económica, € 41.180 M, devem ser acrescidos em € 47,1 M.

As entidades identificadas neste subponto, ouvidas em contraditório, vieram alegar diversas limitações

a que estiveram sujeitas por imposição da DGO, designadamente as decorrentes do chamado Regime

Simplificado da Circular Série A n.º 1379 (preparação do OE2016) que impõe a classificação de todas

as receitas de passivos em 12.07 - Outros passivos financeiros e de todas as despesas de passivos financeiros

em 10.07 - Outros passivos financeiros (Fundo de Resolução, Parparticipadas e Sagesecur), bem como a

classificação da despesa com juros e outros encargos em 03.01 - Juros da dívida pública ou em 03.06 -

Outros encargos financeiros (Fundo de Garantia de Crédito Agrícola Mútuo e Fundo de Garantia de

Depósitos1). Alegaram, ainda, outras dificuldades, decorrentes da impossibilidade de efetuar alterações

orçamentais no decurso da execução do OE2016, que conduziram à classificação incorreta de receitas e

despesas associadas ao serviço da dívida pública (Parque Escolar e Wolfpart) e problemas transitados

da execução do OE2015 (Fundo de Apoio Municipal).

1 No caso destas entidades, a “simplificação” do classificador das despesas traduziu-se em que juros de ativos financeiros

(depósitos junto do Banco de Portugal) figurem na CGE como juros de passivos financeiros.

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Tribunal de Contas

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Outras entidades alegaram que alguns dos erros de classificação apontados tiveram a anuência da DGO

(Agência para o Desenvolvimento e Coesão, CP, Infraestruturas de Portugal, Metropolitano de Lisboa,

Parpública1 e Serviços Partilhados do Ministério da Saúde2).

Por seu turno, a DGO respondeu que “A identificação de eventuais erros de classificação é geralmente detetada aquando da análise de um processo em concreto, pelo que sempre que é sinalizada uma incorreta

classificação, a DGO alerta a entidade envolvida para a necessária correção.”

A persistência, ao longo de vários exercícios orçamentais, de um número significativo de erros de

classificação económica e de omissões de contabilização de receitas e despesas que este Tribunal vem

apontando, evidencia que a DGO, impondo por via de circular administrativa um regime dito

simplificado, derroga o classificador das receitas e despesas públicas, induzindo a utilização de

classificações residuais quando existem classificações apropriadas, e reduz a transparência da CGE3..

4.1.2.2. Stock consolidado e fluxos financeiros

Analisando os passivos das entidades que compõem o subsector dos SFA, verifica-se que existe um

número significativo de casos em que o credor é uma entidade do mesmo subsector ou do subsector dos

SI. Assim, o valor nominal da dívida entre SFA, que em 31/12/2015 ascendia a € 610,9 M, reduziu-se em € 91,1 M (14,9%) durante o exercício de 2016, em grande medida como resultado de variações nos saldos de empréstimos e suprimentos entre empresas do mesmo grupo. Destacam-se o reembolso de

suprimentos pela Estamo e pela Sagesecur à Parpública, nos valores de € 94,3 M e de € 2,8 M, respetivamente, e os novos suprimentos efetuados pela Infraestruturas de Portugal à Gare Intermodal de

Lisboa, € 10,5 M, e pela Parque Expo98 à Marina do Parque das Nações, € 20,2 M. Por sua vez, o valor nominal da dívida de SFA a entidades do subsector dos SI, designadamente a DGTF, que em 31/12/2015

era de € 17.792,4 M, não registou alteração significativa em 2016 (€ +3,2 M). No entanto, houve novos empréstimos do Estado a empresas ex-BPN (€ 434 M), à Metro do Porto (€ 122,1 M) e à Transtejo (€ 4,3 M), foram convertidos em capital social créditos do Estado sobre a CP (€ 380,5 M) e a EDIA (€ 31,5 M) e registaram-se reembolsos dos quais os mais significativos foram o do Fundo de Resolução (€ 136,1 M) e o da Parque Expo98 (€ 2,5 M).

Quadro B. 37 – Valor nominal do stock da dívida consolidada (SFA)

(em milhões de euros)

Valor nominal apurado Variação

Em 31/12/2015 Em 31/12/2016 Total %

Empréstimos 7 715,5 7 066,6 -648,9 -8,4

Títulos 11 511,0 10 949,9 -561,1 -4,9

Locação financeira 269,4 253,1 -16,3 -6,1

Dívida consolidada dos SFA 19 495,8 18 269,6 -1 226,3 -6,3

Fonte: Inquérito aos SFA.

1 A Parpública, na sua resposta, inclui troca de correspondência com a DGO na qual se aborda a recomendação do Tribunal

sobre a classificação a dar à receita de aumentos de capital. Dela retira-se que as instruções transmitidas foram de

continuar a classificar tais receitas em rubricas que não eram as consideradas corretas pelo Tribunal. 2 Neste caso, a DGO alegou, em sede de contraditório, ter considerado que a dívida a fornecedores de bens e serviços

estava bem classificada como dívida financeira, o que não merece a anuência deste Tribunal. 3 Situação que se mantem no OE2018 por força da Circular Série A n.º 1387 (preparação do OE2018).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Assim, o valor nominal consolidado1 da dívida das entidades do subsector dos SFA a entidades

exteriores diminuiu € 1.226,3 M (6,3%) em 2016, em resultado da diminuição de todos os tipos de dívida considerados, empréstimos (8,4%), títulos (4,9%) e locações financeiras (6,1%). A existência de

operações entre entidades que integram o perímetro da CGE reflete-se não só no stock da dívida como

ainda nos fluxos financeiros associados ao serviço da dívida: as receitas e despesas associadas à dívida

consolidada diferem significativamente das associadas ao total da dívida, como se pode ver no quadro

seguinte, o que reforça a necessidade de a CGE apresentar a informação sobre a dívida em termos

consolidados (stocks e fluxos).

Quadro B. 38 – Fluxos financeiros consolidados (SFA)

(em milhões de euros)

Fluxos financeiros apurados Fluxos inscritos na CGE

Consolidados Não consolidados Não consolidados

Receita de passivos (emissões) 55,8 1 177,8 3 245,1

Despesa de passivos (amortizações) 1 261,8 2 032,2 1 996,3

Juros da dívida 528,8 732,8 628,1

Fonte: Inquérito aos SFA e CGE 2016.

4.1.2.3. Dívida consolidada por instrumento e SFA

De seguida analisa-se a evolução da dívida consolidada dos SFA em 2016, destacando os instrumentos

de financiamento mais representativos e as entidades que mais contribuíram para tal evolução. Das 31

entidades analisadas, as 6 com mais de € 1.000 M de passivos representam cerca de 80% do total (Comboios de Portugal, Infraestruturas de Portugal, Metropolitano de Lisboa, Metro do Porto,

Parpública e Parvalorem) e, destas, as quatro do sector dos transportes representam cerca de 44% desses

mesmos passivos.

Quadro B. 39 –Stock da dívida consolidada – principais SFA

(em milhões de euros)

Valor nominal apurado Variação

Em 31/12/2015 Em 31/12/2016 Montante %

CP 1 246,5 1 128,8 -117,7 -9,4

Infraestruturas de Portugal 3 531,7 3 426,2 -105,5 -3,0

Metro do Porto 1 325,6 1 269,0 -56,6 -4,3

Metropolitano de Lisboa 2 517,4 2 280,8 -236,6 -9,4

Parpública 4 354,1 4 163,1 -191,0 -4,4

Parvalorem 2 591,3 2 289,7 -301,7 -11,6

Total 15 566,7 14 557,7 -1 009,0 -6,5

Fonte: Inquérito aos SFA.

O instrumento de dívida a que recorreram com maior frequência foi o empréstimo, predominantemente

de médio e longo prazo, embora o seu peso na dívida total do subsector dos SFA, 39%, seja inferior ao

dos títulos, 60%. 22 entidades tinham dívida resultante de empréstimos de médio e longo prazo no valor

nominal global de € 7.191,5 M em 31/12/2015 (93% do total da dívida decorrente de empréstimos contraídos) e de € 6.561,9 M em 31/12/2016 [menos € 629,6 M (8,7%)], mantendo um peso semelhante.

1 O facto de algumas empresas não serem detidas a 100% pelo Estado não se traduziu na redução proporcional da sua

dívida, para efeitos de apuramento da dívida consolidada do Estado.

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Tribunal de Contas

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A dívida de médio e longo prazo resultante de empréstimos registou, em 2016, emissões no valor

nominal de € 51 M (dos quais € 33 M relativos a empréstimos do BEI e CEB) e amortizações de € 680,6 M (dos quais € 331,6 M relativos a empréstimos do BEI e CEB). As maiores reduções do saldo em dívida verificam-se na CP (€ 117,7 M), na Infraestruturas de Portugal (€ 105,4 M) e na Metropolitano de Lisboa (€ 221,5 M).

Dez das entidades que compõem o subsector dos SFA detinham dívida representada por obrigações e

papel comercial e o seu peso na dívida total do subsector era de cerca de 60%. Mais de 90% desta dívida

é representada por obrigações de médio e longo prazo e o seu valor passou de € 10.511,0 M em 31/12/2015 para € 9.949,9 M em 31/12/2016, reduzindo-se em € 561,1 M (5,3%). Esta redução compreende, entre outras, amortização de obrigações emitidas pela Parpública (€ 170,0 M), pela Parvalorem (€ 301,7 M) e pela Parups (€ 74,9 M). Não foram efetuadas novas emissões.

O valor nominal da dívida resultante de operações de locação financeira, realizadas por sete das

entidades que integravam o subsector dos SFA, reduziu-se em € 16,3 M (6,1%), sendo as principais reduções, € 7,3 M na Metropolitano de Lisboa, € 6,5 M na Metro do Porto, € 1,7 M na RTP e € 0,7 M nos SUCH.

4.1.3. Dívida direta consolidada do Estado

Procedendo à consolidação dos valores apurados nas respostas ao inquérito e às Instruções 1/2008-2.ª

Secção, bem como da informação prestada pelo IGCP, verifica-se que o valor nominal da dívida

consolidada do Estado passou de € 225.101,3 M em 31/12/2015 para € 234.573,2 M em 31/12/2016. Esta variação resulta de um aumento da dívida consolidada dos SI de € 10.698,1 M (5,2%) e de uma diminuição da dívida consolidada dos SFA de € 1.226,3 M (6,3%). Na medida em que esta análise incide sobre um universo da CGE diferente do da CGE 2015, os valores e a evolução aqui apresentados não

são comparáveis com os indicados no PCGE 2015.

Quadro B. 40 – Valor nominal do stock da dívida consolidada do Estado

(em milhões de euros)

Stock Valor nominal apurado Variação

Em 31/12/2015 Em 31/12/2016 Total %

Dívida consolidada dos SI (1) 205 605,5 216 303,6 10 698,1 5,2

Dívida consolidada dos SFA (2) 19 495,8 18 269,6 -1 226,3 -6,3

Dívida consolidada do Estado (1)+(2) 225 101,3 234 573,2 9 471,8 4,2

Fonte: CGE 2016, inquérito aos SFA, Instruções 1/2008-2.ª Secção, relativas ao património financeiro do Estado e IGCP.

No quadro 69 do Relatório da CGE (RCGE) procede-se ao apuramento do limite máximo de acréscimo

de endividamento líquido global direto (€ 10.387 M) para efeitos de verificação do cumprimento do limite estabelecido pela LOE 20161 e no quadro 70 do RCGE procede-se à verificação do cumprimento

de tal limite.

Verifica-se que os valores aí apresentados para o acréscimo de endividamento do Estado não são

comparáveis com os apurados pelo Tribunal.

1 LOE 2016, art. 93.º.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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No caso dos SI, o valor apresentado na CGE1, € 10.490 M, são calculados com base nos fluxos de receita e de despesa de passivos financeiros e, por isso, não são comparáveis com os valores apurados pelo

Tribunal, cujo cálculo é realizado com base nos valores nominais do stock da dívida, também

apresentados no mapa XXIX, em valor nominal, no início e no final do ano.

No caso dos SFA, o quadro 70 do RCGE apresenta o endividamento líquido de € -1.013 M, valor que difere do apurado pelo Tribunal (€ -1.226,3 M). Como a CGE não apresenta o stock da dívida das entidades que compõem o subsector nem sequer é possível verificar a origem da diferença.

Mais uma vez se reitera a relevância da publicitação na Conta da dívida dos SFA que, manifestamente,

não é desconhecida da DGO e do IGCP e da explicitação dos conceitos utilizados pela LOE na fixação

de limites à dívida pública.

No âmbito do contraditório o IGCP disse que “partilha da opinião do Tribunal de Contas, de que seria útil proceder ao apuramento da dívida consolidada do Estado, i.e. a dívida consolidada de todas as entidades da

Administração Central (SI e SFA). No entanto, reiteramos que o IGCP não possui competência nessa matéria,

não dispondo de informação atualizada que lhe permita apurar esse saldo de forma completa e numa base

consolidada”.

4.1.4. Custo do financiamento antecipado

Ao longo dos último anos2, na sua estratégia de financiamento3, o IGCP têm contemplado como um dos

elementos principais “a manutenção de um cash buffer elevado, que possa garantir 50% das necessidades de

financiamento” estimadas para o ano seguinte. Por sua vez, o relatório4 que acompanhava a proposta da

LOE 2016, previa um saldo de financiamento para exercícios seguintes de € 4.293 M.

Em 2016, o financiamento por recurso à dívida pública ultrapassou as previsões do relatório que

acompanhava a LOE e excedeu as necessidades orçamentais e de tesouraria, existindo, em 31/12/2016,

um saldo de € 6.777 M na conta de operações de tesouraria denominada “Produto de Empréstimos-2016”5 (€ 4.089,7 M em 31/12/2015 e € 7.025,4 M em 31/12/2014). Observa-se, assim, um acréscimo de € 2.688 M em relação ao saldo existente em 31/12/2015, valor que se aproxima de saldos anteriores a 2015.

De acordo com informação do IGCP6, durante o ano de 2016, o Estado manteve saldos de tesouraria

significativamente elevados, com um valor médio de depósitos de € 12.378 M (em 2015 fora de € 13.856 M e em 2014 de € 17.377 M), o qual teve um custo líquido7 de € 182 M, valor que compara com € 210 M, em 2015, e com € 342 M, em 2014.

Na sua resposta, o IGCP defende mais uma vez que “tem procurado apresentar os argumentos que suportam a opção estratégica de manter saldos de Tesouraria relativamente elevados desde 2011, tendo também

1 Quadro 70 do RCGE 2016. 2 Ver PCGE 2015 e 2014, ponto 4.1.4, e PCGE 2011 a 2013, ponto 4.1.5. 3 Estratégia definida e proposta, anualmente, no ponto 3 do “Programa de Financiamento e Gestão da Dívida Pública Direta

e das Disponibilidades”, que em 2016 foi aprovado pelo Despacho 761/16 - SEATF, de 27 de julho. 4 Quadro III.4.4. Necessidades e Fontes de Financiamento do Estado em 2016. 5 Cfr. CGE, mapa XXVIII - Aplicação do Produto de empréstimos em 2016. 6 Designadamente, no Relatório Anual 2016 da Agência da Tesouraria do Estado e da Dívida Pública. 7 Custo médio do financiamento do saldo de Tesouraria (OT + BT), € 186 M, deduzido dos juros recebidos de aplicações

de Tesouraria (€ 4 M).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 134

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Tribunal de Contas

107

apresentado estimativas dos custos decorrentes desta opção, conforme também divulgado no seu Relatório anual

de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública desde 2014, local que julgamos ser o mais adequado para a

discussão das decisões de gestão da dívida, uma vez respeitados os limites impostos na Lei e nas Normas

Orientadoras de Gestão da Dívida.”

Não obstante o IGCP divulgar os custos/benefícios da sua estratégia de pré-financiar no seu Relatório

anual de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, os mesmos devem também ser apresentados de forma

clara no Relatório da CGE.

4.1.5. Dívida de Maastricht

De acordo com a LEO1, a dívida pública não deve exceder o valor de referência de 60% do PIB. O

conceito inerente a este limite é o da dívida de Maastricht, um dos indicadores da monitorização fiscal

no âmbito do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). Em 2016, este rácio situou-se em 130,1%.

Com o encerramento do Procedimento de Défice Excessivo, que vigorou no período 2009-2016,

Portugal transita para a vertente preventiva do PEC, ficando sujeito, entre outras condicionantes, à regra

transitória2 da dívida pública durante o período 2017-2019 (redução média de um vigésimo por ano do

diferencial face ao valor de 60%).

Os princípios das contas nacionais e as especificações para efeitos do PDE subjacentes à dívida na ótica

de Maastricht3 diferenciam-na da noção de dívida direta do Estado apresentada no Mapa XXIX da CGE

e da dívida direta consolidada do Estado apurada no ponto 4.1.3., quantificadas no quadro seguinte.

Quadro B. 41 – Dívida direta do Estado e dívida das administrações públicas (Conceito de Maastricht) – 2016

M € % PIB

Dívida direta do Estado – stock nominal de dívida dos SI (a) 236 282,8 127,6

Dívida consolidada (SI + SFA) (b) 234 573,2 126,7

Dívida de Maastricht 240 957,9 130,1

Administração central 243 592,7

Administração regional e local 10 524,0

Fundos de segurança social 1,1

Consolidação entre sectores -13 159,9

Notas: (a) Mapa XXIX da CGE; (b) Valor apurado pelo TC (valor nominal do stock da dívida consolidada dos SI e SFA, cfr. ponto 4.1.3).

Fonte: Mapa XXIX da CGE 2016 e Notificação de setembro 2017 do PDE.

A dívida direta do Estado, tal como consta na CGE, tem um âmbito mais restrito, limitando-se aos SI, e

é avaliada ao valor nominal e não consolidada. A dívida consolidada de SI e SFA é apurada pelo TC

(cfr. ponto 4.1.3). O critério da dívida de Maastricht diz respeito ao total do sector das administrações

públicas, porém, além de integrar também a dívida da administração regional e local e dos fundos de

1 Art 10.º-G. 2 A aplicar durante 3 anos após a correção do défice excessivo, para os EM que em novembro de 2011 se encontravam em

situação de PDE [Regulamento (UE) n.º 1177/2011 do Conselho de 8 de novembro de 2011]. 3 A dívida de Maastricht é constituída pelo valor nominal da totalidade das responsabilidades brutas em curso no final do

ano do sector administrações públicas com a exceção das responsabilidades cujos ativos financeiros correspondentes são

detidos pelo mesmo sector das administrações públicas de acordo com as definições do Sistema Europeu de Contas

Nacionais (SEC). Esta definição é complementada pelo Regulamento (CE) n.º 479/2009 do Conselho, de 25 de maio de

2009 alterado pelo Regulamento (UE) N.º 220/2014 da Comissão de 7 de março de 2014, relativo à aplicação do protocolo

sobre o procedimento relativo aos défices excessivos anexo ao Tratado que institui a Comunidade Europeia.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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segurança social, apresenta diferenças de universo que decorrem das regras do SEC1. Em termos de

instrumentos engloba as responsabilidades brutas em numerário e depósitos, títulos de dívida, e

empréstimos, avaliados ao valor nominal, ou seja, ao valor facial dos passivos2. É consolidada, refletindo

os passivos face aos outros sectores da economia.

A utilização do conceito de dívida de Maastricht, no âmbito da LEO, vem reforçar a necessidade já

reiterada no presente e em Pareceres anteriores, de a CGE incluir informação detalhada sobre o stock da

dívida dos restantes sectores da administração pública e em particular sobre todas as entidades que

compõem a administração central (cfr. ponto 4.1.3).

Relativamente ao aumento da dívida de Maastricht de 2015 para 2016 (€ 9.417,1 M em termos nominais), verifica-se que o maior contributo foi dado pela aquisição líquida de ativos financeiros, que

em 2016 atingiu € 5.637,8 M, ultrapassando mesmo o contributo do défice (€ 3.665,2 M). Os restantes € 114,1 M, que explicam a variação total da dívida, reúnem os outros elementos que, para além da aquisição líquida de ativos financeiros, fazem parte do ajustamento défice-dívida, nomeadamente as

transações nos passivos que não fazem parte da definição de dívida de Maastricht e os efeitos de

valorização. Em 2016, a componente mais relevante da aquisição líquida de ativos financeiros foi o

aumento do stock de depósitos da administração central, que se destinavam ao pré-financiamento da

recapitalização da CGD, operação adiada para 2017.

*

O Ministro das Finanças, em contraditório, manifestou o interesse do seu Gabinete “no controlo efetivo das transferências e dos fluxos financeiros (verificadas nas receitas e nas despesas orçamentais), bem como na

identificação e respetiva correção de eventuais erros, omissões e incorreções”, remetendo para a resposta da

DGO.

1 Por exemplo, o agregado “Dívida consolidada (SI + SFA)” engloba entidades que, de acordo com o SEC, não fazem

parte do sector das administrações públicas, nomeadamente, os Fundos de Acidentes de Trabalho e Garantia Automóvel,

a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, que são

classificadas no sector das sociedades financeiras. 2 Para além das diferenças de universo, um dos principais fatores que diferenciam a dívida de Maastricht dos outros dois

conceitos de dívida é a exclusão da capitalização acumulada dos juros dos certificados de aforro. Esta metodologia

encontra-se em análise, podendo o Eurostat vir a determinar a sua integração na dívida de Maastricht. Em 2016, a

capitalização acumulada dos juros dos certificados de aforro representa cerca de 2,3% do PIB.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 136

Página 137

Tribunal de Contas

109

4.2. Garantias do Estado

Este ponto examina as garantias concedidas pelo Estado a operações de financiamento e também as

prestadas no âmbito dos seguros de crédito, de créditos financeiros, de seguros-caução e de seguros de

investimento.

a) Enquadramento

O regime jurídico das garantias pessoais do Estado a operações de financiamento resulta da Lei 112/97,

de 16/91 (regime geral de concessão de garantias), da Lei 4/2006, de 21/2 (concessão de garantias no

âmbito de operações de crédito de ajuda aos países destinatários da cooperação portuguesa) e da Lei

60-A/2008, de 20/10 (concessão extraordinária de garantias para o reforço da estabilidade financeira e

da disponibilização de liquidez nos mercados financeiros)2. A LOE, nos últimos anos, tem vindo a

autorizar, especificamente, a concessão de garantias do Estado a determinadas operações, como são os

casos das garantias ao Fundo de Contragarantia Mútuo e, mais recentemente, ao Fundo de Resolução.

O quadro legal dos seguros de crédito e similares com a garantia do Estado é estabelecido pelo Decreto-

Lei 183/88, de 24/5, relativo aos seguros de crédito e caução, e pelo Decreto-Lei 295/2001, de 21/11,

relativo ao seguro de investimento, alterados e republicados pelo Decreto-Lei 31/2007, de 14/2.

A emissão e gestão das garantias do Estado a operações de financiamento são efetuadas pela DGTF.

Nos seguros de crédito e similares, a generalidade das operações é gerida pela COSEC – Companhia de Seguro de Créditos, SA, sendo a concessão da garantia submetida à aprovação do Ministro das Finanças,

sob proposta da DGTF. Outras pessoas coletivas de direito público podem também prestar garantias a

financiamentos, no âmbito das suas atribuições.

b) Valores globais do ano

Em 2016 foram concedidas pela DGTF garantias a operações de financiamento, no montante total

€ 872,3 M e, no âmbito dos seguros de crédito e similares, foram assumidas responsabilidades em apólices emitidas pela COSEC, no montante total de € 277,6 M.

No final de 2016 as responsabilidades efetivas3 do Estado por garantias prestadas (DGTF) totalizavam

cerca de € 22.004,2 M, englobando € 21.056,6 M de garantias a operações de financiamento e € 947,7 M a seguros de crédito e similares, registando-se uma redução face ao ano anterior no montante total de € 1.807,9 M (-8%), tal como evidenciado no quadro seguinte.

1 Alterada pelas Leis 64/2012, de 20/12 e 82-B/2014, de 31/12. 2 Esta Lei foi regulamentada pela Portaria 1219-A/2008, de 23/10, alterada pelas Portarias 946/2010, de 22/09, e 80/2012,

de 27/03. 3 As responsabilidades efetivas correspondem aos montantes utilizados pelos beneficiários das garantias concedidas pelo

Estado.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 137

Página 138

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

110

Quadro B. 42 – Responsabilidades efetivas do Estado por garantias prestadas

(em milhões de euros)

Responsabilidades efetivas 31/12/2015 31/12/2016 Variação

Valor % Valor % Valor %

Garantias do Estado (DGTF) a:

– Financiamentos 22 851 85 21 057 87 -1 794 -8

– Seguros de crédito e similares 961 4 948 4 -14 -1

Total 23 812 89 22 004 91 -1 808 -8

Garantias de SFA a financiamentos 2 236 9 2 283 9 47 2

Total geral 26 048 100 24 287 100 -1 761 -7

As garantias prestadas por SFA, incluindo EPR, totalizavam no final de 2016 cerca de € 2.282,9 M, aumentando € 46,9 M (2%) face ao ano anterior. Estes são já valores líquidos, deduzindo as contragarantias que o Estado (DGTF) também presta em algumas operações.

No total e em termos líquidos, as responsabilidades efetivas do Estado por garantias prestadas, incluindo

SFA, ascendiam no final do ano a € 24.287,2 M, sendo que na CGE as responsabilidades estão subavaliadas em cerca de € 2.257,7 M, por não incluírem a maior parte das garantias prestadas por SFA.

4.2.1. Garantias a operações de financiamento

a) Novas garantias

Foram prestadas pelo Estado (DGTF) duas garantias pessoais, no montante total de € 872,3 M, apresentando-se no quadro seguinte os principais elementos caracterizadores destas operações.

Quadro B. 43 – Garantias pessoais concedidas pelo Estado em 2016

(em milhões de euros)

Entidade/

Operação

Despacho

autorizador

Operação subjacente

Montante

garantido Mutuante/Subscritor

Mutuário /

Emitente /

Beneficiário

Prazo

máximo

(anos)

Finalidade

FCGM – Fundo de Contragarantia Mútuo

Desp. n.º 866/2016 de 31/12/2015 (DR, II, de 19/01/2016)

126 Vários FCGM

(beneficiário) 20

Cobertura de responsabilidades assumidas pelo FCGM a favor de micro, pequenas e médias empresas, ao abrigo das Linhas de crédito PME Crescimento 2015, de Apoio à Revitalização Empresarial, para Empresas com Processo de Internacionalização em Angola, de Capitalização Mezzanine Financing e Linha IFD (FD&G).

FdR – Fundo de Resolução

Desp. n.º 867/2016 de 31/12/2015 (DR, II, de 19/01/2016)

746

BANIF(inicialmente), sendo as obrigações transferidas para o Banco Santander

Totta no âmbito do processo de resolução

Oitante, SA 10

Contragarantia do Estado à garantia prestada pelo FdR às obrigações emitidas pela Oitante, SA, e entregues ao BANIF, para pagamento do conjunto de ativos transferidos deste banco.

Total 872

22 DE DEZEMBRO DE 2017 138

Página 139

Tribunal de Contas

111

Ambas as garantias foram especificamente autorizadas pela LOE 2015, pelos n.os 4 e 8 do art. 127.º1,

respetivamente para o FCGM e FdR, apesar da sua formalização e entrada em vigor terem já ocorrido

em 2016.

A garantia ao FCGM, assim como as já concedidas em anos anteriores, destina-se a substituir

parcialmente a dotação de capital que o Estado deveria realizar no Fundo por forma a manter a

solvabilidade e o regular funcionamento do sistema de garantia mútua2. Trata-se de uma garantia que se

destina a ser executada, para reembolsar o Fundo pelas contragarantias que liquida.

A DGTF, na instrução deste processo, apesar de se tratar já da quarta garantia concedida ao FCGM,

tendo uma quinta sido já autorizada pela LOE 2016, continua a aplicar supletivamente a Lei 112/97, de

16/9, enquadrando a garantia numa concessão de auxílio financeiro extraordinário, ao abrigo do art. 9.º,

n.º 2, alínea d).

Por seu lado, a contragarantia do Estado ao FdR, no montante de € 746 M, insere-se no processo de resolução do BANIF, tendo as suas principais caraterísticas sido já retratadas no PCGE 2015. Esta

operação foi apenas formalizada em 15/02/2016, através de contrato celebrado entre o Estado e o FdR,

não obstante a garantia prestada pelo FdR às obrigações da Oitante, SA, se tenha tornado efetiva desde

a sua emissão em 22/12/2015.

No decorrer de 2016 foram ainda autorizadas duas alterações a garantias concedidas em anos anteriores,

que não se traduziram em alterações ao montante das responsabilidades do Estado e constam do quadro

seguinte.

Quadro B. 44 – Alterações a garantias de anos anteriores

(em milhões de euros)

Entidade beneficiária /

Mutuante

Montante

Garantido

Despacho autorizador

da alteração Motivo

Metropolitano de Lisboa, EPE / BEI

96 Desp. n.º 1008/2016, de 29/09/2016

Prorrogação do prazo da garantia para o prazo do empréstimo (até dezembro de 2021).

EDA – Eletricidade dos Açores, SA / BEI

30 Desp. n.º 1229/2016, de 22/11/2016

Prorrogação do prazo de utilização do empréstimo (até abril de 2017).

Fonte: DGTF.

Os referidos despachos de manutenção de garantia não foram publicados.

Ainda em 2016 foi autorizada a concessão de mais uma garantia ao FCGM, no montante de € 126,2 M, mas cuja formalização só ocorreu em 2017, elevando para cinco o total de garantias do Estado destinadas

a fazer face às necessidades financeiras deste Fundo.

1 Na redação da Lei 159-E/2015, de 30/12. 2 É um sistema de génese público-privado e de cariz mutualista de apoio a PME, em que, no caso de incumprimento do

mutuário, as sociedades de garantia mútua pagam as garantias que concedem às instituições de crédito e, seguidamente,

o FCGM paga àquelas sociedades, automaticamente, parte da perda equivalente à contragarantia que presta.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 139

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

112

b) Responsabilidades do Estado

No final de 2016 as responsabilidades acumuladas assumidas1 pelo Estado (DGTF) por garantias

pessoais prestadas a operações de financiamento totalizavam cerca de € 21.404,5 M, diminuindo € 2.681 M (-11%) face ao ano anterior, conforme se apresenta no quadro seguinte.

Quadro B. 45 – Responsabilidades acumuladas do Estado

(em milhões de euros)

Beneficiários 31/12/2015 31/12/2016 Variação

Valor % Valor % Valor %

Garantias regime geral e outras 12 894 54 12 276 57 -619 -5

Região Autónoma da Madeira 1 187 5 1 156 5 -31 -3

EPR (a) 8 815 37 8 735 41 -358 -4

Outras entidades públicas 2 730 11 2 224 10 -229 -9

Outras garantias 162 1 161 1 -1 -1

Convenções de Lomé e de Cotonou 13 0 18 0 5 36

Linhas de crédito de ajuda 1 780 7 1 140 5 -640 -36

Garantias ao sistema financeiro 3 500 15 1 800 8 -1 700 -49

Garantia de carteira BEI 2 800 12 2 800 13 0 0

FdR 0 0 656 3 656 …

Sociedades veículo ex-BPN 3 098 13 2 714 13 -383 -12

Responsabilidades assumidas (total) 24 085 100 21 404 100 -2 681 -11

Responsabilidades efetivas (total) 22 851 100 21 057 100 -1 794 -8

(a) Não inclui as sociedades veículo do ex-BPN (Parvalorem, Parups e Parparticipadas), nem o Fundo de Resolução. Inclui o FCGM

em ambos os anos.

Fonte:DGTF.

A redução das responsabilidades decorreu, essencialmente, das amortizações efetuadas pelos

beneficiários, designadamente do Novo Banco (€ 1.700 M) e das sociedades veículo do ex-BPN (€ 383,4 M), assim como da correção das responsabilidades da maior parte das linhas de crédito de ajuda, tendo em conta os valores utilizados pelos países beneficiários, por ter expirado o prazo de

utilização dessas linhas (menos € 640 M).

As responsabilidades assumidas por garantias prestadas à Região Autónoma da Madeira, a EPR e a

outras entidades públicas, incluindo as sociedades veículo do ex-BPN e o FdR, representavam, no seu

conjunto, cerca de 69% do total.

No que respeita às responsabilidades no âmbito das Convenções de Lomé e de Cotonou, os valores

registados pela DGTF, e que constam da CGE, reportam-se apenas ao final do 1.º semestre de 2016, por

a correspondente informação de suporte do BEI, relativa ao final do ano, não ter sido enviada em tempo

útil. Por este motivo, as responsabilidades assumidas no final do ano encontram-se subavaliadas em

cerca de € 5 M, ascendendo o total registado pela DGTF a € 21.399,3 M.

Por seu lado, as responsabilidades efetivas do Estado por garantias pessoais prestadas totalizavam no

final de 2016 cerca de € 21.056,6 M, diminuindo € 1.794,2 M (-8%) face ao ano anterior. Porém, a DGTF registava responsabilidades efetivas no montante de € 21.053,6 M, encontrando-se subavaliadas

1 As responsabilidades assumidas correspondem aos montantes garantidos pelo Estado, enquanto as efetivas são apuradas

a partir das utilizações que os beneficiários efetuam daqueles montantes.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 140

Página 141

Tribunal de Contas

113

em € 2,9 M, pois não englobavam a totalidade das utilizações efetuadas pelo IHRU e a atividade relativa às Convenções de Lomé e de Cotonou do 2.º semestre do ano.

A DGTF registava ainda as responsabilidades que decorriam do empréstimo obrigacionista emitido em

2011 pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), no âmbito da assistência financeira

acordada para a Irlanda e que Portugal também garantiu, pelo montante de € 131,2 M1, cujo vencimento ocorreu em 18/07/2016 e que por isso deveria ser abatido à posição das responsabilidades do Estado por

garantias prestadas.

Em contraditório, a DGTF informou que obteve a confirmação de que deixou de existir qualquer

responsabilidade do Estado nesta operação e que a retirou em 2017 da posição das responsabilidades

por garantias prestadas.

A diferença entre as responsabilidades assumidas e as efetivas (cerca de € 347,9 M), reduzindo-se significativamente neste ano com a correção das responsabilidades subjacentes às linhas de crédito de

ajuda, decorre da utilização que algumas destas linhas ainda registavam (€ 1.043,1 M de utilizações num total de € 1.140 M de responsabilidades assumidas) e devido à utilização faseada por parte de alguns beneficiários do financiamento que dispõem junto do BEI ou do CEB.

A evolução das responsabilidades do Estado nos últimos anos foi a seguinte:

Gráfico B. 10 – Evolução das responsabilidades do Estado por garantias pessoais prestadas

(em milhões de euros)

As responsabilidades do Estado por garantias prestadas têm vindo a reduzir-se nos últimos anos, após o

aumento registado entre 2011 e 2013, relacionado com as garantias concedidas ao sistema financeiro.

Das responsabilidades referidas merecem destaque as seguintes.

i. Garantias ao sistema financeiro (Lei 60-A/2008)

As responsabilidades por garantias prestadas para o reforço da estabilidade financeira e da

disponibilização de liquidez nos mercados financeiros (Lei 60-A/2008) estavam limitadas a três

empréstimos obrigacionistas do Novo Banco.

1 Responsabilidades efetivas, equivalendo a 100% da quota parte de capital garantido por Portugal. As responsabilidades

assumidas correspondiam a 120% da quota parte de capital garantido, ou seja € 157,4 M.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 141

Página 142

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

114

Esses três financiamentos de € 1.000 M, € 1.000 M e € 1.500 M, emitidos originalmente pelo BES com o prazo de 3 anos, transitaram para o Novo Banco na sequência da medida de resolução aplicada pelo

BdP em 2014, sendo por duas vezes prorrogado o prazo das emissões por mais um ano1.

No decorrer de 2016 foram amortizados antecipadamente a totalidade do primeiro empréstimo e

€ 700 M do segundo, situando-se as responsabilidades no final do ano em € 1.800 M.

Segundo informação relativa já a 2017, o valor remanescente em dívida foi amortizado nas datas de

vencimento dos dois restantes empréstimos obrigacionistas.

ii. Garantia de carteira BEI

Esta garantia assegura ou contra garante, até ao limite de € 2.800 M, o cumprimento das obrigações assumidas pelo BPI, BCP, Novo Banco (anterior BES) e CGD , enquanto garantes ou mutuários numa

carteira de financiamentos concedidos e a conceder pelo BEI, no montante máximo de € 6.000 M. Abrange não só as garantias e financiamentos existentes à data da sua concessão, mas também operações

futuras a contratar por aquelas instituições de crédito com o BEI, até ao limite correspondente à diferença

entre € 6.000 M e as responsabilidades decorrentes das anteriores operações.

No decurso de 2016 foi incluída uma nova operação na carteira, no montante de € 10,3 M, relativa a um financiamento contratado pelo BCP.

As operações que integravam a carteira, tanto por tipo de operação como por banco aderente, eram as

seguintes.

Quadro B. 46 – Carteira por tipo de operação e por banco aderente

(em milhões de euros)

Tipo de operação 31/12/2015 31/12/2016 Bancos 31/12/2015 31/12/2016

Garantias do BPI, BCP, Novo Banco e CGD 1 393 1 129 BPI 140 119

Financiamentos da CGD 257 121 BCP 1 334 1 280

Novas operações 1 585 1 579 Novo Banco 1 023 920

Total 3 235 2 829 CGD 738 510

Por utilizar (face ao limite de € 6 000 M) 2 765 3 171 Total 3 235 2 829

Fonte: DGTF/BEI.

Porém, e como já referido, a garantia do Estado apenas cobre responsabilidades até ao limite máximo

acumulado de € 2.800 M.

A DGTF, em contraditório, relativamente ao montante por utilizar de € 3.171 M, refere que este está sobrevalorizado, por incluir a deduzir as amortizações que os beneficiários foram efetuando (o valor por

utilizar será apenas de € 880 M). Este entendimento da DGTF, no entanto, não está consagrado em qualquer disposição, tendo, aliás, a Comissão Europeia, quando aprovou esta operação, considerado que

se tratava de uma garantia em sistema de revolving, pelo que a DGTF deverá esclarecer esta questão

junto do BEI.

1 As datas de maturidade dos empréstimos foram prorrogadas para 23/12/2016, 6/1/2017 e 17/2/2017.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 142

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Tribunal de Contas

115

iii. Contragarantia ao Fundo de Resolução

Como atrás referido, a garantia do FdR às obrigações emitidas pela Oitante, SA, no montante de

€ 746 M, foi contragarantida pelo Estado em 15/02/2016.

Por despacho do Secretário de Estado Adjunto, do Tesouro e das Finanças, de 21/03/20161, foi

autorizada a manutenção da contragarantia do Estado face à alteração da periodicidade do pagamento

do cupão das obrigações, passando de trimestral para semestral, mantendo-se inalterados os restantes

termos e condições do financiamento.

Nos meses de novembro e dezembro de 2016, a Oitante, SA, procedeu a reembolsos antecipados parciais

da emissão obrigacionista, no montante total de € 90 M, situando-se assim as responsabilidades no final do ano em € 656 M.

iv. Garantias às sociedades veículo do ex-BPN

As responsabilidades do Estado por estas garantias prestadas às emissões obrigacionistas e de papel

comercial subscritas pela CGD, totalizavam € 2.714,4 M, assim distribuídas:

Quadro B. 47 – Dívida das Sociedades veículo do ex-BPN garantida pelo Estado

(em milhões de euros)

Sociedade veículo Instrumento

de dívida 31/12/2015 31/12/2016 Variação

Parvalorem Obrigações 1 591 1 290 -302

Parvalorem Papel comercial 1 000 1 000 0

Parups Obrigações 465 390 -75

Parparticipadas Obrigações 42 35 -7

Total 3 098 2 714 -383

A redução de dívida em € 383,4 M decorreu das amortizações efetuadas pelas sociedades, com recurso em grande medida a empréstimos concedidos pela DGTF2.

c) Responsabilidades de outras pessoas coletivas de direito público

Além da DGTF, outras pessoas coletivas de direito público podem também conceder garantias pessoais

a operações de financiamento.

Através de inquérito realizado pelo Tribunal de Contas no âmbito da dívida financeira dos SFA, foi

solicitada informação a respeito de eventuais garantias pessoais prestadas por essas entidades, incluindo

EPR, a financiamentos contraídos por terceiros3. Da informação recebida de 54 entidades apurou-se a

existência das seguintes responsabilidades.

1 Publicado no DR, II Série, de 04/04/2016. 2 Estes empréstimos em 2016 corresponderam a cerca de 92% do serviço da dívida à CGD (€ 87,4 M de juros e € 383,4 M

de amortizações). 3 Garantias concedidas através de aval, fiança, carta conforto, livrança (não inclui garantias bancárias e cauções).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

116

Quadro B. 48 – Responsabilidades de SFA por garantias pessoais prestadas

(em milhões de euros)

Prestador da garantia Beneficiário Financiamento

garantido

Responsabilidades efetivas Variação

31/12/2015 31/12/2016

Parque Expo, SA Marina Parque das Nações, SA

Empréstimo bancário 14 - -14

FdR Oitante, SA Obrigações 746 656 -90

FAM – Fundo de Apoio Municipal Município de Vila Real de Santo António

Empréstimos bancários - 26 26

CP – Comboios de Portugal, EPE EMEF, SA Empréstimos bancários 3 2 -1

CP – Comboios de Portugal, EPE CP Carga, SA Empréstimos bancários 28 - -28

SPGM – Sociedade de Investimento, SA Diversos Diversos 1 1 0

FCGM – Fundo de Contragarantia Mútuo Diversos Diversos 2 451 2 598 147

Total 3 242 3 283 40

Total (líquido) 2 236 2 283 47

Fonte. Inquérito do TdC.

Foram concedidas garantias pelo FAM ao Município de Vila Real de Santo António, até ao montante

total de € 28,2 M no âmbito do Programa de Ajustamento Municipal estabelecido para a recuperação financeira do Município nos termos previstos na Lei 53/2014, de 25/8. Esta operação foi aprovada por

Despacho do Secretário de Estado Adjunto, do Tesouro e das Finanças, de 15/09/20161.

No que se refere ao FCGM, que integra pela primeira vez o perímetro orçamental, emitiu neste ano

contragarantias no montante total de € 1.014,1 M, sendo que as amortizações efetuadas por beneficiários totalizaram € 823,1 M e os pagamentos em execução de contragarantias € 43,1 M, segundo informação prestada pelo Fundo. Estas operações não foram sujeitas à aprovação do Ministro das Finanças, uma vez

que o FCGM dispõe de um regime especial para a concessão de contragarantias, afastando os requisitos

previstos na Lei 112/97, de 16/9.

As responsabilidades da SPGM têm um carácter residual (€ 0,6 M), remontando à fase piloto do sistema nacional de garantia mútua, em que esta era a única entidade que emitia garantias. Tal deixou de

verificar-se a partir de 2003, com o início de atividade das sociedades de garantia mútua.

No final do ano, o valor total líquido das responsabilidades dos SFA situava-se em € 2.282,9 M, por dedução das contragarantias que o Estado (DGTF) também prestava ao FdR (€ 656 M) e ao FCGM (€ 343,6 M de responsabilidades efetivas)2.

Nos registos da DGTF e, consequentemente na CGE do ano em apreço, figuram apenas as

responsabilidades relativas ao FAM, pelo montante de € 28,2 M (sendo que o capital em dívida no final de 2016 dos empréstimos garantidos pelo FAM se situava em € 25,8 M).

1 Nos termos da Lei 112/97, de 16/09 e do DLEO 2016. 2 As responsabilidades da SPGM de € 0,6 M são também contragarantidas pelo FCGM em € 0,3 M, pelo que foi também

deduzido este valor. No que respeita ao ano de 2015, foi igualmente deduzida a contragarantia prestada ao FdR, por

razões de comparabilidade entre anos.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 144

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Tribunal de Contas

117

Assim, as responsabilidades encontram-se subavaliadas na CGE em cerca de € 3.254,7 M, por não incluírem a maioria das garantias prestadas por SFA. Face ao valor total líquido apurado, a subavaliação

ascende a € 2.254,8 M 1.

d) Pagamentos em execução de garantias

Em execução de garantias, o Estado efetuou pagamentos no montante de € 23,2 M, através do capítulo 60 do orçamento do Ministério das Finanças – ativos financeiros2, e € 43,1 M através do orçamento do FCGM, discriminados no quadro seguinte.

Quadro B. 49 – Pagamentos do Estado em 2016 em execução de garantias

(em euros)

Mutuário/Emitente Capital Juros Juros de mora

e outros Total

Pagamentos DGTF

Europarque 1 020 269 528 - 1 020 797

FCGM 22 128 896 - - 22 128 896

Casa do Douro - - (a) 84 700 84 700

Convenções de Lomé e Cotonou 42 451 1 319 - 43 770

Total 23 191 616 1 847 84 700 23 278 163

Pagamentos FGCM 43 111 898 - - 43 111 898

Total geral 66 303 514 1 847 84 700 66 390 061

Total geral (líquido) 44 174 618 1 847 84 700 44 261 165

(a) Prémio de seguro sobre os vinhos penhorados a favor do Estado.

Fonte: DGTF e FCGM.

O valor total líquido de € 44,3 M resulta da dedução dos € 22,1 M pagos pela DGTF ao FCGM, por constituírem também receita deste Fundo.

Na execução orçamental do FCGM, os pagamentos efetuados em execução de contragarantias, no

montante total de € 43,1 M, foram incorretamente classificados como transferências correntes e deveriam ser registados em despesas com ativos financeiros3. De forma idêntica, as receitas do Fundo

provenientes da execução da garantia do Estado deveriam ser registadas como receitas de ativos

financeiros4.

A percentagem de execução de garantias face às responsabilidades efetivas do Estado, incluindo SFA e

em termos líquidos, situava-se no final de 2016 em 0,2%.

1 Na identificação que consta da CGE – mapa 1 dos elementos informativos comuns às Contas dos SI, SFA e SS, do

Volume II, Tomo I, as garantias do FAM estão incorretamente incluídas no subsector Estado (SI), inexistindo garantias

concedidas por SFA. 2 Rubricas de classificação económica Execução de garantias – Entidades privadas, Entidades públicas e Convenção de

Lomé. 3 As despesas foram registadas na rubrica Transferências correntes – Bancos e outras instituições financeiras, sendo esta

situação corrigida em 2017. 4 Em 2016 não ocorreu ainda qualquer registo orçamental no FCGM, por a verba transferida pela DGTF (€ 22,1 M) só ter

dado entrada no Fundo nos primeiros dias de 2017.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 145

Página 146

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

118

EUROPARQUE

Na sequência de acordo extrajudicial celebrado em 2015, o Decreto-Lei 46/2015, de 9/4 veio integrar o

Complexo Europarque no domínio privado do Estado, através da sua dação em cumprimento para a

regularização de parte da dívida da Europarque, sendo cedida a sua utilização ao Município de Santa

Maria da Feira, pelo prazo de 50 anos. A dação foi efetuada pelo valor de € 21,4 M, ficando ainda por regularizar uma dívida ao Estado de € 6,8 M.

A essa dívida vieram acrescer os novos pagamentos efetuados em execução de garantia, em 2015 de

€ 2 M e em 2016 de € 1 M. Neste ano liquidaram-se as últimas prestações dos empréstimos garantidos. Existe hipoteca constituída a favor do Estado sobre 21 prédios urbanos da Europarque, como

contragarantia do crédito do Estado, que no final de 2016 ascendia a cerca de € 9,8 M1.

FCGM – Fundo de Contragarantia Mútua

O pagamento do Estado ao FCGM, efetuado no final do ano, abrangeu a garantia de € 215 M, concedida em 2012 e relativa às linhas de crédito PME Investe V, VI, VI Aditamento e PME Crescimento, assim

como a garantia de € 100 M, concedida em 2014 relativa às linhas de crédito PME Crescimento 2013 e Caixa Capitalização, e ainda a garantia de € 80,7 M, concedida em 2015 relativa à linha de crédito PME Crescimento 2014.

Ao abrigo dos respetivos contratos de garantia, a SPGM, SA, na qualidade de sociedade gestora do

FCGM, solicitou o reembolso de um montante total de € 22,1 M, referente às contragarantias liquidadas pelo Fundo entre 30 de setembro de 2015 e 30 de setembro de 2016, distribuído da seguinte forma.

Quadro B. 50 – Pagamentos ao FGCG em execução de garantias

(em milhões de euros)

Contratos de garantia

do Estado

Pagamento

2016

Pagamentos

desde 2012

€ 215 M, de 03/01/2012 13 126

€ 100 M, de 08/01/2014 7 13

€ 80,7 M, de 08/01/2015 2 2

Total 22 140

Desde 2012, primeiro ano de execução deste tipo de garantias, os reembolsos efetuados pelo Estado ao

FCGM totalizam € 140,4 M, situando-se as responsabilidades assumidas no final de 2016 em € 381,7 M e as efetivas em € 343,6 M.

Note-se que as contragarantias liquidadas pelo FCGM às sociedades de garantia mútua desde início da

vigência das referidas linhas de crédito representavam níveis médios de incumprimento ente 1,1% e

6,9%, assim discriminados2.

1 Pelos pagamentos realizados. Não engloba juros de mora, nem comissões de garantia em dívida. 2 Valores acumulados até 31/12/2016.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 146

Página 147

Tribunal de Contas

119

Quadro B. 51 – FCGM – Nível de sinistralidade

(em milhões de euros)

Linhas de crédito

Contragarantias

prestadas pelo

FCGM

Contragarantias

liquidadas pelo

FCGM

Nível de

sinistralidade

PME Investe V 394 32 8,2%

PME Investe VI 677 68 10,0%

PME Investe VI – Adit 336 21 6,3%

PME Crescimento 717 26 3,6%

Total 2 125 147 6,9%

PME Crescimento 2013 765 17 2,2%

Caixa Capitalização 0 0 -

Total 765 17 2,2%

PME Crescimento 2014 578 6 1,1%

Total 578 6 1,1%

Fonte: SPGM.

Na garantia de € 126,3 M concedida em 2016, não foi ainda solicitado ao Estado qualquer reembolso.

e) Comissões de garantia e recuperações de pagamentos

As comissões de garantia recebidas pelo Estado (DGTF) em 2016 totalizaram € 84,1 M, dos quais € 45,7 M de garantias ao sistema financeiro. Foram regularizadas as comissões de garantia que se encontravam em falta de pagamento no ano anterior.

O FCGM, pelas contragarantias que presta, recebeu comissões no montante de € 4,7 M, o que faz elevar para € 87,9 M o total de comissões recebidas, em termos líquidos1.

Por seu lado, as recuperações de pagamentos efetuados em execução de garantias totalizaram € 5,5 M, decorrendo, essencialmente, das recuperações canalizadas pelo FCGM (€ 3,3 M)2 e do registo neste ano de € 2,2 M relativos ao BPP, pela venda ocorrida em 2014 de um imóvel hipotecado a favor do Estado no âmbito da garantia concedida a este banco, que permaneciam por contabilizar pela DGTF.

As recuperações obtidas pelo FCGM ascenderam a € 10,7 M, que correspondem ao total das recuperações efetivas3. Na execução orçamental do FCGM, estas receitas foram incorretamente

classificadas como outras receitas de capital4 e deveriam ser receitas com ativos financeiros, e as despesas

do Fundo pelas recuperações entregues ao Estado (€ 3,3 M) também foram incorretamente classificadas em outras despesas de capital5 e deveriam ser registadas em despesas com ativos financeiros.

1 Deduzindo também as comissões de garantia cobradas pelo Estado ao FCGM, que em 2016 totalizaram € 0,97 M. Na

execução orçamental, as receitas do Fundo com comissões (€ 4,7 M) foram classificadas como vendas de bens e serviços correntes (rubrica de classificação económica 07.02.99).

2 Foram ainda recebidos € 1.025 do FCGM, pelo cancelamento de execuções (de anos anteriores), que não foram

contabilizados na receita. 3 Deduzindo os € 3,3 M de recuperações entregues pelo FCGM ao Estado e os € 2,2 M relativos ao BPP, já considerados

no PCGE de 2014. 4 Rubrica - Outras receitas de capital – Outras. 5 Rubrica - Outras despesas de capital – Diversas.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 147

Página 148

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

120

Em contraditório, o FCGM considerou que as recuperações entregues ao Estado deverão ser antes

registadas em despesas com passivos financeiros, uma vez que esta despesa se encontra relacionada com

a receita com passivos financeiros que decorre do recebimento do aval do Estado por parte do Fundo.

Ao receber a contragarantia do Estado o FCGM não fica com qualquer passivo perante este, apenas lhe

aliena parte dos ativos que tinha adquirido por força da execução da garantia. Salvo clausulado em

contrário, quer em relação ao garante, quer em relação aos contra-garantes, ainda que sucessivos, o que

existem são sempre ativos financeiros e nunca passivos que apenas existem no devedor originário, tal

como aliás é confirmado pelos registos contabilísticos do FCGM, em que o recebimento do aval do

Estado é feito por contrapartida dos créditos que constam da sua carteira (créditos executados) e não

pela assunção de qualquer passivo.

Quanto à recuperação dos créditos executados, é promovida pelo FCGM, através da SPGM, recebendo

o Fundo a totalidade dos valores recuperados, que deverão ser registados como receitas de ativos

financeiros. A parte desse valor que respeitar a créditos transmitidos para o Estado, será entregue pelo

Fundo através de despesa com ativos financeiros.

4.2.2. Garantias a seguros de crédito e similares

a) Responsabilidades assumidas

As responsabilidades assumidas pelo Estado com apólices emitidas pela COSEC totalizaram € 277,6 M, assim distribuídas:

Quadro B. 52 – Apólices de seguro garantidas em 2016

(em milhões de euros)

Produtos N.º apólices Montante

Seguro de créditos:

Apólices globais 3 18

Apólices individuais 1 0

Facilidade países fora da OCDE 1 158 193

Seguro de créditos financeiros 1 10

Seguro-caução 25 56

Total 278

Fonte: COSEC.

A maior parte das operações respeitou a seguros de crédito de curto prazo, realizadas no âmbito da

“Facilidade para países fora da OCDE”1, com a emissão de 1.158 apólices no montante total de € 193,3 M. As utilizações de apólices globais2 (€ 18 M), as operações de seguro-caução (€ 55,7 M) e as apólices de médio e longo prazo de seguro de créditos (€ 0,2 M) e de créditos financeiros (€ 10,4 M) perfizeram a restante atividade.

1 Criada no final de 2008, com um plafond global de € 1.000 M, reforçado nos anos seguintes, sendo disponibilizada

através da COSEC para cobertura de riscos de natureza comercial e política em países fora da OCDE, Turquia e México. 2 Atas adicionais de risco político e extraordinário a apólices globais de seguro de crédito.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 148

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Tribunal de Contas

121

b) Responsabilidades acumuladas

A posição de final de ano das responsabilidades por garantias prestadas no âmbito dos seguros de crédito

e similares apresentou a seguinte evolução1:

Quadro B. 53 – Responsabilidades do Estado no final de 2016

(em milhões de euros)

Produtos 31/12/2015 31/12/2016 Variação

Valor % Valor % Valor %

Seguro de créditos 218 23 240 25 23 10

Seguro de créditos financeiros 698 73 613 65 -86 -12

Seguro de investimento 1 0 1 0 0 -25

Seguro-caução 44 5 94 10 49 112

Total 961 100 948 100 -14 -1

Fonte: COSEC.

As responsabilidades acumuladas no final de 2016 totalizavam cerca de € 947,7 M, diminuindo € 13,7 M (-1%) face ao ano anterior, por via, essencialmente, dos decréscimos verificados nos seguros de créditos financeiros. Este tipo de seguros, de médio e longo prazo, continuavam a representar a maior

parte das responsabilidades do Estado, cerca de 65% do total.

O gráfico seguinte evidencia as responsabilidades no final de 2016, por países destinatários das

exportações.

Gráfico B. 11 – Responsabilidades do Estado no final de 2016 por países

Fonte: COSEC.

A maior exposição do Estado verificava-se relativamente a Moçambique (30%) e Angola (27%),

seguindo-se a Venezuela (16%).

1 Corresponde ao valor acumulado das apólices emitidas, deduzido dos montantes das amortizações efetuadas e dos

sinistros pagos.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 149

Página 150

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

122

c) Pagamentos em execução de garantias

No que respeita a indemnizações por sinistros decorrentes de riscos garantidos pelo Estado, foram

efetuados pagamentos no total de € 12,6 M, através do Cap. 60 do orçamento do Ministério das Finanças – ativos financeiros1, aumentando de forma significativa relativamente a anos anteriores.

A maior parte dos pagamentos (€ 12,4 M) respeitou a sinistros verificados no âmbito da Facilidade para países fora da OCDE, estando o seu acréscimo relacionado com um conjunto de sinistros ocorridos em

Angola com um mesmo cliente, no montante de € 6 M.

d) Prémios de seguro e recuperações de pagamentos

Os prémios pagos pelos segurados e entregues nos cofres do Estado pela COSEC ascenderam a € 2,1 M, conforme informação da DGTF2.

A despesa paga pelo Estado a título de comissão de gestão da COSEC3 e de outros encargos totalizou

um montante de cerca de € 1,6 M4.

Quanto às recuperações de créditos do Estado ocorridas em 2016, ascenderam a € 25,9 M segundo informação prestada pela DGTF, respeitando quase a sua totalidade (€ 25,1 M) ao recebimento da oitava prestação de capital e décima segunda de juros previstas no acordo de reestruturação da dívida de Angola

e o remanesceste a valores recuperados através das seguradoras.

4.2.3. Apoio aos clientes de retorno absoluto do BPP

O art. 81.º da LOE 20105 autorizou o Governo a garantir aos titulares de contas de retorno absoluto de

investimento indireto garantido junto do BPP, que reunissem determinadas condições de elegibilidade,

a recuperação de até € 250.000 por titular de conta das referidas aplicações. Em 2014 foi certificado pela IGF um valor a pagar pelo Estado de € 34,5 M, sendo posteriormente certificados mais € 2,6 M.

Em 2014 foram efetuados pagamentos de € 31,8 M, em 2015 cerca de € 2,8 M e em 2016 mais € 1,5 M, totalizando assim € 36,1 M as verbas despendidas pelo Estado com esta garantia.

1 Rubrica– Execução de garantias – Seguros. 2 A COSEC, em contraditório, refere que esse valor foi € 2,5 M. 3 A comissão da COSEC pela gestão dos riscos com garantia do Estado é estabelecida pelo Despacho conjunto de

14/10/1999 dos Secretários de Estado do Tesouro e das Finanças e Adjunto do Ministro da Economia e pelo Protocolo

celebrado para a Facilidade de curto prazo para países fora da OCDE. 4 Rubrica de classificação económica – Encargos com a administração de garantias inscrita no Cap. 60 do orçamento do

Ministério das Finanças – Comissões e outros encargos. 5 Na redação da Lei 3-B/2010, de 28/04.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 150

Página 151

Tribunal de Contas

123

4.2.4. Balanço entre receita e despesa orçamental associada às garantias

Os valores pagos em 2016 pelo Estado em execução de garantias e a título de comissão da COSEC e os

recebidos em consequência de recuperações, comissões de garantia e prémios de seguros constam do

quadro seguinte.

Quadro B. 54 – Balanço entre receita e despesa associada às garantias

(em milhões de euros)

Designação Garantias a

financiamentos

Garantias a seguros

de crédito e

similares

Clientes

BPP Total

Pagamentos em execução de garantias (1) 44 13 1 58

Comissão da COSEC (2) - 2 - 2

Recuperações (3) 11 26 - 37

Comissões de garantia e Prémios de seguro (4) 88 2 - 90

Saldo (3)+(4)-(1)-(2) 55 13 -1 67

Fonte: DGTF e COSEC.

O saldo entre receitas e despesas foi positivo em € 67 M.

4.2.5. Observância dos limites fixados na Lei do Orçamento

Ao abrigo do n.º 1 do art. 87.º da LOE 2016, que fixou o limite máximo para a concessão de garantias

pelo Estado em € 3.000 M, não ocorreu qualquer autorização ou concessão de garantias.

Pelo n.º 3 do art. 87.º, que fixou em € 127 M o limite para concessão de garantias ao FCGM (a acrescer ao limite fixado no n.º 1), foi autorizada uma garantia no montante de € 126,2 M, mas só concretizada em 2017.

Por conta do n.º 4 do art. 87.º, que fixou em € 110 M o limite para a prestação de garantias por outras pessoas coletivas de direito público1, foram concedidas garantias pelo Fundo de Apoio Municipal até ao

montante de € 28,2 M. As prestadas pelo Fundo de Contragarantia Mútuo, que passou a integrar em 2016 o perímetro orçamental, não foram previstas ou devidamente enquadradas em termos de limites

orçamentais. As garantias prestadas, em termos de fluxos líquidos anuais, foram as seguintes:

Quadro B. 55 – Outras pessoas coletivas de direito público – Limite orçamental

(em milhões de euros)

SFA e Institutos públicos Garantias Deduções Valor líquido

FAM – Fundo de Apoio Municipal 28 2 26

FCGM – Fundo de Contragarantia Mútuo 1 014 823 191

FdR – Fundo de Resolução - 90 -90

Total 1 042 (a) 915 127

(a) Amortizações efetuadas pelos beneficiários.

Fonte: Inquérito do TdC e CGE.

1 Em termos de fluxos líquidos anuais.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 151

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

124

Incluindo o FCGM, este limite foi excedido em € 17 M.

A LOE estabelece, ainda, os seguintes limites para garantias:

 Art. 100.º – € 24.670 M para o reforço da estabilidade financeira e da disponibilidade de liquidez nos mercados financeiros; neste âmbito, não ocorreu qualquer autorização ou concessão de

garantias.

 Art. 87.º n.º 2 – € 1.000 M para a concessão de garantias de seguro de crédito, de créditos financeiros, seguro-caução e seguro de investimento; o total das apólices de seguro garantidas

em 2016 ascendeu a € 277,6 M, embora a DGTF tenha registado € 286 M na utilização daquele plafond1, sendo que qualquer dos montantes considerados fica aquém do limite estabelecido.

Ouvido em contraditório, o Ministro das Finanças remeteu para a resposta apresentada pela DGTF. A

COSEC informou não ter objeções a apresentar.

1 Na afetação de operações ao limite orçamental, a DGTF utiliza um conjunto de critérios tendo por base as promessas de

garantia e as garantias emitidas, fazendo com que os valores imputados em cada ano não coincidam com as

responsabilidades assumidas (que ocorrem posteriormente com a emissão da apólice, se a operação se concretizar). No

caso da Facilidade de curto prazo, imputou globalmente o seu montante no ano em que foi criada ou nos anos em que

ocorreram posteriores reforços.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 152

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Tribunal de Contas

125

CAIXA 3 – CUSTOS PÚBLICOS ASSOCIADOS A LINHAS DE CRÉDITO COM GARANTIA MÚTUA (2008-2016)

O Tribunal está a realizar uma auditoria aos custos públicos associados a linhas de crédito com garantia

mútua. Dos trabalhos realizados até ao momento é já possível concluir o que se segue.

Desde 2008 o Estado tem contratualizado, junto do sistema financeiro, linhas de crédito bonificadas e

garantidas através do recurso ao Sistema Nacional de Garantia Mútua, de forma a melhorar as condições de

financiamento das empresas, em especial PME. Até 2016, o crédito concedido às empresas através das

principais linhas de crédito, as geridas pela PME Investimentos1, atingiu € 15.338 M.

No mesmo período, a despesa pública associada a estas linhas, decorrente de bonificações da taxa de juro e

da comissão de garantia, totalizou € 399 M e as dotações financeiras no capital do FCGM destinado a assegurar as contragarantias emitidas foram de € 418 M; acrescem € 118 M recebidos pelo FCGM em execução dos avales do Estado, concedidos desde 2011 em substituição parcial das dotações financeiras no

capital. No final de 2016, as contragarantias vivas atingiam € 2.143 M (correspondendo a um risco vivo de € 2.710 M de garantias).

Em 31/12/2016, a PME Investimentos geria 18 linhas de crédito responsáveis por 82% das contragarantias

vivas do FCGM2. Os custos subjacentes às linhas de crédito são suportados pelo Fundo de Apoio ao

Financiamento à Inovação3 (cuja gestão se encontra atribuída à PME Investimentos) com dotações

financeiras efetuadas pelas entidades promotoras: o IAPMEI, o Turismo de Portugal e o IEFP.

Os financiamentos contratados no âmbito das linhas de crédito com garantia mútua envolvem quatro SGM4,

sociedades financeiras de capital maioritariamente privado, que prestam garantias financeiras a favor das

empresas, um mecanismo de resseguro público, o FCGM, que contragarante automática e obrigatoriamente

as operações de garantia, e uma entidade que coordena o sistema e gere o FCGM, a SPGM - Sociedade de

Investimentos5; o capital mutuado é disponibilizado pelas instituições de crédito aderentes.

Entre 2008 e 2016, as linhas de crédito tiveram uma utilização de 81% dos plafonds disponibilizados,

cabendo às linhas Investe, as mais antigas, 53% dos desembolsos; destacam-se a PME Crescimento 2015 e

a Investe VI (e reforço), respetivamente, com 16% e 15% dos desembolsos.

Quadro B. 56 – Execução das linhas de crédito a 31/12/2016

(em milhões de euros)

Ano Linha de crédito Plafond Operações

Contratadas Desembolsadas Utilizações (%)

2008/2010 PME Investe (linhas I a VI aditamento) 8 925 8 187 8 104 91

2012/2015 PME Crescimento (linhas 2012 a 2015) 8 982 7 363 7 179 80

2010/16 Outras linhas específicas (1) 1 081 56 55 5

Total 18 988 15 606 15 338 81

(1) QREN Investe; Comércio Investe; Apoio à revitalização empresarial; Empresas com internacionalização em Angola; Apoio à revitalização do

comércio de Albufeira; Linhas sem utilizações: Capitalização – Mezzanine Financing IFD 2015 e Apoio a empresas afetadas por incêndios.

Fonte: PME Investimentos.

1 Sociedade financeira pública (detida por entidades públicas, maioritariamente o IAPMEI) que promove a dinamização e

o alargamento da oferta de financiamento a empresas do sector não financeiro. 2 Que totalizavam € 2.598 M (cfr. ponto 4.2.1 deste Parecer). 3 Fundo público criado pelo Decreto-Lei 175/2008, de 26/08, que intervém no apoio ao financiamento das PME através de

instrumentos de dívida e de capital; em 2016, o capital era de € 1.016 M, sendo o IAPMEI detentor de 92%. 4 Três regionais (Norgarante, Garval e Lisgarante) e uma para o sector primário (Agrogarante), em que participam

acionistas promotores (entidades públicas e entidades privadas) e acionistas beneficiários (empresas). 5 Sociedade financeira pública (em 2016, 99,2% detida por entidades públicas, maioritariamente o IAPMEI).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

126

Os pagamentos efetuados de bonificações da taxa de juro (às instituições de crédito) e da comissão de

garantia (às SGM) ascenderam a € 174 M (44%) e a € 224 M (56%), respetivamente; as linhas PME Investe representam 77% dos pagamentos. A estimativa dos pagamentos a realizar com as bonificações era de

€ 70 M.

Quadro B. 57 – Bonificações da taxa de juro e da comissão de garantia em 31/12/2016

(em milhões de euros)

Linha de crédito Pagamentos efetuados

Taxa de juro Comissão de garantia Total

PME Investe (linhas I a VI aditamento) 174 133 307

PME Crescimento (linhas 2012 a 2015) 0 91 91

Outras linhas específicas 0 1 1

Total 174 224 399

Fonte: PME Investimentos.

Até ao final de 2016, o FCGM emitiu 179.868 contragarantias no valor total de € 7.358 M, das quais 87.323 foram extintas por amortização, perfazendo € 3.209 M; as execuções e as recuperações ascenderam a € 325 M e a € 29 M, respetivamente. O FCGM recebe dotações das entidades promotoras das linhas e beneficia de avales do Estado, para fazer face às contragarantias emitidas que se estimam poder transformar-

se em perdas efetivas1.

Gráfico B. 12 – Dotações financeiras no capital do FCGM por entidade promotora – situação a 31/12/2016

As dotações financeiras no capital alcançavam

€ 418 M, cabendo às linhas PME Investe € 282 M (67%); o IAPMEI era o principal dotador com € 305 M (73%), seguido dos Programas Operacionais no âmbito

do QREN (€ 73 M, 17%).

Desde 2011, o reforço do capital do FCGM tem sido

parcialmente substituído pela emissão de garantias do

Estado (cfr. ponto 4.2.1 do Parecer); até ao final de

2016, estas garantias totalizaram € 575 M, dos quais € 118 M foram recebidos pelo Fundo, a título de contragarantias executadas.

As dotações realizadas foram deduzidas das reafetações e devoluções.

Fonte: PME Investimentos; SPGM- Sociedade de Investimentos, SA.

1 A estimativa de perdas implícitas rondava 13,8% (cfr. Relatório e Contas do FCGM, 2016).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 154

Página 155

Tribunal de Contas

127

4.3. Dívida não financeira

Neste ponto analisa-se a dívida não financeira do Estado considerada num sentido amplo, ou seja, toda

a dívida não decorrente do recurso ao crédito (através da emissão de títulos, empréstimos bancários,

aberturas de crédito ou operações similares) para obtenção de liquidez, nem de contratos de locação

financeira, sabendo-se, no entanto, que dentro desta dívida a que respeita ao fornecimento de bens e

serviços tem uma importância significativa.

A CGE 2016 (quadros 85 a 87 do seu Relatório) dá-nos a seguinte evolução da dívida não financeira

(Passivos não financeiros e Contas a pagar).

Quadro B. 58 – Passivos financeiros e contas a pagar na CGE/2016

(em milhões de euros)

Subsector Passivos não financeiros Contas a pagar

2015 2016 2015 2016

Serviços integrados 172,5 218,5 41,2 26,3

SFA 152,2 142,9 43,7 32,7

Sector Público Administrativo-SNS - - 332,9 310,7

Total 324,7 361,4 417,8 369,7

Fonte: Relatório da CGE 2016 (quadros 85 a 87).

Assim, segundo a CGE, ocorreu em 2016 um aumento dos Passivos não financeiros (11%) e uma

diminuição das Contas a pagar. De salientar que, nos SFA e no SNS, o relatório não inclui os dados das

EPR.

A DGO dispõe de uma base de dados em que os SI, SFA e EPR devem lançar, mensalmente, um

conjunto de valores relativos a pagamentos em atraso, Contas a pagar e Passivos não financeiros,

discriminados por códigos de classificação económica da despesa, a que o TdC tem acesso. Para

confirmar a fiabilidade dos dados da CGE relativos à dívida não financeira, os trabalhos preparatórios

do presente Parecer incluíram a recolha de dados junto de amostras selecionadas1 de SI, SFA e entidades

do SNS, o confronto dos dados recolhidos com os que servem de base aos quadros 85, 86 e 87 do

relatório da Conta e o esclarecimento de divergências.

4.3.1. Serviços integrados e serviços e fundos autónomos (excluindo EPR)

Nos quadros 85 e 86 do Relatório da CGE, a dívida no final de 2016 relativa a Passivos não financeiros e

a Contas a pagar é estimada, respetivamente, em € 218,5 M e € 26,3 M para os SI e em € 142,9 M e € 32,7 M para os SFA.

Contudo, os dados relativos a 31/12/2016 que foram prestados ao Tribunal pelos SI e SFA no âmbito do

inquérito realizado à amostra selecionada revelaram-se, por via de regra, bastante diferentes dos que

constam na base de dados da DGO, sendo estes últimos, na generalidade dos casos, superiores aos que

foram comunicados ao Tribunal.

1 De acordo com critérios predefinidos, foram selecionados 20 SI e SFA não EPR e 10 entidades do SNS, sendo algumas

do sector público administrativo e outras EPR

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

128

Para estas diferenças contam as diversas situações em que as entidades, no reporte de Passivos não

financeiros à DGO, consideraram os compromissos que tinham aprovados no final do ano, divergindo

esses montantes dos seus passivos, visto tratarem-se de conceitos distintos.

Em sentido contrário, existem entidades que não efetuaram o reporte de dados à DGO, contribuindo

para a subvalorização da informação. Na amostra, são os casos da Universidade do Minho, que reportou

ao Tribunal Passivos não financeiros de € 3,4 M e da AT, que reportou Passivos não financeiros de € 4,2 M.

Em suma, os resultados do inquérito realizado e diligências complementares indiciam que os valores

dos quadros 85 e 86 do Relatório da CGE estão sobrevalorizados e não refletem adequadamente a

situação destes subsectores em termos de dívida não financeira.

Mesmo assim, merece destaque no quadro 85 a dívida da ADSE relativa à aquisição de bens e serviços

(€ 173,8 M) que representa cerca de 80% do total dos Passivos não financeiros. No que respeita ao quadro 86, refira-se também a inclusão do Instituto de Ação Social das Forças Armadas (IASFA), cujo reporte

ocorreu, pela primeira vez, neste ano, com uma dívida que, na sua maior parte, se refere a despesas com

pessoal/segurança social (€ 58,2 M) e representa cerca de 41% do total dos Passivos não financeiros dos SFA apurado no quadro.

4.3.2. Entidades do Serviço Nacional de Saúde

O quadro 87 do relatório da CGE 2016 reporta a situação da dívida não financeira apenas das entidades

do SNS que pertencem ao sector público administrativo (SFA não EPR), embora os dados que lhe

servem de base, fornecidos à DGO pela ACSS, abranjam a totalidade das entidades do SNS. Esses dados

referem-se apenas a Contas a pagar (dívida vencida e vincenda). O total das Contas a pagar no final de

2016, constante do referido quadro, era de € 310,7 M, valor que já tem por base a informação mais atual disponibilizada pela ACSS à DGO, relativa à dívida a fornecedores externos, o que é uma mudança

positiva relativamente a 2015.

No que respeita à dívida a fornecedores externos da totalidade das entidades do SNS, incluindo hospitais

empresarializados (EPR), apurou-se que, em 31/12/2016, era de € 1.841 M, tendo por base a mesma fonte de informação disponibilizada pela ACSS, valor que compara com € 1.765 M no final de 2015.

Tendo presente que a quase totalidade das entidades do SNS passou a integrar a CGE, quer como SFA,

quer como EPR, e dispondo a DGO dos dados sobre a dívida não financeira do conjunto das entidades

do SNS, não se justifica que o Relatório da CGE não apresente tais valores.

4.3.3. Entidades públicas reclassificadas

O inquérito elaborado no âmbito dos trabalhos preparatórios deste Parecer abrangeu todas as EPR, por

forma a obter dados sobre a dívida de todo o subsector. A DGO dispõe de dados sobre estas entidades,

mas não os inclui no Relatório da CGE.

Analisados os dados reportados pelas EPR e realizado o seu confronto1 com as demonstrações

financeiras respetivas, verificou-se que os valores relativos aos Passivos não financeiros, são de um modo

geral compatíveis entre si.

1 Por amostragem.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 156

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Tribunal de Contas

129

A dívida não financeira das EPR, não incluindo as do SNS, depois de efetuadas algumas correções aos

dados reportados, era em 31/12/2016 de € 3.806,4 M em Passivos não financeiros e de € 603,3 M em Contas a pagar. Tais correções relacionaram-se sobretudo com a necessidade de não considerar valores

relativos a dívida financeira, dívida a acionistas ou participadas, adiantamentos recebidos e valores a

regularizar relativos a auxílios de Estado, envolvendo a RTP, Estamo, Parpública, Caixa Seguros e

Saúde, Parcaixa, Wolfpart, Parparticipadas e Estaleiros Navais de Viana do Castelo.

Retirando-se dos “Passivos não financeiros” o valor indicado pela Infraestruturas de Portugal, relativo a encargos futuros com PPP (€ 3.125 M)1, o valor da dívida em Passivos não financeiros reduzir-se-ia para € 681,4 M. Por outro lado, retirando ainda dos Passivos não financeiros e também das Contas a pagar o valor em dívida da Parpública pela aquisição à CGD de ações da EDP (€ 482,5 M), os valores dos Passivos não financeiros e das Contas a pagar reduzir-se-iam, respetivamente, para € 198,9 M e € 120,9 M.

Os valores que constam da base de dados da DGO, relativos às EPR, divergem com frequência dos

dados reportados, existindo vários casos de diferenças muito significativas, como se explicita, a título

de exemplo, no quadro seguinte.

Quadro B. 59 – Dívida não financeira das EPR

(em milhões de euros)

Entidade

Passivos não financeiros Contas a pagar

Dados do

formulário

Dados da

DGO Diferença

Dados do

formulário

Dados da

DGO Diferença

(1) (2) (3)=(1)-(2) (4) (5) (6)=(4)-(5)

CP – Comboios de Portugal, EPE 13 8 5 13 8 5

EDIA, SA 5 10 -5 5 5 0

IP – Infraestruturas de Portugal, SA 3 167 3 450 -283 42 3 415 -3 373

Metro do Porto, SA 11 176 -166 6 6 0

Metropolitano de Lisboa, EPE 10 3 7 10 0 10

Parpública, SGPS, SA 483 0 483 483 0 483

Parque Escolar, EPE 2 7 -5 2 7 -5

RTP – Rádio e Televisão de Portugal, SA 56 361 -305 24 25 -1

Santa Casa da Misericórdia de Lisboa 12 - 12 0 -

Universidade do Porto 23 25 -2 4 25 -21

Total 3 782 4 040 -258 588 3 490 -2 902

Fonte: DGO e inquérito aos EPR.

Tais diferenças podem decorrer da inclusão de dívida de natureza financeira, despesas pela periodização

de juros, adiantamentos recebidos, dívidas ao Estado, despesas relacionadas com pessoal, entre outras,

ou ainda devido ao reporte de informação tendo por base contas não encerradas.

Verificou-se também, à semelhança dos restantes subsectores, que diversas EPR não reportaram

informação à DGO, com destaque para as entidades do universo CGD, as do sector da Defesa e a Santa

Casa da Misericórdia de Lisboa.

1 Nos dados fornecidos à DGO a IP terá incluído este valor também em Contas a pagar.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 157

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

130

4.3.4. Reporte de dados

Reiteram-se as considerações que constam do PCGE 2015 sobre os conceitos subjacentes à prestação

de informação à DGO sobre dívida não financeira (Passivos não financeiros e Contas a pagar).

O Tribunal continua a considerar que a DGO deverá repensar o formato através do qual obtém estes

dados, que deverá aproximar-se da contabilidade patrimonial que os serviços já utilizam, mesmo que na

CGE não seja possível apresenta-los segundo os códigos da classificação económica das despesas

públicas.

Em sede de contraditório, o Ministro das Finanças e a DGO comunicaram que não tinham comentários

específicos a formular sobre este ponto do Parecer.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 158

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Tribunal de Contas

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CAIXA 4 – CONTA CONSOLIDADA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

O Tribunal de Contas audita regularmente a conta consolidada do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que é

elaborada, desde 2008, pela Administração Central do Sistema de Saúde, IP1 (ACSS).

Em 2017, foi auditada a Conta Consolidada do MS de 2015 e de 2016, apreciada a situação económico-

financeira consolidada do “grupo MS” e do “grupo SNS” e emitida uma opinião sobre a fiabilidade da Conta Consolidada.

Em 2015, pela primeira vez, a conta consolidada do MS foi auditada de acordo com as Normas Técnicas e

Diretrizes de Revisão/Auditoria da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas por um Revisor Oficial de

Contas, procedimento que também foi adotado relativamente à Conta Consolidada de 2016 e que contribuiu

para a melhoria da qualidade da informação financeira produzida, não obstante se manterem algumas

deficiências identificadas pelo Tribunal em auditorias realizadas em anos anteriores, designadamente as

diferenças de conciliação entre entidades do perímetro que obrigam ao recurso a plug accounts nas

demonstrações financeiras consolidadas.

Desempenho económico-financeiro consolidado do “grupo Ministério da Saúde”

Quadro B. 60 – Resultados económicos consolidados do Ministério da Saúde – triénio 2014-2016

(em euros)

Resultados Consolidado do Ministério da Saúde Variação 2015/2016

2014 2015 2016 Valor %

Operacionais -392 860 772,79 -310 629 549,82 -427 021 701,41 -116 392 151,59 -37%

Financeiros 32 617 461,26 4 228 028,01 - 752 619,80 -4 980 647,81 -118%

Extraordinários 121 338 255,76 53 704 455,88 122 581 182,87 68 876 726,99 128%

Imposto s/rendimento -5 979 730,56 -3 980 839,81 -3 438 055,69 542 784,12 14%

Líquidos -244 884 786,33 -256 677 905,74 -308 631 194,03 -51 953 288,29 -20%

Fonte: Elaboração própria c/ base nas demonstrações financeiras consolidadas do Ministério da Saúde produzidas pela ACSS, IP.

Nota: O perímetro da conta consolidada do MS de 2014 não inclui a ADSE e o SUCH.

Em 2016, o resultado líquido consolidado do MS deteriorou-se, passando de € -256,7 M em 2015 para € -308,6 M em 2016, o que representa um agravamento de cerca de 20,4% (€ -51,9 M).

A estrutura do Balanço consolidado do MS

é composta, no que respeita ao ativo, por

50% de ativo fixo e 50% de ativo circulante.

Quanto aos Fundos Próprios, verifica-se

que este representa apenas 17% da soma

dos Fundos Próprios e do Passivo. No

Passivo destacam-se as dívidas a

fornecedores que no final de 2016

ascenderam a € 2.446,6 M,

Quadro B. 61 – Estrutura do Balanço consolidado

(em milhões de euros)

Fonte: Elaboração própria com base nas demonstrações financeiras consolidadas.

1 Em cumprimento de recomendação do Tribunal de Contas formulada no Relatório n.º 1/2007–ASEFSNS-06–2.ª Secção.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

132

Quadro B. 62 –Composição da dívida consolidada a fornecedores do “Ministério da Saúde”

(em euros)

Dívidas a terceiros

(curto, médio e longo prazo)

Consolidado do Ministério da Saúde Variação 2015/2016

2014 2015 2016 Valor %

Fornecedores c/c 1 212 998 988,29 1 431 536 386,75 1 696 683 525,74 265 147 138,99 19%

Fornec. Fatura em receção e conferência 42 925 953,89 170 365 281,35 238 926 876,15 68 561 594,80 40%

Fornecedores de imobilizado 46 019 542,77 37 564 906,02 34 508 266,04 - 3 056 639,98 -8%

Outros credores 459 547 628,35 542 198 551,20 476 480 059,45 - 65 718 491,75 -12%

Total 1 761 492 113,30 2 181 665 125,32 2 446 598 727,38 264 933 602,06 12%

Fonte: Elaboração própria c/ base nas demonstrações financeiras consolidadas.

Os resultados económicos, a estrutura do Balanço e

os rácios consolidados do “grupo MS” apresentados incorporam a integração, em 2015, da ADSE no

perímetro de consolidação de contas do MS o que

prejudica a comparabilidade com o exercício de

2014.

Quadro B. 63 – Indicadores financeiros

Rácios Consolidado Ministério da Saúde

2014 2015 2016

Endividamento 73% 79% 83%

Solvabilidade 37% 27% 20%

Liquidez Geral 0,66 0,65 0,63

Liquidez Imediata 0,25 0,17 0,10

Fonte: Elaboração própria com base nas demonstrações financeiras

consolidadas.

Excluindo a ADSE, cujos Fundos Próprios, destinados à satisfação de cuidados de saúde prestados a

trabalhadores e aposentados da Administração Pública em contrapartida das suas quotizações, em 2016,

totalizavam € 436,7 M, os Fundos Próprios do “grupo MS” passariam de € 851,2 M para € 414,5 M e o resultado líquido do grupo passaria de -€ 308,6 M para € -395,9 M. Concluiu-se, ainda, que a situação económico-financeira do SNS é inferior à do MS, dado que apresenta um rácio de endividamento de 95% e

uma liquidez geral de 0,46.

Opinião sobre a Conta Consolidada do Ministério da Saúde

A fiabilidade das demonstrações financeiras consolidadas do Ministério da Saúde e do Serviço Nacional de

Saúde é prejudicada pelas diferenças de conciliação entre as entidades do perímetro que se foram

acumulando e ganhando expressão e materialidade até 2015, € 437,9 M no Balanço e € 62 M na Demonstração de Resultados (DR), tendo diminuído em 2016 para € 367,6 M no Balanço (7,2% do Ativo) e € 18,4 M na DR (0,2% dos Proveitos).

Em conclusão, a conta consolidada do Ministério da Saúde ainda não atingiu um estado que assegure que as

demonstrações financeiras consolidadas expressam, de forma verdadeira e apropriada, a situação económico-

financeira do Ministério da Saúde, notando-se que o montante da plug account do Balanço é materialmente

relevante, representando cerca de 7,2% do Ativo.

O Tribunal recomenda que as plug accounts existentes nas demonstrações financeiras consolidadas,

designadamente no Balanço, passem de € 367,6 M para cerca de € 30 M em 2018 e que se avizinhem de € 0 em 2019. Recomendação acolhida pelos auditados, em sede de contraditório.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 160

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Tribunal de Contas

133

5. FLUXOS FINANCEIROS COM A UNIÃO EUROPEIA

No Parecer sobre a Conta Geral do Estado, o Tribunal de Contas deve apreciar os fluxos financeiros

com a UE, bem como o grau de observância dos compromissos com ela assumidos1.

Neste ponto procede-se à análise dos fluxos financeiros entre Portugal e a UE, bem como à avaliação

da execução financeira dos instrumentos que em Portugal concretizam a aplicação dos fundos europeus

estruturais e de investimento, da garantia agrícola e de outros instrumentos financeiros de iniciativa

comunitária.

5.1. Saldo global

A informação representada no gráfico seguinte foi apurada pelos serviços do Tribunal de Contas e, como

se desenvolve nos pontos seguintes, não é totalmente coincidente com a que consta da CGE 2016

(Volume I – quadro 63).

Gráfico B. 13 – Fluxos financeiros entre Portugal e a União Europeia – 2014 a 2016

(em milhões de euros)

Fonte: DGTC

Analisando a evolução do “Saldo global” face ao ano anterior, observa-se o seu aumento em € 799,9 M (118,4%) devido, sobretudo, ao comportamento dos fluxos financeiros provenientes da UE

(€ + 781,1 M; +32,3%), ainda que com valores inferiores aos registados em 2014.

1 Por força do disposto na alínea i) do n.º 1 do art. 41.º da Lei 98/97.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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5.2. Fluxos financeiros para a União Europeia

Os valores constantes da CGE, relativos aos fluxos financeiros para a UE (Quadro 63) foram objeto de

verificação pelos serviços do Tribunal junto da Direção-Geral do Orçamento, não havendo divergências

a assinalar.

Os referidos fluxos que, em 2016, ascenderam a € 1.726 M respeitam à contribuição de Portugal para o financiamento do orçamento da UE e desagregam-se do seguinte modo:

Gráfico B. 14 – Transferências para a União Europeia em 2016

(em milhões de euros)

(a) Inclui os direitos aduaneiros e as quotizações sobre o açúcar e isoglucose..

(b) Inclui juros de mora relativos a recursos próprios tradicionais.

(c) Correções de anos anteriores.

(d) Encargos de cobrança dos recursos próprios tradicionais.

Fonte: DGO e dados apurados em auditoria.

Em termos globais regista-se, relativamente ao ano anterior, uma diminuição das transferências totais

para a UE de € 18,8 M apesar dos acréscimos registados na “Redução do RNB da Dinamarca, Países Baixos, Suécia e Áustria”, dos “Direitos aduaneiros” e dos “Recursos próprios RNB”.

Para o total apurado contribuiu significativamente a restituição de € 114,5 M, decorrente da revisão em baixa da contribuição portuguesa para o orçamento europeu de 2015, sem a qual a contribuição de 2016

seria superior à dos anos anteriores.

As transferências assentaram maioritariamente nos “Recursos próprios RNB”, os quais representam 70% da verba total transferida, peso inferior ao registado em 2015, de 71,2%. Em termos absolutos, este

agregado registou um aumento de € 20,4 M (+1,6%), contrariamente à diminuição verificada em 2015, de € -84,2 M (-6,2%).

No decurso da auditoria realizada verificou-se ainda o seguinte:

 No ano de 2016, à semelhança do registado nos anos anteriores, verificou-se a boa prática de colocar à disposição da Comissão condicionalmente os montantes dos recursos próprios

solicitados, sem prejuízo de uma análise mais aprofundada. Todavia, continuaram a verificar-se

atrasos nos pagamentos, decorrentes de despachos tardios por parte das tutelas;

22 DE DEZEMBRO DE 2017 162

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Tribunal de Contas

135

 Em 2016, foram pagos antecipadamente cerca de € 99,4 M de contribuições previstas na Decisão do Conselho n.º 2014/335/UE, Euratom, de 26 de maio, dos quais € 40,2 M a título da “Redução do RNB da Dinamarca, Países Baixos, Suécia e Áustria”, relativamente a 2014, 2015 e 2016;

 Também devido à entrada em vigor da nova Decisão sobre recursos próprios, foi aplicada, a partir de 1 de outubro, a nova taxa de retenção a título de encargos de cobrança. No entanto, os

impactos do decréscimo dessa taxa de 25% para 20%, que se estimam em cerca de € 20,6 M, relativamente ao período de 1 de março de 2014 a 30 de setembro de 2016, só se farão sentir em

2017, quando forem postos à disposição da CE.

5.3. Fluxos financeiros da União Europeia para Portugal

5.3.1. Reflexo das transferências da União Europeia na CGE

Os elementos constantes da CGE respeitantes aos fluxos financeiros provenientes da UE foram

confrontados com a informação recolhida junto das Autoridades de Certificação/Entidades Pagadoras

dos fundos europeus1 e com os elementos de suporte da DGO e do IGCP2. Foi também considerada a

informação obtida junto de beneficiários diretos de apoios no âmbito de Programas de Ação de Iniciativa

Comunitária3.

Quanto aos valores indicados no quadro 63 da CGE, apuraram-se diferenças nos itens “PAIC” e “Diversos”, bem como em relação ao Fundo de Auxílio Europeu às Pessoas mais Carenciadas (FEAC), que continuou a não ser autonomizado, estando incorretamente incluído no item “FSE”.

Quadro B. 64 – Transferências da União Europeia – Divergências apuradas

(em milhões de euros)

Designação CGE

Valor

apurado

Diferença

(valor)

(1) (2) (3)=(1)-(2)

Transferências da UE para Portugal 3.187,4 3.201,7 -14,3

FEDER 858,8 858,8 0,0

FSE 605,7 589,7 16,0

IFOP/FEP/FEAMP 11,1 11,1 0,0

Fundo de Coesão 132,6 132,6 0,0

FEOGA-Garantia/FEAGA 672,9 672,9 0,0

FEADER 721,6 721,6 0,0

FEAC 0 16,0 -16,0

PAIC 168,7 175,0 -6,3

Diversos 16,2 24,2 -8,0

Restituições e reembolsos -0,2 -0,2 0,0

Fonte: CGE 2016, DGO, IGCP, Agência para o Desenvolvimento e Coesão, IFAP e

beneficiários de transferências diretas da CE.

1 Agência para o Desenvolvimento e Coesão para o FEDER, FSE e Fundo de Coesão e o IFAP para o FEAGA, FEADER

e FEP/FEAMP. 2 Entidade que assume a gestão da tesouraria do Estado e onde residem as contas bancárias relativas aos organismos

públicos e dos fundos comunitários, que têm como titulares a Comissão Europeia, as Autoridades de

Certificação/Pagamento dos fundos estruturais. 3 Neste âmbito foi recolhida informação junto de um conjunto representativo de entidades beneficiárias, tendo-se apurado

transferências no valor total de € 175 M.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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No ano de 2016 a rubrica PAIC apresenta o valor de € 168,7 M, o qual traduz uma evolução positiva, face ao ano anterior1, quanto à prestação de informação à DGO por parte das entidades beneficiárias

destes fluxos financeiros, registando-se com apreço os esforços levados a cabo pela DGO no sentido da

efetiva comunicação destes dados. Contudo, percecionou-se que não foi realizada pela DGO a necessária

conciliação dos fluxos financeiros associados aos programas Erasmus, Comenius, Leonardo da Vinci e

Grundvig reportados pelos beneficiários com os indicados globalmente pela Agência Nacional

Erasmus+, enquanto entidade nacional gestora/pagadora destes fundos, estimando-se que a

sobreavaliação seja superior a € 5 M2.

Quanto ao item “Diversos”, apurou-se que o valor apresentado na CGE, de € 16,2 M, resultou da conciliação efetuada pela DGO tendo por base os reportes de informação das entidades beneficiárias de

PAIC e o valor registado pelo IGCP3. Para este item o valor apurado pelo Tribunal foi de € 24,2 M, pois verificou-se que, no montante registado pelo IGCP de € 80 M, estavam incluídos um conjunto de fluxos financeiros4 com origem em PAIC, totalizando € 55,8 M.

Em face das divergências constatadas, considera-se necessária uma maior articulação entre a DGO, o

IGCP e as entidades de intermediação dos fundos europeus, para um correto apuramento dos fluxos

financeiros rececionados da UE.

Regista-se com apreço a inclusão, pela primeira vez, na CGE do quadro A 42 “Despesa Total financiada

por fundos europeus” que evidencia o financiamento comunitário envolvido na execução orçamental da

despesa total da administração central, especificando os fundos europeus envolvidos em cada Programa

Orçamental, acolhendo, assim, a recomendação formulada por este Tribunal em sucessivos Pareceres

sobre a CGE. Da informação agora disponibilizada, verifica-se que do total da despesa da administração

central cerca de € 2.071,5 M foi financiada por fundos europeus.

Embora os dados disponibilizados sobre a execução orçamental no SIGO, em geral coincidentes com os

indicados no novo Quadro A 42, com a exceção do FSE, não sejam totalmente comparáveis com os

dados oriundos das Autoridades de Certificação uma vez que estes últimos correspondem a despesa

validada e não a pagamentos efetivos, os totais de cada fundo europeu deveriam ser próximos em

milhões de euros, o que continua a não se verificar.

Dessa análise comparativa resultam divergências acentuadas em relação a alguns fundos (€ 910,7 M no FEAGA/FEOGA Garantia, € 167,5 M no FSE e € 102,6 M no FEDER), que podem traduzir a aplicação do modelo de registo preconizado pela DGO, se estas diferenças corresponderem realmente a execução

financeira de fundos comunitários sem cofinanciamento público nacional, situação em que os serviços

registam a receita e a despesa como extraorçamental5, ou podem representar uma incorreta classificação

da despesa.

1 Em 2015 o valor de PAIC registado foi de € 38,4 M. 2 Este montante resulta de parcelas claramente identificadas pelas entidades, no seu reporte de informação à DGO, como

fluxos relativos a Erasmus/Leonardo da Vinci. 3 Tendo a DGO sido questionada sobre a matéria, no exercício do contraditório veio esclarecer a metodologia adotada e

referir erros de cálculo que provocaram a subavaliação do item “Diversos” em € 4,5 M. 4 Este apuramento apenas foi possível no âmbito da análise da amostra selecionada 5 Cfr. ponto 39 da Circular Série A, n.º 1370, relativo à forma de registo pelas entidades da administração central dos

fundos comunitários e da contrapartida nacional. Quando esta última existe dá sempre lugar a registo da receita e despesa

orçamental.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 164

Página 165

Tribunal de Contas

137

Revela-se, assim, necessário que, no domínio dos fundos europeus, exista informação sobre as operações

extraorçamentais das entidades da administração central sujeitas à disciplina orçamental, dado o relevo

desta informação para a análise da execução dos fundos provenientes da UE.

Verificou-se, ainda, que em 2016, a adaptação dos códigos das fontes de financiamento relativas ao

financiamento da UE para o novo período de programação 2014-2020 não foi totalmente ajustada à nova

realidade, constituindo fator de erro no registo das operações, agravado pela natureza plurifundos de

vários Programas Operacionais. Regista-se, porém, que esta situação está já ultrapassada na medida em

que as instruções para preparação dos Orçamentos do Estado de 2017 e 2018 estabelecem fontes de

financiamento coerentes com os atuais PO do Portugal 2020.

5.3.2. Fluxos relativos ao Período de Programação 2014-2020

Em 2016 ocorreram transferências da UE destinadas ao Portugal 2020 no valor de € 2.089,9 M. À margem dos FEEI verificou-se ainda a entrada de € 16,0 M de FEAC.

Gráfico B. 15 – Fluxos financeiros recebidos da União Europeia em 2016 (FEEI e FEAC)

(em milhões de euros)

Fonte: Agência para o Desenvolvimento e Coesão e IFAP.

Dos fluxos financeiros rececionados da UE, € 670,3 M foram a título de pré-financiamentos, tendo € 1.419,6 M sido transferidos a título de reembolso de despesa certificada pelas autoridades nacionais (€ 497,6 M do FEDER, € 371,9 M do FSE, € 40,0 M do Fundo de Coesão e € 510,2 M do FEADER).

Para o período de programação 2014-2020 está prevista a execução de despesa comunitária no valor

total de € 25.793,5 M. Em termos absolutos, a despesa comunitária validada no âmbito do Portugal 2020, em finais de 2016, ascendia a € 2.860,5 M, correspondendo a uma taxa de execução média acumulada de apenas 11,1%, o que significava níveis muito baixos de execução, tendo em conta o

terceiro ano de vigência do Portugal 2020. Acima da taxa média global de execução do Portugal 2020,

destacam-se o FEADER e o FSE com taxas de execução de 26,4% e 14,2%, respetivamente, verificando-

se, assim que no período 2014-2016, o PDR 2020 (FEADER) e o PO Capital Humano (FSE) foram os

PO que alcançaram melhores taxas de execução, de 27,4% e 26,0%, respetivamente.

Salienta-se que se verificaram divergências entre a informação prestada pela Agência para o

Desenvolvimento e Coesão enquanto Entidade Coordenadora Técnica Geral do PT2020 e pelo IFAP no

tocante aos valores de aprovação e execução do FEADER e FEAMP, em virtude de a Agência ter

reportado a este Tribunal valores provisórios relativamente a esses Fundos. Torna-se assim necessária

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 165

Página 166

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

138

uma melhor articulação entre a Agência, o IFAP e as Comissões de Coordenação Nacional do FEADER

e de Coordenação do FEAMP, de forma a ser garantida a coerência e fiabilidade dos dados.

Também se constatou que a informação reportada pela Agência para o Desenvolvimento e Coesão não

inclui dados sobre a despesa pública, apesar de, para alguns eixos dos Programas Operacionais, a

contribuição comunitária ser calculada com base nesse agregado, sendo por isso necessária para a

monitorização dos compromissos assumidos.

Sobre esta matéria, a Agência para o Desenvolvimento e Coesão, em sede de contraditório, veio informar

que dispõe de informação sobre este agregado, apesar de não a ter remetido, à semelhança do ano

anterior.

Gráfico B. 16 – Execução financeira acumulada do Portugal 2020

(em milhões de euros)

Fonte: Agência para o Desenvolvimento e Coesão e IFAP.

Apesar do fraco nível de execução registado no final de 2016, 41,0% dos fundos europeus estavam já

comprometidos (€ 10.566,1 M). Este nível de compromisso era essencialmente adveniente do PDR 2020, PO Competitividade e Internacionalização e PO Capital Humano, os quais registavam uma

despesa comunitária aprovada de € 2.251,8 M, € 2.096,8 M e € 1.689,9 M, respetivamente. Assim, 3 dos 16 PO do Portugal 2020 concentravam 57,1% do nível de aprovações dos FEEI.

Para além das circunstâncias que normalmente condicionam o arranque dos períodos de programação

(encerramento simultâneo do período de programação anterior, aprovação tardia dos PO e

desenvolvimento dos sistemas de informação) podem ter contribuído para o atraso no arranque da

execução do Portugal 2020 a concretização de quatro avaliações ex-ante temáticas para aplicação dos

instrumentos financeiros, a necessidade de cumprimento das condicionantes ex-ante, a

complexidade/morosidade do processo de designação das Autoridades de Gestão e o atraso na

estabilização do quadro de competências a delegar no processo negocial com os diferentes Organismos

Intermédios.

Face aos níveis de execução alcançados na maioria dos PO, deveria ser dada especial atenção aos

trabalhos de validação da despesa executada conducentes à sua certificação, de forma a que não existam

perdas no âmbito da avaliação do cumprimento da designada “regra n+3”, que irá ocorrer no final de 2017.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 166

Página 167

Tribunal de Contas

139

5.3.3. Fluxos relativos ao Período de Programação 2007-2013

5.3.3.1. Encerramento do QREN e dos PO financiados pelo FEADER

De acordo com a regulamentação comunitária, a data de 31 de dezembro de 2015 era a data limite de

elegibilidade das despesas associadas ao período de programação 2007-2013. Assim, até 31 de março

de 2016 foram apresentados à CE os relatórios finais de execução dos PO desse período de programação,

bem como os respetivos pedidos de saldo final e correspondentes declarações de encerramento

acompanhadas dos relatórios de controlo final, tal como previsto na alínea e) do n.º 1 do art. 62.º do

Regulamento (CE) n.º 1083/2006.

As transferências oriundas da UE no ano de 2016 no âmbito do QREN foram reduzidas e totalizaram

€ 41,2 M de FEDER, o que representou apenas 0,3% do total da programação deste fundo europeu (€ 11.925 M)1. Em 2017, prevê-se o recebimento dos saldos finais dos PO do QREN que terão um valor significativo (5% do total programado).

No âmbito dos PO financiados pelo FEADER o ano de 2016 traduziu-se essencialmente no ano de

receção de saldos finais. Foram rececionados da UE € 170,8 M, dos quais € 166,9 M relativos ao saldo final do PRODER (€ 160,0 M), do PRORURAL (€ 6,4 M) e Rede Rural (€ 0,5 M) e € 3,9 M a reembolso de despesa no âmbito do PRODERAM.

5.3.3.2. Execução do PROMAR

Em 2016 não foram rececionadas quaisquer verbas oriundas da CE no âmbito do FEP, salientando-se

que a data limite para o seu encerramento foi prorrogada para 31 de março de 2017.

A programação financeira do PROMAR para o período 2007-2013 previa a concretização de uma

despesa comunitária de € 225,9 M2. No período 2007-2016 a despesa comunitária executada, em termos acumulados, ascendeu a € 215,3 M o que significou uma taxa de execução de 95,3% e um acréscimo de 8,7 p.p. face ao ano anterior3. A despesa comunitária aprovada em 31 de dezembro de 2016 era superior

à acordada com a CE e situava-se em € 234,1 M, o que faz prever que o PROMAR terá condições para executar totalmente as verbas programadas.

5.3.4. Outros fluxos

Os fluxos financeiros oriundos da UE, no âmbito do FEAGA, ascenderam, em 2016, a € 672,9 M, dos quais € 668,0 M para os mercados agrícolas e € 4,9 M para a gestão centralizada das medidas veterinárias. A execução financeira do ano evidenciou pagamentos no montante de € 940,3 M, tendo ocorrido, porém, no mesmo período, devoluções no valor de € 92,8 M. Dos dados disponíveis sobre a campanha de 2016 destacam-se os pagamentos respeitantes às Ajudas Diretas Dissociadas (€ 572,3 M), a Outras Ajudas Diretas (€ 244,9 M) e aos Produtos do Sector Vitivinícola (€ 69,1 M).

1 Valor reportado pela AdC. 2 O montante inicial programado de € 246,5 M foi sucessivamente reduzido pela anulação automática resultante do

apuramento realizado a 31 de dezembro de 2012 (€ 3,6 M), 31 de dezembro de 2013 (€ 16,2 M) e a 31 de dezembro de 2014 (€ 0,9 M).

3 A taxa de execução do PROMAR em 2015 era 86,6%.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

140

Em relação aos anteriores períodos de programação, verificaram-se, ainda, em 2016, algumas

transferências (€ 11,9 M) no âmbito dos saldos finais de projetos do Fundo de Coesão II.

No âmbito de Programas de Ação de Iniciativa Comunitária foram identificados € 175,0 M de transferências em 20161, destacando-se os Programas Erasmus + (€ 47,0 M) e Horizonte 2020/ 7.º Programa Quadro (€ 40,4 M).

Finalmente, o IGCP classificou como “Diversos” € 80,0 M que transitaram pela tesouraria do Estado, oriundos de dotações comunitárias diversas. Dado que nesse valor estão incluídos montantes referentes

a PAIC (€ 55,8 M), apenas se considerou como “Diversos” € 24,2 M (cfr. Quadro B. 64).

1 Dos quais € 2,7 M resultantes do apuramento realizado pela DGO.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 168

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Tribunal de Contas

141

6. FLUXOS FINANCEIROS ENTRE O ORÇAMENTO DO ESTADO E O SECTOR PÚBLICO EMPRESARIAL

Na CGE, os fluxos financeiros da administração central com o sector público empresarial (SPE)1 estão,

nuns casos, identificados através da respetiva classificação económica, noutros, englobados em

classificações em que essa especificação não existe. Isto porque o classificador económico das receitas

e das despesas2 não distingue as sociedades financeiras públicas das privadas, o que não é coerente, uma

vez que essa distinção é feita relativamente às sociedades não financeiras. Do lado das receitas, nos

ativos financeiros, o classificador também não distingue as que provêm do SPE.

Estas lacunas não permitem uma análise detalhada dos valores constantes na CGE. No exame efetuado

neste capítulo, com vista a colmatar as deficiências de informação sobre os fluxos com o SPE, é utilizada

informação resultante de ações de controlo e de solicitações a diversas entidades processadoras.

Em contraditório, o Ministro das Finanças e a DGO manifestam o entendimento de que“(…) os ajustamentos aos classificadores devem ser efetuados no âmbito da implementação da nova Lei de

Enquadramento Orçamental”.

No Relatório do OE para 2016, dando cumprimento ao disposto na LEO3 e a anteriores recomendações

do Tribunal, foram incluídos elementos informativos sobre as “transferências orçamentais para as empresas públicas”4.

Em 2016, os fluxos financeiros entre o OE e o SPE foram os que se sintetizam no quadro seguinte:

Quadro B. 65 – Resumo dos fluxos entre a administração central e o SPE

(em milhões de euros)

Classificação económica Receitas provenientes

do SPE

Despesas destinadas

ao SPE Saldo

Juros 85 - 85

Dividendos e participações nos lucros 153 - 153

Transferências e subsídios 10 196 -186

Empréstimos a m. l. prazos (líquidos de reembolsos) - 564 -564

Aumentos de capital e outros ativos financeiros - 1 945 -1 945

Total 248 2 704 -2 456

Fonte: CGE/2016 e serviços processadores.

Desses fluxos resultou um saldo global desfavorável para a administração direta do Estado de € 2.456 M e que se deveu, essencialmente, à despesa com aumentos de capital (ações e outras participações) e

empréstimos a médio e longo prazos e outros ativos financeiros, que atingiram € 2.508 M.

1 Para efeitos do presente capítulo, utiliza-se uma aceção ampla de SPE, segundo a qual este é constituído pelas empresas,

sob qualquer forma legal, em que o capital social ou estatutário é detido de forma direta ou indireta pelo Estado ou por

quaisquer outras entidades da administração pública central, regional ou local. Neste capítulo inclui-se nas empresas

públicas as abrangidas, a partir de 2012, no subsector dos SFA como entidades públicas reclassificadas (EPR) e que,

nesta qualidade, são mencionadas noutros pontos do Parecer. 2 Aprovado pelo Decreto-Lei 26/2002, de 14/02. 3 Art. 37.º, n.º 1, alínea q). 4 Quadro A3.1 – «Transferências e Subsídios da Administração Central para Entidades Públicas Empresariais», mas que

não inclui as empresas públicas EPR.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

142

6.1. Fluxos financeiros para o SPE

A CGE evidencia como fluxos para entidades do SPE despesas nas classificações económicas de

transferências correntes, subsídios, transferências de capital e ativos financeiros, desagregadas nos termos

evidenciados no quadro seguinte:

Quadro B. 66 – Fluxos financeiros para o SPE

(em milhões de euros)

Classificação das despesas Serviços

integrados SFA Total

Estrutura

(%)

Despesas correntes 77 93 170 6,3

Transferências correntes 21 91 112 4,2

Sociedades (a) não financeiras/Públicas 1 4 5 0,2

Sociedades (a) não financeiras/Privadas 1 - 1 0,0

Sociedades financeiras / Bancos e outras instituições financeiras - 1 1 0,0

Serviços e fundos autónomos (EPR) 19 86 (f) 105 3,9

Subsídios 46 1 47 1,7

Sociedades (a) não financeiras/Públicas 29 1 30 1,1

Sociedades financeiras / Bancos e outras instituições financeiras (c) 17 - (f) 17 0,6

Outras despesas correntes (b) 10 (d) 1 11 0,4

Despesas de capital 2 490 43 2 534 93,7

Transferências de capital 8 18 26 1,0

Sociedades (a) não financeiras / Públicas 5 9 14 0,5

Serviços e fundos autónomos (EPR) 3 9 (f) 12 0,4

Ativos financeiros 2 483 25 2 508 92,8

Empréstimos a médio e longo prazos (líquidos de reembolsos) (e) 563 - 563 20,8

Ações e outras participações / Sociedades (a) não financeiras / Públicas 62 - 62 2,3

Ações e outras participações / Serviços e fundos autónomos (EPR) 1 835 - 1 835 67,9

Unidades de participação/ Sociedades (a) não financeiras / Públicas - 20 20 0,7

Outros ativos financeiros 23 5 28 1,0

Total 2 567 136 2 704 100,0

(%) 94,9 5,0 100,0 -

(a) Sociedades e quase sociedades.

(b) e (d) Subsídios concedidos, respetivamente, pela Secretaria-Geral do Ministério da Defesa1

e pelo IEFP, incorretamente classificados.

(c) Valores apurados junto dos respetivos serviços processadores, tendo-se excluído do total da rubrica as importâncias não referentes ao SPE.

(e) As despesas com empréstimos concedidos pelo Estado ascenderam a € 1.101 M e os reembolsos a € 538 M.

(f) Relativamente ao quadro A 35 – «Transferências e subsídios da Administração Central para Entidades Públicas Empresariais», do Relatório da

CGE 2016, verificam-se divergências, totalizando € 134 M, por este não incluir as transferências correntes (€ 105 M) e de capital (€ 12 M) para EPR,

nem os subsídios a sociedades financeiras públicas (€ 17 M).

Fonte: CGE/2016 e serviços processadores.

O total dos fluxos destinados ao SPE (incluindo EPR) evidenciados na CGE é de € 2.704 M. Deste montante, € 2.567 M (94,9%), realizados por serviços integrados, com destaque para os aumentos de capital (€ 1.897 M) e para a concessão de empréstimos a médio e longo prazos, líquidos de reembolsos, (€ 563 M) de que beneficiaram as empresas identificadas no quadro seguinte:

1 Em contraditório, a DGO reconhece que: “A incorreta classificação (…) foi objeto de diligência (…) com vista à respetiva

correção, no entanto a mesma acabou por não se efetivar por ter expirado os prazos para autorização de pagamentos e

cobrança de receita (…)”.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 170

Página 171

Tribunal de Contas

143

Quadro B. 67 – Empresas beneficiárias de empréstimos, aumentos de capital e indemnizações compensatórias

(em milhões de euros)

Empresas

Empréstimos a médio e

longo prazos (a) Aumentos

de capital (a)

Indemnizações

compensatórias (b)

Outras

verbas (c)

Total

Concessão Reembolsos Líquido

Transportes e Infraestruturas rodoviárias e-ferroviárias 571 435 136 1 557 15 6 1 714

Infraestruturas de Portugal (EPR) - - - 950 - - 950

Metropolitano de Lisboa (EPR) - - - 358 2 (1) 1 362

CP (EPR) - - - (d) 176 - (2) 2 177

Metro do Porto (EPR) 558 435 122 - 3 (1) 1 126

CARRIS 10 - 10 (d) 61 3 (1) 1 74

Transtejo e Soflusa (EPRs) 4 - 4 (d) 12 1 - 18

STCP - - - (d) 4 (1) 1 5

TAP (EPR) - - - - 1 - 1

SATA - - - - 1 - 1

Parvalorem, Parups e Parparticipadas (EPRs) 442 7 434 - - - 434

Parpública (EPR) - - - 290 - - 290

OPART (EPR), TNDM II e TN S. JOÃO (EPR) - - - - 23 - 23

EDIA – Empresa Desenvolvimento e Infra-Estruturas Alqueva (EPR) - - (d) 22 - - 22

SPMS – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (EPR) - - - 20 - - 20

LUSA – Agência de Notícias de Portugal - - - - 16 - 16

EMPORDEF – Empresa Portuguesa de Defesa (EPR) - - - - - (2)(3) 14 141

RTP (EPR) - - - 7 - - 7

Administrações portuárias (APFF, APL e APVC) - - - - - (4) 4 4

idD – Plataforma das Indústrias de Defesa Nacional - - - - - (2) 1 1

Sociedade Portugal Venture Capital Iniciative - - - 1 - - 1

Parque Escolar (EPR) 85 85 - - - -

Vianapolis (EPR) - 1 -1 - - - -1

PARQUE EXPO 98 (EPR) - 6 -6 - - - -6

Total 1 098 535 563 (d) 1 897 54 25 2 539

(a) Por conta do Cap. 60 – Despesas excecionais do Ministério das Finanças.

(b) As indemnizações compensatórias foram atribuídas pela RCM 37-A/2016, de 30/06, e processadas por conta dos orçamentos do Ministérios das Finanças (€ 28 M), da Cultura (€ 19 M)

e do Ambiente (€ 7 M).

(c) Outras transferências dos Ministérios: (1) do Ambiente; (2) da Defesa Nacional (Portaria 471/78, de 19/08); (3) das Finanças; (4) da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.

(d) Além dos aumentos de capital com contrapartida em despesa orçamental, foram efetuados aumentos de capital por conversão de créditos (empréstimos vencidos e juros) totalizando

€ 660 M: CP (€ 479 M), CARRIS (€ 43), Transtejo (€ 47), STCP (€ 58) e EDIA (€ 35 M).

Fonte: CGE/2016 e serviços processadores.

Às 30 empresas foram entregues € 2.539 M, correspondentes a 93,9% dos fluxos para o SPE. Foram principais beneficiárias as empresas de transportes e de infraestruturas que receberam € 1.714 M [com destaque para a Infraestruturas de Portugal (€ 950 M), Metropolitano de Lisboa (€ 362 M), CP (€ 177 M), Metro do Porto (€ 126 M) e Carris (€ 74 M)], as sociedades veículo criadas no âmbito do BPN (€ 434 M)2 e a Parpública (€ 290 M).

Com a classificação económica subsídios a sociedades financeiras a CGE evidencia o montante de € 54 M. Pelas razões apontadas (o classificador económico da despesa não distingue entre sociedades financeiras

públicas e sociedades financeiras privadas) não é possível quantificar o montante destinado às

1 Em contraditório, a DGO refere que: (…) o valor que consta dos sistemas orçamentais (…) é de 4,3 M. Porém,a esse

montante, de transferências da DGTF, acresce € 10 M, de despesa da SGMDN, classificada, incorretamente, em outras despesas correntes (cfr. nota b) do Quadro B. 66).

2 Empréstimos de médio e longo prazos a: Parvalorem (€ 334 M), Parups (€ 92 M) e Parparticipadas (€ 9 M, líquidos de

reembolsos).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 171

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

144

instituições financeiras do SPE, tendo-se, no entanto, apurado junto da DGTF que, daquele montante,

foi pago à CGD a quantia de € 17 M referente a bonificação de juros.

Têm também significado as transferências correntes efetuadas pelo subsector dos SFA para empresas

públicas (incluindo EPR), que totalizaram € 86 M, com destaque para as efetuadas pelos: Instituto da Mobilidade e dos Transportes (€ 52 M) [para a Infraestruturas de Portugal (€ 50 M) e a CP (€ 2 M)]; Turismo de Portugal para a AICEP (€ 16 M); IGFEJ para a Estamo (€ 9 M); INEM para 35 Centros Hospitalares EPE (€ 6 M); e o Fundo de Fomento Cultural para o Teatro S. João e para a OPART (€ 3 M). As transferências de capital para empresas públicas atingiram € 9 M, dos quais € 8 M pelo IMT para empresas de transportes e infraestruturas.

A despesa em outros ativos financeiros foi de € 23 M, referente a pagamentos, por conta do Capítulo 60 – Despesas excecionais do Ministério das Finanças, em execução de avales concedidos ao Fundo de Contragarantia Mútuo (€ 22 M) e expropriações relativas à Vianapolis (€ 1 M).

Em 2016, foram ainda autorizadas operações relacionadas com entidades do SPE, no montante de

€ 19 M, referentes à assunção de passivos e à regularização de responsabilidades de sociedades anónimas de capitais públicos, previstas no art. 83.º da LOE/2016.

6.2. Fluxos financeiros provenientes do SPE

As receitas provenientes do SPE constam do quadro seguinte, sendo de notar que, dadas as já

mencionadas limitações do classificador económico, a CGE apenas especifica os fluxos de juros e de

transferências correntes com origem em “sociedades não financeiras públicas”. Nos restantes casos os valores constam da CGE de forma agregada, tendo-se determinado os que respeitam a entidades do SPE

através do exame da informação prestada pelos serviços recebedores.

Quadro B. 68 – Fluxos financeiros com origem no SPE

(em milhões de euros)

Classificação económica Serviços

integrados SFA Total

Estrutura

(%)

Receitas correntes 235 12 248 100,0

Rendimentos de propriedade 235 3 238 96,0

Juros / Bancos e outras instituições financeiras 42 - 42 41,8

Juros / Administrações públicas / SFA (EPR) 43 0 43 42,8

Dividendos e participações nos lucros de sociedades (a) não financeiras (b) 3 0 4 3,6

Dividendos e participações nos lucros de sociedades financeiras (b) 147 2 150 60,4

Transferências correntes de Sociedades (a) não financeiras/Públicas - 2 2 2,0

Transferências correntes de Sociedades financeiras/Públicas - 8 8 7,6

Receitas de capital - - - -

Empréstimos a médio e longo prazos / SFA (EPR) (c)

Total 235 12 248 -

(a) Sociedades e quase sociedades.

(b) Valores obtidos junto dos serviços processadores da receita, tendo-se excluído do total da rubrica as importâncias não referentes ao SPE.

(c) Os reembolsos, por EPR de empréstimos do Estado (€ 535 M) e por outras empresas públicas a SFA (€ 3 M) totalizaram € 538 M, deduzidos à despesa

com empréstimos (cfr. Quadros 1 e 2).

Fonte: CGE/2016 e serviços processadores.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 172

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Tribunal de Contas

145

O total dos fluxos provenientes do SPE foi de € 248 M, correspondendo a totalidade a receitas correntes, constituindo receita dos serviços integrados € 235 M (95%) e dos serviços e fundos autónomos € 12 M (5%).

Destacam-se os dividendos e participações nos lucros de sociedades financeiras que ascendeu a € 150 M dos quais € 147 M respeitam ao Banco de Portugal. De juros de bancos e outras instituições financeiras públicas foram recebidos € 42 M (pagos pela CGD, referentes a obrigações de capital contingente) e de juros de empresas públicas EPR € 43 M (dos quais € 40 M pagos pela Metro do Porto).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

146

7. FLUXOS FINANCEIROS COM AS REGIÕES AUTÓNOMAS E COM AS AUTARQUIAS LOCAIS

Os fluxos de receita e de despesa (orçamental e extraorçamental) entre a administração central, incluindo

a segurança social, e as administrações regional e local1, constam:

a) No OE – no mapa XVIII (“Transferências para as regiões autónomas”); no mapa XIX (“Transferências para os municípios” – FEF, FSM e IRS); e no mapa XX (“Transferências para as freguesias” – FFF);

b) Na CGE – no mapa XVIII (transferências orçamentais para as regiões autónomas); e no mapa XIX (transferências orçamentais para os municípios), mas que não sistematizam nem contêm a

totalidade dos fluxos financeiros com as administrações regional e local.

O Relatório da Conta inclui informação adicional: i) os fluxos orçamentais (quadros 57 – Fluxos financeiro entre a Administração central e a Administração Local e 61 – Fluxos financeiros com a Administração Regional); e ii) pela primeira vez, fluxos extraorçamentais (quadros 58 – Fluxos financeiros destinados à Administração Local: operações extraorçamentais e 62 – Fluxos financeiros destinados à Administração Regional: operações extraorçamentais), quadros que, porém, não incluem

a totalidade dos fluxos processados através de operações extraorçamentais.

Dadas as insuficiências apontadas, o Tribunal recolheu informação adicional através dos sistemas

informáticos da DGO (SIGO e SGR) e em validações junto das entidades envolvidas2.

Com base na informação recolhida pelo Tribunal, o quadro seguinte faz essa sistematização e apura

diferenças.

Quadro B. 69 – Fluxos financeiros para as Administrações Regional e Local em 2016

(em milhões de euros)

OE

(inicial)

CGE (Mapas XVIII,

XIX e Quadros (*)

Valores da execução

apurados TC Diferença

(a) (b) (c)=(b)-(a)

Regiões Autónomas 635 863 863 -

Mapas e quadros orçamentais 635 599 599 -

Transferências da administração central (Mapa XVIII) 504 496 496 -

Transferências da segurança social (Mapa XII) 131 103 103 -

Operações extraorçamentais - 263 263 -

Autarquias Locais 2 527 3 216 3 252 36

Mapas e quadros orçamentais 2 527 3 003 2 986 -17

Transferências da adm. central para municípios (Mapa XIX) 2 327 2 327 2 310 -17

Transferências da adm. central para freguesias Mapa (XX) 189 - - -

Outras transfer. e subsídios para municípios e freguesias - 609 609 -

Empréstimos da administração central - 66 66 -

Transferências e subsídios da segurança social (Mapa XII) 11 (**) 2 2 -

Operações extraorçamentais - 212 266 53

(*) Quadros 57, 58, 61 e 62.

(**) Observa-se uma divergência de € 3 M entre Mapa XII (€ 2 M) e o Quadro 57 (€ 5 M).

Fonte: OE, CGE, SIGO e informação prestada pelas entidades.

1 Não abrange os fluxos relativos aos sistemas contributivos (SS, ADSE, CGA). 2 No que respeita aos fluxos com as regiões autónomas a validação foi realizada através das Secções Regionais do TC.

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Tribunal de Contas

147

Na CGE 2016, os fluxos da administração central para as regiões autónomas constam: os orçamentais,

do mapa XVIII (€ 496 M) e os processados por operações extraorçamentais, do quadro 62 (€ 263 M).

Relativamente às autarquias locais, os mapas XIX e XX do OE e XIX da CGE, incluem as transferências

para os respetivos fundos (FSM, FEF, e FFF) e a participação variável dos municípios no IRS1, mas não

consideram um conjunto de fluxos que totalizam € 940 M: outras transferências e subsídios (€ 609 M), empréstimos a médio e longo prazos (€ 66 M) e a totalidade das operações extraorçamentais (€ 266 M) que, no quadro 58 são registadas apenas parcialmente (€ 212 M).

7.1. Fluxos financeiros com as Regiões Autónomas

7.1.1. Da Administração Central para as Regiões Autónomas

O OE previa, inicialmente, transferências para a administração regional no montante de € 504 M (€ 256 M para os Açores e € 248 M para a Madeira)2, valor que não incluía as transferências e subsídios da segurança social (€ 131 M). Este valor global inicial, de € 635 M, teve um acréscimo de € 4 M (segurança social), ascendendo no final a € 639 M. A execução orçamental foi de € 599 M (incluindo € 103 M da segurança social), menos € 227 M que em 2015, conforme se mostra no quadro seguinte:

Quadro B. 70 – Fluxos financeiros destinados à Administração Regional

(em milhões de euros)

Entidades pagadoras Tipologia Pagamentos Variações

2015 2016 2016/2015

Operações orçamentais

Região Autónoma dos Açores 251 252 1

DGTF - Cap. 60 Subsídios - - -

Gabinete do Representante RAA Repartição de solidariedade e fundo de coesão 251 252 1

ACSS, IFAP, INAC, IHRU e IAPMEI Diversas - - -

Região Autónoma da Madeira 535 244 -290

DGTF - Cap. 60 Empréstimos a médio e longo prazos 319 - -319

Diversos - - -

Gabinete do Representante da RAM Repartição de solidariedade e fundo de coesão 216 244 -

Total Regiões Autónomas 786 496 -290

Segurança Social 41 103 62

Total das Operações orçamentais das Regiões Autónomas 827 599 -227

Operações extraorçamentais

Região Autónoma dos Açores 146 168 22

Agência para o Desenvolvimento e Coesão FEDER, FSE e Fundo de Coesão 143 166 23

IFAP ACES e PROMAR 3 2 -1

Região Autónoma da Madeira 85 96 11

Agência para o Desenvolvimento e Coesão FEDER, FSE, Fundo de Coesão e PO Intervir+ 83 96 13

IFAP PRODERAM, PRODER e MPM 2 - -2

Total das Operações Extraorçamentais das Regiões Autónomas 230 263 33

Total geral 1 057 863 -194

Fonte: SIGO e informação prestada pelas entidades intervenientes, designadamente no que toca às operações extraorçamentais, pela Agência para o

Desenvolvimento e Coesão e pelo IFAP.

1 Para os municípios do continente constituiu receita do OE e foi transferida por despesa orçamental, para os municípios

das regiões autónomas foi processada por operações extraorçamentais. 2 De acordo com o Mapa XVIII do OE inicial.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Dos € 599 M executados por operações orçamentais, 82,8% (€ 496 M) resultaram da aplicação da Lei das Finanças Regionais1 (Açores – € 252 M e Madeira – € 244 M), respeitando o valor remanescente à segurança social (€ 103 M).

Os fluxos extraorçamentais totalizaram € 263 M, € 168 M destinados aos Açores e € 96 M à Madeira, mais € 33 M do que em 2015. Segundo a informação recolhida junto das entidades executoras, estes fluxos corresponderam à execução de fundos comunitários, maioritariamente do FEDER, FSE e FC

(Açores - € 166 M e Madeira - € 96 M).

7.1.2. Das Regiões Autónomas para a Administração Central

Os fluxos orçamentais que constituíram receita da administração central proveniente das administrações

regionais constam do quadro seguinte:

Quadro B. 71 – Fluxos financeiros da Administração Regional destinados à Administração Central

(em milhões de euros)

Administração Central Execução Variação

2015 2016 Valor %

Receita orçamental

SI 81 150 69 86

Região Autónoma dos Açores 19 18 -1 -3

Região Autónoma da Madeira 62 132 70 112

SFA 30 8 -22 -73

Região Autónoma dos Açores 5 6 2 38

Região Autónoma da Madeira 25 2 -24 -93

Total da receita orçamental 111 158 47 43

Receita extraorçamental

SFA -

Região Autónoma da Madeira 25 - - -

Total 136 158 23 17

Fonte: CGE, SIGO, SGR e informação prestada pela entidade recebedora quanto às operações extraorçamentais.

Do total das receitas, € 158 M (mais € 17 M do que em 2015), € 24 M provieram dos Açores e € 134 M. da Madeira. Destaca-se no subsector dos SI, a DGTF, que recebeu € 150 M, relativos a reembolso de empréstimos e a juros.

7.2. Fluxos financeiros com as Autarquias Locais

7.2.1. Da Administração Central para as Autarquias Locais

O OE, no mapa XIX – “Transferências para os municípios”, previa a transferência de € 2.327 M2, destinando-se € 2.168 M às autarquias do continente, € 95 M às dos Açores e € 64 M às da Madeira, incluindo o Fundo de Equilíbrio Financeiro (FEF), o Fundo Social Municipal (FSM) e a participação

variável no IRS.

1 Repartição de solidariedade (art. 48.º) e fundo de coesão para as regiões ultraperiféricas (art. 49.º) da Lei Orgânica 2/2013,

de 2/09, para os quais remete o art. 40.º da LOE/ 2016 (transferências para as regiões autónomas). 2 A serem realizadas pela DGAL por conta do orçamento dos Encargos Gerais do Estado.

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Tribunal de Contas

149

No mapa XX – “Transferências para as freguesias”, inscreveu-se € 189 M, respeitando € 180 M às freguesias do continente, € 4 M às da Madeira e € 6 M às dos Açores, correspondentes ao Fundo de Financiamento das Freguesias (FFF).

A execução, abrangendo a despesa orçamental (transferências, subsídios e empréstimos) e as operações

extraorçamentais, foi a que consta do quadro seguinte:

Quadro B. 72 – Fluxos financeiros destinados à Administração Local

(em milhões de euros)

Entidade Processadora Tipologia

Pagamentos

2015 2016 Variação

2065/2015

Direção-Geral das Autarquias Locais

Municípios – Fundo de Emergência Municipal 1 - -1

Municípios – Fundo de Equilíbrio Financeiro (FEF) 1 727 1 748 21

Municípios – Fundo Social Municipal (FSM) 163 163 -

Municípios – – Cooperação Técnica e Financeira 3 3

Municípios – Participação no IRS (a) 396 (a) 399 3

Freguesias – Fundo de Financiamento (FFF) 187 189 2

Freguesias – Remunerações dos Eleitos Locais 7 7 -

Áreas Metropolitanas e Associações de Municípios 7 8 1

Subtotal DGAL 2 490 2 518 28

ARSLVT, ARSC, ARSN e INEM Saúde 3 2 1

IHRU Habitação 37 2 -34

IFAP Agricultura 7 7 -

Turismo de Portugal Turismo 13 - -13

DGPC, DRCC e GAFC Cultura - 1 1

IEFP Emprego e Formação Profissional 40 31 -8

DRE’s e estabeleci. de ensino não superior Educação e ensino 292 320 29

DGTF – Cap. 60 (Despesas excecionais) Empréstimos a médio e longo prazos a municípios 51 1 -50

Diversas 1 - -

IMT e ANSR Transportes - 17 17

Outros Organismos Diversas 12 84 73

Subtotal (SI e SFA excluído DGAL) 455 467 12

Subtotal da despesa orçamental da administração central 2 945 2 985 40

Segurança Social 6 (b) 2 4

Total das operações orçamentais 2 951 2 986 35

Operações extraorçamentais

DGAL Municípios – Participação no IRS – Açores 8 9 1

Municípios – Participação no IRS – Madeira 9 8 -1

Agência para o Desenvolvimento e Coesão QREN, FEDER e Fundo de Coesão 421 207 -214

IFAP PRODER e Outros 26 6 -20

Alto Comissariado para as Migrações PQ Solidariedade e Gestão Fluxo Migratórios - - -

Agência Nacional ERASMUS+ Programa ERASMUS+ - 36 36

Total das operações extraorçamentais 463 266 -197

Total geral 3 414 3 252 -162

(a) Participação no IRS apenas dos municípios do continente. Para os municípios das regiões autónomas foi processada por operações extraorçamentais.

(b) Constata-se uma divergência em relação ao quadro 57 do Relatório da CGE/2016, que regista € 5 M.

Fonte: OE; CGE; SIGO; informação prestada pelas entidades intervenientes.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Do montante executado por operações orçamentais (€ 2.986 M), 84,4% (€ 2.518 M) foi processado pela DGAL, destinando-se € 2.314 M aos municípios1, € 196 M às freguesias e € 8 M às áreas metropolitanas e comunidades intermunicipais, correspondendo a um aumento de € 28 M face a 2015, devido essencialmente ao “Fundo de Equilíbrio Financeiro” (€ 21 M).

Ocorreram retenções no valor de € 21,1 M devido a2:

 € 1,6 M relativos a 0,1% do FEF dos municípios do continente, que constituiu receita própria da DGAL3;

 € 17,8 M por incumprimento da prestação atempada de informação financeira à DGAL e à DGO4;

 € 1,8 M por violação dos limites de endividamento (sendo que as reduções das transferências são afetas ao Fundo de Regularização Municipal5).

A par dessas retenções, ocorreram restituições aos municípios no montante de € 21,2 M (€ 2,4 M – Fundo de Regularização Municipal; € 18,8 M – libertação de retenções por incumprimento de prestação de informação).

As verbas processadas pelas demais entidades (SI e SFA, exceto DGAL) atingiram € 467 M, mais € 12 M do que no ano anterior, em resultado do aumento das despesas do sector da educação. Aquele montante, pago por diversos organismos, teve a seguinte utilização:

Gráfico B. 17 – Verbas para as Autarquias Locais excluindo os fluxos processados pela DGAL

(em milhões de euros)

Fonte: OE; CGE; SIGO; informação prestada pelas entidades intervenientes.

1 Inclui € 74 M que foram pagos diretamente a entidades credoras dos municípios, nomeadamente SNS, ADSE e outras

(penhoras, bancos, DGTF, etc.). 2 Informação prestada pela DGAL. 3 Nos termos do art. 54.º do OE. 4 Cfr. art. 78.º da Lei 73/2013, de 3/9, que estabelece o regime financeiro das autarquias locais e das entidades

intermunicipais. 5 Cfr. art. 56.º do OE e 67.º da Lei 73/2013, de 3/9.

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Tribunal de Contas

151

Nos pagamentos por outras entidades que não a DGAL, destacam-se os efetuados por serviços do

Ministério da Educação € 320 M (68,6% do total), com relevo para as verbas destinadas a “pessoal não docente das escolas básicas e da educação pré-escolar” (€ 216 M), a “componente apoio à família (€ 54 M) e a “assistentes operacionais” (€ 26 M).

Por operações extraorçamentais, foram processados € 266 M, menos € 197 M do que em 2015, destacando-se as verbas transferidas pela Agência para o Desenvolvimento e Coesão para financiamento

dos projetos enquadrados no QREN, FEDER e Fundo de Coesão (€ 207 M), e pela Agência Nacional Erasmus+ para financiamento de programa Erasmus+ (€ 36 M). Verifica-se uma divergência de € 53 M relativamente ao quadro 58 da CGE que não inclui a Agência Nacional Erasmus+ (€ 36 M), a DGAL (€ 17 M) e o Alto Comissário para Migrações (€ 351 m).

7.2.2. Das Autarquias Locais para a Administração Central

Os fluxos da administração local para a administração central são sintetizados no quadro seguinte:

Quadro B. 73 – Fluxos financeiros da Administração Local destinados à Administração Central

(em milhões de euros)

Administração Central Execução

2015 2016

Receitas orçamentais

SFA 48 147

SI 151 179

Total operações orçamentais 200 325

Receitas extraorçamentais

SFA 12 19

Total 212 344

Fonte: CGE, SIGO, SGR e informação prestada pela entidade recebedora quanto às operações extraorçamentais.

Destaca-se, no subsector dos SI, € 127 M de reembolsos à DGTF de empréstimos concedidos a diversas autarquias locais para reequilíbrio ou ajustamento financeiro e, nos SFA, € 92 M de recebimentos pelo FAM relativos a realização de capital por parte dos municípios, e € 42 M pela ACSS relativos a prestações de serviços de saúde, pelo SNS, a trabalhadores da administração local.

Também nas receitas recebidas de autarquias locais se constata uma diferença, em relação ao quadro 57

da CGE, que não inclui os € 92 M de passivos financeiros relativos à realização de capital do FAM por parte dos municípios.

Em contraditório, a DGO mantém a interpretação anteriormente formulada sobre o conteúdo dos mapas

referentes aos fluxos com as administrações regional e local1. Porém, apesar das melhorias introduzidas

em 2016, não incluem a totalidade dos fluxos processados através de operações extraorçamentais.

1 Cfr. ponto 7.2.2 do PCGE 2015.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

152

8. BENEFÍCIOS FISCAIS, SUBSÍDIOS E OUTRAS FORMAS DE APOIO

8.1. Benefícios Fiscais

8.1.1. Objeto do exame

No Relatório e Parecer sobre a CGE o Tribunal examina os apoios concedidos através dos benefícios

fiscais1 (BF). Ao atribuir BF o Estado renuncia à receita que seria obtida caso fosse aplicado o regime

de tributação-regra de cada imposto a factos ou a contribuintes a ele sujeitos. Esta receita cessante é

designada por Despesa Fiscal (DF), prevista no OE por imperativo constitucional2 e relevada na CGE

de acordo com o Classificador dos BF (CBF)3.

A evolução da DF relevada nas CGE de 2014 a 2016 consta do quadro e do gráfico seguintes:

Quadro B. 74 – Evolução da despesa fiscal Gráfico B. 18 – Evolução da despesa fiscal

(em milhões de euros)

Imposto Valor Evolução

2014 2015 2016 2015/14 2016/15 2016/14

IRS 402 528 574 126 46 172

IRC 872 877 823 5 -54 -49

IS 332 379 679 47 300 347

IUC 7 8 13 1 4 6

ISV 29 32 41 3 9 12

IVA 112 94 118 -18 24 6

ISP 164 242 289 78 47 125

IABA+IT 2 2 2 0 0 0

Total 1 920 2 162 2 538 242 377 618

A DF em IRS e em IRC quantificada no ano em análise é relativa a rendimentos auferidos em 2015.

Fonte: CGE

A apreciação do Tribunal4 sobre a DF relevada na CGE5 decorre da evidência recolhida no âmbito dos

trabalhos realizados para o presente Parecer que envolveram a formulação de questionários e exame das

respostas dos serviços responsáveis, a revisão de ficheiros informáticos de dados e sua reconciliação

com mapas de suporte.

1 “Consideram-se benefícios fiscais as medidas de carácter excecional instituídas para tutela de interesses públicos

extrafiscais relevantes que sejam superiores aos da própria tributação que impedem” – art. 2.º do Estatuto dos Benefícios Fiscais (EBF) aprovado pelo Decreto-Lei 215/89, de 01/07.

2 Art. 106.º da Constituição da República Portuguesa. 3 O CBF foi aprovado pela Deliberação 1447/2007, do Conselho Superior de Estatística, publicada em 27/07. 4 Tendo por referência os regimes de tributação de cada imposto, a LGT, o EBF, a LEO, os OE de 2013 a 2016, os

resultados da última reavaliação dos BF (em 2005) e referenciais internacionais neste domínio. 5 Volume I – Tomo I – III.2.1.1.3. Despesa Fiscal (páginas 67 a 74) / V. Anexos (páginas 269 a 278).

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Tribunal de Contas

153

8.1.2. Resultado do exame

Do exame efetuado resulta o seguinte:

 O manual de quantificação da DF (doravante manual) elaborado pela AT1 não foi aplicado para 2016 (tendo sido aplicado pela primeira vez em sede do OE para 2017). Desse manual consta a

inventariação dos desagravamentos fiscais por imposto e a respetiva classificação segundo a sua

natureza excecional (geradora da receita cessante por BF ou DF) ou estrutural (geradora de

receita cessante por desagravamentos fiscais estruturais).

 A DF relevada na CGE de 2016 (€ 2.538 M) supera em 17,4% a de 2015 (€ 2.162 M) devido ao aumento de € 300 M em IS, € 47 M em ISP, € 46 M em IRS e à diminuição de € 54 M em IRC. Porém, a CGE continua sem relevar toda a DF. Desde logo, omite € 60 M em IRC e parte dos € 5.795 M em IVA considerados pela AT como receita cessante por desagravamentos fiscais estruturais quando, em rigor, se trata de BF. A tais omissões acrescem, pelo menos, € 89 M em IS resultante da aplicação das taxas mínimas previstas na Tabela Geral do IS (TGIS)2 a montantes

declarados (€ 67.051 M), mas sem quantificação de DF pela AT, alegadamente por insuficiências do sistema de informação e controlo desse imposto – vide 8.1.2.1.

 A informação disponível sobre os BF e a sua inventariação continuam insuficientes e, para a DF de 2016, não foram aprovadas as fontes de informação, a metodologia e os procedimentos de

quantificação e de controlo da DF, afetando a sua quantificação integral e fiável – vide 8.1.2.2.

 A concentração da DF em IRC num reduzido número de benefícios e beneficiários reforça a necessidade de reavaliação dos respetivos BF para confirmação, formal e transparente, de que

realizam os interesses públicos extrafiscais que determinaram a sua atribuição – vide 8.1.2.3.

 As deficiências detetadas nos sistemas e nos procedimentos de controlo da receita cessante afetam a integralidade e a fiabilidade da informação relativa aos BF, mantendo o Tribunal

reservas sobre a DF relevada na CGE, manifestamente subavaliada – vide 8.1.2.4.

 Subsistem assim, no essencial, as deficiências objeto de recomendações reiteradas pelo Tribunal, das quais avulta a necessidade de assegurar a regularidade, correção financeira e adequada

relevação orçamental da DF no OE e na CGE. Assim, sublinha-se que, para acolher o

recomendado pelo Tribunal, o manual deve assegurar a fiabilidade da informação prestada na

CGE sobre a DF (e demais perdas de receita por desagravamentos fiscais) suprindo as

deficiências ainda patentes na CGE de 2016 – vide 8.1.2.5.

 A falta de um sistema de informação e controlo integrado e centralizado sobre os contratos de concessão de BF ao investimento e o deficiente exercício das competências legais das entidades

públicas envolvidas continua a afetar negativamente o impacto económico esperado – vide 8.1.2.6.

1 O Ministério das Finanças remeteu ao Tribunal em 26/10/2016 o “Manual de Quantificação da Despesa Fiscal”. O

Manual procede à definição do conceito, da classificação funcional, das óticas de apuramento, da calendarização do

processo de quantificação e ainda do sistema de tributação regra, da tipologia e da metodologia de apuramento da DF,

por imposto. 2 A CGE releva € 680 M de DF em IS proveniente de quatro verbas da TGIS: 1.1- Aquisição onerosa ou por doação do

direito de propriedade ou de figuras parcelares desse direito sobre imóveis (…), 1.2 - Aquisição gratuita de bens, incluindo por usucapião, 2 - Arrendamento e subarrendamento, incluindo as alterações que envolvam aumento de renda

operado pela revisão de cláusulas contratuais e a promessa quando seguida da disponibilização do bem locado ao

locatário (…) e a 28 - Propriedade, usufruto ou direito de superfície de prédios urbanos (…) seja igual ou superior a (euro) 1 000 000 sobre o valor patrimonial tributário (…). Ora, a TGIS prevê 42 verbas suscetíveis de isenção.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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A falta de informação sobre parte dos BF, a subavaliação da DF pela AT e a sua inadequada relevação

na CGE, em suma, a subsistência das principais deficiências detetadas pelo Tribunal (e objeto recorrente

das suas recomendações), continuam a ser limitações importantes para o exame e para a formulação de

uma opinião de auditoria sobre os valores envolvidos.

8.1.2.1. Subavaliação da despesa fiscal na CGE

A DF relevada na CGE de 20161 (€ 2.538 M) supera a de 20152 em 17,4% (€ 276 M) devido ao acréscimo de 79% (€ 300 M) na DF em IS explicado pelo aumento referente à “aquisição gratuita de bens, incluindo por usucapião”3 (de € 310 M para € 613 M).

Porém, a CGE continua sem relevar toda a DF. Omite, desde logo, € 60 M em IRC, por “reinvestimento dos valores de realização” 4, e a parte dos € 5.795 M em IVA, por diferencial de taxas5, considerados pela AT como receita cessante por desagravamentos fiscais estruturais quando, em rigor, se trata de BF.

Além disso, por insuficiência de informação sobre os BF utilizados pelos contribuintes e por falta de

metodologia de quantificação, ainda continua por quantificar e relevar a DF seguinte:

 Em IRS, por BF aos“arrendatários de imóveis de fundos de investimento”6.

 Em IRC, por BF à “dedução de prejuízos fiscais”7 e ao “regime de tributação especial pelo grupo de sociedades”8.

 Em IS, por operações e atos isentos enquadrados em 38 verbas da TGIS com taxas de imposto diferenciadas9. A DF resultante da aplicação das taxas mínimas previstas na TGIS aos montantes

declarados ascende a € 89 M10.

 Em IVA, por isenções11.

A subavaliação da DF na CGE por omissão de montantes conhecidos é material a que acrescem valores

indeterminados, também relevantes, suscitando reservas os primeiros e reparos os segundos.

1 DF de 157 BF (19 em IRS, 55 em IRC, 8 em IVA, 12 em IUC, 30 em IS, 20 em ISV, 10 em ISP, 2 em IABA e 1 em IT). 2 A evolução reporta-se, com as limitações assinaladas, à DF relevada na CGE, dependendo a apreciação dessa evolução

de efetiva e integral relevação da DF na CGE. 3 Nos termos da alínea e) do art. 6.º do Código do IS (CIS). 4 Nos termos do art. 48.º do Código do IRC (CIRC). 5 Caso das operações com finalidade extrafiscal sujeitas a taxa reduzida ou intermédia (v.g. verbas 1.9, 2.14, 2.17 da Lista

I e 1.10, 2.5 e 2.6 da Lista II do Código do IVA – CIVA). 6 Nos termos do Regime Jurídico dos Fundos de Investimento Imobiliário para Arrendamento Habitacional (FIIAH),

aprovado pelo art. 102.º da LOE para 2009. 7 Nos termos do art. 52.º do CIRC. 8 Nos termos do art. 69.º do CIRC. 9 Foram declarados € 67.051 M de operações e atos isentos previstos nas verbas 2 a 27 da TGIS, menos 43,1% face a 2015. 10 Menos 22,7% face ao valor de DF estimado para 2015 (€ 115 M). 11 Caso das operações isentas previstas nos n.os 15 e 30 do art. 9.º do CIVA.

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Tribunal de Contas

155

8.1.2.2. Insuficiente quantificação da despesa fiscal

8.1.2.2.1. Impostos sobre o Rendimento (IR)

a) IRS

A DF em IRS relevada na CGE (€ 574 M) aumenta € 46 M (8,7%). Dos acréscimos, € 37 M (26,3%) reportam-se aos sujeitos passivos abrangidos pelo regime de tributação dos “residentes não habituais” 1, € 19 M (69,5%) à “deduçãoem sede de IRS do IVA suportado em fatura”2 e € 17 M (62,9%) a “planos de poupança reforma / fundos de pensões”. Dos decréscimos, € 11 M reportam-se a pessoas com deficiência3 cujos BF ainda representam 48,9% (€ 281 M) da DF em IRS. Já a DF por “prémios de seguros de saúde” diminui € 17 M (98,6%) na sequência da alteração efetuada ao Código do IRS (CIRS) que passou a incluir a dedução das despesas com seguros de saúde na relativa às “despesas de saúde”4e, por essa via, a reconfigurá-la como desagravamento fiscal estrutural.

Por sua vez, a receita cessante por desagravamentos fiscais estruturais (deduções à coleta) quantificada

pela AT (€ 2.739 M) aumenta € 325 M (13,5%).

b) IRC

A DF em IRC relevada na CGE (€ 823 M) diminui € 54 M (6,2%). Dos acréscimos, € 42 M (41,2%) reportam-se ao “sistema de incentivos fiscais em investigação e desenvolvimento empresarial – SIFIDE” e € 25 M ao resultado da liquidação cujo valor (a abater) diminui 77%. Dos decréscimos, € 74 M (36,1%) reportam-se a “fundos de pensões e equiparáveis”5, € 25 M (17,6%) a “pessoas coletivas de utilidade pública e de solidariedade social”6 e € 22 M (32,2%) ao “crédito fiscal extraordinário ao investimento”7.

A AT quantifica como receita cessante por desagravamentos fiscais estruturais € 60 M (€ 34 M em 2015) relativos ao “reinvestimento dos valores de realização”, mas indevidamente, já que o Tribunal tem

concluído fundamentada e reiteradamente ser um BF e, portanto, a respetiva receita cessante ser DF.

Além dessa omissão na CGE, a AT continua sem quantificar a DF relativa ao “regime de tributação

especial pelo grupo de sociedades”(RETGS) eà “dedução de prejuízos fiscais”, não obstante o juízo crítico

recorrente formulado pelo Tribunal sobre essa omissão em anteriores Pareceres.

Em contraditório, a AT volta a alegar que essas três realidadesnão cabem no conceito de BF, não

gerando, consequentemente, DF. A propósito, importa recordar a posição do Tribunal sobre a matéria e

a respetiva fundamentação.

1 Segundo a AT, tal deve-se ao aumento de 66% do número de agregados beneficiários. O regime jurídico dos Residentes

não habituais foi criado pelo Decreto-Lei 249/2009, de 23/09. 2 Segundo a AT, tal deve-se ao aumento de 49% do número de agregados beneficiários (vide art. 78.º-F do CIRS). 3 Nos termos do art. 78-I do CIRS. 4 Nos termos do art. 2.º da Lei 82-E/2014, de 31/12, que procedeu à alteração da alínea c) do art. 78.º do CIRS - Deduções

à coleta - permitindo a dedução relativa “às despesas de saúde e com seguros de saúde”, e da alínea b) do art. 16.º daquela lei, que revogou o art. 74.º do EBF- Seguros de saúde.

5 A AT refere que para tal diminuição concorre a redução da taxa nominal verificada em 2014 e 2015. Este BF encontra-

se previsto no art. 16.º, n.º 1, do EBF. 6 A AT considera que o decréscimo está relacionado com a melhoria da qualidade de informação prestada por este tipo de

contribuintes nas suas declarações de rendimentos. 7 Explicado pela AT com a dedução do saldo remanescente decorrente de insuficiência de coleta em 2013 (ano em que se

concentrou o efeito do benefício) e nos anos subsequentes. Este BF encontra-se previsto na Lei 49/2013, de 16/07.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

156

Quanto ao RETGS, trata-se de um regime especial que visa finalidades extrafiscais dirigidas à formação

de grupos de sociedades e de um regime opcional de tributação não diretamente aplicável a todos os

grupos de sociedades que reúnam as condições legais para o efeito. Da aplicação desse regime decorrem

vantagens fiscais, designadamente a dispensa de retenção na fonte no pagamento de rendimentos a

sociedades do grupo e a compensação imediata de lucros e prejuízos fiscais gerados em cada exercício.

Aplicando-se o regime de tributação regra esses resultados seriam considerados por sociedade. A

tributação nesta sede traduz-se, em relação às sociedades do grupo, “efetivamente por uma redução dos

impostos pagos por estas” 1, receita cessante a quantificar como DF por integrar o conceito legal de BF

definido no art. 2.º do EBF.

Quanto ao reinvestimento dos valores de realização, trata-se de um regime especial que permite um

tratamento fiscal privilegiado de mais-valias realizadas pelos contribuintes que optem pela sua

aplicação. Foi objeto de regulamentação pela própria AT com vista a assegurar a realização da finalidade

extrafiscal que fundamenta a sua criação – o incentivo ao investimento. Regra geral, as mais-valias realizadas são consideradas como rendimentos que concorrem para a formação do lucro tributável, mas

com o objetivo de fomentar o investimento por parte dos contribuintes o legislador previu situações em

que as mais-valias são parcialmente tributadas ou são isentas. É, também, BF por ser opção do

contribuinte investir novamente nas condições previstas pela norma fiscal obtendo a vantagem daí

decorrente ou, não o fazendo, submeter-se à aplicação do regime de tributação regra.

Estes regimes fiscais privilegiados são opcionais, visam finalidades extrafiscais e da sua aplicação

resultam vantagens fiscais para os beneficiários que não seriam obtidas com a aplicação do regime de

tributação-regra. Por isso, integram o conceito de BF e a perda de receita decorrente da sua aplicação

deve ser relevada como DF.

Quanto ao reporte de prejuízos fiscais, os BF anualmente declarados por contribuintes que reportam

prejuízos fiscais devem ser considerados para efeitos de quantificação da DF no ano em que o

contribuinte apura lucro tributável, na medida em que esses benefícios aumentam o valor dos prejuízos

fiscais dedutíveis com a subsequente diminuição do imposto liquidado.

A DF em IRC por “isenções definitivas”(€ 35 M) diminui 23,3%. Porém, continua a subsistir a indevida quantificação de isenções de rendimentos não sujeitos a IRC2 (€ 22 M e 64,3% dessa DF)3. Esta falta de fiabilidade da DF por isenções em IRC ilustra a insuficiência dos procedimentos de controlo da sua

quantificação e faz reiterar que, sendo essa DF quantificada com base nos montantes declarados pelos

contribuintes importa, face à sua relevância, intensificar os controlos inspetivos e/ou implementar outros

mecanismos (v.g. cruzamentos de dados) para confirmar a veracidade dos elementos declarativos,

definindo, assim, procedimentos de controlo para deteção e correção tempestiva de erros4.

Além das omissões reportadas, relativas à falta de quantificação e de relevação na CGE, o método de

cálculo utilizado na quantificação da DF em IRC continua a excluir os BF anualmente declarados por

contribuintes com prejuízos fiscais5, deficiência que concorre para a subavaliação da DF.

1 Vide Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul de 30-04-2014 (Processo 05376/12). 2 Rendimentos provenientes de quotas e de subsídios não sujeitos a IRC foram declarados como rendimentos isentos com

o código 049 “Outras Isenções Definitivas” no campo 304 do anexo D da modelo 22 em IRC. 3 Vide § 75 do Relatório de Auditoria n.º 24/2015-2.ª Secção. 4 Vide “Manual de Boas Práticas na Medição de Gastos Tributários”, Centro Interamericano das Administrações Tributárias

– CIAT (2011), Capítulo 1, Ponto 8. 5 Vide 8.1.2.1. do PCGE de 2015.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 184

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Tribunal de Contas

157

c) EBF

Com a LOE para 2016, o regime fiscal dos empréstimos externos (isenção em IRS e IRC), as operações

de reporte com instituições financeiras não residentes (isenção em IRC) e o regime especial de tributação

de valores mobiliários representativos de dívida emitida por entidades não residentes (isenção em IRS

e IRC) passaram a integrar o EBF1. Estes BF, criados pela LOE para 2011 como “medidas excecionais de apoio ao financiamento da economia” e, desde então, regulados pelas sucessivas leis orçamentais,

adquirem, assim, relativa estabilidade2. Para ainda não os identificar nem discriminar por imposto, a AT

alega, em contraditório, que “estes BF serão apenas objeto de quantificação para os períodos de 2017 e seguintes, e, por conseguinte, os respetivos campos apenas serão introduzidos nas novas declarações a entregar

em 2018, em ordem a assegurar a respetiva quantificação da despesa fiscal aos mesmos associada”.

Acresce que no manual de quantificação da DF, a inventariação dos desagravamentos fiscais não inclui

os BF agora aditados ao EBF, com prejuízo para a fiabilidade e transparência da informação sobre a DF

em IR, o qual é agravado por esse manual também não incluir os modelos de cálculo desta DF, por BF.

Em contraditório, a AT alega que essa exclusão“é explicada pelo facto de a sua versão inicial contemplar desagravamentos fiscais criados até 31/12/2015, encontrando-se em conclusão a sua atualização”.

8.1.2.2.2. Imposto do Selo (IS)

A DF em IS relevada na CGE aumenta € 300 M (79,1%) devido à quantificação de mais € 304 M (98,1%) na DF por “Aquisição gratuita de bens, incluindo usucapião” que passa a representar 90,3% (€ 613 M) da DF do imposto relevada na CGE (€ 679 M)3. O aumento é explicado pela AT “com a melhoria das fontes de informação e das metodologias de análise” vindo ao encontro das observações do Tribunal em

anteriores Pareceres relativas à subavaliação da DF em IS.

Porém, a DF em IS continua subavaliada visto que os sujeitos passivos declaram outras operações e atos

isentos (€ 67.051 M4) cuja DF não foi quantificada nem relevada na CGE. A omissão desta DF é responsabilidade da AT, por não exigir a discriminação das isenções declaradas pelas correspondentes

verbas da TGIS5 impossibilitando determinar a taxa aplicável e o cálculo do imposto que seria devido

sem a norma de isenção6. Ora, tal omissão é materialmente relevante visto que, pela aplicação das taxas

mínimas da TGIS às operações e aos atos isentos declarados resulta uma DF potencial de € 89 M. Face ao quadro legal e à importância da quantificação da DF em IS, o Tribunal volta a reiterar a necessidade

de a AT “promover a correta aplicação da legislação e das decisões administrativas relacionadas com as suas

atribuições e propor as medidas de caráter normativo, técnico e organizacional que se revelem adequadas”7,

bem como de fundamentar adequadamente as suas opções técnicas.

1 Vide art. 32.º-B, 32.º-C e 40.º-A do EBF aditados pela LOE para 2016 (Lei 7-A/2016, de 30/03). 2 O preâmbulo do diploma que aprovou o EBF estabelece que os BF com maior grau de estabilidade constam dos códigos

tributários, os BF com caráter menos estrutural, mas relativa estabilidade, são incluídos no EBF e os BF com finalidades

marcadamente conjunturais ou requerendo regulação relativamente frequente constam das leis do orçamento do Estado. 3 A DF com o código CT.1 - Isenção tributária não está relevada no Quadro A15 – Tipo de despesa fiscal em IS da CGE

2016 – Volume I – Tomo I – V. Anexos (página 274). 4 Fonte: Declaração anual de informação contabilística e fiscal (Anexo Q) apresentada à AT pelos sujeitos passivos. 5 Verbas a que correspondem diferentes taxas de tributação. 6 A LOE para 2014 alterou o art. 52.º do CIS para: “os sujeitos passivos (…) são obrigados a apresentar anualmente

declaração discriminativa do imposto do selo liquidado e do valor das operações e dos atos realizados isentos deste

imposto, segundo a verba aplicável da tabela, preferencialmente por via eletrónica.” 7 Nos termos da alínea d) do n.º 2 do art. 14.º do Decreto-Lei 117/2011, de 15/12, e da alínea e) do n.º 2 do art. 2.º do

Decreto-Lei 118/2011, de 15/12.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

158

A AT deve discriminar a DF em IS por natureza e função, aquando da inventariação dos respetivos BF,

à semelhança do procedimento aplicado para os impostos sobre o rendimento com base em formulários

(Anexo H em IRS e Anexo D em IRC) com estrutura idêntica ao Anexo Q da declaração anual.

Apesar de não incluir todos os BF, como sucede com os BF aditados ao EBF em 20161, importa referir

que a inventariação de desagravamentos fiscais em IS desenvolvida no manual de quantificação da DF

é mais ampla do que a realizada e quantificada no âmbito da CGE2, dado que esta última apenas integra

os BF cuja competência da liquidação é dos serviços da AT3.

Também não é quantificada qualquer receita cessante em IS por desagravamentos fiscais estruturais.

Assim, não obstante os progressos obtidos, subsistem insuficiências no sistema de informação e controlo

da DF em IS que continuam a constituir-se como verdadeiras limitações à sua rigorosa quantificação e

suscitam a pertinência da tomada das ações corretivas necessárias por parte da AT para que essa DF

passe a ser devidamente quantificada e relevada no Orçamento de Estado e na Conta Geral do Estado.

8.1.2.2.3. Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA)

A DF em IVA (€ 118 M) aumentou € 24 M (25,5%) refletindo o mesmo aumento em isençõesàs “forças armadas e de segurança”. A DF provém, sobretudo, deste BF (€ 58 M) e das isenções às “instituições particulares de solidariedade social” (€ 25 M) que operam por restituição de imposto, correspondendo, respetivamente, a 48,9% e 21,4% da DF deste imposto relevada na CGE.

Porém, a DF em IVA continua subavaliada na medida em que não é quantificada a DF relativa a todas

as operações isentas (v.g. nas operações internas, importações, exportações e transportes internacionais).

Em contraditório, a AT reconhece que o “atual estado dos sistemas de informação da AT não permite a quantificação dos BF utilizados pelos contribuintes para as isenções previstas no artigo 9.º do Código do IVA”.

Acresce que a receita cessante por desagravamentos fiscais estruturais quantificada pela AT (€ 5.795 M, mais € 2.129 M e 58,1% do que em 2015) resulta exclusivamente do diferencial de taxas relativo a operações sujeitas a taxa reduzida ou intermédia e inclui (indevidamente) DF relativa a reduções de taxa

que visam prosseguir finalidades extrafiscais (v.g. sal, transporte de passageiros, alojamento hoteleiro,

vinhos, máquinas agrícolas e espetáculos culturais)4.

Importa sublinhar que a inventariação de desagravamentos fiscais em IVA constante do manual de

quantificação da DF considera, como BF, as isenções incompletas com um objetivo de natureza

extrafiscal e que impliquem valor acrescentado para o sujeito ativo da relação5, o regime especial de

isenção6 e, ainda, as taxas reduzida e intermédia7, face à sua natureza opcional.

1 Nos termos do art. 171.º da LOE para 2016, foi aditado ao EBF o art. 32.º-D - Operações de reporte - BF cuja regulação

consta, até 2016, das respetivas leis orçamentais (desde 2011 até 2015). 2 Nomeadamente “outras isenções” nos termos do art. 7.º do Código do Imposto do Selo (CIS). 3 Referente às verbas 1.1, 1.2, 2 e 28 da TGIS. Não estão incluídos os BF que têm como fonte de informação o anexo Q da

IES/Declaração Anual, cuja estrutura assenta nas normas de incidência e não de isenção, correspondentes às verbas 4 a

27 e 29 da TGIS. 4 Designadamente as operações isentas previstas nos n.os 15 e 30 do art. 9.º, nos art. 13.º e 14.º e operações com finalidades

extrafiscais sujeitas a taxa reduzida ou intermédia (v.g. verbas 1.9, 2.14, 2.17 da Lista I e verbas 1.10, 2.5 e 2.6 da Lista

II do CIVA). 5 Art. 135.º a 137.º do capítulo 3 da Diretiva 2006/112/CE a que corresponde o art. 9.º do CIVA. 6 Art. 282.º a 292.º do capítulo 1 da Diretiva 2006/112/CE a que corresponde o art. 53.º do CIVA. 7 Nos termos do art. 98.º da Diretiva 2006/112/CE.

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Tribunal de Contas

159

Porém, quanto a estas últimas, ainda não houve avaliação da natureza fiscal ou extrafiscal dos bens e

serviços incluídos na Lista I e II do CIVA1. Nesse manual é ainda descrita a metodologia do cálculo da

DF relativa às taxas reduzida e intermédia, nomeadamente quanto à necessidade de expurgar às

respetivas bases tributáveis a parte relativa aos consumos intermédios dedutíveis em fases anteriores à

venda ao consumidor final2. A aplicação do manual vai, portanto, implicar um crescimento significativo

da DF em IVA3.

8.1.2.2.4. Imposto sobre Veículos (ISV)

A inventariação de desagravamentos fiscais em ISV efetuada no âmbito do manual de quantificação da

DF também considera como DF a receita cessante por diferencial de taxa para as operações sujeitas às

taxas reduzida e intermédia4, considerando a sua natureza opcional e por prosseguirem objetivos

extrafiscais, essencialmente de natureza económica. A requalificação destas disposições fiscais pela AT,

tal como reportado para a DF em IVA, vai implicar um crescimento significativo da DF em ISV5.

8.1.2.3. Concentração da despesa fiscal em IRC

Quadro B. 75 – Principais benefícios da despesa fiscal em IRC

(em milhões de euros)

Benefício Fiscal DF % DF no

Total

DF dos

DMB

% DF dos

DMB

Regime Fiscal de Apoio ao Investimento (RFAI) 159 19,3 62 39,2

Sistema de Incentivos Fiscais em Investigação e Desenvolvimento Empresarial (SIFIDE) 145 17,6 54 36,9

Fundos de pensões e equiparáveis e outros fundos isentos definitivamente 131 15,9 116 88,6

Pessoas coletivas de utilidade pública e de solidariedade social) 115 14,0 44 38,4

Crédito Fiscal Extraordinário ao Investimento (CFEI) 47 5,7 10 20,7

Dedução por lucros retidos e reinvestidos pelas PME (DLRR) 44 5,4 2 5,1

Majoração à criação de emprego 41 5,0 5 12,8

Subtotal da DF em IRC 681 82,8 293 43,0

Total da DF em IRC 823 100,0

DMB – Dez Maiores Beneficiários

Fonte: AT.

Como o quadro ilustra, a DF em IRC continua concentrada num reduzido número de benefícios e

beneficiários. Os sete BF identificados originaram € 681 M de DF (83% da DF do imposto relevada na CGE), dos quais € 293 M (43%) respeitam aos dez maiores beneficiários (com maior DF por BF).

1 Listas anexas ao CIVA com os bens e serviços sujeitos à taxa reduzida (6%) e à taxa intermédia (13%), respetivamente. 2 Vide Anexo I - Modelo de cálculo dos coeficientes de consumo intermédio. 3 O Mapa XXI – Receitas Tributárias Cessantes dos Serviços Integrados da Lei 42/2016, de 28/12 (OE 2017), prevê

€ 5.079 M de DF em IVA, montante 43 vezes superior à DF em IVA reportada na CGE de 2016 (€ 118 M). 4 Nos termos dos art. 8.º e 9.º do ISV, respetivamente. 5 O Mapa XXI – Receitas Tributárias Cessantes dos Serviços Integrados, da Lei 42/2016, de 28/12 (OE 2017), prevê

€ 256 M de DF em ISV, montante 6 vezes superior à DF em ISV reportada na CGE de 2016 (€ 41 M).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Os BF em IRC atribuídos no âmbito do “RFAI”, do “SIFIDE” e de “fundos de pensões e equiparáveis e

outros fundos isentos definitivamente” representam 53% (€ 434 M) da DF em IRC. Quanto à DF deste último BF, 89% (€ 116 M) respeita aos seus dez maiores beneficiários.

A DF respeitante ao BF à “criação de emprego”1 é a sétima maior DF em IRC (€ 41 M) relevada na CGE. Uma auditoria recente da IGF2 detetou fragilidades e insuficiências no controlo interno implementado

pela AT para este BF (tendo sido detetadas situações irregulares por utilização indevida deste BF pelos

sujeitos passivos) e concluiu, designadamente, que o referido BF não constitui uma medida eficaz para

a criação de emprego e não é determinante para a decisão de contratar novos postos de trabalho.

A concentração da DF em IRC continua a suscitar a necessidade de reavaliação dos respetivos BF para

confirmação, formal e transparente, de que realizam os interesses públicos extrafiscais que

determinaram a sua atribuição3, nomeadamente o BF à “criação de emprego” 4, vigente em 2016 e mantido em 2017, uma vez que a respetiva LOE prorrogou por mais um ano a norma que o consagra5.

Com efeito, a concessão de BF só é justificável desde que vise relevantes motivos económicos ou de

justiça social, claramente definidos e quantificados.

Cabe, ainda, sublinhar que a manutenção de BF em IRC que operam por dedução à matéria coletável

conduz a vantagens fiscais tanto maiores quanto maior é o rendimento do sujeito passivo6 pondo em

causa a equidade desses benefícios7.

A recomendação do Tribunal para o Governo rever o regime legal dos BF que operam por dedução à

matéria coletável de IRC continua sem ser acolhida8.

O objetivo orçamental da redução do défice público, a elevada concentração da DF em IRC, o tempo já

decorrido desde a última reavaliação dos BF (em 2005) e os demais aspetos enunciados conduzem o

Tribunal a reiterar a necessidade de se dispor de uma nova reavaliação9.

1 BF de natureza social (art. 19.º do EBF) atribuível a entidades empregadoras sujeitas a IRC e sujeitos passivos de IRS

com contabilidade organizada, por majoração dos encargos correspondentes à criação líquida de postos de trabalho. 2 Relatório n.º 2016/952. 3 Reavaliação “cuja análise deverá ser feita em termos de avaliar a eficácia económico-financeira dos benefícios fiscais,

em si mesmos, e no confronto com outras medidas alternativas de intervenção pública, designadamente, mediante o

confronto com a eficácia das despesas diretas (subsídios, subvenções e outras comparticipações).” – Vide Nuno Sá

Gomes, “Teoria Geral dos Benefícios Fiscais”, Título I, Ponto 1-IV.

4 Posição também expressa no relatório do Grupo de Trabalho para a avaliação dos BF (Despacho do Ministro das

Finanças, de 1 de maio de 2005), páginas 201 a 203. 5 Nos termos da norma transitória prevista no n.º 1 do art. 226.º da Lei do OE para 2017.Saliente-se o n.º 2 dessa norma,

no qual se determina que para efeitos da respetiva cessação, alteração ou prorrogação, o Governo apresente à Assembleia

da República até ao final da legislatura um relatório com uma avaliação qualitativa e quantitativa dos BF aos quais foi

prorrogado o prazo das normas que os consagram, de entre os quais se inclui o BF à criação de emprego. 6 Posição também expressa no relatório do Grupo de Trabalho para a avaliação dos BF (Despacho 130/97-XIII, do Ministro

das Finanças). 7 A principal crítica conceptual às deduções à matéria coletável é a falta de equidade fiscal que originam (upside-down

effect) beneficiando, quase exclusivamente, os contribuintes com maiores rendimentos – Vide Stanley S. Surrey and Paul R. McDaniel, “Tax Expenditures”, Harvard University Press, 1985.

8 A mais recente é a Recomendação 4 do Relatório de Auditoria n.º 19/2014-2.ª Secção. 9 Vide pontos 4.4.1, 6 e Recomendação 7 do Relatório de Auditoria n.º 19/2014-2.ª Secção.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 188

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Tribunal de Contas

161

8.1.2.4. Inadequada relevação da despesa fiscal

A DF é estimada no Relatório do OE (ROE) e no OE (mapa XXI) 1 sendo relevada na CGE (mapa 42).

Porém, continua por relevar de forma completa e apropriada, desde logo, por não serem identificados

todos os BF e nem todos serem acompanhados da sua justificação económica e social, como a LEO

determina2. Subsiste ainda a inconsistência entre a DF inscrita no Relatório do OE (€ 9.782 M) e no mapa XXI do OE (€ 1.903 M) por diferença de critérios utilizados para calcular essas estimativas, o que também conduz a resultados divergentes na sua comparação com a DF relevada na CGE (€ 2.538 M).

A AT pretende eliminar esta discrepância metodológica, com a aplicação do manual de quantificação da

DF (a partir de 2017), por via de uma “estreita conexão entre estes dois documentos” e definindo a sua elaboração segundo a ótica financeira3.

As deficiências e limitações na quantificação da DF afetam, também, a consistência da informação sobre

a sua evolução (aumento de 7,5% e € 681M previsto noROE para 20164): Foi estimada uma redução de 11,9% no mapa XXI do OE para 2016 (face à DF relevada na CGE de 2015, € 2.162 M) e veio a verificar-se um aumento de 17,4% na DF relevada na CGE de 2016.

A inconsistência da informação sobre a DF, sobretudo entre relatórios e respetivos mapas do OE, em

incumprimento da LEO5, dificulta a comparação entre a DF orçamentada e a efetivamente realizada,

que o PCGE deve comportar6. É, também, necessário que a DF7 apenas contenha a previsão e a

estimativa das receitas cessantes em virtude de BF (desagravamentos fiscais excecionais) sem lhes

adicionar perdas de receita provenientes de desagravamentos fiscais estruturais8.

O CBF, criado com o objetivo de identificar os BF e caraterizar e discriminar a respetiva DF9, ainda não

foi revisto (apesar de se prever a sua atualização anual) de forma a considerar a sistematização dos BF

constante do EBF, incluindo todas as tipologias, modalidades e funções da DF. Essa falta de atualização

torna-o um instrumento inadequado para classificar de forma transparente e uniforme a DF, impedindo

a sua quantificação rigorosa e o seu controlo eficaz, face ao atual sistema fiscal.

As limitações do CBF são ilustradas pela evolução da DF imputada à rubrica residual “Outros”

(€ 324 M) da função “Assuntos económicos” relevada na CGE que representa 28,4% dessa função e cresceu 21,5 % (€ 57 M) em 2016 e 51,6% (€ 91 M) em 2015.

1 A LEO determina a inclusão na LOE de um mapa orçamental sobre “Receitas tributárias cessantes dos serviços

integrados, dos serviços e fundos autónomos e da segurança social” – art. 32.º 2 Nos termos da alínea t) do n.º 1 do art. 37.º da LEO. 3 Resposta da AT, de 16/5/2017, sobre o PCGE 2016 e Manual de Quantificação da Despesa Fiscal, página 14. 4 Os Relatórios do OE de 2012 a 2016 não observam o disposto na LEO por não conterem a apresentação e a justificação

da DF inscrita nos mapas da LOE, nem atenderem a que “as variáveis utilizadas nas previsões macroeconómicas e orçamentais constantes do relatório devem ter presente os resultados dos anteriores desempenhos em matéria de

previsões e os cenários de risco pertinentes” - vide alínea g) do art. 36.º da LEO. 5 Nos termos da LEO, o Relatório do OE contém a apresentação e justificação da política orçamental proposta (n.º 1 do

art. 36.º) que é expressa nos mapas orçamentais que integram a respetiva LOE.6 Nos termos do art. 41.º da Lei 98/97, de 26 de agosto. 7 Vide “Portugal Fiscal Transparency Evaluations”, Fundo Monetário Internacional – Relatório do País n.º 14/306. 8 Vide 8.1.5. do Parecer sobre a CGE de 2012.9 Vide Deliberação 1447/2007 do Conselho Superior de Estatística, de 27/07.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

162

Também subsistem montantes elevados de DF por discriminar (67,6% em ISV e 38,7% em IRS), o que

prejudica a apreciação da eficiência e eficácia dos BF na prossecução dos objetivos extrafiscais que

determinaram a sua atribuição1.

Os princípios e regras orçamentais constantes da LEO (v.g. unidade e universalidade, não compensação

e especificação) obrigam à relevação no OE e na CGE de todas as receitas do Estado, incluindo as

receitas cessantes em virtude de BF (DF). A relevação da DF pela AT evidencia apenas o valor líquido

da receita tributária, não permitindo conhecer as parcelas da operação que lhe deram origem – a receita fiscal bruta e a DF.

A transparência das contas públicas no domínio da receita cessante por BF depende da integral relevação

e adequada discriminação da DF no OE e na CGE. Ora, a contabilização das receitas do Estado compete

às respetivas entidades administradoras que, nos termos legais, são responsáveis por registar

tempestivamente as operações contabilísticas no Sistema de Gestão de Receitas (SGR).

A AT, sendo entidade administradora das receitas fiscais, continua a não registar a receita cessante por

BF no SGR (exceto a DF em IVA que opera por restituição de imposto), nem dispõe de sistema de

informação contabilístico que assegure tal registo, prejudicando a relevação integral, fiável e tempestiva

daquela receita cessante no OE e na CGE. O MF reportou que a adequada articulação entre a DGO e a

AT, para assegurar a integral relevação e apropriada discriminação da DF no OE, no SGR e na CGE,

continuava a ser “matéria em análise”, sem referir os termos nem o cronograma desse estudo2.

8.1.2.5. Ineficácia do controlo da receita cessante por benefícios fiscais

O Tribunal atualizou o exame aos sistemas de informação e controlo do processo de quantificação e

relevação da DF no OE e na CGE3. As conclusões relevantes para a CGE de 2016 são as seguintes:

 Do manual de quantificação da DF elaborado pela AT e remetido ao Tribunal (mas que não foi aplicado para quantificar a DF de 2016) consta uma inventariação dos BF ainda incompleta. A

metodologia e os procedimentos relativos à quantificação e controlo da correspondente DF

também carecem de aperfeiçoamentos.

 O processo de quantificação da DF continua sem ser suportado por um sistema de informação específico e integrado (interligado com os sistemas de liquidação dos diferentes impostos)

subsistindo a insuficiência de dados sobre os BF para assegurar a quantificação integral e fiável

da respetiva DF, sobretudo em IRC, IVA e IS, cuja relevação na CGE continua subavaliada.

 Os procedimentos de controlo continuam a ser ineficazes para assegurar a regularidade, correção financeira e adequada relevação da DF no OE e na CGE. A receita cessante por BF ainda não é

contabilizada no Sistema de Gestão de Receitas nem foi implementado qualquer sistema de

informação contabilística para registar essa receita cessante na CGE.

 O Classificador dos BF permanece por atualizar.

1 O OE não comporta a justificação económica e social dos BF prevista na alínea t) do n.º 1 do art. 37.º da LEO. 2 Resposta do MF, de 12/10/2016, sobre o acolhimento da Recomendação 6 do Relatório de Auditoria n.º 19/2014-2.ª

Secção. 3Para verificar a correção das deficiências objeto de recomendações no Relatório de Auditoria n.º 24/2015-2.ª Secção,

disponível em www.tcontas.pt.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 190

Página 191

Tribunal de Contas

163

 As insuficiências e deficiências detetadas nos sistemas de informação e controlo da receita cessante por BF e os erros materiais detetados na respetiva quantificação continuam a constituir

verdadeiras limitações para a quantificação com rigor da DF relevada na CGE.

Assim, no essencial, subsistem os motivos que suscitaram as reservas do Tribunal, sendo a aplicação do

referido manual para a DF de 2017 suscetível de oportuno exame.

8.1.2.6. Deficiente controlo dos benefícios fiscais contratuais ao investimento

O Código Fiscal do Investimento (CFI)1 estabelece o regime dos BF contratuais ao investimento (BFCI)

aplicável à contratualização dos BF com empresas que promovam projetos de investimento com impacto

na competitividade da economia portuguesa e na criação de emprego. Com a contratualização de BFCI

é concedido um crédito de imposto, calculado pela aplicação de uma percentagem máxima de 25% sobre

as aplicações relevantes efetivamente realizadas no projeto, permitindo, cumulativamente, a dedução à

coleta em IRC, a isenção ou redução de IMI e de IMT e, ainda, a isenção de IS.

Cabe ao Conselho de Coordenação dos Incentivos Fiscais ao Investimento2 (doravante designado por

Conselho) “unificar e simplificar todo o procedimento associado à concessão, acompanhamento, renegociação

e resolução dos contratos envolvidos”. Cabe à AT a iniciativa do processo de quantificação da receita

cessante por utilização dos BFCI a relevar na CGE, assim como o controlo inspetivo, designadamente

da arrecadação de receita fiscal e de juros compensatórios devidos pela anulação dos BF concedidos,

em consequência da resolução dos contratos.

A receita cessante por utilização dos BFCI relevada na CGE de 2016 (€ 40,7 M) cinge-se à DF por deduções à coleta em IRC resultantes dos elementos declarados que suportaram a liquidação desse

imposto (Modelo 22 e Anexo D). Quanto às isenções em IS, a AT não recolhe informação suficiente para

a respetiva quantificação nem, consequentemente, essa DF é relevada na CGE.

Nos anteriores PCGE, o Tribunal tem reportado a continuidade de deficiências nos sistemas de

informação e controlo dos BFCI, sobretudo pela falta de um sistema integrado e centralizado, pelo

deficiente exercício das competências do Conselho e das restantes entidades envolvidas, bem como pela

insuficiência e desatualização de normas emanadas pelo Conselho, que assegurem a uniformidade,

celeridade, eficiência e eficácia dos procedimentos associados à concessão, acompanhamento,

renegociação e resolução dos contratos. Assim, foi de novo objeto de exame a informação divulgada

pela AT sobre utilização dos BFCI pelos sujeitos passivos, a informação reportada pelos promotores dos

projetos de investimento ao Conselho e às entidades gestoras (no âmbito do acompanhamento e

fiscalização dos contratos), a ligação entre os sistemas da AT e os sistemas de informação e controlo

dos BFCI e, ainda, o envolvimento do Conselho no processo de quantificação da DF.

O Conselho continua a não dispor de um sistema de informação integrado e centralizado sobre todas as

candidaturas e contratos de concessão de BFCI, apoiando-se nos sistemas de informação e controlo das

entidades gestoras dos processos que representam contratualmente o Estado (AICEP e IAPMEI).

Persiste a inexistência de ligações entre aqueles sistemas e os da AT que suportam a quantificação da

DF, assim como não se encontram instituídos procedimentos que assegurem a integralidade, integridade,

e fiabilidade da informação divulgada pela AT sobre os sujeitos passivos que utilizaram BFCI.

1 Nos termos do Decreto-Lei 162/2014, de 31/10 (revisão do regime de BF contratuais ao investimento produtivo). 2 O Conselho integra um representante do Ministério da Finanças, que preside, e representantes da AICEP, IAPMEI e AT,

nomeados por despacho dos membros do governo responsáveis pelas áreas das finanças e da economia.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 191

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

164

Desde a sua criação (2010) até ao final de 2016, o Conselho foi responsável por 203 contratos com

€ 934 M de BF contratualizados1 e ainda por 87 candidaturas ao abrigo do atual regime dos BFCI2. No final de 2016, encontravam-se “em vigor”3 99 contratos a que correspondiam 50% dos BF concedidos (€ 465 M). Desde 2010, o Conselho decidiu extinguir a relação contratual para 104 contratos (€ 469 M de BF), dos quais 34 (€ 120 M) como contratos “resolvidos” 4. A não celebração de contratos (nenhum em 2015 e um em 2016) motivou o exame do cumprimento dos procedimentos e dos prazos legais5 para

apreciar os respetivos processos de candidatura. O número de candidaturas a BFCI apresentadas desde

01/07/2014 até 31/12/2016 e o tempo médio da sua apreciação constam do quadro seguinte.

Quadro B. 76 – Apreciação dos processos de candidatura a BFCI

Candidaturas Tempo médio para apreciação dos processos (em dias úteis)

Situação

(31/12/2016)

MP

(S/N)

Entidade

Gestora N.º

Esclarecimentos

aos promotores

Consulta a Entidades

Sectoriais

Competentes

Submissão do

processo ao

Conselho (*)

Resposta da Entidade

Gestora a pedidos de

esclarecimentos do

Conselho

Pronúncia

do Conselho (**)

Total

Envio Resposta Envio Resposta

- ≤ 10 dias - ≤ 10 dias≤ 40 dias - ≤ 60 dias

Em Análise

S AICEP 26 44 10 - - 101 - 3 178

IAPMEI 1 - - - - 93 - 5 97

N AICEP 12 - - - - - - - 195

IAPMEI 31 - - - - - - - 187

Não Elegível S AICEP 1 - - - - 98 - 1 98

IAPMEI 2 - - - 147 - 2 148

Aprovada S IAPMEI 4 - - - - 149 - 2 150

Em Contrato S AICEP 5 29 30 140 12 152

Desistência N AICEP 5 - - - - - - - 136

Total / Tempo Médio Total 87 15 5 - - 51 - 2 176

(*) Desde a data da apresentação da candidatura, descontado o tempo de resposta dos promotores a pedidos de esclarecimentos das entidades sectoriais.

(**) Desde a submissão do processo ao Conselho, descontado o tempo de resposta da AICEP/IAPMEI a pedidos de esclarecimentos do Conselho.

MP – Movimento Processual

Fontes: Conselho, AICEP e IAPMEI.

Até 31/12/2016 foram formalizadas 87 candidaturas, das quais 70 (80%) encontravam-se “em análise”, 43 sem qualquer movimento processual e 26 a aguardar a decisão final do Conselho (em média, há 175

dias úteis6). O Conselho pronunciou-se sobre 12 candidaturas (14%), tendo decidido pela não

elegibilidade de 3 e aprovado as restantes 9. Registou-se, ainda, a desistência, por parte dos promotores,

de 5 candidaturas (6%) sem qualquer informação processual (em média, essas desistências ocorreram

136 dias úteis após a apresentação das respetivas candidaturas).

1 Contratos “em vigor” no final de 2016, acrescidos dos contratos “findos” e “resolvidos” desde 2010 (data da criação do

Conselho). 2 Regime dos BFCI produtivo – Capitulo II do CFI, aprovado pelo Decreto-Lei 162/2014, de 31/10. 3 Situação “em vigor” aplica-se a um contrato ativo, dentro do período e nas condições contratadas. 4 A situação “resolvido” aplica-se a um contrato que já não está ativo porque não foram cumpridas atempadamente as

obrigações fiscais e contributivas ou não foram cumpridos os objetivos e condições estabelecidos no contrato ou, ainda,

por terem sido prestadas informações falsas (nos termos do art. 10.º do CFI). 5 Nos termos do art. 5.º do CFI. 6 Apesar de não terem sido pedidos esclarecimentos aos promotores nem terem sido consultadas entidades sectoriais, só

foram submetidas pelas entidades gestoras a decisão final do Conselho, em média, 101 dias úteis após a data de

candidatura.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 192

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Tribunal de Contas

165

O prazo fixado no CFI para a submissão dos processos a decisão final do Conselho é de “40 dias úteis contados a partir da data de apresentação da candidatura”1, suspendendo-se sempre que se aguarde por

esclarecimentos (que não deverão exceder os 10 dias úteis sob pena de se considerar haver desistência

do procedimento) e ou resposta a consultas sectoriais (também de 10 dias úteis). O Conselho tem um

prazo de 60 dias úteis para se pronunciar, que será suspenso caso solicite esclarecimentos adicionais às

entidades gestoras.

Segundo as entidades gestoras dos processos, o procedimento instituído de formalizar a candidatura a

BF junto dos promotores dos projetos de investimento em conjunto com a apresentação da candidatura

a incentivos financeiros2 explica o não cumprimento dos referidos prazos. Porém, tal procedimento é

injustificado visto que aquelas entidades também afirmam que a “análise da candidatura a BF só é iniciada

após a decisão da candidatura a incentivos financeiros”, por forma a “determinar o montante máximo de benefício fiscal a conceder” 3. Assim, os requisitos e os prazos fixados pelo CFI visam garantir a celeridade

da apreciação das candidaturas a BF, bem com o propósito subjacente ao regime dos BFCI produtivo.

Quanto aos resultados dos procedimentos associados à concessão, acompanhamento, renegociação e

resolução dos contratos em 2016, evidenciam-se as seguintes movimentações:

Quadro B. 77 – Concessão, avaliação e extinção de BFIC em 2016

(em milhões de euros)

Celebrados Avaliados

Findos Resolvidos Conselho AICEP IAPMEI Total

N.º de Contratos 1 10 30 0 40 10 7

Montante de BF Limite 5,4 32,7 77,8 - 110,5 79,3 22,2

Utilizado - 20,6 49,7 - 70,4 67,0 0,0

Fonte: Conselho, AICEP e IAPMEI.

No período em apreço foi celebrado o primeiro contrato ao abrigo do regime de BFCI produtivo,

regulado pelo atual CFI, que concedeu BF no montante de € 5,4 M4. Também, foram concluídas 40 ações de acompanhamento e controlo dos contratos de BFCI para avaliação do “Grau do Cumprimento dos Objetivos Contratuais” (GCC), das quais 10 foram realizadas pelo Conselho e as restantes (30) pela

AICEP. Destas ações, 6 correspondem à avaliação final dos contratos (quando atingido o respetivo prazo

de fim dos BFCI ou a efetiva utilização do total dos BFCI contratualizados) e as restantes à avaliação

do GCC (na vigência dos mesmos).

Do exame efetuado resulta que o número reduzido de avaliações, a sua intempestividade e a inexistência

dos respetivos relatórios de avaliação5, é consequência direta da falta de normas específicas aprovadas

pelo Conselho, que regulem os procedimentos para a avaliação dos contratos, nomeadamente quanto à

iniciativa da avaliação e ao momento em que ocorre, aos meios de comprovação da informação prestada

pelos promotores e ao prazo para a aprovação do respetivo relatório pelo Conselho.

1 Nos termos do n.º 5 do art.15.º do CFI. 2 Quando nas candidaturas aos incentivos financeiros é assinalada a intenção de apresentar uma candidatura aos BF, “é

enviada uma comunicação aos promotores, referindo os termos necessários à formalização da mesma e estabelecendo

um prazo de 10 dias para o efeito”. 3 Comunicação eletrónica, IAPMEI, de 23/3/2017. 4 À data de reporte da informação examinada (24-03-2017) encontravam-se celebrados 5 contratos, 1 assinado em 30-06-

2016 e 4 assinados em janeiro de 2017. 5 Substituídos por “decisão do Conselho/parecer de audição fiscal” (anexo à ata da reunião do Conselho).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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O Conselho deliberou, ainda em 2016, a extinção da relação contratual relativa a 17 contratos, dos quais

7 correspondem a contratos “resolvidos” 1. A resolução dos contratos implica a perda total dos BF concedidos desde a data da aprovação dos mesmos e a obrigação de pagar as importâncias

correspondentes às receitas fiscais não obtidas, acrescidas de juros compensatórios2, mediante a

liquidação/correção e pagamento dos respetivos impostos3. Ora, nem o Conselho nem a AT prestaram

informação discriminada sobre aquelas liquidações e cobranças, não foram executadas ações de controlo

inspetivo da AT específicas aos BFCI e não se encontram instituídos procedimentos para garantir a

efetiva produção dos efeitos da resolução dos contratos.

Do exame realizado resultam as conclusões específicas seguintes:

 Inexistência de um sistema de informação integrado e centralizado sobre todos os contratos de concessão de BF ao investimento, que permita resolver a falta de integralidade, integridade e

fiabilidade dos sistemas de informação e controlo dos BFCI em uso nas entidades gestoras

(AICEP e IAPMEI)

 Inexistência de ligações entre os sistemas de informação e controlo dos contratos de concessão de BF ao investimento em uso nas entidades gestoras (AICEP/IAPMEI) e os sistemas utilizados

pela AT que suportam a quantificação da DF relevada na CGE, bem como a ausência de

intervenção do Conselho, da AICEP ou do IAPMEI nesse âmbito.

 Inexistência de procedimentos de controlo que permitam identificar incoerências entre a informação divulgada pela AT sobre os sujeitos passivos que utilizaram BF e a que respeita aos

contratos sujeitos a acompanhamento e fiscalização do Conselho.

 Deficiente exercício das competências do Conselho e das restantes entidades envolvidas (fixadas no CFI e nos regimes legais aplicáveis), bem como do cumprimento das respetivas disposições

em matéria de apreciação dos processos de candidatura, formalização, controlo e fiscalização de

contratos fiscais associados a projetos de investimento.

 Insuficiência e desatualização de normas emanadas pelo Conselho que permitam garantir a uniformidade, celeridade, eficiência e eficácia dos procedimentos a desenvolver por todas as

entidades envolvidas no processo de concessão, avaliação e extinção de BFCI.

 Falta de informação sobre a anulação dos BFCI em contratos resolvidos, bem como do registo da respetiva receita fiscal não arrecadada e dos juros compensatórios decorrente de BFCI

efetivamente utilizados.

1 Nos termos do art. 10.º do CFI. 2 Nos termos do n.º 1 do art. 21.º do CFI. 3 Pagamento voluntário, nos termos do n.º 2 do art. 21.º do CFI.

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Tribunal de Contas

167

8.2. Subsídios e outros apoios financeiros não reembolsáveis

Constam do quadro seguinte os apoios financeiros não reembolsáveis pagos nos três últimos anos pela

administração central (serviços integrados e SFA excluindo a CGA), a entidades não pertencentes ao

sector público administrativo, correspondentes às classificações económicas subsídios e transferências

correntes e de capital:

Quadro B. 78 – Apoios financeiros não reembolsáveis (2014-2016)

(em milhões de euros)

Sectores destinatários 2014 2015 2016 Δ 2015/2016

Valor %

Empresas públicas (excluindo as EPR) 227 69 48 -22 -31,3

Empresas privadas 1 068 999 972 -27 -2,7

Bancos e sociedades financeiras (*) 80 63 56 -7 -10,6

Companhias de seguros 44 37 35 -1 -3,9

Instituições sem fins lucrativos 704 665 607 -57 -8,6

Famílias (**) (excluindo transferências da CGA) 955 791 965 174 22,0

Total dos apoios 3 078 2 624 2 684 60 2,3

Total da despesa da Administração Central 71 372 65 754 64 272

Total dos Apoios/Total da Despesa (%) 4,3 4,0 4,2

(*) Sobretudo bonificações de juros à habitação própria. Por não considerar a despesa em ativos financeiros, não inclui:

apoios ao sector financeiro [em 2014, € 3.900 M, do empréstimo ao Fundo de Resolução (a que acrescem € 1.000 M

de outros recursos do Fundo) para a resolução do BES; em 2015, € 2.255 M para a resolução do Banif]. Por constituir

também despesa em ativos financeiros, não inclui as verbas classificadas incorretamente pelo Fundo de Contragarantia

Mútuo como transferências para bancos e sociedades financeiras (€ 76 M).

(**) Inclui empresários em nome individual.

Nota – No quadro:

- Em “empresas públicas” são consideradas apenas as não-EPR – cfr. ponto 6 sobre os fluxos com o sector público

empresarial, incluindo as EPR. Em 2014, por não consubstanciar apoio financeiro, não inclui a entrega da contribuição

sobre o sector bancário cobrada pelo Estado (€ 287 M) ao Fundo de Resolução, que passou a integrar o subsector dos

SFA em 2015. Por não considerar ativos financeiros, não inclui aumentos de capital e empréstimos a empresas públicas

- cfr. ponto 6 do PCGE do ano respetivo.

- Em “famílias”, por não consubstanciar apoios financeiros, não inclui as transferências da CGA (pensões e outros

abonos) nos montantes de € 9.214 M (em 2013), € 9.343 M (2014), € 9.522 M (2015) e € 9.524 M (2016).

Fonte: Sistema de informação e gestão orçamental (SIGO).

Em 2016, esses apoios totalizaram € 2.684 M, um aumento de € 60 M (2,3%). Destaca-se o verificado no IFAP, maioritariamente ao sector “famílias”, de € 198 M (40,9%), resultante sobretudo da alteração de critérios de contabilização no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural 2020: em 2016, em

rubricas orçamentais, contrariamente ao verificado em 2015, em que a contabilização foi efetuada, na

sua maioria, em rubricas extraorçamentais. Corrigiu-se, assim, uma irregularidade que o Tribunal

salientou no PCGE 2015 e que conduzia a distorções significativas na despesa orçamental.

Em sentido contrário, diminuíram os apoios do IEFP, em € 113 M (-20,2%), em medidas de apoio à formação profissional, “devido nomeadamente a constrangimentos na arrecadação de receita proveniente de

fundos europeus”1.

Esses apoios representaram 4,2% da despesa consolidada da administração central2 e tiveram a seguinte

distribuição por sector beneficiário:

1 Cfr. CGE 2016, volume 1, tomo 1, pág. 227. 2 Cfr. ponto 3.4.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

168

Gráfico B. 19 – Distribuição sectorial dos apoios financeiros em 2016

(em milhões de euros e %)

Fonte: Sistema de informação e gestão orçamental (SIGO).

Por classificação económica e sector institucional a distribuição foi a seguinte:

Quadro B. 79 – Apoios financeiros não reembolsáveis – por classificação económica (2016)

(em milhões euros)

Sector / Classificação Económica Subsídios Transferências

correntes

Transferências

de capital Total %

Empresas públicas (excluindo as EPR) 29 5 13 48 1,8

Empresas privadas 325 447 200 972 36,2

Bancos 54 2 0 56 2,1

Companhias de seguros - 31 5 35 1,3

Instituições sem fins lucrativos 147 357 103 607 22,6

Famílias (*) (excluindo transf. da CGA) 53 828 83 965 35,9

Total dos apoios 609 1 671 404 2 684 100,0

(%) 22,7 62,3 15,0 100,0

(*) Inclui empresários em nome individual.

Fonte: Sistema de informação e gestão orçamental (SIGO).

A maior parte foi concedida a título de transferências correntes (62,3%), seguindo-se subsídios (22,7%) e

transferências de capital (15,0%).

A atribuição destes apoios concentrou-se em quatro Ministérios, que representaram 73,1%: Agricultura,

Florestas e Desenvolvimento Rural € 702 M (25,4%); Trabalho, Solidariedade e Segurança Social € 496 M (18,0%); Ciência, Tecnologia e Ensino Superior € 413 M (15,0%); e Educação € 351 M (12,7%). Os serviços integrados executaram € 695 M (25,9%) e os SFA € 1.989 M (74,1%), identificando-se no quadro seguinte as principais entidades pagadoras.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 196

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Tribunal de Contas

169

Quadro B. 80 – Apoios financeiros não reembolsáveis – por entidade pagadora

(em milhões euros)

Serviços Integrados Serviços e Fundos Autónomos Total

Empresas públicas 35 Empresas públicas 12 48

DGTF – Comunicação social (Lusa) 16 IFAP 8

DGTF – Transportes rodoviários (STCP e Carris) 7 Instituto de Turismo de Portugal 2

DGTF – Espetáculos culturais (TNDM II) 4 Fundo de Fomento Cultural 1

DGTF – Transportes aéreos (SATA e TAP) 2 Outros 1

Outros 8

Empresas privadas 305 Empresas privadas 667 972

Min. Educação – Ensino privado, cooperativo e profissional 260 IEFP 248

DGTF – Transportes rodoviários 23 IFAP 245

DGTF – Transportes ferroviários 9 IAPMEI 64

DGTF – Transportes aéreos 3 Fundo Português de Carbono 60

Outros 10 Instituto do Cinema e do Audiovisual 19

Instituto de Turismo 8

Fundo para a Sustentabilidade Sistémica do Sector Energético 5

Outros 18

Bancos e sociedades financeiras 53 Bancos e sociedades financeiras 3 56

DGTF – Bonificação de juros à habitação 48 IEFP 3

DGTF – Crédito de ajuda (Cooperação económica externa) 4

DGTF – Outros 1

Companhias de seguros e fundos de pensões - Companhias de seguros e fundos de pensões 35 35

Fundo de Acidentes de Trabalho 30

Outros 5

Instituições sem fins lucrativos 65 Instituições sem fins lucrativos 543 607

Ministério da Educação (IPSS, Cercis, Estabelecimentos escolares) 24 IEFP 116

Ministério da Cultura (Instituições s/ fins lucrativos) 11 Autoridade Nacional de Proteção Civil 84

Ministério da Saúde 7 Fundação para a Ciência e Tecnologia 77

Ministério da Defesa Nacional 6 Instituto Português do Desporto e Juventude 49

Outros 17 IFAP 48

Instituto Nacional de Emergência Médica 33

Instituto de Turismo de Portugal 27

Assembleia da República 17

Fundo de Fomento Cultural 15

IAPMEI 9

ACSS 9

Fundo Florestal Permanente 8

Instituto Camões 8

Outros 43

Famílias 236 Famílias 728 965

Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior 131 IFAP 379

Ministério da Educação (ensino não superior) 12 Fundação para a Ciência e a Tecnologia 102

DGTF – Subsídio de mobilidade 47 IEFP 78

Ministério das Finanças – Arrendamento urbano 12 Universidades e Serviços de Apoio Social (SAS) 77

Ministério das Finanças – Gestão Administrativa e Financeira 21 SCM de Lisboa 25

Outros 13 Fundos de Acidentes de Trabalho e Garantia Automóvel 23

Centros de Formação Profissional 14

Outros 29

Subtotal 695 Subtotal 1 989 2 684

Nos serviços integrados destacam-se os apoios atribuídos pelo Ministério da Educação a empresas do

ensino privado, cooperativo e profissional (€ 260 M) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior a famílias (€ 131 M). E, no subsector dos SFA, o IFAP (€ 680 M), o IEFP (€ 446 M), a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (€ 180 M), as Universidades e respetivos SAS (€ 97 M), a Autoridade Nacional de Proteção Civil (€ 84 M), o IAPMEI (€ 74 M), o Fundo Português de Carbono

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

170

(€ 60 M), o Instituto Português do Desporto e Juventude (€ 49 M) que, em conjunto, concederam 84,0% dos apoios pagos por esse subsector.

O gráfico seguinte evidencia as áreas destinatárias de apoios financeiros, em 2016:

Gráfico B. 20 – Distribuição dos apoios financeiros por áreas – 2016

(em milhões de euros e %)

Fonte: Sistema de informação e gestão orçamental (SIGO).

A principal área beneficiária foi a da “educação e investigação” com € 710 M (26,4%), menos € 65 M do que no ano anterior; destacam-se os apoios no ensino não superior (€ 296 M), investigação (€ 238M, dos quais € 180 M da FCT e € 48 M de estabelecimentos de ensino superior) e outros apoios no ensino superior (€ 175 M). A área da “agricultura e pescas” beneficiou de € 696 M (25,9%), um aumento de € 188 M face ao ano anterior, induzido pela referida alteração dos critérios de contabilização do IFAP. Seguiu-se o “emprego e formação profissional” com € 459 M (16,6%), uma redução de € 113 M, verificada no IEFP.

*

A listagem das subvenções e benefícios públicos atribuídos em 2016 por entidades públicas foi

publicada no sítio na Internet da IGF (art. 4.º da Lei 64/20131, de 27/8), totalizando € 4.303 M2,

1 Regula a obrigatoriedade de publicitação dos benefícios concedidos pela Administração Pública a particulares, através

de listagem, anual, com indicação da entidade concedente, identificação do beneficiário, do montante transferido ou do

benefício auferido, da data da decisão, da sua finalidade e do fundamento legal. 2 Inclui o Instituto da Segurança Social (€ 1.426 M) e a administração regional e local. Relativamente às entidades da

administração central, os montantes não são comparáveis com os reportados no SIGO e que constam deste ponto, uma

vez que: i) por um lado, incluem outras subvenções e benefícios (dilação de dívidas de impostos e de contribuições à

Segurança Social; isenções e outros benefícios fiscais e parafiscais; cedências de bens do património público; apoios em

espécie; atos de doação de um bem patrimonial; e garantias pessoais concedidas, e.g. avales, fianças, cartas de conforto)

e, ii) por outro, a obrigatoriedade de publicitação não inclui, designadamente: subvenções de carácter social (como bolsas

de estudo) e subsídios, subvenções, ajudas, incentivos ou donativos cuja decisão de atribuição se restrinja à mera

verificação objetiva dos pressupostos legais.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 198

Página 199

Tribunal de Contas

171

CAIXA 5 – APOIOS PÚBLICOS AO SECTOR FINANCEIRO

O esforço financeiro resultante das intervenções públicas, destinadas a apoiar o sistema financeiro nacional

no seguimento da crise financeira internacional, iniciada em 2007, constituiu um encargo elevado para o

erário público num contexto de finanças públicas deficitárias. O peso dos encargos diretos variou de ano para

ano entre um mínimo de 0,1% das necessidades de financiamento da CGE em 2011 e um máximo de 6,3%

em 2012, como se mostra no gráfico 1. Em 2016, o peso foi de 0,4%. Além disso, as necessidades adicionais

de financiamento têm implícitos custos com juros da dívida pública que se estimam1 em € 1.823 M, no

período 2008-2016.

Gráfico B. 21 – Valor dos apoios em % das necessidades de financiamento da CGE 2008-2016

(em

mil

hões

de

euro

s)

O âmbito da presente análise2 é o dos fluxos entre as entidades públicas que concederam apoios (a DGTF, o

Fundo de Garantia de Depósitos, o do Sistema de Indemnização aos Investidores e o Fundo de Resolução)

e os bancos beneficiários, neles se incluindo as sociedades veículo resultantes do desmembramento do BPN

e da resolução do Banif.

A generalidade dos valores aqui utilizados, constam deste e de anteriores Pareceres do Tribunal e apontam

para que, em termos brutos no período 2008-2016, as despesas públicas com o sector financeiro tenham

atingido € 20.836,1 M (11% do PIB de 2016), e gerado receitas no montante de € 6.229,7 M (3% do PIB de 2016). Nesse período os fluxos líquidos para o sector financeiro atingiram € -14.606,4 M (8% do PIB de 2016).

Quadro B. 81 – Fluxos com o Sector Financeiro Nacional - 2008-2016 (por tipo e entidade beneficiária)

(em milhões de euros)

Instrumentos CGD BCP BES/NB BPI BPN (a) BPP Banif (b) Outros (c) Total

Receitas de capital (1) 0,0 2 300,0 0,0 1 500,0 40,0 0,0 275,0 0,0 4 122,5

Empréstimos 7,5 7,5

CoCos 2 300,0 1 500,0 275,0 4 075,0

Ações 40,0 40,0

Despesas de capital (2) 3 600,0 3 000,0 4 900,0 1 500,0 3 718,9 451,0 3 355,1 0,0 20 524,9

Empréstimos 2 882,0 489,0 3 371,0

CoCos 900,0 3 000,0 1 500,0 400,0 5 800,0

Ações 2 700,0 4 900,0 690,0 2 466,1 10 756,1

Garantias 146,9 451,0 597,9

Saldo de capital (3)=(1)-(2) -3 600,0 - 700,0 -4 900,0 0,0 -3 671,4 - 451,0 - 3 080,1 0,0 -16 402,4

(…)

1 Foi utilizada a taxa de juro implícita da dívida pública, calculada pelo IGCP. 2 Os valores aqui indicados para o BPN diferem dos apresentados na Caixa xxx, que, ao considerar as sociedades veículo

do BPN como integrantes do Estado, consolida os fluxos entre elas e a DGTF e apresenta os fluxos entre a CGD e aquelas

sociedades.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 199

Página 200

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

172

(…)

(em milhões de euros)

Instrumentos CGD BCP BES/NB BPI BPN (a) BPP Banif (b) Outros (c) Total

Receitas correntes (4) 564,8 911,4 285,3 167,5 57,2 14,2 102,0 4,8 2 107,2

CoCos 314,9 693,7 167,5 52,00 1 228,0

Ações 69,8 11,4 81,1

Garantias 180,2 206,3 285,3 57,2 14,2 50,0 4,8 798,1

Despesas correntes (5) 0,0 0,0 0,0 0,0 88,1 223,1 0,0 0,0 311,2

Ações 88,1 88,1

Garantias 223,1 223,1

Saldo corrente (6)=(4)-(5) 564,8 911,4 285,3 167,5 -30,9 - 208,9 102,0 4,8 1 796,0

Total das receitas (7)=(1)+(4)

564,8 3 211,4 285,3 1 667,5 104,7 14,2 377,0 4,8 6 229,7

Total das despesas (8)=(2)+(5)

3 600,0 3 000,0 4 900,0 1 500,0 3 807,0 674,1 3 355,1 0,0 20 836,1

Saldo Global (9)=((7)-(8) -3 035,2 211,4 -4 614,7 167,5 -3 702,3 -659,9 -2 978,0 4,8 -14 606,4

Garantias: responsabilidades efetivas em 31/12/2016

1 800,0 2 714,4 656,0 5 170,4

(a) Inclui as sociedades veículo PARPARTICIPADAS, PARUPS e PARVALOREM.

(b) Banif, Banif Banco de Investimento e Oitante.

(c) Banco Invest, Banco Mais e Finantia.

Fonte: DGTF, FGD, SII, CGE e PCGE.

As principais intervenções ocorridas no período 2008-2015 foram sumariadas em anteriores Pareceres. Em

2016 (Quadro B. 82 ) os novos apoios públicos ao sistema financeiro consistiram em empréstimos às

sociedades veículo do BPN, no valor líquido de € 434 M. O saldo das receitas e despesas associadas às medidas de consolidação do sistema financeiro, em 2016, é de € -257,7 M.

Quadro B. 82 – Fluxos com o Sector Financeiro Nacional – 2016 (por tipo e entidade beneficiária)

(em milhões de euros)

Instrumentos CGD BCP BES/NB BPI BPN (a) BPP Banif (b) Outros (c) Total

Receitas de capital (1) 0,0 50,0 0,0 0,0 7,5 0,0 0,0 0,0 57,5

Empréstimos 7,5 7,5

CoCos 0,0 50,0 50,0

Despesas de capital (2) 0,0 0,0 0,0 0,0 441,5 0,0 0,0 0,0 441,5

Empréstimos 441,5 441,5

Ações 0,0 0,0

Saldo de capital (3)=(1)-(2) 0,0 50,0 0,0 0,0 - 434,1 0,0 0,0 0,0 -384,1

Receitas correntes (4) 41,8 71,4 34,7 0,0 6,3 0,0 0,0 0,0 154,2

CoCos 41,8 71,4 113,2

Garantias 34,7 6,3 41,0

Despesas correntes (5) 0,0 0,0 0,0 0,0 27,5 2,2 0,0 0,0 27,8

Ações 27,5 25,6

Garantias 2,2 2,2

Saldo corrente (6)= (4)-(5) 41,8 71,4 34,7 0,0 -21,2 2,2 0,0 0,0 126,4

Total das receitas (7)=(1)+(4) 41,8 121,4 34,7 0,0 13,8 0,0 0,0 0,0 211,7

Total das despesas (8)=(2)+(5) 0,0 0,0 0,0 0,0 469,1 2,2 0,0 0,0 469,4

Saldo Global (9)=((7)-(8) 41,8 121,4 34,7 0,0 -455,2 -2,2 0,0 0,0 -257,5

Garantias: responsabilidades efetivas em 31/12/2016

1 800,0 2 714,4 656,0 5 170,4

(a) Inclui as sociedades veículo PARPARTICIPADAS, PARUPS e PARVALOREM.

(b) Banif, Banif Banco de Investimento e Oitante.

(c) Banco Invest, Banco Mais e Finantia.

Fonte: DGTF, FGD, SII, CGE e PCGE.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 200

Página 201

Tribunal de Contas

173

No período 2008-2016, a aquisição de participações de capital e de obrigações, a concessão de empréstimos

e a prestação de garantias originaram receitas e despesas de capital, respetivamente € 4.122,5 M e € 20.524,9 M, e estão associadas à constituição de património financeiro (valor nominal: € 15.847,5 M em 31/12/2016) e de dívida garantida (responsabilidades efetivas: € 5.170,4 M em 31/12/2016). O património financeiro gerou receitas e despesas correntes no valor de € 2.107,3 M e € 311,2 M, respetivamente, valores que, no caso das garantias concedidas, ascenderam a € 798,1 M e € 223,1 M. Os diversos tipos de apoio originaram encargos líquidos e patrimónios de valor nominal muito diferenciado como se apresenta no

Quadro B. 83 . As expectativas de recuperação dos montantes aplicados na aquisição destes ativos são,

também, bastante distintas.

Quadro B. 83 – Apoios Públicos ao Sistema Financeiro 2008-2016 (por tipo de apoio)

(em milhões de euros)

Tipos de apoios Saldo global 2008-2016 Ativos em 31/12/2016

Empréstimos -3 363,5 3 363,5

CoCos -497,0 1 600,0

Ações -10 723,0 10 286,1

Garantias -22,9 597,9

Total -14 606,4 15 847,5

No período em análise, as responsabilidades efetivas decorrentes de garantias pessoais do Estado, de que são

beneficiárias as instituições do sistema financeiro, cresceram até 2012, atingindo um valor máximo de

€ 20.625 M, como se apresenta no gráfico seguinte. Em 2016, registou-se uma significativa redução pelo que, no final desse ano, o valor das responsabilidades efetivas por garantias prestadas era de cerca de um

quarto daquele máximo, beneficiando deste tipo de apoio o NB e as sociedades veículo do BPN e do Banif.

Gráfico B. 22 – Garantias Pessoais do Estado ao Sistema Financeiro 2008-2016 – Responsabilidades efetivas

(em milhões de euros)

O Ministro das Finanças, ouvido em sede de contraditório, não se pronunciou.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 201

Página 202

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

174

9. PATRIMÓNIO DO ESTADO

9.1. Património Financeiro

No presente ponto procede-se à análise e apuramento, em valor nominal1, do património financeiro dos

subsectores dos SI e dos SFA, constituído por: créditos (empréstimos, execução de garantias e outros),

participações em capital social e estatutário (em EPE) e ainda outros ativos financeiros (participações

em organizações internacionais, unidades de participação, prestações acessórias de capital, obrigações

e títulos de dívida pública). A carteira destes ativos não consta da CGE e o apuramento aqui apresentado

resulta da informação prestada ao Tribunal pelas diversas entidades, em cumprimento das Instruções

1/2008-2.ª Secção, bem como de informação adicional solicitada. No caso dos SI, foi ainda realizada

uma ação externa junto da DGTF, principal gestora da carteira dos ativos do Estado.

No que respeita aos fluxos financeiros da receita e da despesa associados, a informação recebida foi

confrontada com a dos mapas relevantes da CGE sendo também analisadas as variações sem fluxo

financeiro, mas que alteraram o valor dos ativos. Por fim, apura-se o património financeiro consolidado.

A comparabilidade com a informação constante do anterior PCGE encontra-se fortemente condicionada

por vários fatores, designadamente a entrada de novas entidades e por alterações/ajustamentos realizados

aos valores do ano anterior, quer pelos próprios serviços, quer internamente pelos Serviços do Tribunal.

9.1.1. Património financeiro dos serviços integrados

9.1.1.1. Carteira de ativos financeiros dos SI

Em 2016 foram onze os SI que indicaram ao Tribunal deter ativos financeiros. Exceto a DGTF, os

restantes2 detêm sobretudo pequenas carteiras de títulos de dívida pública, com predominância dos

certificados de renda perpétua.

O valor nominal do património financeiro não consolidado dos SI em 31/12/2016 era de € 71.705,3 M, sendo 55% créditos sobre entidades dos subsectores dos SI e dos SFA (incluindo as EPR), tal como

evidenciado no quadro seguinte.

1 No caso das unidades de participação em fundos de investimento foram utilizados valores de cotação. Contudo, no caso

dos Fundos de Capital de Risco e nos Fundos de Reestruturação e de Internacionalização Empresarial, como aquela

informação não é disponibilizada pela Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, utilizou-se os valores indicados

pelos organismos, que em regra respeitam ao valor de aquisição/custo. No caso das ações que não têm valor nominal foi

utilizado o valor de cotação. Nos certificados de renda perpétua, e por a grande maioria desconhecer o valor nominal, foi

utilizado o valor indicado pelo IGCP. 2 A Direção-Geral da Agricultura e Desenvolvimento Regional detém uma participação no Centro Operativo de Tecnologia

de Regadio. As restantes, Academia de Ciências de Lisboa (ACL), Direção-Geral da Educação (DGE), Direção-Geral

dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE), Marinha, Direção-Geral da Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP),

Academia Portuguesa da História (APH), Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), Academia

Nacional de Belas-Artes (ANBA) e Escola Secundária Marquês de Pombal (ESMP) possuem títulos de dívida pública.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 202

Página 203

Tribunal de Contas

175

Quadro B. 84 – Carteira de ativos financeiros dos SI

(em milhões de euros)

Ativos financeiros Valor nominal Variação

31/12/2015 31/12/2016 Total %

Créditos

por empréstimos (a) 23 538,7 (b) 23 174,4 -364,3 -1,5

dos quais concedidos a SFA e EPR 22 430,4 22 230,7 -199,7 -0,9

por execução de garantias (a) 956,3 1 035,0 78,7 8,2

das quais concedidos a SFA e EPR 395,7 311,9 -83,8 -21,2

de entidades extintas e outros (a) 262,7 251,0 -11,7 -4,4

das quais SFA e EPR 4,1 4,1 0,0 -0,4

Participações (c)

Societárias 14 783,3 15 925,6 1 142,3 7,7

das quais em SFA ou EPR 6 978,0 8 406,1 1 428,2 20,5

EPE (a) 7 364,6 7 958,1 593,5 8,1

das quais em SFA ou EPR 7 338,6 7 929,1 590,5 8,1

Outros ativos financeiros

Organizações financeiras internacionais 20 777,2 20 871,3 94,2 0,5

Unidades de participação (d) 826,9 820,7 -6,1 -0,7

das quais em SFA ou EPR 494,0 494,0 0,0 0,0

Prestações acessórias de capital (a) 64,8 64,8 0,0 0,0

das quais em SFA ou EPR 29,2 29,2 0,0 0,0

Obrigações (e) 1 653,6 1 604,4 -49,3 -3,0

das quais títulos da dívida pública 0,7 0,7 0,0 2,8

das quais de SFA ou EPR 0,0 0,0 0,0 -

Total não consolidado 70 227,1 71 705,3 1 477,4 2,1

(a) Os valores apresentados no PCGE 2015 foram ajustados, nomeadamente quanto a capitais registados.

(b) Inclui € 340,4 M que, nos termos dos Acordos de Reescalonamento da dívida das Repúblicas de Moçambique e de S. Tomé, serão

objeto de perdão nas respetivas datas de vencimento caso se preencham as condições previstas nos referidos acordos

(c) Só foram consideradas as alterações de capital social ou estatutário cujo registo obrigatório ocorreu até 31/12/2016.

(d) Inclui títulos de participação do IHRU, Fundo de Investimento Imobiliário Fechado Margueira Capital (em liquidação) e capital do Fundo

de Salvaguarda do Património Cultural realizado pela DGTF.

(e) inclui obrigações subscritas pelo Estado no âmbito do processo de recapitalização da banca com fundos públicos e títulos da dívida

pública. O saldo inicial já não inclui o valor de € 125 M relativo ao Banif, por lapso, não abatido no PCGE 2015.

Fonte: DGTF, DGADR ACL, DGEstE, DGE, Marinha, DGRSP, APH, DRAPN, ANBA e ESMP.

A variação positiva da carteira (+€ 1.477,4 M) deveu-se, sobretudo, ao crescimento das participações do Estado (7,3%), obtido com aumentos dos capitais social e estatutário (€ 862 M1) e com a aquisição pelo Estado à Parpública de ações da Parcaixa, SA, no valor de € 490 M2. Mas foram também relevantes as variações negativas, como o registo da extinção de entidades e da redução de capital (€ 10 M3) e, em matéria de empréstimos, as amortizações (€ 906,8 M) e os montantes do serviço da dívida convertidos em capital (€ 661,4 M), que justificam a variação anual negativa deste tipo de ativos, apesar do elevado valor dos novos empréstimos, em especial dos concedidos a várias EPR (€ 1.112,6 M4).

A CGE evidencia (mapas 4 a 8) as situações que, sem darem origem a fluxos financeiros, influenciam

negativamente o valor do património financeiro. Assim, no mapa 4 indicam-se os créditos satisfeitos

1 Continua a verificar-se a falta de registo dalguns destes atos. 2 Destina-se ao aumento de capitais da CGD. Não houve, contudo, qualquer despesa no ano de 2016 por os pagamentos

estarem previstos no contrato para 2017. 3 SetúbalPolis e FCR-Fundo de Recuperação, respetivamente. 4 Não foram utilizados todos os montantes contratados. A despesa orçamental com empréstimos, na CGE, ascende a

€ 1.106,8 M, cfr. ponto 9.1.1.2., Quadro B. 86.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 203

Página 204

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

176

por dação em pagamento1 ou por compensação2 (€ 2,7 M); no mapa 5 os créditos objeto de consolidação, alienação, conversão em capital3 ou qualquer outra forma de consolidação (€ 663,4 M); no mapa 6 os créditos extintos por confusão (€ 0 M); no mapa 7 os créditos extintos por prescrição (€ 2,2 M)4; e no mapa 8 os créditos anulados por força de decisão judicial ou por perdão5 (€ 31,6 M).

Para além das que constam dos referidos mapas, ocorreram ainda outras variações da carteira sem fluxos

financeiros, quer positivas quer negativas. As variações cambiais fizeram aumentar o valor dos ativos

em moeda não-euro à data de 31/12/2016, quer as posições detidas pelo Estado junto das entidades

financeiras internacionais quer de empréstimos, participações sociais ou créditos por garantias

executadas. Houve ainda ativos abandonados a favor do Estado, outros adquiridos por herança ou por

transferência.

Na carteira do Estado, como já mencionado em Pareceres anteriores, continuam a existir ativos que

apenas empolam o seu valor e carecem de urgente solução: para além das entidades em liquidação, os

créditos com registo duplicado e os prescritos ou já impossíveis de recuperar6, além de situações

vencidas e que permanecem sem qualquer movimento há vários anos. Há também muitos créditos de

valores diminutos, cujo custo de gestão e recuperação deverá superar os valores a recuperar. Pese

embora o que foi afirmado pela DGTF no contraditório, “que tal situação resulta do facto dos ativos

financeiros serem reportados (…) pelo seu valor nominal” podem os serviços, desde já, analisar e decidir

sobre o destino e valor daqueles créditos.

Existem créditos do Estado antigos, diretamente geridos pela CGD e pelo IHRU que, incorretamente, a

DGTF nunca reportou nos mapas dos Modelos das Instruções n.º 1/2008-2.ª Secção, apesar de auferir

anualmente as respetivas receitas, incluídas na CGE e devidamente classificadas como ativos

financeiros7. Em 2016, ao contrário de anos anteriores, a DGTF optou por não incluir os ativos

respeitantes aos empréstimos EQ-QREN e ao Crédito Par, apesar de todos eles pertencerem ao

património financeiro do Estado e ela mesma registar os respetivos fluxos financeiros (despesas e

receitas). Em contraditório a DGTF alega que são as próprias Instruções n.º 1/2008-2.ª Secção que

excluem a inclusão destes créditos. Ora, tratando-se de créditos cujas receitas e despesas a eles

associadas são movimentadas pela DGTF, não se vislumbra qualquer limitação imposta pelas referidas

Instruções.

Créditos por empréstimos

O montante global do capital vincendo e vencido em 31/12/2016 é de € 23.174,4 M, salientando-se os valores relativos à Infraestruturas de Portugal, ao Fundo de Resolução, à CP, à Metro do Porto, à RAM

e à Metropolitano de Lisboa que representam 63% do total.

1 Dação em pagamento da ParqueExpo, dum terreno no valor de € 2,5 M. 2 O Estado, enquanto acionista da GaiaPolis, assumiu a dívida desta sociedade à ParqueExpo, no montante de € 0,2 M

tendo, por compensação, deduzido este montante à dívida da ParqueExpo ao Estado por execução de garantias. 3 Nestes casos o património financeiro não diminui, há apenas uma substituição de um tipo de ativo por outro. 4 Como foi o caso do crédito prescrito sobre a Fábrica de Tecidos Moreirense no valor de € 1,4 M. 5 Às Repúblicas de Moçambique (USD 29 M) e de São Tomé e Príncipe (USD 1,5 M). 6 A solução poderá passar pela extinção, por confusão, entre outros, dos créditos sobre o Comissariado dos Desalojados,

desde logo porque já não existe quem responda por este crédito, e porque os reembolsos imputados pela DGTF são uma

mera duplicação das recuperações obtidas no âmbito dos créditos CIFRE, ou pela anulação ou prescrição de muitas

situações reportadas, nomeadamente as obrigações ultramarinas. 7 A DGTF no reporte de ativos deve dar integral cumprimento às Instruções, incluindo todos os ativos do Estado nos

pertinentes mapas.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 204

Página 205

Tribunal de Contas

177

Em 2016 foram 8 as entidades, quase em exclusivo EPR’s, com quem a DGTF celebrou novos contratos, conforme ilustrado no quadro seguinte.

Quadro B. 85 – Empréstimos contratados em 2016 pela DGTF

(em milhões de euros)

Entidades EPR Montante

Sim Não Contratual Utilizado Por utilizar

Companhia Carris de Ferro de Lisboa, SA X 9,5 9,5 0,0

Metro do Porto, SA (4 empréstimos) X 557,5 557,5 0,0

MM - Gestão Partilhada, EPE X 4,0 3,0 1,0

Parvalorem, SA (2 empréstimos) X 333,8 333,7 0,1

Parups, SA X 91,6 91,6 0,0

Parparticipadas, SGPS, SA X 27,8 16,3 11,4

Parque Escolar, EPE X 85,1 85,1 0,0

Transtejo – Transportes Tejo, SA X 16,9 4,3 12,6

Total 1 126,2 1 101,0 25,1

Fonte: DGTF.

Dos novos empréstimos, destacam-se, pelos montantes, os concedidos à Metro do Porto, SA, de

€ 557,5 M, e à Parvalorem, SA, de € 333,8 M, que representam 79,1% do total.

Nota-se que em algumas entidades se verifica a coincidência de empréstimos novos, ou de parte deles,

de médio e longo prazo com amortização de empréstimos antigos, como é o caso da Metro do Porto, em

que foi amortizado € 435,4 M e pagos € 40,1 M de juros (mas em 31/12/2016 o capital vincendo era € 2.106,9 M), e com a Parque Escolar, em que foi amortizado € 22,5 M e pagos € 1,5 M de juros1.

Nota-se, ainda, que os empréstimos de curto prazo concedidos foram também amortizados no ano, quer

o da MM (€ 3 M e juros de € 979,17), quer o da Parque Escolar.

Quanto aos empréstimos celebrados em anos anteriores, realça-se o seguinte:

 O pagamento de € 6 M do empréstimo à Parque Expo (de 2014 e com vencimento para 2016) e a dação de um imóvel no valor de € 2,5 M, reduziu o capital vincendo para € 113,6 M (31/12/2016).

 Foi registado em 2016 um crédito de € 2 M sobre o município de Albufeira, existente desde 2015, tendo sido amortizado € 0,5 M.

 A amortização total dos empréstimos dos municípios: Alfândega da Fé, Alijó, Almeirim, Lagoa, Leiria, Grândola, Montemor-o-Velho, Vieira do Minho e Vila Nova de Poiares, no valor

contratual global de € 27,6 M.

 A conversão em capital social do serviço da dívida (que inclui capital e juros) da Carris, da Edia, da STCP e da Transtejo levou à diminuição do respetivo endividamento de € 458,1 M para € 429,4 M da Carris, de € 189,2 M para € 157,7 M da Edia, de € 313,4 M para € 263,2 M da STCP, e de € 138,3 M para € 101,7 M da Transtejo.

1 Este valor não inclui a amortização do empréstimo de curto prazo, que foi de € 62,6 M, mais juros de € 0,9 M.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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 A conversão em capital estatutário do serviço da dívida da CP (€ 479 M1) levou à redução do respetivo endividamento para € 1.902,6 M.

 A autorização da conversão da dívida de € 0,9 M (capital e juros) da OPART em capital estatutário, levou a DGTF a considerar o empréstimo como extinto, mas como não foi

formalizada a deliberação de aumento de capital estatutário2, apesar de existir aprovação da tutela

financeira, manteve-se este valor na carteira.

 A moratória do serviço da dívida3, sem custos adicionais, até 30/11/2017, concedida à Infraestruturas de Portugal e à Metropolitano de Lisboa implicou que, de novo, a DGTF não

registasse os vencimentos de capital e juros dos respetivos empréstimos contratualmente

previstos, não sofrendo a dívida destas empresas qualquer alteração.

 Quanto a créditos mais antigos, destacam-se os pagamentos de € 29,4 M pela República Popular de Angola, de € 1,3 M relativos ao antigo GAS-Gabinete da Área de Sines e de € 1,7 M pelo município de Chaves.

 As situações indicadas no PCGE 20154 como não tendo sofrido qualquer evolução nesse ano, ou seja, o registo do Terminal Fluvial do Cais do Sodré5 no património do Estado, o empréstimo de

€ 150 M à RTP, os empréstimos à Viana Polis e os contratos celebrados com os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, assim permaneceram em 2016.

 O incumprimento de algumas entidades, nomeadamente do município de Reguengos de Monsaraz e do IHRU6.

Créditos por execução de garantias

Em 31/12/2016, o valor por recuperar em resultado de créditos por execuções de garantias era de

€ 1.035 M, mais € 78,7 M que em 20157.

Créditos de entidades extintas e outros transmitidos a qualquer título

Os créditos geridos pela DGTF que lhe foram transmitidos na sequência da extinção de entidades

públicas voltaram a diminuir em 2016 e apresentavam o valor nominal global de € 251 M8.

1 Autorizado pelos Despachos do SEATF e do SEI de 13/07/2016 e de 30/11/2016. 2 E a DGTF também não considerou o aumento de capital estatutário. 3 Pelo Despacho do SEATF, de 29/12/2016. 4 Ver ponto 9.1.1.1 do PCGE 2015. 5 Em auditoria verificou-se que ainda não tinha sido feito o registo a favor do Estado deste imóvel, dado em pagamento de

um empréstimo, não estando assim devidamente acautelada a posição do Estado. 6 Não pagou o serviço da dívida vencido em 30/11/2016. 7 Corrigindo-se o valor apurado no PCGE 2015 que foi de € 952 M para € 957,5 M pela introdução de novos créditos

(€ 6 M), nomeadamente sobre Cuba (€ 4 M). 8 O valor no final de 2015 foi corrigido para € 262,7 M tendo em conta créditos que deveriam ter sido considerados nesse

ano e não o foram.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 206

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Tribunal de Contas

179

Dos montantes recebidos pelo Estado, realçam-se os pagamentos feitos pela Silopor, SA1, de € 4 M, e pelo Bichorro-Empreendimentos Turísticos e Imobiliários, SA, no valor de € 1,8 M, este inserido no conjunto dos créditos relativos ao processo de reprivatização do BPN. Relativamente aos valores do

ex-BPN, constata-se que parte deles correspondem a créditos por execução de garantias2 e outros são

obrigações perpétuas emitidas pelo BPN.

Participações societárias

O valor nominal global apurado das participações societárias do Estado em 31/12/2016, era de

€ 15.925,6 M, mais € 1.142,3 M do que no final do ano anterior.

Em 2016 continuou o processo de capitalização das empresas detidas pelo Estado com o aumento do

respetivo capital social, através de dotações de capital ou da conversão de créditos do Estado em capital,

num total de € 1.233 M autorizados (despesa de € 1.051,6 M e € 181,4 M em conversão de créditos). Foram, também, pagas despesas relativas a capital subscrito em anos anteriores, mas ainda não realizado

sendo € 290 M relativos à Parpública e € 0,1 M à Portugal Venture Capital Initiative, SA.

Para além das novas participações, no valor de € 490 M3, consideraram-se os seguintes aumentos de capital social registados, no valor de € 503,7 M: um da Infraestruturas de Portugal de € 400 M; três da Carris, no total de € 39,6 M; três da EDIA, somando € 33,8 M e um da STCP de € 30,3 M. Por outro lado, em 2016 foram efetuados os registos de aumentos de capital autorizados em anos anteriores no

valor de € 152,4 M. Estão ainda por registar aumentos de capital no valor de € 2.566,4 M4, quer de operações autorizadas em 2016 quer em anos anteriores, e destas últimas, destaca-se o Banif, no valor

global de € 1.895,9 M5.

Das participações em empresas em processo de liquidação (no valor total de € 364,1 M) nota-se que em 2016 se verificou o registo do encerramento da liquidação da SetúbalPolis, Sociedade para o

Desenvolvimento do Programa Polis em Setúbal, SA, que correspondeu a uma diminuição de € 3,8 M. Ocorreu ainda a venda por € 128.557,28 das posições do Estado nas sociedades AstraZeneca PLC e Prado - Cartolinas da Lousã, SA, com o valor nominal de € 66.247,40 e € 16,00, respetivamente6.

No que respeita às receitas das participações societárias, o Estado obteve dividendos no valor de

€ 3,9 M7, não incluindo os recebidos do Banco de Portugal (€ 147,2 M).

1 Crédito este que a DGTF reclama há já vários anos e que, começou a ser amortizado em 2016, afastando qualquer dúvida

sobre a sua autenticidade, pois não tinha ocorrido ainda o reconhecimento expresso da dívida por parte da devedora 2 Os quais, tendo em conta o critério da origem dos créditos, pois respeitam a “pagamentos efetuados por força da execução

de garantias prestadas”, deveriam assim constar antes do mapa Modelo 4 das Instruções n.º 1/2008 -2.ª Secção. Aceitam-se as razões invocadas em contraditório pela DGTF, apesar de se considerar que o mesmo modelo não respeita

“exclusivamente às garantias prestadas pelo Estado”, conforme referido por aquela entidade. 3 Este valor respeita quase exclusivamente à Parcaixa, mas inclui ainda o valor dos bens abandonados a favor do Estado

(€ 136,45), adquiridos por herança (€ 10.914,0) e da transferência de ativos (€ 4.500), num total de € 15.550,45. 4 Relativas ao Banif, à Carris, à Edia, à IP, ao STCP e à RTP (este último, no valor de € 6,7 M, foi pago no período

complementar, por saldos do Capítulo 60, pelo que não podia ter sido registado em 2016). 5 A informação obtida foi de que enquanto a empresa não tiver as contas aprovadas não poderá efetuar os registos de

aumento de capital social. Este valor inclui a conversão em capital de € 125 M de CoCo’s. 6 Tratou-se de alienações potestativas, reguladas no art. 490.º do CSC e no art. 196.º do CVM. 7 Destes, destacam-se os que foram pagos pela APDL-Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo,

SA e pela APSS-Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, SA de, respetivamente, € 1,9 M e € 1,4 M.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Participações em entidades públicas empresariais

No ano em análise, várias EPE voltaram a aumentar o capital estatutário para fazer face às necessidades

de financiamento “e investimento”, conforme esclarecido em contraditório pela DGTF. Estes aumentos ocorreram através de despesa do Estado ou da conversão do capital e juros vencidos de empréstimos

anteriormente celebrados1. O total da despesa foi de € 554 M, destacando-se a com a Metropolitano de Lisboa de € 358,4 M (65%), mas também com a CP de € 175,92 e com a SPMS de € 19,6 M. O total das conversões de créditos autorizadas foi de € 479 M3.

Em 31/12/2016, a carteira de participações do Estado em EPE era de € 7.958,1 M (+ € 593,5 M), notando-se que a evolução face a 2015 resultou, fundamentalmente, do registo de operações de aumento

de capital, quer das aprovadas no ano (foram consideradas operações com despesa de € 404,2 M4), quer das aprovadas em anos anteriores5. Do ano, faltam registar € 646,4 M (€ 541,9 M da CP e € 86,8 M da Metropolitano de Lisboa), e continuam por registar os aumentos relativos ao Centro Hospitalar de São

João, EPE e Centro Hospitalar do Porto, EPE, de € 3 M e € 2 M, respetivamente, autorizados em 2015 e o da Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE, de € 12,7 M autorizado em 2014.

Organizações financeiras internacionais

No final de 2016, o valor de ativos financeiros em organizações financeiras internacionais era de

€ 20.871,3 M, sendo 84,2% deste valor resultante do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE). Existe uma nova participação do Estado junto do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura,

com o valor de € 61,7 M de capital subscrito, que implicou uma despesa de € 5,1 M, e ocorreram aumentos de capital, com uma despesa global de € 1,7 M, no Banco Interamericano de Desenvolvimento, na Corporação Interamericana de Investimentos e no Banco Africano de

Desenvolvimento.

Unidades de participação

Verificou-se a redução do capital do FCR - Fundo de Recuperação, no valor de € 6,1 M6 o que justificou a diminuição do valor global das unidades de participação € 820,7 M (31/12/2016), mantendo-se a carteira quanto aos restantes ativos. Destes, destaca-se que o Estado auferiu o rendimento de € 3,4 M do IHRU. Continua por resolver a situação do Fundo de Investimento Imobiliário Fechado Margueira

Capital (em liquidação) com um valor de € 224,5 M.

1 Ver o já referido em “Créditos por empréstimos”. No ano em análise, não houve receitas do Estado auferidas pelas

participações em EPE. 2 Para além dos € 479 M de conversões de crédito autorizados. 3 O que inclui a conversão do crédito da OPART autorizada em 2016 no valor global de € 0,9 M. 4 CP € 113 M, Metropolitano de Lisboa € 271,6 M e SPMS € 19,6 M. 5 Destas, destaca-se a da Metropolitano de Lisboa de € 189,3 M. 6 Houve dois momentos de redução de capital e no primeiro o Estado auferiu a receita de € 1,8 M.

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Tribunal de Contas

181

Prestações acessórias de capital

O montante global das prestações suplementares e acessórias de capital em 31/12/2016 era de € 64,8 M, não tendo estes ativos sofrido qualquer alteração1.

Obrigações e títulos de dívida pública

Quanto a este conjunto de ativos, que ascenderam a € 1.604,4 M (-€ 49,3 M do que 31/12/2015), nota- -se que o mesmo é constituído, fundamentalmente, por instrumentos de capital elegível2 (CoCo’s), com relevo para os € 700 M emitidos pelo BCP e os € 900 M pela CGD. A alteração face ao ano anterior resulta, sobretudo, da recompra levada a cabo em 2016 pelo BCP, de € 50 M. Por conta destes contratos, o Estado recebeu, além do valor da recompra, € 113,2 M de juros, sendo € 71,4 M do BCP e € 41,8 M da CGD.

Para além dos CoCo’s, os demais ativos, no valor global de € 3,8 M, correspondem a: obrigações participantes no valor de € 0,8 M, as quais não sofreram qualquer alteração relativamente ao ano anterior, obrigações BPN perpétuas3, não registadas no ano anterior e cujo valor apurado com base na

informação prestada pela entidade foi de € 0,7 M, obrigações relativas a empresas de territórios das antigas colónias, no valor nominal global de € 2,1 M4 e títulos de dívida pública detidos por várias entidades5, com o valor global de € 0,7 M. Com exceção dos casos em que tal se revele incompatível com a manutenção dos legados, volta a questionar-se a razão da permanência em carteira dos títulos de

dívida pública, em particular os Consolidados que se encontram na carteira da DGTF em resultado de

abandono a favor do Estado,, acarretando encargos para este6, devendo os serviços detentores de títulos

de dívida pública ponderar o respetivo resgate junto do IGCP.

9.1.1.2. Fluxos financeiros: receitas e despesas orçamentais dos SI

O OE 2016 previa receitas de ativos financeiros no valor de € 788 M7 e rendimentos da propriedade no valor de € 668 M8. Na CGE, a execução foi, respetivamente, de € 984 M e de € 494 M. A despesa com ativos financeiros foi orçamentada em € 4.924 M e teve uma execução de € 3.112 M.

1 Contudo, aquele valor diverge do indicado no PCGE 2015 (€ 63,8 M) devido a lapso da DGTF no cálculo do valor

nominal da prestação acessória de capital relativa à Parques de Sintra – Monte da Lua, SA, de 2015, que era de € 2,4 M e não € 1,4 M.

2 Subscritos no âmbito do processo de recapitalização da banca com fundos públicos pela emissão de obrigações

subordinadas de conversão contingente (CoCo’s). 3 As Obrigações BPN perpétuas devem estar na carteira de títulos da DGTF e constar do mapa do Modelo 1 das Instruções

n.º 1/2008-2.ª Secção. 4 Reitera-se a dúvida quanto ao seu real valor, considerando-se que estão a empolar o valor do património financeiro do

Estado, como já atrás referido. 5 A existência destas pequenas carteiras de títulos de dívida pública nos SI prende-se, em certos casos, com legados

instituídos, estando o rendimento dos títulos consignado à atribuição de prémios escolares ou outras situações concretas. 6 A entidade que gere a dívida pública, o IGCP, desconhece que o atual detentor dos títulos é o Estado, por falta de

comunicação da DGTF quando os integra na sua carteira e há despesa a pagar à CVM pelo IGCP, tal como referido no

PCGE2015, ponto 4.1.1.3. 7 11 – Ativos financeiros. 8 05 – Rendimentos da Propriedade, excluindo rendas – grupo 10.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

182

O quadro seguinte evidencia a execução orçamental com ativos financeiros, por grupo da classificação

económica da receita e por subagrupamento da despesa, bem como os valores apurados nas diligências

realizadas pelo TdC.

Quadro B. 86 – Receita e despesa com ativos financeiros 2016

(em euros)

Classificação económica (a) CGE Valores apurados (b) Diferença apurada

Receita

11 – Ativos financeiros 984 055 561,30 984 055 561,30 0,00

03 – Sociedades financeiras receitas gerais 50 000 000,00 50 000 000,00 0,00

05 – Empréstimos curto prazo 3 000 000,00 3 000 000,00 0,00

06 – Empréstimos a médio e longo prazos 908 613 613,95 908 613 613,95 0,00

07 – Recuperação de créditos garantidos 22 075 940,88 22 075 940,88 0,00

10 – Alienação de partes sociais de empresas 128 557,28 128 557,28 0,00

11 – Outros ativos financeiros 237 449,19 237 449,19 0,00

05 – Rendimentos da propriedade (c) 494 317 276,31 494 310 577,98 -6 698,33

01 – Juros sociedades não financeiras 1 157 751,14 1 157 751,14 0,00

02 – Juros sociedades financeiras 114 182 542,49 114 177 567,54 -4 974,95

03 – Juros administrações públicas 208 540 648,90 208 538 925,52 -1 723,38

05 – Juros famílias 103 943,55 103 943,55 0,00

06 – Juros resto do mundo 15 821 620,74 15 821 620,74 0,00

07 – Dividendos e participações lucros de soc. e quase soc. n/ financeiras 3 896 670,59 3 896 670,59 0,00

08 – Dividendos e participações lucros de sociedades financeiras 147 187 226,90 147 187 226,90 0,00

09 – Participações nos lucros das Administrações 3 426 872,00 3 426 872,00 0,00

Despesa

09 – Ativos financeiros 3 112 252 459,27 3 093 872 671,15 -18 379 788,12

05 – Empréstimos de curto prazo 3 000 000,00 3 000 000,00 0,00

06 – Empréstimos a m/ longo prazo 1 103 765 100,41 1 103 765 100,41 0,00

07 – Ações e outras participações 1 896 675 097,09 1 896 675 097,09 0,00

08 – Unidades de participação 46 696 103,26 46 696 103,26 0,00

09 – Outros ativos financeiros 62 116 158,51 43 736 370,39 -18 379 788,12

(a) Só estão considerados os capítulos das classificações económicas com execução orçamental nos SI.

(b) Valores reportados nas Instruções 1/2008 - 2.ª Secção, em algumas situações foram introduzidas correções em resultado das diligências realizadas.

(c) Excluindo rendas.

Fonte: DGTF, DGADR ACL, DGEstE, DGE, Marinha, DGRSP, APH, DRAPN, ANBA, ESMP e CGE 2016.

Na execução das receitas de ativos financeiros destacam-se as provenientes de empréstimos de médio e

longo prazo, € 908,6 M, sendo, no entanto, de realçar que 48% deste montante respeita à Metro do Porto, que no mesmo ano foi também beneficiária de empréstimos do Estado. Situação idêntica ocorreu com a

Parque Escolar, cuja execução orçamental da DGTF (SI) regista uma receita (amortização de

empréstimos) de montante igual ao do financiamento concedido à empresa no mesmo ano (despesa do

Estado), de € 85 M.

Na execução das despesas destaca-se o subagrupamento “07 - Ações e outras participações”, com o valor

de € 1.897 M, no qual 50% (€ 950 M) respeita à despesa com aumentos de capital da IP – Infraestruturas de Portugal e 19% (€ 358 M) da Metropolitano de Lisboa. Realçam-se, ainda, as despesas com aumentos de capital da Carris, da Transtejo, da Edia e da CP, no valor global de € 271 M, que não inclui os montantes que foram convertidos em capital.

A análise realizada aos elementos de informação obtidos junto das diversas entidades permitiu

identificar na CGE 2016 alguns erros, omissões e incorreções relativos aos fluxos de receita e de despesa

associadas à carteira de ativos financeiros dos SI, identificados no quadro com destaque para:

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Tribunal de Contas

183

 As despesas com fundos geridos por instituições financeiras internacionais, no valor de € 18.379.788,12, que foram erradamente classificadas1 em 09.09.162 - Ativos financeiros. Como se referiu no Parecer sobre a CGE 20153, face à natureza desses fundos, não incluídos no

património financeiro do Estado, e tratando-se de transferências para as quais não existe qualquer

previsão de retorno, não se mostra correta a classificação utilizada. A classificação correta seria

“08.09.03 – Transferências de capital - Países terceiros e organizações internacionais”.

Globalmente, na CGE, a despesa dos SI com ativos financeiros (09) está sobrevalorizada em € 18,4 M4 e a receita com rendimentos da propriedade (05) está sobrevalorizada5 em € 0,07 M. No que respeita a receita, a errada classificação dos juros da dívida pública, ou a sua omissão na CGE, inviabiliza a

adequada consolidação dos juros e viola a LEO6 que determina que as receitas devem ser especificadas

de acordo com a classificação económica.

Sobre a classificação económica da despesa a utilizar quando estão em causa contribuições para

determinadas organizações internacionais, a DGO, em contraditório, referiu que concorda “com a posição do Tribunal de Contas”.

9.1.2. Património financeiro dos serviços e fundos autónomos

9.1.2.1. Carteira de ativos financeiros dos SFA

O património financeiro analisado neste ponto integra 165 SFA7, dos quais 68 são EPR8, e ascendia no

final de 2016 a € 30.527 M (dos quais 31% pertencente às EPR). A composição das duas carteiras de ativos é bastante diferenciada, destacando-se nos SFA os títulos de dívida pública (47% da carteira) e

nas EPR os créditos transmitidos, por empréstimos e por execução de garantias (em conjunto 49% da

carteira).

1 Ver também ponto 3.3 – Despesa da administração central, deste Parecer. 2 Em 2014, a DGTF alterou a forma de classificar estas despesas e o INE, em termos de contas nacionais, reclassificou-as

como transferências de capital. Ver Parecer sobre a CGE 2014, ponto 9.1.1. Património financeiro dos SI. 3 Ponto 9.1.1.2. 4 Em consequência, estão subvalorizadas no mesmo montante as transferências de capital. 5 Em consequência, a classificação económica 04.02 está subvalorizada em € 8.460,25 e as classificações 06 e 08 estão

sobrevalorizadas, respetivamente em € 561,28 e em € 103,10. Não consta da CGE 2016 receita no valor de € 804,62. 6 Princípio da especificação. 7 Inclui os fundos geridos pelo BdP (Fundos de Garantia de Crédito Agrícola Mútuo, de Resolução e de Garantia de

Depósitos) que embora tenham sido integrados no OE na qualidade de EPR, integram o subsector dos SFA pelas razões

explanadas nos anteriores pareceres. 8 Embora incluídas no OE para 2016 como EPR, não foram consideradas, a TAP – Transportes Aéreos SGPS, SA (foi

privatizada em 2015 e não reportou à DGO a execução orçamental do ano) e a Fundação para as Comunicações Móveis

(foi extinta pelo Despacho 11483/2015, de 14 de outubro). O Fundo para a Modernização da Justiça não detinha quaisquer

ativos no início e no fim do ano de 2016.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

184

Quadro B. 87 – Evolução do património financeiro não consolidado dos SFA/EPR

(em milhões de euros)

Ativos financeiros Valor nominal em Variação Total

Rendimentos 31/12/2015 (a) 31/12/2016 Total %

Títulos de Dívida Pública 11 223 10 130 -1 093 -9,7 288,4

Obrigações do tesouro 5 085 5 111 27 0,5 231,9

SFA 5 024 5 049 25 0,5 229,7

EPR 61 62 1 2,2 2,2

Bilhetes do tesouro (b) 1 111 1 183 71 6,4 0,6

SFA 1 111 1 183 71 6,4 0,6

Aplicações CEDIC/CEDIM 4 246 3 217 -1 030 -24,2 8,8

SFA 3 633 3 081 - 552 -15,2 7,6

EPR 614 136 - 478 -77,8 1,2

Outros 781 620 - 161 -20,6 47,1

SFA 781 620 - 161 -20,6 47,1

EPR 0 0 0 -29,3 0,0

Créditos 8 114 8 124 10 0,1 29,1

por empréstimos 4 467 4 464 - 3 -0,1 22,4

SFA 3 314 3 474 160 4,8 5,7

EPR 1 152 989 - 163 -14,1 16,6

por execução de garantias 352 370 19 5,3 0,0

SFA 1 1 0 0,0 0,0

EPR 352 370 19 5,3 0,0

por transmissão 3 296 3 290 - 6 -0,2 6,7

SFA 6 6 0 -1,8 0,0

EPR 3 290 3 285 - 6 -0,2 6,7

Participações 8 245 7 614 - 631 -7,7 120,6

Societárias 8 214 7 583 - 631 -7,7 120,6

SFA 5 024 5 022 - 2 0,0 6,9

EPR 3 190 2 561 - 629 -19,7 113,6

Não societárias 30 30 0 -0,3 0,0

SFA 23 23 0 0,7 0,0

EPR 7 7 0 -3,3 0,0

Outros ativos financeiros 4 262 4 658 396 9,3 6,0

Unidades de participação 2 439 2 279 - 160 -6,6 0,4

SFA 1 760 1 676 - 84 -4,8 0,0

EPR 679 603 - 76 -11,2 0,4

Obrigações 701 581 - 119 -17,0 3,6

SFA 507 376 - 132 -25,9 2,2

EPR 193 205 12 6,2 1,4

Prestações acessórias e suplementos de capital 210 256 46 22,1 0,0

SFA 45 66 21 46,4 0,0

EPR 165 190 26 15,5 0,0

Depósitos a prazo 723 1 161 438 60,5 2,0

SFA 136 137 1 0,5 0,3

EPR 587 1 024 437 74,4 1,6

Participações em fundos não titulados 189 381 192 101,2 0,0

SFA 189 381 192 101,2 0,0

Total SFA (1) 21 554 21 093 - 460 -2,1 300,2

Total EPR (2) 10 290 9 434 - 857 -8,3 143,8

TOTAL (1+2) 31 844 30 527 -1 317 -4,1 444,0

(a) Valores ajustados incluindo os dos novos SFA e EPR que integram o perímetro da administração central em 2016 e registaram execução em rubricas de ativos

financeiros.

(b) No caso dos BT, no ponto 4.1.1.3 foi considerado o valor de desconto, enquanto que neste ponto foi considerado o valor nominal.

Fonte: Informação prestada pelos SFA/EPR no âmbito das Instruções n.º 1/2008-2.ª Secção.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 212

Página 213

Tribunal de Contas

185

Neste subsector continua a não ser possível assegurar que os valores apresentados abranjam a totalidade

do património, em termos de entidades e de ativos financeiros sob gestão, designadamente no que

respeita às EPR, uma vez que a sua análise é feita com base na existência de fluxos financeiros em

rubricas de ativos financeiros e na titularidade de dívida pública.

No valor global deste subsector, destacam-se 5 carteiras que representam cerca de 52 %:

 Fundo de Resolução, constituída essencialmente pela participação no capital social do Novo Banco, SA (16,1 %);

 IAPMEI composta em especial por participação em fundos de investimentos e incentivos reembolsáveis concedidos no âmbito de programas comunitários (13,5 %);

 Parvalorem composta especialmente pela carteira de créditos transmitida do BPN (11,2%);

 Parpública, onde se destacam as participações em entidades societárias (6,6%);

 FRDP com particular relevância para os títulos de dívida pública (4,2%).

Em termos globais, a carteira de ativos financeiros registou um decréscimo de € 1.317 M (-4,1%), sendo € 460 M nos SFA e € 857 M nas EPR, tendo gerado rendimentos no valor de € 444 M, provenientes, maioritariamente, da carteira de títulos de dívida pública dos SFA e em particular das obrigações do

tesouro.

Nos SFA (excluindo EPR) esta redução resultou do efeito conjugado das seguintes variações:

 Títulos de dívida púbica (€ -617 M), que se explica, em particular, pelo desinvestimento em CEDIC registado no FRDP (€ 453 M) e na AD&C (€ 147 M).

 Participações em fundos não titulados (€ 192 M) com origem:

 reforço do capital do Fundo de Contragarantia Mútuo (FCGM), no valor total de € 65,4 M, realizado pelo IAPMEI, IEFP, IFAP e Turismo de Portugal;

 na subscrição pelo IAPMEI de € 34,5 M do Fundo de Dívida e Garantias (FD&G)1 e de € 50,0 M do Fundo de Capital e Quase Capital (FC&QC)2, enquanto que a AD&C subscreveu € 14,5 M do FD&G e € 24,2 M do FC&QC. Estes Fundos, constituídos em 2015, são geridos pelo IFD e visam reforçar a capacitação das empresas, através de instrumentos de

financiamento, na área do empreendedorismo qualificado e da competitividade.

 Créditos por empréstimos (€ 160 M), devido à inclusão das carteiras do Fundo de Apoio Municipal, que concede empréstimos remunerados aos municípios, tendo mutuado € 63 M em 2016, e da AD&C que, no âmbito dos Programas Operacionais do Portugal 2020 e ao abrigo do

Regulamento Especifico do Domínio da Competitividade e Internacionalização3, concedeu

incentivos de natureza reembolsável.

Em contraditório, a SPGM informou que o valor indicado de € 65,4 M relativo ao reforço do FCGM não corresponde às dotações realizadas pelos referidos SFA que totalizaram € 64,2 M. Ora, o valor

1 Este Fundo tem um capital total de € 104 M. 2 Este Fundo tem um capital total de € 146,9 M 3 Estabelecido pela Portaria 57-A/2015, de 27/2.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 213

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

186

apresentado resulta de informação transmitida pelos SFA, tendo se verificado que o IEFP reportou uma

despesa com esse Fundo no valor de € 2,5 M, que difere da dotação indicada pela SPGM de € 1,2 M, encontrando-se aí a divergência.

Nas EPR, a variação negativa (€ -857 M) resultou da conjugação das seguintes variações:

 Redução das participações em entidades societárias (€ -629 M) com origem:

 na venda à DGTF da participação de 49% detida pela PARPUBLICA na PARCAIXA1, tendo auferido em 2016 apenas a receita proveniente dos dividendos distribuídos, no valor de

€ 1,6 M; e

 na alienação da participação detida pela CP na CP Carga na sequência do processo de reprivatização2. Em setembro de 2015 foi assinado um acordo de venda direta da CP Carga

à MSC Mediterranean Shipping Company Rail (Portugal) – Operadores Ferroviários, S.A., com entrega de um adiantamento. Em janeiro de 2016, cumpridas as condições por parte do

comprador e obtida a aprovação governamental, foi concluído o processo de privatização da

empresa3, com a assinatura do respetivo contrato de venda, embora o valor final de venda,

designadamente, o diferencial do ajustamento não estivesse ainda apurado.

 Variação negativa das aplicações CEDIC (€ -478 M) em resultado dos desinvestimentos realizados por diversas carteiras, destacando-se os da Infraestruturas de Portugal (€ 265 M), da AICEP (€ 115 M), da PARVALOREM (€ 36 M) e da Parque Expo (€ 38 M).

 Aumento na carteira de depósitos a prazo (€ 437 M) que resultou, em particular, da constituição pela Parcaixa de depósitos na CGD no valor de € 394 M, sendo que em 2016 foram incluídas no perímetro orçamental, como EPR, entidades que dispunham de valores elevados aplicados em

depósitos a prazo, casos do FCGM, da SPGM e do IFD.

No que respeita à carteira dos créditos prevenientes do ex-BPN, geridos pela Parvalorem, face à sua

representatividade no valor global do património das EPR, apresentam-se no quadro seguinte os

principais movimentos ocorridos:

Quadro B. 88 – Variação registada em 2016 na carteira de créditos da Parvalorem

(em milhões de euros)

Capital em 31/12/2015 3 280,6 Juros vencidos e não pagos em 31/12/2015 9,6

Reembolsos -39,7 Cash flow de juros -6,7

Aquisições 0,0 Utilização de juros/reestruturações 2,2

Reestruturações de créditos 46,7 Reclassificações e open itens -1,1

Dação -6,1 Reclassificação de juros 1,8

Write Off’s-3,5

Diferenças cambiais 2,8

Outros -1,7

Capital em 31/12/2016 3 279,1 Juros vencidos e não pagos em 31/12/2016 5,6

Variação do capital -1,5 Variação de juros -4,0

Fonte: Informação prestada pela PARVALOREM no âmbito das Instruções n.º 1/2008-2.ª Secção.

1 Cfr. ponto 9.1.1.1. 2 Regulada pelo Decreto-Lei 69/2015, envolve a alienação de ações representativas de 100% do capital social através de

uma venda direta e uma oferta pública de venda dirigida aos trabalhadores. 3 Atualmente denomina-se MEDWAY.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 214

Página 215

Tribunal de Contas

187

A variação verificada, de apenas € 5,5 M, resulta sobretudo dos juros, pois o capital em dívida não sofreu praticamente alteração, dado que as reestruturações de capital determinaram um acréscimo nesses

créditos, anulando o decréscimo que poderia ter resultado das amortizações de capital e das dações em

pagamento ocorridas durante o ano.

Nos termos do n.º 2 do art. 81.º da LOE 2016, a concessão de empréstimos pelos SFA (incluindo EPR),

deve ser realizada até ao montante contratual de € 1.239 M. De acordo com a informação prestada pelos SFA concluiu-se que em 2016 foram contratadas novas operações ativas (empréstimos,

subsídios/incentivos reembolsáveis, suprimentos e outras), cujo valor total ultrapassou o limite do OE

em cerca de € 333,5 M. Só as contratações de incentivos reembolsáveis efetuadas em 2016 pelo IAPMEI, atingiram cerca de 86 % do limite estipulado, totalizando € 1.065 M.

Em contraditório, a DGO informou que foram apurados “(…) compromissos assumidos no valor de

606.725.210,33 euros e pagamentos no montante de 606.627.467,34 euros (…)” e que o IAPMEI“(…) reportou

compromissos assumidos e pagamentos no valor de 388.335.505,97 euros”. Ora, o limite que é definido na

LOE respeita às contratações de novos empréstimos no ano, independentemente de serem ou não pagos

nesse ano. Por sua vez, o art. 29.º do Decreto Lei de Execução Orçamental determina o que deve ser

executado pelos SFA para efeitos de controlo, pela DGO, desse limite, devendo aqueles solicitar-lhe

informação prévia sobre o cabimento dos empréstimos a conceder e registar mensalmente os

movimentos relativos a essas operações.

9.1.2.2. Variações na carteira de ativos sem fluxos financeiros

No âmbito da informação prestada ao TdC, 13 SFA reportaram situações de abate aos créditos sem

ocorrência de fluxo financeiro, no valor total de € 194,5 M. Destas, não constavam da CGE as anulações de créditos da Caixa Seguros e Saúde, SGPS, SA ocorridas em 2016 no valor de € 33,5 M, realizadas no âmbito da liquidação da participada HPP International Luxemburgo SARL, com recurso às provisões

constituídas1.

Ouvida em contraditório, a Caixa Seguros e Saúde não justificou a falta de reporte dessas anulações à

DGO, apenas referiu que a intenção da liquidação da sociedade já existia desde algum tempo.

Por outro lado, constatou-se que foram comunicadas pela Universidade do Porto à DGO, no mapa 4

“Créditos satisfeitos por dação em pagamento ou por compensação”, € 152,2 m de receitas recebidas e devidamente relevadas na rubrica 11.06. relativas ao reembolso de créditos do UPTEC-Parque de

Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto; e que os Serviços de Ação Social da Universidade Nova

de Lisboa e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia reportaram as anulações realizadas no valor

dos créditos por empréstimos, respetivamente nos mapas 7 “Créditos extintos por prescrição” e 8 “Créditos anulados por força de decisão judicial ou por qualquer outra razão” na rubrica 08.01 “Outras receitas correntes –outras”, em vez de os evidenciarem na rubrica onde essas receitas, em caso de

cobrança, deveriam ser inscritas, ou seja em ativos financeiros.

1 Estes créditos decorriam de suprimentos concedidos pela Caixa Seguros e Saúde à sua participada HPP Luxemburgo.

Um dos suprimentos, no valor de € 3 M, serviu para a HPP Luxemburgo adquirir uma participação de 11% na HPP, SGPS, e deveria ter sido totalmente liquidado aquando da privatização da HPP, SGPS, em 2013. O outro suprimento, no

valor de € 31 M, permitiu à HPP Luxemburgo adquirir em 2007 uma participação de 10% num grupo de saúde espanhol (USP Hospitales) mas, apesar de essa participação ter sido posteriormente vendida em 2009, o suprimento não foi

reembolsado e na sociedade agora liquidada (HPP Luxemburgo) não existia nenhum valor que pudesse corresponder ao

retorno desse desinvestimento.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 215

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

188

Na sua resposta, a Universidade do Porto veio esclarecer que o movimento de abate registado no mapa

dos créditos em 2016, teve como compensação uma despesa na rubrica 02.02 “Aquisição de bens e serviços correntes - Aquisição de serviços”, no respetivo valor. Assim, sendo considera-se correta a comunicação realizada à DGO, mas entende-se que esses movimentos, por não corresponderem a

qualquer fluxo financeiro, não deveriam ter sido inscritos em termos de execução orçamental, causando

um empolamento da receita e da despesa nesse valor1.

9.1.2.3. Fluxos financeiros: receitas e despesas orçamentais dos SFA

Os fluxos financeiros considerados neste ponto respeitam às receitas e despesas relacionadas com ativos

financeiros que constam da informação remetida ao TdC no âmbito das Instruções2 e da CGE, sem

qualquer consolidação entre entidades pertencentes ao mesmo sector.

Sobre os fluxos financeiros da FLAD foram tomados os valores constantes da CGE, uma vez que os do

mapa das Instruções tinham sido obtidos por diferença entre o valor do final e o do início do ano, não

se traduzindo em reais fluxos financeiros. Refira-se ainda que, para a despesa, igual situação foi

registada em diversas entidades pertencentes, em particular, ao Ministério da Saúde e gestoras de

unidades de participação no Fundo de Compensação do Trabalho. No caso da receita decorrente do

resgate dessas unidades de participação, algumas entidades não processaram a receita obtida, refletindo-

a por diminuição da despesa3.

Não foram incluídas receitas e despesas associadas a aplicações CEDIC nos casos em que tais fluxos

estão omissos na respetiva execução orçamental.

a) Receitas

As receitas de ativos financeiros foram orçamentadas em € 4.099,4 M, tendo sido cobradas € 2.822,6 M (69 %).

Na análise comparativa entre os valores da CGE e os apurados através da informação enviada no âmbito

das Instruções, continuam a verificar-se desvios que rondam os € 5,8 M, identificados no quadro seguinte por rubrica de classificação económica.

1 Desde a alteração de 2011 da LEO que existe uma exceção ao princípio da não compensação para os ativos financeiros. 2 A Fundação para as Comunicações Móveis e o Fundo de Modernização da Justiça não foram integrados no apuramento

do património financeiro, mas os fluxos associados a ativos financeiros foram considerados na receita e despesa. A

Fundação inscreveu na rubrica 11.11 receitas no valor de € 17,8 M e que o Fundo inscreveu nas rubricas 09.02 e 11.02, respetivamente despesas e receitas no valor de € 18 M.

3 Cfr. n.º 5 do art. 6.º da Lei 91/2001, de 20/8 (LEO) e alínea a) do n.º 3 do art. 15 da Lei 151/2015, de 11/09.

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Tribunal de Contas

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Quadro B. 89 – Confronto entre as receitas orçamentadas, as executadas e as apuradas através das Instruções

(em milhares de euros)

Valores / Rubricas de CE

(Receita)

Capítulo 11 – Ativos financeiros

01 02 03 05 06 08 09 10 11

Depósitos,

Cert Dep. e

Poupança

Tit. a

Curto Prazo

Tit. M/L

prazos

Emp.

Curto

Prazo

Emp.

M/L prazos

Ações e

outras

Part.

Unid. de

Participação

Alienação de

partes socias

de empresas

Outros ativos

financeiros

Orçamento final (1) 2 500,0 934 733,7 825 473,9 16 247,5 271 340,3 10,1 11 182,7 5 171,5 2 032 731,0

Execução (CGE) (2) 2 500,0 568 696,2 384 936,7 1 627,9 316 911,6 2,6 11 174,0 5 167,0 1 531 594,4

Apurados (Mapa das Instruções) (3) 2 500,0 565 196,2 384 936,7 555,2 315 404,4 1,9 11 447,8 5 167,0 1 531 594,0

Diferença (2-3) 0,0 3 500,0 0,0 1 072,7 1 507,2 0,7 -273,8 0,0 0,5

Taxa de Execução (%) 100,0 60,8 46,6 10,0 116,8 25,7 99,9 99,9 75,3

Fonte: Conta Geral do Estado e Informação prestada pelos SFA/EPR no âmbito das Instruções n.º 1/2008-2.ª Secção.

A diferença registada na rubrica 11.09, de € 273,8 m, teve origem na carteira da AICEP, uma vez que na informação remetida ao Tribunal tinham sido consideradas indevidamente como receita os valores

das participações abatidas no ano. Por outro lado, os esclarecimentos remetidos em sede de contraditório

indiciam que na receita orçamental de 2016 terão sido registados valores que não correspondem a

recebimentos efetivos, nomeadamente de ações recebidas pela liquidação de um fundo de investimento.

Das restantes, salientam-se as seguintes, que causaram uma sobrevalorização das receitas de ativos

financeiros em € 6,1 M:

 IPO de Coimbra: a receita proveniente de ativos financeiros inscrita na CGE incorpora o valor de € 3,5 M o qual não corresponde a uma efetiva receita de ativos financeiros;

 CP: os juros recebidos de suprimentos (€ 1,1 M) continuaram a ser incorretamente contabilizados em ativos financeiros, em vez de no capítulo rendimentos de propriedade;

 Fundo de Reestruturação do Sector Solidário: as receitas decorrentes de reembolsos registados e recebidos em 2015 no valor de € 1,5 M foram indevidamente inscritas em 2016 como receita de ativos financeiros.

Ouvidos em contraditório:

 O IPO reconhece que a receita de € 3,5 M inscrita em ativos financeiros provém de depósitos à ordem, situação que de futuro não deverá repetir-se, uma vez que nessa rubrica apenas devem

ser inscritas as receitas diretamente provenientes de ativos financeiros.

 A CP informou que irá desenvolver procedimentos para correção desta classificação na execução orçamental de 2017.

Para além dos desvios constantes do quadro anterior, continuaram a ser identificados erros na

classificação de algumas receitas decorrentes de operações relacionadas com ativos financeiros que

causaram uma subvalorização das receitas inscritas na CGE e naquele capítulo. Totalizaram € 50,7 M e respeitam às seguintes carteiras:

 Parups: as receitas relativas à amortização e alienação de ativos financeiros, designadamente de obrigações e de fundos de investimento, no valor total de € 30 M continuaram a ser contabilizadas no capítulo Venda de bens de investimento.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

190

 Fundo de Contragarantia Mútuo: as receitas associadas à recuperação de créditos garantidos no valor de € 10,7 M foram erradamente contabilizadas no capítulo outras receitas de capital.

 Fundo de Estabilização Aduaneiro (FEA): a receita com o resgate de aplicações CEDIC, no valor de € 8,1 M e contabilizada na conta de gerência em ativos financeiros, continua em 2016 a estar omissa na CGE.

 IAPMEI: continuaram a ser contabilizadas no capítulo Transferências de capital as receitas provenientes dos reembolsos dos incentivos reembolsáveis concedidos no âmbito dos programas

comunitários anteriores ao QCA III (PEDIP, SIR e IMIT) no valor de € 0,8 M, contrariamente às recomendações do Tribunal, e também dos reembolsos dos créditos transmitidos ao IAPMEI

no valor de € 0,1 M. Os argumentos para esta contabilização estão relacionados com a classificação atribuída aos pagamentos em períodos anteriores dos incentivos como

transferências de capital, considerando o IAPMEI que deverá ser mantida a mesma natureza

aquando do recebimento desses reembolsos. Já no que respeita aos incentivos de natureza

reembolsável do QCA III e posteriores, foi adotada a recomendação do Tribunal. O TdC, por sua

vez reitera o entendimento que não se deverá persistir no erro.

 PARCAIXA: as receitas do reembolso parcial do empréstimo concedido à SAGESCUR-Sociedade de Estudos, Desenvolvimento e Participação em Projetos, S.A., no valor de € 0,7 M, foram erradamente contabilizadas no capítulo Saldo da gerência anterior, o mesmo acontecendo

com os dividendos recebidos.

 Empresa de Ambiente na Saúde, Tratamento de Resíduos Hospitalares, Unipessoal, Lda.: as receitas relativas ao reembolso do empréstimo à Somos Ambiente, ACE no valor de € 0,3 M foram erradamente contabilizadas no capítulo Rendimentos de propriedade.

 Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC): as receitas decorrentes da alienação de certificados de renda perpétua no valor de € 31,8 m foram erradamente contabilizadas no capítulo Rendimentos de propriedade.

Ouvidas em sede de contraditório:

 PARUPS, considera ser essa a classificação mais adequada, tendo em conta a especificidade da sua atividade; o Tribunal, por sua vez, continua a considerar que a referida classificação não é

adequada;

 FEA, informou que “(…) as aplicações em CEDIC, quer quando se vencem, quer quando se procede à sua reaplicação, originam movimentos financeiros de caixa, estes montantes terão de ser reportados no

Mapa de Fluxos Financeiros (…)”, por sua vez, em termos de reporte da execução orçamental no

SIGO, que é a informação de suporte para a elaboração do mapa 31 da CGE, entende que “(…) a parte que se retém na conta à ordem quando um CEDIC se vence não “altera definitivamente o seu

património líquido” pois esse montante já fazia parte do referido património líquido (…)” pelo que

nunca reportou estes montantes à DGO.;

 PARCAIXA, informou não ter qualquer comentário;

 Empresa de Ambiente na Saúde, Tratamento de Resíduos Hospitalares, Unipessoal, Lda.: confirma que o valor de € 0,3 M, que respeita a amortização da dívida do ACE, deveria ter sido classificado como “Receita de Ativos Financeiros, Amortização de Empréstimos, visto tratar-se apenas de amortização de capital e não de juros”.

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Tribunal de Contas

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 CHLC justifica a inscrição da receita como rendimentos de propriedade pelo facto de não ter atualizado, em termos de contabilidade patrimonial, o valor desses certificados. Ora, em termos

de contabilidade pública o valor recebido da alienação dos CRP teria de ser inscrito em ativos

financeiros, apenas os juros recebidos trimestralmente devem ser registados em rendimentos de

propriedade.

b) Despesas

Foram orçamentadas despesas com ativos financeiros no valor de € 4.498 M, sendo realizadas € 2.732 M. No caso da Wolfpart, SGPS, SA, foram executadas despesas com ativos financeiros no valor de € 45 M sem que existisse rubrica orçamental ou dotação para a respetiva execução. Na sua resposta a Wolfpart referiu que a realização de suprimentos não estava orçamentada, tendo “(…) envidado

inúmeros esforços para proceder à competente retificação, a qual, por ora, não teve sucesso (…)”.

Foram detetados desvios entre os valores da CGE e os apurados, através da informação remetida ao TdC

em rubricas de ativos financeiros, evidenciados no quadro seguinte.

Quadro B. 90 – Confronto entre as despesas orçamentadas, as executadas e as apuradas através das Instruções

(em milhares de euros)

Valores / Rubricas de CE

(Despesa)

Agrupamento 09 - Ativos financeiros

01 02 03 05 06 07 08 09

Depósitos,

Cert Dep. e

Poupança

Tit. a

Curto Prazo

Tit.

M/L prazos

Emp.

Curto Prazo

Emp.

M/L prazos

Ações e

outras Part.

Unid. de

Participação

Outros ativos

financeiros

Orçamento final (1) 5 750,0 643 404,7 679 656,5 143 208,0 833 926,3 45 455,4 221 984,9 1 924 634,8

Execução CGE (2) 5 750,0 299 522,4 325 291,6 536,4 606 091,1 35 058,1 141 364,1 1 318 096,9

Apurados Mapa das Instruções (3) 5 750,0 299 522,4 325 291,6 536,4 601 755,2 34 668,1 136 359,1 1 318 096,8

Diferença (2-3) 0,0 0,0 0,0 0,0 4.335,9 390,0 5.005,0 0,1

Taxa de Execução (%) 100,0 46,6 47,9 0,4 72,7 77,1 63,7 68,5

Fonte: Conta Geral do Estado e Informação prestada pelos SFA/EPR no âmbito das Instruções n.º 1/2008-2.ª Secção.

Das diferenças apontadas, que implicaram uma sobrevalorização de € 9,7 M na rubrica de ativos financeiros da CGE, são de destacar as situações da AD&C e do IAPMEI nos montantes de € 4,3 M e € 5 M. A da AD&C respeita à inscrição em 2016 das despesas realizadas em 2015 e inscritas no agrupamento Operações extra-orçamentais, por forma a regularizar a situação dos empréstimos

concedidos no âmbito do Programa Operacional Portugal 2020. A do IAMEI respeita à despesa com a

realização da dotação inicial para a constituição do Fundo de Inovação, Tecnologia e Economia

Circular1, cujo património em caso de extinção reverte para o Estado, não representando um verdadeiro

ativo financeiro. Na sua resposta a AD&C confirma a situação descrita.

Para além dos principais desvios referidos foram identificadas situações de omissão e de classificação

de despesas associadas a ativos financeiros noutros agrupamentos da despesa que provocaram uma

subvalorização dessa rubrica e totalizaram o valor de € 76,4 M:

 Fundo de Contragarantia Mútuo: as despesas relacionadas com os pagamentos realizados em 2016 com execução de garantias no valor de € 43,1 M e as relacionadas com as novas aplicações

1 Para a dotação inicial deste Fundo contribuiu também o FPC com € 10 M, tendo registado corretamente esta despesa

como transferências correntes.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 219

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

192

em depósitos a prazo no valor de € 32,4 M, foram erradamente contabilizadas no agrupamento Transferências correntes.

 Empordef: omitiu a despesa relacionada com a concessão de suprimentos a empresas do grupo no valor de € 0,8 M, e embora tivesse referido a sua contabilização no agrupamento Transferências de capital verificou-se que nem isso sucedeu.

 Fundo Português de Carbono (FPC): omitiu a despesa de € 49,1 m relacionada com a reaplicação dos juros recebidos de aplicações CEDIC em novas aplicações, cuja despesa foi devidamente

refletida no mapa de fluxos de caixa da conta de gerência.

 Fundo de Resolução: a despesa de € 50 m associada à realização do capital subscrito da OITANTE SA foi contabilizada como Aquisições de bens de capital.

 Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e Unidade Local de Saúde de Matosinhos: as despesas associadas à subscrição de unidades de participação do Fundo de Compensação do

Trabalho no valor total de € 47,3 m foram registadas pela CMVM, como despesas com o pessoal, mantendo o entendimento do ano anterior, e pela ULS como aquisições de bens de capital.

Em sede de contraditório:

 o FPC referiu não entender “(…) o motivo pelo qual se refere a dita omissão”, pelo que se esclarece o Fundo que a despesa refletida na conta de gerência, também deveria ter sido reportada nos

termos da execução orçamental do SIGO;

 a Unidade Local de Saúde de Matosinhos refere as dúvidas quanto à referida classificação e informa que em 2017 a classificação já se encontra corrigida para efeitos de reporte;

 a CMVM referiu, que as despesas associadas à subscrição de unidades de participação do Fundo de Compensação do Trabalho continuaram em 2016 e 2017 a ser classificadas como despesas

com o pessoal, tanto mais que, relativamente à justificação apresentada em novembro de 2016,

no âmbito do PCGE de 2015, não houve “(…) qualquer recomendação subsequente no sentido de

alterar o entendimento definido pela CMVM (…)”. Esta afirmação não é totalmente exata, na verdade

na pág. 196 do PCGE de 2015 e depois de referida a argumentação da CMVM, o Tribunal

afirmou que o procedimento não estava de acordo com o classificador das receitas e despesas

públicas, o que parece suficiente para deixar claro que não aceitava tal argumentação.

As diferenças apuradas em matéria de despesa e de receita com ativos financeiros, e antes assinaladas,

continuam a revelar falta de rigor por parte de alguns SFA e EPR.

Dando seguimento às recomendações do TdC, a DGO procedeu à emissão de orientações genéricas

sobre a contabilização dos fluxos orçamentais relacionados com as aplicações financeiras CEDIC e

CEDIM na Circular Série A n.º 1379 “Instruções para preparação do OE 2016”. Contudo constatou-se que a maioria dos Serviços gestores destas aplicações não observou o determinado nessas Instruções,

encontrando-se omissos os respetivos fluxos.

Sobre esta matéria a CMVM pronunciou-se em contraditório dizendo que o TdC contrariando estas

Instruções da DGO efetuou uma recomendação “(…) relativamente à contabilização de CEDIC, no sentido de considerar a aquisição destes títulos numa conta da classe de disponibilidades (em POCP), equivalente à

classe de meios monetários (em SNC), devendo considerar-se o seu montante no saldo de gerência à semelhança

do que acontece com os depósitos bancários”. Informou ainda que “no cumprimento desta recomendação a

22 DE DEZEMBRO DE 2017 220

Página 221

Tribunal de Contas

193

CMVM deixou de classificar os CEDIC na rubrica orçamental 09.02.05 (…) registando-os, na sua totalidade, no saldo da gerência inicial e mantendo a sua movimentação dentro deste saldo (…)”.

A questão relativa à contabilização das operações decorrentes da aquisição e resgate de CEDIC ficará

esclarecida com a entrada em vigor e plena aplicação do SNC-AP, legalmente prevista para 1 de janeiro

de 2018. O assunto é igualmente tratado na Caixa sobre a atividade dos Fundos de Estabilização

Tributário e Aduaneiro, no âmbito dos quais se extraem conclusões e se formula uma recomendação,

para as quais aqui se remete.

Não se pronunciaram em sede de contraditório, os Serviços de Ação Social da Universidade Nova de

Lisboa, o Laboratório Nacional de Energia e Geologia, a Fundação Luso Americana para o

Desenvolvimento, o Fundo de Reestruturação para o Sector Solidário, o IAPMEI, a EMPORDEF-

Empresa Portuguesa de Defesa SGPS, SA e o Fundo de Resolução.

9.1.2.4. Carteira consolidada de ativos financeiros dos SFA

Para efeitos de consolidação do património financeiro dos SFA procedeu-se à exclusão das carteiras de

títulos de dívida pública nacional e dos créditos transmitidos e por empréstimos concedidos, entre

entidades que integram este subsector.

O quadro seguinte reflete o apuramento e a evolução do património financeiro consolidado dos SFA,

que em 31/12/2016 se situava em € 19.649 M.

Quadro B. 91 – Evolução do património financeiro consolidado dos SFA/EPR

(em milhões de euros)

Património Financeiro Consolidado Valor nominal em Variação

31/12/2015 31/12/2016 Total %

Património financeiro não consolidado do qual: 31 844 30 527 -1 317 -4,1

SFA (1) 21 554 21 093 -460 -2,1

EPR (2) 10 290 9 434 -857 -8,3

Créditos por empréstimos entre o mesmo subsector

SFA (3) 21 19 -2 -9,8

EPR (4) 737 650 -87 -11,8

Créditos Transmitidos

EPR (5) 79 80 1 0,9

Títulos de Dívida Pública

SFA (6) 10 549 9 932 -616 -5,8

EPR (7) 675 198 -477 11,2

Património financeiro consolidado do subsector do qual: 19 785 19 649 -136 -0,7

SFA (8) = (1)-(3)-(6) 10 985 11 142 158 1,4

EPR (9) = (2)-(4)-(5)-(7) 8 800 8 506 -294 -3,3

Fonte: Informação prestada pelos SFA incluindo EPR.

9.1.3. Património financeiro consolidado dos SI e SFA

O património financeiro consolidado do Estado cresceu, de 2015 para 2016, cerca de € 1.598,7 M (2,8%).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 221

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

194

Quadro B. 92 – Património Financeiro Consolidado - Evolução Global em 2016

(em milhões de euros)

Ativos financeiros 31/12/2015 31/12/2016 Variação

SI SFA Total SI SFA Total Valor %

Créditos 22 830,2 7 278,4 30 108,6 22 546,7 7 376,7 29 923,4 -185,2 -0,6%

Participações 14 316,6 8 244,5 22 561,1 16 335,2 7 613,7 23 948,9 1 387,7 6,2%

Outros ativos financeiros 523,9 4 261,5 4 785,4 523,9 4 657,7 5 181,6 396,2 8,3%

Total consolidado 37 670,7 19 784,4 57 455,1 39 405,9 19 648,1 59 053,9 1 598,7 2,8%

Fonte: Informação prestada nos termos das Instruções n.º 1/2008-2.ª Secção.

Verifica-se que em 2016, o valor dos créditos diminuiu nos SI e aumentou nos SFA, o valor das

participações aumentou consideravelmente nos SI e diminuiu nos SFA e o valor dos outros ativos

financeiros aumentou nos SFA.

9.1.4. Aplicação das receitas das privatizações

O OE para 2016 não previu qualquer receita de privatizações.

Em 2016 o FRDP continuou sem receber a transferência devida na sequência da venda, no ano anterior,

da sociedade Estrela, SGPS, por € 13.500, receita esta que, apesar de não ser resultante duma reprivatização, o Despacho 1731/15-SET, de 01/10, havia determinado que devia ser afetada ao FRDP.

Quanto ao património do FRDP – Privatizações, no início de 2016 era de € 22,3 M, e no final do mesmo ano era de € 23,4 M, tendo o acréscimo decorrido dos rendimentos obtidos com a carteira de títulos e do pagamento da 15.ª prestação do empréstimo concedido em 1991 ao IRHU. Aquele montante foi

consignado, quase na totalidade, a aumentos de capital e apenas uma ínfima parte a amortizações e

anulações de dívida pública.

Nota-se que, desde 2013, o Estado não transfere para a Parpública qualquer participação da sua carteira,

de forma a compensar a sua dívida para com esta empresa1, conforme disposto no n.º 3 do art. 9.° do

Decreto-Lei 209/2000, de 02/09.

*

* *

Ouvido, o Ministro das Finanças manifestou o interesse do seu Gabinete “no controlo efetivo das transferências e dos fluxos financeiros (verificadas nas receitas e nas despesas orçamentais), bem como na

identificação e respetiva correção de eventuais erros, omissões e incorreções”.

1 Por outro lado, houve realizações do capital inicial, em 2016 e 2015, no valor global de € 595 M.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 222

Página 223

Tribunal de Contas

195

CAIXA 6 – SALDO DAS RECEITAS E DAS DESPESAS ORÇAMENTAIS RELATIVAS AO BPN

1. No final de 2016, o saldo acumulado das receitas e despesas orçamentais decorrentes da nacionalização

e reprivatização do BPN e da constituição e funcionamento das sociedades-veículo Parups, Parvalorem

e Parparticipadas ascendia a € -3.658 M resultado dos saldos parciais de € -736 M de 2011, € -966 M de 2012, € -468 M de 2013, de € -476 M de 2014, de € -594 M em 2015 e de € -418 M em 2016.

Quadro B. 93 – Saldo das receitas e despesas referentes ao BPN – 31/12/2016

(em milhões de euros)

Até 2012 2013 2014 2015 2016 Total

RECEITA 213 138 223 88 113 775

Serviços Integrados 54 0 0 0 2 56

Ativos financeiros - Alienação do BPN 40 40

Recuperação de garantias executadas 0 0 2 2

Cobrança de taxas de garantia BPN e Parparticipadas (a) 14 0 0 0 0 14

SFA (Parvalorem, Parups e Parparticipadas) (b) 159 138 222 88 111 718

Rendimentos da propriedade 29 38 15 12 10 104

Vendas de bens e serviços e outras receitas 8 6 23 14 20 73

Venda de bens de investimento 0 21 57 31 30 138

Ativos financeiros (receita obtida com AF do BPN) 122 73 127 30 51 403

DESPESA 1 915 606 699 682 531 4 433

Serviços Integrados (Capítulo 60 - DGTF) (b) 756 23 57 12 28 875

Ativos financeiros - prestação de capital ao BPN 600 600

Ativos financeiros - aumento de capital da Parparticipadas 0 38 0 0 38

Ativos financeiros - execução de garantias 147 147

Outras despesas correntes - com a reprivatização do BPN 9 23 19 12 28 90

SFA (Parvalorem Parups e Parparticipadas) 1 159 583 642 670 504 3 559

Despesas com pessoal 14 15 19 12 9 69

Aquisição de bens e serviços 62 17 11 12 10 112

Juros e outros encargos (a) 235 150 139 113 89 726

Ativos financeiros 443 0 20 55 8 526

Passivos financeiros 400 397 451 478 384 2 110

Outras despesas 5 3 2 2 4 17

Saldo -1 702 -468 -476 -594 -418 -3 658

Saldo acumulado -1 702 -2 170 -2 647 -3.241 (c) -3 658

a) Não inclui as comissões de garantia pagas ao Estado pela Parvalorem, a Parups e a Parparticipadas (a partir de 2015, por ter sido incluída no perímetro

da CGE): € 14 M em 2012, € 8 M em 2013, € 8 M em 2014, € 7M em 2015 e € 6 M em 2016.

(b) Não inclui empréstimos do Estado às Parvalorem e Parups, classificados por estas entidades em receita de passivos financeiros e na despesa dos

serviços integrados em ativos financeiros (€ 1.033 M em 2012, € 510 M em 2013, € 489 M em 2014, € 369 M em 2015 e € 425 M). Não inclui também os

empréstimos do Estado à Parparticipadas (em 2015 € 39 M e € 16 M em 2016), nem o aumento de capital (€ 53 M, em 2015).

(c) Os dados acima apurados apresentam a versão consolidada das receitas e despesas do Estado com a Parvalorem, a Parups e, a partir de 2015, a

Parparticipadas, perspetiva diferente da apresentada na Caixa 6 – Apoios públicos ao sector financeiro, em que estas sociedades veículo são

consideradas como entidades financeiras apoiadas, beneficiárias de empréstimos recebidos do Estado (€ 2.875 M), que não foram totalmente utilizados

até 31-12-2016.

Fonte: CGE/2011, CGE/2012, CGE/2013, CGE/2014, CGE/2015, CGE/2016, DGTF, Parvalorem, Parups e Parparticipadas.

2. A Parvalorem, a Parups e a Parparticipadas apresentavam, no final de 2016, capitais próprios negativos

que totalizavam € 2.033 M1, encargos que poderão vir a ser suportados pelo Estado no futuro. Somados

aos já suportados, refletidos no saldo global, totalizavam € 5.692 M, a que irão acrescer os resultados negativos de exercícios seguintes.

1 Excluindo do passivo o montante dos empréstimos do Estado (€ 2.875 M), por a despesa por eles financiada já ter sido

considerada no saldo. Os balanços da Parups e da Parparticipadas são os das contas consolidadas destas entidades

remetidas ao Tribunal.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 223

Página 224

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

196

3. Em 31 de dezembro de 2016, as garantias prestadas pelo Estado às sociedades veículo do ex-BPN

totalizavam € 2.714 M (diminuíram € 383 M por efeito dos reembolsos de empréstimos da CGD garantidos pelo Estado).

4. Da verificação que incidiu sobre as despesas decorrentes da reprivatização do BPN, que em 2016

ascenderam a € 27,5 M1, conclui-se que tais despesas resultam, quase totalmente2, do reembolso ao

Banco BIC de despesas em que o banco incorreu resultantes de litígios contra o BPN, de rescisões com

trabalhadores, do encerramento de agências, de depósitos não competitivos, de garantias do BPN a

terceiros e ainda de outras responsabilidades, nos termos previstos no Acordo-Quadro de 09/12/2011.

Relativamente às obrigações perpétuas BPN 2008, no valor de € 0,7 M, a DGTF esclareceu em sede de contraditório que foram já proferidas decisões judiciais que condenaram o BIC a proceder ao reembolso

de tais obrigações e que, nessa medida, o reembolso ao BIC decorreu no estrito cumprimento do Acordo

Quadro. O Tribunal não pode deixar de constatar que, mesmo numa situação em que o BIC não sofre

qualquer prejuízo patrimonial3, o Acordo Quadro impõe ao Estado a obrigação de o reembolsar, pelo

que neste ponto o referido Acordo é bastante desequilibrado, em desfavor do Erário Público.

Ouvidos em contraditório, o MF e a Parvalorem não apresentaram comentários adicionais

1 Embora estas despesas sejam pagas por conta da classificação económica 06 “Outras despesas correntes” podem dar

origem a ativos financeiros, sempre que ao Estado seja possível exercer o direito de regresso sobre os devedores originais,

nomeadamente no caso de execução de garantias e de obrigações. 2 Cerca de € 0,6 M corresponde a despesas que a DGTF realizou diretamente, como é o caso da contratação de advogados

e de aquisição de software e de serviços de consultadoria. 3 Uma vez que o BPN/BIC é o emitente destas obrigações, ao amortizá-las reduz o seu passivo em igual montante.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 224

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Tribunal de Contas

197

9.2. Património Imobiliário

No Parecer sobre a CGE o Tribunal aprecia a atividade financeira do Estado no domínio do património,

designadamente no que se refere ao inventário e balanço e às alterações patrimoniais ocorridas no

exercício. No que concerne às receitas e despesas originadas por essas alterações (como as provenientes

da alienação e aquisição de bens imóveis), cabe ainda ao Tribunal verificar o cumprimento da LEO e

demais legislação relativa à administração financeira do Estado1.

Na CGE de 2016:

 Continuam a não constar nem o inventário nem o balanço do Estado – vide 9.2.1.

 O relatório não reporta nem explica, como em anos anteriores, parte importante (83%) das variações patrimoniais ocorridas no ano. Cinge-se à apreciação das operações imobiliárias

conduzidas pela Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF), o que carece de fundamento e

compromete a utilidade da informação prestada.

 A receita contabilizada como obtida em 2016 com operações imobiliárias (€ 115 M) é superior à reportada no relatório da CGE2 (€ 23 M) e está afetada por deficiências (€ 92 M). A despesa contabilizada como paga em 2016 com operações imobiliárias (€ 207 M) é muito superior à reportada no relatório da CGE (€ 31 M) e está afetada por deficiências (€ 181 M) – vide 9.2.2.

 Quanto à implementação do princípio da onerosidade (PO), subsistem elevados montantes por cobrar. No triénio 2014-2016, apenas foi cobrado 49% do valor devido, estando € 26 M em dívida, no final de 2016 – vide 9.2.3.

As conclusões acima decorrem da evidência recolhida nas ações de controlo realizadas para o presente

PCGE que envolveram: revisões analíticas, revisão de ficheiros de dados e sua reconciliação com mapas

de suporte, revisão das operações contabilísticas e exame de registos do Sistema de Informação dos

Imóveis do Estado (SIIE)3. Essas ações incluíram a atualização das conclusões do exame à atividade do

Fundo de Reabilitação e Conservação Patrimonial (FRCP) – vide 9.2.4.

9.2.1. Inventário e Balanço

9.2.1.1. Objeto do exame

A LEO4 determina que a CGE inclui o relatório e os mapas contabilísticos gerais referentes à situação

patrimonial dos serviços e fundos da administração central. O Tribunal tem sublinhado que o facto de a

LEO também estabelecer que esses mapas apenas serão obrigatórios quando todas as entidades tiverem

adotado o POCP não justifica a falta de informação consolidada e consistente na CGE (em número e

valor de imóveis) sobre o inventário do património imobiliário, bem como sobre as correspondentes

variações patrimoniais ocorridas durante o ano.

1 Art. 41.º n.º 1 alínea c) da LOPTC. 2 Volume I – III. Situação Financeira das Administrações Públicas – III.4.6. Património Imobiliário do Estado. 3 O SIIE é um sistema desmaterializado de prestação e atualização permanente da informação relativa aos imóveis. Gerido

pela DGTF, este sistema foi concebido para a concretização do inventário. 4 Nos termos dos art. 73.º, n.º 4, e 75.º.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

198

Continua em falta o inventário geral dos bens imóveis do Estado e dos institutos públicos não obstante

ser, desde 2007, obrigação legal da DGTF1 apresentar esse inventário anualmente, para servir de base à

elaboração dos balanços que devem acompanhar a CGE. Assim, a informação sobre o inventário na

CGE cinge-se à inclusão no relatório de dados globais dos registos do SIIE, segundo os quais:

 Há 23.679 registos de imóveis (inseridos por 253 entidades).

 20.905 são considerados registos completos (15.559 relativos ao edificado e 5.346 a terrenos), entendendo como tal, os que contenham dados sobre o proprietário, o ocupante e a respetiva

situação geral (tipo de ocupação, áreas, valores de rendas) 2.

Esta informação, agregada e sem a valorização dos imóveis, é claramente insuficiente para refletir, de

forma verdadeira e apropriada, a situação do património imobiliário do Estado e dos institutos públicos.

9.2.1.2. Resultado do exame

Não obstante o juízo crítico recorrente formulado pelo Tribunal em anteriores Pareceres3, a DGTF

mantém o critério de considerar completos registos que não têm elementos fundamentais para o pleno

conhecimento dos imóveis (v.g. valor patrimonial e situação registral). Para isso, tem alegado a

dificuldade das entidades em obter a totalidade da informação sobre os imóveis ocupados. Esta alegação

não pode proceder, cabendo à DGTF criar as condições e diligenciar pela recolha dessa informação.

As lacunas e deficiências existentes nos registos do SIIE (em funcionamento desde fevereiro de 2009)

colocam em causa a fiabilidade e a utilidade dessa informação. Por exemplo, a falta do valor patrimonial

(VP)4 nos registos compromete, por si só, o cumprimento da lei quanto à elaboração do inventário.

Em contraditório, a DGTF informa que, na sequência das recomendações do Tribunal e tendo “(…) em mente a instituição de mecanismos de deteção de inconsistências e incongruências de dados, que concorram para

a melhoria qualitativa da informação residente no SIIE, (…) elaborou um Manual de Procedimentos, já objeto da devida divulgação e aplicação, onde é elencado um conjunto de regras que sustentam rotinas de revisão e

validação de dados no SIIE, diferenciadas pelo respetivo grau de prioridade e periodicidade, e onde se sistematiza

a atividade corrente de monitorização do Sistema.”

No final de 2016, dos 19.620 imóveis classificados no SIIE como património da administração central

em propriedade plena ou em compropriedade5, apenas 6.221 (32%) apresentavam registo de VP no valor

global de € 8.788 M. Este valor inclui 30 registos com VP inferior a € 1 e outros cujo VP carece de confirmação6. Acresce que apenas 11.854 (60%) dispunham de informação sobre registo matricial.

1 Nos termos dos art. 118.º e 119.º do Decreto-Lei 280/2007, de 07/08. 2 Com as alterações introduzidas no SIIE, em 2012, também passaram a considerar-se completos os registos sem dados

sobre ocupantes reportados a imóveis do Estado devolutos ou a imóveis de entidades privadas disponíveis. 3 Pareceres sobre as CGE de 2012 (página 261), de 2013 (página 231), de 2014 (página 237) e de 2015 (página 202). 4 Valor patrimonial é o valor atribuído ao imóvel nos termos do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis (CIMI) e

inscrito na matriz predial urbana ou rústica da freguesia onde se localiza esse imóvel. 5 Excluindo os classificados no sistema como sendo propriedade de entidades do SEE (382 imóveis), de EPI (16), das

administrações regionais (30), das administrações locais (1.544) ou de entidades particulares (2.085). 6 Designadamente as situações já referidas no PCGE 2015: 4 frações com valor patrimonial de € 223,0 M, € 174,9 M,

€ 157,3 M e € 157,2 M (SIIE 24212, 19704, 24210 e 24211, respetivamente) e um prédio urbano com valor patrimonial de € 1.870,4 M (SIIE 23335).

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Tribunal de Contas

199

O relatório da CGE não explica a variação dos registos no SIIE refletida no quadro seguinte.

Quadro B. 94 – Evolução dos registos no SIIE

Registos Completos Incompletos Totais

2015 2016 Variação 2015 2016 Variação 2015 2016 Variação

Edificado 15 761 15 559 -202 2 324 2 345 21 18 085 17 904 -181

Terrenos 5 337 5 346 9 408 429 21 5 745 5 775 30

Total 21 098 20 905 -193 2 732 2 774 42 23 830 23 679 -151

Fonte: SIIE e Relatórios das CGE de 2015 e de 2016.

A variação dos imóveis resulta da inserção de novos registos, do abate de imóveis relativo a 2016 e a

anos anteriores. Parte significativa dos registos incompletos indicados no relatório da CGE é constituída

por 1.782 registos criados pela Infraestruturas de Portugal, SA, e por 456 registos no âmbito do MF.

Neste último caso, segundo a DGTF, trata-se de imóveis que transitaram para o Estado por herança, sem

informação da existência de ocupações, "continuando a admitir-se que grande parte se encontre devoluta e que, por conseguinte, de acordo com as regras do SIIE, após assinalada a situação de disponibilidade, estes

registos venham a ser considerados completos"1.

O Regime do Património Imobiliário Público (RPIP)2 faz depender a concretização dos objetivos de

coordenação e gestão patrimonial da existência de um programa de inventariação (PI) realizado com

base num programa de gestão do património imobiliário (PGPI)3 – ambos plurianuais, devendo o PGPI ter a duração de 4 anos4. Até ao presente, só foram aprovados o PGPI e o PI para o período 2009-2012,

tendo aí sido definido como meta, para a inventariação, uma execução de 100% no final de 20125.

Esta meta nunca foi alcançada, permanecendo a inventariação de imóveis do Estado e dos institutos

públicos incompleta, o que não torna fiável a informação relativa ao inventário. Importa, assim, que o

Governo promova a atualização do PGPI e do PI6 e adote uma abordagem estratégica e integrada dos

diferentes eixos de atuação (como os de inventariação e regularização jurídica) e obter o contributo de

todas as entidades intervenientes no processo.

Essa atualização é tanto mais necessária dado que, como dispõe o RPIP, um dos objetivos do PI é

contribuir para a integral execução do SNC-AP7 e que a identificação do património imobiliário e a sua

adequada valorização são elementos fundamentais para a implementação da Entidade Contabilística

Estado que integrará o património imobiliário do Estado.

Em contraditório, a DGTF alega que “(…) as lacunas observadas relativamente à fiabilidade e integralidade da informação apurada no SIIE, designadamente quanto à falta do VP, ultrapassam a eficácia do sistema, e, por

conseguinte, situam-se a montante da própria inventariação do património imobiliário público, relacionando-se

antes com a dinâmica e complexidade inerente à tarefa de regularização jurídica dos bens do Estado”.

1 Relatório do SIIE do 4.º Trimestre de 2016, página 3. 2 Aprovado pelo Decreto-Lei 280/2007, de 07/08. 3 O PGPI assentava em instrumentos definidos por referência a eixos de atuação: inventariação, regularização jurídica de

imóveis, regime de utilização, programa de ocupação, conservação e reabilitação e gestão do domínio público. 4 Art. 113.º n.º 2 e 114.º n.º 3 do Decreto-Lei 280/2007, de 7/8. 5 Aprovados através da RCM 162/2008, de 24/10 e da Portaria 95/2009, de 29/10, respetivamente. 6 Recomendação 49 – PCGE 2015. 7 Nos termos do n.º 2 do art. 114.º do Decreto-Lei 280/2007, de 07/08, conjugado com o n.º 2 do art. 17.º do Decreto-Lei

192/2015, de 11/09, que aprovou o SNC-AP.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

200

O MF adianta que, no OE 2018, foram previstas verbas para a DGTF e a ESTAMO “(…) no sentido de

se proceder à inventariação e regularização registral, cadastral e matricial dos imóveis do Estado” E que está

em estudo “(…) uma eventual revisão legislativa do atual regime jurídico, com o objetivo de melhorar a eficiência dos procedimentos inerentes à gestão do património imobiliário público.”

Alega ainda que “(…) a obtenção e tratamento do valor patrimonial dos imóveis (VP) (…) revela-se igualmente uma tarefa muito complexa e morosa, para a qual a DGTF não possui manifestamente recursos suficientes e

adequados, (…).”

Recorda-se que é o regime legal aplicável a impor que, para efeitos de inventário, deve ser fixado o VP

dos imóveis, determinado nos termos do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis, e que o SNC-AP

estabelece a utilização do VP1 na mensuração dos imóveis.

9.2.2. Operações Imobiliárias

9.2.2.1. Objeto do exame

Em 2016, foram contabilizados na CGE € 115 M como receita obtida através da alienação de património imobiliário e € 207 M como despesa incorrida com património imobiliário. O Tribunal tem vindo a recomendar2 que o Governo, através da DGO, assegure que a informação reportada no relatório da CGE

sobre o património imobiliário seja integral (abrangendo a totalidade das variações patrimoniais3) e

consistente com a execução orçamental relativa a operações imobiliárias registadas pelos organismos da

administração central na Conta.

9.2.2.2. Resultado do exame

O relatório da CGE de 2016 continua (como em anos anteriores) sem reportar e explicar parte importante

(83%) das variações patrimoniais ocorridas nesse ano. Dos € 115 M contabilizados como receita obtida, apenas reporta € 23 M (20%) recebidos com as alienações de património imobiliário promovidas pela DGTF. E dos € 207 M contabilizados como despesa incorrida, somente reporta € 31 M (15%) relativos a aquisições de património imobiliário promovidas pela DGTF.

Cingir a apreciação do património imobiliário às operações imobiliárias conduzidas pela DGTF carece

de fundamento e coloca em causa a utilidade da informação prestada.

Os quadros seguintes sintetizam os resultados do exame realizado e refletem as diferenças entre os

valores relativos a operações imobiliárias contabilizados nos mapas da CGE e os reportados no respetivo

relatório. Os quadros discriminam as receitas obtidas e as despesas pagas em 2016, por situação regular

ou irregular, classificada como tal em função das deficiências detetadas (v.g.: montantes omissos do

relatório da CGE).

1 No SNC-AP é designado por valor patrimonial tributário – vide NCP 5 — Ativos Fixos Tangíveis do SNC-AP. 2 Recomendações 47 e 48 do PCGE 2015 que reiteram recomendações anteriores. 3 Além da alienação e da aquisição, incluem outras operações como as permutas e as dações em pagamento.

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Página 229

Tribunal de Contas

201

Quadro B. 95 – Receita obtida em 2016 com operações imobiliárias

(em milhares de euros)

Receita Situação Mapas CGE Relatório

CGE Deficiências

Por validar Irregular 91 937 91 937

Do Estado contabilizada pela DGTF Regular 8 423 8 423

Do Estado não contabilizada pela DGTF Irregular 383 72 383

De outras Entidades contabilizado por essas entidades Regular 14 377 14 377

Total 115 120 22 871 92 320

Fonte: CGE, SGR, SIGO e DGTF.

Quadro B. 96 – Despesa paga em 2016 com operações imobiliárias

(em milhares de euros)

Despesa Situação Mapas CGE Relatório

CGE Deficiências

Por validar – Aquisição Irregular 6 355 6 355

Por validar – Construção Irregular 38 707 38 707

Por validar – Conservação / Reparação Irregular 79 310 79 310

Por validar – Outras Irregular 54 368 54 368

Do Estado – Aquisição Regular 28 700 28 700

Omitida – Dação em cumprimento de dívida Irregular 2 458 2 458

Total 207 440 31 158 181 198

Fonte: CGE, SGR, SIGO e DGTF.

Destaca-se que 80% das receitas e 87% das despesas contabilizadas nos mapas da CGE como relativas

a operações imobiliárias não foram validadas pelo MF. O exame suscita as observações seguintes:

 Nas receitas, 80% (€ 92 M) dos valores contabilizados apresentam deficiências, dos quais 99,6% estão por validar e 0,4% não foram registados pela DGTF, mas por outras entidades, em

incumprimento do regime legal de contabilização das receitas do Estado (RCRE)1.

 Nas despesas, 86% (€ 179 M) dos valores contabilizados estão por validar e não teve relevação contabilística a entrega ao Estado de um imóvel por dação em pagamento, para regularização de

passivos a favor do Estado Português por parte da Parque Expo (€ 2 M).

Ora, o relatório da CGE deve explicar com o detalhe necessário as operações imobiliárias efetuadas

pelas entidades que integram a administração central do Estado e contabilizadas nos mapas

contabilísticos gerais da Conta, independentemente de as operações serem, ou não, da responsabilidade

da DGTF.

A DGTF, a partir de 2015, passou a assegurar como entidade administradora da receita obtida por

alienação de imóveis, a relevação como receita do Estado, da totalidade do produto da alienação2,

independentemente da posterior afetação de parte desse produto a outras entidades, o que constitui um

progresso no sentido do cumprimento do regime de contabilização das receitas do Estado3.

1 Decreto-Lei 301/99, de 05/08, e Portaria 1122/2000, de 28/07. 2 Ainda assim, verificaram-se duas situações em que outras entidades procederam indevidamente ao registo no SGR de

receita de alienações de imóveis do Estado no total de € 0,4 M. 3 Decreto-Lei 301/99, de 05/08 e da Portaria 1122/2000, de 28/07.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 229

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

202

Apesar disso, os procedimentos associados à contabilização dessas verbas carecem de desenvolvimento.

A receita proveniente da alienação de imóveis do património dos institutos públicos deve ser registada

no SGR pela DGTF como receita extraorçamental e entregue às entidades alienantes, se for o caso, para

estas registarem na sua contabilidade o valor integral da venda. Se parte desse valor for afeto à DGTF

ou ao FRCP, é a entidade alienante que a deve entregar e registar como despesa.

Em contraditório, a DGTF alega que a situação é corrigida no OE 2017, através da inscrição das verbas

a transferir para os SFA em operações extraorçamentais, o que os mapas de desenvolvimento orçamental

e a orçamentação no SIGO confirmam.

9.2.3. Princípio da Onerosidade

9.2.3.1. Objeto do exame

O relatório da CGE descreve o processo de implementação do princípio da onerosidade (PO) em 2016

e apresenta em quadros, por ministério, os valores pagos e por pagar relativos às contrapartidas devidas

por aplicação do PO em 2014, 2015 e 2016 bem como a afetação de verbas recebidas, evidenciando que:

 Em 2016 foram pagos € 13,4 M de contrapartidas (€ 1,1 M relativos ao PO de 2014 e de 2015);

 Em 31/12/2016, faltavam pagar € 26,3 M (€ 3 M relativos ao PO de 2014, € 6,7 M ao PO de 2015 e € 16,6 M ao PO de 2016);

 Da receita contabilizada, no total de € 15,2 M, foram afetos: € 8,2 M ao FRCP, € 6,3 M a receita do Estado e € 0,8 M à DGTF.

9.2.3.2. Resultados do exame

O RPIP consagrou em 2007 o PO ao determinar: “O espaço ocupado nos bens imóveis do Estado deve ser avaliado e sujeito a contrapartida” que “pode assumir a forma de compensação financeira a pagar pelo serviço

ou organismo utilizador”, no sentido de aumentar a racionalidade e a eficiência económico-financeira da

ocupação dos imóveis do Estado. Previa-se a sua implementação gradual.

O Regulamento do PO1, apenas aprovado em 2012, estabeleceu que a contrapartida pela ocupação dos

imóveis era devida, desde janeiro de 2013, para as áreas registadas no SIIE até 31/12/2012. Apesar disso,

em 2013, o pagamento dessas contrapartidas cingiu-se a organismos do MF (como sucedia desde 2010)

adiando para 2014 a implementação do PO nos termos regulamentados.

No entanto, o prazo de pagamento das contrapartidas tem sido sucessivamente alargado. Em 2016, foi

permitido à DGTF que liquidasse e cobrasse todas as contrapartidas devidas em 2014 e 2015, cujo

pagamento não tivesse ocorrido até 31/12/20152.

1 Portaria 278/2012, de 14/09. 2 N.º 1 do art. 81.º do DLEO 2016. O DLEO 2017 permite que a DGTF liquide e cobre as contrapartidas devidas nos anos

de 2014, 2015 e 2016, cujo pagamento não tenha ocorrido até 31/12/2016. A LOE 2015 já autorizava a DGTF a liquidar

e cobrar as contrapartidas devidas em 2014 e cujo pagamento não tivesse ocorrido até 31/12/2014.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 230

Página 231

Tribunal de Contas

203

Este sucessivo adiamento põe em causa o objetivo da implementação do PO e penaliza as entidades

cumpridoras1. Em contraditório, a DGTF alega não ter responsabilidade na escassa implementação do

PO que se deve, sobretudo, “(…) à alegada indisponibilidade orçamental dos serviços e organismos para

suportar o encargo inerente ao pagamento das contrapartidas devidas (…)”.

Como se evidencia no quadro seguinte, a 31/12/2016 ainda se encontravam em dívida € 9,7 M relativos à aplicação do PO em anos anteriores (€ 3 M em 2014 e € 6,7 M em 2015). Em 30/06/2017, ainda se encontravam em dívida € 9,1 M de contrapartidas, € 2,9 M relativas a 2014 e € 6,2 M relativos a 2015, o que representa mais de 40% do valor anual devido (VAD).

No que respeita ao ano de 2016, a proporção dos valores em dívida aumentou, em grande medida, devido

ao aumento do VAD2. Em 31/12/2016 faltavam pagar € 16,6 M relativamente ao PO de 2016 (57% do VAD) e em 30/06/2017, ainda faltavam pagar € 15,1 M (52% do VAD).

Quadro B. 97 – Princípio da Onerosidade entre 2014 e 2016 – Valor anual devido, cobrado e em dívida

(em milhões de euros)

PO

Valor

Anual

Devido

Valor Cobrado Valor em Dívida

2014 2015 2016 2017 Total Em

31/12/2015

Em

31/12/2016

Em

30/06/2017

PO 2014 7,32,21,90,20,1 4,4 3,23,0 2,9

PO 2015 15,27,60,90,5 9,0 7,66,7 6,2

PO 2016 28,912,31,4 13,8 16,6 15,1

Total 51,4 2,2 9,5 13,4 2,1 27,2 10,9 26,3 24,2

Fontes: DGTF, Relatórios da CGE/2014, da CGE/2015 e da CGE/2016.

Assim, no triénio 2014-2016, foi cobrado menos de metade do valor devido, estando em dívida, no final

de 2016, € 26,3 M. Em 30/06/2017, mantêm-se em dívida € 24,2 M. Da receita contabilizada em 2016 (€ 15,2 M) foram afetos: € 8,2 M ao FRCP, € 6,3 M a receita do Estado e € 0,8 M à DGTF, conforme o disposto no Regulamento do PO. A receita contabilizada não coincide com a cobrada porque valores

obtidos em anos anteriores só foram registados como receita em 2016 (€ 1.869 m) e nem toda a receita recebida em 2016 foi contabilizada (€ 40 m) neste ano, com desrespeito do princípio orçamental da anualidade3 e incumprimento do regime legal de contabilização das receitas do Estado (RCRE)4.

Na contabilização das contrapartidas recebidas subsistiram em 2016 as deficiências já assinaladas pelo

Tribunal pois a DGTF continuou a não contabilizar como receita do Estado a parte afeta ao FRCP e a

entregar a respetiva verba por transferência extraorçamental não registada e o FRCP continuou a registar

essas verbas como rendas. O Tribunal tem recomendado5 que a receita do PO deve ser integral e

tempestivamente contabilizada no SGR, como receita do Estado, e as verbas afetas ao FRCP devem ser

contabilizadas como despesa do Estado e entregues através de transferências orçamentais – vide 9.2.4.2.

1 O DLEO 2016 prevê que o incumprimento das contrapartidas possa determinar a suspensão de contratos de financiamento

que beneficiem da comparticipação do FRCP, bem como, em casos de especial gravidade, de outros contratos de

financiamento em vigor no âmbito do respetivo ministério que beneficiem daquela comparticipação (por despacho do

membro do Governo responsável pela área das finanças - n.º 3 do art. 81.º do DLEO 2016), mecanismo não acionado. 2 O valor por m2, de acordo com o n.º 2 do art. 4.º do Regulamento do PO, é: € 1 em 2014, € 2 em 2015 e € 4 em 2016. 3 Art. 14.º da LEO (aprovada pela Lei 151/2015, de 11/09). 4 Decreto-Lei 301/99, de 05/08, e Portaria 1122/2000, de 28/07. 5 Relatório de Auditoria n.º 9/2014-2.ª Secção e Relatório de Auditoria n.º 12/2016-2.ª Secção.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 231

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

204

Em contraditório, a DGTF e o FRCP alegam que a situação é corrigida no OE 2017, através da inscrição

das verbas afetas ao Fundo como transferências correntes (quer na despesa do Estado, quer na receita

do Fundo), o que os mapas de desenvolvimento orçamental e a orçamentação no SIGO confirmam.

Em 2016, o Regulamento do PO foi alterado determinando que, a partir de 2017, o pagamento passaria

a ser efetuado por documento único de cobrança (DUC), o que não sucedeu, reconhecendo a DGTF

dificuldades na implementação desse circuito1. A introdução do DUC permitirá, por um lado, um ganho

de eficácia da DGTF na gestão e controlo dos recebimentos (substituindo a recolha de informação em

ficheiros informáticos) e, por outro, a adequada relevação contabilística no SGR não só das cobranças,

mas também das liquidações e, por essa via, determinar, em cada momento, a receita por cobrar.

9.2.4. Atividade do Fundo de Reabilitação e Conservação Patrimonial

9.2.4.1. Objeto do exame

O relatório da CGE refere a afetação ao FRCP de parte das receitas relativas ao património imobiliário

do Estado: € 8 M relativos às contrapartidas cobradas por aplicação do PO e € 0,4 M relativos ao produto da alienação de imóveis da propriedade do Estado. O quadro seguinte evidencia a execução orçamental

do Fundo reportada no SIGO e refletida na Conta.

Quadro B. 98 – Receitas e Despesas do FRCP em 2016

(em milhares de euros)

Receita Valor Despesa Valor

Rendimentos da Propriedade 149 Aquisição de bens e serviços correntes 9

Venda de Bens e Serviços Correntes 8 172 Transferências Correntes 462

Transferências de Capital 419 Outras Despesas Correntes 34

Saldo da gerência anterior 5 320 Transferências de Capital 2 637

Total 14 060 Total 3 141

Fonte: SIGO e CGE – Volume II – Tomo X (Mapa 31)

9.2.4.2. Resultados do exame

O FRCP foi criado em 2009 para financiar a reabilitação e conservação de imóveis do Estado2. O

Tribunal tem vindo a assinalar o contributo diminuto do Fundo no financiamento da reabilitação e

conservação dos imóveis do Estado, a existência de insuficiências ao nível de gestão das candidaturas e

detetou deficiências relevantes ao nível da contabilização e em matéria de prestação de contas3.

Embora o número de candidaturas tenha registado um acréscimo (32 candidaturas a € 15,5 M, em 2016, face a 26 candidaturas a € 10,8 M, em 2015), aumentou o tempo da sua apreciação e decisão4 do que resultou a duplicação dos processos pendentes no final do ano (24 em 31/12/2015 e 48 em 31/12/2016).

1 Portaria 222-A/2016, de 12/08. 2 O FRCP tem a natureza de património autónomo sem personalidade jurídica, dotado de autonomia administrativa e

financeira (Decreto-Lei 24/2009, de 21/01, com as alterações introduzidas pelo art. 170.º OE 2013). O seu Regulamento

de Gestão foi aprovado pela Portaria 293/2009, de 24/03. 3 Relatórios de auditoria 9/2014 - 2.ª Secção e 12/2016 - 2.ª Secção, sobre a atividade do FRCP, e PCGE 2013, 2014 e

2015. 4 Conforme é reconhecido no Relatório de Gestão e Contas de 2016, página 7.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 232

Página 233

Tribunal de Contas

205

Das 32 candidaturas apresentadas em 2016, 29 ainda se encontravam em apreciação no final do ano1.

A comissão diretiva (CD) do Fundo, à qual compete selecionar as operações a financiar, apenas

funcionou com dois dos três membros que a devem constituir, nos termos legais2, dado que não foi

substituído um membro que cessou funções em 01/01/2016 por motivo de aposentação.

Em 2016 o FRCP celebrou 12 novos contratos para financiar € 1,8 M, menos quatro contratos e menos € 1,8 M a financiar face à comparticipação contratualizada no ano anterior. Foram ainda celebrados seis aditamentos a contratos existentes que implicaram a redução de € 250 m na comparticipação do Fundo3.

De 2010 a 2016 foram pagos € 13,2 M de comparticipações (€ 3,1 M4 em 2016), apenas 26% das disponibilidades do Fundo (€ 50,7 M no final de 2016). Apesar disso, a CD do Fundo decidiu não prosseguir com o processo de apreciação e hierarquização de uma candidatura por considerar que o valor

disponível para 2016 era "insuficiente para fazer face ao valor da comparticipação solicitada" (€ 3,3 M)5.

No final de 2016, permaneciam por celebrar 17 contratos de candidaturas aprovadas. Dos contratos

celebrados, 11 não tinham ainda sido executados na totalidade (faltando entregar € 1,5 M). Esta situação é atribuída à falta de disponibilidade orçamental das entidades ocupantes para suportar a parte da despesa

que lhes cabe.

A parte da receita proveniente da implementação do PO (€ 8 M)6 constituiu em 2016 a principal fonte de financiamento do Fundo, representando 92% da receita. A restante teve origem na parte que lhe foi

atribuída na receita da alienação de imóveis do Estado (€ 419 m), nos juros de aplicações financeiras (€ 134 m) e na parte das receitas provenientes do arrendamento de edifícios (€ 140 m) e terrenos (€ 15 m).

A contabilização orçamental do Fundo continua a ser inapropriada, contrariando princípios e regras

orçamentais e o RCRE no que respeita à parte que lhe é afeta da receita da implementação do PO (€ 8 M) e das receitas resultantes das rendas de edifícios (€ 140 m) e de terrenos (€ 15 m) que continuam a ser registadas como rendas e não como transferências do Estado7 como deveriam, uma vez que são devidas

pela ocupação de imóveis propriedade do Estado e não património privativo do Fundo.

Para além disso, o montante (€ 39,8 M) aplicado em certificados especiais de dívida pública de curto prazo (CEDIC) continua indevidamente excluído do saldo orçamental, impedindo a consistência do

saldo de disponibilidades nos documentos de prestação de contas.

1 As restantes 12 candidaturas pendentes no final de 2016: duas foram apresentadas em 2015, quatro em 2014, oito em

2013, uma em 2011 e quatro em 2010 (Relatório de Gestão e Contas, página 13). 2 A presidência do Fundo cabe, por inerência, ao responsável pela DGTF, sendo os membros da Comissão Diretiva

nomeados através de despacho do membro do Governo responsável pela área das finanças, para mandatos de três anos,

sem auferir remuneração pelo exercício dessas funções (art. 6.º do Decreto-Lei 24/2009). 3 Dos seis aditamentos a contratos de financiamento celebrados em 2014, 2015 e 2016: em cinco, foi reduzido o valor a

comparticipar pelo Fundo, em resultado da redução dos preços das respetivas empreitadas, e o restante, destinou-se a

incluir uma cláusula respeitante ao desembolso de 25% da comparticipação, não alterando o montante total a financiar. 4 Registadas em transferências correntes e de capital: € 1,7 M (contratos de 2015) e € 1,4 M (contratos de anos anteriores). 5 Candidatura para reabilitação do edifício do Ministério da Educação na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa (Ata 3/2016). 6 Até 12/08: afetação de 49% do produto das contrapartidas (art. 7.º da Portaria 278/2012, de 14/09) e de 26% (Despacho

SETF). A partir de 12/08, 50% do produto das contrapartidas (alteração do art. 7.º da Portaria 278/2012 pela Portaria

222-A/2016, de 12/08). Foi ainda deduzida uma restituição de € 122 m relativa a uma contrapartida paga em 2015. 7 Para 2016, o FRCP inclui no orçamento uma receita de € 96,5 m em transferências correntes, mas não registou execução.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 233

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

206

Para esta inconsistência, concorreu a comunicação, pela DGO1, de procedimentos sobre a contabilização

das aplicações em CEDIC que obstam à relevação integral, nos fluxos de caixa, dos saldos de

disponibilidades inscritos no balanço.

O Tribunal recomendou2 (ao MF e à DGO) a adoção de procedimentos de contabilização que assegurem

a verificação sistemática da consistência nos documentos de prestação de contas do saldo de

disponibilidades (caixa e equivalentes de caixa).

O procedimento definido pela DGO para contabilizar, em despesa, as subscrições e, em receita, os

reembolsos dos CEDIC obsta à relevação integral, nos fluxos de caixa, dos saldos de disponibilidades

inscritos no balanço, inconsistência patente nos documentos de prestação de contas do FRCP (no final

de 2016, o saldo de disponibilidades registado no balanço é de € 51 M, quando o saldo resultante dos fluxos de caixa é de € 11 M).

Em suma, as contas do FRCP e os pertinentes mapas da CGE estão materialmente afetados por erros.

Quadro B. 99 – Erros na Demonstração dos Fluxos de Caixa

(em milhares de euros)

Fluxos de Caixa Registos Erros Tipo de Erro

Saldo da Gerência Anterior 5 320 39 828 Omissão

Receitas 8 740 8 187 Especificação

Despesas 3 141

Saldo para a Gerência Seguinte 10 920 39 828 Omissão

Em contraditório, o MF, o FRCP e a DGO alegam que a inconsistência do saldo de disponibilidades nos

documentos de prestação de contas, por omissão dos equivalentes de caixa (CEDIC), decorre das

instruções constantes das Circulares Série A n.º 1379, de 18/12/2015, e n.º 1387, de 03/08/2017. O MF

e o FRCP acrescentam que “(…) a adoção de procedimentos de contabilização que assegurem a verificação sistemática da consistência nos documentos de prestação de contas do saldo de disponibilidades (caixa e

equivalentes de caixa), conforme mencionado em sede do contraditório de anteriores relatórios, encontra-se

dependente da divulgação de novos procedimentos relativos à contabilização de CEDIC.”

Sobre esta questão refere-se que a mesma ficará resolvida com a plena aplicação do SNC-AP, legalmente

prevista para 01/01/2018. A demonstração dos fluxos de caixa passará a evidenciar no saldo, também,

os equivalentes de caixa.

1 Circular Série A n.º 1379, de 18/12/2015. Nomeadamente que a subscrição de títulos relativa a novas aquisições tem

expressão orçamental em despesa como ativos financeiros e que as aplicações financeiras vencidas e não renovadas

dentro do mesmo ano económico devem ser registadas no ano do reembolso como receita de ativos financeiros. 2 Recomendação 12 – PCGE 2014 e 55 – PCGE 2015 (e correspondentes ênfases no Juízo sobre a Conta da Administração

Central de cada PCGE) e Recomendações 2 e 14 do Relatório de Auditoria n.º 12/2016–2.ª Secção.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 234

Página 235

Tribunal de Contas

207

10. OPERAÇÕES DE TESOURARIA

No Parecer sobre a CGE o Tribunal aprecia a movimentação de fundos públicos por operações de

tesouraria, designadamente à luz das normas da LEO e demais legislação relativa à administração

financeira do Estado1. Essa apreciação, desenvolvida neste capítulo, decorre da evidência recolhida no

âmbito dos trabalhos realizados para o presente Parecer, os quais envolveram revisões analíticas,

formulação de questionários e exame das respostas dos serviços responsáveis, revisão de ficheiros

informáticos de dados e sua reconciliação com mapas de suporte e exame da contabilidade do Tesouro

e de contas de organismos sujeitos à unidade da tesouraria do Estado.

A LEO estabelece os princípios a que se encontra sujeita a execução do OE, entre os quais os da

universalidade, anualidade e especificação. Este último concretiza-se pela aplicação dos códigos de

classificação das receitas e despesas públicas2 que elencam, inter alia, os diversos tipos de operações

extraorçamentais. A aplicação desses códigos é, pois, extensiva à totalidade dos fluxos financeiros

movimentados pelos serviços e fundos da administração central (SFAC) obrigando à contabilização, em

operações extraorçamentais, dos fluxos financeiros que não tenham natureza orçamental.

O regime da tesouraria do Estado3 (RTE) estabelece que a atividade da tesouraria do Estado compreende

os movimentos de fundos públicos em execução do OE e por operações específicas do Tesouro (OET),

“designados, em geral, por operações de tesouraria”, geridos globalmente4 e registados na contabilidade do

Tesouro (CT) pelo IGCP5. Determina também que a detenção e a movimentação de disponibilidades por

SFAC processa-se através de contas do Tesouro (princípio da unidade de tesouraria)6.

O relatório da CGE de 20167 inclui os resultados da monitorização efetuada pela DGO ao cumprimento

do princípio da unidade de tesouraria por SFAC (sem instituições do ensino superior nem entidades

dispensadas ou que não reportaram dados), segundo os quais apenas 0,7% (€ 31 M) dos depósitos e aplicações financeiras (€ 4.664 M) no final de 2016 se encontrava fora do Tesouro, em incumprimento. O relatório refere, ainda, a centralização de fundos no Tesouro com base no reportado pelo IGCP sobre

os depósitos e aplicações de entidades públicas existentes no final de 2014, 2015 e 2016 concluindo que “tem-se assistido a uma evolução positiva dos valores à ordem e aplicações dessas instituições no IGCP (…)

cujos valores rondam os 13 mil milhões de euros”.

Porém, como a seguir se detalha, os valores acima referidos não correspondem às disponibilidades dos

SFAC cujos fluxos financeiros integram, por lei, a atividade da tesouraria do Estado e, como tal,

deveriam ser integralmente registados na CT. A falta de informação sobre parte desses fluxos, a

subavaliação recorrente do incumprimento da unidade de tesouraria, a incompleta relevação das

operações de tesouraria na CGE e o não acolhimento de recomendações do Tribunal são limitações

importantes para o exame e para a formulação de uma opinião de auditoria sobre os valores envolvidos.

1 Art. 41.º da Lei de Organização e Processo do Tribunal de Contas. 2 Aprovados pelo Decreto-Lei 26/2002, de 14/02. 3 Aprovado pelo Decreto-Lei 191/99, de 05/06. 4 Exceto os relativos à segurança social que dispõe de uma tesouraria única, nos termos do n.º 5 do art. 1.º do RTE. 5 Art. 1.º do RTE. 6 Art. 2.º do RTE. 7 Onde se refere que a “atividade da tesouraria do Estado é um importante instrumento de suporte à gestão dos fundos

públicos e à otimização da gestão da liquidez” - Volume I - Tomo I - III.4.2. Tesouraria do Estado (páginas 128 a 137).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 235

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

208

10.1. Fluxos Financeiros na Tesouraria do Estado

10.1.1. Limitações da Conta dos Fluxos Financeiros

A CGE deve incluir a conta dos fluxos financeiros do Estado (CFFE)1.

Enquanto a CGE não apresentar o balanço e a demonstração de resultados dos SFAC2, a CFFE assume

especial importância e deve, por isso, comportar a integralidade dos fluxos financeiros desses serviços

fazendo a necessária distinção entre a execução orçamental e a restante movimentação, a relevar como

operações extraorçamentais.

A CFFE deve ainda distinguir os serviços integrados dos SFA e as receitas e despesas efetivas das não

efetivas, discriminando os respetivos resultados efetivos.

Na verdade, só deveriam ficar relevados em OET os fundos movimentados pelo IGCP no exercício da

função de “gestor da tesouraria”3 e por entidades não pertencentes à administração central (segurança

social, administração regional e local, sector empresarial do Estado, União Europeia e outras).

Assim construída, a CFFE desempenharia o papel central que lhe cabe na sistemática verificação da

consistência dos valores inscritos nos mapas referentes à execução orçamental e à situação de tesouraria.

Porém, a exemplo do sucedido em exercícios anteriores, a CGE de 2016 apenas compreende a conta dos

fluxos financeiros dos serviços integrados do Estado4 (CFFSIE) e esta encontra-se afetada por duas

sérias limitações que a impedem de ser uma verdadeira CFFE.

A primeira decorre do desrespeito das normas do RTE que tornam obrigatório o registo integral dos

fluxos financeiros dos SFAC na CT.

A segunda decorre da indevida inclusão em OET de uma parte dos fluxos financeiros dos serviços

integrados (SI) e da totalidade dos fluxos financeiros dos SFA registados na CT.

O quadro seguinte foi elaborado com base na CFFSIE apresentada nas CGE de 2015 e 2016, à qual se

acrescentaram linhas sem valores (células sombreadas) relativas às receitas e despesas dos SFA, pondo

assim em relevo a informação que falta discriminar para esse mapa poder ser tomado como a CFFE

referida na LEO. Por sua vez, excluíram-se da receita e da despesa efetiva dos SI não só as verbas de

passivos financeiros, mas também, as de ativos financeiros e de transferências intrassectoriais.

1 Nos termos do n.º 1 do art. 75.º da LEO. 2 Nos termos do n.º 6 do art. 75.º da LEO a apresentação desses mapas apenas será obrigatória quando todos os SFAC

tiverem adotado o POCP. 3 Nos termos do art. 7.º do Decreto-Lei 273/2007, de 30/07, a gestão da tesouraria do Estado é exercida desde 01/09/2007

pelo IGCP que sucedeu à DGTF nas atribuições relativas a essa gestão, bem como nos contratos vigentes e em todos os

procedimentos pendentes relativos a tais atribuições. 4 CGE de 2015 e de 2016 – Volume I – Tomo III – Mapas Contabilísticos Gerais – Fluxos Financeiros – Mapa XXXIII.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 236

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Tribunal de Contas

209

Quadro B. 100 – Conta dos Fluxos Financeiros

(em milhões de euros)

Referência Designação 2015 2016

1 Entrada – Saldo Inicial 13 886 8 991

2 RSI – Receita Efetiva 42 892 44 230

3 RSI – Receita Não Efetiva 75 564 65 015

4 RSI – Receita Extraorçamental 2 435 3 136

5 = 2 + 3 + 4 Entrada – RSI 120 891 112 381

6 RSFA – Receita Efetiva

7 RSFA – Receita Não Efetiva

8 RSFA – Receita Extraorçamental

9 = 6 + 7 + 8 Entrada – RSFA

10 Entrada – OET 748 227 693 657

11 = 1 + 5 + 9 + 10 Entrada Total 883 004 815 029

12 DSI – Despesa Efetiva 48 494 50 361

13 DSI – Despesa Não Efetiva 69 962 58 875

14 DSI – Despesa Extraorçamental 2 435 3 144

15 = 12 + 13 + 14 Saída – DSI 120 891 112 381

16 DSFA – Despesa Efetiva

17 DSFA – Despesa Não Efetiva

18 DSFA – Despesa Extraorçamental

19 = 16 + 17 + 18 Saída – DSFA

20 Saída – OET 753 123 689 681

21 Saída – Saldo Final 8 991 12 967

22 = 15 + 19 + 20 + 21 Saída Total 883 004 815 029

23 = 2 – 12 Resultado Efetivo dos SI -5 602 -6 132

24 = 6 – 16 Resultado Efetivo dos SFA

Fonte: CGE de 2015 a 2016 – Mapas Contabilísticos Gerais – Fluxos Financeiros – Mapa XXXIII.

O quadro mostra que o mapa apresentado na CGE é, na realidade, mais abrangente do que a CFFSIE

pois inclui em OET fluxos financeiros de outras entidades. Na verdade, trata-se da conta dos fluxos

financeiros registados na CT faltando-lhe, para constituir a aludida CFFE, os fluxos financeiros dos

SFAC não registados na CT e a discriminação dos fluxos financeiros dos SI e dos SFA incluídos em

OET como receitas (RSI e RSFA) e despesas (DSI e DSFA) desses serviços.

Em contraditório, a DGO alega que os dados disponíveis sobre os SFA decorrem dos reportes da

responsabilidade desses organismos e do cumprimento das instruções emitidas.

Ora, é precisamente por esses dados não serem consistentes com os registados em OET que a referida

discriminação continua por concretizar, não obstante ser uma das deficiências que inviabilizam a

apresentação da CFFE.

Tais deficiências, ao desrespeitarem normas legais, princípios orçamentais (universalidade, anualidade

e especificação) e, ainda, o princípio da unidade de tesouraria, têm motivado reservas do Tribunal

expressas nos Pareceres sobre a CGE relativamente a operações de tesouraria e execução orçamental1.

1 São materiais por natureza as diferenças entre o universo financeiro da CFFE (demonstração de fluxos de caixa) e o da

execução orçamental (demonstração de resultados) que, em contabilidade de caixa, não deveriam existir.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

210

Um exemplo da inconsistência gerada por essas irregularidades é a execução orçamental da RTP

(€ 254 M) sem correspondência na respetiva conta no Tesouro1. Tal divergência decorre da indevida omissão na CT dos fluxos financeiros da RTP apesar da sua principal receita provir do Estado através

da consignação do produto da contribuição para o audiovisual (€ 176 M em 2016) – vide 3.2.2.2. e 3.2.6.1.

10.1.2. Limitações do Balanço da Tesouraria do Estado

Com base nos balanços da tesouraria2 e em informação complementar prestada pelo IGCP sobre os

organismos titulares das contas no Tesouro foi elaborado o quadro seguinte:

Quadro B. 101 – Balanço da Tesouraria do Estado

(em milhões de euros)

Referência Designação 31/12/2015 31/12/2016

1 = Soma de 2 a 6 Disponibilidades e Aplicações 8 991 12 967

2 Depósitos no Banco de Portugal 5 593 11 845

3 Outros Depósitos no País 210 219

4 Depósitos no Estrangeiro 5 4

5 Caixas do Tesouro 66 398

6 Aplicações 3 117 500

7 = Soma de 8 a 11 Terceiros 2 025 2 546

8 Devedores – IGCP – Antecipação de Fundos (UE) 2 025 2 546

9 Devedores – IGCP – Antecipação de Receita - -

10 Devedores – IGCP – Valores a regularizar - -

11 Devedores – SFAC – Valores a regularizar - -

12 = 1 + 7 Ativo 11 016 15 513

13 = Soma de 14 a 20 Terceiros 11 010 15 504

14 Credores – IGCP – Valores a regularizar - -

15 Credores – IGCP – Produto de Empréstimos 4 090 6 777

16 Credores – SFAC – Regiões Autónomas 97 105

17 Credores – SFAC – Autarquias 311 367

18 Outros Devedores e Credores – SFAC 5 968 6 925

19 Credores – União Europeia 220 378

20 Outros Devedores e Credores 325 951

21 Resultados de Operações Financeiras 6 9

22 = 13 + 21 Passivo 11 016 15 513

Fonte: CGE de 2015 a 2016 – Elementos informativos diversos – Balanço da Tesouraria do Estado.

Cabe sublinhar liminarmente que as limitações apontadas à Conta dos Fluxos Financeiros afetam

igualmente o Balanço da Tesouraria do Estado que não releva, como deveria, os saldos de todas as

contas dos SFAC (visto que parte dessas contas é indevidamente omitida da CT por ser movimentada

fora do Tesouro) nem nas contas apropriadas (de execução do OE, através de operações orçamentais ou

extraorçamentais) mas em contas de terceiros (de OET).

Com essas limitações, o quadro anterior mostra que o saldo das disponibilidades e aplicações

(€ 12.967 M) aumenta € 3.976 M (44,2%) com destaque:

1 A conta da RTP na CT apenas regista € 42 m de saldo inicial e a saída de € 18 m daí resultando o saldo final de € 23 m. 2 CGE de 2015 e 2016 – Volume II – Tomo 1 – Elementos informativos diversos – Balanço da Tesouraria (Mapa 47).

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Tribunal de Contas

211

 para o acréscimo de € 6.252 M (111,8%) nos depósitos no Banco de Portugal, por aumento do saldo da conta de apoio financeiro através do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira

(EFSM); no final de 2016, esse saldo (€ 10.996 M) e o da conta de apoio financeiro através do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF) (€ 849 M) perfaziam € 11.845 M (91,3% do saldo total).

 para a redução de € 2.617 M (-84,0%) nas aplicações do Estado, devido ao resgate total dos depósitos a prazo (€ 2.321 M)1, da redução dos depósitos à ordem (€ 595 M, -74,8%) e, em sentido contrário, da aplicação de € 300 M em acordos de recompra; no final de 2016, as aplicações (€ 500 M) equivaliam a 7,4% do produto de empréstimos não utilizado (€ 6.777 M)2.

Para o aumento de € 3.976 M (44,2%) no saldo das contas de terceiros e das de resultados de operações financeiras concorrem, sobretudo:

 o aumento de € 2.688 M (65,7%) no saldo credor do produto de empréstimos não utilizado;

 o aumento de € 521 M (25,7%) no saldo devedor resultante da antecipação de fundos a financiar pelo orçamento da União Europeia (a favor de beneficiários nacionais).

No final de 2016, o saldo das contas dos SFAC (€ 7.397 M) refletido no quadro anterior inclui € 3.463 M relativos a contas que excedem os correspondentes saldos relevados nos Mapas V a IX da CGE (não há

diferença entre a RSI e a DSI registadas no Mapa XXXIII da CGE), com destaque para a AT (€ 866 M), a DGTF (€ 689 M) e o Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça (€ 473 M).

Divergências desta dimensão evidenciam bem a necessidade e a urgência de relevar a totalidade dos

fluxos financeiros desses serviços nos referidos mapas contabilísticos gerais da CGE (que deveriam

estar suportados pelos dados registados nos sistemas de contabilização orçamental). Com efeito, a atual

deficiente contabilização constitui uma limitação importante que exime uma parte substancial dos

fundos movimentados ao controlo e responsabilização legalmente determinados para receitas e

despesas, impede a sua reconciliação com as correspondentes entradas e saídas de fundos registadas

quer na CT, quer nas contas de gerência dos SFAC e não impede a omissão de operações, nem a indevida

inclusão de operações orçamentais em operações extraorçamentais.

Como o quadro anterior mostra, os saldos devedores resultantes da antecipação de fundos a financiar

pelo orçamento da União Europeia (a favor de beneficiários nacionais) atingiam € 2.546 M no final de 2016, mais 25,7% do que o valor das antecipações por regularizar no final de 2015 (€ 2.025 M). Nos termos do RTE, as OET que estão na origem desses saldos devem ser regularizadas até ao final da

execução orçamental do mesmo ano económico3. As sucessivas LOE têm adiado a regularização das

referidas OET devido à norma do RTE4 que permite a regularização, para além do final do ano

económico a que respeitam, das OET destinadas a situações que tenham consagração nas LOE5.

1 Repartidos por: Novo Banco (€ 720 M), Banco Popular (€ 500 M), Montepio Geral (€ 465 M), CGD (€ 250 M), BBVA

(€ 222 M), Santander Totta (€ 100 M), Banco BIC (€ 50 M) e BANIF (€ 14 M). 2 Do produto de empréstimos só é transferido para RSI (não efetiva) o montante estritamente necessário para igualar os

valores finais acumulados nas contas de RSI e de DSI. Essa igualdade gera saldo nulo nas contas de execução do OE e

saldos globais idênticos entre contas de disponibilidades e aplicações e contas de terceiros e de resultados de operações

financeiras. A movimentação destas últimas contas é a registada como OET no primeiro quadro do presente ponto. 3 Nos termos do art. 32.º, n.º 1, alínea b), do RTE. 4 Nos termos do art. 38.º, n.º 3, do RTE. 5 Nos termos do art. 30.º, n.º 1, alínea e), do RTE.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

212

Porém, para além de essa situação contrariar o princípio da substância sobre a forma a que o registo das

OET está sujeito1 assinala-se, mais uma vez, que as normas que autorizem a realização de adiantamentos

de fundos por operações de tesouraria, prevendo a regularização orçamental dos mesmos em anos

económicos posteriores ao da respetiva efetivação, contrariam o disposto no RTE e desrespeitam os

princípios da anualidade e da universalidade consagrados na LEO.

10.1.3. Subsistência de deficiências por corrigir

Do exame dos fluxos financeiros na tesouraria do Estado conclui-se que uma parte relevante da atividade

nessa tesouraria continua a ser movimentada fora do Tesouro (por dispensa ou por incumprimento do

princípio da unidade de tesouraria) e sem ser registada na respetiva contabilidade em desrespeito da lei.

Além disso, os fluxos movimentados por serviços integrados, mas indevidamente registados em OET,

continuam omissos dos sistemas que suportam a contabilização orçamental, enquanto os movimentados

por SFA, em contas no Tesouro, são registados em OET por montantes que excedem significativamente

os registados nesses sistemas. Em consequência, verbas relevantes não são objeto do controlo e da

responsabilização legalmente determinados para a execução orçamental dos SFAC.

Em contraditório, a DGO alega não se afigurar viável que as verbas movimentadas fora do Tesouro por

SFAC tenham relevação na CT dado que o IGCP apenas reporta informação residente nos respetivos

sistemas contabilísticos e a DGO não possui mecanismos que permitam refletir a informação em falta

na conta dos fluxos financeiras. O IGCP reitera alegações sobre a atividade na tesouraria do Estado se

resumir aos fluxos financeiros movimentados através de contas do Tesouro.

Porém, nos termos legais, a atividade da tesouraria do Estado engloba a totalidade dos fluxos financeiros

do Estado (administração central) e, por isso, abrange a movimentação de contas tanto no Tesouro como

noutras instituições financeiras. Existem saldos finais da execução orçamental afetos a SFAC cuja

movimentação não passou por contas do Tesouro, como os da Caixa Seguros de Saúde (€ 982 M), do Fundo de Garantia de Depósitos (€ 780 M) e da Parcaixa, SGPS, SA (€ 700 M), ou apenas passou parcialmente, como os do IAPMEI (sem € 372 M), do Instituto de Turismo de Portugal (sem € 234 M), do Fundo de Resolução (sem € 223 M) e da Autoridade Nacional das Comunicações (sem € 183 M).

Por isso, o Tribunal tem sublinhado a necessidade de serem tomadas todas as iniciativas pertinentes, por

parte das entidades responsáveis, para integrar na tesouraria do Estado as contas movimentadas fora do

Tesouro. Esta necessidade fica especialmente patente quando a DGO e o IGCP reconhecem não dispor

de informação sobre montantes que deveriam estar sob gestão da tesouraria do Estado.

Por sua vez, os fluxos financeiros dos SFAC registados em OET poderiam e deveriam ser integralmente

relevados na CT, como receita ou despesa, bastando para o efeito, a integração por parte do IGCP de

todas as contas desses serviços na mesma classe, sem ter de alterar números de identificação bancária,

mas apenas códigos contabilísticos. A discriminação das entradas (receita) e das saídas (despesa) de

fundos dessas contas, por natureza orçamental ou extraorçamental e por classificação económica,

continuaria a ser assegurada pelos serviços titulares dessas contas, mas ficaria, também, assegurada a

reconciliação da receita e da despesa de cada serviço com as correspondentes entradas e saídas de fundos

nas contas das quais seja titular.

1 Nos termos da Parte I, n.º 2.4, das normas contabilísticas das operações de tesouraria.

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Tribunal de Contas

213

10.2. Unidade da Tesouraria do Estado

A Unidade da Tesouraria do Estado (UTE), ao determinar a sua centralização e manutenção no Tesouro,

visa otimizar a utilização dos dinheiros públicos. Por sua vez, a gestão integrada da tesouraria e da dívida

pública tem como propósito reduzir as necessidades e o custo do financiamento do Estado. Os SFAC

(SI e SFA com EPR) e as empresas públicas não financeiras (EP) constituem o universo dos organismos

sujeitos à UTE (OSUTE) em 20161.

Do exame efetuado (desenvolvido nos pontos seguintes) resulta, em síntese, que:

 O relatório da CGE de 2016 reporta montantes parciais, inconsistentes ou incorretos sobre as disponibilidades no Tesouro e fora do Tesouro, bem como sobre os rendimentos obtidos em

incumprimento da UTE – vide 10.2.1.

 Tais montantes não abrangem todos os OSUTE, pois subsistem entidades sem informação reportada (14 SFAC), entidades sem informação na CGE (EP que não sejam EPR) e a omissão

dos montantes relativos às EP dispensadas – vide 10.2.1, 10.2.5 e 10.2.6.

 Para 74 SFAC, a informação reportada é provisória – vide 10.2.1.

 Detetaram-se € 335 M de disponibilidades fora do Tesouro no final de 2016 (aos quais acrescem € 181 M de OSUTE dispensados) e € 89 m de rendimentos obtidos nesse ano em incumprimento da UTE. Os saldos médios das disponibilidades fora do Tesouro (por incumprimento e por

exceção da UTE) ascendem a € 569 M – vide 10.2.2.

 Em 2016 foram dispensadas da UTE 175 entidades (mais 27 face a 2015), 81 das quais apenas parcialmente – vide 10.2.6.

 Por deficiências e limitações do respetivo sistema de informação e controlo, o MF continua a não assegurar a relevação integral e fiável das disponibilidades dos OSUTE fora do Tesouro e

dos respetivos rendimentos, nem a entrega tempestiva ao Estado desses rendimentos,

continuando o IGCP a desconhecer a totalidade dos dinheiros públicos fora do Tesouro.

10.2.1. Limitações dos sistemas de informação e controlo

Os OSUTE estão obrigados a fazer prova da execução da UTE. Os SFAC cumprem essa obrigação

através do registo trimestral nos serviços on-line (SOL) da DGO2, que deve propor as sanções em caso

de incumprimento, a decidir pelo membro do Governo responsável pela área das finanças3.

A CGE refere que a DGO procedeu à “(…) monitorização do cumprimento deste princípio [UTE] através da

elaboração de relatórios trimestrais baseados na informação reportada pelas entidades”.

1 Os SI e os SFA (com EPR) integram o Sector Público Administrativo. As EP integram o Sector Empresarial do Estado. 2 Nos termos do n.º 1 do art. 43.º do DLEO para 2016 os OSUTE são obrigados “(…) a fazer prova da execução do

princípio da unidade de tesouraria através do registo trimestral, nos serviços online da DGO, do saldo bancário

registado no final de cada um dos três meses anteriores das disponibilidades, seja qual for a origem e ou a sua natureza,

e aplicações financeiras junto da IGCP, EPE, e das instituições bancárias, e respetivas receitas próprias arrecadadas,

bem como das disponibilidades e aplicações mantidas na banca comercial e respetivos rendimentos”. 3 Nos termos do n.º 3 do art. 43.º do DLEO para 2016.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

214

No entanto, com base nesses relatórios, a DGO apenas desencadeou o processo sancionatório referente

aos OSUTE em incumprimento da UTE nos 1.º e 4.º Trimestres1, não tendo a proposta de sanções obtido

decisão do membro do Governo responsável pela área das finanças2.

A informação sobre a UTE na CGE deve ser reportada pelos SFAC à DGO3 com base nas pertinentes

demonstrações financeiras. Porém, detetaram-se casos em que a informação reportada difere da

registada nessas demonstrações, pois 74 entidades não reportaram informação definitiva4 (tendo a DGO

utilizado informação provisória) e 145 nem sequer reportaram informação anual.

As EP estão obrigadas a fazer prova da execução do princípio da unidade de tesouraria através do registo

trimestral no Sistema de Recolha de Informação Económica e Financeira (SIRIEF) da DGTF6. Não

obstante, a DGTF persiste no entendimento de que o controlo das empresas indiretamente participadas

pelo Estado cabe às empresas que exercem a função acionista, o que configura uma inadequada

interpretação do quadro legal e das responsabilidades legalmente previstas no âmbito desse controlo.

Compete à DGTF7 o acompanhamento das matérias respeitantes ao exercício da tutela financeira do

sector público, administrativo e empresarial8. O Sector Público Empresarial (SPE) compreende o SEE,

neste se integrando as empresas públicas, não procedendo o legislador, no âmbito da norma atributiva

das competências de controlo, a qualquer diferenciação em razão da natureza da participação, direta ou

indireta. Assim, não cabe à DGTF distinguir onde o legislador não o faz. O que vale, para efeito do

cumprimento da UTE pelas EP, pelo que, independentemente da natureza, direta ou indireta, da

participação que o Estado nelas detenha, todas estão sujeitas a essa obrigação9. Com aquele

entendimento e sem obter informação sobre o cumprimento da UTE pelas EP indiretamente participadas,

a DGTF não realiza um controlo eficaz e nem reporta, devidamente, o cumprimento da UTE nos seus

relatórios sobre o SPE10.

A informação da CGE não abrange todos os OSUTE, sobretudo as EP que não sejam EPR. Além disso,

o recurso a informação comunicada pelos próprios OSUTE (sem dados rigorosos sobre as suas

disponibilidades fora do Tesouro) constitui uma efetiva limitação ao exercício das competências da

DGO e da DGTF para controlo do cumprimento da UTE e ao da própria competência do IGCP para

gestão da tesouraria do Estado.

O valor dos fundos públicos fora do Tesouro continua sem ser conhecido com rigor e, por isso, a ser

incorretamente relevado na CGE. Face às limitações identificadas e ao reiterado incumprimento da UTE

por OSUTE é importante que o MF (através da DGTF, da DGO e da IGF) desenvolva um controlo

financeiro e de legalidade eficaz neste domínio.

1 Notas da DGO/DSOR n.º 33/2016, de 22/07, e n.º 129/2017, de 07/04. 2 Ofício n.º 1271/2017, de 20/07, do Gabinete do Ministro das Finanças: “…a aplicação de sanções está a ser avaliada

com grande detalhe, nomeadamente, no sentido de salvaguardar que não é comprometido o regular funcionamento das

entidades visadas, em particular os serviços públicos por elas prestados” 3 Entre 5 de janeiro e 19 de maio de 2017 foi reportada no SOL informação sobre o cumprimento da UTE por 482 entidades

(125 SI, 115 SFA, 90 IES, 104 EPR e 48 EPR de Regime Simplificado). 4 Sendo 26 SI, 24 SFA, 8 EPR e 16 IES-SFA. 5 Sendo 4 SI e 10 EPR. 6 Nos termos do Decreto-Lei 133/2013, de 3/10. 7 Nos termos do n.º 1 e do n.º 2, alínea f) do art. 2.º do Decreto-Lei 156/2012, de 18/07.8 Na aceção do n.º 1 do art. 2.º do Decreto-Lei 133/2013. 9 Nos termos do n.º 7 do art. 86.º da LOE para 2016, em articulação com o art. 28.º do Decreto-Lei 133/2013. 10 Relatórios anuais e trimestrais divulgados no sítio da DGTF na Internet.

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Tribunal de Contas

215

10.2.2. Disponibilidades e rendimentos relevantes fora do Tesouro

A situação das disponibilidades e dos rendimentos auferidos fora do Tesouro por OSUTE1 é a seguinte.

Quadro B. 102 – Disponibilidades e Rendimentos de OSUTE

(em milhares de euros)

OSUTE

Disponibilidades em 31/12/2016 Saldos

médios

fora do

Tesouro

Rendimentos em

2016

No Tesouro Fora do

Tesouro Total

% Fora do

Tesouro Auferidos Entregues

SI – Serviços Integrados 985 601 14 798 1 000 399 1,5 16 457 0 0

SFA – Serviços e Fundos Autónomos sem EPR e IES 3 317 878 5 160 3 323 037 0,2 4 836 0 0

EPR – Entidades Públicas Reclassificadas 310 069 8 955 319 024 2,8 16 672 6 0

IES – Instituições do Ensino Superior 240 140 287 140 527 280 54,5 208 187 0 0

Subtotal – SFAC 4 853 688 316 052 5 169 740 6,1 246 152 6 0

EP participadas diretamente pelo Estado (sem EPR) 104 943 19 052 123 996 15,4 21 871 83 0

Total – OSUTE 4 958 631 335 104 5 293 735 6,3 268 022 89 0

OSUTE excecionados do cumprimento da UTE 4 499 781 181 012 4 680 793 3,9 300 892 366 1

Fonte: DGO, DGTF e Contas de OSUTE.

Em 31/12/2016 os OSUTE não dispensados do cumprimento da UTE detinham fora do Tesouro € 335 M (6,3%) das disponibilidades reportadas (aos quais acrescem € 181 M detidos por OSUTE dispensados) e tinham auferido, nesse ano, € 89 m de rendimentos em incumprimento da UTE. Os saldos médios das disponibilidades fora do Tesouro (por incumprimento ou dispensa da UTE) ascendem a € 569 M. Do quadro constam € 4.614 M e € 29 M, respetivamente no Tesouro e fora do Tesouro, dos SFAC (sem inclusão das IES), no final de 2016, enquanto a CGE reporta, € 4.632 M e € 31 M2, respetivamente3.

A CGE reporta ainda € 6 m4 de rendimentos obtidos em incumprimento da UTE não entregues ao Estado. A responsabilidade pelo controlo da receita do Estado decorrente da entrega dos rendimentos

obtidos em incumprimento do princípio da unidade de tesouraria está cometida à DGO5 que, assim, deve

assegurar a liquidação dessa receita, zelar pela sua cobrança e proceder à sua contabilização integral.

Em 2016, como em anos anteriores, só se verificou a cobrança de juros entregues voluntariamente.

Apesar de não ter sido entregue a quase totalidade dos juros, não houve recurso a cobrança coerciva.

1 Com base na informação extraída dos sistemas da DGO e da DGTF e no exame de contas de OSUTE com os critérios de

seleção seguintes: materialidade das disponibilidades fora do Tesouro, incumprimento do dever de informação ou

correção relevante de valores. Foram examinadas contas de 3 SI, 2 SFA, 4 EPR, 3 IES e 7 EP. 2 Nomeadamente por incluir (no quadro 74) o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro EPE (€ 3 M no Tesouro),

que obteve dispensa, o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, IP (€ 31 M no Tesouro) e a Gestão Administrativa e Financeira do MNE (€ 11 M no Tesouro), dispensados, respetivamente, pelo DLEO para 2016 - alínea b) do n.º 5 do art. 43.º - e pela LOE do mesmo ano - alínea c) do n.º 3 do art. 86.º. Estes últimos casos contrariam a própria nota do

quadro 74 – “Não inclui (…) as entidades devidamente excecionadas por disposição legal (…)”. Em contraditório, a DGO alega que a dispensa concedida a estes dois OSUTE foi apenas parcial e respetivamente concedida às estruturas da

rede externa e aos serviços periféricos externos. Ora, a metodologia aqui seguida, aliás em linha com a da DGO, considera

os OSUTE com despacho de dispensa parcial como dispensados do cumprimento da UTE. 3 Volume I – Tomo I – Quadro 74 – “Comparação do incumprimento por Ministério: 2015-2016” (página 135). 4 Volume I – Tomo I – Quadro 73 – “Entidades em situação de incumprimento mais representativas” (página 134). 5 Nos termos do n.º 8 do art. 43.º do DLEO de 2016.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 243

Página 244

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

216

As anomalias evidenciadas revelam insuficiências no controlo da UTE e afetam a fiabilidade da

informação prestada na CGE.

10.2.3. Incumprimento da UTE por Serviços Integrados (SI)

O quadro seguinte sintetiza a situação das disponibilidades e dos rendimentos obtidos fora do Tesouro

por SI e indica os SI com disponibilidades fora do Tesouro desde € 450 m1.

Quadro B. 103 – Disponibilidades e Rendimentos de Serviços Integrados

(em milhares de euros)

Serviços Integrados

Disponibilidades em 31/12/2016Rendimentos em 2016

No Tesouro Fora do Tesouro Total % Fora

do Tesouro Auferidos Entregues

Instituto dos Registos e do Notariado, IP 31 218 8 438 39 656 21,3 0 0

Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais 4 570 5 505 10 075 54,6 0 0

Serviço de Estrangeiros e Fronteiras 14 011 450 14 461 3,1 0 0

Subtotal 49 799 14 393 64 192 22,4 0 0

Restantes 111 SI com informação obtida 935 802 404 936 207 0,0 0 0

Total 985 601 14 798 1 000 399 1,5 0 0

Fonte: DGO e Contas de SI.

No final de 2016 os SI detinham fora do Tesouro € 15 M (1,5%) das disponibilidades reportadas, 97,3% concentrados nos três SI identificados no quadro. Das divergências detetadas no sistema da DGO avulta

o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras com € 6.573 m (46,9%) a menos no Tesouro, face às suas contas.

10.2.4. Incumprimento da UTE por Serviços e Fundos Autónomos (SFA)

10.2.4.1. Serviços e Fundos Autónomos (exceto EPR e IES)

O quadro seguinte sintetiza a situação das disponibilidades e dos rendimentos obtidos fora do Tesouro

por SFA (exceto EPR e IES2) e indica os SFA com disponibilidades fora do Tesouro desde € 500 m3.

1 Limite de materialidade que abrange 97,2% das disponibilidades fora do Tesouro reportadas por SI (97,3% após exame).

O quadro agrega dados de 114 SI (3 por exame às contas) não incluindo 11 SI com dispensa da UTE (9 com parecer

favorável do MF e 2 excecionados por disposição legal). 2 Atendendo à sua especificidade e regime jurídico face aos restantes SFA, as entidades públicas reclassificadas (EPR) e

as instituições do ensino superior (IES) são objeto de apreciação autónoma – vide 10.2.4.2 e 10.2.4.3. 3 Limite de materialidade que abrange 91,8% das verbas fora do Tesouro reportadas por SFA. O quadro agrega dados de

78 SFA (2 por exame às contas), excluindo 37 dispensados da UTE (34 por parecer favorável do MF e 3 por norma legal).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 244

Página 245

Tribunal de Contas

217

Quadro B. 104 – Disponibilidades e Rendimentos de SFA

(em milhares de euros)

Serviços e Fundos Autónomos

Disponibilidades em 31/12/2016 Rendimentos em 2016

No Tesouro Fora do

Tesouro Total

% Fora do

Tesouro Auferidos Entregues

Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa 0 2 526 2 526 100,0 0 0

Agência para o Desenvolvimento e Coesão 845 663 2 213 847 876 0,3 0 0

Subtotal 845 663 4 738 850 402 0,6 0 0

Restantes 76 SFA com informação obtida 2 472 214 421 2 472 635 0,0 0 0

Total 3 317 878 5 160 3 323 037 0,2 0 0

Fonte: DGO e Contas de SFA.

No final de 2016 os SFA detinham fora do Tesouro € 5 M (0,2%) das disponibilidades reportadas, dos quais 91,8% respeitavam aos dois SFA identificados no quadro anterior.

10.2.4.2. Entidades Públicas Reclassificadas (EPR)

O quadro seguinte sintetiza a situação das disponibilidades e dos rendimentos obtidos fora do Tesouro

por EPR e indica as EPR com disponibilidades fora do Tesouro desde € 500 m1.

Quadro B. 105 – Disponibilidades e Rendimentos de EPR

(em milhares de euros)

Entidades Públicas Reclassificadas

Disponibilidades em 31/12/2016 Rendimentos em 2016

No Tesouro Fora do

Tesouro Total

% Fora do

Tesouro Auferidos Entregues

Fundação das Universidades Portuguesas 0 1 556 1 556 100,0 0 0

Estaleiros Navais de Viana do Castelo 0 2 488 2 489 100,0 0 0

Fundação Gaspar Frutuoso 0 2 089 2 089 100,0 6 0

Fundação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa 1 610 1 539 3 149 48,9 0 0

Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva 10 744 655 11 399 5,8 0 0

Subtotal 12 354 8 328 20 682 40,3 6 0

Restantes 46 EPR com informação obtida 297 715 627 298 342 0,2 0 0

Total 310 069 8 955 319 024 2,8 6 0

Fonte: DGO e Contas de EPR.

No final de 2016 as EPR detinham fora do Tesouro € 9 M (2,8%) das disponibilidades reportadas, dos quais € 8 M (93%) respeitavam às cinco EPR identificadas no quadro. Das divergências detetadas no sistema da DGO destaca-se a Fundação das Universidades Portuguesas, com € 3.229 m (67,5%) a mais fora do Tesouro, face às suas contas.

1 Limite de materialidade que abrange 90,1% das disponibilidades reportadas fora do Tesouro reportadas por EPR (93%

após exame). O quadro agrega dados de 51 EPR (4 dos quais por exame às contas), não incluindo 53 EPR (50 com parecer

favorável do MF e 3 excecionados por disposição legal).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 245

Página 246

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

218

10.2.4.3. Instituições do Ensino Superior (IES)

Quadro B. 106 – Disponibilidades e Aplicações de IES

(em milhares de euros)

Fundos de IES No

Tesouro

Fora do

Tesouro Total

% Fora do

Tesouro

Disponibilidades 194 596 283 796 478 391 59,3

Aplicações financeiras 45 544 3 344 48 888 6,8

Total 240 140 287 140 527 280 54,5

Fonte: DGO.

Estavam fora do Tesouro 54,5% das disponibilidades e aplicações detidas em 31/12/2016, por 90 IES.

Quadro B. 107 – IES em incumprimento da UTE em 31/12/2016

(em milhares de euros)

Instituições do Ensino

Superior

Saldo de

dotações do OE

em 31/12/2016

Dotações do

OE fora do

Tesouro

% Dotações

do OE fora

do Tesouro

Aplicações

indevidas fora

do Tesouro

% Aplicações

indevidas fora

do Tesouro

Rendimentos

Auferidos Entregues

UL – Faculdade de Medicina Veterinária (FMV)

630 203 32,2 0 0

UL – Instituto de Ciências Sociais

55 17 31,1 0 0

UL – Universidade de Lisboa - Reitoria

15 422 944 6,1 0 0

Total 16 106 1 164 7,2 0 0

Fonte: SOL, DGO.

No final de 2016, as IES identificadas encontravam-se em situação de incumprimento da UTE1 por

deterem fora do Tesouro € 1 M (7,2 %) de dotações transferidas do OE. Das divergências detetadas no sistema da DGO destaca-se € 895.240 a menos no saldo da dotação do OE face à conta da UL-Reitoria.

10.2.5. Incumprimento da UTE por Empresas Públicas (EP)

Como já se referiu, as EP estão obrigadas a fazer prova da execução do princípio da unidade de tesouraria

através do registo trimestral no SIRIEF da DGTF.

No entanto, esta entidade tem manifestado o entendimento de que o controlo das empresas indiretamente

participadas pelo Estado cabe às empresas que exercem a função acionista.

Segundo a DGTF, são as empresas-mãe dos grupos que deverão transmitir às respetivas participadas o

conjunto de obrigações legais a que se encontram sujeitas, competindo-lhes, adicionalmente, assegurar

a validação do cumprimento dessas obrigações por parte das respetivas participadas, o que configura

uma inadequada interpretação do quadro legal e das responsabilidades legalmente previstas no âmbito

desse controlo.

1 As IES estão sujeitas à UTE, nos termos do art. 115.º da Lei 62/2007, devendo depositar no Tesouro as dotações

transferidas do OE (incluindo o respetivo saldo) e, pelo menos, 75% do valor das aplicações financeiras.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 246

Página 247

Tribunal de Contas

219

Esta falta de informação sobre o cumprimento da UTE pelas EP indiretamente participadas, em

inobservância dos princípios e regras orçamentais e da lei especial1 que obriga, inclusivamente as EP

dispensadas, a prestarem a informação pertinente, não permite à DGTF efetuar um controlo eficaz nem

à UTAM2 reportar informação sobre o cumprimento da UTE nos Boletins relativos ao SEE3, uma vez

que continuam sem obter tal informação.

Desta forma, o controlo realizado pela DGTF, somente a parte das EP, não permite conhecer o valor

total das disponibilidades fora do Tesouro, nem as receitas devidas ao Estado até à entrega dos respetivos

rendimentos, comprometendo assim a contabilização apropriada desses ativos e rendimentos4.

O quadro seguinte identifica todas as EP com disponibilidades fora do Tesouro e quantifica os respetivos

montantes e os rendimentos auferidos.

Quadro B. 108 – Disponibilidades e Rendimentos de EP

(em milhares de euros)

Empresas Públicas

Disponibilidades em 31/12/2016 Rendimentos em 2016

No Tesouro Fora do

Tesouro Total

% Fora do

Tesouro Auferidos Entregues

Portugal Capital Ventures – Sociedade de Capital de Risco, SA 2 14 810 14 811 100,0% 83 0

Companhia das Lezírias, SA 7 421 2 163 9 469 22,8% 0 0

MM – Gestão Partilhada, EPE 6 026 814 6 839 11,9% 0 0

VianaPolis – Soc. Des. Programa Polis Viana do Castelo SA 671 723 1 394 51,9% 0 0

SILOPOR – Empresa de Silos Portuários, SA 4 533 189 4 722 4,0% 0 0

MOBI.E, SA 271 131 401 32,6% 0 0

APSS – Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, SA 26 016 130 26 146 0,5% 0 0

EDM – Empresa de Desenvolvimento Mineiro, SGPS, SA 32 971 55 33 026 0,2% 0 0

Lazer e Floresta, SA 24 404 31 24 435 0,1% 0 0

CE – Circuito Estoril, SA 2 630 7 2 636 0,2% 0 0

Total 104 943 19 052 123 880 15,4% 83 0

Fonte: DGTF e Contas de EP.

No final de 2016 as EP detinham € 19 M de disponibilidades reportadas fora do Tesouro e, nesse ano, auferiram € 83 m de rendimentos.

O não reconhecimento contabilístico, como receita devida ao Estado, dos rendimentos obtidos em

incumprimento da UTE, afeta as contas das EP pois fica por contabilizar a obrigação do seu pagamento

ao Estado. Em sede de apreciação de contas, a DGTF analisou a situação das empresas públicas quanto

à UTE e emitiu recomendações aos conselhos de administração das EP para o seu cumprimento integral.

1 Art. 28.º do Decreto-Lei 133/2013. 2 A Unidade Técnica (UTAM) foi criada pelo Decreto-Lei 133/2013, de 3/10, tendo por missão, atribuições, organização

e funcionamento as estabelecidas no Decreto Regulamentar 1/2014, de 10/02, designadamente prestar o apoio técnico ao

membro do Governo responsável pela área das finanças no exercício da função acionista das empresas do Sector

Empresarial do Estado (SEE). 3 A UTAM publica, trimestralmente, o Boletim Informativo do Sector Empresarial do Estado que apresenta a situação

económica e financeira das empresas públicas. Em 25/09/2017, o último Boletim disponível para consulta era referente

ao 3.º trimestre de 2016, verificando-se que o respetivo ponto 7 “Unidade de Tesouraria do Estado” teve como fonte o SIRIEF que, ao contrário do adequado, não contém informação da maioria das empresas participadas indiretamente.

4 VideRelatório de Auditoria n.º 15/2013-2.ª Secção, disponível em www.tcontas.pt.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 247

Página 248

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

220

No entanto, as respetivas contas das EP continuam a ser aprovadas, sem relevarem como receita devida

ao Estado os valores dos rendimentos obtidos em incumprimento da UTE.

Em 2016, a DGTF reforçou o controlo sobre a informação prestada pelas entidades no SIRIEF ao efetuar

o cruzamento da informação constante desse sistema (da exclusiva responsabilidade das EP) e os dados

disponibilizados pelo IGCP relativamente aos fundos detidos pelas EP nesta entidade. A informação do

IGCP é relativa a 173 empresas do SEE, mas apenas 92 reportaram no SIRIEF, o que confirma que a

DGTF não exerce, como legalmente lhe é imposto, o controlo do universo das EP sujeitas à UTE.

Por estas irregularidades são responsáveis, quer os órgãos de gestão e de fiscalização das EP, quer a

DGTF enquanto entidade que procede ao exame dessas contas no domínio do acompanhamento das

matérias respeitantes ao exercício da tutela financeira1.

10.2.6. Dispensa do cumprimento da UTE

O cumprimento da UTE por OSUTE pode ser dispensado em situações excecionais reconhecidas por

despacho do membro do Governo responsável pela área das finanças, pelo prazo máximo de 2 anos,

após parecer prévio do IGCP2 e, no caso de EP, mediante autorização do titular da função acionista3.

A situação dos OSUTE dispensados desse cumprimento em 2016 consta do quadro seguinte4.

Quadro B. 109 – OSUTE dispensados do cumprimento da UTE

(em milhares de euros)

OSUTE

Disponibilidades em 31/12/2016 Rendimentos em 2016

No Tesouro Fora do

Tesouro Total

% Fora do

Tesouro Auferidos Entregues

SI 9 69 152 4 083 73 235 5,6 3 0

SFA 34 3 145 219 22 599 3 167 818 0,7 0 0

EPR 50 836 234 27 560 863 794 3,2 184 1

IES 1 11 524 90 904 102 428 88,7 179 0

EP 12 382 641 33 479 416 120 8,0

EP Indireta 13 55 011 2 387 57 398 4,2

Total 119 4 499 781 181 012 4 680 793 3,9 366 1

Fonte: DGO.

No final de 2016, os 119 OSUTE dispensados do cumprimento da UTE e com informação reportada5

detinham € 181 M de disponibilidades fora do Tesouro e, nesse ano, auferiram € 366 m de rendimentos. A CGE apenas reporta 94 entidades dispensadas e € 54 M de disponibilidades fora do Tesouro, porque não contém informação sobre as EP e as IES dispensadas.

1 Nos termos do art. 2.º do Decreto-Lei 156/2012, de 18/07. 2 Nos termos do n.º 1 do art. 86.º da LOE para 2016. 3 Nos termos do n.º 3 do art. 28.º do Decreto-Lei 133/2013, de 3/10. 4 Excluindo a informação da maioria das EP participadas indiretamente pelo Estado por falta de informação no SIRIEF. 5 A CGE 2016 refere que o Metropolitano de Lisboa, SA “não reportou os saldos a 31 de dezembro” e no seu relatório e

contas de 2016 verifica-se que se encontram depositados no IGCP € 24.642.539,60 (98,7%) e fora do Tesouro na conta Caixa e seus equivalentes € 322 125,75 (1,3%).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 248

Página 249

Tribunal de Contas

221

Além disso inclui entidades que não integram o universo dos organismos dispensados reportado pelo

IGCP ao Tribunal1.

Em 2016 foram dispensadas da UTE 175 entidades (mais 27 do que em 2015), 119 através de despacho

do MF2 e 56 através de disposição legal (incluindo 48 EPR de regime simplificado3). Para 75 dos 139

pedidos de dispensa a decisão foi proferida nos últimos meses desse ano com prejuízo da eficácia do

procedimento e da boa gestão dos dinheiros públicos. Ora, para ser eficaz (em vez de retroativa), tal

decisão deveria ser tomada no início do ano e a dilação temporal após a apresentação do pedido não

deveria exceder um mês (em 2016 o prazo médio foi de 67 dias, quando em 2015 não atingiu 43 dias).

Em 2016, os pareceres do IGCP continuaram, em regra, a identificar os produtos e serviços bancários

compreendidos na exceção a conceder. A decisão sobre a maior parte dos pedidos configura-se como

autorização de dispensa parcial4, visto o IGCP não propor a autorização da dispensa de serviços

bancários cuja prestação assegure. Porém, a DGO trata a dispensa parcial como total “…por razões de operacionalização interna… partindo-se do pressuposto que apenas mantêm fora do Tesouro os fundos

autorizados pelo respetivo despacho”5.

A ANACOM e a CGA (com dispensa parcial em 2016) continuam sem entregar rendimentos auferidos

em incumprimento da UTE6 em anos anteriores. Enquanto a DGO “ao longo dos últimos anos, contactou várias vezes a ANACOM no sentido do dever de cumprimento do princípio da Unidade de Tesouraria, e por

conseguinte, da entrega dos juros auferidos fora do IGCP (…)”7, a ANACOM não o faz por entender que “os juros são transferidos para a conta do Estado no âmbito da aplicação de resultados”8. A DGO efetuou “diligências junto da CGA, no sentido da mesma efetuar a entrega ao Estado dos montantes correspondentes aos

rendimentos obtidos fora do IGCP, em 2013 e em 2014” mas sem resultados práticos porque a CGA entende

não estar obrigada a entregar os montantes em causa9.

Ora, quanto aos rendimentos obtidos por via desses incumprimentos, cujos montantes constituem receita

geral do Estado, a DGO está obrigada a providenciar pela sua liquidação e cobrança.

10.2.7. Subsistência de deficiências por corrigir

A revisão do RTE continua adiada, persistindo a necessidade de um quadro normativo uniforme, atual

e estável que reforce o cumprimento da UTE e evite a dispersão de normas e as sucessivas alterações à

aplicação do princípio da unidade de tesouraria por leis orçamentais e diplomas de execução orçamental.

1 A informação reportada pelo IGCP em 3/10/2017 não inclui a emissão de parecer por parte desta entidade nem a dispensa

da UTE por despacho do MF relativamente aos seguintes organismos: Serviço de Informações Estratégicas de Defesa,

Serviço de Informações de Segurança, Fundo de Acidentes de Trabalho, Fundo de Garantia Automóvel e Cofre da

Previdência da Polícia de Segurança Pública. Já a ESTAMO está incluída na lista de organismos reportados pelo IGCP

com despacho de dispensa do MF, mas a DGO não a considerou como tal. 2 Resultado de um acréscimo de 29% face a 2015. 3 Nos termos do art. 21.º do DLEO de 2016. 4 Foram concedidas 81 autorizações parciais em 2016, face a 1 em 2015. 5 Relatório de avaliação do cumprimento do princípio da UTE, 4.º Trimestre - 2016 (ponto 20). 6 Saldo por entregar no valor de € 5.712 m (€ 3.231 m de 2012 e € 2.481 m de 2013). 7 Em resposta enviada ao Tribunal em 30 de maio de 2017. 8 Nos termos da Portaria 89/2017, de 1/03, € 41 m dos resultados líquidos do exercício de 2015 constituem receita geral

do Estado e são transferidos para o IGCP, devido a juros de aplicações financeiras mantidas junto da banca comercial. 9 Com base na celebração de um protocolo com o IGCP em 5 de julho de 2013.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 249

Página 250

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

222

O IGCP e a DGTF continuam sem informação completa sobre os OSUTE, os dinheiros públicos fora

do Tesouro e os respetivos rendimentos auferidos e devidos ao Estado, apesar da relevância dessa

informação para o exercício dos poderes de tutela, para a aprovação das contas e das competências de

promoção da UTE e para a gestão integrada da tesouraria e da dívida pública pelo IGCP. Quanto às

situações de incumprimento da UTE identificadas pelo Tribunal1, continuam por entregar ao Estado

rendimentos obtidos em anos anteriores2 cuja situação consta do quadro seguinte:

Quadro B. 110 – Rendimentos auferidos e rendimentos entregues ao Estado

(em milhares de euros)

Ano Auferidos Entregues % Entregue

2011 63 894 4 287 6,7

2012 18 573 6 152 33,1

2013 5 567 1 553 27,9

2014 24 714 3 505 14,2

2015 1 831 43 2,3

2016 89 0 0,5

Total 114 669 15 541 13,6

Fonte: DGO, DGTF, Relatório de Auditoria n.º 15/2013 e Contas de OSUTE.

Apenas 13,6% dos rendimentos auferidos entre 2011 e 2016 foram entregues ao Estado3, refletindo a

ineficácia do controlo da UTE pelo MF e, em especial, a falta de aplicação de sanções e de intervenção

da tutela financeira aquando da aprovação das contas dos OSUTE.

À DGTF e à DGO compete controlar o cumprimento da UTE pelos OSUTE, identificar os

incumpridores e reportar oportunamente essa informação à Tutela. O exercício ineficaz dessa

competência tem, inter alia, como consequência que as entidades devedoras de receitas do Estado por

incumprimento da UTE sejam tratadas de forma favorável face aos restantes SFAC.

1 Vide Relatórios de Auditoria n.º 34/2010 e n.º 15/2013 (2.ª Secção) e PCGE de 2011 a 2014 (10.2) em www.tcontas.pt. 2 A entregar até ao final do mês seguinte ao da sua obtenção, nos termos do n.º 6 do art. 43.º do DLEO para 2016. 3 E ainda só foram entregues 5,4% (€ 171 m) dos rendimentos auferidos em 2009 por EPE (€ 3,1 M) e identificados pelo

Tribunal no Relatório de Auditoria n.º 34/2010-2.ª Secção.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 250

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Tribunal de Contas

223

CAIXA 7 – ATIVIDADE DO FUNDO DE RESOLUÇÃO

O Fundo de Resolução (FdR)1, criado em 2012, tem por objeto prestar apoio financeiro a medidas de resolução

adotadas pelo Banco de Portugal (BdP) e desempenhar as demais funções no âmbito da execução de tais

medidas.

Não obstante ser um fundo autónomo da administração central do Estado, o FdR consta no OE e na CGE desde

2015 classificado como EPR.

Esta classificação é indevida face à sua natureza de SFA, independentemente da classificação atribuída pelo

INE2.

Acresce que também é considerado EPR de regime simplificado3 e, por isso, apenas obrigado à prestação de

informação trimestral e dispensado do cumprimento de algumas obrigações, incluindo a da unidade de

tesouraria.

O Ministro das Finanças (MF) reportou ao Tribunal estar a ser avaliada“(…) a possibilidade de ser criado um regime legal próprio aplicável aos Fundos, salvaguardando contudo regras gerais de controlo associadas ao

seu enquadramento no perímetro de consolidação do orçamento do estado. No entanto (…) manter-se-á no âmbito da PLOE2018 o mesmo enquadramento que tem vindo a ser aplicado nos últimos orçamentos”.

Em contraditório, o FdR alega que “(…) o estatuto do Fundo assenta em elementos estruturantes que o diferenciam dos demais Fundos e Serviços Autónomos existentes na Administração Central. Assim, não pode

deixar-se de referir que a atual classificação é geradora de relevantes incongruências face às finalidades do

regime jurídico da resolução, ao exercício do objeto do Fundo e ao seu modo de funcionamento, conforme

estabelecido no respetivo regime jurídico. Essa circunstância tem sido apenas parcialmente atenuada pela

atribuição ao Fundo de Resolução de um regime simplificado de execução orçamental.”

Sobre o que vem alegado refere-se que o legislador não previu qualquer norma que afaste o Fundo de aplicar

as regras da contabilidade pública e o regime de gestão financeira e patrimonial dos fundos e serviços

autónomos.

Deve, também, ter-se presente que o financiamento do Fundo inclui a afetação de uma receita do Estado (a

contribuição sobre o sector bancário) e que a atividade do Fundo tem vindo a depender do seu endividamento

ao Estado.

A apreciação da atividade do FdR em 2016 resulta do exame da respetiva execução orçamental, das operações

contabilizadas e das correspondentes demonstrações financeiras visando atualizar as conclusões resultantes da

auditoria realizada à atividade no ano anterior, designadamente quanto às deficiências detetadas nesse âmbito.

O quadro seguinte evidencia as principais receitas e despesas do FdR entre 2013 e 2016:

1 O regime do FdR consta do Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras (RGICSF) (Decreto-Lei

298/92, de 31/12) e do respetivo Regulamento (Portaria 420/2012, de 21/12). 2 Vide PCGE 2015 e Relatório de Auditoria n.º 5/2017-2.ª Secção – disponíveis em www.tcontas.pt. 3 Anexo II do DLEO para 2016 (Decreto-Lei 18/2016, de 13/04).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Quadro B. 111 – Principais receitas e despesas

(em milhões de euros)

2013 2014 2015 2016 Total Estrutura

(%)

Receitas, das quais 153 4 981 931 625 6 690 100

Empréstimos do Estado 3 900 489 4 389 66

Empréstimos das entidades participantes 700 700 10

Produto da contribuição sobre o sector bancário (CSB) 287 170 186 643 10

Outras contribuições 55 35 162 184 436 7

Outros ativos financeiros 97 55 74 31 257 4

Saldo da gerência anterior 0 3 36 225 264 4

Despesas, das quais 150 4 945 706 403 6 204 100

Transferências para o Fundo Único de Resolução (FUR) 145 145 2

Amortização parcial do empréstimo do Estado 136 136 2

Juros pagos ao Estado 30 124 98 252 4

Ativos financeiros - Medidas de resolução 4 900 489 5 389 87

Outros ativos financeiros 150 15 93 18 276 4

Fonte: SIGO 2016 e 2015, Mapa dos fluxos financeiros 2016, 2015 e 2014, Demonstração de fluxos de caixa 2013.

Em 2016, a atividade do FdR caracterizou-se, sobretudo, pelo exercício das funções de acompanhamento e

gestão do apoio financeiro às medidas de resolução adotadas pelo BdP ao Banco Espírito Santo (BES) e ao

Banco Internacional do Funchal (BANIF) em 2014 e 2015, respetivamente. O FdR obteve:

 € 186 M por transferências do produto da contribuição sobre o sector bancário (CSB), não obstante os valores superiores da dotação específica inscrita como despesa no OE para 2016 consignada ao FdR e

financiada pelo produto da CSB (€ 197 M1) e da receita global da CSB obtida pela AT (€ 205 M). Em

resultado da auditoria realizada à atividade de 20152, o Tribunal recomendou ao MF que assegurasse a

entrega ao FdR do valor integral da CSB, recomendação ainda não acolhida tendo o MF só reportado

que a questão estava “a ser avaliada no âmbito das normas legais que incorporarão a PLOE2018”.

 € 184 M de outras contribuições incluindo € 150 M3 a entregar ao Fundo Único de Resolução (FUR)4. Porém, as contribuições a entregar ao FUR não constituem receita do FdR, pelo que deveriam ter sido

registadas pelo FdR como receita extraorçamental.

Em 2016, o FdR procedeu ao reembolso parcial antecipado de € 136 M do empréstimo de € 489 M obtido do Estado em dezembro de 2015 e à entrega das contribuições devidas ao FUR no valor de € 145 M.

O apoio às medidas de resolução do BES e do BANIF foi operacionalizado numa fase inicial da atividade do

FdR sem que este dispusesse, autonomamente, dos recursos necessários pelo que, para esse efeito e até ao final

de 2015, o FdR contraiu empréstimos no valor global de € 5.089 M (€ 4.389 M concedidos pelo Estado e

€ 700 M por entidades participantes do Fundo)5. Com receitas regulares anuais de € 250 M, o FdR promoveu

a revisão das condições desses empréstimos em 2016, designadamente no que respeita a prazos de vencimento

e taxas de juro, visando o cumprimento das responsabilidades sem necessidade de recurso a contribuições

especiais ou extraordinárias do sector bancário.

1 Mapa do desenvolvimento das despesas dos serviços integrados do OE 2016. 2 Vide Relatório de Auditoria n.º 5/2017-2.ª Secção (Recomendação 2 e Ponto 4.2.1 – CSB). 3 Inclui € 5 M correspondentes à contribuição de 2015 devida pelo BANIF e paga pelo Banco Santander Totta em 2016. 4 No âmbito do regime transitório previsto na Lei 23-A/2015 de 26/03 e do estabelecido no art.153.º-H do RGICSF

relativamente a entidades que não estão abrangidas pelo Regulamento (UE) 806/2014, do Parlamento Europeu e do

Conselho, de 15/07/2014 (Regulamento MUR). 5 O valor do capital em dívida é, atualmente, de € 4.953 M, em virtude do reembolso parcial efetuado, em 21/07/2016.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 252

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Tribunal de Contas

225

As principais alterações introduzidas aos empréstimos constam do quadro seguinte.

Quadro B. 112 – Condições dos empréstimos – principais alterações

(em milhões de euros)

Empréstimo

Montante em dívida Data de Vencimento Taxa de juro

Inicial Em

31/12/2016 Inicial Revisão Inicial Revisão

Estado – BES

(07/08/2014) 3 900 3 900

3 meses, prorrogável até 2 anos

31/12/2046

Trimestral, indexada ao custo de financiamento do Estado no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira, acrescida de uma comissão de 0,15 % e de um fator de desincentivo de 0,05% em cada período de renovação.

- Até 31/12/2021: taxa de juro de 2%. - A partir de 01/01/2022: taxa de juro nominal que reflita o custo de financiamento da República para um prazo de cinco anos, acrescida de uma comissão base de 0,15%, revista a cada cinco anos.

Instituições participantes

– BES (28/08/2014)

700 700

Estado – BANIF

(31/12/2015) 489 353 30/12/2020 31/12/2046

Anual, calculada com base na taxa de juro anual para o financiamento da República, acrescida de uma comissão de 0,15%.

- Até 31/12/2020: taxa de juro de 1,38%. - A partir de 01/01/2021: taxa de juro nominal que reflita o custo de financiamento da República para um prazo de cinco anos, acrescida de uma comissão base de 0,15%, revista a cada cinco anos.

Total 5 089 4 953

Fonte: Relatório e Contas 2016 do FdR e Contratos de Empréstimo e respetivos Aditamentos.

Apesar da dilação dos prazos de vencimento dos empréstimos em mais de 25 anos, os contratos ainda preveem

o ajustamento desses prazos em função das receitas a receber pelo FdR ou das responsabilidades adicionais

decorrentes das medidas de resolução aplicadas. Com efeito, além dos encargos relativos aos empréstimos, a

sustentabilidade do Fundo é também afetada por responsabilidades eventuais decorrentes de:

 processos em contencioso onde se encontra citado como réu ou contrainteressado1;

 garantia prestada em 2015 sobre as obrigações emitidas pela Oitante2.

 eventual indemnização aos credores das instituições de crédito objeto de resolução, caso seja determinado que o prejuízo suportado por aqueles foi superior ao que suportariam se não tivesse sido

aplicada a medida de resolução e a instituição de crédito entrasse em liquidação – o direito a eventual compensação será determinado após a liquidação do BES;

 “neutralizar, por via compensatória junto do Novo Banco, os eventuais efeitos negativos de decisões futuras, decorrentes do processo de resolução, de que resultem responsabilidades ou contingências”3.

1 O FdR considera que a sua exposição a eventuais contingências de natureza jurídica poderá vir a reduzir-se com a

implementação de determinadas ações na sequência da subscrição do Memorando de entendimento sobre um

procedimento de diálogo com os investidores não qualificados titulares de papel comercial do grupo Espírito Santo,

assinado a 30/03/2016 pelo Governo, BdP, CMVM, BES e a Associação de defesa dos clientes bancários lesados,

investidores em papel comercial (vide Nota 22 do Relatório e Contas 2016).2 Por deliberação do BdP, o FdR solicitou, em 23/12/2015, a concessão de uma contragarantia do Estado à garantia por si

prestada ao empréstimo obrigacionista emitido pela Oitante no valor de € 746 M, ficando o FdR obrigado às condições previstas no Despacho 867/2016, do Ministro das Finanças, de 31/12/2015 (mas apenas publicado em 19/01/2016). O

valor foi reduzido para € 656 M, com o reembolso antecipado parcial de € 90 M efetuado pela Oitante em 2016, e para € 595 M, com os reembolsos antecipados parciais realizados em 2017 (segundo informa o FdR, em contraditório).

3 Deliberação e comunicado do BdP de 29/12/2015.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

226

O FdR considerou ainda como passivos contingentes os encargos com o processo de venda do NB no valor de

€ 16,5 M (dos quais € 9,7 M se referem a encargos respeitantes a 2014 e 2015 e € 6,8 M a 2016) alegando que “(…) o processo de clarificação do quadro normativo aplicável ao reconhecimento e pagamento dos encargos com o processo de venda do NB poderá ter como resultado que todas as despesas neste âmbito respeitantes

ao período de 2014 a 2016 impendam sobre FdR”.

Em contraditório, o FdR alega ainda que esta divulgação constitui “(…) o cumprimento de requisitos de transparência e de prudência (…)”.

Na auditoria realizada à atividade do FdR em 2015, quanto aos referidos gastos de € 9,7 M, o Tribunal concluiu que, à luz do regime legal aplicável e tendo em conta o montante em causa, a Comissão Diretiva (CD) do FdR

não poderia ter deliberado reconhecer que os custos emergentes dos contratos que tivessem por objeto e

finalidade a assessoria técnica ao processo de venda do NB seriam suportados pelo FdR.

Nesse sentido, a CD do FdR “(…) decidiu, a 29 de março, revogar as deliberações que levaram ao reconhecimento destes encargos em 2015, tendo-se procedido ao desreconhecimento da responsabilidade

registada naquele ano e não se tendo reconhecido nas contas encargos adicionais.”1

Esta deliberação do FdR deu cumprimento à recomendação do TdC. Assim sendo, carece de fundamento a

divulgação dos encargos do processo de venda do NB como passivos contingentes.

Em resultado da auditoria já referida, o Tribunal recomendou ainda ao FdR que:

 implementasse os procedimentos necessários para a documentação de suporte dos registos contabilísticos evidenciar, de forma inequívoca, a segregação das funções de autorização da despesa, de

autorização de pagamento e de pagamento, bem como os procedimentos de controlo aplicáveis;

 aperfeiçoasse as delegações de poderes objeto de deliberação pela CD, no sentido de ser inequívoco o seu âmbito de aplicação, através da rigorosa especificação dos atos delegados;

 procedesse à elaboração dos planos de gestão de riscos de corrupção e infrações conexas, em conformidade com a recomendação do Conselho de Prevenção da Corrupção.

Relativamente às duas primeiras recomendações, o FdR comprovou ter iniciado o processo de adoção e

implementação de novos procedimentos, tendo informado prever a sua conclusão até ao final de 2017. Quanto

à terceira, o FdR reconhece que “(…) esses trabalhos não registaram os progressos desejáveis e não foram ainda desenvolvidas medidas concretas para a elaboração do plano. O Fundo de Resolução irá procurar

definir com os serviços do Banco de Portugal um plano de trabalhos concreto até 31/12/2017.”

Perspetivando uma receita a receber pela venda do NB aquém do montante escriturado (€ 4.900 M) e observando o princípio da prudência, o FdR reconheceu nas contas de 2016 uma imparidade de 100% na

participação relativa ao NB. Esta operação, que afeta os recursos próprios do FdR, tem cariz contabilístico e,

por isso, não exclui a possível obtenção futura de benefícios económicos decorrentes da venda da participação

nem a sujeição a eventuais responsabilidades futuras.

Enquanto acionista único2 competiu ao FdR acompanhar o processo de venda do NB retomado em janeiro de

2016 e cuja promoção é, nos termos da lei, da responsabilidade do BdP3.

1 Comunicado do FdR de 07/04/2017. 2 O FdR é também acionista único da Oitante, veículo de gestão de ativos para onde foram transferidos um conjunto

selecionado de ativos do BANIF. 3 Art. 145.º-R do RGICSF.

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Tribunal de Contas

227

Tal processo veio a ser concluído, em 18/10/2017, com a operação de venda de 75% do capital do NB ao fundo

de private equity Lone Star sem contrapartida financeira direta, mas ficando o novo acionista obrigado à

injeção “de €750 milhões de euros, à qual se seguirá uma nova entrada de capital de € 250 milhões, a

concretizar até ao final do ano de 2017” 1, passando o FdR a deter, desde essa data, uma participação de 25%.

Duas situações decorrentes dessa venda são, desde já, de assinalar:

 O compromisso assumido pelo FdR em assegurar a injeção de capital no NB, até € 3.890 M, se e quando o rácio de capital descer abaixo de determinado limiar devido a perdas na antiga carteira de ativos2;

 O acordo-quadro a celebrar com o Estado para disponibilizar meios financeiros ao FdR se e quando for necessário satisfazer obrigações contratuais decorrentes da venda3.

1 Vide Comunicado do BdP de 18/10/2017. A 31/03/2017, o BdP comunicou a seleção da Lone Star para a conclusão da

operação de venda. A 10/07/2017, a Comissão Europeia (CE) aprovou a aquisição do NB pela Lone Star, ao abrigo do

Regulamento das Concentrações da UE. A 11/10/2017, a CE aprovou o auxílio à venda do NB, apreciando as medidas

adicionais para concluir a resolução do BES e apoiar a venda do NB. 2 Vide Comunicado de imprensa da CE “Auxílios estatais: Comissão aprova plano de restruturação e apoio português ao

Novo Banco, concluindo resolução do Banco Espírito Santo”, de 11/10/2017. 3 Em 02/10/2017, foi publicada a RCM 151-A/2017 que autorizou, ao abrigo do disposto no n.º 1 do art. 153.º-J do

RGICSF, a celebração, pelo Estado Português, enquanto garante último da estabilidade financeira, de um acordo-quadro

com o FdR, com vista à disponibilização de meios financeiros, se e quando se afigurar necessário, para a satisfação de

obrigações contratuais que venham eventualmente a decorrer da operação de venda da participação de 75% do capital

social do NB.

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Tribunal de Contas

PARTE C

A CONTA DA SEGURANÇA

SOCIAL

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Tribunal de Contas

231

11. ENQUADRAMENTO, LIMITAÇÕES E CONDICIONANTES

11.1. Enquadramento

O Sistema de Segurança Social (SSS) tem como objetivos prioritários garantir a concretização do direito

à Segurança Social (SS) (consagrado na regra de que todos têm direito à SS1), promover a melhoria

sustentada das condições e dos níveis de proteção social e o reforço da equidade e, ainda, promover a

eficácia do sistema e a eficiência da sua gestão2.

Nesta perspetiva, o SSS está subordinado a um conjunto de princípios gerais consagrados na Lei de

Bases da Segurança Social (LBSS)3, que enformam todo o seu funcionamento, incluindo a concessão

das prestações legalmente previstas no âmbito daquele.

Fazem parte do Orçamento da Segurança Social (OSS) e da Conta da Segurança Social (CSS) entidades

do Continente4 e das Regiões Autónomas dos Açores5 e da Madeira6.

As entidades que integram o perímetro de consolidação da segurança social estão sujeitas, entre outras,

às regras fixadas na LEO, na LOE, no DLEO, no Plano Oficial de Contabilidade das Instituições do

Sistema de Solidariedade e Segurança Social (POCISSSS)7 e no Classificador Económico das Receitas

e das Despesas Públicas (CERDP).

Ao IGFSS compete elaborar o OSS, assegurar, coordenar e controlar a sua execução8, e elaborar a CSS9,

a qual está sujeita aos princípios de consolidação constantes da Orientação 1/201010, aprovada pela

Portaria 474/201011.

A elaboração do presente Parecer assenta na análise da CSS, publicada na CGE, na consulta à

documentação que integra as contas de gerência apresentadas pelas entidades incluídas no perímetro ao

Tribunal, na consulta ao Sistema de Informação Financeira da Segurança Social (SIF), ao qual o

Tribunal tem acesso online, no dossiê de consolidação disponibilizado pelo IGFSS e ainda num conjunto

de verificações realizadas nos serviços e em informação adicional solicitada ao IGFSS e a outras

entidades que integram o perímetro de consolidação.

1 Art. 2.º, n.º 1, da Lei 4/2007, de 16/01. 2 Art. 4.º da Lei 4/2007, de 16/01. 3 Art. 5.º da Lei 4/2007, de 16/01. 4 Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, IP (IGFSS); Instituto da Segurança Social, IP (ISS); Instituto de

Informática, IP (II); Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social, IP (IGFCSS); Fundo de

Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS); Fundo de Garantia Salarial (FGS); Fundo de Socorro Social

(FSS); e Fundo Especial de Segurança Social dos Profissionais de Banca dos Casinos (FESSPBC). 5 Instituto da Segurança Social dos Açores, IPRA (ISSA). 6 Instituto de Segurança Social da Madeira, IP-RAM (ISSM). 7 Aprovado pelo Decreto-Lei 12/2002, de 25/01. 8 Art. 48.º da LEO, art. 3.º, n.º 2, alíneas a) e b), do Decreto-Lei 84/2012, de 30/03, e art. 15.º, n.º 2, alínea b) do Decreto-

Lei 167-C/2013, de 31/12. 9 Art. 3.º, n.º 2), alínea d), do Decreto-Lei 84/2012 e art. 15.º, n.º 2, alínea c) do Decreto-Lei 167-C/2013. 10 Orientação genérica relativa à consolidação de contas no âmbito do sector público administrativo. 11 Publicada no DR, 2.º Série, de 01/07.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

232

A LEO ainda parcialmente em vigor prevê, no seu art. 27.º, n.º 31, que as despesas do OSS sejam

estruturadas por classificação orgânica, a definir por decreto-lei, diploma este que nunca veio a ser

publicado. A situação foi objeto de acompanhamento contínuo pelo Tribunal, que formulou sucessivas

recomendações ao Governo no sentido de virem a ser publicadas as normas necessárias à adoção de tal

classificação, sendo a última a Recomendação 56 – PCGE/2014. Em 2015 foi publicada a nova LEO2, que contém algumas disposições sobre a matéria3. Assim, o art. 42.º, que define os mapas contabilísticos

a integrar na LOE4, não consagra qualquer mapa relativo à classificação orgânica das despesas do

subsector da segurança social ou dos seus sistemas ou subsistemas, diferentemente do que define para a

administração central5. O art. 51.º, referente ao subsector da segurança social, apenas prevê que sejam

apresentadas por classificação orgânica as despesas de administração, relegando tal classificação para

valores residuais, uma vez que as despesas de administração representam um volume financeiro

diminuto em face das restantes despesas do sistema, sobretudo as referentes às prestações sociais.

Verifica-se, assim, que, ao nível do orçamento do subsector, a classificação orgânica viu a sua relevância

substancialmente reduzida à luz da nova LEO. Já no que se refere aos orçamentos dos serviços do

subsector da segurança social, o seu art. 17.º, n.º 16, estatui que as despesas aí inscritas são estruturadas

por programas, fonte de financiamento, e classificador orgânico, funcional e económico, remetendo o

n.º 4 do mesmo artigo a regulamentação da estrutura dos códigos dos classificadores orçamentais para

diploma autónomo, a publicar no prazo de um ano após a entrada em vigor da Lei 151/20157. Em sede

de acompanhamento das recomendações formuladas pelo Tribunal em Pareceres anteriores8, a SESS

informou que, com a publicação dos novos diplomas – LEO e SNC-AP – está “(…) em processo de avaliação o enquadramento a ser proposto para esta classificação e a definição legal das instituições que

integram o perímetro da Segurança Social”. Na mesma sede, o Ministro das Finanças informou que se trata

de “Matéria acompanhada no âmbito da SS”.

Continua igualmente por publicar a regulamentação do enquadramento e funcionamento da tesouraria

única da segurança social9, o que tem gerado sucessivas recomendações do Tribunal em Pareceres

1 Este artigo mantém-se em vigor, uma vez que regula a matéria agora versada no art. 51.º da nova LEO que ainda não se

encontra a produzir efeitos, como adiante será referido. 2 A Lei 151/2015, de 11/09, aprova a nova Lei de Enquadramento Orçamental. 3 A nova LEO entrou em vigor no dia seguinte ao da sua publicação, como resulta do disposto no art. 8.º, n.º 1, da Lei que

a aprovou, mas os seus arts. 3.º e 20.º a 76.º só produzem efeitos três anos após a entrada em vigor daquela, de acordo

com o estipulado no n.º 2 do artigo suprarreferido, pelo que, nas matérias aí versadas, continua a reger o preceituado na

LEO aprovada pela Lei 91/2001, na versão republicada pela Lei 41/2014, de 10/07. 4 O disposto para os mapas orçamentais aplica-se, mutatis mutandis, aos mapas que integram a CGE, por força do disposto

no art. 67.º da nova LEO. 5 Esta conta com o Mapa 4, relativo à classificação orgânica das despesas do subsector da administração central (art. 42.º,

alínea d). 6 A mencionada norma, relativa ao princípio da especificação, encontra-se em vigor, ao contrário dos arts. 42.º e 51.º

anteriormente mencionados. 7 Este prazo já decorreu integralmente sem que o diploma tenha sido publicado. 8 Cfr. Recomendações 56-PCGE/2014, 53-PCGE/2013, 46-PCGE/2012, 48-PCGE/2011, 47-PCGE/2010, 47-PCGE/2009,

58-PCGE/2008 e 53-PCGE/2007, todos disponíveis em www.tcontas.pt. 9 O Tribunal tem vindo a alertar para a necessidade de se desenvolver e clarificar o quadro legal aplicável à SS. O Regime

da Tesouraria do Estado, aprovado pelo Decreto-Lei 191/99, de 5/06, prevê, no seu art. 1.º, n.º 5, que a tesouraria única

da segurança social seja regulada por diploma próprio. Posteriormente à sua publicação, têm sido introduzidas nas LEO,

desde a Lei 91/2001, de 20/08, normas com a epígrafe “Execução do orçamento da segurança social” (art. 45.º na Lei 91/2001, art. 48.º na versão republicada pela Lei 41/2014, de 10/07, e art. 56.º na LEO aprovada pela Lei 151/2015, de

11/09), algumas das quais relacionadas com a tesouraria única da segurança social, função cometida ao IGFSS, não só

pelas mencionadas normas, mas também pelo art. 3.º, n.º 5, alínea b), do Decreto-Lei 84/2012, de 30/03. Contudo, o

regime instituído não se afigura completo, em face, designadamente, daquele que é o conteúdo do Regime da Tesouraria

do Estado, nem inteiramente claro, por exemplo, no que se reporta às formas que deve revestir a pretendida articulação

com esta última.

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Tribunal de Contas

233

anteriores1. Em sede de acompanhamento destas recomendações a SESS informou que se encontra “(…) em análise proposta de legislação para cumprimento da recomendação”. Na mesma sede, o Ministro das Finanças informou que se trata de “Matéria acompanhada no âmbito da SS”.

Importa também referir que o art. 3.º, n.º 7, do Decreto-Lei 84/2012 impõe que os limites das aplicações

de capital realizadas pelo IGFSS sejam fixados por portaria dos membros do Governo responsáveis

pelas áreas das finanças e da segurança social, o que igualmente não se mostra cumprido. O Tribunal,

no Parecer sobre a CGE de 2015, recomendou aos Ministros das Finanças e do Trabalho, Solidariedade

e Segurança Social que devem proceder à publicação da referida portaria (Recomendação 57-

PCGE/2015).

Em sede de contraditório, o IGFSS alega que a gestão dos recursos financeiros é realizada através de

depósitos em instituições financeiras e em CEDIC, estes últimos com relevância orçamental, por via das

regras de normalização contabilística. Alega ainda que os limites nestas últimas aplicações são

determinados mensalmente em função dos limites orçamentais disponíveis e, por isso, entende que

“Atendendo às caraterísticas das aplicações constituídas pelo IGFSS, IP, (…) não se torna operacional a fixação dos mesmos por Portaria, uma vez que têm de ser determinados mensalmente, em função dos fundos orçamentais

disponíveis nos diversos subsistemas”.

A alínea a) do n.º 5 art. 3.º do Decreto-Lei 84/2012 estabelece que o IGFSS deve otimizar a gestão dos

recursos financeiros do sistema de segurança social, designadamente por recurso a instrumentos

disponíveis no mercado, que visem assegurar a rendibilização de excedentes de tesouraria. A

composição e os limites das aplicações de capital são fixadas por portaria. Deve salientar-se que o IGFSS

está sujeito ao princípio da legalidade, nos exatos termos previstos no art. 3.º do CPA. Regista-se

também que, não obstante o IGFSS ter vindo a fazer alegações similares sobre esta matéria nos últimos

anos, não entendeu o legislador alterar o Decreto-Lei 84/2012 continuando, pois, a impor-se a

regulamentação do preceito supramencionado através de portaria.

Continuam também a existir discrepâncias entre a LEO, a LOE, a LBSS e o DL que regula o

financiamento da segurança social, de que se aponta, a título de exemplo, a matéria referente ao

financiamento do sistema previdencial-capitalização2, aspeto que vem sendo alvo de recomendação do

Tribunal desde o PCGE/20083. Não obstante o facto de terem já sido publicadas alterações legislativas

a estes diplomas, as referidas discrepâncias não foram ultrapassadas, registando-se apenas que a nova

LEO não contém norma sobre a matéria em apreço. Em sede de acompanhamento destas

recomendações, o MTSSS informou que “Atendendo a que a legislação em causa envolve diplomas de valor reforçado, considera-se que esta harmonização será oportuna numa revisão mais global dos mesmos”. Na mesma sede, o Ministro das Finanças informou que se trata de “Matéria acompanhada no âmbito da SS”.

O IGFSS é uma das entidades que integra o sistema de controlo interno da administração financeira do

Estado, assumindo as funções de organismo de controlo estratégico do sistema de segurança social. São

atribuições do Instituto, neste âmbito, assegurar a verificação, acompanhamento, avaliação e

informação, nos domínios orçamental, económico e patrimonial das atividades dos organismos que

integram o sistema de segurança social4. Para o exercício destas atribuições, a orgânica do Instituto

1 Cfr. Recomendações 56-PCGE/2015, 57-PCGE/2014, 54-PCGE/2013, 47-PCGE/2012, 49-PCGE/2011, 48-PCGE/2010,

55-PCGE/2009, 68-PCGE/2008, 68-PCGE/2007, 97-PCGE/2006, 144-PCGE/2005 e Parecer sobre a CSS de 2004 (pág.

XII.35), todos disponíveis em www.tcontas.pt. 2 Cfr. art. 91.º da Lei 4/2007, de 16/01, art. 17.º do Decreto-Lei 367/2007, de 2/11, e art. 69.º da Lei 7-A/2016, de 30/03. 3 Cfr. Recomendações 58-PCGE/2015, 58-PCGE/2014, 55-PCGE/2013, 48-PCGE/2012, 50-PCGE/2011, 49-PCGE/2010,

50-PCGE/2009 e 63-PCGE/2008, todas disponíveis em www.tcontas.pt. 4 Art. 3.º, n.º 6, do Decreto-Lei 84/2012.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

234

inclui um Gabinete de Auditoria do sistema de segurança social1. Contudo, não se encontra afeto a esta

estrutura qualquer recurso humano, pelo que o exercício das mencionadas atribuições do Instituto se

encontra prejudicado2. O Tribunal, no Parecer sobre a CGE de 2015, recomendou aos Ministros das

Finanças e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligenciem no sentido de dotar o IGFSS

dos meios humanos necessários ao exercício das funções de organismo de controlo estratégico

(Recomendação 59-PCGE/2015).

Os fiscais únicos do ISS, do II, do ISSA e do FGS emitiram os pareceres e as certificações legais de

contas, relativos ao exercício de 2016, em abril de 2017. O Fiscal Único do ISSM emitiu o parecer, mas

não emitiu a certificação legal de contas. Já no ano transato este Fiscal Único não emitiu este último

documento, alegando que não está assegurada a independência entre as funções de fiscal único e de

emitente da certificação legal de contas. Esta matéria foi objeto de análise no Parecer sobre a CGE de

2015 e o Tribunal formulou a recomendação 60-PCGE/2015 no sentido de o Ministro das Finanças

diligenciar pela clarificação das competências dos fiscais únicos dos Institutos Públicos, tendo em

consideração eventuais conflitos decorrentes da sua dupla qualidade de fiscal único e de entidade

emitente da certificação legal de contas. Até à presente data não foi efetuada nenhuma alteração

legislativa sobre a matéria.

O Fiscal Único do IGFSS foi nomeado em 18/08/20163 e até à presente data o seu parecer e a certificação

legal de contas ainda não foram disponibilizados ao Tribunal de Contas4.

A conta do IGFCSS foi objeto de certificação legal de contas pelo Fiscal Único do Instituto, que

igualmente emitiu parecer sobre a mesma. No que respeita á conta do FEFSS, o Parecer do Fiscal Único

emitido para o IGFCSS inclui a referência de que foram verificados os procedimentos implementados e

os elementos de suporte utilizados pelo Instituto para avaliação dos ativos que compõem o património

do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social, pronunciando-se, assim, nesta exata medida,

também sobre aquela conta, sobre a qual igualmente incidiu um relatório de auditoria emitido pelo Fiscal

Único do FEFSS, que apresenta uma estrutura idêntica à de uma certificação legal de contas. Quer o

Instituto quer o Fundo foram ainda objeto de uma auditoria externa realizada por uma Sociedade de

Revisores Oficiais de Contas, contratada pelo próprio Instituto, cujos relatórios de auditoria apresentam

uma estrutura idêntica à da certificação legal de contas.

As certificações legais de contas de 2016 de três dos institutos que integram o perímetro de consolidação

da conta da segurança social foram emitidas com opiniões de reserva. Na certificação legal de contas do

ISS a opinião com reservas prende-se com aspetos relacionados com dívidas de beneficiários5, de outros

1 Art. 2.º, n.º 3, alínea b) da Portaria 417/2012, de 19/12, que aprovou os Estatutos do Instituto. 2 O IGFSS reiterou a informação de que “(…) ainda não foi possível dotar o Gabinete de Auditoria do Sistema de

Segurança Social dos meios necessários à prossecução das atribuições legalmente definidas a este nível”. 3 Despacho 10642/2016, dos Ministros das Finanças e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, publicado no DR,

2.ª S, n.º 163, de 25/08. 4 A prestação de contas do Instituto integrou um documento onde era referido que o Fiscal Único informou o IGFSS de

que ainda não reunia as condições para emitir uma opinião sobre as demonstrações financeiras de 31/12/2016, atendendo

a que os trabalhos de auditoria ainda se encontravam em curso. O IGFSS, em 22/08/2017, informou que “(…) se encontra em fase de «contraditório» o relato sobre as demonstrações financeiras, no âmbito da Certificação Legal de Contas de

2016”.Em sede de contraditório, o Instituto informou que em novembro foi apresentado “(…) um novo draft da certificação legal de contas (…)”e que será disponibilizado logo que o seja entregue o relatório devidamente assinado.

5 “O ISS usa um sistema de gestão de contas correntes e um sistema de informação financeira que apresentam divergências

significativas, no montante global de 102 milhões de euros, resultado das várias de migrações aplicacionais na origem

do sistema de contas correntes, sem o devido ajustamento contabilístico e da contabilização descentralizada em termos

orgânicos com aplicação de diferentes metodologias contabilísticas e de sistemas de contabilização. Na sequência de

recomendações técnicas, incluindo do Tribunal de Contas, foram adotados procedimentos contabilísticos alternativos

22 DE DEZEMBRO DE 2017 260

Página 261

Tribunal de Contas

235

devedores1 e também com o imobilizado2. No Instituto de Informática a opinião com reservas assenta

no imobilizado3 e no ISSA a opinião com reservas respeita a dívidas de terceiros4, imobilizado5 e

encargos com pensões6.

tendentes a promover a convergência dos valores dos dois sistemas de informação, e que se fundamentam na constituição

de provisões para cobrança duvidosa extraordinárias não sendo possível até ao momento assegurar uma base de dados

única com contas correntes individuais ou o desenvolvimento informático do necessário interface. Deste modo não é

possível assegurar com razoável certeza os saldos de beneficiários e os montantes de provisões para cobrança duvidosa

constituídas no exercício e acumuladas, o que pode ter impacto significativo quer nos ativos e fundos próprios quer no

resultado líquido do exercício”. 1 “A conta “268 – Devedores por transferências” compreende o montante de 88,652M€ referente à integração no ISS,

I.P. da “Ex-caixa de Previdência do Pessoal dos Telefones de Lisboa e Porto” (TLP) no ano de 2012, permanecendo inalterado desde então. Este saldo corresponde ao valor da dívida da ARS contabilizada na Caixa de Previdência dos

TLP, entretanto integrado nas contas do ISS, IP. Tal situação tem vindo a ser reportada no parecer do Tribunal de

Contas, sendo que esta matéria encontra-se a ser acompanhada pela Tutela para se proceder à respetiva regularização.

A ARS não reconhece esta dívida. Dada esta limitação não nos podemos pronunciar sobre a adequação deste saldo”. 2 “Pelo facto do sistema de gestão do imobilizado não permitir um adequado controlo, inventário, e processamento do

cadastro dos bens de imobilizado não é possível assegurar com razoabilidade o valor das imobilizações corpóreas

existentes e consequentemente as amortizações do exercício e o impacto quer nos ativos e fundos próprios quer no

resultado líquido do exercício”. 3 “O Instituto tem em curso uma reconciliação entre os bens registados na conta contabilística de imobilizado corpóreo

da Entidade e os parques informáticos que são geridos e propriedade do Instituto. De acordo com informações que nos

foram disponibilizadas, não nos é possível quantificar em número e em valor, os equipamentos que estão registados no

ativo do Instituto e que já não estão operacionais ou que já foram abatidos. Acresce ainda que, não nos foi possível obter

informações que permitam concluir sobre a localização física de todos os bens que estão registados no património do

Instituto. Assim, decorrente do exposto, não foi possível concluir sobre o seu efeito no valor do ativo imobilizado,

resultados do exercício e em capitais próprios”. 4 “Os saldos e transações relativos às contribuições e prestações sociais são geridos pela aplicação informática “sistema

Integrado de Conta Corrente (SICC) da exclusiva responsabilidade do Instituto de Informática, IP. Em 2016, este

Instituto disponibilizou, pela primeira vez, informação sobre os saldos existentes reportados à data de 6 de janeiro de

2017, tendo-se concluído, numa primeira fase do trabalho de regularização que está em curso de desenvolvimento, que

os saldos contabilísticos a este respeito podiam estar sobreavaliados em cerca de 105.283 milhares de euros e, nesta

conformidade, procedeu-se à respetiva regularização contabilística desse montante por contrapartida de resultados

transitados. Não obstante os esforços que estão a ser desenvolvidos quer em termos contabilísticos ou sobre a avaliação

da composição das contas correntes expressas na rubrica de Dívida de terceiros que estão registadas nas demonstrações

financeiras no montante de 320.956 milhares de euros, consideramos que os procedimentos de controlo e de registo das

transações relativas a contribuições e prestações sociais, bem como a conciliação dos dados registados na referida

aplicação informática e na contabilidade não são suficientes para assegurarem que os movimentos de natureza diversa

ocorridos durante o ano são apropriadamente classificados nas demonstrações financeiras de acordo com a sua efetiva

natureza ou objeto de registo nessas aplicações. Nestas circunstâncias, não nos é possível validar a natureza da

classificação dos saldos devedores de contribuintes, bem como os respetivos proveitos e custos, expressos nas

demonstrações financeiras em 31 de dezembro de 2016 e a aplicação do princípio da especialização dos exercícios,

nomeadamente relacionado com as obrigações relativas a prestações sociais que são apenas reconhecidas quando

ocorre a sua liquidação, os direitos relativos às contribuições que são registados na data de entrega das declarações

dos contribuintes e a estimativa das obrigações vencidas e vincendas na data de relato, e, consequentemente, não é

praticável também quantificar eventuais ajustamentos de provisões de cobrança duvidosa representadas nas

demonstrações financeiras nessa data que perfazem o montante de 94.962 milhares de euros”. 5 “Os ativos adquiridos em processos de dação em pagamento por incumprimento das obrigações contributivas refletido

nas demonstrações financeiras na rubrica investimentos em imóveis e que totalizam 19.005 milhares de euros estão

registados ao valor de custo deduzido das respetivas amortizações, não são sujeitas a testes que avaliem e identifiquem

perda de valor que pode ser desencadeada pela ocorrência de diversos acontecimentos. Na ausência desses estudos

técnicos periódicos realizados por avaliadores independentes, não nos é possível concluir sobre o valor atual destes

ativos”. 6 “Em relação aos seus trabalhadores que transitaram do regime de trabalho das instituições de previdência, o ISSA

suporta, na quota-parte correspondente à parcela da antiguidade não abrangida por descontos antes da sua integração

no regime de função pública em relação à antiguidade global do trabalhador, a responsabilidade de complementar

pensões de reforma e sobrevivência definidas pela Caixa Geral de Aposentações, cujos encargos do ano a este respeito

liquidados totalizaram 1.778 milhares de euros (em 2015, 1.801 milhares de euros). A inexistência de um estudo atuarial

impede-nos de avaliar a responsabilidade que o ISSA tinha com os complementos de pensão de reforma e de

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 261

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

236

O Conselho Consultivo do IGFSS, com competências para a emissão de parecer sobre o orçamento e a

conta da segurança social, nunca foi nomeado, encontrando-se prejudicado o exercício destas

competências consultivas e incumprido o regime legal vigente1. O Tribunal, em Pareceres anteriores,

formulou recomendações2 ao MTSSS para que diligenciasse pela nomeação daquele Conselho

Consultivo. Em sede de acompanhamento de recomendações, a SESS informou3 que “(…) foi solicitado às várias entidades envolvidas a designação dos seus representantes no Conselho Consultivo do IGFSS, no sentido

de publicar o despacho de nomeação no último trimestre”.

O Conselho Consultivo do Fundo Especial de Segurança Social dos Profissionais de Banca dos Casinos

não emitiu parecer sobre o relatório e os mapas demonstrativos da gestão do Fundo4 conforme estabelece

alínea a) do n.º 1 do art. 52.º do Regulamento do Fundo aprovado pela Portaria 40/92, de 04/035.

O orçamento e a conta do Fundo de Socorro Social (FSS) constituem anexos ao orçamento e à conta da

Segurança Social6. Até 2013, tais publicações não se verificaram. A partir de 2014, na sequência de

recomendação formulada pelo Tribunal no Parecer sobre a CGE de 20137, a conta do Fundo já foi

publicada em anexo às respetivas Contas da Segurança Social. No entanto, os orçamentos do Fundo não

têm sido publicados em anexo ao OE, pelo que as normas reguladoras da sua divulgação continuam

incumpridas. O Tribunal formulou recomendações em Pareceres anteriores8 com vista ao cumprimento

da disposição legal. No âmbito do acompanhamento de recomendações, a SESS informou que “No que respeita aos mapas orçamentais do FSS, os mesmos foram remetidos à Direção-Geral do Orçamento, anexos às

sobrevivência a pagar aos seus pensionistas e aos seus empregados no ativo em 31 de dezembro de 2016”. Regista-se ainda que o ISSA também suporta o pagamento de pensões dos trabalhadores abrangidos pelo Regime de Previdência

dos Trabalhadores Rurais, regulado pelo Decreto 174-A/75, de 1 de abril, cujo montante liquidado durante o ano foi de

682 milhares de euros (em 2015, 777 milhares de euros). Com referência a 1 de janeiro de 2015, foram reconhecidas

nas demonstrações financeiras preparadas em 31 de dezembro de 2015 as responsabilidades existentes com os

trabalhadores abrangidos pelo Regime de Previdência dos Trabalhadores Rurais, no montante de 5.855 milhares de

euros, que afetaram negativamente os capitais próprios do período findo naquela data, situação que foi anulada neste

exercício. O valor das responsabilidades que, com algum grau de segurança, deveria estar provisionada nas

demonstrações financeiras em 31 de dezembro de 2016 estima-se em 4.443 milhares de euros”. 1 Art. 7.º, n.º 4, do Decreto-Lei 84/2012. De notar que a Lei Quadro dos Institutos Públicos (Lei 3/2004, de 15/1, que sofreu

sucessivas alterações, a última das quais por via do Decreto-Lei 96/2015, de 29/05) configura a existência deste órgão

“de consulta, apoio e participação na definição de linhas gerais de atuação do instituto e nas tomadas de decisão do conselho diretivo” como facultativa, pelo que só existirá nos casos em que a lei orgânica do instituto público o preveja, como é expressamente o caso (cfr. arts. 17.º, n.º 3 e 29.º e seguintes do diploma).

2 Cfr. Recomendações 61-PCGE/2015 e 62-PCGE/2014, disponíveis em www.tcontas.pt. 3 Cfr. ofício n.º 4405, de 08/09/2017. A SESS, através do oficio n.º 4857, de 06/10/2017, informou que “(…) o processo

encontra-se em fase de conclusão, aguardando-se apenas a indicação de alguns representantes, após a qual será

assinado e publicado o respetivo despacho”. 4 Questionado o Presidente do Conselho Consultivo do Fundo, sobre a data em que lhe foram remetidos, para parecer, o

relatório e os mapas demonstrativos da gestão do Fundo relativos ao exercício de 2016 e ainda sobre se tal parecer tinha

sido emitido, informou apenas que o parecer não foi emitido, não tendo informado sobre a data de disponibilização da

informação necessária à emissão do parecer. Regista-se, contudo, que, de acordo com o ponto 6 da Portaria 58/93, de

13.01, a entidade gestora do Fundo é o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social. De acordo com a alínea g) do

art. 6.º dos Estatutos do Instituto, aprovados pela Portaria 417/2012, de 19/12, a gestão do Fundo encontra-se cometida

ao Departamento de Gestão Financeira. Assim, o Presidente do Conselho Consultivo teve conhecimento da informação

pertinente por força das funções exercidas no Instituto, tendo aprovado as contas do exercício de 2016 em 27/02/2017.

De salientar que o n.º 2 do art. 52.º do Regulamento do Fundo dispõe que o Conselho Consultivo se pronunciará no prazo

que lhe for estabelecido, nunca inferior a 15 dias, e que a falta de parecer será considerada como concordância. Contudo,

esta concordância pressupõe uma transmissão prévia da informação sobre a qual o Conselho deverá emitir o seu parecer

e uma fixação de prazo para o efeito, o que, no caso, não ocorreu. 5 O Regulamento do Fundo foi alterado pela Portaria 12/2017, de 09/01, mas o art. 52.º manteve-se inalterado. 6 Art. 6.º, n.º 3, do Decreto-Lei 102/2012, de 11/05. 7 Cfr. Recomendação 60-PCGE/2013, disponível em www.tcontas.pt. 8 Cfr. Recomendações 62-PCGE/2015 e 60-PCGE/2013, todas disponíveis em www.tcontas.pt.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 262

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Tribunal de Contas

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propostas de OSS 2016 e OSS 2017, para efeitos da respetiva publicação”. Na mesma sede, o Ministro das Finanças informou que se trata de “Matéria acompanhada no âmbito da SS”.

A DGO, em sede de contraditório, alegou que “(…) os mapas orçamentais do Fundo de Socorro Social (…) não constituem um elemento definido pela Lei de Enquadramento Orçamental como tendo de integrar a proposta

de Orçamento do Estado” e que “(…) não foi feito enquadramento, pelo IGFSS, da intenção de se incluir os elementos em causa”. Alega ainda a sua preocupação em dar cumprimento à lei e aos elementos exigidos, sendo também do seu interesse enriquecer o conteúdo do OE, sempre que tal se revele viável, e finaliza

informando que “(…) a questão será oportunamente analisada para efeitos de próximos Orçamentos de Estado”.

Regista-se a este propósito que a obrigatoriedade de publicação dos referidos mapas orçamentais decorre

não da LEO, mas do Decreto-Lei 102/2012, de 11/5, que estabelece o regime do FSS.

11.2. Limitações e condicionantes

Salientam-se como limitações e condicionantes à elaboração do presente Parecer sobre a CSS, os

seguintes:

 Ao nível do SIF:

 Não integração neste de todas as entidades incluídas no perímetro de consolidação;

 Apesar das melhorias verificadas no preenchimento dos descritivos das operações realizadas, ainda persistem algumas operações em que esse descritivo não existe ou a sua inscrição é em

forma de código, o que dificulta e/ou impede a compreensão dos movimentos contabilísticos

subjacentes;

 Inexistência de mapas orçamentais consolidados das receitas e das despesas por classificação económica de cada componente do sistema previdencial e de cada subsistema do sistema de

proteção social de cidadania com imputação das despesas de administração e de outras

despesas comuns do sistema.

 Não foi disponibilizado o Relatório Analítico sobre a CSS de 2016, facto que limitou a análise da conta, uma vez que a informação incluída no Relatório da CGE de 2016 (Volume I) sobre a

conta da segurança social é bastante exígua1.

1 Cfr. ponto V. Anexos – Conta da Segurança Social (págs. 307 a 320).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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12. ORÇAMENTO E CONTA DA SEGURANÇA SOCIAL

O OSS e a CSS são compostos pelos mapas a que se referem, respetivamente, os arts. 32.º e 75.º da

LEO1, bem como pelos elementos informativos constantes do art. 76.º daquela Lei, pelo mapa de fluxos

de caixa consolidado e pelo Anexo às demonstrações financeiras consolidadas.

Todas as entidades que integram o perímetro de consolidação utilizaram, em 2016, o SIF, com exceção

do IGFCSS e do FEFSS, situação sobre a qual o Tribunal se tem pronunciado desde 20082 e que impediu

a obtenção de informação orçamental e patrimonial consolidada diretamente da referida aplicação

informática, exigindo intervenções manuais por parte do IGFSS, procedimentos que tendem a aumentar

o nível de risco de erro da informação financeira da CSS. Em sede de acompanhamento de

recomendações, a SESS informou que “A implementação do SNC-AP nos vários organismos do universo da Segurança Social implica profundas alterações no SIF, pelo que se encontra em avaliação o interface com o

FEFSS no âmbito destes desenvolvimentos”.

No que respeita à consolidação orçamental, para além das limitações decorrentes da não integração das

referidas entidades, a aplicação informática continua a não se encontrar parametrizada para proceder à

imputação das despesas de administração e de outras despesas comuns do SSS aos subsistemas do

sistema de proteção social de cidadania e à componente de repartição do sistema previdencial, à

eliminação das transferências internas entre subsistemas e componentes, à eliminação de receitas e

despesas recíprocas, com exceção das transferências correntes e de capital e à execução dos saldos

iniciais e integrados. Assim, a produção de mapas orçamentais consolidados requer intervenção manual.

O Tribunal tem formulado recomendações no sentido de que sejam desenvolvidos os procedimentos

necessários com vista à produção automática dos mapas orçamentais consolidados3. No âmbito do

acompanhamento de recomendações, a SESS informou que “Em sede de implementação do SNC-AP serão tidas em conta as soluções técnicas para o acolhimento integral desta recomendação”.

A consolidação da CSS tem por base o método de simples agregação, conforme definido na alínea a) do

ponto 6.5 da Orientação 1/2010, publicada em anexo à Portaria 474/2010.

De acordo com o mencionado no Anexo às demonstrações financeiras consolidadas, os critérios de

valorimetria aplicados pelas entidades integrantes do perímetro são os constantes do POCISSSS, com

exceção aplicável aos ativos do FEFSS4 e à constituição de provisões para cobrança duvidosa do FGS5,

que utilizam diferentes critérios6, por se considerar que estes refletem de forma verdadeira e apropriada

a sua posição financeira.

1 Lei 91/2001, de 20/08, na redação constante da sua republicação através da Lei 41/2014, de 10/07. 2 Cfr. Recomendações 63-PCGE/2015, 59-PCGE/2014, 58-PCGE/2013, 51-PCGE/2012, 53-PCGE/2011, 51-PCGE/2010

e 67-b) -PCGE/2008, e Auditoria Orientada às Operações de Consolidação da Conta da Segurança Social de 2008 -

Relatório 52/2009 – 2.ª S, todos disponíveis em www.tcontas.pt. 3 Cfr. Recomendações 64-PCGE/2015, 60-PCGE/2014, 59-PCGE/2013, 52-PCGE/2012, 54-PCGE/2011, 51-PCGE/2010,

62-PCGE/2008 e 70-PCGE/2007, e Auditoria Orientada às Operações de Consolidação da Conta da Segurança Social de

2008 - Relatório 52/2009 – 2.ª S, todos disponíveis em www.tcontas.pt. 4 Utilização do critério do justo valor, em vez do critério do custo histórico, conforme Normativo de Valorimetria do

FEFSS (Regulamento específico do IGFCSS). 5 As dívidas provenientes de sub-rogação de créditos são provisionadas a 100%, independentemente da antiguidade da

dívida, em função do elevado risco de incobrabilidade associado às entidades que recorrem ao FGS. 6 As normas internacionais e nacionais de contabilidade admitem a derrogação de normativos contabilísticos, desde que

estes retratem de forma fiel a realidade contabilística da entidade.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 264

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Tribunal de Contas

239

12.1. Orçamento da Segurança Social

O OE para 2016 (OE/2016) foi aprovado pela Lei 7-A/2016, de 30/031, e as respetivas normas de

execução orçamental estabelecidas no Decreto-Lei 18/2016, de 13/042. Até à publicação da LOE/2016

(30/03/2016), aplicou-se o regime previsto no art. 12.º-H da Lei de Enquadramento Orçamental (LEO),

aprovada pela Lei 91/2001, de 20/08, sucessivamente alterada, que foi mantido em vigor pelo n.º 2 do

art. 7.º da Lei 151/2015, de 11/093. Entre 1 de janeiro e 30 de março de 2016, a execução orçamental foi

regulada ainda pelo disposto no Decreto-Lei 253/2015, de 30/12, o qual aprovou um conjunto de normas

destinadas a clarificar o orçamento de referência para aplicação do regime duodecimal e a identificar as

exceções a esse mesmo regime.

12.1.1. Principais medidas legislativas com impacto na execução orçamental

O OE/2016 (segundo após o PAEF e primeiro da atual legislatura) continuou a integrar medidas

direcionadas para a recuperação do défice público e da sustentabilidade da dívida pública até à

revogação do procedimento por défices excessivos a que Portugal se encontrava sujeito4, ao mesmo

tempo que introduziu medidas direcionadas ao crescimento económico e reforço da coesão social,

abrangendo áreas como a recuperação do rendimento disponível das famílias, a promoção do

investimento e do emprego e o reforço da coesão social. Mantiveram-se, ainda assim, medidas que

visaram a redução da despesa pública e a recuperação da receita fiscal e contributiva5. Da reorientação

da política orçamental destacam-se as seguintes alterações com impactos diretos na execução do

OSS/2016:

i. Política salarial pública – continuação da reversão gradual dos cortes salariais previstos na Lei 75/2014, de 12/09, com eliminação completa da redução remuneratória a partir de

01/10/20166.

1 Retificada pela Declaração de Retificação 10/2016, publicada em 25/05. 2 Retificado pelas Declarações de Retificação 5/2016 e 10-A/2016, publicadas em 21/04 e 09/06, respetivamente, e

alterado pela Decreto-Lei 35-A/2016, de 30/06. 3 Prorrogação da vigência da lei do orçamento do ano anterior em situações em que não seja possível apresentar e aprovar

a lei do orçamento relativa ao ano em curso de modo a que a mesma possa entrar em vigor em 1 de janeiro. 4 O Conselho da União Europeia de 16 de junho de 2017 decidiu, sob recomendação da Comissão Europeia, revogar o

Procedimento por Défice Excessivo (PDE) de Portugal. Em Nota do Governo Português, divulgada na mesma data, pode

ler-se: “A decisão surge na sequência da aceleração do crescimento, que está agora acima da média da UE;de uma forte redução do desemprego, hoje abaixo dos 10%; e de uma abordagem metódica para corrigir os problemas do setor

financeiro. Reflete ainda mudanças estruturais na economia portuguesa, que atualmente gera excedentes sustentados na

balança corrente. (…) Manter-se-á a estratégia financeira cautelosa e rigorosa para preservar e para incrementar os benefícios agora observados.”

5 “A política orçamental está estruturada em torno de uma estratégia de sustentabilidade das Finanças Públicas aliada

ao crescimento económico, prosseguindo políticas económicas e financeiras diferentes das observadas nos quatro anos

anteriores (…). Num quadro de uma estratégia sustentável de redução do défice orçamental e da dívida pública, é imperativo: relançar a economia e prosseguir políticas públicas equitativas, reduzindo a pobreza, as desigualdades

sociais e promovendo a natalidade; inverter a tendência de perda de rendimento; estimular a criação de emprego e

combater a precariedade, através da qualificação dos trabalhadores; modernizar e diversificar a economia portuguesa,

criando condições para o investimento, a inovação e a internacionalização das empresas, e, simultaneamente, garantir

a provisão de serviços públicos universais e de qualidade. (…). Em 2016, a estratégia de consolidação permite alcançar um défice orçamental de 2,2%, uma redução de 2,1 p.p. face ao valor previsto para o ano anterior de 4,3% do PIB.”. in Relatório OE/2016, página 33.

6 Lei 159-A/2015, de 15/12.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 265

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

240

ii. Prestações destinadas ao combate à pobreza e exclusão social: Rendimento social de inserção

(RSI) – alteração da escala de equivalência aplicável, com o inerente aumento da percentagem do montante a atribuir por indivíduo maior e por indivíduo menor e alteração do valor de

referência do RSI, que passa a € 180,991; Complemento solidário para idosos (CSI) – alteração do valor anual de referência para € 5.059/ano2.

iii. Prestações familiares – Majoração em 35% do abono de família para crianças e jovens inseridos em agregados familiares monoparentais3; Atualização do abono de família para crianças e jovens

e do abono de família pré-natal em 3,5% para o primeiro escalão, 2,5% para o 2.º escalão e 2%

para o terceiro escalão4 e atualização adicional de 0,5% para os 2.º e 3.º escalões5; Atualização

dos valores das majorações do abono de família para crianças e jovens e do abono de família pré-

natal para famílias com duas ou mais crianças ou jovens titulares de abono de família6 e

atualização adicional destas majorações para o 2.º e 3.º escalões7; Atualização dos valores das

majorações do abono de família para crianças e jovens e do abono de família pré-natal em

situações de monoparentalidade8; Atualização para € 101,17 do subsídio de assistência por terceira pessoa9.

iv. Pensões – atualização das pensões estatutárias e regulamentares de invalidez e de velhice do regime geral e de aposentação, reforma e invalidez da CGA, atribuídas antes de 01/01/2015,

iguais ou inferiores a € 628,82 (1,5 IAS) em 0,4% e manutenção do valor das restantes10; Reposição do pagamento de todos os complementos de pensão nas empresas do setor público

empresarial aos trabalhadores no ativo e aos antigos trabalhadores aposentados, reformados e

demais pensionistas, suspenso pela LOE/201411.

O efeito conjugado destas medidas e da recuperação do mercado de trabalho, fizeram regredir o esforço

financeiro do Estado no que respeita ao financiamento do OSS, com destaque para a cobertura das

necessidades de financiamento do défice do sistema previdencial – repartição, que recuou, em 2016, quando comparada com os períodos homólogos de 2013, 2014 e 2015.

12.1.2. Orçamento inicial, alterações orçamentais e orçamento final

O Quadro C.1 evidencia a evolução da previsão das receitas e despesas do OSS (orçamento inicial vs.

orçamento corrigido final), operada através das alterações orçamentais vertidas nos Mapas X e XII, de

acordo com a sua natureza – “Créditos Especiais”, “Reforços” e “Anulações”.

1 Decreto-Lei 1/2016, de 06/01. 2 De acordo com a redação dada pelo art. 79 º da Lei 7-A/2016, de 30/03, ao art. 9 º do Decreto-Lei 232/2005, de 29/12. 3 Alteração introduzida ao n.º 4 do art. 14.º do Decreto-Lei 176/2003, de 02/08, pelo Decreto-Lei 2/2016, de 06/01. 4 Art. 2.º da Portaria 11-A/2016, de 29/01, com efeitos a partir de 01/02/2016. 5 Art. 1.º, n.º 1 e 2.º da Portaria 161/2016, de 09/06, com efeitos retroativos a 01/04/2016. 6 Art. 3.º da Portaria 11-A/2016. 7 Art. 3.º da Portaria 161/2016. 8 Art. 4.º da Portaria 11-A/2016. 9 Arts. 1.º, n.º 2 e 5.º da Portaria 161/2016, de 09/06, com efeitos retroativos a 1/04/2016. 10 Art. 2.º da Portaria 65/2016, de 01/04, com efeitos a 01/01/2016. 11 Determinada pela Lei 11/2016, de 04/04, cujos efeitos retroagem à data da entrada em vigor da LOE/2016.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 266

Página 267

Tribunal de Contas

241

Quadro C. 1 – Alterações orçamentais

(em milhões de euros)

Receita Despesa Saldo

previsto Parcial Total Parcial Total

Orçamento inicial 41 625 (1) 40 595 1 030

Alterações orçamentais

Créditos especiais 711 230

Reforços 256 2 934

Anulações -430 537 -3 084 80

Orçamento corrigido 42 162 40 675 1 487

(1) Inclui € 414 M de saldo de anos anteriores.

Fonte: Lei 7-A/2016, de 30/03, e CSS/2016.

No orçamento inicial, a previsão da despesa situou-se abaixo da previsão da receita, apontando para um

saldo orçamental de € 1.030 M. A relação entre despesa e receita previstas manteve-se no orçamento corrigido final, com a receita a expandir-se mais que a despesa (1,3% e 0,2%, respetivamente), o que

proporcionou um incremento do saldo orçamental previsto na ordem dos 44,4% (para € 1.487 M).

Em termos líquidos (total de reforço e anulações) e valor absoluto, no orçamento da receita as reduções

mais significativas ocorreram nos ativos financeiros - ações e outras participações – países terceiros (€ 175 M), enquanto os aumentos se verificaram na integração de saldos de anos anteriores (€ 711 M) e nas vendas de bens de investimento (€ 13 M). No orçamento da despesa as maiores reduções verificaram-se nas transferências correntes para a administração central (€ 70 M) e para as famílias (€ 142 M); já os maiores aumentos tiveram lugar nos ativos financeiros (€ 200 M).

Verificou-se uma transferência de excedentes provenientes do OE apurados nos subsistemas do sistema

de proteção social de cidadania para o sistema previdencial – repartição, ao abrigo da alínea i) do art. 92.º da LBSS, salientando-se que estas transferências têm vindo a ser recorrentes, o que significa, desde

logo, que as previsões anuais relativas aos encargos a suportar por verbas do OE no sistema de proteção

social de cidadania têm vindo, sistematicamente, a revelar-se superiores ao necessário, obrigando, nesta

vertente, a um esforço maior do que o devido por parte do OE. Os saldos não transitam, no ano seguinte,

para o mesmo sistema, antes sendo transferidos, no próprio ano, para o sistema previdencial-repartição.

Muito embora esta prática seja permitida pela mencionada norma, o procedimento seguido, para além

do aspeto negativo anteriormente focado, torna menos transparente o valor total do financiamento do

défice do sistema previdencial-repartição que, na prática, e para além da transferência do OE anualmente

inscrita no OSS para o efeito, é também colmatado desde 2012 por esta via. Assim, no ano de 2016, o

sistema previdencial-repartição beneficiou quer da transferência do OE para financiamento do seu

défice, no valor de € 650 M, quer ainda da transferência dos referidos excedentes do sistema de proteção social de cidadania, no valor de € 230 M.

O cálculo aritmético realizado através da fórmula “orçamento final=orçamento Inicial+créditos especiais+reforços–anulações” com os dados constantes do mapa das alterações orçamentais da despesa publicado na CGE (mapa 33) não produz o resultado relevado na coluna do orçamento final deste mapa

em diversas classificações económicas. Em nota de rodapé ao mapa 33 é mencionado que “Foi incluída a coluna- OSS 2016 inicial-SIF dado que o orçamento inicial aprovado pela Lei n.º 7-A, de 30 de março de 2016,

foi lançado na sequência do período transitório o que originou diferenças em algumas Rúbricas de classificação

económica”. O IGFSS justificou essa situação com constrangimentos da aplicação informática, em especial nos casos em que valores aprovados no orçamento inicial são inferiores aos que vigoraram no

período transitório.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 267

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

242

Não obstante a inclusão de uma nota ao quadro que divulgou os valores do orçamento inicial e do

orçamento final, bem como das respetivas alterações orçamentais, a informar que tinha sido incluída

uma coluna com dados sobre o OSS inicial SIF-2016, tal coluna não é visível no quadro publicado na

CGE o que prejudica a transparência da informação divulgada. Considerando que a partir de 2018 entra

em vigor um novo modelo contabilístico SNC-AP, o qual exige a adaptação dos sistemas informáticos

para efeitos da sua implementação, devem estas adaptações contemplar também as funcionalidades

necessárias ao adequado registo dos movimentos em períodos de vigência de orçamentos transitórios e

de orçamentos iniciais posteriormente aprovados, que contemplem a situação suprarreferida, de modo a

eliminar os atuais constrangimentos mencionados pelo IGFSS.

12.2. Conta da Segurança Social

A Conta da Segurança Social publicada na CGE integrou o relatório, os mapas e os elementos

informativos referidos no art. 32.º, conjugado com os arts. 74.º, 75.º e 76.º da LEO ainda parcialmente

em vigor e o Anexo às demonstrações financeiras e orçamentais consolidadas.

12.2.1. Consolidação de contas

A consolidação orçamental envolve operações automáticas e manuais. Através das operações

automáticas são eliminadas as transferências inter instituições do setor institucional “Segurança Social” incluídas na aplicação SIF. As operações manuais englobam um conjunto de operações com vista a

completar a execução com os dados relativos às entidades1 que ainda não estão incluídas no SIF, o

IGFCSS e o FEFSS, de modo a evidenciar as transferências entre sistemas e subsistemas, a eliminar

operações inter instituições com classificações económicas diferentes das transferências correntes e de

capital do setor institucional “Segurança Social”, bem como a imputar as despesas de administração aos subsistemas do sistema de proteção social de cidadania e ao sistema previdencial – repartição.

O Tribunal tem vindo a reiterar a recomendação2 formulada no sentido de serem desencadeados os

procedimentos necessários à produção automática dos mapas de execução orçamental consolidados

globais, por componentes e por subsistemas, que incorporem todas as operações necessárias à sua

produção na própria aplicação (SIF), evitando o recurso a intervenções manuais. Contudo, tal

mecanismo ainda não foi implementado devido a limitações técnicas3, o que leva a que os mapas que

constituem a CSS sejam elaborados fora da aplicação, com recurso à ferramenta informática Excel.

1 A SESS, no âmbito do acompanhamento do acolhimento das Recomendações formuladas pelo Tribunal no tocante à

recomendação 59-PCGE/2014 informa que “A implementação do SNC-AP nos vários organismos da Segurança Social implica alterações profundas no SIF, pelo que se encontra em avaliação o interface com o FEFSS no âmbito destes

desenvolvimentos.”. 2 Recomendações: 64-PCGE/2015; 60-PCGE/2014; 59-PCGE/2013; 52-PCGE/2012; 54-PCGE/2011, disponíveis em

www.tcontas.pt. 3 No âmbito do acompanhamento do acolhimento das Recomendações formuladas pelo Tribunal no PCGE/2014, a SESS,

a propósito da recomendação 60-PCGE/2014, informou o seguinte: “Foram desenvolvidos alguns mapas que respondem parcialmente ao solicitado pelo Tribunal de Contas, apesar de limitações técnicas impedirem a efetiva consolidação

orçamental no sistema, designadamente:

- O Equilíbrio de Sistemas/Subsistemas, quer em sede de orçamento, quer de execução do orçamento dos Sistemas e

Subsistemas de Segurança Social através do mecanismo de transferências internas;

- Imputação aos Sistemas e Subsistemas de Segurança Social das despesas de administração, quer em sede do

Orçamento, quer de execução;

- Execução dos saldos iniciais e integrados.

(…). Em sede de implementação do SNC-AP, serão tidas em conta soluções técnicas para o acolhimento integral desta recomendação.”

22 DE DEZEMBRO DE 2017 268

Página 269

Tribunal de Contas

243

A consolidação das demonstrações financeiras (contabilidade patrimonial) é feita em módulo próprio na

aplicação informática SIF (módulo EC-CS). Todavia, este módulo continua a apresentar

constrangimentos1, que a entidade consolidante (IGFSS) espera ver supridos com a concretização de

uma nova solução funcional e tecnológica2, em sede de implementação do SNC-AP. A intervenção

manual, no próprio módulo, permite extrair o balancete3, o balanço, a demonstração de resultados e o

mapa de amortizações e provisões consolidados. Porém, este último mapa – extraído do SIF – continua a não apresentar total correspondência com o publicado na nota 20 do ADFOC. Com efeito, à exceção

dos agregados Investimentos financeiros e Investimentos em imóveis, nas restantes contas os valores dos

reforços e das regularizações não são coincidentes, apesar de apresentarem os mesmos saldos iniciais e

finais. Por outro lado, neste mesmo mapa, em 2016, relativamente à conta de Propriedade Industrial e

outros direitos verifica-se que nem o saldo inicial (€ 694 m) nem o saldo final (€ 2.488 m) coincidiram com os divulgados no quadro da nota 20 do ADFOC (€ 1.558 m e € 3.352 m, respetivamente), vindo a traduzir-se numa diferença de € 864 m nos mencionados saldos, quando se comparam estes dois mapas4.

O módulo não produz um balanço com as dívidas de terceiros desagregadas por curto, médio e longo

prazo, similar aos balanços individuais das instituições, sendo esta peça contabilística elaborada de

forma manual, com recurso a elementos extraídos das aplicações auxiliares de conta corrente de

contribuintes (SEF) e beneficiários (SICC e SEF) e à utilização da ferramenta informática Excel.

Contudo, esta informação não é suficiente para realizar esta distinção com rigor no que respeita aos

contribuintes, uma vez que, no âmbito de encerramento de contas, não são ainda disponibilizados dados

no sistema auxiliar de contas correntes de GC (dívida não participada a execução fiscal) que permitam

realizar, à semelhança do que ocorre com os dados do sistema SEF, a desagregação da dívida por curto

prazo (CP) e médio e longo prazo (MLP), em função da antiguidade da dívida5.

O II, em sede de contraditório, informa que “(…) os mecanismos existentes que permitem apurar a antiguidade da dívida em SEF assentam no facto de termos, em SEF, apenas dívida ativa. Isto é, não temos crédito ativo. Em

contrapartida, em GC, temos créditos e débitos ativos na mesma conta corrente o que torna mais complexo a

1 Nomeadamente ao nível da transposição dos saldos de anos anteriores e no apuramento dos movimentos de consolidação

das contas mistas e do resultado líquido, apenas superáveis por via da intervenção manual no próprio módulo. O módulo

também não produz o mapa consolidado do ativo bruto. 2 A SESS, no âmbito do acompanhamento do acolhimento das Recomendações formuladas pelo Tribunal no PCGE/2014

(Recomendação 63-PCGE/2014), informa o seguinte: “Conforme referido anteriormente (Recomendação 60-PCGE/2014), em sede de implementação do SNC-AP, serão tidas em conta soluções técnicas para o acolhimento desta

recomendação.” 3 O mapa Diário-Razão-Balancete extraído do módulo de Consolidação não se revelou fiável, porquanto apresentou valores

em algumas contas desagregadas que não coincidem com os constantes do balancete individual das instituições de

segurança social, não obstante os valores da conta-mãe serem os mesmos (vg. FESSPBC apresenta nos exercícios de

2015 e 2016 um saldo credor em Depósitos a prazo na ordem dos € 10 M que não corresponde com o valor constante nas extrações via SIF da conta individual). A falta de harmonização destes documentos contabilísticos induz em erro aquando

da análise dos dados. 4 Esta situação está associada à alteração de conta do registo contabilístico. Com efeito, em 2015 no sistema informático

foi utilizada a conta 435- Direitos económicos desportivos e no ano de 2016 o saldo desta conta foi transferido para a

conta 433-Propriedade industrial e outros direitos. No entanto, já no ano de 2015, em sede de consolidação, os valores

foram reclassificados na conta 433-Propriedade industrial e outros direitos quer no balanço, quer no “Quadro de amortizações e provisões” divulgado na nota 20 do ADFOC.

5 No âmbito do encerramento de contas são disponibilizados dados extraídos do sistema auxiliar SEF (dívida participada

a execução fiscal). Estes dados contêm informação desagregada por contribuinte, antiguidade da dívida e correspondente

valor. Já para os dados que residem no sistema auxiliar GC (dívida não participada a execução fiscal), no âmbito de

encerramento de contas, não são extraídos dados por contribuinte que permitam desagregar tal informação. Assim, a

desagregação que é feita para a dívida classificada de conta corrente (excluindo a considerada de cobrança duvidosa) é

realizada por diferença entre o valor do saldo da conta do razão 212-Cotribuintes c/c e uma das parcelas (CP ou MLP)

apuradas através do sistema auxiliar SEF (dívida que, embora tenha sido participada execução fiscal, não é considerada

de cobrança duvidosa, por diversas razões: ainda não ter atingindo a maturidade de 6 meses, estar a ser regularizada

através de planos prestacionais, estar coberta por garantia ou respeitar a organismos públicos).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

244

identificação de regras concretas para apurar esta dívida. Não obstante esta dificuldade, informamos que os

dados podem ser extraídos em qualquer momento” e que o “Sistema de Informação da Segurança Social é um todo complementando-se os vários módulos tentando, como é boa prática, não duplicar movimentos entre

sistemas. O GC, SICC e SEF constituem aplicações basilares e operacionais da Segurança Social no que respeita

à arrecadação contributiva, pagamento de prestações e cobrança em execução fiscal. São estes sistemas que

guardam e mantêm o detalhe da informação enviada para SIF. Desta forma, todos os movimentos contabilizados

em SIF são rastreáveis à sua origem, quer em SEF, SICC ou a GC. Por conseguinte, e não obstante a sua

contabilização em sede de SIF, qualquer mapa com detalhe terá de ser extraído do sistema operacional”.

Conforme é referido na nota de rodapé n.º 195 da pág. 231, os dados extraídos para SIF são rastreáveis

na aplicação GC, ou seja, se partir de um movimento de SIF, através do número de extração, analisa-se

o detalhe daquele movimento na aplicação GC. Contudo, este exercício não é suficiente para efeitos de

preparação do fecho do exercício contabilístico de cada ano. Com efeito, residindo a informação de

detalhe em sistemas aplicacionais diferentes do SIF é necessário assegurar, no momento do “corte das operações” de fim do exercício, a produção da informação necessária à elaboração das demonstrações financeiras e respetivos anexos, que atualmente não é disponibilizada.

Devido às insuficiências do módulo de consolidação patrimonial e à falta de integração no sistema de

informação financeira da segurança social (SIF) de duas das instituições que integram o perímetro de

consolidação (IGFCSS e FEFSS), o IGFSS tem utilizado, também e em paralelo, o método de

consolidação manual (linha a linha).

Tendo por base a informação de natureza orçamental, financeira, patrimonial e económica constante da

documentação de prestação de contas das entidades inseridas no perímetro de consolidação da segurança

social, os ficheiros utilizados nas operações de encerramento de contas das instituições e

disponibilizados pelo II, a informação incluída na prestação da conta consolidada da segurança social

de 2016 ao Tribunal e a informação complementar recolhida no desenvolvimento dos trabalhos e os

esclarecimentos prestados, salientam-se os seguintes aspetos:

 A entidade consolidante, através da Circular 2/2016, emitiu normas gerais para apresentação das contas anuais das instituições de segurança social, das quais constam, entre outras, a

obrigatoriedade de prestação de informação que permita a uniformização de critérios no registo

contabilístico de operações relativas a prestações sociais a repor, constituição de provisões e

prestações sociais em prescrição e ainda de registo contabilístico de contribuições. Com vista a

garantir a uniformização, em sede de consolidação, o IGFSS efetuou ajustamentos às contas

individuais do ISSA e do ISSM para efeitos de classificação de dívida de contribuintes de curto,

médio e longo prazo. Contudo, verificou-se que estes procedimentos não foram suficientes para

garantir a uniformidade de critérios, uma vez que:

 A metodologia de desagregação das dívidas de conta corrente de CP e MLP não foi uniforme entre os três institutos (IGFSS, ISSA e ISSM)1;

 Os critérios adotados no tratamento do valor do desvio anualmente apurado entre o valor das dívidas escriturado em conta corrente dos beneficiários (SICC) e o valor relevado nas

demonstrações financeiras (SIF) são diferentes nos três institutos (ISS, ISSA e ISSM)2.

 O ISSA na conta de Provisões para riscos e encargos, procedeu à anulação do valor (€ 5 M) que havia transitado do ano anterior relativo a encargos com pensões futuras, dando acolhimento à

recomendação formulada no Parecer sobre a CGE de 2015 (Recomendação 65/PCGE/2015) e

1 Para mais desenvolvimentos cfr. ponto 12.3.1.2 – Dívidas de terceiros, b) Contribuintes. 2 Para mais desenvolvimentos cfr. ponto 12.3.1.2 – Dívida de terceiros, c) Prestações sociais a repor.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 270

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Tribunal de Contas

245

assegurando a uniformização dos registos contabilísticos que integram o perímetro de

consolidação. No entanto, este mesmo Instituto, com base num parecer do Fiscal Único, realizou

um ajustamento ao valor da dívida de contribuintes, que implicou uma redução de 42,2% no

valor do saldo da conta 212111- Contribuintes c/c – Regime Geral dos Trabalhadores por conta de

outrem (ISSA), o qual tem impacto na conta consolidada da Segurança Social. Questionado o

IGFSS sobre se foi consultado para a realização do respetivo ajustamento na conta individual do

ISSA, aquele Instituto negou essa consulta, mas informou que o ISSA lhe deu conhecimento do

respetivo movimento em 21/03/2017. Na nota 6 do anexo às DF consolidadas é divulgado o valor

do referido ajustamento e mencionado que o mesmo resultou de um esforço promovido pelo

ISSA na qualificação e nivelamento de saldos para a dívida daquela natureza entre o sistema de

informação financeira (SIF) e o sistema de conta corrente (GC). Sobre o ajustamento efetuado

dá-se aqui por integralmente reproduzido o referido no ponto 12.2.3.1.2 – Dívida de terceiros – b)

Contribuintes, pelo que se reitera que alterações de procedimento que envolvam as várias

instituições do perímetro devem ser coordenadas pela entidade consolidante.

12.2.2. Execução orçamental

12.2.2.1. Execução orçamental global

De acordo com os dados reportados a 31/12/2016, a receita efetiva aumentou, face ao período homólogo,

4,5% (mais € 1.110 M), tendo o crescimento da despesa efetiva sido mais moderado, 2,5% (mais € 582 M), colocando o saldo de execução efetiva em € 1.564 M (mais 50,8%, em termos homólogos), o qual já acomoda o efeito da transferência extraordinária proveniente do OE consignada ao financiamento

do défice do sistema previdencial - repartição, no valor de € 650 M (menos 27,4% em termos homólogos), sem o qual o saldo efetivo da SS seria de € 915 M. As taxas de execução de receita e despesa efetivas face ao OSS corrigido situaram-se nos 97,9% e 96,5%, respetivamente. As receitas e

as despesas não efetivas do sistema representaram cerca de 19,6% (em 2015, 29,6% na receita e 28,8%

na despesa) da atividade desenvolvida, influenciadas pela frequência da rotação das carteiras de ativos

ao longo do ano.

12.2.2.2. Receita

No que respeita aos grandes agregados da receita segundo a classificação económica verificaram-se

acréscimos, em termos homólogos, nas “Receitas Correntes” (mais 4,5%) e nas “Outras Receitas” (mais 51,0%) e um decréscimo de 46,7% nas “Receitas de Capital” (Quadro C.2).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 271

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

246

Quadro C. 2 – Receitas por classificação económica

(em milhões de euros e %)

Capítulo Designação

OSS

Corrigido

Final

Execução Taxa de

execução Tvh

Peso na

receita total

Peso na

receita

efetiva

Receitas Correntes 26 052 25 520 98,0 4,5 79,8 99,3

02 Impostos Indiretos 179 219 122,1 18,7 0,7 0,9

03 Contribuições para a Segurança Social 14 843 14 778 99,6 5,2 46,2 57,5

04 Taxas, multas e outras penalidades 107 90 84,7 -14,5 0,3 0,4

05 Rendimentos da propriedade 445 454 102,0 14,1 1,4 1,8

06 Transferências correntes 10 450 9 941 95,1 3,0 31,1 38,7

07 Venda de bens e serviços correntes 17 23 134,5 26,3 0,1 0,1

08 Outras receitas correntes 11 14 124,2 -29,1 0,0 0,1

Receitas Capital 14 818 5 165 34,9 -46,7 16,2 0,1

09 Venda de bens de investimento 29 28 95,3 76,3 0,1 0,1

10 Transferências de capital 2 1 54,6 -26,2 0,0 0,0

11 Ativos financeiros 14 526 5 136 35,4 -46,9 16,1 n.a.

12 Passivos financeiros 260 0 0,0 n.a 0,0 n.a.

13 Outras receitas de capital 1 0 0,0 n.a 0,0 0,0

Outras Receitas 1 292 1 288 99,7 51,0 4,0 0,6

15 Reposições não abatidas nos pagamentos 167 163 97,5 -1,2 0,5 0,6

16 Saldo do Ano Anterior 1 125 1 125 100,0 63,5 3,5 n.a.

Receita Total 42 162 31 973 75,8 -8,6 100,0 n.a.

Receita Efetiva 26 251 25 712 97,9 4,5 80,4 100,0

Nota: Em 2016 deixa de existir a fonte de financiamento PES, sendo que a despesa antes suportada pela receita daquele programa passa a ser financiada pela transferência

do OE (LBSS). Nos impostos indiretos inclui-se a receita do imposto especial jogo On line (Turismo de Portugal) no montante de € 1,2 M.

Fonte: CSS 2015 e 2016.

No agregado das receitas correntes, que representou cerca de 79,8% da receita total (99,3% da receita

efetiva), atingindo, em termos absolutos, € 25.520 M, foi a evolução das receitas provenientes de “Contribuições para a segurança social” e de “Transferências correntes” que determinou o comportamento do conjunto.

As “Contribuições para a segurança social”1 representaram mais de metade (57,5%) das receitas efetivas obtidas. Com uma taxa de execução de 99,6% face ao previsto, totalizaram € 14.778 M (acréscimo de 5,2% face a 2015). Esta receita apresentou um comportamento em linha com o previsto, acomodou as

medidas adotadas, a evolução positiva do mercado de trabalho e a evolução estrutural do SSS,

pressionada pela evolução demográfica da população2.

1 As receitas contributivas destinam-se a financiar as despesas da componente repartição do sistema previdencial, que

acomodam as prestações sociais diferidas (pensões) e as prestações sociais imediatas (subsídios de desemprego, subsídios

de doença, subsídios de parentalidade, entre outros), e cuja evolução depende da evolução/recuperação do mercado de

trabalho e da evolução demográfica da população. 2 Segundo as “Estimativas da população residente em Portugal (2016)”, publicadas pelo INE em 16/07/2017, em

31/12/2016, a população residente em Portugal foi estimada em 10.309.573 pessoas, menos 0,31% que em igual período

homólogo, resultado de os saldos migratório e natural terem apresentado uma evolução negativa no período (menos

0,08% e menos 0,23%, respetivamente), mantendo-se a tendência de decréscimo da população residente verificada desde

2010. O aumento de 1,9% da natalidade (87.126 nados vivos registados em 2016 que compara com 85.500 em 2015) não

foi suficiente para compensar o número de óbitos da população residente ocorridos no mesmo período (110.535). O

aumento da longevidade e o impacto dos movimentos migratórios resultaram numa alteração estrutural da referida

população, com a população idosa (com 65 ou mais anos) a aumentar face a 2015 (mais 35.816 indivíduos), e a população

jovem (menos de 15 anos) e a população em idade ativa (entre os 15 e os 65 anos) a diminuírem (menos 18.416 e menos

49.157 indivíduos, respetivamente). Em 2016 a idade média da população residente em Portugal era de 43,9 anos, tendo

aumentado cerca de 3 anos na última década.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 272

Página 273

Tribunal de Contas

247

No final de 2016 foi publicado o Decreto-Lei 67/2016, de 03/11, que aprovou o regime excecional de

regularização de dívidas de natureza fiscal e de dívidas de natureza contributiva à segurança social,

através de pagamento integral ou de pagamento em prestações, designado por PERES1. De acordo com

o diploma, a adesão dependia de manifestação de vontade do contribuinte, a qual deveria ser comunicada

entre 04/11/2016 e 20/12/2016 e os pagamentos tinham como prazo limite 30/12/2016. No entanto, estes

prazos foram alargados para 23/12/2016 e 13/01/2017, respetivamente. Tais alargamentos, que

consubstanciaram alterações ao estipulado no diploma suprarreferido, não derivaram, como deveriam,

de normas legais com o mesmo valor hierárquico das alteradas2, situação que importará corrigir em

medidas análogas futuras. O quadro seguinte identifica os valores cobrados e os respeitantes a perda de

receita por dispensa de juros3 relativamente a cada um destes períodos distribuídos por dívida participada

e não participada a execução fiscal:

Quadro C. 3 – PERES – Dados provisórios

(em n.º e milhares de euros)

Situação da dívida Até 29/12/2016 Até ao final da medida

N.º

contribuintes

Valor

cobrado

Valor

dispensado

N.º

contribuintes

Valor

cobrado

Valor

dispensado

Dívida não participada a execução fiscal 1 395 6 905 249 1 838 8 609 455

Dívida participada a execução fiscal 14 455 45 312 12 486 35 665 83 749 24 104

Total 15 850 52 217 12 734 37 503 92 358 24 559

Fonte: Ficheiros disponibilizados pelo II, BD Diária 20161230 e 20170130.

Até ao final do ano de 2016 foram cobrados € 52,2 M e dispensados € 12,7 M de juros, abrangendo 15.850 contribuintes. A receita cobrada representou cerca de 0,4% do total das contribuições arrecadadas

em 2016. No entanto, até ao final do período em que vigorou, de facto, a medida, o valor cobrado

ascendeu a € 92,4 M e os juros dispensados a quase € 24,6 M, abrangendo mais do dobro dos contribuintes (37.503). Estes valores, mesmo os relativos ao final da medida, são provisórios. Com

efeito, só após 13/01/2017 foi possível apurar quais os contribuintes aderentes que efetivamente reuniam

as condições de adesão à medida. O quadro seguinte espelha essa situação:

1 Este regime abrangeu as dívidas à segurança social de natureza contributiva, cujo prazo legal de cobrança tivesse

terminado em 31/12/2015. O pagamento integral de dívidas abrangidas por iniciativa do contribuinte determinava a

dispensa dos juros de mora, dos juros compensatórios e das custas do processo de execução fiscal correspondentes. Este

pagamento determinava ainda a atenuação do pagamento das coimas associadas ao incumprimento do dever de

pagamento das contribuições das quais haviam resultado as dívidas abrangidas pelo regime nos seguintes termos: redução

da coima para 10% do valor mínimo da coima prevista no tipo legal ou da coima aplicada, no caso de coimas pagas no

processo de execução fiscal, não podendo em qualquer dos casos resultar valor inferior a € 10,00. Este regime permitiu ainda que o pagamento das dívidas pudesse ser feito através do pagamento de prestações mensais, num máximo de 150.

No caso de adesão a este regime de pagamento o contribuinte tinha de garantir o pagamento de pelo menos 8% do capital

em dívida até ao final do prazo estabelecido (30/12/2016, mais tarde alargado até 13/01/2017) e beneficiava de uma

redução de juros em função do número de prestações escolhidas. As dívidas abrangidas pelos planos prestacionais

celebrados ao abrigo do diploma em análise são integralmente exigíveis estando em dívida três prestações vencidas e o

seu incumprimento dá lugar à perda dos benefícios estabelecidos no diploma, designadamente à reversão do valor dos

juros dispensados. 2 Sobre a hierarquia dos atos normativos, ver art. 112.º da CRP. 3 O valor indicado de “dispensa de juros” não inclui o montante dos juros dispensados relativos às quantias cobradas, no

período de vigência da medida, provenientes de dívida que estava a ser regularizada por via de planos prestacionais

celebrados fora do processo executivo (acordos de regularização extraordinária de dívida celebrados ao abrigo do art.

190.º do CRCSPSS e acordos celebrados ao abrigo do Decreto-Lei 213/2012 de 25/09). O “valor cobrado” incorpora as quantias arrecadadas durante o período de vigência da medida.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 273

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

248

Quadro C. 4 – PERES – Adesões

(em n.º e milhares de euros)

Situação da dívida

Com direito Sem direito Total

N.º

contribuintes

Valor

cobrado

N.º

contribuintes

Valor

cobrado

N.º

contribuintes

Valor

cobrado

Dívida não participada a execução fiscal 7 348 5 802 1.527 1 214 8 875 7 016

Dívida participada a execução fiscal 32 952 78 918 4.332 8 076 37 284 86 993

Total 40 300 84 720 5 859 9 289 46 159 94 009

Fonte: Ficheiro disponibilizado pelo II – Listagem final de reversão da dispensa 20170728.

De acordo com os dados apurados pelo II, foram arrecadados cerca de € 94 M associados à medida. Todavia, cerca de € 9,3 M foram pagos por 5.859 contribuintes que não preencheram todas as condições exigidas pelo diploma, designadamente porque não efetuaram pagamento de valor correspondente a,

pelo menos, 8% do montante em dívida, requisito imprescindível para conferir o direito à celebração de

acordo prestacional ao abrigo do PERES1. Nestes casos, os valores cobrados foram considerados

pagamentos por conta e abatidos ao valor da dívida de cada contribuinte, mas sem direito a qualquer

benefício.

Nos contribuintes considerados com direito de acesso à medida estão incluídos os contribuintes que

manifestaram essa vontade perante a segurança social2 mas também os contribuintes que não o fizeram

e que durante o período de vigência da medida realizaram pagamentos integrais de dívida abrangida

pelo regime, beneficiando também da dispensa dos juros (“adesões tácitas”), o que, muito embora contrariando o disposto no art. 2.º do Decreto-Lei 67/2016, é consentâneo com o princípio da igualdade

de tratamento entre contribuintes. O montante arrecadado proveniente desta situação ascendeu a € 5 M e abrangeu 8.418 contribuintes, conforme se mostra no quadro seguinte:

Quadro C. 5 – PERES –Adesões expressas e “tácitas”

(em n.º e milhares de euros)

Situação da dívida

Adesão expressa Adesão “tácita” Total

N.º

contribuintes

Valor

cobrado

N.º

contribuintes

Valor

cobrado

N.º

contribuintes

Valor

cobrado

Dívida não participada a execução fiscal 1 497 3 310 5 851 2 492 7 348 5 802

Dívida participada a execução fiscal 30 385 76 176 2 567 2 741 32 952 78 918

Total 31 882 79 486 8 418 5 234 40 300 84 720

Fonte: Ficheiro disponibilizado pelo II – Listagem final de reversão da dispensa 20170728.

Quanto à modalidade do pagamento dos 40.300 contribuintes que foram considerados com direito à

adesão, verifica-se que mais de metade do valor cobrado (56,6%) respeita a pagamentos integrais. Em

termos de situação da dívida, a cobrança incidiu na sua grande maioria em dívida participada a execução

fiscal (93,2%). Quanto à dívida não participada a execução fiscal verifica-se que 43,0% do valor cobrado

1 Nestes casos os valores cobrados foram considerados pagamentos por conta e abatidos ao valor da dívida de cada

contribuinte, mas sem direito a qualquer benefício. 2 O art. 2.º do Decreto-Lei 67/2016, estabelece que a adesão dos contribuintes ao regime é feita por via eletrónica no portal

da Segurança Social Direta devendo ser exercida a opção de pagamento integral ou em prestações. Para operacionalizar

o acesso à medida a Segurança Social publicou o GUIA PRÁTICO – Programa Especial de Redução do Endividamento ao Estado (PERES), no qual foram estabelecidas as regras de adesão. De acordo com este guia prático a adesão era

obrigatoriamente efetuada por via eletrónica através da Segurança Social Direta. No entanto, também foram realizadas

adesões de forma presencial junto dos serviços da segurança social.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 274

Página 275

Tribunal de Contas

249

respeita a contribuintes que foram considerados como “adesões tácitas”, representando 56,9% dos pagamentos integrais da dívida não participada a execução fiscal.

Quadro C. 6 – PERES – Forma de pagamento

(em n.º e milhares de euros)

Situação da dívida

Pagamento

integral

Pagamento

prestacional Total

N.º

contribuintes

Valor

cobrado

N.º

contribuintes

Valor

cobrado

N.º

contribuintes

Valor

cobrado

Dívida não participada a execução fiscal 7 013 4 383 335 1 419 7 348 5 802

Dívida participada a execução fiscal 11 068 43 607 21 884 35 311 32 952 78 918

Total 18 081 47 991 22 219 36 730 40 300 84 720

Fonte: Ficheiro disponibilizado pelo II – Listagem final de reversão da dispensa 20170728.

Nos termos do diploma que aprovou o PERES, o pagamento integral da dívida permitia a dispensa total

dos juros a esta associados e o pagamento em prestações a redução dos juros em função do número de

prestações acordadas1. No entanto, o valor dos juros correspondente ao montante inicialmente pago pelo

contribuinte no período de vigência da medida (pelo menos 8% do capital) foi dispensado a 100%,

mesmo para os contribuintes que optaram pelo pagamento da dívida em prestações, não obstante o

diploma legal não conter norma permissiva para o efeito. Para estes contribuintes, haveria que aplicar

apenas as reduções de juros previstas em função do número de prestações acordado, em obediência ao

estabelecido pelo art. 8.º do Decreto-Lei 67/2016. O desrespeito da mencionada norma resultou numa

não cobrança indevida de receita de juros.

Em contraditório, o IGFSS, alega que aquando da publicação do Decreto-Lei 67/2016 foi necessário

aferir entre os institutos (IGFSS, ISS e II) e também o Gabinete da SESS “(…) todas as questões legislativas que implicavam alterações funcionais aos Sistemas de Informação, bem como as questões procedimentais que os

serviços deviam adotar” e que “(…) foi assumida a interpretação que os montantes iniciais com o mínimo de 8% pagos pelos contribuintes seriam objeto de dispensa total de juros, aplicando-se a graduação de juros apenas aos

planos prestacionais elaborados em função no número de prestações aprovado”.

Compreende-se que, por questões operacionais, não fosse exequível a aplicação da redução dos juros,

em função do número de prestações escolhidas pelos contribuintes, durante o período de vigência da

medida, nas fases de adesão e de pagamento. Porém, no momento da celebração dos acordos

prestacionais, o acerto dessas reduções devia ter sido incorporado no valor dos planos contratualizados,

dado que o diploma não contém norma que permita a dispensa de juros a 100%, com exceção da

modalidade de pagamento integral.

Salienta-se que os valores cobrados e incluídos nos quadros anteriores não incorporam qualquer valor

relativo a coimas abrangidas pela medida. Em julho de 20172, os contribuintes ainda não tinham sido

notificados do valor das coimas a pagar ao abrigo do Decreto-Lei 67/2016.

Considerando a distribuição da receita de “Contribuições para a Segurança Social” por entidade cobradora, relevada contabilisticamente como tal, o IGFSS arrecada a quase totalidade desta receita, com cerca de

97,2% (€ 14.364 M), cabendo às instituições das Regiões Autónomas cerca de 2,8% (€ 413 M) e um valor residual de 0,01% (€ 788 m) ao FESSPBC. Do valor arrecadado, 51,4% foi registado nas

1 10% em planos de 73 a 150 prestações; 50% em planos de 37 a 72 prestações; e 80% em planos até 36 prestações. 2 Data da recolha da informação.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 275

Página 276

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

250

classificações económicas de contribuições e de quotizações dos trabalhadores através de uma tabela de

imputação e não pelo seu valor real1.

Quadro C. 7 –Desagregação da receita de “Contribuições”

(em milhões de euros)

Receita cobrada em 2016

Receita contabilizada

através de uma tabela

de imputação

Entidades

Cobradoras

Contribuições Quotizações dos

trabalhadores

Regimes

especiais

Contribuição

extraordinária

de solidariedade

Contribuição

prestação de

desemprego

Contribuição

de prestação

de doença

Total Valor %

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)=(1)+(2)+(3)+(4)

+(5)+(6)

(8) (9)=(8)/(7)

IGFSS 9 210,8 5 142,4 3,8 6,9 0,1 0,0 14 364,0 7 391,4 51,5%

ISSM 122,0 79,4 0,0 0,0 0,0 0,0 201,4 96,1 47,7%

ISSA 125,1 86,9 0,1 0,0 0,0 0,0 212,0 109,9 51,8%

FESSPBC 0,0 0,0 0,8 0,0 0,0 0,0 0,8 0,0 0,0%

Total 9 457,8 5 308,7 4,7 6,9 0,1 0,0 14 778,2 7 597,5 51,4%

Fonte: Mapa 7.2 Controlo Orçamental.

Sobre esta matéria, o Tribunal de Contas tem vindo a recomendar, em anteriores Pareceres2, que a

contabilização, por meios automáticos, deve garantir a afetação real destas receitas, de acordo com a sua

origem. Não obstante a melhoria verificada, consubstanciada na redução do montante de receita

contabilizado através da tabela de imputação de 64,8% em 2012 para 29,0% em 2013, nos anos seguintes

voltaram a registar-se valores acima dos 50% da receita cobrada e registada no período (58,0%, 53,6%

e 51,4%, em 2014, 2015 e 2016, respetivamente), pelo que os valores constantes do quadro anterior

devem continuar a ser considerados sob reserva, dada a relevância material (mais de 50%) da receita

contabilizada nestas circunstâncias. De salientar que, não estando em causa o valor global da receita

registada, a sua correta desagregação, para além de possibilitar o cumprimento do estabelecido no

classificador económico das receitas públicas, assume especial importância para efeitos de cálculo dos

montantes a afetar ao FGS, relativos à quota-parte das entidades empregadoras nos termos do n.º 2 do

art. 14.º do Regulamento do FGS, aprovado pelo Decreto-Lei 59/2015, de 21/043, e ao FEFSS, no que

respeita às quotizações dos trabalhadores nos termos do art. 91.º da LBSS4.

1 O valor recebido de cada declaração de remunerações é sempre registado contabilisticamente através de uma tabela de

imputação nas classificações económicas de contribuições e de quotizações dos trabalhadores. Posteriormente, parte dos

lançamentos contabilísticos são corrigidos, passando a receita contabilizada nas classificações económicas mencionadas

a corresponder aos valores reais declarados. 2 Cfr. Recomendações: 67-PCGE/2015, 64-PCGE/2014, 63-PCGE/2013, 55-PCGE/2012, 62-PCGE/2011, 52-

PCGE/2010, 54-PCGE/2009, 67-PCGE/2008 e 63-PCGE/2007, disponíveis em www.tcontas.pt. No âmbito do

acompanhamento da recomendação formulada no PCGE/2014 a SESS informou, em setembro de 2017, que se encontra

“(…) em fase de implementação um método alternativo à tabela de partição, que irá permitir que a contabilização das receitas de contribuições e quotizações se aproxime da natureza, encontrando-se já validados/aprovados por parte das

instituições de segurança social que intervêm neste processo os requisitos definidos”. 3 O financiamento do Fundo é assegurado pelos empregadores, através das verbas respeitantes à parcela dos encargos com

as políticas ativas de emprego e valorização profissional da taxa contributiva global, nos termos previstos no Código dos

Regimes Contributivos do Sistema previdencial de segurança social, e pelo Estado, em termos a fixar por portaria dos

membros do Governo responsáveis pelas áreas das finanças, do emprego e da segurança social. Regista-se que esta última

forma de financiamento já estava prevista em normativos anteriores mas não foi concretizada até à data. 4 Reverte para o FEFSS uma parcela entre dois a quatro pontos percentuais do valor percentual correspondente às

quotizações dos trabalhadores por conta de outrem, até que aquele fundo assegure a cobertura de despesas previsíveis

com pensões por um período mínimo de dois anos. Pode não haver lugar à aplicação desta norma se a conjuntura

económica do ano a que se refere ou a situação financeira do sistema previdencial justificadamente o não permitirem.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 276

Página 277

Tribunal de Contas

251

O IGFSS, o ISSA e o II, em sede de contraditório, informaram que, em novembro de 2017, foi

implementada uma nova metodologia de contabilização alternativa à tabela de imputação. O ISSA

acrescentou que esta nova metodologia não eliminará por completo os constrangimentos anteriores.

As “Transferências correntes” (€ 9.941 M) representaram 38,7% da receita efetiva e mais 3,0% quando comparadas com o período homólogo anterior.

Destacam-se as provenientes do OE, com um peso relativo de 90,2%, que visam suportar despesas da

componente não contributiva do SSS (€ 6.398 M), as pensões do sistema regimes especiais (€ 479 M), as receitas cessantes (€ 218 M), a CPN (€ 125 M), o apoio social extraordinário ao consumidor de energia (ASECE) (€ 7 M), os salários intercalares1 (€ 1 M) e a contrapartida pública nacional do programa operacional de apoio às pessoas mais carenciadas (POAPMC) (€ 1 M), bem como financiar o défice do sistema previdencial – repartição (€ 650 M).

No agregado das “Receitas de capital” foram arrecadados cerca de € 5.165 M, menos 46,7% que em 2015, valor que constituiu cerca de 16,2% da receita total do SSS em 2016, configura uma taxa de execução

orçamental na ordem dos 34,9% e é constituído quase exclusivamente por receitas não efetivas (ativos

financeiros, 99,4% da receita de capital arrecadada, € 5.136 M, 35,4% do previsto, menos 46,9% que no período homólogo anterior). Esta execução está influenciada pela rotação das carteiras dos ativos

financeiros.

No agregado das “Outras receitas”, as “Reposições não abatidas nos pagamentos” (0,6% da receita efetiva) recuaram 1,2%, tendo atingido 97,5% do previsto. Ainda neste agregado, a componente não efetiva

referente ao montante integrado de “Saldos da gerência anterior” (€ 1.125 M, 3,5% da receita total), apresentou um acréscimo de 63,5% face a 2015 e determinou o comportamento de todo o agregado, que

sofreu, no seu conjunto, um acréscimo de 51,0% face a igual período homólogo.

As “Reposições não abatidas nos pagamentos” incorporam o montante de cerca de € 6 M relativo a verbas devolvidas por 38 entidades financiadas por verbas do OSS em 20152 nos termos do n.º 5 do art. 9.º do

DLEO. De acordo com informação prestada pelo IGFSS, nem todos as entidades cumpriram o prazo

estabelecido pelo DLEO (28/04/2016) para a devolução dos saldos, verificando-se que 5% do valor

devolvido apenas deu entrada nos meses de novembro e dezembro de 2016 (7 entidades, 18,4%). Sobre

esta matéria, o Tribunal no Parecer sobre a CGE/2014, formulou ao Governo a Recomendação 65-

PCGE/2014, no sentido de assegurar que as entidades que beneficiassem de verbas do OSS devolvessem

os excedentes dentro do prazo legalmente estabelecido3. A SESS, em sede de acompanhamento de

recomendações informou que em 2016 se verificou uma melhoria face a 2015.

1 Art. 98.º- N aditado ao Código de Processo do Trabalho pelo Decreto-Lei 295/2009, de 13/10. Nos casos em que seja

determinada pelo tribunal a ilicitude do despedimento, o pagamento das retribuições devidas ao trabalhador (sob

determinadas condições e no período aí previsto) cabe à segurança social, através de dotação orçamental destinada a

suportar tais encargos e inscrita anualmente no OE, em rubrica própria. Não obstante a Segurança Social ter vindo a

receber, desde 2011, financiamento do OE para fazer face a estas despesas, até 31/12/2016 não é relevada qualquer

execução na referida rubrica de despesa. 2 Entidades sob superintendência e tutela do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, incluindo Centros

de Formação Profissional. Estes últimos, financiados por via do IEFP com verbas provenientes do OSS, mas com

devolução de verbas diretamente ao IGFSS. 3 Recorde-se que, em 2015, das 9 entidades que procederam à entrega de excedentes apenas uma o fez dentro do prazo

estipulado pelo DLEO.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 277

Página 278

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

252

Do Quadro C.8 constam as receitas do SSS, agrupadas de acordo com a sua proveniência (fontes de

financiamento): “Contribuintes”1 (57,5% da receita efetiva); “Administração central”2 (34,9% da receita efetiva); transferências oriundas da “Santa Casa da Misericórdia de Lisboa” referentes a jogos sociais (0,8% da receita efetiva); transferências da “União Europeia”, que financiam o SSS através do FSE (3,7% da receita efetiva) e a receita gerada pela “Atividade da segurança social”, resultante, em grande medida, da gestão corrente do próprio sistema, incluindo os juros, os dividendos, as rendas, as reposições e as

taxas, multas e outras penalidades (3,0% da receita efetiva).

Quadro C. 8 – Receitas por origem

(em milhões de euros e %)

Origens de financiamento

OSS

Corrigido

Final

Execução Taxa de

execução Tvh

Peso

no

total

Peso na

execução

efetiva

Contribuintes 14 843 14 778 99,6 5,2 46,2 57,5

Contribuições e cotizações 14 843 14 778 99,6 5,2 46,2 57,5

Sistema previdencial 14 835 14 774 99,6 5,2 46,2 57,5

Regimes complementares e especiais 8 5 59,9 -24,4 0,0 0,0

Administração Central 8 972 8 970 100,0 -0,7 28,1 34,9

Transferências do OE para cumprimento da LBSS e financiamento do

défice do SSS (b) 7 268 7 268 100,0 2,2 22,7 28,3

Transferências do OE - CPN 125 125 100,0 8,3 0,4 0,5

Transferências do M. Educação 161 159 99,0 0,0 0,5 0,6

Transferências do OE - Reg Subs Bancário 482 478 99,4 -1,8 1,5 1,9

Transferências do OE (ASECE) (c) 7 7 100,0 -97,1 0,0 0,0

Transferências do OE - POAPMC 1 1 100,0 n.a 0,0 0,0

Transferências do OE - IVA Social (Lei 39-B/94, de 27/12) 774 774 100,0 4,1 2,4 3,0

Outras transferências (a) 155 158 101,9 -1,9 0,5 0,6

Santa Casa da Misericórdia de Lisboa 178 218 122,2 18,1 0,7 0,8

Transferências relativas a jogos sociais 178 218 122,2 18,1 0,7 0,8

Turismo de Portugal 1 1 100,0 n.a 0,0 0,0

Transferências relativas ao jogos "On line" 1 1 100,0 n.a 0,0 0,0

União Europeia 1 480 972 65,7 56,4 3,0 3,8

Transferências do Fundo Social Europeu (FSE) 1 440 953 66,2 53,2 3,0 3,7

Outras transferências 40 19 48,7 149 624,8 0,1 0,1

Atividade da Segurança Social 777 772 99,4 7,0 2,4 3,0

Rendimentos de propriedade 445 454 102,0 14,1 1,4 1,8

Juros 411 418 101,9 15,3 1,3 1,6

Dividendos e participações nos lucros 30 33 110,4 3,3 0,1 0,1

Rendas 4 2 58,1 -17,0 0,0 0,0

Outras receitas 332 319 95,9 -1,8 1,0 1,2

Reposições não abatidas nos pagamentos 167 163 97,5 -1,2 0,5 0,6

Taxas, multas e outras penalidades 107 90 84,7 -14,5 0,3 0,4

Venda de bens e serviços (correntes e de capital) 47 51 110,0 49,3 0,2 0,2

Outras 12 14 119,5 -27,4 0,0 0,1

Receita efetiva 26 251 25 712 97,9 4,5 80,4 100,0

Receita não efetiva 15 911 6 262 39,4 -39,6 19,6

Receita total 42 162 31 973 75,8 -8,6 100,0

(a) Inclui valores (€ 1.649 m de previsão e o valor de € 1.739 m de execução) relativos a transferências do Fundo NAV, EPE registados no mapa X (R.06.01 - Transferências correntes de

sociedades e quase sociedades não financeiras).

(b) Em 2016 passou a incluir a fonte de financiamento PES.

(c) Em 2015 incluía as fontes de financiamento ASECE e PES. Em 2016 deixa de existir a fonte de financiamento PES, passando a respetiva despesa a ser financiada diretamente pelas

transferências do OE (LBSS). Em 2015, o montante afeto ao PES era de € 245 M. Optou-se por se manter a quebra de série em 2016.

Fonte: Cálculos DGTC a partir dos valores das CSS 2015 e 2016

1 Receitas de quotizações dos trabalhadores por conta de outrem, do seguro social voluntário e das contribuições das

entidades empregadoras e dos trabalhadores independentes. 2 Onde se incluem as transferências que, a vários títulos, a Segurança Social recebe da Administração Central do Estado.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 278

Página 279

Tribunal de Contas

253

Os contribuintes (através dos vários tipos de contribuições e quotizações) e a administração central (por

via das transferências de vária natureza e das receitas fiscais consignadas à SS) foram as principais

fontes de financiamento do SSS. No seu conjunto, estas duas categorias de receita representaram 92,4%

da receita efetiva, com a primeira a apresentar um crescimento face ao período homólogo de 5,2%,

influenciado pelas alterações legislativas introduzidas no sistema contributivo e pela recuperação do

mercado de trabalho, e a segunda um decréscimo de 0,7%, onde a maior fatia (LBSS) apresentou,

todavia, uma variação positiva de 2,2%, em termos homólogos. As receitas provenientes da

administração central foram influenciadas pelo valor da transferência extraordinária consignada ao

financiamento do défice do sistema previdencial – repartição que totalizou € 650 M, menos 27,4% que em 2015. Quanto às demais fontes de financiamento, cabe referência para o facto de, em 2016, todas

terem apresentado um comportamento crescente face ao período homólogo anterior, com destaque para

as receitas provenientes do FSE que crescem 53,2%, (€ 331 M) destinadas a financiar ações de formação profissional, facto associado ao início da execução dos programas operacionais “Portugal 2020”.

12.2.2.3. Despesa

Dos grandes agregados da despesa (Quadro C.9) destacam-se, no ano de 2016, pelos recuos face a 2015,

as “Despesas de capital” que diminuíram 38,3%, influenciadas pela sua principal componente, “Ativos financeiros” (menos 38,3%), que representou menos de ⅕ da despesa total do sistema (19,7%).

Quadro C. 9 – Despesas por classificação económica

(em milhões de euros e %)

Agrup. Designação OSS Corrigido

Final Execução

Taxa de

execução Tvh

Peso na

despesa total

Peso na

despesa

efetiva

Despesas Correntes 24 971 24 126 96,6 2,5 80,3 99,9

01 Despesas com o pessoal 262 252 96,4 1,7 0,8 1,0

02 Aquisição de bens e serviços 127 50 39,4 -22,9 0,2 0,2

03 Juros e outros encargos 8 3 42,0 15,2 0,0 0,0

04 Transferências correntes 23 524 23 165 98,5 2,2 77,1 95,9

05 Subsídios 1 014 636 62,7 26,5 2,1 2,6

06 Outras despesas correntes 37 20 53,1 -58,7 0,1 0,1

Despesas Capital 15 704 5 905 37,6 -38,3 19,7 0,1

07 Aquisição de bens de capital 37 14 37,6 -46,6 0,0 0,1

08 Transferências de capital 10 8 80,8 12,8 0,0 0,0

09 Ativos financeiros 15 394 5 882 38,2 -38,3 19,6 n.a

10 Passivos financeiros 263 1 0,2 276,5 0,0 n.a

Despesa Total 40 675 30 030 73,8 -9,3 100,0 n.a

Despesa Efetiva 25 018 24 148 96,5 2,5 80,4 100,0

Fonte: CSS 2015 e 2016.

As “Despesas correntes”, que representaram 80,3% da despesa total, acomodaram 99,9% da despesa efetiva e expandiram-se 2,5% face a 2015, para € 24.126 M, com as “Transferências correntes” a crescerem 2,2% em termos homólogos, influenciadas pelo comportamento da sua principal componente,

“Transferências correntes para as famílias” (86,8% das transferências correntes; taxa de execução orçamental de 99,5%), que aumentaram 1,3% face a 2015.

Nas “Transferências correntes para as famílias” estão refletidos, pelo menos, cerca de € 6 M que ainda se encontram na posse da segurança social, uma vez que os valores emitidos e registados como pagos em

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 279

Página 280

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

254

2016, por razões várias1, não chegaram a ser levantados das contas bancárias da SS, encontrando-se este

valor refletido no passivo do balanço na conta Prestações sociais em prescrição, onde se manterá até que

seja colocado de novo à disposição do beneficiário ou, no caso de tal não acontecer, até ao termo do

decurso do prazo prescricional de cinco anos. Neste último caso, a conta do balanço é regularizada por

conta de um proveito extraordinário e a conta de execução orçamental do respetivo ano registará uma

receita orçamental extraordinária. O procedimento em causa leva a que anualmente seja relevada uma

despesa orçamental cujo pagamento, de facto, não ocorreu2. Esta matéria tem vindo a ser acompanhada

pelo Tribunal e tem dado lugar à formulação de recomendações3 no sentido de se alterar o procedimento

de contabilização, de modo a não sobrevalorizar a despesa orçamental com pagamentos que

efetivamente não se concretizaram4. Em sede de acompanhamento de recomendações, a SESS informou

que “Continuam em curso os trabalhos de desenvolvimento do novo interface SICC-SIF pelo Instituto de Informática, IP em articulação com o IGFSS, IP e o ISS, IP o qual irá contemplar o novo plano de contabilização

que consagra o entendimento do Tribunal de Contas. Prevê-se que no decurso do 1º trimestre de 2018 o projeto

entre em produção com grande parte das operações implementadas”.

Em sede de contraditório, o ISSA alega que “Está previsto para o 2.º semestre de 2018 a entrada em produção do novo interface SICC-SIF (…)”.

O Quadro C.10 apresenta a despesa estruturada segundo as grandes funções do SSS: “Prestações sociais” (92,4% da despesa efetiva), “Formação profissional e PAE” (6,4% da despesa efetiva), “Administração do sistema” (1,2% da despesa efetiva) e “Capitalização” (19,6% da despesa total, quase toda de natureza não efetiva).

Quadro C. 10 – Despesa por aplicações

(em milhões de euros e %)

Aplicações de Despesa

OSS

Corrigido

Final

Execução Taxa de

execução Tvh

Peso

no

total

Peso

no

total

efetivo

Prestações Sociais 22 560 22 323 98,9 1,2 74,3 92,4

Pensões e complementos 16 151 16 124 99,8 2,4 53,7 66,8

Sobrevivência 2 222 2 218 99,8 2,2 7,4 9,2

Invalidez 1 292 1 283 99,3 -1,5 4,3 5,3

Velhice 12 116 12 106 99,9 3,0 40,3 50,1

Benefícios dos Antigos Combatentes (a) 39 38 98,4 3,0 0,1 0,2

Pensões do regime substitutivo Bancário (a) 481 478 99,4 -1,8 1,6 2,0

Pensões do regime substitutivo BPN (a) 1 1 97,5 13,4 0,0 0,0

Desemprego e Apoio ao Emprego 1 540 1 510 98,0 -14,3 5,0 6,3

Subsídio de Desemprego 1 121 1 100 98,2 -15,2 3,7 4,6

Complemento de desemprego 31 30 97,6 -20,2 0,1 0,1

Subsídio social de desemprego 234 232 99,1 -15,7 0,8 1,0

Garantia salarial 118 115 97,4 11,6 0,4 0,5

Subsídio de desemprego e social de desemprego por salários em atraso 29 27 90,9 -37,0 0,1 0,1

Outras 7 5 78,2 21,1 0,0 0,0

(…)

1 Vales ou cheques devolvidos, NIB incorreto, etc. 2 Da análise aos elementos remetidos decorre que não existem critérios uniformes, em todos os institutos, para apuramento

do valor que foi considerado despesa orçamental em 2016 e ainda se encontrava na posse da segurança social naquele

ano. Por outro lado, o ISS não prestou informação sobre os valores devolvidos respeitantes a pensões e CSI, pelo que se

considera que o valor da despesa orçamental registada como paga em 2016, cujo pagamento não ocorreu naquele ano

será, certamente, muito superior ao indicado. 3 Cfr. Recomendações 68-PCGE/2015, 66-PCGE/2014, 64-PCGE/2013, 57-PCGE/2012, 65-PCGE/2011, 53-PCGE/2010

e 51-b) -PCGE/2009, todos disponíveis em www.tcontas.pt. 4 Para mais desenvolvimentos cfr. PCGE/2010, págs. 283 e 284, disponível em www.tcontas.pt.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 280

Página 281

Tribunal de Contas

255

(…)

(em milhões de euros e %)

Aplicações de Despesa

OSS

Corrigido

Final

Execução Taxa de

execução Tvh

Peso

no

total

Peso

no

total

efetivo

Ação social 1 852 1 727 93,2 0,2 5,7 7,2

Transf. e subsídios - Instituições sem fins lucrativos 1 528 1 476 96,6 0,3 4,9 6,1

Transf. e subsídos - Famílias 94 88 93,5 5,7 0,3 0,4

Transf. ME - componente social pré-escolar 70 70 100,0 0,0 0,2 0,3

Subsídios - Administração Central - POAPMC 5 0 4,2 n.a 0,0 0,0

Do Fundo Social Europeu (FEAC) 4 0 5,0 n.a 0,0 0,0

Da Contrapartida Pública Nacional (CPN) 1 0 0,0 n.a 0,0 0,0

Outras 155 92 59,4 -6,5 0,3 0,4

Subsídio e complemento de doença 473 467 98,8 3,2 1,6 1,9

Abono de família 647 645 99,7 2,5 2,1 2,7

Rendimento Social de Inserção 336 335 99,5 16,5 1,1 1,4

Complemento Solidário para Idosos 204 203 99,7 6,6 0,7 0,8

Parentalidade 483 476 98,5 10,1 1,6 2,0

Subsídio por morte 104 98 94,4 -5,4 0,3 0,4

Deficiência 154 151 97,8 7,6 0,5 0,6

Outras despesas 617 588 95,3 2,1 2,0 2,4

Encargos com doenças profissionais 39 33 84,5 18,0 0,1 0,1

Transferências para o INATEL 7 7 100,0 0,0 0,0 0,0

Transferências para a CGA 531 528 99,4 2,5 1,8 2,2

Restituição de contribuições e outras receitas 6 6 91,2 13,8 0,0 0,0

Despesas de capital 12 4 33,5 -57,1 0,0 0,0

Outras 21 10 47,1 -9,0 0,0 0,0

Formação profissional e PAE 2 115 1 535 72,6 25,9 5,1 6,4

Políticas ativas de emprego 575 553 96,2 2,9 1,8 2,3

Transf. IEFP 526 509 96,7 3,4 1,7 2,1

Transf. Autoridade Condições de Trabalho 22 20 89,6 -0,4 0,1 0,1

Transf. Estruturas de Emp. Form. Prof. das RA 18 18 100,0 3,1 0,1 0,1

Transf. Agência Nacional para a Qualificação 4 2 48,9 -50,1 0,0 0,0

Outras 4 4 96,7 12,1 0,0 0,0

Transf. e Subsídios de Formação profissional 1 540 982 63,8 44,1 3,3 4,1

Do Fundo Social Europeu (FSE) 1 415 926 65,4 50,7 3,1 3,8

Da Contrapartida Pública Nacional (CPN) 125 56 45,0 -16,6 0,2 0,2

Administração (b) 333 284 85,2 -3,0 0,9 1,2

Despesas com pessoal 223 216 96,8 2,7 0,7 0,9

Aquisição de bens e serviços 63 44 69,8 -10,1 0,1 0,2

Outras 47 24 50,7 -28,5 0,1 0,1

Passivos Financeiros (4) (c ) 263 1 0,2 276,5 0,0 n.a

Empréstimos de curto prazo 260 0 0,0 0,0 0,0 n.a

Outros Passivos Financeiros 3 1 20,1 276,5 0,0 n.a

Aplicações Financeiras - IGFSS (3) 3 000 0 0,0 -100,0 0,0 n,a

Ativos financeiros - Títulos de curto prazo 3 000 0 0,0 -100,0 0,0 n.a

Outros Ativos Financeiros 0 0 69,7 7,4 0,0 n.a

Capitalização 12 403 5 888 47,5 -6,7 19,6 0,02

Ativos financeiros - FEFSS (2) 12 394 5 882 47,5 -6,8 19,6 n.a

Despesas de Administração 9 6 58,9 20,2 0,0 0,02

Despesas de capital - FEFSS 0 0 24,2 37,0 0,0 0,0

Despesa total (1) 40 675 30 030 73,8 -9,3 100,0 n.a

Despesa efetiva (5) = (1) - (2) - (3) - (4) 25 018 24 148 96,5 2,5 80,4 100,0

(a) Esta despesa distribui-se pelas várias eventualidades (velhice, invalidez e sobrevivência).

(b) Exceto despesas com a administração do sistema previdencial - capitalização.

(c) Passivos financeiros incluem amortização de empréstimos mais Outros Passivos financeiros

Fonte: Cálculos DGTC a partir dos valores das CSS 2015 e 2016.

As prestações sociais apresentaram um acréscimo de 1,2% face a 2015, influenciadas, por um lado, pelo

comportamento da despesa com as prestações imediatas substitutivas dos rendimentos do trabalho, as

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 281

Página 282

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

256

quais têm a sua maior expressão nas prestações de desemprego1, com um peso relativo de 6,3% na

despesa efetiva, sofreram uma diminuição na ordem dos 14,3%, passando a € 1.510 M (menos € 251 M que no período homólogo anterior) e, por outro lado, pela evolução das prestações sociais diferidas

(pensões e complementos), que, em 2016, se expandiram 2,4% em termos homólogos, com destaque

para as pensões de velhice (75,1% do valor despendido com pensões e complementos) que sofreram um

acréscimo de 3,0% (mais € 350 M) em termos homólogos.

A evolução da despesa com as prestações desemprego foi consequência do efeito conjugado das

alterações às regras de atribuição destas prestações e dos efeitos do ciclo económico, tendo contribuído

para este resultado todas as componentes de maior expressão neste grupo de despesas2, com destaque

para o subsídio de desemprego, com um recuo de 15,2% (menos € 197 M), componente que representa a maior fatia destas despesas (72,9%).

O comportamento das despesas com pensões de velhice verificado no período de referência incorpora,

entre outros, os efeitos das seguintes medidas: restrição na atribuição de pensões antecipadas, aumento

da idade normal da reforma para os 66 anos e 2 meses em 2016, levantamento da suspensão do regime

de atualização das pensões atribuídas pelo sistema de segurança social3 e, ainda, os efeitos da pressão

demográfica sobre o sistema4.

As despesas com complementos de pensão suportadas pelo Fundo Especial de Segurança Social dos

Profissionais de Banca dos Casinos (FESSPBC)5, em 2016, registaram uma redução de 33,4% (que

compara com 67,5% em 2015), relativamente ao período homólogo, em consequência da aplicação do

Despacho do SESSS 2.201/2015, de 9/02/20156. Com efeito, tendo-se verificado que, nos últimos anos,

o valor da despesa do Fundo se tem situado acima do valor da receita, implicando uma situação

económica e financeira desajustada7, foi determinado que, a partir do mês de fevereiro de 2015, as

1 Em expansão desde 2011, as despesas com subsídio de desemprego apresentaram em 2014 uma evolução negativa em

termos homólogos (menos 20,5%), tendência que se estendeu a 2015 (menos 21,3%) e a 2016 (menos 15,2%). 2 Neste grupo apenas as despesas da rubrica residual outras e as alocadas ao pagamento de garantias salariais evidenciaram

evoluções positivas, sendo que no seu conjunto representaram apenas 8,0% do agrupamento. 3 Decreto-Lei 254-B/2015, de 31/12. 4 “Em 31 de dezembro de 2016, a população residente em Portugal foi estimada em 10 309 573 pessoas, (menos 31.757

face a 2015). Este resultado traduziu-se numa taxa de crescimento efetivo negativa de -0,31%, reflexo da conjugação

dos saldos natural e migratório negativos. Registou-se um novo aumento de nascimentos (87.126 nados vivos), contudo

este aumento foi insuficiente para compensar o número de óbitos (110.535), mantendo-se o saldo natural negativo

(- 23.409 em 2016, comparado a -23.011 em 2015). Apesar da diminuição do número de emigrantes, e da estabilização

do número de imigrantes continuou a verificar-se um saldo migratório negativo (-8.348), ainda que mais atenuado

comparativamente com 2015 (-10.481). (…)” – INE, 16/06/2017 – Estimativas da população residente em Portugal (2016).

“Em Portugal, o índice de envelhecimento da população, medido pelo rácio entre população idosa (65 ou mais anos) e população jovem (0-14 anos), registou um valor de 146,5 em 2015, maior do que no ano anterior (141,3).” – INE, 20/12/2016, Anuários Estatísticos Regionais.

5 O FESSPBC integra o regime complementar de iniciativa coletiva, de instituição facultativa, de proteção social dos

profissionais daquele setor, regulamentado pela Portaria 140/92, de 4/03, com a redação dada pelas Portarias 96/93 e

101/94, de 25/01 e de 9/02, respetivamente. De acordo com o Regulamento, são concedidas prestações pecuniárias nas

eventualidades de invalidez, velhice e morte, complementares de idênticas prestações do regime geral de segurança social

e prestações pecuniárias de apoio social. Constituem receitas do Fundo as quotizações obrigatórias representadas por

12% das gratificações recebidas pelo pessoal ao serviço das salas de jogo tradicionais dos casinos, as contribuições

facultativas previstas no Regulamento e, ainda, rendimentos de imóveis e de aplicações financeiras. Este regulamento foi

alterado pela Portaria 12/2017, de 9/01. 6 Publicado no DR, 2.ª S, de 3/03/2015. Revogado pela Portaria 12/2017, de 9/01. 7 Receita: € 809 m (2016), € 839 m (2015), € 764 m (2014), € 725 m (2013), € 1.087 m (2012) e € 1.673 m (2011).

Despesa: € 929 m (2016), € 1.375 m (2015), € 4.182 m (2014), € 4.198 m (2013), € 4.553 m (2012) e € 4.185 m (2011).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 282

Página 283

Tribunal de Contas

257

prestações pecuniárias asseguradas pelo Fundo fossem reduzidas nos seguintes termos: em 50% no mês

de fevereiro de 2015; em 60% no mês de março de 2015; em 70% no mês de abril de 2015 e em 80% a

partir do mês de maio de 2015. A partir de janeiro de 2017 foi revertido 50% do montante total da

redução, nos termos do art. 4.º da Portaria 12/2017.

Na mesma linha verificou-se uma apreciação da despesa com prestações sociais diretamente indexadas

à condição de recursos dos potenciais beneficiários cujos critérios de acesso se haviam tornado mais

exigentes e restringidos os valores associados1 durante a vigência do PAEF, medidas que em 2016 foram

objeto de algum tipo de reversão: abono de família (mais € 16 M, 2,5%); rendimento social de inserção (mais € 47 M, 16,5%); e complemento solidário para idosos (mais € 13 M, 6,6%), em consequência das medidas adotadas com vista ao aumento da coesão social, recuperação dos rendimentos das famílias e

promoção da natalidade.

Merecem ainda destaque as pensões do sistema de regimes especiais, que passaram a constituir encargo

da segurança social a partir de 01/01/2012, mas cujo efeito sobre o sistema é neutro, uma vez que o

respetivo financiamento provém exclusivamente de outras entidades (incluindo os custos de

administração imputados). Em 2016, esta despesa representou 2,0% da despesa efetiva, menos 1,8% que

no período homólogo anterior.

A despesa com “Ação social”2 cresceu 0,2%, passando a € 1.727 M (7,2% da despesa efetiva). As “Transferências e subsídios para as instituições sem fins lucrativos” absorveram a parte mais significativa destes recursos (85,5%), mais 0,3% em termos homólogos.

O total das despesas com “Formação profissional e PAE” correspondeu a 6,4% da despesa efetiva,

apresentando um acréscimo na ordem dos 25,9% face ao ano anterior, atingindo o montante de

€ 1.535 M (mais € 316 M que em 2015). Este acréscimo resulta, essencialmente, das despesas com formação profissional com financiamento do FSE 50,7% (€ 312 M). Sobre as despesas com formação profissional verificou-se que vinham sendo contabilizados, nesta rubrica, valores relativos a

intervenções que não visavam total ou parcialmente tal fim por ausência de comunicação ao IGFSS de

toda a informação relevante para uma correta relevação contabilística dessas despesas, o que levou à

formulação da recomendação 66-PCGE/2013. Compulsado o OSS para 2017 e respetiva execução

relativa ao 1.º semestre do mesmo ano, constata-se que a situação se encontra regularizada,

considerando-se totalmente acolhida a mencionada recomendação.

As despesas com a “Administração” do sistema apresentaram uma tendência evolutiva decrescente (menos 3,0%), mantendo-se a tendência iniciada em 2015, ano em que aquelas despesas apresentaram

uma evolução negativa de 8,9%, que compara com uma evolução acentuadamente crescente nos anos

anteriores (mais 3,6% em 2014; mais 6,7%, em 2013). Neste agrupamento, todas as despesas regrediram

(“Aquisições de bens e serviços” menos 10,1%; e “Outras” menos 28,5%), com exceção das “Despesas com pessoal” que evidenciaram uma taxa crescente de 2,7%, influenciadas principalmente pela reversão das restrições aplicadas à massa salarial pública e o aumento do esforço contributivo para a CGA. Já as

despesas de administração imputadas à componente “Capitalização” dosistema previdencial aumentaram 20,2% em termos homólogos, tendo atingido, em 2016, € 6 M. Este aumento decorre do acréscimo das despesas com pessoal (16,5%, € 203 m) que, para além de refletirem a reposição dos cortes salariais operadas nos anos de 2015 e 2016, refletem, também, a admissão de novos efetivos em 2016 (mais

1 Decreto-Lei 133/2012, de 27/06. 2 A proteção da Ação Social realiza-se através da concessão de prestações pecuniárias, de carácter eventual e em condições

de excecionalidade, prestações em espécie, acesso à rede nacional de serviços e equipamentos sociais e no apoio a

programas de combate à pobreza, disfunção, marginalização e exclusão sociais.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 283

Página 284

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

258

19,2%)1, das despesas com encargos financeiros do FEFSS (28,7%, € 424 m), dos impostos retidos nos dividendos provenientes do estrangeiro obtidos pelo FEFSS (26,5%, € 317 m) e do decréscimo das despesas com aquisições de bens e serviços (1,7%, € 12 m).

12.2.2.4. Execução orçamental por componentes e subsistemas

A LBSS estabelece que o SSS abrange o sistema de proteção social de cidadania, o sistema previdencial

e o sistema complementar. Decompõe ainda o primeiro nos subsistemas de solidariedade, de proteção

familiar e de ação social. Para efeitos da sua gestão financeira, o sistema previdencial é dividido pela

repartição e pela capitalização. A primeira alteração à LOE/2012 (Lei 20/2012) veio estabelecer um

novo sistema - sistema dos regimes especiais.

O gráfico seguinte ilustra a movimentação de recursos efetivos por componentes e subsistemas.

Gráfico C. 1 – Receita e despesa efetiva por componentes e subsistemas

Fonte: IGFSS.

A maior movimentação de recursos coube à componente de repartição do sistema previdencial, que

acomodou a receita de contribuições e quotizações (€ 14.778 M; 85,1% da receita efetiva deste sistema) e o pagamento da maior fatia das prestações sociais diferidas (pensões: € 11.836 M; 71,2% da despesa efetiva)2, cabendo-lhe também o pagamento das prestações pecuniárias substitutivas de rendimentos de

trabalho perdido em consequência da verificação das eventualidades legalmente definidas, como sejam

os subsídios por doença, desemprego, parentalidade, acidentes de trabalho, entre outros. Estas

prestações, incluindo as pensões, constituem as transferências para as famílias, as quais foram na ordem

dos € 14.140 M e constituíram a maior fatia de despesa do sistema previdencial – repartição.

Em 2016, a componente de repartição do sistema previdencial, obteve, do OE, um financiamento

extraordinário de € 650 M, destinado ao financiamento do seu défice (menos 27,4%, em termos homólogos), o qual representou 3,7% da receita efetiva daquele sistema e cerca de 28,0% das

transferências correntes do mesmo.

1 O mapa de pessoal do IGFCSS em 2015 contava com 26 elementos e em 2016 passou para 31, com a admissão de 5

técnicos superiores. 2 Em 2016, as pensões e complementos pagos pelo sistema previdencial - repartição representaram 73,4% do total, cabendo

ao subsistema de solidariedade 21,4% (€ 3.456 M), ao de proteção familiar 2,2% (€ 353 M) e ao sistema de regimes especiais 3,0% (€ 479 M).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 284

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Tribunal de Contas

259

A componente de capitalização foi a menos relevante no total da receita e despesa efetivas, com a

despesa efetiva a corresponder em grande medida aos custos de gestão do FEFSS e as receitas efetivas

(€ 675 M) aos “Rendimentos de propriedade” de ativos do Fundo (€ 447 M) e às transferências da componente de repartição (€ 227 M). Em termos relativos, esta componente foi a que registou maior acréscimo na receita e despesa efetivas de 34,4% e 20,2%, respetivamente.

No sistema de proteção social de cidadania, o maior volume financeiro esteve a cargo do subsistema de

solidariedade, cuja receita efetiva totalizou € 4.541 M, dos quais 99,5% (€ 4.517 M) foram provenientes de transferências correntes da administração central. Neste subsistema, 94,2% dos gastos (€ 4.253 M) traduziram-se em transferências correntes para as famílias, destinadas ao financiamento de situações de

necessidade pessoal ou familiar, incluindo o RSI (€ 335 M), as pensões sociais e complementos (€ 3.456 M), o subsídio social de desemprego (€ 232 M), o complemento de desemprego (€ 30 M) e o CSI (€ 203 M).

O subsistema de ação social foi maioritariamente (86,4%) financiado por transferências correntes da

administração central (€ 1.652 M) e por receitas provenientes dos jogos da SCML (€ 218 M; 11,4%) e aplicou a maior fatia dos seus recursos em apoios financeiros (transferências e subsídios) concedidos às

IPSS e equiparadas (83,2%), tendo canalizado apenas cerca de 5,0% dos seus recursos para o apoio

social direto às famílias. Face a 2015, a receita efetiva alocada a este subsistema aumentou 0,6%, tendo

a despesa efetiva recuado 3,3%. As transferências correntes e de capital para as IPSS e equiparadas

expandiram-se, em termos homólogos, 1,2% e 30,8%, respetivamente, enquanto os subsídios recuaram

67,8% no mesmo período.

No subsistema de proteção familiar, 98,6% da receita efetiva adveio de transferências correntes da

administração central e a restante de receitas fiscais consignadas, perfazendo o total de € 1.180 M e a despesa tem a sua maior expressão nas transferências para as famílias, que totalizaram, em 2016,

€ 1.150 M, (96,2% da despesa efetiva deste subsistema), no âmbito de encargos familiares e outros no domínio da deficiência e dependência.

O sistema regimes especiais foi financiado por transferências do OE1 no valor de € 479 M e acomodou despesa de igual montante2.

12.2.2.5. Saldo de execução orçamental

O saldo de execução orçamental de 2016 (Quadro C.11) foi de € 818 M (valor que compara com um saldo de € 1.183 M no período homólogo anterior), o qual permitiu um acréscimo de 26,5% no saldo de execução orçamental acumulado no período. Estes saldos evidenciaram uma tendência negativa entre

2010 e 2012, caraterizada por uma degradação consistente dos saldos do SSS, consentânea com os

efeitos da forte contração do tecido económico (consequência da crise financeira internacional de

2008)3, só retomando uma evolução crescente devido a transferências extraordinárias do OE para esse

efeito. A erosão destes saldos absorveu ainda parte das reservas destinadas ao reforço do FEFSS (saldos

de 2008 e 2009 da componente repartição, cuja transferência para capitalização se efetivou apenas em

1 Estado € 478 M e CGA € 0,7 M. 2 Pensões (€ 479 M) e despesas de administração (€ 0,2 M). 3 Em 2010, 2011 e 2012 registou valores negativos (€ 35 M em 2010, € 367 M em 2011 e € 1.188 M em 2012), situação

que representou uma degradação do saldo de execução orçamental no final desses exercícios de 1,4%, 14,5% e 54,8%,

respetivamente.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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2014) e obrigou a um reforço das transferências do OE1, transferências que atingiram a sua maior

expressão em 2013.

Ainda sobre a transferência de verbas do sistema previdencial para o FEFSS (art. 91.º da Lei 4/2007, de

16/01), o valor transferido (€ 227 M), durante o ano de 2016, da componente de repartição para a componente de capitalização, respeitou à receita obtida na alienação de imóveis, relativa a 2016, € 27 M e, bem assim, a saldos de anos anteriores da componente repartição, que totalizaram € 200 M, dos quais apenas € 81 M foram efetivamente apurados no regime previdencial repartição, tendo os restantes € 119 M constituído as transferências provenientes do regime de proteção social de cidadania.

Em 2016 foi integrado, para aplicação em despesa, 36,4% (€ 1.125 M) do saldo acumulado de anos anteriores, distribuído pelas componentes do sistema previdencial (€ 513 M em repartição e € 582 M em capitalização) e de ação social (€ 31 M). Dos € 1.966 M não integrados para aplicação em despesa, € 1.345 M respeitam à componente de repartição (72,4% do seu saldo inicial acumulado), € 5 M ao subsistema de proteção familiar (100,0% do seu saldo inicial acumulado), € 36 M ao subsistema de solidariedade (100,0% do seu saldo inicial acumulado), € 580 M ao subsistema de ação social (95,0% do seu saldo inicial acumulado), e € 14 m ao sistema dos regimes especiais.

No que se refere ao desempenho da execução orçamental de 2016, o sistema previdencial repartição

apresentou um saldo positivo de € 731 M2, enquanto na sua componente de capitalização o resultado da execução orçamental foi negativo em € 79 M. Já no sistema de proteção social de cidadania, todos os subsistemas apresentaram saldos positivos no mesmo período: ação social, € 141 M, solidariedade € 24 M e proteção familiar € 1 M.

No saldo de execução orçamental acumulado no final de 2016 (€ 3.909 M), 66,2% respeitou à componente de repartição do sistema previdencial (€ 2.588 M), 12,9% à componente de capitalização (€ 503 M), 1,5% ao subsistema de solidariedade (€ 60 M), 0,1% ao subsistema de proteção familiar (€ 6 M) e 19,2% ao subsistema de ação social (€ 752 M). O sistema dos regimes especiais apresenta um saldo acumulado de € 21 m.

Quadro C. 11 – Saldo de execução orçamental (SEO) por componentes e subsistemas

(em milhões de euros)

Designação

Componentes do sistema

previdencial

Subsistemas do sistema de

proteção social de cidadania Sistema

regimes

especiais

Total Tvh

Repartição Capitalização Proteção

familiar Solidariedade Ação social

1. SEO inicial acumulado 1 858 582 5 36 610 0 3 091 62,0

2. Regularização do saldo do ano anterior 0 0 0 0 0 0 0

3. Saldo do ano anterior ajustado (1)+(2) 1 858 582 5 36 610 0 3 091 62,0

4. Saldo de anos anteriores integrado 513 582 0 0 31 0 1 125 63,5

5. Saldo de anos anteriores não integrado 1 345 0 5 36 580 0 1 966 61,1

6. Receita do ano 17 366 5 809 1 196 4 541 1 915 479 31 307 -9,4

7. Despesa do ano 16 636 5 888 1 195 4 517 1 774 479 30 489 -8,6

8. SEO do ano (6)-(7) 731 -79 1 24 141 0 818 -30,8

9. SEO do ano com saldo integrado (8)+(4) 1 243 503 1 24 172 0 1 943 3,9

10. SEO final acumulado (9)+(5) 2 588 503 6 60 752 0(a) 3 909 26,5

a) Representa € 21 m.

Fonte: CSS/2016.

1 € 857 M em 2012, € 1.430 M em 2013, € 1.329 M em 2014, € 894 M em 2015 e € 650 M em 2016. 2 Valor que acomoda a transferência extraordinária do OE (€ 650 M).

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Página 287

Tribunal de Contas

261

No final de 2016, o saldo de execução efetiva da segurança social registava € 1.564 M (Quadro C.12), mais 50,8% que em 2015. Destes, € 1.400 M foram apurados no sistema previdencial (€ 731 M em repartição e € 670 M em capitalização). No sistema de proteção social de cidadania, apenas os subsistemas de solidariedade (€ 24 M) e ação social (€ 139 M) apresentaram saldos positivos significativos, já que o subsistema de proteção familiar apresentou um saldo de € 1 M. O sistema regimes especiais regista um saldo de € 7 m.

Quadro C. 12 – Saldo de execução efetiva por componentes e subsistemas

(em milhões de euros)

Componentes do Sistema de

Segurança Social

Saldo em

31/12/2016

Saldos de

anos

anteriores

integrado

Saldo de

ativos

financeiros

Saldo de

passivos

financeiros

Saldo de

execução

efetiva em

31/12/2016

Peso no

Total Tvh

(1) (2) (3) (4) (5)=(1)-(2)-(3)-4) (%) (%)

Previdencial - repartição 1 243 513 0 0 731 46,7 62,9

Previdencial - capitalização 503 582 - 749 0 670 42,8 34,5

Sistema previdencial 1 746 1 095 - 749 0 1 400 89,5 47,9

Solidariedade 24 0 0 0 24 1,5 10,2

Proteção familiar 1 0 0 0 1 0,0 14 899,5

Ação social 172 31 3 - 1 139 8,9 103,4

Sistema proteção social e cidadania 197 31 3 - 1 164 10,5 81,5

Regimes especiais 0 0 0 0 0 0,0 -3,7

Total 1 943 1 125 - 746 - 1 1 564 100,0 50,8

Fonte: CSS/2015 e 2016.

Para a evolução do saldo de execução efetiva entre 2008 e 2016 (Gráfico C.2) contribuiu o crescimento

das contribuições e quotizações e o esforço financeiro do Estado, através das transferências.

Gráfico C. 2 – Valor e variação homóloga do saldo de execução efetiva

Fonte: CSS de 2008 a 2016.

A desaceleração do crescimento da despesa, originada pelas reformas legislativas empreendidas quer ao

nível das pensões quer quanto a grande parte das prestações, foi contrariada a partir de 2008 pelos efeitos

da crise financeira que se disseminou à economia real, pressionando a despesa social, verificando-se,

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 287

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

262

simultaneamente, em 2009, uma sensível atenuação do crescimento da receita1 e um aumento

substancial da despesa (11,1%)2, que gerou uma quebra de 64,0% no saldo de execução efetiva.

O aumento do saldo de execução efetiva verificado em 2010 traduz uma contração do crescimento da

despesa para um nível inferior (4,0%) ao da expansão da receita (4,4%), que também baixa. Cabe, no

entanto, referir que este efeito de evolução da receita efetiva a taxas mais vigorosas do que as que se

vinham verificando na despesa efetiva já não foi visível no ano de 2011, onde a receita recuou mais do

que a despesa efetiva, face a igual período de 2010.

Em 2012 manteve-se esta tendência, com o saldo a sofrer uma degradação da ordem dos 1,8% (de

€ 439 M para € 431 M), colocando-se muito abaixo do nível registado antes da crise financeira internacional (€ 1.611 M); o mesmo se verificou em 2013, onde a recuperação do saldo efetivo ficou por conta da transferência extraordinária do OE consignada ao financiamento do défice do sistema

previdencial – repartição, défice motivado pela forte exposição das receitas e despesas da SS à evolução do ciclo económico, cuja tendência continuou a ser de forte contração.

Em 2014, o saldo efetivo voltou a registar um decréscimo, situando-se 12,2% abaixo do verificado no

período homólogo anterior, evolução que decorreu do abrandamento das transferências do OE, que no

seu conjunto diminuíram cerca de 2,6%, quando comparadas com 2013. A ligeira melhoria do mercado

de trabalho verificada sobretudo a partir do 2.º semestre de 2014 e durante 2015, um melhor desempenho

na cobrança da receita e menores benefícios sociais (condicionados por via legislativa, decorrentes da

aplicação de políticas ativas de emprego mais dinâmicas e consequência da recuperação do ciclo

económico) vieram trazer ao saldo efetivo do sistema uma apreciação na ordem dos 141,5%, face ao

período homólogo anterior, ainda assim abaixo do valor verificado antes da crise financeira internacional

(2008).

Em 2015, a transferência extraordinária do OE para financiamento do défice da componente de

repartição do sistema previdencial (€ 894 M) continuou a ser superior às necessidades (à semelhança do ocorrido em anos anteriores), as quais rondaram € 446 M3. Sem essa transferência, o saldo efetivo do SSS, no final de 2015, teria sido apenas de € 143 M (13,8% do apurado após financiamento do défice do sistema previdencial – repartição).

A recuperação do saldo efetivo do sistema que se vem verificando desde 2014 e que no ano em análise

(2016) permitiu já a sua colocação em terreno positivo (€ 915 M) não impediu que também neste ano tivesse havido lugar a uma transferência extraordinária para financiamento do défice do sistema

previdencial – repartição no valor de € 650 M.

12.2.2.6. Comportamento de longo prazo da receita e despesa

Este ponto disponibiliza alguns dados que ajudam a conhecer o comportamento de médio e longo prazo

do setor, incidindo, nomeadamente, na receita e despesa efetiva (Gráfico C.3), nas contribuições e

1 As “Contribuições e quotizações” cresceram 0,4% e as “Transferências correntes da administração central” aumentaram

9,3%, que compara com um decréscimo de 11,3% em 2011. 2 Em termos homólogos, a despesa com “Desemprego e apoio ao emprego” aumentou 30,6%, com “Formação profissional

e PAE” 37,7%, com “RSI”19,3%, com “Ação social” 12,3%, com “CSI” 105,6% e com “Parentalidade” 29,2%. 3 Se não tivesse ocorrido a transferência do saldo do sistema de proteção social de cidadania para o sistema previdencial –

repartição, no valor de € 119 M, as necessidades de financiamento seriam de € 565 M.

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Tribunal de Contas

263

pensões (Gráfico C.4), no peso dos principais agregados da receita e despesa face ao PIB (Gráficos C.5

e C.6, respetivamente) e no equilíbrio do sistema previdencial1.

Gráfico C. 3 – Variação (%) da receita e despesa efetiva

Gráfico C. 4 – Variação (%) das contribuições e pensões

Fonte: CSS e INE. Fonte: CSS.

Gráfico C. 5 – Receitas em percentagem do PIB

Gráfico C. 6 – Despesas em percentagem do PIB

Fonte: CSS e INE. Fonte: CSS e INE.

Durante vários anos, e até 2013, a despesa efetiva da segurança social apresentou uma variação superior

à conseguida pelo PIB. A partir de 2014 o aumento do Produto coexiste com quebras na despesa (em

2014 e 2015) ou crescimentos menos pronunciados (2016)2. Neste último ano, o crescimento da despesa

(e receita) foi significativo, sendo que os próximos anos dirão se se tratou de um ajustamento face às

quebras sentidas nos dois anos anteriores ou se se retomará o pendor mais expansionista do período

anterior a 2014. Considerando a taxa de crescimento médio anual (TCMA) em períodos de 5 anos,

verificamos que a tendência de crescimento da despesa acima do PIB se inverteu no período terminado

em 2015 e que no quinquénio terminado em 2016 o crescimento médio do PIB foi o dobro do

crescimento médio da despesa (1,0% e 0,5%, respetivamente)3.

1 Não considera as pensões do sistema de regimes especiais (Regime Substitutivo Bancário e Pensões BPN). Utiliza o PIB,

a preços correntes, que consta das Contas Nacionais Trimestrais por Setor Institucional, INE, 22/09/2017. 2 A receita efetiva tem crescido, em regra, acima da despesa efetiva (são exceções os anos de 2009, 2011 e 2014) e em

2016 volta a apresentar um aumento maior que o do PIB (depois de um interregno em 2013 e 2014). 3 Nos últimos 5 anos a TCMA da receita foi de 1,4%.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Durante vários anos, a progressão da receita de contribuições foi inferior à verificada na despesa com

pensões. Mas em 2014 deu-se uma inversão da tendência e o crescimento das contribuições superou o

das pensões (em 0,8 p.p.), situação que se consolidou em 2015 (1,5 p.p.) e em 2016 (2,7 p.p.). No

entanto, no crescimento médio do último quinquénio ainda se faz sentir o efeito anterior, com a TCMA

das pensões a atingir 2,1% e das contribuições a ficar em 1,4%.

Na generalidade do período, a despesa efetiva da segurança social confirma alguma capacidade contra

cíclica, aumentando quando existem quebras no Produto ou acelerando com desacelerações do mesmo.

Mas os anos de 2011, em que a despesa diminuiu 0,3% apesar do rendimento ter diminuído 2,1%, e de

2013, em que a despesa aumentou 5,0% quando o PIB apenas aumentou 1,1%, parecem indicar que ao

funcionamento das despesas sociais como estabilizador automático da economia se sobrepôs a estratégia

de redução de despesa, justificada no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira1.

Sabendo-se que a maior parte da despesa é utilizada no pagamento de pensões (67,8% em 2016, face a

59,1% em 2002) e que este é relativamente rígido e tem crescido a um ritmo não só superior ao

crescimento do PIB mas também do total da despesa efetiva, percebe-se que o sistema dispõe de uma

margem relativamente reduzida para responder ao impacto social dos ciclos económicos.

As contribuições constituem a maior fonte de receita da segurança social e o seu peso passou de 7,0%

do PIB em 2007 para 8,0% em 2016. No entanto, até 2010, foram as transferências da Administração

Central a financiar a expansão da despesa do setor, com crescimentos médios anuais próximos ou

superiores a 10%. Já em 2013, beneficiou de um aumento substancial que colocou o seu peso em 5,4%

do PIB (depois de quebras em 2011 e 2012). Desde então tem registado diminuições anuais, caindo para

4,6% do PIB em 2016. As transferências da UE evoluíram até 0,8% do PIB em 2013, baixando depois

em 2014 e 2015. Em 2016 recuperaram alguma relevância, para 0,5%. Os Rendimentos mantiveram-se

estáveis em torno dos 0,2% do PIB2.

As pensões dominam a despesa efetiva e, em percentagem do PIB, aumentaram de 6,9% em 2007 para

9,0% em 2013 (e de 5,1% para 6,8% nas pensões do sistema previdencial). A redução de peso verificada

nos anos seguintes (8,9% em 2014 e 8,7% em 2015 e 2016) resulta do facto da despesa com pensões ter

aumentado a um ritmo inferior ao do PIB nominal. Em 2016, as despesas com ação social baixaram

ligeiramente, para 0,9% do PIB, com o abono de família estabilizaram, em 0,3%, e com formação

profissional e políticas ativas de emprego progrediram, para 0,8%. O gasto com desemprego e apoio ao

emprego progrediu até 1,6% do PIB em 2013, mostrando que as medidas de redução desta despesa

foram insuficientes para acomodar os efeitos da crise. Com a recuperação económica, o recuo do

desemprego e criação líquida de emprego acabou por baixar nos anos seguintes, até 0,8% em 20163. A

despesa efetiva em percentagem do PIB progrediu de 10,9% em 2007 para 14,3% em 2013, baixando

nos anos seguintes (12,8% em 2016).

O Gráfico C.7 reúne um conjunto de dados da evolução do sistema previdencial. A despesa com pensões

do sistema previdencial em 2016 foi praticamente o dobro da que se registou em 2002 (mais 99,8%),

enquanto as contribuições cresceram 45,3% no mesmo período. A diferença entre a receita de

1 Em 2011, perante um cenário de recessão económica e aumento do desemprego, a despesa aplicada em desemprego e

apoio ao emprego diminuiu 5,3%. A quebra da despesa com pensões em 2012 deve-se, essencialmente, à suspensão do

pagamento dos subsídios de férias e de Natal (aos trabalhadores e pensionistas do setor público), sendo que o veto do

Tribunal Constitucional à medida (e consequente obrigação de reposição) explica a expansão desta despesa em 2013

(6,2%) que, por sua vez, condiciona o comportamento da despesa efetiva. 2 As componentes destacadas representaram 97,9% da receita efetiva. São ainda relevantes as transferências da SCML

(0,1% do PIB), as taxas, multas e outras penalidades e as reposições. 3 Estas componentes valiam 90,7% da despesa efetiva. Destaque ainda para os gastos com doença e parentalidade (0,3%

do PIB cada), RSI e administração (0,2% do PIB cada) e com prestações por morte e CSI (0,1% do PIB cada).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 290

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Tribunal de Contas

265

contribuições e as pensões pagas degradou-se 37,1% (mas encontra-se em recuperação desde os 54,1%

de 2013), passando de € 4.045 M para € 2.543 M1. Note-se que as receitas de contribuições cresceram abaixo da despesa com pensões, exceto em 2007 e de 2014 a 2016.

Gráfico C. 7 – Evolução do sistema previdencial (SP)

Fonte: CSS e IGFCSS.

Em termos acumulados, esta deterioração anual ascende a € 15.852 M, distanciando-se já do valor total da carteira do FEFSS (€ 14.246 M)2. No entanto, se entendermos que os acréscimos de valor do FEFSS constituem uma forma de compensar parte da deterioração da capacidade de financiamento do sistema,

poderíamos concluir que, pelo menos até 2009, o acréscimo de valor do FEFSS compensou a

deterioração da cobertura das pensões pelas contribuições. Desde então, a deterioração compensada do

valor acrescentado pelo Fundo tem apresentado uma tendência de aumento, atingindo um valor

acumulado de € 6.323 M em 2016.

Face a um contexto de progressivo envelhecimento populacional, de recurso a medidas de incentivo ao

emprego que limitam a receita contributiva e em que a inovação tecnológica permite a supressão de

empregos e a substituição de trabalhadores por máquinas3, será importante perceber se o sistema de

segurança social conseguirá aumentar a sua sustentabilidade, diminuindo ou anulando a deterioração do

rácio contribuições/pensões e se o fará promovendo um maior crescimento das contribuições face às

pensões e/ou moderando substancialmente o crescimento da despesa com pensões (como ocorreu em

2014 e 2015) e/ou reinventando a sua forma de financiamento.

Em 2016, a economia manteve a trajetória de melhoria na área do emprego (aumento da taxa de emprego

e do número de empregados, diminuição da taxa de desemprego e do número de desempregados), mas

a maior parte dos indicadores ainda não recuperaram os níveis pré-crise. A dinâmica económica e social

1 Somando a valorização anual do FEFSS às contribuições a redução é de 45,8%. 2 Desde 2012 que o valor acumulado no FEFSS é superior à despesa anual com pensões do sistema previdencial. 3 Na lógica redistributiva, a sustentabilidade da despesa social depende também da capacidade de gerar receita, pelo que

pode também ser condicionada por políticas económicas que afetem as fontes de financiamento, seja pela redução ou

isenção de contribuições, seja pela criação de condições que prejudiquem o aumento do número e da capacidade

contributiva de cidadãos e empresas.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 291

Página 292

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

266

ainda não encontrou forma de estancar a diminuição da população residente e aumentar a população

ativa.

Para reforçar a sustentabilidade do sistema de segurança social e manter as suas características

essenciais, deverá ser necessário reforçar a criação de emprego e favorecer o aumento da massa salarial,

não se podendo colocar de parte estratégias de compatibilização da despesa com os novos cenários

demográficos e de atuação sobre os fatores que possam estar a provocar a erosão da receita.

12.2.3. Balanço

O quadro seguinte evidencia a situação financeira e patrimonial da segurança social no período de 2014

a 2016, traduzida na evolução do ativo, dos fundos próprios e do passivo.

Quadro C. 13 – Balanço da segurança social

(em milhões de euros)

Grupos Patrimoniais 2014 2015 2016 2015/2014 2016/2015

Valor % Absoluta % Absoluta %

Ativo Bruto

Imobilizado 855 827 822 2,7 -28 -3,3 -5 -0,6

Existências 1 2 2 0,0 0 9,7 0 5,3

Dívidas de terceiros 11 575 12 404 12 579 40,7 830 7,2 175 1,4

Disponibilidades 15 681 16 495 17 537 56,7 814 5,2 1 043 6,3

Acréscimos e diferimentos 31 42 3 0,0 10 33,6 -39 -93,6

Total do Ativo bruto 28 143 29 769 30 943 100,0 1 626 5,8 1 174 3,9

Amortizações/Provisões imobilizado 474 481 488 7 1,5 7 1,5

Provisões para cobranças duvidosas 5 230 5 300 7 546 70 1,3 2 246 42,4

Total Ativo líquido 22 440 23 989 22 909 1 549 6,9 -1 080 -4,5

Fundos Próprios

Património 12 965 14 771 15 366 71,3 1 806 13,9 595 4,0

Cedências de ativos -1 -3 -3 0,0 -2 185,9 0 8,0

Reservas 1 070 1 052 1 046 4,9 -19 -1,7 -6 -0,5

Resultados transitados 5 236 5 514 4 323 20,1 278 5,3 -1 191 -21,6

Resultado líquido do exercício 2 072 1 466 810 3,8 -606 -29,3 -656 -44,7

Total dos Fundos próprios 21 343 22 800 21 542 100,0 1 457 6,8 -1 258 -5,5

Passivo

Provisões para riscos e encargos 17 26 20 1,4 9 51,0 -6 -24,2

Dívidas a terceiros 294 281 275 20,1 -13 -4,4 -6 -2,0

Acréscimos e diferimentos 786 882 1 072 78,4 96 12,2 190 21,5

Total do Passivo 1 097 1 189 1 367 100,0 92 8,4 178 15,0

Total dos Fundos próprios e do Passivo

22 440 23 989 22 909 1 549 6,9 -1 080 -4,5

Fonte: CSS/2014, CSS/2015 e CSS/2016.

Do conjunto dos ativos da segurança social destacam-se as disponibilidades e as dívidas de terceiros que

representam em 2016, relativamente ao ativo bruto, cerca de 56,7% e 40,7%, respetivamente. As

provisões para cobrança duvidosa ascendem a 60,0% do valor em dívida e o imobilizado encontra-se

amortizado/provisionado em 59,4%, reduzindo o valor do ativo líquido a cerca de 74,0% do valor do

ativo bruto. O segundo membro do balanço é constituído na quase totalidade (94,0%) por “Fundos Próprios”.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 292

Página 293

Tribunal de Contas

267

12.2.3.1. Ativo

12.2.3.1.1. Imobilizado

O imobilizado do sistema de segurança social é constituído por imobilizações incorpóreas, corpóreas e

investimentos financeiros, representando, em 2016, 2,7% do ativo bruto (2,8% em 2015) e 1,5% do ativo

líquido (1,4% em 2015), registando em 2016 face ao período homólogo anterior uma diminuição de

0,6% no ativo bruto e de 3,6% no líquido.

Quadro C. 14 – Evolução do Imobilizado no triénio 2014 a 2016

(em milhões de euros)

Imobilizado 2014 2015 2016

Bruto Líquido Bruto Líquido Bruto Líquido

Imobilizações incorpóreas 1 0 5 3 5 1

Imobilizações corpóreas 653 197 660 197 666 197

Investimentos financeiros 201 185 161 146 151 136

Total 855 382 827 346 822 334

Fonte: CSS/2014, CSS/2015 e CSS/2016.

O imobilizado corpóreo é a componente mais significativa. Em 2016 verificou-se um acréscimo em

termos brutos (mais 0,8% face a 2015) e uma ligeira redução em termos líquidos (menos 0,2%). Em

valor bruto as componentes mais significativas são o “Equipamento básico” (53,6%) e os “Edifícios e outras construções” (29,9%). No entanto, em valor líquido, a segunda representa 65,0% do total e a primeira apenas 13,3%, o que está em linha com os períodos de amortização aplicáveis a cada componente. Com

efeito, os imóveis têm períodos de amortização muito mais longos que os bens móveis. De todo o modo,

verifica-se que estes últimos apresentam níveis de amortizações superiores a 92,5%1, o que significa que

grande parte destes bens já chegou ao final da sua vida útil e, eventualmente, alguns já se encontram

obsoletos. Em termos globais, o imobilizado corpóreo está amortizado em cerca de 70,4%.

Em 2016, os investimentos financeiros continuam a diminuir quer em termos brutos quer em termos

líquidos, com as suas 3 componentes mais significativas a refletirem-no relativamente ao período

homólogo: Partes de capital menos 11,8% no ativo bruto (69,3% em 2015) e 27,6% no ativo líquido

(77,9% em 2015), Investimentos em imóveis 6,2% no ativo bruto (10,9% em 2015) e 6,4% no ativo líquido

(11,8% em 2015) e Outras aplicações financeiras 5,7% quer em termos brutos quer em termos líquidos

(16,6% em 2015). Estes decréscimos resultam, essencialmente, da desvalorização de Partes de capital

que integram a reserva estratégica do FEFSS2, de alienações e cedências de imóveis3, bem como de

regularizações contabilísticas por via de abates4 ou de reclassificação de investimentos financeiros em

imobilizado corpóreo5; e da diminuição do valor dos depósitos constituídos como garantias no âmbito

das Linhas de Crédito I e II de Apoio à Economia Social, em função de parte das amortizações já

efetuadas pelas instituições relativamente aos empréstimos que haviam contratado com a CEMG.

1 Valores já amortizados: equipamento básico 92,7%; equipamento administrativo 98,9%; equipamento de transporte

95,3%; ferramentas e utensílios 99,9%; e outras imobilizações corpóreas 95,7%. 2 Para mais desenvolvimentos cfr. ponto 13.3. – Património financeiro. 3 Imóveis alienados pelo IGFSS e cedidos a título gratuito pelo mesmo Instituto ao IHRU e a vários Municípios ao abrigo

das Leis 82-B/2014 e 7-A/2016. 4 Abates para efeitos de regularização contabilística de imóveis que já haviam sido alienados ou cedidos em anos anteriores

ou devido a registos em duplicado, sendo que muitas destas situações foram identificadas em anteriores Pareceres sobre

a CGE. 5 O ISSA procedeu a transferências de investimentos em imóveis para imobilizado corpóreo em mais de € 4 M.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 293

Página 294

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

268

12.2.3.1.1.1. Garantias – Linhas de crédito de apoio à economia social

Entre o MTSSS, a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), a União das

Misericórdias (UM), a União das Mutualidades Portuguesas (UMP) e a Caixa Económica Montepio

Geral (CEMG) foram celebrados dois protocolos de cooperação, nos termos dos quais as partes se

propunham apoiar a atividade das entidades do setor social através da criação de duas linhas de crédito,

uma no valor de € 50 M e outra no valor de € 12,5 M (protocolos assinados em 15/06/2012 e em 21/12/2012, respetivamente), podendo recorrer a estes financiamentos IPSS, Misericórdias, Fundações,

Mutualidades e Centros Sociais das Igrejas que pretendessem efetuar investimentos para reforço da sua

atividade dentro das suas áreas de intervenção ou em novas áreas, modernização de serviços prestados

à comunidade ou modernização da sua gestão e que, por causa disso, tivessem ficado em desequilíbrio

financeiro de médio e curto prazo.

Estas linhas de crédito, no valor total de € 62,5 M, encontram-se garantidas pelo MTSSS1, que, através do IGFSS, efetuou junto da CEMG dois depósitos bancários, em condições de mercado, no exato valor

de cada uma daquelas linhas de crédito e que, nos termos dos acordos celebrados entre as duas

instituições2, se deverão manter enquanto vigorar algum dos empréstimos concedidos ao abrigo destes

protocolos, sendo que, com o decurso do tempo3 e à medida que forem sendo efetuadas as amortizações

do capital emprestado, os referidos depósitos irão sendo reduzidos mensalmente dessas importâncias. O

prazo inicialmente estabelecido nos protocolos foi de 7 anos (84 meses, até 2019). No entanto, em

16/10/2014 a CEMG e o IGFSS celebraram o 1.º aditamento a cada um dos acordos iniciais alargando

o prazo de vigência das garantias para 10,5 anos (126 meses, até 2023) e em 16/06/2016, celebraram o

2.º aditamento ao acordo inicial alargando o prazo inicial para 15,5 anos (186 meses, até 2028). O último

aditamento, além do alargamento de prazo alterou também a taxa remuneratória do depósito a prazo4.

1 Garantia prestada ao abrigo do n.º 5 do art. 54 º de Decreto-Lei 32/2012, de 13/02 (DLEO/2012), “Pode o IGFSS, IP, em

2012 e mediante despacho do membro do Governo responsável pela área da segurança social, conceder garantias a

favor do sistema financeiro, para cobertura das responsabilidades assumidas no âmbito da cooperação técnica e

financeira pelas instituições particulares de segurança social, até ao limite máximo de € 100.000.000, e havendo, em caso disso, lugar a ressarcimento no âmbito dos acordos de cooperação”. Esta norma foi replicada no DLEO/2013, art. 50.º, n.º 6, e na Lei 75-A/2014, de 30/09 (2.ª alteração ao OE/2014), ficando por esclarecer se se trata de um limite

máximo anual ou de um stock de dívida potencial. A Lei 75-A/2014 acresce à redação anterior o facto de se encontrarem

ratificadas as garantias prestadas pelo IGFSS, IP em 2012. A LOE de 2015, no n.º 6 do art. 127.º, refere que “No ano de 2015, pode o IGFSS conceder garantias a favor do sistema financeiro, para cobertura das responsabilidades assumidas

no âmbito da cooperação técnica e financeira pelas instituições particulares de solidariedade social, sempre que tal

contribua para o reforço da função de solidariedade destas instituições até ao limite máximo de € 100.000,00, e havendo um caso disso, lugar a ressarcimento no âmbito dos acordos de cooperação”. A LOE de 2016 no n.º 5 do art. 87.º inclui redação idêntica, mas o limite foi reduzido para € 52 M.

2 Linha de crédito I (€ 50 M), acordo celebrado entre a CEMG e o IGFSS em 02/11/2012; Linha de crédito II (€ 12,5 M),

acordo celebrado entre a CEMG e o IGFSS em 26/11/2012. 3 “4. Decorrido o período de 2 (dois) anos, desde a data de constituição do depósito a prazo referido no número 1 da

presente cláusula, o mesmo será deduzido mensalmente, no montante correspondente às amortizações contratuais que

irão ocorrer nos contratos de mútuo celebrados nos termos do protocolo devidamente identificado no presente acordo” – in acordo celebrado ente o IGFSS e a CEMG em 2/11/2012. Idem para o acordo celebrado entre as mesmas entidades em 26/12 do mesmo ano.

4 No ponto V de ambos os aditamentos aos acordos iniciais é referido que “Atento o facto de se encontrarem as taxas de

juro de mercado em vigor inferiores às que vigoravam inicialmente, e tendo por base o espírito das linhas de crédito,

verifica-se que se demonstra serem mais gravosas, entre a CEMG e o Instituto foi acordado proceder-se à revisão das

mesmas”.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 294

Página 295

Tribunal de Contas

269

Tiveram acesso às linhas de crédito 296 instituições, sendo o valor total dos empréstimos concedidos de

€ 62,4 M1. No quadro seguinte mostra-se da evolução da execução das linhas de crédito no final dos anos de 2015 e 2016:

Quadro C. 15 – Linhas de crédito de apoio à economia social

(em n.º e milhares de euros)

Posição em 29/12/2015 Posição em 16/12/2016

N.º de

Instituições

Capital

Inicial

Capital em

dívida

N.º de

Instituições

Capital

Inicial

Capital em

dívida

Sem alteração de prazo (84 meses, até 2019) 69 10 565 7 591 49 7 163 3 941

Alteração de prazo efetuada (2023) 194 45 965 42 734 89 19 935 15 619

Alteração de prazo efetuada (2024) 0 0 0 10 4 305 642

Alteração de prazo efetuada (2028) 0 0 0 93 20 783 21 600

Em incumprimento 3 675 663 3 500 489

Liquidação por incumprimento - Utilização do DP do IGFSS

2 158 0 4 758 0

Liquidação por iniciativa da instituição 28 5.050 0 48 8 970 0

Total 296 62 413 50 988 296 62 413 42 291

Fonte: IGFSS, dados disponibilizados pela CEMG.

Na sequência dos primeiros aditamentos suprarreferidos, no final de 2015, cerca de 65,5% das

instituições beneficiárias dos empréstimos concedidos ao abrigo das linhas de crédito tinham alargado

os prazos dos empréstimos até ao seu limite máximo (2023), enquanto apenas 9,5% das instituições

haviam procedido à amortização integral dos empréstimos, representando um reembolso de 8,1% do

capital inicial das linhas de crédito. Na sequência dos segundos aditamentos, no final de 2016, 31,4%

das instituições fizeram alteração dos contratos para o prazo mais alargado (2028) e apenas 16,6% das

instituições mantinham o prazo inicial do empréstimo; 16,2% haviam já liquidado a totalidade do

empréstimo por sua iniciativa, o que representou o reembolso de 11,5% do capital inicial.

A celebração dos contratos decorreu entre 2012 e 2014 e em 2015 verificou-se a primeira execução das

garantias. No quadro infra estão indicadas as instituições que contraíram empréstimos e não cumpriram

com o seu reembolso total ou parcial:

Quadro C. 16 – Instituições com liquidação por incumprimento

(em euros)

Montante executado

Linha de

crédito Instituições Capital inicial Capital Juros Despesas Total

II Instituição 1 57 668 55 918 3 003 0 58 921

II Instituição 2 100 000 93 913 7 443 0 101 356

Total executado em 2015 157 668 149 831 10 447 0 160 278

I Instituição 3 100 000 100 000 1 179 168 101 347

I Instituição 4 500 000 494 751 6 786 624 502 161

Total executado em 2016 600 000 594 751 7 965 792 603 508

Total executado até 2016 757 668 744 582 18 412 792 763 786

Fonte: IGFSS.

1 Linha de crédito I (empréstimos até € 500.000,00, por instituição), 156 instituições no total de € 49.988.550,00; Linha de

Crédito II (empréstimos até € 100.000,00, por instituição), 140 instituições no total de € 12.424.637,00.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 295

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

270

No final de 2016, o total de garantias executado foi de cerca de € 764 m. Para além do valor do capital mutuado, esta execução tem incluído também o valor dos juros e de outras despesas. Com efeito, a

“Declaração”1 emitida pelo IGFSS, aquando da celebração dos acordos iniciais com a CEMG, autoriza esta Caixa a constituir penhor sobre os depósitos a prazo para garantia dos contratos a celebrar e ainda

para garantia de todas e quaisquer despesas, incluindo juros remuneratórios e moratórios, vencidos e

vincendos, decorrentes dos contratos.

Tendo em conta, por um lado, que os depósitos titulados pelo IGFSS junto da CEMG constituem a

primeira linha de garantia dos contratos de empréstimo celebrados no âmbito das linhas de crédito e,

por outro, que o IGFSS pretende ver-se ressarcido pelas instituições beneficiárias dos empréstimos do

custo total do incumprimento das obrigações contratuais assumidas por estas no âmbito dos contratos

de empréstimo, foram celebrados entre o mencionado instituto e cada uma daquelas instituições acordos

de garantia de pagamento. Estes acordos instituem, assim, formas de o IGFSS se ressarcir dos montantes

executados pela CEMG na sequência do incumprimento por parte das referidas instituições.

No caso das instituições indicadas no Quadro C.16, os acordos de garantia, celebrados nos anos de 2012

e 2013, continham uma cláusula de aceitação, pelas instituições que haviam contratado empréstimos ao

abrigo das linhas de crédito, de que, em caso de incumprimento dos contratos de empréstimo perante a

CEMG, o valor em dívida pudesse ser objeto de compensação com verbas devidas pelo ISS em função

dos acordos de cooperação em vigor. Constitui exceção o acordo de garantia celebrado entre o IGFSS e

a instituição 3, que institui, para garantia de eventuais futuros incumprimentos, uma hipoteca sobre um

prédio urbano.

Contudo, apenas para uma das instituições foi adotada a modalidade de ressarcimento prevista no acordo

de garantia2. Para as restantes foram tomadas outras opções: para duas foram antes celebrados acordos

prestacionais3, encontrando-se uma em mora4, e para outra o processo encontra-se no Ministério Público

com vista à recuperação do crédito5.

Os Protocolos que criaram ambas as Linhas de crédito previam no seu clausulado que as candidaturas

das instituições seguiriam, até à respetiva aprovação pelo Conselho Executivo, um determinado

procedimento, no qual se destaca a emissão de parecer pela entidade representante da instituição, parecer

esse que, quando desfavorável, seria vinculativo na Linha I. Nos casos referenciados no Quadro C.16,

as avaliações efetuadas denotam a ausência de fidedignidade da informação financeira apresentada pela

Instituição 3 e pela Instituição 4, tendo ambas as candidaturas sido, não obstante, aprovadas6. Já no

1 Linha de Crédito I, declaração emitida em 02/11/2012 e Linha de crédito II, declaração emitida em 26/12/2012. 2 Instituição 4. De acordo com informação prestada pelo IGFSS, a Instituição assinou um acordo com plano de 137

prestações mensais fixas. O valor de cada uma destas prestações não é objeto de pagamento pela instituição devedora ao

IGFSS, mas sim deduzido ao valor que aquela receberia por força de acordos de cooperação que mantém com o ISS (em

setembro de 2017 consideravam-se ‘pagas’ 7 prestações, sendo a última de agosto do mesmo ano). 3 De acordo com informação prestada pelo IGFSS, para a instituição 2 a execução da garantia por dedução nos acordos de

cooperação foi substituída por um Plano Especial de Revitalização (em setembro de 2017 tinha liquidado 28 prestações,

sendo a última de agosto do mesmo ano) e para a instituição 3, a execução da hipoteca do imóvel foi substituída por um

plano prestacional. De acordo ainda com a informação prestada pelo Instituto, em setembro de 2017 esta Instituição tinha

liquidado 6 prestações e desde abril do mesmo ano que não efetua pagamentos, tendo o processo transitado para a Direção

Jurídica e Contencioso de modo a acionar a garantia. 4 Instituição 3. 5 Instituição 1. 6 Relativamente à instituição 3, o respetivo relatório de avaliação conclui da seguinte forma: “Pelo exposto, e tendo em

consideração todos os comentários no presente relatório, apesar dos resultados previsionais apresentados, o cash-flow

acumulado previsional, o saldo acumulado de tesouraria e indicadores, consideramos que não é possível emitir um

parecer fidedigno da situação económica e financeira da entidade em questão, dada a extensão das inconsistências

22 DE DEZEMBRO DE 2017 296

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Tribunal de Contas

271

âmbito da Linha de Crédito II, de acordo com informação remetida pela Presidente da Comissão

Executiva, a Instituição 1 recebeu parecer “plenamente favorável”, enquanto a Instituição 2 mereceu parecer “favorável, com acompanhamento”, tendo ambas as candidaturas sido aprovadas.

Em sede de contraditório, o Presidente da CNIS alega relativamente às Instituições 3 e 4 que “(…) nas duas situações referidas na proposta de relatório desse Tribunal (…), como denotando «falta de fidedignidade da informação financeira», não se verifica, formalmente, parecer desfavorável da CNIS – no sentido de o parecer

ser o ato final do procedimento interno (…)”. Alega ainda que “Não se verificou, pois, qualquer situação de parecer desfavorável; e, se o houvera, não caberia à CNIS verificar a sequência da satisfação do seu parecer na

Comissão Executiva”.

Atendendo ao exato teor dos pareceres produzidos, transcritos infra na parte pertinente, regista-se que o

primeiro se pronuncia pela impossibilidade de emissão de um parecer por parte da entidade que procedeu

à análise das demonstrações financeiras, dadas as inconsistências detetadas nas demonstrações

financeiras apresentadas pela entidade. Ora, a referida impossibilidade de emitir opinião determinada

pelo facto descrito não pode incluir-se no âmbito das opiniões favoráveis, antes se incluindo no âmbito

das opiniões desfavoráveis1. No segundo caso, é expressamente assumido pelo auditor que a entidade

não reúne as condições mínimas de viabilidade económica e financeira para o efeito pretendido, sendo,

portanto, claro que a opinião foi desfavorável. Pelas razões expostas, mantém-se o observado.

Regista-se ainda que os Protocolos têm vindo a ser objeto de alterações por via de aditamentos ou

Declarações, subscritos, pela parte da Segurança Social, pelo Presidente do IGFSS e não pelo membro

do Governo responsável pela área, diferentemente do que aconteceu com os Protocolos. Assim, ainda

em 2012, foram celebrados acordos entre o IGFSS e a CEMG permitindo a esta debitar dos depósitos

bancários constituídos para garantia dos empréstimos concedidos os montantes referentes a mora ou

incumprimento, sem especificar se tais débitos se reportavam exclusivamente a capital em dívida ou se

igualmente cobriam juros e outras eventuais despesas. Contudo, uma vez que os Protocolos fizeram

corresponder os montantes dos depósitos dados em garantia ao montante máximo do capital a

disponibilizar através dos empréstimos, resultava da conjugação destes documentos que a garantia

cobria apenas o capital, deixando de fora juros e despesas. Ainda em 2012, o IGFSS emitiu uma

Declaração nos termos da qual expressamente mandatou e autorizou a CEMG, para garantia dos

contratos a celebrar ao abrigo do Protocolo de Cooperação, e também, para garantia de todas e quaisquer

despesas, incluindo juros remuneratórios e moratórios, vencidos ou vincendos, decorrentes dos contratos

de mútuo. Estas Declarações, uma para cada linha de crédito, implicaram, pois, a assunção pela

Segurança Social do risco de não pagamento de juros de qualquer natureza, bem como de despesas, que

não havia sido expressamente assumido aquando da celebração dos Protocolos iniciais.

Acresce que quer nos 1.ºs, quer nos 2.ºs aditamentos aos Protocolos, celebrados em 16 de outubro de

2014 e em 16 de junho de 2016, contêm outras alterações às condições contratualizadas nos Protocolos.

Em primeiro lugar, o período de vigência dos empréstimos e, consequentemente, o período de

verificadas, uma vez que todos os rácios e indicadores eram afetados”. No caso da instituição 4, o relatório de avaliação refere que “(…) a entidade não reúne condições mínimas de viabilidade económica e financeira para suportar o financiamento de 500 mil euros referente à linha de crédito”. Ainda assim, a Comissão aprova a candidatura “condicionada ao cumprimento de um plano de viabilização económico-financeiro que venha a ser aprovado por esta Comissão”. Verifica-se, pois, que a aprovação de tal plano e a verificação do seu cumprimento não poderia condicionar a aprovação da candidatura, uma vez que terá sido posterior a esta aprovação. De resto, após a aprovação da candidatura,

é remetido, em 15/11/2012, pelos serviços da Segurança Social à CNIS, um e-mail no qual se dá conta da aprovação da

candidatura, bem como da condicionante atrás referida, pedindo-se a emissão pela Confederação de relatório de avaliação

sobre o plano de viabilização, o que não se encontra previsto no Protocolo que instituiu a Linha de Crédito I. 1 Tal inclusão no âmbito das opiniões desfavoráveis resulta clara da leitura dos pontos 16 a 19 da ISA 700 e 7 a 10 da ISA

705, ambas dirigidas aos auditores de demonstrações financeiras e que versam a tipologia e conteúdos das opiniões a

emitir sobre as mesmas.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

272

imobilização dos depósitos constituídos para garantia dos mesmos, inicialmente fixado em 84 meses,

foi substancialmente alargado, primeiro para 126 meses e o segundo para 186 meses, como ficou já

suprarreferido. Em segundo lugar, apesar de os Acordos celebrados em 2012 na sequência dos

Protocolos iniciais não preverem a possibilidade de alteração da taxa de remuneração dos depósitos

dados em garantia, inicialmente correspondente “à taxa EURIBOR a 3 (três) meses acrescida de um spread correspondente ao valor máximo a considerar na determinação da taxa de referência relevante que, na data de

assinatura do presente Acordo, é de 3%”, foi alterada, passando a taxa de referência relevante a 2%. Também nesta sede se verifica que as alterações introduzidas no negócio se consubstanciaram em

condições menos vantajosas para a Segurança Social.

Importa ainda, por último, referir que a nota 16 do anexo às demonstrações financeiras consolidadas

refere que o montante de garantias prestadas relativas às linhas de crédito I e II, é, em 31/12/2016, de

€ 48.996.088,63. No entanto, verifica-se que, de acordo com a informação prestada pelo Banco, com reporte à data de 16/12/2016, o valor necessário para cobrir a garantia era de apenas € 42.290.696,48. Assim, conclui-se que o valor divulgado respeita ao saldo da conta 4151- Investimentos financeiros-

Depósitos em instituições financeiras que, para além de incluir os montantes não mobilizáveis, por via do

penhor constituído, inclui também valores que, apesar de já se encontrarem libertos, continuam

aplicados na instituição financeira. Ora, o valor mobilizável não constitui já garantia dos empréstimos

concedidos, pelo que não deve ser englobado no valor a divulgar na referida nota.

12.2.3.1.1.2. Bens móveis

Com vista a verificar se a informação incluída no inventário de cada um dos institutos utilizadores do

SIF permite efetuar um controlo dos bens móveis ao nível da sua localização, foi efetuada uma consulta

ao módulo AA (inventário) e selecionada uma amostra de 153.8341 bens classificados como

equipamento básico e administrativo2.

O quadro seguinte espelha o total dos bens selecionados do IGFSS, do ISS, do II, do ISSA e do ISSM

por tipo, número e localização, conforme informação residente no SIF.

1 Para o apuramento do número de bens utilizou-se o campo “Quantidade”, sendo que quando este estava em branco ou

estava preenchido com zero, considerou-se um único bem. 2 O equipamento básico e administrativo representa 96,4% do valor relevado no ativo bruto do balanço respeitante aos

bens móveis inventariados. A seleção da amostra foi efetuada por tipo de bem. Os números evidenciados nos quadros

respeitam ao universo do tipo de bem selecionado existentes em cada um dos institutos e extraídos através dos relatórios

“Gestão de Imobilizado” para o exercício de 2016. Esta análise não foi acompanhada de qualquer verificação física.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 298

Página 299

Tribunal de Contas

273

Quadro C. 17 – Localização dos bens no módulo AA – Por tipo de bem

(em número; em %)

Tipo de bem N.º

Localização

Com morada/com

sala

Com morada/sem

sala

Sem morada/sem

sala

Sem morada/com

sala

N.º % N.º % N.º % N.º %

Impressoras/Fotocopiadoras/Fax/Scanner 10 109 2 703 26,7 2 909 28,8 4 362 43,1 135 1,3

Computadores/Portáteis 27 662 7 815 28,3 13 494 48,8 6 316 22,8 37 0,1

Discos/USB/Pen 1 094 161 14,7 68 6,2 865 79,1 0 0,0

Monitores/Ecrãs 19 483 6 258 32,1 10 597 54,4 2 592 13,3 36 0,2

Máquina destruidoras de papel 318 141 44,3 28 8,8 145 45,6 4 1,3

Máquinas de calcular 2 361 578 24,5 41 1,7 1 742 73,8 0 0,0

Mesas/Secretárias 18 395 6 972 37,9 645 3,5 10 637 57,8 141 0,8

Cadeiras/Sofás/Maples 32 164 13 198 41,0 1 771 5,5 16 544 51,4 651 2,0

Blocos/Módulos 6 743 2 598 38,5 313 4,6 3 760 55,8 72 1,1

Armários/Estantes 16 596 6 850 41,3 733 4,4 8 976 54,1 37 0,2

Teclados/Ratos 902 685 75,9 57 6,3 160 17,7 0 0,0

IPad/Workpad/Notebook/Netbook/PIN Pad 137 33 24,1 12 8,8 91 66,4 1 0,7

Vídeos/Projetores/Retroprojetores/Câmaras/Colunas 599 177 29,5 75 12,5 334 55,8 13 2,2

Telefones/Telemóveis 16 275 1 668 10,2 11 786 72,4 2 670 16,4 151 0,9

Máquinas Fotográficas 131 52 39,7 14 10,7 63 48,1 2 1,5

Televisores/Gravadores 573 183 31,9 105 18,3 277 48,3 8 1,4

Headphones/Auriculares 292 16 5,5 184 63,0 90 30,8 2 0,7

Total 153 834 50 088 32,6 42 832 27,8 59 624 38,8 1 290 0,8

Fonte: Módulo AA do SIF.

Dos vários bens móveis incluídos no Quadro C.17, o maior número respeita às cadeiras/sofás/maples

que representam 20,9% do total dos equipamentos, seguido dos computadores/portáteis. Relativamente

a estes últimos continua-se a verificar um rácio de 2,7 computadores por colaborador. Ainda que

algumas destas máquinas sejam utilizadas por colaboradores que prestam funções no regime de

prestação de serviços e, por isso, não constem do universo divulgado na nota 3 do ADFOC (10.247),

afigura-se excessivo o rácio obtido. Grande parte dos bens não tem qualquer informação sobre a sua

localização (38,8%), desconhecendo-se desta forma qual o serviço e sala a que estão afetos. Os bens que

lideram esta não referência à localização são os discos/USB/Pen, as máquinas de calcular e os

Ipad/Workpad/Notebook/Pinpad (mais de 66%). Tal facto prejudica o controlo da sua existência e/ou

afetação aos fins que se encontravam destinados.

Ao nível dos organismos1, o ISS é o que possui o maior número de bens (45,6%), seguido do II com

40,3%. No ISS os bens móveis mais significativos são as cadeiras/sofás/maples (34,0%), as

mesas/secretárias (20,1%) e os armários/estantes (18,1%), e no II os computadores\portáteis (37,8%),

os monitores\ecrãs (27,9%) e os telefones com 20,9% (Quadro C.18).

1 Salienta-se que o ISS e o II são os institutos responsáveis pelo maior número de bens afetos a serviços da segurança social

a nível nacional.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 299

Página 300

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

274

Quadro C. 18 – Localização dos bens no módulo AA – Por Instituto

(em número; em %)

Instituição N.º

Localização

Com morada /

com sala

Com morada /

sem sala

Sem morada /

sem sala

Sem morada /

com sala

N.º % N.º % N.º % N.º %

IGFSS 5 898 5 897 100,0 1 0,0 0 0,0 0 0,0

ISS 70 115 18 644 26,6 1 100 1,6 49 461 70,5 910 1,3

II 61 957 17 321 28,0 37 563 60,6 6 765 10,9 308 0,5

ISSA 7 628 138 1,8 4 168 54,6 3 322 43,6 0 0,0

ISSM 8 236 8 088 98,2 0 0,0 76 0,9 72 0,9

Total 153 834 50 088 32,6 42 832 27,8 59 624 38,8 1 290 0,8

Fonte: Módulo AA do SIF.

O ISS é o Instituto que possui o maior número de bens sem qualquer informação sobre a localização

(70,5%), seguido do ISSA (43,6%). O IGFSS o que apresenta o maior número de bens com identificação

completa (100%)1, seguido do ISSM com 98,2%. Comparando com a situação do ano de 2015, verifica-

se uma melhoria dos indicadores em todos os institutos, relativamente à identificação completa, com

exceção do ISSM que passou de 99,4% em 2015 para 98,2% em 2016.

Considerando apenas os bens adquiridos em 20162, observa-se que para 80,0% dos bens, os campos de

localização e sala já se encontram preenchidos. Comparando com idêntica informação do ano de 2015,

em termos globais, regista-se uma evolução positiva, ainda que ténue, de 0,5 p.p.. No entanto, ao nível

individualizado dos institutos constata-se que houve uma melhoria no IGFSS, no ISS e no ISSM, mas

um retrocesso acentuado no II (de 54,8% em 2015 passou para 5,3% em 2016) e no ISSA (de 77,8% em

2015 passou para 19,4% em 2016). Ainda assim, ambos os institutos apresentam 100% dos bens com

registo de localização, embora a maioria não disponha de registo de sala.

Quadro C. 19 – Bens adquiridos em 2016 – Por Instituto

(em número; em %)

Instituição N.º

Localização

Com morada/com

sala

Com morada/sem

sala

Sem morada/sem

sala

Sem morada/com

sala

N.º % N.º % N.º % N.º %

IGFSS 2 004 2 004 100 0 0,0 0 0,0 0 0,0

ISS 1 124 1 061 94,4 54 4,8 9 0,8 0 0,0

II 620 33 5,3 587 94,7 0 0,0 0 0,0

ISSA 288 56 19,4 232 80,6 0 0,0 0 0,0

ISSM 380 380 100 0 0,0 0 0,0 0 0,0

Total 4 416 3 534 80,0 873 19,8 9 0,2 0 0,0

Fonte: Módulo AA do SIF.

O Tribunal tem vindo recorrentemente a formular recomendações na área do imobilizado, no sentido de

que sejam implementados procedimentos que garantam o cumprimento das regras estabelecidas no

CIBE e no POCISSSS e, ainda, o controlo dos bens móveis3. Em sede de acompanhamento dessas

1 A confirmar o acolhimento das recomendações formuladas pelo TdC. Em 2015, este Instituto apresentava cerca de 14%

dos bens sem qualquer identificação. 2 Foram consideradas todas as aquisições independentemente do tipo de bem. 3 Recomendações: 69-PCGE/2015, 68-PCGE/2014, 67-PCGE/2013, 61-PCGE/2012, 67-PCGE/2011, todos disponíveis

em www.tcontas.pt.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 300

Página 301

Tribunal de Contas

275

recomendações, a SESS informou que no IGFSS “(…) o processo de inventário de bens móveis e

regularização do mesmo em SIF está concluído”, encontrando-se em curso a “(…) afixação de fichas de inventário dos bens nos diversos espaços onde funcionam os seus serviços e a verificação anual por amostragem

(…)”, no ISS está a ser “(…) centralmente monitorizado oprocesso de inventariação dos Centros Distritais através de relatórios extraídos do SIF” e no II foi inscrita uma verba no orçamento para contratar “(…) serviços de consultoria no âmbito da gestão do património”1 e foram inscritas no plano de atividades de 2017 duas iniciativas visando “(…) a monitorização da localização dos bens adquiridos entre 2013 a 2016” e “(…) a preparação de uma Orientação Técnica, com definição de regras relativas à movimentação dos bens

patrimoniais”.

Ainda no âmbito da análise dos inventários, verificou-se que, para 545 bens em que o período de vida

útil atribuído já decorreu2, não foi efetuada qualquer amortização (26), ou esta iniciou-se mas foi

interrompida ou, apesar de concluída, foi acrescido novo valor ao bem respetivo (519). Estas situações

têm várias causas e estão relacionadas com os dados introduzidos pelo utilizador no sistema informático

para cada um dos bens. Assim, detetaram-se as seguintes situações:

 Não foi introduzido qualquer período de vida útil, pelo que o sistema informático não procede a qualquer cálculo de valor de amortização;

 Não obstante ter sido introduzido o período de vida útil, a opção selecionada como “chave de depreciação” corresponde a “sem depreciação e sem juros”, o que significa que embora se atribua período de vida útil o sistema nunca vai calcular qualquer valor de amortização;

 O bem foi inventariado em data posterior quer à data de início da sua vida útil quer à data de termo da sua vida útil, pelo que o sistema já não procede ao cálculo de amortizações;

 O bem com determinado número de imobilizado, não completamente amortizado, foi transferido para outro número de imobilizado3 procedendo-se à correção da sua vida útil. Nestes casos,

sempre que a correção vise o encurtamento do período de vida útil e este já tenha decorrido à

data do lançamento no sistema informático, o sistema já não procede ao cálculo de amortizações;

 O período de vida útil já decorreu e o bem já está totalmente amortizado. No entanto, após essa data, foi incorporado novo valor na mesma ficha do imobilizado, sem que tenha sido atribuído

novo período de vida útil. Neste caso, a aplicação também não procede a qualquer cálculo de

amortização.

Os quadros seguintes identificam, por instituto, a quantidade e o valor dos bens que se encontram nestas

situações:

1 “No sentido de efetuar o inventário do património imobilizado móvel, com especial relevância e enfoque no parque

informático disperso a nível nacional, assegurando um adequado controlo interno do mesmo”. 2 A análise teve em conta apenas o período de vida útil indicado no sistema informático, não sendo incluído neste âmbito

qualquer apreciação sobre a adequabilidade do período de vida útil atribuído a cada bem. 3 Estas situações podem ocorrer dentro da mesma entidade contabilística ou em transferência para entidade contabilística

diferente.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 301

Página 302

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

276

Quadro C. 20 – Bens não amortizados – Por Instituto

(em número; em euros)

Entidade Conta N.º de

bens

Valor de

aquisição

Depreciação

acumulada

Valor líquido

do bem em

31/12/2016

IGFSS Conta 423 8 3 333,94 0,00 3 333,94

IGFSS Conta 426 4 3 086,52 0,00 3 086,52

Subtotal 12 6 420,46 0,00 6 420,46

ISS Conta 423 13 15 543,10 0,00 15 543,10

Subtotal 13 15 543,10 0,00 15 543,10

ISSA Conta 423 1 116,72 0,00 116,72

Subtotal 1 116,72 0,00 116,72

Total 26 22 080,28 0,00 22 080,28

Fonte: Módulo AA do SIF.

Quadro C. 21 – Bens que não foram totalmente amortizados - Por Instituto

(em número; em euros)

Entidade Conta N.º de

bens

Valor de

aquisição

Depreciação

acumulada

Valor líquido

do bem em

31/12/2016

IGFSS Conta 423 4 210 444,95 -142 835,95 67 609,00

IGFSS Conta 426 11 933,23 -218,34 714,89

Subtotal 15 211 378,18 -143 054,29 68 323,89

ISS Conta 423 477 428 289,21 -347 844,68 80 444,53

ISS Conta 426 11 5 680,47 -4 193,77 1 486,70

Subtotal 488 433 969,68 -352 038,45 81 931,23

ISSA Conta 423 12 2 087,64 -753,90 1 333,74

Subtotal 12 2 087,64 -753,90 1 333,74

ISSM Conta 423 4 3 314,57 -698,32 2 616,25

Subtotal 4 3 314,57 -698,32 2 616,25

Total 519 650 750,07 -496 544,96 154 205,11

Fonte: Módulo AA do SIF.

Foram detetadas algumas das situações suprarreferidas em todos os institutos, com exceção do II. O ISS

é o que apresenta o maior volume quer em quantidade (91,9%) quer em valor ainda não amortizado

(55,3%). O valor de aquisição dos 545 bens cujo período de vida útil já decorreu e não estão totalmente

amortizados é de € 673 m e o valor ainda não amortizado é de € 176 m (26,2%). Embora o valor não amortizado não seja materialmente relevante, quando comparado com a totalidade das amortizações de

todo o imobilizado corpóreo, importa alertar os utilizadores para a necessidade de assegurar uma correta

introdução de dados e de implementar mecanismos de monitorização dos inventários com vista a

ultrapassar e a corrigir estas situações.

12.2.3.1.1.3. Bens imóveis

Na sequência das ações que têm vindo a ser realizadas nos anos anteriores, foram efetuadas verificações

documentais com vista a aferir da fiabilidade dos valores relevados no balanço relativos a imóveis

detidos pela segurança social. Estas verificações incidiram sobre os imóveis que já tinham sido objeto

de análise no âmbito do PCGE/2015, relevados no ativo do balanço em 31/12/2015, cuja propriedade

não pertencia às instituições que os relevavam nas demonstrações financeiras ou relativamente aos quais

foi detetada a ausência ou insuficiência de informação de suporte ao valor dos registos contabilísticos e

ainda sobre os que apresentavam irregularidades relacionadas com cálculo de amortizações ou estavam

22 DE DEZEMBRO DE 2017 302

Página 303

Tribunal de Contas

277

indevidamente relevados no balanço em 31/12/2015. A análise incidiu ainda sobre uma nova amostra

de imóveis correspondente a 31 números de imobilizado relevados no ativo do balanço em 31/12/2016.

Para efeitos de verificação documental da nova amostra de imóveis foi solicitado aos institutos (IGFSS,

ISS, ISSA e ISSM) o envio da documentação comprovativa da sua titularidade e de suporte ao registo

contabilístico, correspondente ao valor do ativo bruto de cada imóvel relevado no balanço.

Relativamente aos imóveis objeto de análise no PCGE/2015 foi solicitada informação atualizada. Da

análise à documentação remetida e da consulta ao SIF resultam as observações seguidamente

enunciadas.

IGFSS

Dos 26 números de imobilizados selecionados verificou-se o seguinte:

 Para 23 números de imobilizado, os imóveis foram adquiridos por dação em pagamento entre 1998 e 2007. Apenas para 7 foram remetidos os relatórios de avaliação, informando o IGFSS

que os processos físicos não dispunham desta documentação;

 A falta de relatórios de avaliação não permite confirmar a correção do valor atribuído e registado contabilisticamente referente a imóveis provenientes de dação nem conhecer a respetiva

fundamentação1. Em alguns casos em que as dações contemplam uma pluralidade de imóveis,

não é possível verificar o valor atribuído a cada imóvel, mas tão só o valor global da dação, facto

que não permite confirmar o valor do registo contabilístico de forma individual2. O total do valor

relevado nas demonstrações financeiras (ativo bruto) dos imóveis provenientes de dação foi de

€ 4,5 M e apenas para 29,9% é possível validar o valor através daqueles relatórios;

 Para os três restantes números de imobilizado, os imóveis integraram o património do IGFSS em 2006, por via de transferência do ISS ao abrigo do DL 112/2004, de 13/05. O total do valor

relevado nas demonstrações financeiras destes imóveis (ativo bruto) foi de € 400 m e apenas foi possível confirmar € 56 m, 14,0%, relativos a obras realizadas nos imóveis em 2013, uma vez que o IGFSS não dispõe de documento de suporte ao registo contabilístico inicial;

 O cálculo das amortizações está incorreto para todos os imóveis analisados. Com efeito, para 13 dos imóveis o valor das amortizações está subvalorizado, uma vez que desde 2002 que não é

registado qualquer valor desta natureza3, o que incumpre o disposto nos arts. 21.º e 22.º do CIBE.

Acresce que, de acordo com um relatório de avaliação emitido em junho de 2001, três dos

imóveis encontravam-se em estado de ruína e 4 estavam em muito mau estado de conservação,

factos que desde essa data não foram tidos em conta quer no recálculo das amortizações quer no

abate dos edifícios.

Por outro lado, para os outros 13 imóveis com edificações, o valor das amortizações até

31/12/2016 está sobrevalorizado, uma vez que as mesmas incidiram sobre o valor total do

imóvel, procedimento não conforme com o art. 36.º do CIBE, que determina que o valor do

1 O valor encontra-se referenciado em alguns documentos, como despachos autorizadores das dações ou autos de dação ou

escrituras públicas de dação. Mas tal referenciação apenas permite o cruzamento do valor inserido nestes documentos

com o valor contabilístico relevado, e não a aferição da correção deste último. 2 O Auto de dação celebrado em 14/12/1999 inclui um conjunto de 10 imóveis avaliados por um valor global de

€ 2.493.989,49 (500.000.000$00). Não existe documentação comprovativa do valor atribuído a cada imóvel. 3 Nestes casos, a chave de depreciação que consta das fichas de mobilizado (sem depreciação e sem juros) não permite

qualquer cálculo de valor de amortização.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 303

Página 304

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

278

terreno não está sujeito a amortização. Acresce que, para pelo menos 6 dos imóveis adquiridos

por dação, o valor das amortizações ainda incorpora outro tipo de sobrevalorização, devido ao

período de vida útil atribuído, inferior ao estabelecido no art. 22.º do CIBE em função da

estrutura e materiais utilizados nas edificações, não obstante a não consideração do estado de uso

aquando da sua aquisição1. Também para os 3 imóveis transferidos do ISS para o IGFSS em

2006 não foi deduzido o período de vida útil decorrido entre a data da integração do imóvel no

ISS e a sua transferência para o IGFSS, nem atribuído o valor patrimonial constante dos registos

contabilísticos da entidade de origem, uma vez que o IGFSS reiniciou o período de vida útil em

2006 por mais 80 anos e o cálculo incide sobre o valor bruto do imóvel e não sobre o valor

patrimonial transferido pelo ISS, o que incumpre o disposto no ponto 4.1.6 do POCISSSS

(critérios de valorimetria – Imobilizações), conjugado com as notas explicativas da conta 577 – Reservas decorrentes por transferência de ativos do mesmo preceito legal2.

Todos estes factos têm impactos nas amortizações do exercício e acumuladas e

consequentemente nos resultados líquido e transitados. Estima-se que, em 31/12/2016, o valor

da subvalorização era de € 691 m e da sobrevalorização de € 132 m, relativamente aos imóveis analisados. De salientar que já no Parecer sobre a CGE de 2012, o Tribunal tinha identificado

um conjunto de imóveis em que as edificações não estavam a ser objeto das devidas amortizações

e um outro em que o cálculo do valor das amortizações estava a incidir sobre a parcela

correspondente ao valor do terreno, nos quais estavam incluídos os imóveis agora objeto de

análise.

No Parecer sobre a CGE de 2015, relativamente aos imóveis que se encontravam relevados no ativo do

balanço em 31/12/2015, foi referida a existência de imóveis que:

 Já tinham sido alienados e um já estava demolido;

 Estavam registados em duplicado;

 Não tinham a titularidade regularizada a favor do IGFSS;

 Foram obtidos por via de dações em cumprimento e não dispunham de relatórios de avaliação ou de outra documentação relevante;

 Haviam sido integrados no património do IGFSS, quer por via de extinção de organismos quer por via de transferências do ISS, para os quais não foi possível validar o valor do ativo bruto

relevado no balanço por ausência de documentação comprovativa.

Foi ainda referido naquele Parecer que existiam valores registados como terrenos que não

correspondiam parcial ou totalmente ao valor dos terrenos, uma vez que foram criados através de valores

transferidos de imobilizado em curso.

1 Os 6 imóveis foram adquiridos por escritura de dação celebrada em 28/12/2007. Nos relatórios de avaliação que

sustentam os valores atribuídos aos imóveis é referida a estrutura de construção do imóvel e a sua antiguidade. Para todos

os imóveis foram atribuídos 50 anos de vida útil, com início em dezembro de 2007. Ora, à data da celebração da escritura,

já estava em vigor o CIBE, aprovado pela Portaria 671/2000 (2.º Série), de 17/04. Este normativo atribui para o tipo de

construção em causa 80 anos de vida útil e estabelece que “Para determinação do período de vida útil esperada das edificações adquiridas em estado de uso, há que deduzir ao período de vida útil fixado como regra o número de anos

entretanto já decorridos” o que, no caso vertente, não ocorreu. 2 Os imóveis foram integrados no ISS em 2002 e em 2006 e transferidos para o IGFSS. Este último Instituto voltou a iniciar

o período de vida útil em 2006 sobre o valor bruto de cada um dos imóveis (€ 114.800,00) e não sobre o valor patrimonial correspondente à transferência (€ 109.060,00).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 304

Página 305

Tribunal de Contas

279

Da análise à documentação remetida pelo IGFSS no âmbito do Parecer sobre a CGE de 2016 e consulta

ao sistema informático verifica-se que:

 Os imóveis que já tinham sido alienados e o registado em duplicado1 foram objeto de abate durante o ano de 2016, encontrando-se a situação contabilística regularizada em 31/12/2016;

 O imóvel que já se encontrava totalmente demolido continua indevidamente relevado nas demonstrações financeiras em 31/12/2016;

 Continuam indevidamente registados como terrenos valores que deviam estar a ser objeto de amortização, uma vez que têm origem em valores de benfeitorias realizadas inicialmente

contabilizadas em imobilizado em curso (€ 72 m)2. Este facto subvaloriza o valor das amortizações do exercício (€ 3,5 m) e acumuladas (€ 21,4 m) e sobrevaloriza o valor líquido dos investimentos em imóveis, com o consequente impacto nos custos do exercício e nos resultados

líquido e transitados;

 Foram remetidos dois relatórios de avaliação para os imóveis adquiridos por dação. Ainda assim continuam a existir 8 números de imobilizado para os quais não foi possível validar o valor

relevado nas demonstrações financeiras através daqueles relatórios. Deste modo, do valor total

relevado nas demonstrações financeiras relativamente aos 12 números de imobilizado (€ 18 M) apenas é possível validar 58,1%3 daquele valor. Foi ainda remetido o despacho autorizador da

respetiva dação apenas para um dos dois imóveis que não dispunham daquele documento4;

 No que respeita aos números de imobilizado de imóveis integrados no património do IGFSS, quer por via de extinção de organismos, como as Caixas de Previdência, quer por via de

transferência do ISS, não foi remetida qualquer informação adicional5, pelo que, de um total de

valores relevados no ativo bruto do balanço de € 3,4 M, apenas foi possível confirmar 0,8 M (23,6%)6;

Em sede de contraditório, o IGFSS alega, no que respeita aos bens provenientes das anteriores

Caixas de Previdência ou de transferências do ISS, que, para efeitos da sua valorização e nos

termos do disposto no art. 39.º do CIBE “(…) irá, numa primeira fase, diligenciar no sentido de realizar uma avaliação técnica aos imóveis (…) com o objetivo de determinar o seu estado atual de

conservação e período de vida útil futuro”.

Concorda-se com a metodologia adotada para a primeira fase do processo. Porém, tendo em

conta a entrada em vigor do novo sistema contabilístico SNC-AP, alerta-se para a metodologia

recomendada pelo Manual de Implementação do SNC-AP, capitulo 2 – Aplicação pela primeira

1 Cfr. Parecer sobre a CGE/2015, págs. 278 e 279, disponível em www.tcontas.pt. 2 Para 3 imóveis foram criados 3 números de imobilizado correspondente a parcela de terreno. Para outro imóvel, a parcela

de terreno incorpora uma parte proveniente de transferência de imobilizado em curso. Cfr. Parecer sobre a CGE/2015,

pág. 279, disponível em www.tcontas.pt. 3 Cfr. Parecer sobre a CGE/2015, pág. 278, disponível em www.tcontas.pt. 4 Dação no valor de € 1,3 M; o processo não dispõe de relatório de avaliação nem de despacho autorizador da respetiva

dação. 5 Quanto aos imóveis transferidos do ISS, o IGFSS informou que, face às recomendações do Tribunal, atualmente é

requerida ao ISS a remessa de informação de suporte ao registo contabilístico, bem como de indicação de situações

extraordinárias que podem ter impacto no cálculo das amortizações. 6 Cfr. Parecer sobre a CGE/2015, págs. 278 e 279, disponível em www.tcontas.pt. Dois dos imóveis incluídos na amostra

relativa ao Parecer sobre a CGE/2015 foram abatidos no exercício de 2016: um por motivo de registo em duplicado e

outro porque foi transferido para o IHRU ao abrigo da LOE para 2016.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 305

Página 306

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

280

vez do SNC-AP, ponto 1.3.13, que aponta no sentido de que os prédios rústicos ou urbanos

devem ficar mensurados pelo seu Valor Patrimonial e Tributário, no momento da transição.

 Para os 11 números de imobilizado que não dispunham da titularidade parcial ou totalmente regularizada a favor do IGFSS, foi comprovada essa titularidade. No entanto, permanecem

registados no ativo do balanço 15 números de imobilizado que continuam a não dispor de

caderneta predial e/ou de certidão da conservatória de registo predial com registo de titularidade

a favor do IGFSS1.

ISS

O imóvel selecionado respeita à sede do Centro Distrital de Braga. Os registos contabilísticos

apresentam um valor para o terreno (€ 2 M) e um valor para o edifício (€ 6,2 M). O valor do terreno corresponde a 25% do valor que se encontrava registado em 2008 (€ 7,8 M). Porém, de acordo com a informação prestada pelo ISS, este edifício foi construído de raiz e implantado em terreno doado pela

Câmara Municipal de Braga. Assim, a segregação do valor do terreno efetuada no exercício de 2008 não

se encontra correta, uma vez que o valor registado em 2008 haveria de corresponder ao valor da

construção do edifício2. Deste modo, o valor das amortizações do exercício e acumuladas estão

subvalorizadas e, consequentemente, o valor líquido do edifício3. Por outro lado, não foi disponibilizada

toda a informação de suporte ao registo contabilístico4; de um total de € 8,2 M, apenas foi possível confirmar 4,6% deste valor5.

O imóvel, apesar de ter data de início de utilização de 1990 (início de contagem de vida útil para efeitos

de cálculo de amortizações), ainda não têm a titularidade registada a favor do ISS, alegadamente por

dificuldades de regularização.

A Direção-Geral do Tesouro e Finanças, em sede de contraditório, informou, relativamente ao edifício

do Centro Distrital de Braga, que, “(…) esta questão foi objeto de análise não tendo, ainda, sido possível aferir da titularidade do terreno em causa, desconhecendo as diligências que têm sido desenvolvidas pelo ISS, IP, e pelo

Município de Braga”.

No Parecer sobre a CGE de 2015, relativamente aos imóveis que se encontravam relevados no ativo do

balanço em 31/12/2015, foi referida a existência de imóveis que:

1 Cfr. Parecer sobre a CGE/2015, pág. 279, disponível em www.tcontas.pt. No Parecer sobre a CGE/2015 foi formulada a

recomendação 75-PCGE/2015, no sentido de assegurar que a titularidade dos imóveis na esfera do património do IGFSS

seja devidamente regularizada. O IGFSS informou que relativamente a 11 números de imobilizado, os imóveis

encontram-se em processo de regularização/atualização junto das conservatórias de registo predial e dos serviços de

finanças e que relativamente a dois não dispõe de suporte documental que comprove o registo da sua titularidade e que

vão ser encetadas diligências com vista à sua regularização. 2 Não existem dados disponíveis que permitam validar a informação. No entanto, caso este valor também incluísse o valor

atribuído ao terreno na escritura de doação o mesmo seria de € 49.021,86. 3 Total da sobrevalorização das amortizações em 31/12/2016: € 1.055.243,02 (€ 39.083,07 de amortizações do exercício e

€ 1.016.159,94, de amortizações acumuladas até 31/12/2015). 4 O ISS refere que o edifício foi construído de raiz e que houve diversos empreiteiros envolvidos e que “Considerando o

tempo de vida útil associado a estes documentos de faturação, 10 anos, a probabilidade de ainda constarem nos arquivos

de Braga é reduzida (…). Aquilo que foi possível localizar foi o documento do programa de contabilidade utilizado à data (…) onde está registado o valor associado a este imóvel ainda em escudos (1.567.090.599$00)”, atualmente € 7.816.614,95.

5 Escritura de doação (€ 49.021,86) e faturas relativas a intervenções realizadas no imóvel entre 2008 e 2016

(€ 326.158,83). Não foi considerada a fatura n.º 1902/2009, no valor de € 8.880,00, uma vez que diz respeito a uma intervenção no edifício onde está sediado o Serviço Local da Póvoa do Lanhoso e o imóvel objeto de análise está

localizado na Praça da Justiça, na cidade de Braga.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 306

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Tribunal de Contas

281

 Estavam indevidamente relevados em investimentos financeiros;

 Não dispunham de documentação comprovativa que permitisse validar o valor do ativo bruto relevado no balanço;

 Não tinham a titularidade regularizada a favor do ISS;

 Tinham valor e período de vida útil incorretamente registado e atribuído, respetivamente.

Foi ainda referido naquele Parecer que existiam valores registados como terrenos que não

correspondiam parcial ou totalmente a valor de terrenos, uma vez que foram criados através de valores

transferidos de imobilizado em curso.

Da análise à documentação remetida pelo ISS no âmbito do Parecer sobre a CGE de 2016 e consulta ao

sistema informático verifica-se que:

 Os imóveis indevidamente relevados como investimentos financeiros foram objeto das devidas correções contabilísticas1;

 Para 7 imóveis, o ISS remeteu documentação com vista a comprovar o valor relevado no ativo bruto do balanço. Contudo, essa documentação não foi suficiente para validar a totalidade

daqueles valores2. Assim, de um total registado de € 27,2 M apenas foi possível validar 14,5% (€ 3,9 M);

O ISS, em sede de contraditório, alega que remeteu documentação que suporta mais de 50% do

valor da amostra e não a percentagem indicada e remeteu “(…) documentação respeitante ao imóvel do edifício sede de Bragança (…) que justifica o acréscimo do valor relevado em 1.141.418,14 euros,

relativamente ao anteriormente informado”.

Efetivamente, não foi considerada toda a documentação de despesa inicialmente apresentada

pelo ISS pelas razões expostas (vide nota de rodapé 171 a folhas 231). Da análise da

documentação disponibilizada pelo Instituto já na fase de contraditório e referente ao edifício da

sede do Centro Distrital de Bragança, resulta igualmente que nem toda é suscetível de fazer

acrescer os valores dos imóveis em causa, uma vez que parte dos documentos respeitam: a

serviços localizados em Mirandela e Sendim (anexo 9); a valores que não têm a fatura de suporte

(anexo 10); a valores referentes a juros de mora (anexo 34); e a valores pagos na sequência de

processos judiciais cujo pedido não foi explicitado (anexo 35 e 36). Deste modo, a alteração de

1 Cfr. Parecer sobre a CGE/2015, pág. 282, disponível em www.tcontas.pt. 2 O ISS justifica a ausência de documentação com vários argumentos, designadamente, a extinção de vários serviços

juridicamente autónomos por integração no Instituto da Segurança Social em 2000; a existência de sistemas informáticos

distintos nesses organismos; a implementação a nível nacional em 2002 do sistema informático atualmente existente e o

facto de “grande parte dos valores atualmente relevados nas demonstrações financeiras conterem valores de histórico, dos quais não é possível reconstituir os respetivos suportes documentais dada a antiguidade dos factos”e ainda a “(…) ausência de colaboradores a nível distrital com conhecimento dos factos ocorridos em 2002”. A informação agora remetida respeita a algumas faturas mais recentes e algumas cópias de contratos de empreitada, o que, contudo, não é

suficiente, uma vez que só o conjunto dos documentos que titulam a execução do contrato é suscetível de validar os

valores registados. Por outro lado, nalguns casos é justificada a ausência de documentação por a mesma ter sido eliminada

ao abrigo da Portaria 1383/2009, de 4 de novembro. Ora, há que considerar que a referida Portaria impõe que os processos

de inventariação e transferência de propriedade de imóveis sejam objeto de conservação, o que igualmente ocorre para

os títulos de aquisição de bens imóveis e para as respetivas certidões de registo predial, bem como para os estudos

técnicos, memórias descritivas plantas e autos de receção provisória referentes a contratos de empreitada. Por outro lado,

importa também dar cumprimento ao estabelecido no ponto 2.8.1 do POCISSSS quanto à necessidade de manter os

documentos de suporte aos registos informáticos que consubstanciam o Livro de Inventário.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

282

valor agora introduzida é a que resulta exclusivamente dos documentos considerados pertinentes

para o efeito.

 O imóvel adquirido, por compra, em 2005 e apenas registado em 20151 continua relevado no ativo bruto pelo valor correspondente ao valor patrimonial tributável (VPT). Para justificação

deste valor, o ISS remeteu um parecer do Fiscal Único, emitido em 01/09/2017, e informa que o

mesmo corrobora o entendimento do Instituto, em consonância com o futuro SNC-AP. O parecer

do Fiscal Único2 recomenda que “(…) a contabilização dos imóveis adquiridos sejam contabilizados pelo seu custo, ou quando não estiver disponível o custo de aquisição, mesmo existindo informação fiável

sobre o custo, os prédios rústicos ou urbanos devem ficar mensurados na transição para o SNC-AP pelo

seu Valor Patrimonial Tributário (…)”. Concorda-se com a metodologia recomendada, mas utilizada no momento apropriado, que seria o referido pelo Fiscal Único, o que não foi o caso3.

Com efeito, em 2015, ano em que ocorreu o registo, ainda não estava em vigor o SNC-AP; logo,

o valor a registar seria sempre o valor de aquisição que consta na escritura de compra e venda.

Por outro lado, as demonstrações financeiras em apreço ainda não foram apresentadas ao abrigo

do novo plano contabilístico4. Acresce que também não existiu coerência entre a aplicação da

metodologia para efeitos de registo contabilístico e o período de vida útil utilizado, tendo sido

considerada, para o primeiro efeito, o SNC-AP e, para o segundo, a Portaria 671/2000. Face ao

exposto, considera-se o valor registado no ativo bruto sobrevalorizado em 102,2% e o valor das

amortizações a necessitar de revisão, quer por via de não ter sido considerada a totalidade do

período de vida útil do imóvel já decorrida à data do seu registo, quer quanto ao número de anos

regra indevidamente considerados (150 anos) em função da natureza dos materiais e das

tecnologias utilizadas na construção do edifício5;

 Continua por regularizar o registo de titularidade a favor do ISS na conservatória do registo predial de um imóvel registado há largos anos na contabilidade6;

 O valor da conta 421- Terrenos e recursos naturais continua sobrevalorizado em € 858,7 m, em virtude de se encontrarem relevados valores que respeitam a benfeitorias realizadas, inicialmente

contabilizadas como imobilizado em curso, relativas a três imóveis7. Este facto subvaloriza o

valor das amortizações do exercício (€ 17,4 m) e acumuladas (€ 158,5 m), com o consequente impacto nos custos do exercício e nos resultados líquido e transitados;

1 Cfr. Parecer sobre a CGE/2015, pág. 280, disponível em www.tcontas.pt. 2 Parecer emitido na sequência de um pedido de “(…) opinião genérica sobre o reconhecimento e mensuração de imóveis

(ativo fixo tangível em SNC-AP), não só porque o ISS, IP prepara a transição do sistema contabilístico com base no

POCISSSS para o novo plano contabilístico SNC-AP, como várias auditorias, nomeadamente do TC, têm questionado

os valores constantes nos registos contabilísticos, sendo que em alguns casos esses valores aparentam ser «simbólicos»,

ou seja aparentam divergências significativas com o valor real do bens”. 3 Esta metodologia é recomendada pelo Manual de Implementação do SNC-AP, capítulo 2 – Aplicação pela primeira vez

do SNC-AP, ponto 1.3.13, que refere “A regra é utilizar o custo considerado quando não estiver disponível o custo de aquisição. Contudo, mesmo existindo informação fiável sobre o custo, os prédios rústicos ou urbanos devem ficar

mensurados na transição para o SNC-AP pelo seu Valor Patrimonial Tributário (VPT). O VPT constitui um modelo de

avaliação de prédios que se considera proporcionar informação que cumpre as características qualitativas da

informação previstas na Estrutura Conceptual”. 4 Cfr. art. 14.º do DL 192/2015, de 11/09, que aprovou o SNC-AP, com a redação dada pelo Decreto-Lei 85/2016, de

21/12. De acordo com informação obtida junto do IGFSS, este Instituto “(…) considera inexequível a efetiva aplicação do SNC-AP em 1 de janeiro de 2018”às entidades da segurança social.

5 De acordo com o art. 22.º do CIBE, 150 anos são utilizados para edifícios de alvenaria de pedra ou alvenaria pré-

pombalina e similares. Para edifícios de betão armado com percentagem de alvenaria e tijolo são considerados 80 anos. 6 Parecer sobre a CGE/2015, pág. 280, disponível em www.tcontas.pt. 7 Cfr. Parecer sobre a CGE/2015, pág. 282, disponível em www.tcontas.pt.

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Tribunal de Contas

283

 O valor do terreno de um imóvel não se encontra relevado no ativo do balanço. O ISS informa que a contabilização do terreno ainda não ocorreu “(…) por existir um litígio sobre o negócio jurídico da permuta que poderá eventualmente determinar a sua anulação (…)”. Desconhece-se a data em que a ação de anulação da permuta foi proposta contra a Segurança Social1. Ainda assim, deve referir-

se que a escritura pública de permuta, de dezembro de 1991, deveria ter sido oportunamente

objeto de registo, pelo que o balanço se encontra subvalorizado em cerca de € 341 m2.

ISSA

O imóvel selecionado, composto por terreno e edifício, foi adquirido por escritura de compra e venda,

em 1992, por € 1.833 m. Esta aquisição foi objeto de obras de acabamento do edifício (€ 851 m) e de trabalhos complementares (€ 4.119,94) no mesmo ano. Em dezembro de 2010, o valor do ativo bruto do imóvel foi acrescido no montante de € 8.544,50, respeitante ao “pagamento de projeto de caderno de encargos”. Para este último valor não foi disponibilizado qualquer documento comprovativo e para o valor dos trabalhos complementares não foram remetidas as faturas, mas tão só dois ofícios,

provenientes do Centro de Prestações Pecuniárias de Ponta Delgada e dirigidos ao Centro de Gestão

Financeira da Segurança Social para efeitos de pagamento daquelas3.

Em 31/12/2016, o valor do imóvel estava relevado na conta 422 – Edifícios e outras construções pelo valor

bruto de € 2.696 m e pelo valor líquido de € 1.708 m, sendo o período de vida útil atribuído de 50 anos. Estes valores não se podem considerar corretos pelas seguintes razões:

 Não se encontrava documentalmente suportado o valor, alegadamente pago em 2010, de um projeto de caderno de encargos, existindo assim uma sobrevalorização do imóvel4;

1 O ISS informou que “(…) corre termos no Juízo Central Civil de Lisboa (…) a ação declarativa de condenação intentada

pela empresa (…) e o Estado Português. Em causa está o pedido de declaração de nulidade da permuta celebrada em 6 de dezembro de 1991 entre a autora e o então denominado Centro Regional de Segurança Social de Faro, pela qual a

empresa recebeu um terreno da Segurança Social, com perspetivas, entretanto goradas, de edificabilidade, e a

Segurança Social recebeu em troca o terreno onde está implantado a atual sede do Centro Distrital. Na presente data

decorre o prazo para a empresa autora recorrer do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 10 de outubro de

2017, que julgou improcedente o recurso intentado da sentença da primeira instância confirmando esta decisão,

favorável ao ISS, IP e ao Estado Português. Caso o Tribunal de recurso venha a declarar a nulidade da permuta, a par

da indemnização, são também anulados todos os atos subsequentes do contrato, aqui se incluindo as diligências

conducentes à regularização da situação registal do prédio”. 2 Por escritura pública de 06/12/1991 foi celebrada uma permuta entre o Centro Regional de Segurança Social de Faro e

uma empresa privada. Ao Centro Regional ficou a pertencer o prédio urbano sito na Rua do Matadouro, em Faro,

composto por diversos armazéns, dependências e logradouro, ao qual foi atribuído o valor de 273.685.000$00

(€ 1.365.135,02), e a importância em numerário de 81.815.000$00 (€ 408.091,50) e à empresa ficou a pertencer o prédio misto sito em Areias de S. João, concelho de Albufeira, ao qual foi atribuído o valor de 355.500.000$00 (€ 1.773.226,52). O registo na Conservatória do Registo Predial de Faro a favor do Centro Regional ocorreu em 23/12/1991. Ainda que

todas as edificações tenham sido demolidas por via da construção do novo edifício, pelo menos 25% do valor atribuído

ao imóvel adquirido por permuta deveria estar registado no balanço do ISS. Assim, este está subvalorizado em

€ 341.283,76. 3 Foi solicitado ao ISSA a remessa das correspondentes faturas. Em resposta o ISSA remeteu um auto de eliminação de

documentação com datas extremas de 1983 a 1996, nos termos da Portaria 12/2014, de 26/02. As faturas em causa

respeitavam ao ano de 1992. Salienta-se que para as restantes obras que ocorreram no edifício na mesma altura foram

remetidas cópias das faturas com a mesma antiguidade, documentos que devem integrar o processo do edifício, uma vez

que se trata de valores ativos relevados no balanço. Dá-se aqui por integralmente reproduzido o referido acerca de idêntica

matéria relativamente ao ISS (Portaria 1383/2009, de 04/11). 4 Questionado o ISSA sobre a afetação deste valor ao imóvel, o Instituto informou que o valor em causa devia estar afeto

ao edifício da segurança social da Horta e não de Ponta Delgada e que irá providenciar pelas devidas correções.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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 O valor do terreno está relevado na conta 422 – Edifícios e outras construções, quando devia estar relevado na conta 421 – Terrenos e recursos naturais. Por outro lado, o valor líquido do imóvel está

sobrevalorizado, uma vez que o valor das obras e dos trabalhos complementares só está a ser

amortizado sobre 75% do seu valor. Com efeito, o valor da aquisição do imóvel através da

escritura de compra e venda não distingue o valor do terreno e do edifício, pelo que ao terreno

devia ter sido atribuído o valor correspondente a 25% do valor de aquisição. A partir dessa data,

o cálculo do valor das amortizações deve incidir sobre 100% do valor das intervenções efetuadas

no edifício e não sobre apenas 75%. Estima-se que o valor da subvalorização das amortizações

do exercício e acumuladas seja de € 4,4 m e € 105,6 m, respetivamente, com a consequente sobrevalorização do valor líquido do imóvel e dos resultados líquido e transitados.

No Parecer sobre a CGE de 2015 foi referido que, nos imóveis com edificações, o cálculo do valor das

amortizações até 31/12/2015 estava a incidir sobre o total do imóvel, procedimento não conforme com

o art. 36.º do CIBE que determina que o valor do terreno não está sujeito a amortização. Em 2016, o

ISSA procedeu à segregação do valor da parcela de terreno, pelo valor correspondente a 25% do valor

do ativo bruto do imóvel. No entanto, o valor das amortizações que anteriormente tinham sido calculadas

sobre o valor da parcela do terreno não foi objeto de reversão, pelo que o valor das amortizações

acumuladas se encontra sobrevalorizado e, consequentemente, o valor do ativo líquido subvalorizado.

Este procedimento também foi aplicado aos 32 imóveis dos 34 que em 2015 foram identificados com o

cálculo do valor das amortizações a incidir sobre o valor do terreno. Estima-se que em 2016 o valor das

sobrevalorizações seja de € 9,4 m, nas amortizações do exercício, e € 85,4 m, nas amortizações acumuladas até 31/12/2016.

ISSM

Os dois números de imobilizado selecionados respeitam a um edifício implantado num terreno que em

2016 ainda era propriedade da Região Autónoma da Madeira1.O edifício foi construído entre 2011 e

2013 e destinou-se a um lar de idosos, sendo-lhe atribuída uma vida útil de 150 anos. A gestão do lar

foi atribuída, por via de um acordo de gestão, a uma associação.

Verifica-se, assim, que o imóvel está na posse de terceiros e o edifício implantado em propriedade alheia.

Porém, esta informação não foi divulgada no anexo às demonstrações financeiras do ISSM nem nas

demonstrações financeiras consolidadas, conforme o estabelecido na nota 8.2.12 do POCISSSS2.

Questionado o ISSM sobre os motivos que originaram a não divulgação da referida informação, o

Instituto informou que tem sido “(…) seu entendimento que os imóveis cuja gestão tenha sido confiada a instituições particulares de solidariedade social, e sejam qualificados como estabelecimentos integrados sob

gestão direta ou indireta deste instituto público, nos termos previstos nos respetivos Estatutos, não seriam

aplicáveis a nota 8.2.12 do POCISSSS”. Concorda-se com o entendimento relativamente aos estabelecimentos de gestão direta. Porém, de acordo com os Estatutos do ISSM, a gestão direta de

estabelecimentos integrados está na dependência hierárquica e funcional dos serviços do ISSM3. Por

outro lado, os estabelecimentos integrados de gestão direta concorrem diretamente para a atividade

económica e financeira do Instituto, uma vez que todos os proveitos/receitas e custos/despesas

1 Por Auto de cessão, de 30/03/2017, a Região Autónoma da Madeira cedeu a título gratuito ao ISSM os terrenos onde se

encontra implantado o referido lar. 2 Regista-se ainda que, a par do imóvel, também foram cedidos bens móveis à referida associação, facto que também não

é divulgado nas demonstrações financeiras do ISSM e consolidadas. 3 Cfr. n.º 5 e 6 do art. 4.º dos Estatutos do ISSM, aprovados pela Portaria 167/2012, de 20/12, publicada no JORAM, e n.º

5 e 6 do art. 6.º dos Estatutos do ISSM, aprovados pela Portaria 17/2017, de 23/01.

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Tribunal de Contas

285

incorporam os resultados do ISSM1, contribuindo para esses mesmos resultados a utilização dos imóveis

e outro equipamento afeto. Natureza diferente têm os estabelecimentos integrados de gestão indireta,

uma vez que esta gestão é transferida para uma entidade terceira mediante acordos de gestão,

competindo ao ISSM assegurar as comparticipações financeiras estabelecidos no acordo em troca dos

serviços prestados pela entidade terceira. Neste caso, os proveitos/receitas e custos/despesas incorporam

os resultados da entidade terceira, contribuindo para os mesmos a utilização de equipamento alheio. Por

esta razão, o ISSM deve divulgar em notas às demonstrações financeiras que parte dos seus ativos não

estão afetos diretamente à sua atividade.

O período de vida útil atribuído ao imóvel não está em linha com o definido, como regra, no CIBE,

aprovado pela Portaria 671/2000, sendo quase o dobro dos anos do devido em função do tipo de

construção utilizado2. Deste modo, o valor das amortizações acumuladas e do exercício está

subvalorizado e, consequentemente, o valor do ativo líquido sobrevalorizado3.

Quanto aos imóveis analisados no âmbito do Parecer sobre a CGE de 20154, em 31/12/2016 continuam

relevados no ativo do balanço, não havendo qualquer alteração neste exercício, pelo que se dão aqui por

integralmente reproduzidas as observações incluídas naquele Parecer, quer quanto à falta de

documentação que justifique os valores relevados no balanço5, quer quanto ao cálculo das amortizações

que incidiram sobre o valor total do imóvel6.

12.2.3.1.2. Dívida de terceiros

O quadro que segue evidencia a evolução das dívidas de terceiros em termos brutos e em termos líquidos

no triénio de 2014 a 2016.

Quadro C. 22 – Dívida de terceiros

(em milhões de euros)

Dívidas de terceiros 2014 2015 2016

Bruto Líquido Bruto Líquido Bruto Líquido

Clientes 1 144 37 1 264 38 1 392 39

Contribuintes 9 163 5 619 9 508 6 036 9 493 3 924

Prestações sociais a repor 648 127 673 134 694 140

Outros devedores 617 561 956 896 996 930

Outros 3 1 4 1 4 1

Total 11 575 6 345 12 405 7 105 12 579 5 034

Fonte: CSS/2014, CSS/2015 e CSS/2016.

1 Cfr. alínea c) do n.º 1 do art. 12.º e alínea c) do art. 13.º do Decreto Legislativo Regional 34/2012/M, de 16/11, com as

alterações operadas pelo Decreto Legislativo Regional 6/2015/M, de 13/08, e pelo Decreto Legislativo Regional

29/2016/M, de 15/07. 2 De acordo com o CIBE à construção de “Alvenaria de pedra” são atribuídos 150 anos de vida útil e à construção de

“Betão Armado com percentagem de alvenaria do tipo tijolo” são atribuídos 80 anos de vida útil. 3 Estima-se que o valor da subvalorização das amortizações acumuladas até 31/12/2016 seja de € 89.746,22 e o do exercício

de € 29.106,88. Questionado o ISSM sobre o período de vida útil atribuído, o Instituto informou que os códigos CIBE tinham sido incorretamente atribuídos e que já procedeu à sua correção.

4 Cfr. PCGE/2015, pág. 284, disponível em www.tcontas.pt. 5 Para dois imóveis, o valor total relevado é de € 9,3 M, representando a documentação comprovativa de suporte ao registo

contabilístico apenas 36,4% daquele valor (€ 3,4 M). 6 Estima-se que a sobrevalorização das amortizações acumuladas até 31/12/2016 seja de € 23,2 m e de exercício de € 1,7 m.

Procedimento não conforme com o art. 36.º do CIBE que determina que o valor do terreno não está sujeito a amortização.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 311

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

286

As dívidas de terceiros em termos brutos, em 2016, totalizam € 12.579 M, mais € 175 M (1,4%) do que no ano anterior. Verificaram-se acréscimos em todas as componentes, com exceção do valor da dívida

de Contribuintes, que reduziu 0,2% (€ 14 M), com maior incidência na dívida de médio e longo prazo, concorrendo para esta redução o programa PERES, que permitiu a regularização de dívida contraída até

31/12/2015 com dispensa total ou parcial de juros.

As dívidas mais relevantes reportam-se a “Contribuintes” e “Clientes”, representando, respetivamente, 75,5% e 11,1% do total. As dívidas de terceiros de médio e longo prazo ascendem a € 9.300 M (€ 8.835 M em 2015) e as de curto prazo a € 3.279 M (€ 3.570 M em 2015). Cerca de 61,8% (€ 7.775 M) do total destas dívidas estão registadas como dívidas de cobrança duvidosa e as respetivas provisões

ascendem a € 7.546 M (97,1%).

a) Clientes

A conta de Clientes releva o montante de € 238 M relativo a dívidas de cobrança duvidosa de MLP, por prestações de alimentos a menores, para as quais foram constituídas provisões no valor de € 227 M (95,2%), facto que revela que a maioria da dívida já está provisionada a 100%, o que significa que tem

antiguidade igual ou superior a dois anos. Contudo, estas dívidas não têm sido objeto de participação a

execução fiscal para efeitos de cobrança coerciva, incumprindo o disposto no art. 2.º do Decreto-Lei

42/2001, de 9/02, com a redação dada pela Lei 64/2012, de 20/12, o qual refere expressamente que “O processo de dívidas à segurança social aplica-se às situações de incumprimento relativas a dívidas, reembolsos,

reposições ou restituições de prestações de qualquer natureza pagas pelo Fundo de Garantia de Alimentos

Devidos a Menores (…)”1.

A SESS, no âmbito do acompanhamento da recomendação 78-PCGE/20142, a propósito das dívidas do

Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores, informa que “(…) a participação de dívida não é neste momento possível, dado que é necessário o estudo do modelo de participação e alterações nos sistemas

informáticos, designadamente no SEF, de forma a permitir a cobrança destes processos específicos”.

Em sede de contraditório, o IGFSS alega que “(…) encontram-se em pagamento uma média de 20.300 prestações de alimentos, pelo que não nos parece exequível a sua cobrança coerciva manual” e que “Estão a ser desenvolvidos procedimentos no âmbito do novo interface SICC/SIF e SEF que virão a permitir a cobrança

coerciva de forma automática destas dívidas”.

Mantém-se a posição anteriormente assumida pelo Tribunal de que o cumprimento da legislação passa

pela participação da dívida a execução fiscal, pelo que não pode ser justificação para este incumprimento

a adaptação das aplicações informáticas. Nada obsta a que estas participações se efetuem de forma

manual.

b) Contribuintes

De acordo com os dados relevados no balanço e divulgados no anexo às demonstrações financeiras e

orçamentais consolidadas, a dívida de “Contribuintes” representa 30,7% do ativo bruto e 17,1% do ativo líquido. No total da dívida de terceiros, a relativa a “Contribuintes” corresponde a 75,5%, em termos brutos (€ 9.493 M) e a 78,0% em termos líquidos (€ 3.924 M).

1 Para mais desenvolvimentos cfr. Parecer sobre a CGE/2015, págs. 282 e 283, disponível em www.tcontas.pt. 2 Recomendação formulada a propósito das dívidas provenientes de pagamentos indevidos relativos a despesas com

pessoal que também não estavam a ser participadas para efeitos de execução fiscal.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 312

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Tribunal de Contas

287

A nota 33 do ADFOC divulga o valor da dívida de contribuintes, desagregado por conta corrente e

cobrança duvidosa, sendo a primeira ainda desagregada por antiguidade da dívida (CP e MLP):

Quadro C. 23 – Dívida de contribuintes, por conta corrente e cobrança duvidosa

(em milhões de euros)

Dívida Valor

Contribuintes c/c 3 763

Curto prazo 1 501

Médio e Longo Prazo 2 262

Contribuintes cobrança duvidosa 5 730

Total 9 493

Fonte: CSS 2016: Nota 33 – Demonstração da dívida de terceiros do ADFOC.

A nota 35 do ADFOC divulga o valor de toda a dívida de terceiros, desagregado por antiguidade da

dívida, por dívida de conta corrente e de cobrança duvidosa, e ainda o valor das provisões. Relativamente

à dívida de contribuintes os valores divulgados são os seguintes:

Quadro C. 24 – Dívida de Terceiros (contribuintes), por conta corrente e cobrança duvidosa

(em milhões de euros)

Antiguidade

da

dívida

Dívida Provisões de

Cobrança

duvidosa Conta

Corrente

Cobrança

Duvidosa Total

MLP 1 498 5 613 7 111 5 536

CP 2 265 117 2 382 33

Total 3 763 5 730 9 493 5 570

Fonte: CSS 2016: Nota 35 – Demonstração da dívida de terceiros do ADFOC.

Comparando o valor da dívida de conta corrente por antiguidade entre a informação que consta das notas

33 e 35 verifica-se que, embora o valor total seja coincidente, o valor de cada uma das parcelas é

diferente. Salienta-se que as instituições não dispõem de toda a informação necessária para efetuar a

desagregação da dívida de conta corrente em CP e MLP. Com efeito, a aplicação informática que produz

as demonstrações financeiras (SIF) não dispõe dessa informação. A informação necessária para proceder

a esta desagregação reside nos sistemas auxiliares (GC e SEF). Todavia, no processo de encerramento

de contas apenas é extraída informação do sistema SEF, que respeita a dívida participada a execução

fiscal1, não sendo ainda extraída informação do sistema GC, sistema onde reside a informação relativa

a cada contribuinte e que ainda não foi participada a execução fiscal2. Ainda assim, os institutos

procedem à desagregação do valor total da dívida em dívida de cobrança duvidosa e dívida corrente,

utilizando a informação do SIF (saldos das contas do razão) conjugada com a informação disponibilizada

no processo de encerramento de contas para a dívida participada a execução fiscal (SEF), não sendo a

desagregação rigorosa, por falta de informação de GC. Ao nível da dívida de cobrança duvidosa os

critérios de apuramento de valores foram seguidos de igual forma pelos 3 institutos, o que não se

verificou em termos de dívida em conta corrente. Em sede de consolidação foram efetuados

1 Informação desagregada com identificação do contribuinte, processo de execução fiscal, antiguidade da dívida e

correspondente valor. 2 É possível através de um lançamento realizado no SIF consultar no sistema GC a que contribuintes respeita aquele

movimento específico. No entanto, não são extraídas listagens com o valor em dívida, no final do exercício, por

contribuinte, antiguidade e correspondente valor.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

288

ajustamentos com vista à harmonização de critérios, no entanto, esta não foi plena, uma vez que a

correção efetuada para o ISSA não seguiu o mesmo critério dos aplicados ao IGFSS e ao ISSM.

Da análise empreendida, verifica-se que o saldo da conta 212- Contribuintes c/c não se mostra fidedigno,

facto que, eventualmente, pode estar associado a questões de parametrização/interfaces de lançamentos

automáticos ou ao reflexo da utilização incorreta, ao longo de 7 anos, do apuramento do valor da dívida

de cobrança duvidosa e do valor de dívida prescrito. Com efeito, entre 2008 e 2014, o apuramento destes

valores teve por base o agrupamento de processos participados a execução fiscal em função do critério

da secção de processo onde foi instaurado o último processo. Com este critério os institutos transferiam

dívida de conta corrente para cobrança duvidosa que não tinham inicialmente registado, assim como

registavam valores incobráveis por prescrição de dívida nunca registada no Instituto. Em 31/12/2016, o

saldo da conta 212 - Contribuintes c/c do ISSM era de € 86 M, quando tem pelo menos um movimento a débito no valor de € 92 M1, que ainda não se encontra regularizado, se não fosse este débito a conta estaria atualmente com saldo negativo de cerca de € 6 M.

No final de 2016, o total da dívida de contribuintes era de € 9.493 M e o total de dívida participada a execução fiscal de € 7.412 M. Assim, para o valor de € 2.081 M não é possível conhecer quais os contribuintes a que respeita este valor de dívida, por inexistência da pertinente informação, no âmbito

do processo de encerramento de contas2. Também não é possível verificar se o valor em dívida apurado

através dos sistemas auxiliares de contas correntes dos contribuintes (GC e SEF) corresponde ao valor

relevado nas demonstrações financeiras, não se mostrando acolhida a recomendação do Tribunal

formulada em Pareceres anteriores3. No âmbito do acompanhamento desta recomendação, a SESS

informou que os Institutos (IGFSS e II) estão a “(…) desenvolver e a melhorar procedimentos que garantam a coerência dos dados contabilizados, com o objetivo de reconciliar a dívida de contribuintes e,

consequentemente, a extração de balancetes auxiliares” e de “(…) garantir que a informação que é extraída da conta corrente chega a SIF. Contudo, e face aos milhares de documentos que são lançados e à complexidade do

sistema, é um trabalho bastante moroso”.

Com vista ao acolhimento das recomendações do Tribunal, o ISSA no final do exercício de 2016

procedeu a um ajuste na conta 212111- Contribuintes c/c – Regime de Segurança Social – Trabalhadores por

conta de outrem, no montante de € 105 M. De acordo com informação prestada pelo Instituto, o saldo da conta antes do ajuste era de € 249 M e foi reduzido para € 144 M, o que significa uma redução de 42,2%4.

Não pondo em causa o esforço do ISSA para encontrar uma solução que permita a conciliação de saldos,

entende-se que estas operações devem ter em conta vários aspetos, dos quais se destacam os seguintes:

 As contas correntes dos contribuintes são de âmbito nacional, pelo que incorporam movimentos dos atuais três institutos. Assim, as operações de conciliação de saldos devem ter em conta esta

realidade, não podendo efetuar-se de forma isolada por cada uma das instituições5. Acresce que

1 Mantem-se o referido em Pareceres anteriores, tendo em conta o divulgado no anexo às demonstrações financeiras do

ISSM de 2014 (valor que inclui dívida que foi paga ou prescrita no decurso dos anos de 2012 a 2014) e que no final de

2016 este valor ainda se encontra relevado nas DF do ISSM e, por conseguinte, nas DF consolidadas. 2 Não são extraídos ficheiros de GC com a identificação dos contribuintes, a antiguidade da dívida e correspondente valor. 3 Cfr. Recomendações: 76–PCGE/2015, 71–PCGE/2014, 69–PCGE/2013 e 68–PCGE/2011, todos disponíveis em

www.tcontas.pt. 4 Procedimento efetuado na sequência do Parecer do Fiscal Único. 5 Por exemplo, a alteração de sede de estabelecimento de um contribuinte que passe do Continente para uma Região

Autónoma implica que a contabilização de operações de natureza contributiva deixe de ser efetuada no Continente e

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Tribunal de Contas

289

os saldos das contas de todos os institutos estão afetados da metodologia que perdurou entre 2008

e 2014 relativamente ao cálculo do valor da dívida de cobrança duvidosa e da dívida prescrita,

como atrás descrito;

 A estrutura da conta 212- Contribuintes c/c incorpora as subcontas destinadas à contabilização por regimes de segurança social mas também as designadas de “clarificação”. Estas últimas têm um efeito redutor no saldo final da conta 212- Contribuintes c/c, pelo que a análise de conciliação de

saldos entre os sistemas auxiliares (GC e SEF) e os saldos das contas do sistema de informação

financeira (SIF) não pode ser isolada1;

 Deve ser assegurado o momento do “corte de operações”, quer nos sistemas auxiliares (GC e SEF), quer no SIF. Com efeito, a comparação só pode ser efetuada com a garantia de que os

dados extraídos dos sistemas auxiliares não incorporam nem mais nem menos dados do que

aqueles que foram extraídos e posteriormente lançados no SIF, à data referência da comparação2.

A metodologia seguida pelo ISSA neste ajustamento de 42,2% do saldo da conta 212111- Contribuintes

c/c – Regime de Segurança Social – Trabalhadores por conta de outrem, com impacto no balanço consolidado

da Segurança Social, não acautelou aspetos essenciais para uma comparação segura.

O ISSA, em sede de contraditório, alega que o facto de o ajustamento ter sido efetuado apenas numa

subconta do razão se deveu a diversos motivos, designadamente por ser a conta com maior impacto ao

nível da qualificação dos contribuintes, de ser incomportável uma análise integrada em todas as

subcontas, em tempo útil, para o encerramento de contas e, “(…) essencialmente, a um fator único, na RAA, que derivou do protocolo com a APB para pagamento da TSU ter iniciado apenas em 2005, pelo que a subconta

encontrava-se sobrevalorizada”. Alega ainda que “Outro constrangimento relativo à conta 212*, que se verificou apenas nas instituições RAA, entre 2001 e 2004, derivou da implementação do POCISSSS e SIF/SAP,

com existência de movimentos manuais neste período, na sequência da aplicação de circulares normativas do

IGFSS e das orgânicas existentes”. Por fim, refere que “(…) atendendo ao sistema informático e ao modo como está implementado, não há possibilidade de corte a 31.12, pelo que será difícil existir uma comparação segura

para efeitos de encerramento, contudo, o ajustamento efetuado, permite que as demonstrações financeiras do

ISSA apresentem de forma mais fidedigna a informação do saldo dos contribuintes. Sendo certo que o processo

de conciliação futuro será efetuado quando existirem orientações da entidade consolidante”.

O critério utilizado para efeitos de cálculo da dívida de cobrança duvidosa reside apenas na dívida que

foi participada para efeitos de execução fiscal (SEF), em mora há mais de 6 meses, deixando, no entanto,

por provisionar dívida não participada, mas igualmente em mora há mais de 6 meses (GC)3. O

passe a ser no Instituto da Região Autónoma. Assim, ao nível da conta do contribuinte podem existir dívidas registadas

em dois institutos, situação que é necessário acautelar na conciliação de saldos. 1 Contas 2121181200 – SICC/clarificação conta corrente e 2121183000 – SICC/Clarificação de classificação económica.

Esta última, utilizada recorrentemente para contabilizar a entrada de receita, através da tabela de imputação, substitui a

conta dos regimes numa primeira fase do processo (é creditada por contrapartida da conta da 25- Devedores e credores

por execução do orçamento). Assim, a comparação isolada do saldo da conta dos regimes (SIF) com os saldos dos

sistemas auxiliares (GC e SEF) pode dar lugar a ajustamentos indevidos de dívida, uma vez que a receita já entrou na

conta corrente (GC ou SEF) e a dívida ainda permanece na conta dos regimes, porque a conta creditada foi a de

clarificação de classificação económica. No entanto, ao nível da conta 212-Contribuintes c/c o saldo está compensado. 2 A contabilização no SIF é efetuada por interface através de extrações de dados provenientes dos sistemas auxiliares (GC

e SEF). Estas extrações têm número sequencial. Os ficheiros de encerramento de contas, produzidos através da cópia de

base de dados dos sistemas auxiliares, anualmente realizada, não podem conter nem mais nem menos informação do que

aquela que foi extraída e contabilizada no SIF. Assim, para efeitos de comparação há que garantir em ambos os sistemas

(SIF e GC ou SEF) o mesmo número de extração SIF. 3 No processo anual de encerramento de contas não é disponibilizada informação sobre a dívida existente em 31 de

dezembro no sistema aplicacional GC, pelo que não é possível aferir a antiguidade da referida dívida nem a que está

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

290

POCISSSS não estabelece critérios distintos para a dívida participada e não participada a execução

fiscal, pelo que é necessário introduzir mecanismos que permitam calcular as provisões com maior

fiabilidade, quer através da inclusão de dívida que reúne os requisitos de constituição de provisões e que

não foi participada a execução fiscal, quer através da exclusão no cálculo do valor das provisões da

dívida, que embora já tenha sido participada a execução fiscal se encontra suspensa por estar a ser

cobrada ao abrigo de planos prestacionais fora do processo executivo (acordos de regularização

extraordinária) e, por isso, não deve integrar o conjunto de processos que concorrem para o cálculo das

provisões1. A resolução destas duas situações impõe: a inclusão de toda a dívida que reúna os requisitos

quer tenha sido ou não participada a execução fiscal; e a exclusão de toda a dívida que está a ser objeto

de cobrança através de planos prestacionais, independentemente de os mesmos correrem termos através

do processo executivo (SEF) ou através de processo extraordinário de regularização (GC), garantindo-

-se, deste modo, o princípio contabilístico da prudência sem permitir a criação de provisões excessivas.

Para a dívida participada a execução fiscal que está “suspensa” por “declaração de falência e insolvência”, à qual está associado um elevado risco de incobrabilidade, em 2016, foram constituídas, pela primeira vez, provisões a uma taxa de 100%, no valor de € 1.973 M, independentemente da sua maturidade, dando assim parcial acolhimento à recomendação formulada pelo Tribunal sobre a

CGE/20152.

Continua a verificar-se o incumprimento do princípio da especialização dos exercícios, tal como previsto

no POCISSSS, uma vez que os juros vencidos até 31/12/2016, relativos aos valores em dívida, não estão

relevados nas demonstrações financeiras. Com efeito, os únicos juros relevados na conta 212 -

Contribuintes c/c e 21822 - Contribuintes de cobrança duvidosa são os juros calculados por dívida paga fora

de prazo, em conta corrente (GC). Os juros já vencidos dos valores em dívida registados em conta

corrente (GC) e em sede de execução fiscal (SEF) não se encontram, em 31/12/2016, relevados

contabilisticamente, não se mostrando acolhida a recomendação formulada pelo Tribunal em Pareceres

anteriores3.

Em sede de acompanhamento desta recomendação, a SESS informou que permanecem em reavaliação

as condições técnicas necessárias ao cumprimento do princípio contabilístico invocado na

recomendação. Assim, a dívida de contribuintes está subvalorizada. Para efeitos de avaliação do impacto

da não observância deste princípio contabilístico nas contas da segurança social foi estimado o valor dos

juros vencidos que nos últimos 6 anos não foi objeto de registo contabilístico, tendo como fonte de

informação os ficheiros utilizados no encerramento de contas de 2016, relativamente aos valores em

dívida4. Para a dívida constituída a partir de 2011 e participada a execução fiscal, estima-se que o valor

dos juros vencidos e não contabilizados seja de € 580 M. No entanto, se se considerar também a dívida participada a execução fiscal e constituída até 20105 que em 31/12/2016 se encontrava relevada no

balanço consolidado, a estimativa do valor dos juros ascende a € 2.072 M. O ponto 10 da nota 17 do ADFOC refere que as dívidas de terceiros, designadamente as de contribuintes “(…) não incluem juros por não se considerar material o impacto do desconto”. Porém, tendo em conta o montante estimado e a

abrangida por planos prestacionais (fora do processo de execução fiscal). No entanto, a avaliar pela antiguidade da dívida

que anualmente é participada e prescrita no mesmo ano, o sistema GC ainda acomoda dívida com antiguidade superior a

6 meses que não é objeto de qualquer provisão. 1 Para mais desenvolvimentos cfr. PCGE/2015, págs. 285 e 286, disponível em www.tcontas.pt. 2 Cfr. Recomendação 77-PCGE/2015, pág. 392 do PCGE/2015, disponível em www.tcontas.pt. 3 Cfr. Recomendações: 72-PCGE/2014 e 70-PCGE/2013, disponíveis em www.tontas.pt. 4 Para efeitos desta estimativa foi considerada a dívida incluída no Mapa 3.1.a_b NOP – Mapa de escalonamento de dívida

de contribuintes em sede de SEF- Sem Organismos Públicos dos três institutos (IGFSS, ISSA e ISSM) e aplicadas as

taxas de juro oficiais, publicadas no site da Segurança Social, aos respetivos períodos de dívida (o valor utilizado respeita

à coluna designada “dívida”). A dívida das entidades privadas (NOP) representa 99,9% do total. 5 Os ficheiros incluem dívida de 1976 a 2016.

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Tribunal de Contas

291

informação transmitida em sede de acompanhamento de recomendações, a ausência de relevação

contabilística do valor dos juros já vencidos aponta para a sua materialidade e para as condições técnicas

necessárias ao cumprimento do princípio contabilístico.

O IGFSS, em sede de contraditório, alega que aguarda que o II disponibilize “(…) um cálculo do montante estimado dos juros vencidos sobre a dívida residente em SEF, com o máximo rigor possível (tarefa que se afigura

complexa), para que seja possível avaliar as condições para a sua relevação contabilística, desejavelmente, ainda

no exercício de 2017”.

O II, em sede de contraditório, alega que a extração de informação para contabilização dos juros de mora

vencidos vai obrigar a uma grande reestruturação nos sistemas de forma a conseguir produzir a

informação fiável com corte ao ano conforme se pretende e que não é expetável a implementação em

2017.

A propósito da relevação contabilística de juros, verifica-se que os saldos das subcontas da conta do

razão 21212 – Contribuintes c/c -Juros de mora destinadas a registar os juros de mora em dívida do regime

de segurança social dos trabalhadores independentes e do regime de segurança social de inscrição

facultativa apresentam saldos credores (contranatura), que nos três institutos ascendem a € 21,6 M. Este facto revela a existência de eventuais erros de parametrização de movimentos contabilísticos indexados

a esta conta.

Em 2016 continuou a ocorrer um volume considerável de anulações de prescrições contabilisticamente

registadas em exercícios anteriores, o que prejudica a correção dos valores anuais reportados, quer

quanto aos valores prescritos quer quanto ao valor da dívida relevado no balanço, designadamente

quando essas anulações ocorrem em virtude de os valores prescritos já terem sido pagos1. Acresce que

o método utilizado no cálculo do valor das prescrições a relevar contabilisticamente não reflete na sua

integralidade o valor dos processos prescritos anualmente, nem das anulações também determinadas

anualmente, não se encontrando cumprido, nesta sede, o princípio da não compensação, previsto no

POCISSSS2. Assim, em 2016 foi relevado nas demonstrações financeiras consolidadas como dívida

incobrável o valor de € 33 M3, mas o valor da dívida prescrita neste ano foi de € 48 M. A diferença resulta da indevida compensação das anulações de prescrições registadas em anos anteriores com as

prescrições ocorridas no ano.

Cerca de 88,6% (€ 42 M) do valor da dívida prescrita em 2016 corresponde a processos executivos que foram instaurados neste ano, com períodos de dívida que se situavam entre 1964 e 2011 e abrangeu

16.441 contribuintes. Desta dívida, 73,6% (€ 31 M) era da responsabilidade de 13.984 trabalhadores independentes (85,1%).

1 A anulação de valores já registados como prescritos em virtude de só mais tarde se detetar que o pagamento já tinha sido

efetuado implica que a dívida tenha sido reduzida em duplicado: uma por via da cobrança e outra por via da prescrição.

Trata-se de uma situação que não contribui para a fiabilidade do valor da dívida relevado nas demonstrações financeiras,

não sendo possível estimar o respetivo impacto. 2 O valor da dívida prescrita é calculado apurando a diferença entre o valor da dívida prescrita acumulada do ano n com o

valor da dívida acumulada do ano n+1. 3 O valor divulgado por prescrição de dívida de contribuintes é de € 34,5 M: Cerca de € 33,4 M respeita a dívida prescrita

em sede de processo executivo e € 1,1 M respeita a coimas e custas contabilizadas no SIF também na conta 69221 –Dívida incobrável de contribuintes-Por prescrição. No entanto, os descritivos dos lançamentos referem “Estorno de coimas” e “Estorno de custas”, descritivos exatamente iguais aos utilizados nos lançamentos efetuados na conta 6974-Correções de exercícios anteriores – Anulações – Contraordenações e destinados a anular os valores inicialmente contabilizados associados às contraordenações que seguem o processo especial estabelecido no art. 28.º da Lei 107/2009,

de 14/09, que não foram pagas dentro dos requisitos exigidos por aquele diploma legal.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

292

A propósito dos procedimentos associados à prescrição de dívida, o Tribunal tem formulado

recomendações em Pareceres anteriores1 dirigidas, quer às “prescrições automáticas”, quer às “prescrições manuais”. As primeiras foram suspensas em 20122. No entanto, mantêm-se as prescrições automáticas à “data da instauração”. Estas últimas, resultam de participações manuais e podem ser levantadas nos casos em que existam atos interruptivos e/ou suspensivos anteriores à participação, facto

que foi acautelado através dos procedimentos inseridos na Orientação Conjunta emitida pelo IGFSS e

pelo ISS no final de 2015. Sobre esta matéria, a SESS informou que “Sempre que uma Secção de Processo recebe do Centro Distrital informação da existência de atos interruptivos/suspensivos, que determinem que para

a dívida participada manualmente deverá ser cancelada a prescrição da dívida automática à entrada de SEF, é

feito em SEF pelos Coordenadores em registo de cancelamento de prescrição, tornando aquela dívida exigível em

execução fiscal”. Sobre o mesmo assunto, o ISSA informou que o Núcleo de Processamento e de Contribuições “(…) comunica ao Núcleo de Processo Executivo a exigibilidade da dívida, para que seja anulada a prescrição”.

Relativamente às “prescrições manuais”, o Tribunal em Pareceres anteriores formulou recomendações3 no sentido de que o registo da declaração de prescrição do valor da dívida fosse realizado pelo autor do

despacho que declarou a respetiva prescrição, bem como de que fossem inseridos na referida aplicação

os elementos relevantes que suportam a declaração de prescrição. Da análise ao ficheiro disponibilizado

pelo II relativamente aos processos com registo de prescrição em 2016 verificou-se que, neste ano, os

registos foram todos realizados pelos coordenadores das secções de processo indicados pelos três

institutos. Relativamente à informação que deve ser inserida na aplicação informática, regista-se que

apenas não consta em “notas ao processo” ou em “notas executado” em 8,2% do total das linhas de dívida, o que denota uma melhoria relativamente a 20144. Contudo, relativamente ao conteúdo da

informação introduzida, verifica-se que não há qualquer harmonização sobre o preenchimento dos

referidos campos da aplicação SEF, mencionando-se em alguns casos a informação que propôs o

reconhecimento da prescrição, mas não o respetivo despacho autorizador, nem o período considerado.

O IGFSS implementou alguns mecanismos de controlo de introdução da informação pertinente sobre

reconhecimento de prescrições a introduzir em SEF pelas Secções de Processo Executivo. Regista-se,

contudo, que o controlo instituído considera regular que, num processo constituído por processo

principal e processos apensos, a informação sobre o reconhecimento da prescrição, ainda que relativa a

um processo apenso, seja exclusivamente registada no processo principal, o que não é correto. Com

efeito, se o processo em causa vier a ser desapensado do processo principal, tal informação ficará,

naquele, em falta, ao mesmo tempo que a informação registada no processo principal se torna inútil,

uma vez que não se refere a nenhuma linha de dívida nele incluída. Convirá, assim, futuramente,

assegurar que, nestas situações de pluralidade de processos, a informação seja registada exclusivamente

no processo a que respeita e em nenhum outro, garantindo que as ações de controlo contribuam para

este fim.

Em sede de contraditório, o IGFSS vem reconhecer “(…) a necessidade de criação de procedimento diverso do atual, cujo conteúdo já se encontra divulgado junto dos Coordenadores das respetivas Secções de Processo

(…)”. Destaca-se de tal conteúdo que o registo de declaração de prescrição passará a ser feito por cada um dos processos a que respeita, sendo campos de registo obrigatório o número de informação de

1 Recomendações 68-PCGE/2012 e 58-PCGE/2010, disponíveis em www.tcontas.pt. 2 Prescrições efetuadas pela aplicação informática na pendência dos processos em execução fiscal, após o decurso do tempo

legalmente previsto para a prescrição. No entanto, como nem todos os atos suspensivos e interruptivos estavam inseridos

na aplicação havia o risco de prescrever dívida sem que o decurso do tempo legalmente previsto tivesse decorrido. 3 Recomendações: 75-PCGE/2014; 65-PCGE/2012 e 57-PCGE/2010, disponíveis em www.tcontas.pt. 4 IGFSS 8,8% em 2016 e 22,9% em 2014; ISSA 1,7% em 2016 e 22,1% em 2016; e ISSM 9,0% em 2016 e 93,8% em

2014.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 318

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Tribunal de Contas

293

suporte, a data do despacho e o período considerado prescrito. Mais informa que foi solicitado à Direção

de Qualidade e Comunicação que, nas verificações a realizar em 2018, passe a considerar, para além da

existência de notas nos processos, a certeza, clareza e precisão dos respetivos registos.

Encontra-se ainda por acolher a recomendação1 no sentido de que sejam implementadas as regras

necessárias na aplicação informática para que não ocorra a prescrição de valores em dívida sem que

tenha decorrido o prazo legal para o efeito. A SESS, em 19/10/2017, informou que “(…) os desenvolvimentos necessários encontram-se preconizados nos objetivos do Grupo de Trabalho constituído por

elementos do IGFSS, do ISS e do II. Encontram-se definidos os macro requisitos dos desenvolvimentos

aplicacionais (…), prevendo-se que até ao final do presente mês de outubro sejam concluídos os restantes documentos de requisitos. Em paralelo decorre a definição da calendarização das fases de implementação das

alterações aplicacionais”. Por último, refere que o Grupo de trabalho continuará a funcionar “(…) prevendo-se a intensificação dos trabalhos após a conclusão dos documentos de requisitos, e em sede de

desenvolvimentos aplicacionais”.

c) Prestações sociais a repor

As “Prestações sociais a repor” registam, em termos brutos, uma evolução crescente ao longo do triénio, com um aumento de 3,1% de 2015 para 2016, atingindo, neste ano, o valor de € 694 M (€ 673 M em 2015). Cerca de € 592 M (85,3%) destas dívidas estão relevadas como de cobrança duvidosa (€ 581 M, 86,3%, em 2015), representando as respetivas provisões acumuladas 93,6% do seu valor (€ 554 M).

Desde 2012, na sequência de recomendações do Tribunal de Contas, para efeitos de cálculo dos valores

das provisões para cobrança duvidosa, as instituições de segurança social passaram a utilizar os dados

extraídos das contas correntes dos beneficiários (SICC)2 e não os das contas do razão (SIF), como até

então. A alteração deste procedimento deu origem ao apuramento de desvios entre os valores em dívida

residentes no sistema de conta corrente (SICC) e os relevados nas demonstrações financeiras (SIF). De

acordo com informação prestada pelo ISS “A origem dos desvios poderá estar associada à migração de dados para SICC das anteriores aplicações distritais, assim como a diferentes metodologias de contabilização nos vários

Centros Distritais”.

Verifica-se que as três instituições que relevam dívidas de prestações sociais a repor, ISS, ISSA e ISSM,

utilizam, para efeitos de cálculo das respetivas provisões, os ficheiros extraídos do sistema de conta

corrente (SICC). Porém, os desvios apurados não são refletidos nas demonstrações financeiras da mesma

forma pelos institutos referidos. Assim, o ISSA tem vindo a ajustar anualmente o valor da dívida nas

demonstrações financeiras em função dos desvios, o ISSM apenas procedeu ao ajustamento no primeiro

ano em que este procedimento foi implementado e o ISS não fez qualquer ajustamento às dívidas de

terceiros no SIF, mas tem vindo a constituir provisões extraordinárias com vista a igualar o valor líquido

da dívida de cobrança duvidosa relevado nas demonstrações financeiras com o valor calculado com base

nas contas correntes dos beneficiários3. Em 2016, no ISSA e no ISSM os saldos relevados no SIF eram

1 Recomendação 74-PCGE/2015, disponível em www.tcontas.pt. 2 Sistema integrado de conta corrente, que acolhe todos os movimentos relacionados com beneficiários, relativamente às

prestações imediatas. Só neste sistema é possível identificar o valor da dívida de cada beneficiário, bem como a sua

antiguidade. A contabilização dos movimentos gerados em conta corrente (SICC) no sistema de informação financeira

(SIF), com vista à produção das demonstrações financeiras, é realizada através de valores agregados de vários

beneficiários via interface. 3 Na nota 8.2.31 do Anexo às DF do ISS é referido que relativamente “(…) à contabilização das provisões e tal como vem

sido relatado em anos anteriores, a contabilização com base em SICC para ser consistente exige a regularização dos

desvios entre os dois sistemas, o que no caso do ISS, IP representaria um valor elevado a refletir nas contas de gerência

de anos anteriores. Em termos operacionais ainda não foi possível efetuar a regularização do desvio em 2016, uma vez

que sendo este processo manual, implicava cerca de 3 meses para ficar concluído, com a consequente suspensão da

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

294

inferiores aos de SICC (menos € 14 m e € 21 m, respetivamente), procedendo o primeiro instituto ao nivelamento de saldos através de um lançamento de um proveito extraordinário no valor de € 14 m. No ISS, o valor dos saldos relevado no SIF está sobrevalorizado em € 102 M quando comparado com o valor dos saldos de SICC, conforme informação prestada pelo Instituto.

O ISS tem vindo ao longo dos últimos anos a divulgar nos seus relatórios de gestão e/ou os anexos às

demostrações financeiras que, para colmatar este constrangimento, está em desenvolvimento desde 2010

um programa que visa o nivelamento entre os dois sistemas e que estava dependente do desenvolvimento

da programação por parte do II1.

Não estando garantida a fiabilidade das demonstrações financeiras, o Tribunal tem formulado

recomendações em anteriores Pareceres sobre a CGE no sentido de que fossem implementados

procedimentos com vista à correção das inconsistências detetadas2. Sobre o ponto de situação dos

trabalhos com vista ao acolhimento da recomendação, a SESS, em agosto de 2017, informou que o “O projeto SICC-SIF preconiza uma remodelação quer da forma de extração de informação financeira com origem

no Sistema Integrado de Conta corrente SICC quer da contabilização em sede do Sistema de Informação

Financeira (SIF). Está previsto que o novo interface permita realizar as contabilizações com uma periodicidade

diária” e que a “(…) morosidade nos processos de aquisição de serviços de desenvolvimento de Software, em particular a autorização para extensão de encargos plurianuais, apenas permitiu constituir a equipa de

desenvolvimento no último trimestre de 2016, inviabilizando a implementação do interface em 2017”. Informa ainda que no decorrer deste ano têm sido desenvolvidas tarefas que visam a operacionalização do

Programa de Regularização de Saldos e que, atualmente, já estão desenvolvidas várias componentes,

“(…) prevendo-se ter no decurso do 1.º semestre de 2018 o projeto em produção com grande parte das operações implementadas, sendo que o fecho das contas desse ano já beneficiará destes desenvolvimentos”.

O valor das provisões para dívidas de cobrança duvidosa provenientes de pensões continua a ser

calculado pelo método das contas do razão (SIF), o que não permite relacionar a dívida com o devedor

e a data em que a mesma foi constituída nem validar a referida dívida e, consequentemente, a correção

do valor das provisões constituídas. O Tribunal tem formulado recomendações em anteriores Pareceres

sobre a CGE3 no sentido de que, aquando da constituição das provisões para cobrança duvidosa

provenientes de dívida de pensões, sejam conhecidos e tomados em consideração os elementos relativos

a cada beneficiário, tais como a antiguidade da dívida e o correspondente valor. Em sede de

acompanhamento de recomendações, a SESS informou que se mantém “(…) em desenvolvimento o novo Sistema de Informação de Pensões, não obstante ser possível, através deste sistema, obter no início de cada ano

listagens nominais com a situação em 31 de dezembro”. Contudo, não é indicado se essas listagens são ou não utilizadas para efeitos da constituição daquelas provisões.

contabilização mensal dos períodos contabilísticos enquanto esta estivesse em curso, originando que durante este

período não fosse aferida a execução orçamental. Esta concretização será implementada mediante um programa que se

encontra em desenvolvimento no II, IP, o qual permitirá a regularização deste processo de forma automática. No entanto,

apesar dos esforços desenvolvidos não foi possível dar como concluído e validado este programa, pelo que não foi

exequível proceder à correção dos desvios existentes”. Refere também que “(…) o cálculo da provisão acumulada foi realizado tendo como suporte os valores apurados pela aplicação SICC, à data de 31 de dezembro de 2016” e que “A realização desta contabilização permite ao ISS, IP: Refletir o valor do Ativo Líquido conforme informação obtida do

SICC; Refletir o valor do Ativo Líquido concordando com exercícios anteriores – ao efetuar o registo da provisão extraordinária, o valor do Ativo Líquido passa a ser compatível com o de exercícios anteriores; Assegurar a

recomendação do Tribunal de Contas no que se refere à disponibilização de uma listagem nominativa dos valores

provisionados em SIF comparativamente com SICC”. 1 Cfr. PCGE/2015, pág. 289, PCGE/2014, págs. 313 e 314, e PCGE/2013, pág. 301, disponíveis em www.tcontas.pt. Esta

informação é também divulgada na nota 6 do ADFOC. 2 Cfr. Recomendações: 80-PCGE/2015; 76-PCGE/2014 e 71-PCGE/2013, disponíveis em www.tcontas.pt. 3 Cfr. Recomendações: 81-PCGE/2015; 77-PCGE/2014; e 72-PCGE/2013, disponíveis em www.tcontas.pt.

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Tribunal de Contas

295

Em 2014 foi iniciado o processo de participação de dívida proveniente de prestações sociais

indevidamente pagas aos beneficiários1. Em 2016 foi participada dívida de 11.388 beneficiários (6.123

em 2015 e 3.395 em 2014), num total de € 10,6 M (€ 14,5 M em 2015 e € 14,6 em 2014). O valor cobrado, em 2016, foi de € 4,6 M (€ 2 M de processos instaurados em 2016, € 1,7 M de processos instaurados em 2015 e 0,8 M de processos instaurados em 2014). Pese embora a melhoria verificada ao

nível do número de contribuintes abrangidos pela participação de dívida a execução fiscal, constata-se

que em 31/12/2016 o valor em dívida de prestações sociais a repor participada a execução fiscal

representava apenas 4,3% (€ 29,7 M) do valor da dívida do ativo bruto (€ 694 M), indicador que evidencia uma ligeira melhoria relativamente a 2015 (3,7%), mas reflete ainda a ineficácia da segurança

social na cobrança de valores indevidamente pagos.

d) Outros devedores

O valor contabilizado em 2016 como dívidas de “Outros devedores” evidencia um acréscimo de € 40 M (4,1%), relativamente a 2015, totalizando em termos brutos o montante de € 996 M (€ 956 M em 2015), sendo que € 356 M estão relevados como de MLP (€ 372 M em 2015) e € 640 M como de curto prazo (€ 585 M, em 2015).

Apesar do montante de dívida de MLP ser bastante significativo, o valor das dívidas de cobrança

duvidosa é de apenas € 67 M. Tal facto resulta da existência de dívidas avultadas por parte de outras entidades públicas à segurança social, que, pelas partes envolvidas, não são consideradas como de

cobrança duvidosa. Algumas dessas dívidas tiveram a sua origem há mais de 30 anos. A nota 36 do

ADFOC divulga as dívidas mais relevantes e dá algumas evoluções sobre as mesmas.

Constata-se que, passados quase 10 anos após as recomendações do Tribunal de Contas, formuladas no

Relatório Auditoria à Área dos Devedores (não contribuintes) à Segurança Social2, aos Ministros do

Trabalho e da Solidariedade Social e da Saúde no sentido de promoverem diligências e/ou tomarem

decisões que permitissem resolver os diferendos existentes entre os dois ministérios relativamente às

dívidas relevadas no balanço da segurança social, as mesmas ainda não foram acolhidas. Trata-se das

dívidas com as seguintes origens:

 Adiantamentos concedidos, no período de 1980 a 1982, como indemnização pela Segurança Social a diversas Misericórdias, no montante de € 406.086,33, pelos prejuízos causados pela transferência para o Estado, nos anos de 1974/1975, dos hospitais que lhe pertenciam;

 Encargos com as despesas de saúde dos beneficiários da Caixa de Previdência do Pessoal dos TLP, no montante de € 88.652.877,04, que passaram a partir de 1979 para a responsabilidade do OE.

No referido relatório foi ainda recomendado ao Ministro do Trabalho e da Solidariedade que

diligenciasse pela regularização das dívidas das seguintes entidades:

 Direção Regional do Trabalho e Qualificação Profissional da Região Autónoma dos Açores, relativa a encargos, no valor de € 1.825.029,00, com o subsídio de desemprego daquela Região Autónoma, referente ao período de 01/05/1981 a 31/12/1984;

1 O valor das prestações pode tornar-se indevido por factos supervenientes ao momento do pagamento e que dão lugar a

reposições, como por exemplo o óbito, a cessação da situação de desemprego ou de doença, etc. 2 Relatório 16/2007 – 2.ª S – Auditoria à área dos devedores (não contribuintes) à Segurança Social. disponível em

www.tcontas.pt.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

296

 Caixa de Previdência do Pessoal do Caminho de Ferro de Benguela, referente aos montantes adiantados, no valor de € 5.714.939,29, no período de 1989 a 1993, cujo escopo foi, tão só, o de obviar aos constrangimentos então verificados (alegadamente, dificuldades de natureza cambial),

pelo que os mesmos tiveram sempre um caráter provisório e reembolsável.

Para além das dívidas suprarreferidas, permanece ainda um valor em dívida do Ministério da Agricultura

de cerca de € 85 M, relativo à aplicação do Decreto-Lei 159/2001, de 18/05, sendo recorrentemente divulgado no ADFOC que “Está em curso o processo de análise da dívida em causa através dos códigos de classificação de regimes incluídos”. No entanto, não se dá nota sobre os progressos alcançados anualmente que permitam aferir sobre a sustentabilidade da continuação da relevação financeira deste valor nas

demonstrações financeiras.

Em sede de Parecer sobre a CGE, o Tribunal tem reiterado anualmente a recomendação no sentido de

que deve diligenciar-se pela resolução das situações que permanecem em dívida há longos anos1. Sobre

as dívidas suprarreferidas, a SESS, em outubro de 2017, informou que:

 As dívidas relacionadas com o Ministério da Saúde, “(…) considerando a dimensão das mesmas, bem como o facto de subsistirem várias interações entre entidades do perímetro do Orçamento da

Segurança Social e entidades do Ministério da Saúde, foi solicitado quer ao IGFSS, quer ao Instituto da

Segurança Social, IP (ISS), um levantamento de todas as situações de dívidas/pagamentos, de e para com

organismos do Ministério da Saúde”. Informou ainda que o Gabinete está a analisar a possibilidade de propor ao Ministério da Saúde a realização de um “encontro de contas”;

 A dívida da Direção Regional do Trabalho e Qualificação Profissional da Região Autónoma dos Açores ao IGFSS “(…) encontra-se enquadrada no processo de negociação relativa a cobrança e pagamento de dívidas a organismos daquela Região Autónoma, que abrange entidades de todos os

Ministérios e cuja representação da República é efetuada pelo Ministério das Finanças. Considerando

que no âmbito da negociação em causa foi abordada a eventual prescrição de dívidas com esta

antiguidade, e atendendo à inexistência de quadro legal específico que regule a prescrição de dívidas

entre entidades do Estado, não obstante o prazo de prescrição geral previsto no Código Civil (20 anos)

foi sugerido ao Ministério das Finanças a consulta à Procuradoria-Geral da República por forma a obter

um parecer enquadrador para esta e outras situações semelhantes. Afigura-se que a clarificação legal

sobre a prescrição de dívidas entre entidades de natureza pública acima referida assegurará a

uniformização de procedimentos na regularização de dívidas com muita antiguidade relevadas, não só na

Conta da Segurança Social, como também de outros organismos”;

 Relativamente à dívida da Caixa de Previdência do Pessoal dos Caminhos de Ferro de Benguela “(…) dado que esta envolve uma entidade de um outro país, foi, em março de 2016 solicitada a colaboração do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), uma vez que, apesar das inúmeras e

frequentes diligências do MTSSS junto das autoridades angolanas competentes não se logrou registar

progressos significativos no processo em apreço. Nesta sequência, e considerando que não se encontrava

ainda calendarizado o relançamento da «Comissão Bilateral Luso-Angolana», foi proposto pelo

Ministério dos Negócios Estrangeiros, e por este Ministério aceite, a constituição de um Grupo de

Trabalho restrito, constituído expressamente para o efeito, tendo como mandato principal delinear um

plano de pagamentos para regularização dos montantes em causa. Ficou acordado, então, que o

mencionado Grupo de Trabalho seria constituído, pela parte portuguesa por dois representantes do MNE,

1 Recomendações: 83-PCGE/2015 e 84-PCGE/2015, 79- PGCE/2014, 73-PCGE/2013, 68-PCGE/2012, 71-PCGE/2011,

61-PCGE/2010, 61-PCGE/2009, 76-b)-PCGE/2008 e 74-PCGE/2007. Sobre a dívida do Ministério da Agricultura e

porque o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas informou desconhecer o valor do saldo em dívida, o

Tribunal, nos PCGE de 2006 e 2007, formulou as recomendações 93-PCGE/2006 e 75-PCGE/2007, no sentido de que se

procedesse à demonstração do apuramento da dívida e do direito de receber por parte do IGFSS. Disponíveis em

www.tcontas.pt.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 322

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Tribunal de Contas

297

um dos quais preside e por dois representantes deste Ministério, sendo um elemento pertencente a este

Gabinete e um elemento do IGFSS. Contudo, o Grupo de Trabalho em apreço ainda não logrou iniciar

funções, visto que, conforme última comunicação do MNE, aguardava-se a tomada de posse da nova

Administração Angolana por forma a retomar o assunto com os novos responsáveis”;

 Quanto à dívida do Ministério da Agricultura, por se tratar da situação com menor antiguidade irá “(…) desencadear a recolha de informação atualizada junto do IGFSS para futura articulação com o Ministério da Agricultura”.

O IGFSS, em sede de contraditório, informa que está a desenvolver diligências com vista ao

esclarecimento do valor atualmente relevado nas demonstrações financeiras1.

Do exposto, verifica-se que têm sido desenvolvidas diligências com vista a encontrar soluções para as

situações das dívidas que permanecem há longos anos por regularizar. Contudo, ainda nenhuma

produziu efeitos que permitam alterar a relevação contabilística destas dívidas.

As dívidas incluídas em cobrança duvidosa totalizam € 73 M e o montante provisionado corresponde a € 89,5% daquele valor. A dívida de cobrança duvidosa de MLP representa 91,4% (€ 67 M) e as provisões ascendem a 95,6% (€ 64 M), o que bem a reflete a antiguidade da dívida. Estas dívidas têm origem na aplicação do art. 63.º do Decreto-Lei 220/2006, de 3/112, às entidades empregadoras (€ 52 M), em contraordenações aplicadas a beneficiários e a estabelecimentos com e sem fins lucrativos (€ 12 M), rendas de imóveis (€ 3,9 M) e de pagamentos indevidos de despesas com pessoal (€ 822 m) . Do total de dívida de cobrança duvidosa apenas foi participada para efeitos de cobrança em execução fiscal

€ 2.640,84, que respeita, na quase totalidade, a dívida com origem em vencimentos a repor, situação reveladora de que não está a ser cumprido o disposto no art. 2.º do Decreto-Lei 42/2001, de 09/02, com

a redação dada pela Lei 64/2012, de 20/123. O Tribunal formulou recomendações4 no sentido de que

devem ser instaurados processos de cobrança coerciva visando a recuperação de todas as quantias

indevidamente pagas pelas instituições de segurança social, independentemente da sua natureza e da

existência ou não de meios automáticos que permitam a participação para tal efeito. Em sede de

acompanhamento de recomendações, a SESS informou que “Em 2017 o processo de participação de dívida de prestações sociais efetuado pelo ISS encontra-se definido com uma periodicidade mensal”, não se pronunciando sobre o os procedimentos relativamente às dívidas enquadradas em outros devedores.

Em sede de contraditório, o ISS alega que, relativamente às dívidas de pessoal “(…) iniciou no decorrer do ano de 2016 o processo de participação junto da Autoridade Tributária (AT), de dívidas dessa natureza, com

o envio de um conjunto de processos, de forma individualizada, a diversos Serviços de Finanças. Este processo

tem-se revelado complexo, dadas as dificuldades operacionais relacionadas com o mesmo, nomeadamente a

forma como se deve proceder à participação dos valores junto da AT”.

1 Informação prestada através do ofício n.º 29043, de 15/11/2017, com registo de entrada no Departamento em 16/11/2017,

e, por isso, não incluído no texto do Anteprojeto de Parecer remetido para efeitos de contraditório. 2 Nas situações em que a cessação do contrato de trabalho por acordo teve subjacente a convicção do trabalhador, criada

pelo empregador, do preenchimento das condições previstas no n.º 4 do art. 10.º (motivos que permitam o recurso ao

despedimento coletivo ou por extinção do posto de trabalho), e tal não se venha a verificar, o trabalhador mantém o

direito às prestações de desemprego, ficando o empregador obrigado perante a segurança social ao pagamento do

montante correspondente à totalidade do período de concessão da prestação inicial de desemprego. 3 Define o âmbito de dívidas à segurança social para efeitos cobrança coerciva, nas quais se incluem as coimas e outras

sanções pecuniárias, bem como reposições de pagamentos indevidos efetuados por qualquer instituição de segurança

social. 4 Recomendação 85-PCGE/2015 e 78-PCGE/2014, disponíveis em www.tcontas.pt.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 323

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

298

12.2.3.1.3. Disponibilidades

O grupo patrimonial Disponibilidades, cuja composição se apresenta no quadro infra, continua a revelar-

se o mais expressivo no cômputo do ativo líquido (76,6%), cifrando-se na ordem dos € 17.537 M, aumentando 6,3% (€ 1.043 M, em termos absolutos) face ao ano 2015. Neste âmbito, o valor dos Títulos negociáveis representa cerca de 59,9% (€ 13.721 M) no total do ativo líquido (€ 22.909 M) e os Depósitos em instituições financeiras e Caixa cerca de 16,7% (€ 3.817 M).

Quadro C. 25 – Disponibilidades

(em milhões de euros)

Disponibilidades Valor ∆ 2016/2015

2014 2015 2016 Valor %

Títulos negociáveis 13 533 13 498 13 721 223 1,7

Ações 1 450 1 267 1 557 290 22,9

Obrigações e títulos de participação 0 0 0 0 0

Títulos da dívida pública 11 936 12 058 12 084 27 0,2

Outros Títulos 0 17 18 1 7

Outras aplicações de tesouraria 147 156 61 -95 -60,7

Depósitos em instituições financeiras e Caixa 2 148 2 997 3 817 820 27,4

Depósitos em instituições financeiras 2 147 2 995 3 814 820 27,4

Caixa 1 2 2 0 12,5

Total 15 681 16 495 17 537 1 043 6,3

Fonte CSS 2014 a 2016.

No cômputo das Disponibilidades, a rubrica Títulos de dívida pública revela-se igualmente como a mais

relevante (68,9%), em resultado da aplicação da Portaria 216-A/2013, de 02/071. Esta parcela está

exclusivamente relevada no FEFSS e é constituída por títulos de dívida pública nacional ou garantida

pelo Estado Português (€ 9.463 M), por dívida pública estrangeira (€ 1.292 M) e ainda por CEDIC (€ 1.329 M). O ligeiro acréscimo (0,2%) verificado no agrupamento de Títulos de dívida pública, face a 2015, ocorreu nas aplicações em CEDIC (€ 327 M) e em dívida pública estrangeira (mais € 370 M), já que a dívida pública nacional decresceu € 547 M.

Para o acréscimo do grupo patrimonial das Disponibilidades, à semelhança do que aconteceu no ano

precedente, contribuiu, em grande medida, o aumento dos Depósitos em instituições financeiras (27,4%,

correspondendo a um incremento de € 820 M, em termos absolutos), nomeadamente em Depósitos à Ordem, com um acréscimo na ordem dos 78,5% (passou de € 1.249 M, em 2015, para € 2.230 M, em 2016), para o qual contribuem, de forma determinante, os Depósitos do IGFSS, tendo os Depósitos à ordem

aumentado cerca de € 817 M (mais 93,7%, face a 2015). Este Instituto, no final de 2016, detinha cerca 82,2% (€ 3.135 M) do total dos Depósitos em instituições financeiras, € 1.689 M em Depósitos à Ordem e € 1.446 M em Depósitos a prazo. O DLEO estabelece que o IGFSS deve recorrer aos serviços do IGCP para a realização de operações ativas, ficando, no entanto, “(…) autorizado a constituir depósitos bancários exclusivamente necessários à atividade dos serviços da segurança social”2. Do total de depósitos detidos pelo IGFSS verifica-se que apenas 15,6% (€ 488 M) estão depositados no IGCP, em contas à ordem destinadas a acolher, essencialmente, as transferências do OE ou fluxos financeiros com outras entidades

públicas.

1 Que estabelece que o Conselho Diretivo do IGFCSS “procede à substituição dos ativos em outros estados da OCDE por

dívida pública portuguesa até ao limite de 90% da carteira”. 2 Cfr. n.º 4 e 5 do art. 56.º do Decreto-Lei 18/2016.

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Página 325

Tribunal de Contas

299

O IGFSS informa que a constituição de depósitos de curto prazo no sistema financeiro, por parte do

Instituto, “(…) decorre da sua missão e atribuições, especificamente no que respeita à gestão financeira unificada dos recursos económicos consignados no Orçamento da Segurança Social (art. 3.º do Decreto-Lei 84/2012, de 30

de março), competindo-lhe, na área financeira, a otimização dos recursos do Sistema de Segurança Social,

designadamente por recurso a instrumentos disponíveis no mercado, que visem assegurar a rendibilização de

excedentes de tesouraria (alínea a) do n,º 5 do Decreto-Lei n.º 84/2012, de 30 de março). (…). Esta política de aplicações financeiras foi homologada superiormente (Despacho n.º 23/2013/SESS, de 2013.02.11), de forma a

poder admitir-se, transitoriamente, taxas de rendibilidade mais reduzidas, decorrentes das aplicações em CEDIC,

em simultâneo com os depósitos de curto prazo em entidades do sistema financeiro, com taxas de rendibilidade

superiores.”

Sobre esta matéria importa referir que o despacho invocado se refere à política de aplicações financeiras

em 2013, tendo presente a vigência do PAEF, destinando-se a vigorar apenas no referido ano, não sendo

pertinente a sua invocação para justificar os investimentos realizados em 2016, cujos critérios

subjacentes foram, atentas as aplicações realizadas, diferentes dos aí definidos.

Face ao exposto, considera-se que o IGFSS continua a não dar cumprimento ao DLEO, pelo que se

reitera a posição assumida pelo Tribunal em Pareceres anteriores1 de que, atento o disposto nos n.ºs 4 e

5 do art. 56.º do DLEO, as aplicações de fundos em depósitos bancários encontram-se confinadas

exclusivamente ao necessário à atividade dos serviços da segurança social, não justificando quaisquer

outros objetivos a sua constituição. Acresce que não tendo ainda sido publicada a Portaria que visa

regulamentar a composição dos limites das aplicações de capital a efetuar pelo IGFSS, prevista no n.º 7

do art. 3.º do Decreto-Lei 84/20122, deverá o Instituto dar cumprimento ao disposto no DLEO.

O IGFSS, em sede de contraditório, alega que “Dado que o Tribunal de Contas expressa entendimento de que o texto atual do Decreto-Lei de Execução Orçamental não enquadra a atual política de aplicações financeiras, a

questão vai ser colocada superiormente, no sentido de adequar as normas do Decreto-Lei de execução

orçamental, neste domínio, ao Decreto-Lei 84/2012, de 30 de março (missão e atribuições do IGFSS, IP)”.

A componente Outras aplicações de tesouraria, que respeita a unidades de participação em fundos de

investimento detidos pelo FEFSS, foi a única componente das Disponibilidades onde se verificou um

decréscimo (60,7%).

No final do exercício de 2015, permaneciam por reconciliar 49.518 documentos, correspondendo a um

valor absoluto de € 111 M, em 63 contas bancárias, vide Quadro C.26. No exercício de 2016 foram reconciliados 44.203 documentos, em 60 contas bancárias, perfazendo o montante absoluto de € 92 M, representando 89,3% e 83,1%, respetivamente, no número e valor dos documentos reconciliados face aos

não reconciliados no final do exercício de 2015. Para o efeito concorreu, em grande medida, a

regularização dos movimentos constantes de três contas bancárias tituladas pelo IGFSS, no montante

€ 68 M3 (73,9%), que acolhem o registo de receita de contribuições. Destes, € 45 M respeitam a documentos que se encontravam por reconciliar desde 2007 e 2008.

1 Cfr. Parecer sobre a CGE/2014, págs. 316 e 317, e Parecer sobre a CGE/2015, pág. 297, ambos disponíveis em

www.tcontas.pt. 2 Em sede de Parecer sobre a CGE/2015, o qual se encontra disponível em www.tcontas.pt, o Tribunal formulou uma

recomendação (57-PCGE/2015) aos Ministros das Finanças e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, no sentido

de procederem à publicação da Portaria. 3 Documentos do banco € 29 M e documentos da contabilidade € 39 M.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 325

Página 326

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

300

Quadro C. 26 – Reconciliações bancárias (em número e valor)

(em número e milhares de euros)

Banco Contabilidade Total Número Valor Número Valor Número Valor

Documentos por reconciliar em 31/12/2015 3 380 54 410 46 138 56 789 49 518 111 199

IGFSS 2 373 41 147 44 357 51 384 46 730 92 531

ISS 1 007 13 264 1 781 5 405 2 788 18 669

Documentos reconciliados em 2016 1 668 43 790 42 535 48 630 44 203 92 421

IGFSS 943 31 365 40 839 43 273 41 782 74 638

ISS 725 12 426 1 696 5 357 2 421 17 783

Documentos por reconciliar em 31/12/2016 3 269 43 924 40 623 75 889 43 892 119 813

IGFSS 2 483 39 540 38 940 70 890 41 423 110 430

ISS 786 4 385 1 683 4 999 2 469 9 384

Fonte: SIF.

No final de 2016 encontravam-se por reconciliar 43.892 documentos, totalizando € 120 M (valor absoluto), em 62 contas bancárias1, vide Quadro C.27. Não obstante a existência de documentos por

reconciliar, verifica-se uma melhoria significativa na regularização dos documentos com maior

antiguidade, como se constata do quadro infra.

Quadro C. 27 – Documentos por reconciliar 31/12/2014 – 31/12/2016

(em número e milhões de euros)

2014 2015 2016 Peso relativo (valor) N.º Doc. Valor N.º Doc. Valor N.º Doc. Valor 2014 2015 2016

Doc. por reconciliar há mais de um ano 235 113 439 14 634 57 5 315 19 87,3% 51,2% 15,7%

Doc. por reconciliar do próprio ano 34 221 64 34 884 54 38 577 101 12,7% 48,8% 84,3%

Total 269 334 503 49 518 111 43 892 120 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: SIF.

Comparando a situação no último triénio (2016/2014), o número de documentos por reconciliar de anos

anteriores baixou 97,7%. Já o número de documentos por reconciliar do próprio ano cresceu no mesmo

período 12,7%. Em volume financeiro, o decréscimo entre 2014 e 2016 é de 95,7% nos documentos por

reconciliar há mais de um ano, no entanto, verifica-se um acréscimo de 58,0% nos documentos por

reconciliar do próprio ano, no mesmo período.

Um dos efeitos dos documentos que transitam de ano por reconciliar é a não relevação nas

demonstrações financeiras de valores disponíveis nas contas bancárias (39)2, traduzindo-se numa

subvalorização do saldo de Disponibilidades de, pelo menos, € 8 M e de execução orçamental de € 5 M3, havendo mesmo situações em que o saldo contabilístico de algumas contas (4) é negativo (€ 2 M). O quadro seguinte reflete esta situação.

1 IGFSS, 29 contas e ISS 33 contas. 2 IGFSS (17) e ISS (22). 3 Segundo o ISS, uma das contas está relacionada com operações de tesouraria e não contribui para o saldo de execução

orçamental (conta relativa a reembolsos efetuados por países estrangeiros e destinados a pagamento de despesas

suportadas por Portugal e que o Instituto deverá devolver às entidades portuguesas que inicialmente as suportaram).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 326

Página 327

Tribunal de Contas

301

Quadro C. 28 – Subvalorização de saldos em disponibilidades (IGFSS e ISS)

(em milhões de euros)

Entidade Contas do razão

com saldo negativo

Extrato bancário Ano do depósito

dos valores (depósitos)

IGFSS -1,9 3,7 2008 a 2016

ISS 4,2 2009 a 2016

Total -1,9 7,9

Subvalorização do saldo de disponibilidades

7,9

Subvalorização do saldo de execução orçamental

5,3

Fonte: SIF.

Conforme se observa no quadro anterior, a antiguidade dos valores depositados que ainda não tiveram

o devido reflexo nas demonstrações financeiras situa-se entre 2008 e 2016. No entanto, o maior volume

respeita a documentos do exercício em análise que representam 67,6% (€ 5 M) do valor das disponibilidades não relevado nas demonstrações financeiras, correspondendo 47,4% deste valor a

documentos do mês de dezembro de 2016. Ainda assim, 32,4% dos valores por registar correspondem

a disponibilidades depositadas nas contas bancárias entre 2008 e 2015. O quadro seguinte espelha o

valor e o número de documentos que se encontra por relevar nas demonstrações financeiras consolidadas

e de cada um dos institutos envolvidos.

Quadro C. 29 – Antiguidade dos documentos por contabilizar (IGFSS e ISS)

(em milhares de euros)

IGFSS ISS Total

Ano do

depósito N.º Doc. Valor % (valor) N.º Doc. Valor % (valor) N.º Doc. Valor % (valor)

2008 53 74,8 2,0 53 74,8 0,9

2009 60 156,2 4,3 3 1,3 0,0 63 157,5 2,0

2010 126 114,7 3,1 16 8,4 0,2 142 123,1 1,6

2011 166 190,5 5,2 22 4,6 0,1 188 195,1 2,5

2012 134 203,7 5,5 26 11,8 0,3 160 215,5 2,7

2013 125 109,0 3,0 27 21,5 0,5 152 130,5 1,6

2014 163 453,4 12,3 37 217,6 5,1 200 670,9 8,5

2015 267 442,7 12,0 61 558,1 13,1 328 1 000,8 12,6

2016 843 1 929,0 52,5 481 3 421,9 80,6 1 324 5 350,9 67,6

Total 1 937 3 673,9 100,0 673 4 245,3 100,0 2 610 7 919,1 100,0

Fonte: SIF.

O ISS é o que apresenta o maior volume financeiro de disponibilidades não registadas, respeitando mais

de 80% deste valor ao ano de 2016, deste, cerca de 66,0% foi depositado no mês de dezembro1. No

IGFSS, o valor das disponibilidades não registado relativo a 2016 foi de 52,5%, deste, 14,6% respeitam

a depósitos efetuados no mês de dezembro2.

1 O valor depositado no mês de dezembro de 2016 foi de € 2,3 M; deste montante, € 1,7 M (73,8%) foi depositado no dia

30/12/2016. 2 O valor depositado no mês de dezembro de 2016 foi de € 280,7 m; deste montante, € 31 m (11%) foi depositado nos dias

30 e 31.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 327

Página 328

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

302

Da análise aos documentos que não foram relevados nas demonstrações financeiras até 31/12/2016,

constatou-se que, em outubro de 2017, já havia sido registado cerca de 52,5% daquele montante

(€ 4,2 M)1, e inclui documentos depositados no exercício de 2016 mas também em anos anteriores.

Em anos anteriores, o IGFSS e o ISS têm vindo a justificar a demora na contabilização da receita com

dificuldades de identificação da sua proveniência, designadamente por falta de informação de entidades

terceiras que procedem aos depósitos. Sobre esta matéria o Tribunal formulou recomendações em

Pareceres anteriores2 no sentido de que fosse estabelecida articulação permanente entre as entidades

externas ao perímetro de consolidação da segurança social que procedem aos depósitos de verbas em

contas bancárias do ISS e do IGFSS, designadamente a Autoridade Tributária (AT), o Instituto de Gestão

e Equipamentos do Ministério da Justiça (IGFEJ) e organismos estrangeiros. Em sede de

acompanhamento de recomendações, a SESS informou que se mantêm “(…) os contactos com as entidades mencionadas” e que em julho de 2017 se realizou “(…) uma reunião com o ISS, IP, PCM e ESPAP, tendo-se detetado que o IGCP não estava a ler corretamente a informação enviada no ficheiro de pagamento. Neste

contexto, as entidades da segurança social têm remetido contributos para melhoria dos procedimentos a adotar

para a identificação dos contribuintes nos ficheiros de pagamento”. Na mesma sede, a SEAJ informou que “O IGFEJ tem estado em estreita articulação com o Núcleo de Contabilidade e Controlo Financeiro do IGFSS e com a Unidade de Controlo Previsional e Financeiro do ISS para que possam dispor da informação necessária à

célere identificação dos pagamentos realizados no âmbito dos processos judiciais para efeitos de contabilização

da receita. Nesta medida, envia mensalmente um ficheiro Excel com os detalhes de todos os pagamentos3”. No entanto, “Quanto à aplicação informática e porque se tem verificado que o número de pagamentos mensais realizados pelo IGFEJ a favor do IGFSS e do ISS não é muito elevado, a mesma ainda não foi incluída no

planeamento de 2016”. O Ministro das Finanças, em sede de acompanhamento de recomendações, informou que se tratava de “Matéria acompanhada no âmbito da SS”.

12.2.3.2. Fundos próprios e passivo

12.2.3.2.1. Fundos próprios

Os “Fundos próprios” totalizam € 21.542 M e evidenciam um decréscimo de 5,5% relativamente ao ano de 2015 (menos € 1.258 M). A conta “Património” é a mais significativa, representando cerca de 71,3% (€ 15.366 M) desses fundos e releva um acréscimo, em relação ao ano anterior, de 4,0% (mais € 595 M), devido essencialmente à integração do resultado líquido do FEFSS de 2015 no património do Fundo

(€ 480 M). O total das contas de “Resultados” é a segunda parcela mais significativa (€ 5.133 M) e apresenta um decréscimo de 26,5% (menos € 1.847 M), decorrente de variações negativas de ambas as componentes: “Resultado líquido”, menos 44,7% (€ 656 M), em que muito contribuiu o resultado líquido negativo do FEFSS (€ 561 M), e “Resultados transitados”, menos 21,6% (€ 1.191 M), essencialmente devido à constituição, pela primeira vez, de provisões para cobrança duvidosa de contribuintes relativa

a dívida participada a execução fiscal e que se encontra “suspensa” por declaração de falência e insolvência (€ 1.968 M) e ao ajustamento da dívida de contribuintes realizada pelo ISSA (menos € 105 M)4.

1 IGFSS € 1,8 M e ISS € 2,4 M. 2 Recomendações 87-PCGE-/2015 e 81-PCGE/2014, disponíveis em www.tcontas.pt. 3 A acompanhar a resposta foram também remetidosà DGTC e-mails remetidos pelo IGFEJ ao ISS e ao IGFSS durante o

ano de 2017 com informação sobre os pagamentos efetuados em 2017, bem como de informação complementar na

sequência de pedidos de esclarecimentos solicitados pelos institutos da segurança social. 4 Para mais desenvolvimentos cfr. Ponto 12.2.3.1.2 – Dívida de terceiros, b) Contribuintes.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 328

Página 329

Tribunal de Contas

303

Em 2015 foi publicado e entrou em vigor o novo regime do Fundo de Garantia Salarial1, nos termos do

qual o fundo goza de personalidade jurídica e autonomia administrativa, patrimonial e financeira e

capacidade judiciária2, o que se revela compatível com a Diretiva 2008/94/CE, que faz impender sobre

os Estados-Membros o dever de criação de uma “instituição”. Contudo, apesar de a Diretiva inculcar, na alínea a) do seu art. 5.º, que a instituição tem património próprio, e não obstante a previsão legal nacional

da sua autonomia financeira e patrimonial, regista-se que, por um lado, uma parte do financiamento, tal

como prevista no art. 14.º, n.º 2 do regime, não se encontra ainda regulada3 e, por outro, que o Fundo

não dispõe de património próprio, sendo este de difícil constituição, designadamente atento o facto de

os saldos gerados pelas receitas atribuídas ao Fundo reverterem para o orçamento da segurança social4.

Em sede de acompanhamento das recomendações formuladas em Pareceres anteriores sobre a CGE5 a

SESS informou, a propósito desta matéria, que “Encontra-se em fase de elaboração de proposta de portaria que fixa os termos do financiamento do FGS”. Na mesma sede, o Ministro das Finanças informou o seguinte: “Matéria acompanhada no âmbito da SS”.

Dada a inexistência de relevação contabilística do valor dos juros vencidos e não pagos, provenientes

de dívida contributiva, em 31 de dezembro de cada exercício económico, os Resultados transitados

encontram-se afetados na exata medida do valor desses juros que deveriam ter sido relevados nas

demonstrações financeiras respetivas6.

Em 2016 foi anulada a provisão para riscos e encargos, constituída em 2015 pelo ISSA para fazer face

a encargos com pensões futuras, o que foi divulgado na nota 38 do ADFOC, movimento com impacto

nas contas de Resultados transitados e Provisões para outros riscos e encargos, referindo esta nota que a

anulação foi realizada “(…) de forma a uniformizar procedimentos no subsetor da segurança social, de acordo com a Recomendação n.º 65-PCGE/2015”.

12.2.3.2.2. Passivo

O “Passivo” ascende a € 1.367 M e é constituído pelas “Provisões para riscos e encargos” (€ 20 M), pelas “Dívidas a terceiros – Curto prazo” (€ 275 M) e pelos “Acréscimos e diferimentos” (€ 1.072 M), evidenciando um aumento de cerca de € 178 M (15,0%) em relação a 2015. Este acréscimo decorre, do efeito conjugado do acréscimo verificado nos “Acréscimos e diferimentos” (€ 190 M, 21,5%) e das reduções ocorridas nas “Provisões para riscos e encargos” (€ 6 M, 24,2%), refletindo a anulação das provisões constituídas em 2015 pelo ISSA, para fazer face a encargos futuros com pensões, e nas

“Dívidas a terceiros” (€ 6 M, 2%).

1 Aprovado pelo Decreto-Lei 59/2015, de 21/04. De acordo com o art. 1.º deste Decreto-Lei, é transposta para a ordem

jurídica interna a Diretiva 2008/94/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22/10/2008. 2 Art. 15.º do regime. 3 Com efeito, a norma legal prevê que o financiamento provenha parcialmente do Estado, em termos a fixar por portaria

dos membros do Governo responsáveis pelas áreas das finanças, do emprego e da segurança social, e esta portaria não

foi ainda emitida. De resto, idêntica previsão constava já do diploma precedente, o Decreto-Lei 139/2001, e nunca

chegou, na sua vigência, a ser publicada. A restante parcela do financiamento é assegurada pelos empregadores, através

de verbas respeitantes à parcela dos encargos com políticas ativas de emprego e valorização profissional da taxa

contributiva global, nos termos previstos no Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança

Social, como resulta também da mencionada norma. 4 Art. 14.º, n.º 3 do regime. 5 Cfr. Recomendações: 89-PCGE/2015; 82-PCGE/2014 e 75-PCGE/2013, disponíveis em www.tcontas.pt. 6 Para mais desenvolvimentos cfr. Ponto 12.2.3.1.2 – Dívida de terceiros, b) Contribuintes.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 329

Página 330

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

304

O aumento verificado nos Acréscimos e diferimentos fica a dever-se, na sua quase totalidade, ao acréscimo

nos Proveitos diferidos, com especial incidência nos saldos de Ações de formação profissional (mais

€ 101 M, 36,8%) e de Programas (mais € 96 M, 18,9%) e na redução dos Juros vincendos em € 11 M (36,5%), relativos a acordos prestacionais fora do processo executivo. Salienta-se que a redução do valor

dos juros não ocorreu pela imputação aos proveitos do exercício dos juros recebidos no ano de 2016,

uma vez que a conta 7953-Proveitos e ganhos extraordinários – Juros vincendos não apresenta qualquer valor

registado. Já em 2014 e 2015 este movimento contabilístico também não ocorreu, facto que incumpre o

princípio da especialização do exercício estabelecido no POCISSSS. O Tribunal, em Pareceres

anteriores, tem vindo a pronunciar-se sobre a deficiente contabilização destes juros1, pelo que se mantêm

as reservas quanto à fiabilidade do valor relevado das DF relativo aos proveitos diferidos com origem

em juros vincendos.

As dívidas a terceiros relativas a prestações sociais a pagar a beneficiários, tem vindo, desde 2013, a ser

objeto de ajustamentos, em virtude da existência de um desvio entre o saldo relevado no sistema de

informação financeira (SIF) e o constante do sistema de contas correntes de beneficiários (SICC), dado

que a conta 266 – Prestações sociais a pagar apresentava sobrevalorizações ou subvalorizações2. Em 2015,

só o ISS procedeu ao ajustamento, no montante de € 0,5 M. Em 2016 foi divulgada a realização de um ajustamento, mas já de valor pouco significativo (€ 2.791,50). Também na conta 2685 – Outros credores – créditos não reclamados3 se têm vindo a verificar desvios entre SIF e SICC. Os ajustamentos divulgados

através da nota 6 do ADFOC referem-se apenas aos realizados para efeitos de contabilização da

prescrição destes valores a favor da segurança social no ano de 20164. No entanto, de acordo com

informação disponibilizada pelo ISS o desvio do saldo da conta 2685 – Outros credores – créditos não

reclamados (SIF) e o constante do sistema de contas correntes de beneficiários (SICC), era em

31/12/2016 de € 4 M. A causa das divergências de saldos entre os dois sistemas encontra-se descrita no ponto 12.2.3.1.2. – Dívidas de terceiros, c) Prestações sociais a repor.

12.2.4. Demonstração de resultados

O quadro seguinte espelha os proveitos e ganhos e os custos e perdas ambos provenientes da atividade

desenvolvida pelas entidades incluídas no perímetro de consolidação da SS ao longo do triénio

2014/2016, bem como o valor dos respetivos resultados operacionais, financeiros, extraordinários e

líquidos.

1 Cfr. Recomendações: 79-PCGE/2015, 84-PCGE/2014, 76-PCGE/2013, 71-PCGE/2012, 75-PCGE/2011, 64-PCGE/2010

e 64-PCGE/2009, todos disponíveis em www.tcontas.pt. Para mais desenvolvimentos cfr. Ponto 12.2.4. - Demonstrações

de resultados deste documento. 2 Estes desvios são apurados em função das contas das várias prestações sociais. Nos anos de 2013 e 2014, o ISS e o ISSA

procederam a ajustamentos. Em 2015 só o ISS realizou esta operação. O ISSM nunca procedeu a nenhum ajustamento

ao longo do triénio. Os ajustamentos mais significativos têm sido realizados pelo ISS. Em 2013, o desvio foi de € 7,5 M. (SIF=€ 11,1 M e SICC=€ 3,6 M), em 2014 foi de € 130,3 m (SIF=€ 3,2 M e SICC=€ 3,3 M) e, em 2015, foi de € 0,5 M (SIF=€ 2,5 M e SICC=€ 3 M).

3 Valores de prestações sociais devolvidosà segurança social colocadas a pagamento aos beneficiários, mas cujo

pagamento não ocorreu, por várias ordens de razão, tais como: NIB de destino inválido, moradas incorretas, etc.). 4 De acordo com a nota 6, os três institutos procederam ao registo de prescrições a favor da segurança social (ISS € 6 M,

ISSA € 70 m e ISSM € 72 m). Em fase anterior a este procedimento, o ISS e o ISSA procederam ao ajustamento da conta 2685- Outros credores – créditos não reclamados no montante de € 23 m e € 25 m, respetivamente.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 330

Página 331

Tribunal de Contas

305

Quadro C. 30 – Demonstração de resultados da segurança social – 2014 a 2016

(em milhões de euros)

Valor Variação 2015/14 Variação 2016/15

2014 2015 2016 Valor % Valor %

Custos e Perdas

Transferências correntes/Subsídios concedidos e prestações sociais 23 724 23 056 23 676 -668 -2,8 619 2,7

Custos com o pessoal 280 240 243 -40 -14,4 3 1,4

Fornecimentos e serviços externos 78 70 59 -8 -10,0 -11 -16,1

Provisões do exercício 469 323 336 -147 -31,2 13 4,0

Amortizações do exercício 18 17 18 -1 -5,8 1 8,3

Outros custos e perdas operacionais 11 43 15 33 305,9 -29 -66,5

Total dos custos operacionais 24 580 23 749 24 346 -831 -3,4 597 2,5

Custos e perdas financeiras 305 499 879 195 63,8 380 76,0

Custos e perdas extraordinárias 3 912 4 314 4 195 403 10,3 -119 -2,8

Total dos Custos e Perdas 28 796 28 563 29 421 -233 -0,8 857 3,0

Proveitos e Ganhos

Impostos e taxas 14 262 14 371 15 036 110 0,8 665 4,6

Transferências e subsídios correntes obtidos 10 421 9 594 9 837 -827 -7,9 243 2,5

Outros proveitos e ganhos operacionais 215 142 155 -73 -34,0 13 9,2

Total dos proveitos operacionais 24 898 24 107 25 028 -790 -3,2 920 3,8

Proveitos e ganhos financeiros 2 038 993 805 -1 045 -51,3 -188 -18,9

Proveitos e ganhos extraordinários 3 932 4 928 4 397 996 25,3 -531 -10,8

Total dos Proveitos e Ganhos 30 868 30 029 30 230 -840 -2,7 202 0,7

Resultados operacionais 318 358 682 40 12,7 324 90,4

Resultados financeiros 1 733 494 -74 -1 239 -71,5 -568 -115,0

Resultados extraordinários 21 614 202 593 2 829,2 -411 -67,1

Resultado líquido do exercício 2 072 1 466 810 -606 -29,3 -656 -44,7

Fonte: CSS/2014, CSS/2015 e CSS/2016.

Os totais dos custos e dos proveitos apresentaram um acréscimo, sendo o mais expressivo nos custos

(3,0%), impulsionado pelos custos operacionais (2,5%), que registaram o maior acréscimo com

transferências, subsídios e prestações sociais, mas também pelos custos financeiros (mais 76%)

destacando-se nesta sede a maior valorização das menos valias potenciais de ativos financeiros do

FEFSS, em especial as referentes aos títulos de dívida pública. Os proveitos apresentam uma evolução

mais comedida (0,7%), não obstante refletirem um maior desempenho a nível operacional (3,8%)

relativamente aos custos da mesma natureza, foram, contudo, substancialmente reduzidos por via dos

decréscimos verificados quer nos proveitos financeiros, relacionados com os menores ganhos nas

diferenças de câmbio realizadas e na alienação de aplicações de tesouraria, quer nos proveitos

extraordinários, estes relacionados com o decréscimo de registos de declarações de remunerações

relativas a anos anteriores ou da sua correção1.

Na sequência das verificações e análises realizadas observa-se o seguinte:

 No que respeita às amortizações, continuam a verificar-se situações que desrespeitam a legislação e as regras contabilísticas, o que nada contribui para a fiabilidade dos valores relevados

nas demonstrações financeiras. Com efeito, existem situações em que não são calculadas

amortizações sobre o valor das edificações desde 2002, e outras em que existem valores que

foram incorretamente transferidos para as parcelas de terreno, não obstante respeitarem a valores

1 Este decréscimo pode ter origem quer em menor volume de Declarações de Remunerações (DR) relativas a anos

anteriores e registadas pela primeira vez em 2016, quer em menor número de correções efetuadas nas DR. Com efeito,

quando as DR relativas a anos anteriores são objeto de correções no ano seguinte, o seu anterior registo é estornado,

através do registo de um custo extraordinário e o valor corrigido é registado como proveito extraordinário.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 331

Página 332

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

306

que têm origem em benfeitorias inicialmente contabilizadas como imobilizado em curso, o que

incumpre o disposto nos arts. 21.º e 22.º do CIBE. Por outro lado, continuam a ser indevidamente

efetuadas amortizações sobre o valor da parcela do terreno, incumprindo o disposto na alínea g)

do art. 36.º do CIBE. Acresce que também nem sempre são devidamente atribuídos e registados

os períodos de vida útil dos imóveis, quer em função da natureza dos materiais e tecnologias

utilizadas, quer em função do tempo de vida útil já decorrido nos imóveis adquiridos em estado

de uso, quer em função da verificação do seu grau de degradação, incluindo os casos em que dos

edifícios só restam ruínas. Todas estas situações têm impacto no valor líquido dos imóveis e no

cálculo das amortizações do exercício e acumuladas, bem como nos resultados líquido do

exercício e transitados. Estima-se que as subvalorizações e sobrevalorizações do exercício sejam

de € 98 m e de € 65 m, respetivamente, pelo que o resultado líquido se encontra subvalorizado em € 33 m;

 Não está a ser cumprido o princípio da especialização dos exercícios para os juros devidos com origem em dívida contributiva. Com efeito, não se encontram relevados nas demonstrações

financeiras os juros vencidos até 31/12/2016. De acordo com o POCISSSS, os proveitos são

reconhecidos quando obtidos, independentemente do seu recebimento, devendo incluir-se nas

demonstrações financeiras dos períodos a que respeitam. Assim, os proveitos relevados na DR

consolidada estão subvalorizados. Efetuada uma estimativa para o valor em dívida que se

encontrava em processo executivo em 31/12/2016, só para a dívida constituída a partir de 2011,

o valor dos juros vencidos no exercício de 2016 é de cerca de € 156 M1, no entanto, se se considerar também a dívida participada a execução fiscal e constituída até 2010, que também em

31/12/2016 se encontrava relevada no balanço consolidado, a estimativa do valor dos juros para

o mesmo exercício ascende a € 372 M2;

 O valor relevado nas demonstrações financeiras, na conta 692 – Custos e perdas extraordinários – Divídas incobráveis (€ 33 M) e divulgado no ADFOC e no Mapa n.º 7 da CGE3 relativo ao montante de dívida contributiva prescrita em 2016 não corresponde à dívida efetivamente

prescrita neste ano. Com efeito, o seu valor foi de € 48 M. Esta divergência resulta do método utilizado para cálculo do valor de dívida prescrita, que tem por base o apuramento da diferença

entre o valor da dívida prescrita acumulada em 2016 e o valor da dívida prescrita acumulada em

2015, fazendo assim a compensação do valor das anulações das prescrições. Este método,

embora não afete o resultado líquido do exercício, é violador do princípio da não compensação

estabelecido no POCISSSS4 e propicia a falta de transparência nas contas, pois não dá a conhecer

nem o valor efetivo de prescrições, nem o das anulações ocorridas no ano;

 Continuaram a verificar-se anulações de prescrições de dívida contributiva resultantes de pagamentos de valores que foram considerados prescritos em anos anteriores. No entanto, o

registo destes valores não é contabilizado na conta 792 – Proveitos e ganhos extraordinários –

Recuperação de dívida5, dado que é utilizado o método suprarreferido, não dando cumprimento ao

1 A metodologia de cálculo está expressa no ponto 12.2.3.1.2. – Dívida de terceiros, b) Contribuintes. 2 A metodologia de cálculo está expressa no ponto 12.2.3.1.2. – Dívida de terceiros, b) Contribuintes. 3 O valor divulgado é de € 34,5 M. O valor de € 33,4 M respeita a dívida contributiva participada para efeitos de execução

fiscal e o valor de € 1,1 M corresponde a coimas e a custas de processos de contraordenações não participadas para efeitos de execução fiscal.

4 “Não se deverão compensar saldos (…) de contas de custos e perdas com contas de proveitos e ganhos (…)” cfr. ponto

3.2 – Princípios contabilísticos do POCISSSS. 5 De acordo com as notas explicativas do POCISSSS “Esta conta regista o montante recebido já considerado

anteriormente como incobrável”.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 332

Página 333

Tribunal de Contas

307

estabelecido no POCISSSS, afetando os resultados operacionais e extraordinários e prejudicando

a transparência das demonstrações financeiras;

 Os procedimentos utilizados na constituição de provisões para cobranças duvidosas de contribuintes não cumpre integralmente o princípio da não compensação estabelecido no

POCISSSS, uma vez que não foram reconhecidos como proveitos extraordinários decorrentes de

redução de provisões1 todos os valores prescritos ou cobrados no ano de 2016 relativos a dívida

de anos anteriores com provisões constituídas. Este procedimento subvaloriza os resultados

extraordinários e também os resultados operacionais, não sendo, contudo, possível, com os dados

disponíveis, determinar o seu impacto;

 Os critérios estabelecidos para a constituição de provisões de dívida contributiva apresentam várias fragilidades. Em primeiro lugar, porque apenas concorrem para a classificação de dívidas

de cobrança duvidosa as que estão em mora há mais de seis meses e que já foram participadas a

execução fiscal. Assim, a dívida não participada, ainda que em mora há mais de seis meses, não

é considerada de cobrança duvidosa. Segundo, porque existem critérios distintos quanto à dívida

que está a ser regularizada através de planos prestacionais. Com efeito, a dívida que está a ser

regularizada ao abrigo de acordos prestacionais no âmbito do processo executivo não está a ser

considerada de cobrança duvidosa; já a dívida que está a ser regularizada através de acordos

prestacionais fora do processo executivo e que anteriormente foi participada para execução fiscal

é considerada de cobrança duvidosa pelo valor da dívida que reside em execução fiscal, embora

suspensa, e que já não corresponde ao valor em dívida, pois não tem em consideração os valores

já cobrados;

 A conta 7953 – Proveitos e Ganhos Extraordinários-Juros vincendos não reflete qualquer valor cobrado no ano de 2016, dado que ainda não foram realizados os procedimentos necessários à

contabilização destes proveitos e, por conseguinte, a conta está subvalorizada no preciso

montante a que corresponde a parcela dos juros vincendos incluídos nas prestações cobradas em

2016 relativas aos planos prestacionais fora do processo de execução fiscal. Não se mostram,

assim, acolhidas as recomendações formuladas pelo Tribunal em anteriores Pareceres2. No

âmbito do acompanhamento das recomendações, a SESS informou que, no início de 2017, foi

realizada uma tentativa de implementar totalmente o processo dos acordos prestacionais.

“Contudo, foram identificados alguns obstáculos no desenvolvimento de outros processos que condicionavam a qualidade e fiabilidade da contabilização da componente de pagamento de acordos.

Assim, e uma vez que não foi possível assegurar a correção dos erros com efeitos às contas de 2016, foi

decidido dar continuidade às correções em 2017, não se colocando em produção a componente da

compensação dos acordos”;

 A informação que serve de suporte ao cálculo das provisões para cobrança duvidosa de pensões não inclui dados que permitam identificar o devedor, a respetiva dívida e a data em que a mesma

foi constituída, pelo que não é possível validar o valor da dívida com origem em pagamentos

indevidos de pensões, nem o valor dos reforços e das reduções ocorridas em 20163.

1 Registo na conta 7962 – Redução de provisões - Dívida de contribuintes. 2 Cfr. Recomendações: 79-PCGE/2015; 84-PCGE/2014; 76-PCGE/2013, 71-PCGE/2012, 75-PCGE/2011, 64-PCGE/2010

e 64-PCGE/2009, todos disponíveis em www.tcontas.pt. 3 Em termos líquidos, verificou-se um acréscimo no valor das provisões acumuladas de € 2,5 M (valor obtido por

comparação entre os valores indicados nas notas 34 do ADFOC de 2016 e 2015). Em 2016, o valor total das provisões

acumuladas das contas em que é possível identificar pensões foi de € 32,8 M e, em 2015, de € 30,3 M. Entre as seis contas que integram este valor contata-se que três foram reforçadas e três reduzidas.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

308

13. ANÁLISES COMPLEMENTARES

13.1. Caracterização do sistema de pensões da responsabilidade da SS

Enquadrado no modelo social europeu, o sistema público de pensões português está ancorado em

princípios de repartição da riqueza1 e de reforço da função redistributiva do Estado2. As prestações aqui

inseridas destinam-se a cobrir os riscos inerentes às eventualidades de invalidez, velhice e sobrevivência.

No sistema previdencial – repartição, a atribuição e o valor das prestações encontram-se dependentes da condição do beneficiário enquanto contribuinte do sistema; já no sistema social de cidadania, a sua

atribuição depende exclusivamente das suas condições de vida3.

13.1.1. Caracterização da população alvo

O número total de pensões atribuídas pelo SSS atingiu, no final de 2016, 2.994.711 (mais 2.199 que em

2015; 0,1%). Entre 2012 e 2016 o número de pensões apresentou um crescimento de 0,4%. Por

eventualidade, destaca-se a velhice, que representou 68,0% do total, seguindo-se-lhe a sobrevivência

com 24,0% e a invalidez com 8,0%.

Quadro C. 31 – Beneficiários de pensões

(em unidades e %)

Anos Invalidez vhr Velhice vhr Sobrevivência vhr Total vhr

2012 277 113 -2,0 1 991 191 2,1 713 340 0,5 2 981 644 1,3

2013 266 880 -3,7 2 018 828 1,4 715 812 0,3 3 001 520 0,7

2014 258 732 -3,1 2 007 143 -0,6 721 307 0,8 2 987 182 -0,5

2015 248 347 -4,0 2 022 849 0,8 721 316 0,0 2 992 512 0,2

2016 238 433 -4,0 2 036 116 0,7 720 162 -0,2 2 994 711 0,1

Fonte: Estatísticas da SS, dados extraídos a 28/08/2017.

Quando comparado o universo dos beneficiários ativos (contribuintes) com o dos beneficiários passivos

(pensionistas4) do SSS, constata-se que, enquanto o último manteve uma evolução crescente (0,4%)

entre 2012 e 2016, o universo dos contribuintes apresentou um decréscimo de 0,3%, no mesmo intervalo

de tempo (mais 0,9% em termos homólogos).

1 Sistema contributivo, em que a despesa com pensões é suportada pelas contribuições da população ativa empregada e

respetivas entidades empregadoras e deve “ser fundamentalmente autofinanciado” (art. 54.º da Lei 4/2007, de 16/01) (sistema previdencial – repartição).

2 Sistema não contributivo que tem por objetivo assegurar benefícios a camadas da população que não tenham contribuído

para o sistema ou que o tenham feito insuficientemente (sistema de proteção social de cidadania – subsistemas de solidariedade e proteção familiar).

3 A atribuição de pensões do regime não contributivo (solidariedade e proteção familiar) encontra-se relacionada com as

condições de vida do beneficiário e assenta numa base de repartição da riqueza criada (transferência de recursos entre os

cidadãos, de modo a que, num determinado contexto económico e social, todos tenham igualdade de acesso a um conjunto

mínimo de bens e serviços básicos). 4 Por inexistência de dados fiáveis e por simplificação da análise, considera-se que a cada pensão corresponde um

beneficiário passivo (pensionista).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 334

Página 335

Tribunal de Contas

309

Gráfico C. 8 – Beneficiários ativos e passivos do SSS – índice de dependência

Fonte: Estatísticas da SS.

Assim, o rácio que compara o número de beneficiários ativos com o número de beneficiários passivos

do sistema decresceu de forma gradual e constante até 2012 (de 1,6 em 2008 para 1,4 em 2012), tendo-

se mantido constante a partir de 2012 (em 1,4) até 2016 (Gráfico C.8) a relação entre beneficiários ativos

e passivos do SSS.

Esta tendência decorre da conjugação de vários fatores de natureza estrutural, designadamente, do

aumento da esperança de vida aos 65 anos1, do envelhecimento da população2, da baixa taxa de

substituição geracional3 e de natureza conjuntural, estes relacionados com o ciclo económico, que

tendem a pressionar o SSS em dois sentidos: diminuição do número de contribuintes líquidos e aumento

precoce do número de beneficiários de pensões de velhice, que, mesmo não dispondo de algumas

condições de acesso a essas prestações, mas no pressuposto de que não voltarão a ser absorvidos pelo

mercado de trabalho, o vão sendo pelo sistema4.

A recuperação da economia, conjugada com políticas ativas de emprego, inverteram a tendência

decrescente do número de beneficiários ativos, ainda que ligeiramente (mais 0,9% em termos

homólogos). Já no que diz respeito ao número de beneficiários passivos, as políticas de restrição de

acesso a esta condição, designadamente, o reforço das restrições de acesso às pensões sociais, ancoradas

na condição de recursos, a alteração da idade de acesso à pensão de velhice e a suspensão da aplicação

do regime de acesso antecipado a essa mesma pensão, parecem ter sido suficientes para inverter a

tendência crescente constante do número de beneficiários passivos do sistema até 2013, mas já não

tiveram o mesmo efeito em 2015 e 2016, com o n.º de beneficiários passivos a apresentar um

1 19,31 anos em 2016 que compara com 19,19 anos para 2015. – www.ine.pt – Estimativas da População Residente em

Portugal – 2016. 2 Por cada 100 indivíduos com menos de 15 anos existem 150,9 indivíduos com 65 ou mais anos (131,1, em 2012); por

cada 100 indivíduos em idade ativa residiam em Portugal, em 2016, 33 idosos (26 em 2006); por cada 100 pessoas com

idades compreendidas entre os 55 e os 64 anos existiam, em 2016, 80 pessoas com idades entre os 20 e os 29 anos. Desde

2010 que o número de pessoas em idade potencial de saída do mercado de trabalho não é compensado pelo número de

pessoas em idade potencial de entrada no mercado de trabalho. – www.ine.pt – Estimativas da População Residente em Portugal – 2016.

3 Em 2016 o número médio de crianças por mulher em idade fecunda foi de 1,36, que compara com 1,28 em 2012 e com

2,1 para se verificar uma efetiva renovação da população. – www.ine.pt – Estimativas da População Residente em Portugal – 2016.

4 Desemprego de longa duração: trabalhador sem emprego, disponível para o trabalho e à procura de emprego há 12 ou

mais meses.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 335

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

310

crescimento de 0,2% e 0,1%, respetivamente, em resultado da alteração do âmbito da suspensão do

regime especial de acesso à pensão de velhice1 e, bem assim, do comportamento do mercado de trabalho

que não foi suficientemente dinâmico para integrar os desempregados de longa duração e das camadas

etárias superiores (acima dos 55 anos de idade, desempregados há mais de um ano e baixas qualificações

profissionais e académicas).

13.1.2. Pensões médias mensais da SS

Nas eventualidades consideradas, foi a pensão de velhice que apresentou os valores médios mensais

mais elevados (€ 538,00), seguida da de invalidez (€ 448,50) sendo a pensão de sobrevivência a que exibiu os valores médios mais baixos (€ 257,30). Em todos os casos, as pensões médias situaram-se acima dos valores mínimos fixados por lei (velhice e invalidez € 263,00, sobrevivência € 157,80) e acima dos valores do limiar da pobreza (€ 439,00 por adulto equivalente2), com exceção dos valores médios das pensões de sobrevivência que se situaram em 58,6% daquele valor. Já o valor mínimo

legalmente estabelecido para as pensões de velhice e invalidez em Portugal rondou, em 2016, 59,9%

daquele valor.

Segundo o Eurostat, a partir de 2006 e até 2011, as taxas de substituição do rendimento convergiram

para a média da UE27, que rondou os 50% dos rendimentos da população ativa com idades próximas

da idade da reforma. A partir de 2012, esta taxa retomou uma tendência de crescimento superior a essa

média, sendo que em 2015 apresentavam já um desvio de 4 p.p.3.

Gráfico C. 9 – Taxa de substituição do rendimento

Fonte: Eurostat.

1 O Decreto-Lei 8/2015, de 14/01, veio permitir, durante o ano de 2015, o acesso antecipado à pensão de velhice de

trabalhadores com 60 anos de idade e 40 anos de carreira contributiva. Segundo a PORDATA, entre 2012 (ano em que

foi suspenso o regime de flexibilização relativo à antecipação da idade de acesso à pensão de velhice) e 2016, o n.º de

pensões antecipadas atribuídas pela SS evoluiu de 175.088 para 161.530 (menos 7,7%). 2 INE – rendimento e condições de vida e rendimento das famílias (UE – SILC) - 2016 – dados provisórios - Linha da

pobreza – limiar do rendimento abaixo do qual se considera que uma família ou um indivíduo estão em risco de pobreza. Foi convencionado no âmbito da UE que esse valor corresponde a 60% da mediana do rendimento por adulto equivalente

de cada país, indicador em queda desde o início da crise económico-financeira, tendo passado de € 421,00 mensais em 2010 (€ 416,00 em 2011 e € 409,00 em 2012) para € 411,00 em 2013, com o ano de 2014 a apresentar já alguma recuperação: € 422,00, recuperação que se manteve para os anos seguintes (€ 439,00, para os anos de 2015 e 2016).

3 Taxa de substituição: rácio entre a mediana das pensões individuais das pessoas reformadas na faixa etária 65-74 anos e

a mediana dos ganhos individuais das pessoas em atividade na faixa etária 50-59 anos, excluindo outras prestações sociais

- http://ec.europa.eu/eurostat/tgm/download.do?tab=table&plugin=1&language=en&pcode=tsdde310.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 336

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Tribunal de Contas

311

Face ao período homólogo, os valores médios mensais das pensões em pagamento pelo CNP sofreram

acréscimos em todas as modalidades (invalidez, velhice e sobrevivência, mais 2,6%, 2,1% e 2,4%,

respetivamente), acréscimos que divergiram significativamente da evolução do índice de preços no

consumidor que, no mesmo período, teve uma evolução positiva de 0,6%.

Gráfico C. 10 – Pensões médias mensais

Nota: Cálculos DGTC (despesa paga/n.º de beneficiários publicado nas estatísticas da segurança social). As pensões dos antigos combatentes foram desagregadas por

eventualidade, de modo a obter comparabilidade com os anos anteriores. Dados estatísticos publicados pelo II, IP, extraídos em 28/08/2017.

Fonte: Estatísticas da SS e INE.

13.1.3. Despesas com pensões

Em 2016, a despesa com pensões e complementos paga pelo SSS totalizou € 16.124 M, mais 2,4% que no período homólogo anterior. Desta, 78,3% destinou-se a fazer face aos encargos com pensões de

velhice1, correspondendo 73,4% ao sistema previdencial – repartição. As pensões de invalidez2 e sobrevivência3 representaram, no seu conjunto, 21,7% do total da despesa com pensões, continuando as

pensões de invalidez a constituir a menor parcela (8,0%). As despesas com pensões aumentaram nas

eventualidades de velhice e sobrevivência (mais 2,8% e mais 2,2%, respetivamente), tendo apenas a

eventualidade de invalidez registado um decréscimo (menos 1,5%) em termos homólogos.

1 Prestação paga aos trabalhadores por conta de outrem, trabalhadores independentes e beneficiários do seguro social

voluntário que reúnam as seguintes condições: terem 66 anos e 2 meses ou mais anos de idade e uma carreira contributiva

com um mínimo de 15 anos (ou 144 meses para os beneficiários do seguro social voluntário). Nos casos em que o

beneficiário não cumpra o requisito inerente ao prazo de garantia (carreira contributiva), poderá haver lugar à atribuição

de uma pensão social de velhice. 2 Destinada a proteger os beneficiários em situações de incapacidade permanente para o trabalho, de causa não profissional,

sendo modelada de acordo com o grau de incapacidade (relativa ou absoluta), e pode ser acumulada com rendimentos do

trabalho, no caso de invalidez relativa, com os limites legalmente fixados. 3 Prestação paga aos familiares do beneficiário falecido, destinando-se a compensar a falta de rendimentos motivada pelo

seu falecimento.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

312

Quadro C. 32 – Pensões e complementos

(em milhões de euros)

Designação 2012 2013 2014 2015 2016 13/12

%

14/13

%

15/14

%

16/15

%

TCMA

12/16 %

Pensão invalidez 1 375 1 386 1 351 1 303 1 283 0,8 -2,5 -3,6 -1,5 -1,7

Pensão sobrevivência 2 005 2 096 2 158 2 175 2 223 4,5 3,0 0,8 2,2 2,6

Pensão velhice 11 564 12 350 12 445 12 276 12 618 6,8 0,8 -1,4 2,8 2,2

Total 14 944 15 832 15 954 15 753 16 124 5,9 0,8 -1,3 2,4 1,9

Sistema previdencial 10 756 11 583 11 686 11 437 11 836 7,7 0,9 -2,1 3,5 2,4

Sistema de proteção social e de cidadania 3 671 3 743 3 771 3 829 3 809 1,9 0,8 1,5 -0,5 0,9

Subsistema proteção familiar 371 361 353 353 353 -2,9 -2,1 -0,1 -0,1 -1,3

Subsistema solidariedade 3 300 3 382 3 418 3 476 3 456 2,5 1,1 1,7 -0,6 1,2

Sistema regimes especiais 516 506 497 488 479 -1,8 -1,8 -2,0 -1,8 -1,8

Total 14 944 15 832 15 954 15 753 16 124 5,9 0,8 -1,3 2,4 1,9

Nota: (1) As pensões dos antigos combatentes e as que respeitam ao sistema regimes especiais foram desagregados por eventualidade de acordo com os registos contabilísticos.

(2) Os valores relevados no quadro incluem apenas os valores registados em transferências para as famílias.

Fonte: CSS/2012 a 2016.

No quinquénio analisado (2012 – 2016), a despesa com pensões e complementos do SSS foi sendo objeto de um conjunto de medidas de natureza regressiva1, com o objetivo de colocar e manter esta

despesa num contexto estrutural sustentável. Porém, a rigidez do sistema e da estrutura social que o

sustenta, com uma camada populacional envelhecida relevante e a excecionalidade de algumas das

medidas aplicadas, não permitiram que as mesmas fossem suficientes para a obtenção de um

comportamento regressivo desta despesa, de forma consistente e continuada.

Com a execução de 2012 a evidenciar apenas uma desaceleração do crescimento (3,4%, que compara

com um crescimento de 4,1% em 2010 e 3,1% em 2011), esta evolução já não se verificou no período

subsequente (2013), ano em que a despesa com pensões cresceu 5,9%.

Em 2014, muito por conta da manutenção da suspensão da aplicação das regras de antecipação da idade

de acesso à pensão de reforma por velhice iniciada em 2012, da alteração da idade normal de acesso a

essas mesmas prestações dos 65 para os 66 anos e das alterações introduzidas às regras de formação do

valor das pensões (mais penalizantes para as novas), a despesa com pensões apresentou um crescimento

bastante moderado (0,8%) sendo que em 2015 apresentou mesmo uma evolução regressiva (menos

1,3%), influenciada pela alteração de metodologia de registo contabilístico das pensões unificadas que

passaram a integrar a rubrica de “Transferências correntes para a administração central”, deixando, por esta razão, de estar relevadas em transferências correntes para as famílias - pensões (em termos comparáveis

esta despesa apresentou um crescimento de 1,2%).

1 Suspensão da regra de atualização das pensões, com exceção das pensões mínimas, suspensão da atualização do IAS,

suspensão, durante o PAEF, das normas que regulam a antecipação da idade no acesso à pensão de velhice, com exceção

dos desempregados de longa duração e, em 2015, também dos empregados com 60 anos de idade e carreira contributiva

de 40 anos, criação e alargamento da CES (em 2015 esta medida foi revertida para os níveis de 2011), revisão do Código

Contributivo com a ampliação das bases de incidência contributiva e o aumento das taxas aplicáveis a certos grupos

profissionais, aumento da idade normal de acesso à pensão de reforma por velhice, alteração da fórmula de cálculo da

pensão, alteração da fórmula de cálculo do fator de sustentabilidade com agravamento de penalizações por reforma

antecipada, reforço da aplicação da condição de recursos na atribuição de pensões e consideração de toda a carreira

contributiva para efeitos de determinação do valor da pensão.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 338

Página 339

Tribunal de Contas

313

Já no ano de 2016 verificou-se a retoma da sua evolução natural, consubstanciada numa tendência

crescente, consequência dos efeitos da evolução demográfica1 sobre o sistema de pensões e da reversão

das medidas restritivas da despesa adotadas durante a vigência do PAEF (mais 2,4%).

No quinquénio iniciado em 2012, a despesa com pensões sofreu um acréscimo global na ordem dos

7,9% (10,6%, em termos comparáveis), com as pensões de velhice e de sobrevivência a apresentarem

um padrão de crescimento superior (mais 9,1% e 10,9%, respetivamente).

13.1.4. Financiamento do sistema de pensões da SS

O sistema de pensões da SS é financiado por receitas provenientes das quotizações dos beneficiários

ativos e das contribuições das entidades empregadoras (sistema previdencial - repartição), por

transferências do OE e por receitas fiscais consignadas (sistema de proteção social de cidadania -

subsistema de solidariedade e subsistema de proteção familiar). O volume de receitas obtido em cada

momento varia de acordo com o crescimento económico (capacidade de a sociedade criar riqueza), com

o nível de emprego (que determina a relação entre contribuintes líquidos e beneficiários líquidos do

sistema) e com a duração média da esperança de vida aos 65 anos (período de tempo em que a pensão

será paga a um determinado beneficiário). A sustentabilidade do sistema de repartição depende ainda da

capacidade que a sociedade tem de assegurar taxas de substituição da população2 (em cada geração) que

devem ser consistentes com as necessidades de financiamento futuras (equilíbrio atuarial3) do sistema e

da solidariedade intergeracional4.

No atual contexto, caracterizado por um forte abrandamento do ciclo económico (até 2014), baixas taxas

de substituição da população (menos população ativa)5, elevadas taxas de desemprego (menos

população ativa empregada), com salários mais baixos e elevados fluxos migratórios para o exterior, as

receitas inerentes ao financiamento do sistema de pensões tendem a tornar incerta a sustentabilidade

financeira deste, uma vez que as despesas com pensões tendem a aumentar, designadamente as relativas

às pensões de velhice e de sobrevivência, por via do aumento da esperança média de vida aos 65 anos6,

enquanto as receitas (contributivas) tendem a diminuir ou a manter crescimentos moderados,

particularmente no médio e longo prazos.

Apresenta-se a seguir (Quadro C.33) a evolução, nos últimos 5 anos (2012 - 2016), da despesa com

pensões do sistema contributivo e das receitas inerentes ao seu financiamento.

1 Face a 2015, a população com 65 ou mais anos aumentou para 2.176.640 indivíduos (mais 35.816) e a população mais

idosa (com 85 ou mais anos) foi estimada em 285.616 (mais 12.234), enquanto o número de jovens (entre os 0 e os 15

anos) regrediu para 1.442.416 (menos 18.416 indivíduos). Em 2016, por cada 100 jovens, residiam em Portugal 151

idosos. Desde 2000 que o número de idosos é superior ao número de jovens. (Estimativas da População Residente em

Portugal (2016) - www.ine.pt). 2 Segundo os últimos dados publicados pelo INE, entre 2012 e 2016 o índice sintético de fecundidade em Portugal evoluiu

de 1,28 nados vivos por mulher residente em idade fecunda para 1,36. Face a 2013, 2014 e 2015, anos em que o índice

foi de 1,21, 1,23 e 1,30, respetivamente, verificou-se uma recuperação deste indicador. 3 As receitas atuais e futuras em conjunto com os fundos de reserva devem ser suficientes para financiar a despesa prevista

no médio e longo prazos. 4 Compromisso entre gerações que estabelece que a geração futura estará disponível para dispor de uma parte do seu

rendimento para pagamento das pensões da geração anterior. 5 Segundo o INE, em 31/12/2016 residiam em Portugal 10.309.573 indivíduos, menos 31.757 que em 2015, o que se traduz

numa taxa de crescimento efetiva negativa de 0,31% (menos 0,32% em 2015), reflexo da conjugação dos saldos natural

e migratório (saldo natural: menos 23.409 pessoas; saldo migratório: menos 8.348 pessoas). 6 Segundo o INE, a esperança média de vida aos 65 anos, em 2016, foi de 19,31 anos para a média da população (19,19

anos em 2015).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

314

A despesa com as pensões deste sistema evoluiu em 2016 no sentido crescente no que respeita às pensões

de velhice (mais 4,1%) e sobrevivência (mais 2,6%), tendo-se verificado um recuo nas pensões de

invalidez (menos 1,6%). No seu conjunto, estas despesas cresceram 3,4% em termos homólogos (mais

13,7% no quinquénio iniciado em 2012)1.

Tendencialmente deficitário no período observado (que contrasta com o primado da

autossustentabilidade presente na sua génese), o sistema previdencial - repartição foi, em 2016,

reforçado com verbas provenientes do OE destinadas ao financiamento do seu défice no valor de

€ 650 M, situação que se verificou também em anos anteriores (2012 a 2015, num valor total de € 4.510 M), anos em que os saldos acumulados já não foram suficientes para financiar os défices do sistema.

Quadro C. 33 – Pensões do regime contributivo (sistema previdencial – repartição)

(em milhões de euros)

2012 2013 2014 2015 2016

Financiamento 10 247 10 528 10 699 11 012 11 588

Contribuições 10 053 10 341 10 543 10 834 11 405

Receitas cessantes 180 171 140 163 168

Transferências da CGA 14 16 16 15 15

Despesa com pensões 10 756 11 583 11 686 11 830 12 235

Pensões pagas pela SS 10 756 11 583 11 686 11 314 11 707

Invalidez 913 927 901 843 830

Velhice 8 189 8 920 8 992 8 664 9 023

Sobrevivência 1 654 1 735 1 793 1 807 1 854

Transferências para a CGA – Pensões Unificadas

515 528

Necessidade de Financiamento 509 1 055 987 818 646

Nota: Cálculos DGTC. Para efeitos desta análise, a receita de contribuições foi expurgada dos valores

destinados ao financiamento das prestações sociais imediatas. A despesa com pensões inclui o

valor das transferências para a CGA para pagamento de pensões da responsabilidade da SS e não

inclui a quota parte da despesa com pensões unificadas da responsabilidade da CGA.

Fonte: CSS/2012 a 2016.

O quadro seguinte evidencia a despesa efetuada com as pensões do sistema regimes especiais e as

receitas inerentes ao seu financiamento. Esta despesa, tendencialmente decrescente, tem um efeito

neutro sobre o sistema, uma vez que a responsabilidade do seu financiamento está totalmente cometida

ao Ministério das Finanças e à CGA2.

Em 2016 o valor da transferência do OE superou as necessidades de financiamento em € 7 m, situação que também se verificou nos anteriores exercícios (€ 21 m em termos acumulados).

1 A Portaria 65/2016, de 01/04, procedeu à atualização das pensões de invalidez e velhice atribuídas no âmbito do RGSS

e do regime de proteção social convergente (CGA) de valor igual ou inferior a € 628,83. Esta atualização resultou da reposição das regras de atualização das pensões previstas na Lei 52-B/2006, de 29/12, efetuada nos termos do Decreto-

Lei 254-B/2015, de 31/12. 2 Decreto-Lei 127/2011, de 31/12, com as alterações introduzidas pelas Leis 20/2012, de 14/05, e 66-B/2012, de 31/12, e

Decretos-Leis 88/2012, de 11/04, e 145/2014, de 8/10.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 340

Página 341

Tribunal de Contas

315

Quadro C. 34 – Pensões do sistema regimes especiais

(em milhões de euros)

2012 2013 2014 2015 2016

Pensões 516,0 506,5 497,3 487,6 478,9

Necessidade de financiamento 516,0 506,5 497,3 487,6 478,9

Financiamento 516,0 506,5 497,3 487,6 478,9

Transf. CGA - BPN 0,1 0,3 0,4 0,6 0,7

Transf. do MSSS - Reg Subs. Bancário 515,8 506,2 497,0 487,0 478,2

Saldo após transferências 0,007 0,007 0,007

Fonte: CSS/2012 a 2016. Cálculos da DGTC.

Totalmente financiadas pelo OE, a despesa com as pensões do regime não contributivo (sistema de

proteção social de cidadania – Quadro C.35), ao longo do período observado, oscilaram entre os 24,6% do total das pensões pagas em 2012 e os 23,6% em 2016, apresentando neste quinquénio uma evolução

crescente na ordem dos 3,8%, o equivalente a uma taxa média da variação anual na ordem dos 0,9%.

Neste segmento também continua a ser a velhice a eventualidade que mais pressão exerce sobre o

sistema (78,7% em 2016).

Quadro C. 35 – Pensões do regime não contributivo (sistema de proteção social de cidadania)

(em milhões de euros)

2012 2013 2014 2015 2016

Subsistema proteção familiar 371 361 353 353 353

Pensão invalidez 60 59 59 60 60

Pensão sobrevivência 27 27 26 26 26

Pensão velhice 285 275 268 267 267

Subsistema solidariedade 3 300 3 382 3 418 3 476 3 456

Pensão invalidez 402 399 391 388 382

Pensão sobrevivência 323 334 338 341 343

Pensão velhice 2 574 2 649 2 688 2 746 2 732

Despesa com Pensões 3 671 3 743 3 771 3 829 3 809

Necessidade de Financiamento 3 671 3 743 3 771 3 829 3 809

Fonte: CSS/2012 a 2016.

Em matéria de sustentabilidade, trata-se de um sistema que assenta na repartição da riqueza produzida

na economia em que se insere, medida pela evolução do PIB que, no mesmo período observado,

evidenciou uma evolução positiva (mais 10,0% no quinquénio; mais 3,0% em termos homólogos).

O Gráfico C.11 compara a evolução da despesa com pensões no quinquénio (2012 – 2016) com a evolução do PIB no mesmo período. Desta observação resulta um desfasamento consistente das

variáveis em confronto, entre 2012 e 2013, que já vinha de 2010, com os anos de 2014 a 2016 a

apresentarem um comportamento de convergência.

Em percentagem do PIB, as despesas com pensões evoluíram dos 8,9% em 2012 para 8,7% em 2016

(9,2% em 2014 e 9,3% em 2013), efeito que decorre quer da evolução da despesa com pensões quer da

evolução da variável de comparação.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

316

Gráfico C. 11 – Evolução da despesa com pensões no quinquénio

Fonte: CSS/2012 a 2016 e INE.

Entre 2010 e 2012, a evolução da despesa com pensões em termos relativos foi de retração (período de

ajustamento da despesa pública), situação que se inverteu em 2013, com as despesas com pensões a

retomarem uma tendência evolutiva crescente, próxima daquela que se verificou antes do esforço de

ajustamento da despesa pública (mais 5,0% em 2009 que compara com 5,9% em 2013), efeito da

reversão da reposição do pagamento dos subsídios de férias e Natal.

Já em 2014, a tendência evolutiva crescente manteve-se, mas mais moderada, com a despesa com

pensões a crescer a um ritmo inferior ao da riqueza nacional. O abrandamento das despesas com pensões

verificado em 2014 deveu-se essencialmente a dois fatores: alteração da idade normal de acesso à pensão

de velhice dos 65 anos em 2013 para os 66 em 2014 e a manutenção da suspensão do regime de

flexibilidade de acesso antecipado à pensão de velhice, apenas excecionado para desempregados de

longa duração que reunissem determinados requisitos.

Em 2015, a evolução da despesa com pensões apresentou mesmo um comportamento regressivo face a

2014 (menos 1,3%), beneficiando das medidas de ajustamento desta despesa que se mantiveram, mas

sobretudo da introdução de metodologia de registo contabilístico introduzida para registo das pensões

unificadas. Em termos comparáveis, verificou-se uma aceleração do crescimento destas despesas (mais

1,2%), motivado pela pressão demográfica sobre o sistema e pela introdução de uma nova exceção à

suspensão do regime de flexibilidade de acesso antecipado à pensão de velhice para os beneficiários

com 60 ou mais anos e pelo menos 40 anos de carreira contributiva.

Em 2016 manteve-se o quadro do ano anterior, com as pensões a apresentarem uma tendência crescente

em termos homólogos, influenciadas pelas politicas de reposição de rendimentos às famílias, que

beneficiaram da evolução positiva do PIB no mesmo período.

A despesa com pensões do sistema não contributivo apresentou uma evolução crescente no mesmo

período, apenas recuando em 2011, ano em que os valores das pensões mínimas não foram sujeitos a

qualquer atualização. Assim, entre 2012 e 2015 estas pensões apresentaram um crescimento de 3,8%

(que compara com um crescimento de 10,0% para o PIB1, no mesmo período), tendência justificada por

uma aplicação mais moderada das medidas de ajustamento da despesa pública a estas pensões, as mais

baixas de todo o SSS.

1 INE – Contas Nacionais Trimestrais, publicadas em 23/09/2016.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 342

Página 343

Tribunal de Contas

317

13.1.5. Pensões – Análise procedimental e processual

Foi realizada uma auditoria orientada à área das pensões, nas eventualidades velhice, invalidez e

sobrevivência, atribuídas e com início de processamento em 2016, com incidência nas pensões de maior

volume financeiro e nas com efeitos retroativos a períodos temporais alargados. Neste âmbito, foram

selecionadas duas amostras, respetivamente de 125 processos de pensões de velhice e invalidez e 30 de

sobrevivência.

A auditoria teve como objetivo avaliar o sistema de controlo interno, a conformidade legal e a

regularidade na atribuição das pensões, bem como a fiabilidade dos dados constantes das aplicações

informáticas da segurança social, designadamente quanto aos dados necessários para efeitos de

atribuição e pagamento de pensões e a relevação dos processamentos e pagamentos na Conta da

Segurança Social.

Do trabalho desenvolvido e testes efetuados no âmbito da auditoria resultou o seguinte:

 Da análise dos 125 processos1 relativos a pensões de velhice e de invalidez, à luz, entre outros, das regras e princípios aplicáveis, concluiu-se que, num número relevante de processos2, os

cálculos subjacentes à determinação do montante da pensão a atribuir foram irregulares. Essas

situações resultam fundamentalmente da omissão de remunerações para efeitos do cálculo da

pensão, à data da respetiva atribuição, sobretudo nos casos em que as relativas aos últimos meses

de desconto ainda não estavam registadas na aplicação informática de Gestão de Remunerações

ou não se encontravam validadas, e de situações de sobreposição3. Outras situações identificadas

respeitam à atribuição incorreta do número de meses que concorrem para a taxa de bonificação4.

Relativamente às situações de sobreposição, o II, em sede de contraditório, alega que

“Contrariamente ao indicado na nota em rodapé (...), a aplicação de cálculo de pensões obtém e preenche automaticamente para efeitos de cálculo as remunerações que estão registadas no sistema de gestão de

remunerações (GR) e a intervenção manual do organizador do processo nem sempre é necessária.

Existindo lacunas nas remunerações que estão disponíveis na base de dados nacional e sendo toda a

carreira contributiva relevante para o cálculo de pensão e em muitos casos determinante para a sua

atribuição, a aplicação de cálculo permite que as remunerações sejam alteradas. A edição das

remunerações obtidas resulta duma decisão do ISS (…)”.

Com efeito, a aplicação de cálculo obtém e preenche automaticamente as remunerações que estão

registadas no sistema GR, para efeitos de cálculo da pensão. Porém, nos casos em que há

sobreposição de remunerações, no mesmo período, estas remunerações não passam

automaticamente para a aplicação de cálculo, ficando o valor total desprovido dos valores

correspondentes. Nestes casos, é necessária a intervenção do utilizador, recolhendo a informação

na base de dados de GR e modificando os valores automaticamente inseridos na aplicação de

cálculo.

1 A instrução dos processos, os cálculos com vista à atribuição da pensão e o seu deferimento são efetuados pelo CNP. O

requerimento da pensão pode ser apresentado pelo beneficiário nos centros distritais, no CNP ou no sítio da internet da

segurança social (vd. art. 76.º/2). 2 44 processos. 3 Situações em que o pensionista trabalhou para mais do que uma entidade em simultâneo. As referidas remunerações não

passam diretamente para a folha de cálculo, sendo necessária a intervenção manual do organizador do processo. 4 Designadamente por terem sido indevidamente consideradas remunerações de equivalência por doença e desemprego;

situações em que o último mês de desconto foi alterado após entrada de remunerações não disponíveis à data da atribuição

da pensão; verificou-se também um caso de omissão de bonificação relativa a tempo de serviço militar em condições

especiais de perigo (CEP).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

318

 As referidas irregularidades decorreram essencialmente de três tipos de situações:

 Ausência de alguns elementos necessários ao cálculo correto da pensão nas aplicações, dando origem a cálculos de montante eventualmente superior ou inferior ao devido, conforme se

verificou, respetivamente, em oito e vinte casos.

O ISS em sede de contraditório, alega que “A generalidade das situações identificadas, (…) foram revistas e corrigidas face à nova informação disponível, sendo esta aliás a prática recorrente. Face

ao conhecimento de nova informação, o CNP procede sempre à revisão das pensões”.

Em dois processos, porém, o ISS não procedeu a qualquer revisão, por entender que o cálculo

está correto. Contudo, não remeteu qualquer documentação ou informação que infirmasse as

observações oportunamente formuladas, pelo que se mantem a posição do Tribunal.

 Não consideração de todos os dados disponíveis ab initio nas bases de dados para efeitos do cálculo da pensão, dando origem a cálculos de montante superior ou inferior ao devido,

conforme se verificou respetivamente em três e seis casos.

 Processos em que o número de meses que concorrem para a taxa de bonificação da pensão está incorreto, dando origem a montantes superiores ao devido, em dois casos, e inferiores

em cinco.

 Em dois processos, relativos a pensões de invalidez atribuídas ao abrigo do regime especial de proteção na invalidez1, verificou-se a aplicação dos limites previstos no art. 101.º do Decreto-

-Lei 187/2007 ao cálculo da pensão devida e não os do art. 6.º da Lei 90/2009, regime especial

que prevalece sobre o regime geral.

Em sede de contraditório, o ISS alega, em síntese, que as particularidades do regime instituído

pela Lei 90/2009 se cingem ao prazo de garantia para atribuição da pensão, ao cálculo da pensão

e à previsão expressa do complemento por dependência dos beneficiários abrangidos por este

regime especial. Mais refere que a lei especial se sobrepõe à lei geral em caso de conflito de

normas, dando por adquirido que o mesmo não existe no caso vertente, uma vez que a Lei

90/2009 não contém norma que limite o valor máximo das pensões. Não haveria, assim, que

aplicar a prevalência da lei especial sobre a geral, havendo antes que colmatar a ausência de

norma especial sobre o limite máximo das pensões com recurso à aplicação subsidiária do

disposto no Decreto-Lei 187/2007, por força do art. 9.º da Lei 90/2009. Na mesma sede, o II veio

invocar um despacho da Direção do CNP, cuja data não especificou, nos termos do qual as

pensões calculadas ao abrigo da Lei 90/2009 estão abrangidas pelos limites estabelecidos no art.

101.º do Decreto-Lei 187/2007, na sequência do qual as referidas pensões, passaram a ser sujeitas

ao referido limite.

Sobre as alegações produzidas importa referir que a Lei 90/2009 contém, para além de normas

sobre a forma de cálculo das pensões, uma norma sobre o limite máximo destas últimas, que não

podem ultrapassar 80% da melhor das remunerações de referência que tenham servido de base

ao cálculo da pensão estatutária. Havendo norma especial, não se justifica, pois, o recurso à

aplicação subsidiária das normas constantes do art. 101.º do Decreto-Lei 187/2007, uma vez que

não há qualquer lacuna que se imponha integrar. Ainda que assim não fosse, o que só por mera

hipótese de raciocínio pode conceber-se, a aplicação subsidiária das normas do art. 101.º do

Decreto-Lei 187/2007 às pensões do regime especial em análise mostra-se, para além do mais,

inviável. Com efeito, o mencionado art. 101.º não impõe limites máximos às pensões, mas antes

a uma das parcelas (P1) que serve de base ao cálculo das pensões, quando este seja feito com

1 Definido na Lei 90/2009, de 31/08, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei 246/2015, de 20/10, e pela Lei

6/2016, de 17/03, é aplicável a pessoas que sofrem de doenças e patologias que, pela sua natureza, são incapacitantes. A

Lei 90/2009 revogou vários diplomas que contemplavam individualmente essas doenças e patologias.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 344

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Tribunal de Contas

319

recurso às normas do art. 34.º do mesmo diploma. Ora, a forma de cálculo instituída pela Lei

90/2009 nem sequer comporta estas parcelas, como resulta do seu art. 5.º. E, nos termos do n.º 3

desse mesmo artigo, apenas se prevê que venha a ser aplicável ao cálculo das pensões reguladas

pela Lei 90/2009 o art. 32.º do Decreto-Lei 187/2007, se o cálculo daí resultante se mostrar mais

favorável ao beneficiário e nunca o seu art. 34.º, sendo que no âmbito do art. 32.º inexiste

igualmente a parcela P1. Por último, salienta-se que o art. 101.º do Decreto-Lei 187/2007 não

contém qualquer limite máximo de pensões, diferentemente do que ocorre com o art. 6.º da Lei

90/2009. Com efeito, o n.º 1 do art. 101.º do Decreto-Lei 187/2007 apenas determina o limite

máximo de uma das parcelas relevantes (P1) para o cálculo da pensão no regime geral, podendo

tal limite ser afastado nas circunstâncias previstas nos n.ºs 2 e 3 do mesmo artigo, pelo que,

mesmo no regime geral, o limite de P1 apenas condiciona, mas não fixa o valor da pensão a

atribuir. Não procedem, assim, as alegações produzidas pelo ISS, pelo que se mantém, a este

propósito, o oportunamente observado.

 Num dos dois processos de pensão de invalidez, acima referidos, não foi aplicado o fator de sustentabilidade à data da sua convolação em pensão de velhice, apesar de estarem preenchidos

os requisitos do art. 35.º do Decreto-Lei 187/2007, diploma subsidiariamente aplicável ao caso

concreto1.

Em sede de contraditório, o ISS alegou que a convolação da pensão de invalidez em pensão de

velhice é feita de forma automática. O II, na mesma sede, informa que “(…) ocorreu de facto um erro que resultou na não aplicação do fator de sustentabilidade a esta pensão. Neste caso em concreto, a

pensão convolava em velhice no mês de primeiro pagamento da pensão e nestas condições específicas

não era aplicado o fator de sustentabilidade pela aplicação de cálculo nem no processo posterior que

gere a convolação mensal das pensões de invalidez A situação reportada foi recentemente recalculada

pelo CNP e já tem fator de sustentabilidade. O erro que afetou esta situação ficou ultrapassado numa

versão posterior da aplicação de cálculo. No período em que esteve em produção afetou no máximo 55

situações, incluindo a reportada, algumas das quais já foram recalculadas pelo CNP e têm fator de

sustentabilidade. As situações que ainda não foram recalculadas serão comunicadas ao CNP para

regularização”.

 Num processo de atribuição de pensão ao abrigo do art. 33.º do Decreto-Lei 187/2007 há incorreções nos dados introduzidos para efeitos cálculo da pensão: até 2006, foram considerados

20 anos civis, em vez de quinze e, após 2007, um ano em vez de seis. Deste facto resultou um

valor de pensão superior ao devido.

Os atos de autorização de despesa e de pagamento que determinaram aumentos indevidos de despesa,

consubstanciados nas pensões de montante superior ao devido, são suscetíveis de fazer incorrer os

responsáveis em responsabilidade financeira de natureza reintegratória e sancionatória, como decorre,

respetivamente, do disposto nos arts. 59.º, n.os 1 e 4 e 65.º, n.º 1, alíneas b) e d) da Lei 98/97, de 26/082.

 Da análise dos 30 processos relativos a pensões de sobrevivência resultou, em síntese, uma elevada retroatividade nas pensões relativas a situações de morte presumida e a situações de

prova de uniões de facto. Enquanto no primeiro caso o reconhecimento da morte presumida

depende de sentença judicial declarativa, no segundo verificaram-se situações em que foi exigida

sentença judicial, quando era suficiente uma prova administrativa, nos termos da Lei 7/2001, o

1 Com a alteração introduzida ao art. 35.º pelo Decreto-Lei 126-B/2017, de 06/10, deixa de ser aplicável o fator de

sustentabilidade na data da convolação da pensão de invalidez em velhice. 2 Sucessivamente alterada pelas Leis 87-B/98, de 31/12, 1/2001, de 04/01, 55-B/2004, de 30/12, 48/2006, de 29/08,

35/2007, de 13/08, 3-B/2010, de 28/04, 61/2011, de 07/12, 2/2012, de 06/01, 20/2015, de 09/03 (também a republicou)

e 42/20016, de 28/12.

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Página 346

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

320

que determinou que os beneficiários aguardassem a atribuição e o pagamento da pensão por

tempo superior ao devido.

 Num dos processos foi exigida a sentença judicial de pensão de alimentos a uma ex-mulher e filho menor, numa situação de divórcio por mútuo consentimento declarado pela Conservatória

do Registo Civil, entidade competente para o efeito à data do divórcio, nos termos do Decreto-

Lei 272/2001, de 13/10. Devido ao desconhecimento das normas legais aplicáveis, o processo de

atribuição da pensão de sobrevivência arrastou-se e motivou reclamações da requerente.

 No que diz respeito à organização física dos processos objeto de análise verificou-se, nas duas amostras e num elevado número de casos, a omissão de datas de análise e de verificação dos

processos, ausência de assinatura do organizador e/ou do conferente e, ainda, a ausência,

incompletude ou incorreção, muitas vezes por desatualização, das menções às delegações ou

subdelegações de competências, o que incumpre o disposto no art. 48.º do CPA.

Na sequência de auditorias orientadas às pensões realizadas em anos anteriores verificaram-se algumas

situações que deram origem a recomendações. Procede-se de seguida à sua enumeração, apresentando-

se igualmente o ponto de situação sobre o seu grau de acolhimento:

 Verificou-se que a informação residente na Base de Dados das Pensões (BDP) relativa a dados pessoais dos beneficiários de pensões não se mostrava completa, designadamente quanto à data

de nascimento e ao NIF, o que impedia uma correta identificação do beneficiário e importava no

incumprimento pelo ISS das obrigações previstas no art. 119.º do IRS.

O Tribunal, em sede de Parecer sobre a CGE/2014 formulou uma recomendação (86-

PCGE/2014) ao MTSSS, no sentido de que diligenciasse para que fossem desencadeados

procedimentos com vista à recolha de informação necessária à correta identificação dos

beneficiários de pensões e ao estrito cumprimento pelo ISS da obrigação legal de dar

conhecimento à AT dos rendimentos disponibilizados aos beneficiários. Em sede de

acompanhamento de recomendações a SESS informou que “Foram efetuados cruzamentos entre as bases de dados internas (SISS e BDP) e externas (com a AT), que permitiram completar muita informação

em falta, (…) que foram implementadas alterações à BDP, de forma a impossibilitar qualquer tipo de alteração aos dados do pensionista ou forma de pagamento se o NIF não estiver preenchido. Pelo que

todos os pedidos de pensionistas são, obrigatoriamente, precedidos da inclusão do NIF se o mesmo for

omisso”. Informou ainda que para além destas iniciativas, dado que não foi possível obter todos os NIF com o cruzamento de informação com a AT, estava em preparação, para envio no 4.º

trimestre de 2017, um pedido formal de informação aos pensionistas a solicitar o NIF em falta.

 Verificou-se que concorriam para a atualização da BDP em matéria de registo de óbitos o conhecimento por parte da própria segurança social (IDQ), a informação remetida pelo IGFEJ,

bem como informação da AT. Constatou-se ainda que o tratamento da informação remetida

mensalmente pelo IGFEJ era dificultado pela inexistência em todas as bases de dados envolvidas

de uma chave de ligação comum como o NISS ou o NIF e, bem assim, a divergência ou

incongruência dos dados residentes nas diferentes bases e relevantes para o respetivo cruzamento

e que estes constrangimentos implicavam que muita da informação remetida à segurança social

em matéria de óbitos de pensionistas permanecesse, por vezes, longos períodos por registar, pelo

que o resultado dos trabalhos de cruzamento entre o IDQ e a informação disponibilizada por

outros entes públicos não permitia alcançar a completude, fidedignidade e atualidade da

informação transposta para IDQ e, posteriormente, para a BDP.

O Tribunal, em sede de Parecer sobre a CGE/2014 formulou uma recomendação (87-CGE/2014)

ao Governo no sentido de que fossem estabelecidas as articulações necessárias entre as entidades

22 DE DEZEMBRO DE 2017 346

Página 347

Tribunal de Contas

321

envolvidas no reconhecimento e tratamento de informação sobre óbitos, com vista a que a

informação relevante fosse de leitura imediata pelas várias aplicações informáticas envolvidas,

permitindo o encurtamento dos períodos de pagamento indevido das prestações sociais após o

falecimento do beneficiário. Em sede de acompanhamento de recomendações a SESS informou

que “O SIP recebe e trata mensalmente o ficheiro de óbitos que são comunicados pelo IGFEJ. Os falecidos cuja pensão não é cessada neste processo resultam de dados de identificação divergentes.

Também é recebida e tratada no SIP informação mensal de falecidos comunicada pela CGA e pela

segurança social da Austrália no âmbito dos pensionistas comuns”. Informa ainda que “(…) foi acordado entre o MTSS e o MJ, que a partir de outubro de 2017 serão desencadeadas as atividades com

vista à receção on-line da informação do óbito”. A SEAJ, na mesma sede, informou que “Em 2017 o Ministério da Justiça implementou um procedimento no sentido de garantir a comunicação mensal dos

óbitos à Segurança Social. No entanto e relativamente a um determinado universo de cidadãos detetou-

se que essa comunicação não foi efetuada pelo Ministério da Justiça, apesar de os mesmos apresentarem

registo de data de óbito na Autoridade Tributária, porquanto aqueles cidadãos estavam identificados no

MJ apenas com o NIC (número de identificação civil) e não com NIF (Número de identificação fiscal), o

que inviabilizou o cruzamento da informação”. Informou ainda que o IGFEJ “(…) já articulou com a Segurança Social no sentido da regularização destas situações e as duas entidades acordaram ainda

trabalhar numa solução conjunta com vista a impor maior celeridade à comunicação dos óbitos”. O Ministro das Finanças, na mesma sede, refere o seguinte: “Matéria acompanhada no âmbito da SS”.

 Constatou-se que em casos de ocorrência de pagamentos indevidos de pensões por períodos superiores a cinco anos, o cálculo dos respetivos montantes era necessariamente manual, sendo

cometido às mesmas equipas que tinham a seu cargo a instrução dos processos tendentes à

atribuição e cálculo das pensões devidas aos beneficiários, bem como o seu processamento

mensal, o que resultava numa ausência total de segregação de funções, incompatível com um

adequado controlo interno e potencialmente permissiva de situações de fraude e corrupção.

O Tribunal, em sede de Parecer sobre a CGE/2014 formulou uma recomendação (88-

PCGE/2014) ao MTSSS no sentido de que diligenciasse para que fosse assegurada a segregação

de funções entre as equipas que procedem à atribuição de pensões e as que procedem ao cálculo

dos pagamentos indevidos. Em sede de acompanhamento de recomendações a SESS informou

que “A segregação de funções em matéria de instrução e análise de processos de atribuição de pensões é uma medida inserida no Plano de Prevenção dos Riscos e Corrupção e Infrações Conexas do ISS, I.P.,

pressupondo diferentes intervenientes no processo”.

 Verificou-se que s diligências tendentes à recuperação de valores pagos indevidamente na sequência de falecimento de beneficiários eram morosas quer no seu início, quer no seu

desenvolvimento, com exceção das que eram recuperadas através de débito direto. A respetiva

documentação de suporte não se mostrava completa em face da informação relevante registada

na BDP, nem evidenciava uma ordenação definida, não sendo igualmente numerada nem

rubricada, dificultando um adequado controlo interno.

O Tribunal, em sede de Parecer sobre a CGE/2014, formulou uma recomendação (89-

PCGE/2014) ao MTSSS no sentido de que diligenciasse para que fosse assegurada celeridade na

recuperação dos valores indevidamente pagos, na sequência de ocorrência de óbito do

beneficiário, e a implementação de procedimentos que permitissem uma adequada instrução dos

processos que suportam a recuperação daqueles valores. Em sede de acompanhamento de

recomendações, a SESS informou que “As equipas da Unidade de Processamento de Prestações de Sobrevivência do ISS dedicam um dia por semana para análise de débitos e consequentes diligências para

a sua recuperação. Esta medida, em paralelo com a recuperação de valores por via de débito direto,

recuperação via RDF, nas prestações devidas e não pagas e nas prestações de direito próprio do devedor,

tem permitido a recuperação de valores indevidamente pagos, sendo igualmente possível a identificação

célere dos casos em que é necessário recorrer à cobrança coerciva” Informou ainda que “Quanto à

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 347

Página 348

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

322

instrução dos processos pelo ISS, os documentos instrutórios, assim como os respetivos processos, estão

completos e numerados”.

Do exposto, conclui-se que foram implementados procedimentos com vista a acolher as quatro

recomendações suprarreferidas. Contudo, as mesmas continuam a carecer de acompanhamento até ao

seu integral acolhimento.

13.2. O desemprego

13.2.1. Enquadramento geral

O desemprego, uma das eventualidades cobertas pelo Sistema de Segurança Social Português, assume

particular importância nos períodos em que o mercado de trabalho se contrai, como o que teve início em

2008 e se prolongou até 2013. No caso português, atenta a estrutura do universo da população residente,

em idade ativa, considerada desempregada, a importância destas prestações mantém-se mesmo em

períodos de expansão do ciclo económico.

Os gráficos seguintes espelham a dinâmica do mercado de trabalho1 em Portugal (evolução da população

empregada e desempregada2), no quinquénio iniciado em 2012.

Gráfico C. 12 – Taxas de emprego e taxas de desemprego Gráfico C. 13 – Taxas de desemprego por duração de procura

Fonte: INE. Fonte: INE.

1 Fatores de vulnerabilidade dos indivíduos face ao mercado de trabalho: sexo, idade, baixos níveis de escolaridade e

formação, problemas de saúde, redes de contacto limitadas, forte enraizamento local/fraca mobilidade. Fatores de

vulnerabilidade do mercado de trabalho: falta de vigor dos mercados locais de emprego/escassez de oferta ou oferta do

chamado mau emprego (precário, mal remunerado, desqualificante e sem perspetiva de desenvolvimento profissional e

pessoal). 2 Desempregado: indivíduo com idade compreendida entre os 15 e os 74 anos que, no período de referência, se encontrava

simultaneamente nas seguintes condições: não tinha trabalho remunerado nem qualquer outro; tinha procurado

ativamente um trabalho remunerado ou não durante o período de referência ou nas três semanas anteriores; estava

disponível para trabalhar num trabalho remunerado ou não. Empregado: indivíduo com idade mínima de 15 anos que, no

período de referência (período que antecede a recolha de informação do inquérito ao emprego, que presentemente é

mensal), se encontrava simultaneamente numa das seguintes situações: tinha efetuado trabalho de pelo menos uma hora

mediante o pagamento de uma remuneração ou com vista ao benefício ou ganho familiar em dinheiro ou géneros; tinha

um emprego, não estava ao serviço, mas mantinha uma ligação formal ao seu emprego; tinha uma empresa mas não

estava temporariamente ao trabalho por uma razão específica; estava em situação de pré reforma.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 348

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Tribunal de Contas

323

No que se refere ao emprego, no período observado, 2013 foi o ano em que se registou a menor taxa de

emprego (60,6%), tendo-se verificado nos anos seguintes uma recuperação da mesma, com o ano de

2016 a registar uma taxa de emprego na ordem dos 65,2%. Os trabalhadores por conta de outrem

representaram, em 2016, a maior fatia da população empregada (82,2%), dos quais cerca de 22,3%

tinham um contrato de trabalho não permanente1 (que compara com 22,0% em 2015 e 14,1% para a

média da UE-28). Quando comparado com a meta definida no âmbito da estratégia Europa 2020 (75,0%

da população residente em Portugal com idades entre 20 e 64 anos deverá estar empregada em 2020), o

indicador que mede o emprego para este grupo etário encontrava-se, em 2016, nos 70,6%, ou seja,

4,4 p.p. abaixo do indicador de referência (9,6 p.p. em 2013).

Em consonância evoluiu o universo da população desempregada, de 15,5% da população ativa residente

em 2012 para 11,1% em 2016 (menos 4,4 p.p.), tendo atingido o seu valor mais elevado em 2013, ano

em que 16,2% da população ativa residente em Portugal (com 15 ou mais anos) se encontrava fora do

mercado de trabalho. O universo desta população carateriza-se pelo elevado peso dos desempregados

de longa duração que, no período observado, constituíram mais de metade dos indivíduos (54,2%, em

2012; 61,7% em 2013; 65,5% em 2014; 63,7 em 2015 e 62,2% em 2016) e pela elevada taxa de

desemprego entre os jovens (indivíduos com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos) que, em

2016, foi de 28,0% (2,5 vezes superior à taxa de desemprego total)2.

A recuperação deste indicador iniciada em 2014 foi influenciada pela evolução da população residente

em idade ativa, pela dinâmica do mercado de trabalho (criação/destruição de emprego) e pelas alterações

legislativas3 e estatísticas4 ocorridas durante o período observado, que acolhe o pico da recessão

económica (2013) e um contexto de recuperação do crescimento económico desde 2014. Assim sendo,

a redução das taxas de desemprego em Portugal pode não refletir apenas a apreciação do mercado de

trabalho, mas estar influenciada por outros fatores, como sejam a passagem dos desempregados de longa

duração com idades superiores a 55 anos para a situação de reformados, pelas políticas ativas de

emprego e pelos movimentos migratórios da população que influenciaram positivamente o universo da

população desempregada, por conta da diminuição ocorrida na população residente em idade ativa5.

1 Em 2015, últimos dados disponíveis, a taxa de risco de pobreza da população empregada era de 10,9%. - in publicação

alusiva ao Dia do Trabalhador publicada em 28/04/2017 – www.ine.pt. 2 “Cerca de um em cada cinco jovens não está a trabalhar nem em atividades de educação e formação. Em 2016, 13,2%

dos jovens (dos 15 aos 34 anos) não estavam empregados (…) e também não estavam a participar em atividades de educação ou formação (também conhecidos por NEEF ou nem nem). De entre os mais jovens (dos 15 aos 24 anos) não

empregados, 10,6% não estavam em atividades de educação ou formação; entre os jovens adultos (dos 25 aos 34 anos)

aquela proporção era de 19,6%.” – in publicação alusiva ao Dia do Trabalhador publicada em 28/04/2017 – www.ine.pt. 3 Redução do prazo de garantia para 12 meses, beneficiando os desempregados com menores carreiras contributivas;

redução do prazo máximo de concessão do Subsídio de Desemprego (SD) para 18 meses (com salvaguarda dos direitos

adquiridos); limitação do valor máximo do SD a 2,5 IAS; redução em 10% do valor do SD, decorridos 180 dias de

concessão; majoração em 10% do valor do SD nas situações em que ambos os membros do casal sejam titulares desta

prestação e tenham filhos menores a cargo (também para as famílias monoparentais); alargamento da proteção no

desemprego aos trabalhadores independentes economicamente dependentes de uma única entidade contratante (Decretos-

Leis 64/2012 e 65/2012, de 15/03, que procederam à alteração do regime jurídico de proteção no desemprego a

trabalhadores por conta de outrem). 4 Principais alterações estatísticas operadas pelo INE em 2012: familiares não remunerados deixaram de ser considerados

empregados; as pessoas a frequentar programas ocupacionais de emprego do IEFP passaram a ser consideradas

empregados; as pessoas ausentes do trabalho por mais de três meses passaram a ser consideradas empregadas se a

remuneração auferida for pelo menos metade da normal; as pessoas em regime de subemprego passaram a ser

consideradas empregadas; o universo de desempregados passou a ser delimitado entre os 15 e os 74 anos de idade. 5 Em 2016 a taxa de atividade da população em idade ativa rondou os 58,5%, Estatísticas do Emprego – 4.º trimestre de

2016, publicadas em 8/02/2017 – www.ine.pt.

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Página 350

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

324

Sustentados em informação disponibilizada pelo IEFP, considerando a dimensão da sua taxa de

penetração no mercado de trabalho, os gráficos seguintes ilustram a capacidade do mercado de trabalho

na absorção ou não da população desempregada registada ao longo de 2016.

Gráfico C. 14 – Oferta de emprego no ano de 2016 Gráfico C. 15 – Procura de emprego no ano de 2016

Fonte: IEFP. Fonte: IEFP.

13.2.2. Beneficiários de prestações de desemprego

Do universo da população desempregada, apenas uma parte foi alvo de apoios institucionais. O

Quadro C.36 ilustra a evolução do número de prestações de desemprego no quinquénio iniciado em

20121.

Em 2016 foram pagas cerca de 502 mil prestações de desemprego, nas suas diversas modalidades, (684

mil em 2012), tendo este indicador atingido a sua maior expressão em 2013, onde rondou as 712 mil,

influenciado pelo contexto macroeconómico e pelas medidas de política adotadas para o setor.

1 Subsídio de desemprego: prestação pecuniária substitutiva do rendimento do trabalho perdido, determinada em função

da remuneração média de um período legalmente fixado, atribuída mensalmente ao indivíduo que, estando

involuntariamente desempregado, cumpra certos requisitos. Esta prestação não pode, em princípio, exceder 2,5 IAS nem

ser inferior a 1 IAS, com as exceções legalmente previstas. Subsídio social de desemprego: prestação pecuniária

substitutiva do rendimento do trabalho perdido, determinada em função da remuneração mínima do agregado familiar,

atribuída mensalmente ao indivíduo que, estando desempregado, não cumpra todos os requisitos para beneficiar do

subsídio de desemprego. Modalidades: (1) inicial, prestação social atribuída aos desempregados que não permaneceram

no mercado de trabalho tempo suficiente para preencherem o requisito do prazo de garantia necessário para que

obtivessem o direito ao subsídio de desemprego; (2) subsequente, prestação social atribuída, esgotado o prazo de

concessão do subsídio de desemprego; (3) prolongamento, a atribuir ao beneficiário que, à data do desemprego tenha

idade igual ou superior a 52 anos, até atingir a idade de acesso à pensão de velhice antecipada; todos sujeitos a ponderação

da condição de recursos do agregado familiar. Em 2016 foi ainda criada e atribuída uma prestação extraordinária de apoio

aos desempregados de longa duração, não subsidiados, que tenham cessado o período de concessão do subsídio social de

desemprego (inicial ou subsequente) e cujos rendimentos mensais, per capita, do agregado familiar não excedam 80%

do IAS (€ 337,06) (art. 80.º da Lei 7-A/2016 de 30/03).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 350

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Tribunal de Contas

325

Quadro C. 36 – N.º de prestações de desemprego no período 2012/2016 Gráfico C. 16 – N.º de desempregados (total e inscritos1)

vs N.º de prestações de desemprego

(em número)

Prestações de desemprego 2012 2013 2014 2015 2016

Sub. de desemprego 543 615 562 998 495 043 441 354 383 558

Sub. social de desemprego 140 222 148 531 143 837 133 185 114 536

Inicial 62 230 47 826 37 329 33 936 30 774

Subsequente 77 905 100 617 106 415 99 167 83 661

Prolongamento 87 88 93 82 101

Medida extraordinária de apoio aos

desempregados de Longa duração (a) 3 757

Total 683 837 711 529 638 880 574 539 501 851

Nota Incluída na fonte que divulgou os dados: “Caso um beneficiário tenha lançamento por mais de um tipo de

subsídio no ano, ele é contabilizado uma vez em cada subsídio. Contabilizados beneficiários só com

"Concessão Normal”.

(a) Medida extraordinária de apoio aos desempregados de longa duração – Têm direito ao apoio “os beneficiários

que se encontrem em situação de desemprego não subsidiado e que esgotaram o período de concessão do

subsídio social de desemprego inicial ou subsequente há 360 dias, completados em 31 de março de 2016 ou

após esta data”.

Fonte: II, IP - Estatísticas da Segurança Social, tendo sido utilizados os dados da situação da base de

dados em 01/01/2017 e extraídos em 01/09/2017.

Fonte: INE, IEFP e SS.

No período iniciado em 2014, ano em que o mercado de trabalho começou a apresentar alguma

recuperação, todos os indicadores observados apresentam melhorias consistentes (n.º de desempregados

registados pelo INE, menos 21,1%, n. º de desempregado inscritos nos centros de emprego, menos

18,1% e n.º de prestações de desemprego atribuídas e pagas, menos 21,4%), o mesmo acontecendo em

termos homólogos (menos 11,4%, menos 6,7% e menos 12,7%, respetivamente).

13.2.3. Prestações de desemprego médias mensais

A evolução dos valores das prestações com Subsídio de Desemprego (SD) e Subsídio Social de

Desemprego (SSD) no quinquénio 2012-2016 é a que consta do quadro seguinte.

Quadro C. 37 – Valor médio mensal processado com SD e SSD por beneficiário no período 2012/2016

(em euros)

Prestações de desemprego 2012 2013 2014 2015 2016

Subsídio de desemprego 565,48 534,83 509,06 501,83 507,38

Subsídio social de desemprego Inicial 415,69 379,40 382,39 398,83 399,08

Subsídio social de desemprego subsequente 419,67 407,33 397,08 398,81 386,37

Subsídio social de desemprego prolongamento 373,07 374,90 387,22 361,31 407,72

Medida Extraordinária de Apoio aos Desempregados de Longa Duração

- - - - 391,44

Total 541,35 513,41 489,96 482,60 483,93

Nota: incluída na fonte que divulgou os dados: Caso um beneficiário tenha lançamento por mais de um tipo de subsídio

no ano, ele é contabilizado uma vez em cada subsídio. Contabilizados beneficiários só com "Concessão Normal".

Fonte: II, IP - Estatísticas da Segurança Social, tendo sido utilizados os dados da situação da base de dados em

01/02/2017 e extraídos em 01/09/2017.

1 O número de desempregados inscritos foi obtido por cálculo da média simples dos dados mensais publicados pelo IEFP.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

326

A prestação média relativa ao “subsídio de desemprego” manteve uma tendência decrescente no período observado, tendo evoluído de € 565,48 em 2012 para € 501,83 em 2015 e para € 507,38 em 2016. Este comportamento reflete as alterações legislativas introduzidas ao longo do período, as quais foram no

sentido de tornar mais favorável o retorno ao mercado de trabalho, limitando direitos aos beneficiários,

ao mesmo tempo que continham a despesa com prestações sociais dentro de limites mais consentâneos

com a dimensão do universo esta, por sua vez, fortemente condicionada pela dinâmica do mercado e

com a necessidade de caminhar no sentido da sustentabilidade do sistema, minimizando, por essa via, a

despesa pública1.

Também as prestações médias relativas ao “subsídio social de desemprego inicial”2 e ao “subsídio social de desemprego subsequente” revelaram uma tendência decrescente no mesmo período, tendência que já não se verificou no “subsídio social de desemprego prolongamento”, onde a tendência foi crescente.

Em 2016 foi atribuída uma nova prestação de desemprego (prestação extraordinária de apoio aos

desempregados de longa duração)3, destinada exclusivamente a desempregados de longa duração sem

direito a outros apoios e cujos rendimentos per capita dos respetivos agregados familiares não excedam

80% do IAS, a qual em média se situou nos € 391,44, terceira mais elevada de entre as que se encontram fora do sistema previdencial-repartição.

13.2.4. Despesa com prestações de desemprego

A despesa com prestações de desemprego e apoio ao emprego totalizou, em 2016, € 1.510 M, repartidos entre “subsídio de desemprego” (72,9%), “subsídio social de desemprego” (15,4%) e “outras prestações” (11,8%). Estas despesas apresentaram-se tendencialmente decrescentes (menos 41,8%) no quinquénio

iniciado em 2012, tendência que se acentuou a partir de 2013 (menos 44,9%), e que se apresenta

consistente com a evolução da recuperação do mercado de trabalho a partir de 2014, com a evolução do

n.º de desempregados subsidiados e com a introdução de medidas legislativas mais restritivas para a

atribuição destas prestações durante o período de vigência do PAEF que se mantiveram nos anos

seguintes.

1 Recorde-se que, desde 2012, o sistema previdencial – repartição tem vindo a ser objeto de financiamentos extraordinários

do OE. 2 Mais € 0,25 em termos homólogos. 3 Medida extraordinária de apoio aos desempregados de longa duração: consiste na atribuição de uma prestação mensal,

durante um período de 180 dias, de valor igual a 80% do último subsídio social de desemprego recebido pelos

desempregados inscritos no RGSS que tenham cessado o período de concessão do subsídio social de desemprego inicial

e subsequente há 360 dias completados a 31/03/2016 ou após esta data, cumprida a condição de recursos legalmente

prevista. A referida prestação enquadra-se no âmbito do subsistema de solidariedade.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 352

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Tribunal de Contas

327

Quadro C. 38 – Evolução da despesa com prestações de desemprego e apoio ao emprego

(em milhões de euros)

Prestações de desemprego 2012 2013 2014 2015 2016

Subsídio de desemprego 1 992,7 2 073,4 1 648,1 1 296,9 1 099,8

Subsídio social de desemprego 326,3 326,6 300,7 275,8 232,4

Outras prestações 274,0 337,7 289,9 188,0 177,4

Sub. Desemprego por salários em atraso 69,6 77,9 60,3 42,3 26,7

Sub. Social Desemprego por salários em atraso 0,7 0,5 0,3 0,2 0,1

Complemento de desemprego 93,0 76,5 48,4 37,7 30,1

Garantia Salarial 100,2 174,2 176,2 103,0 115,0

Compensação salarial 10,4 8,1 4,5 4,3 5,2

Programas ocupacionais 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0

PEPS 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Incentivo à Aceitação de Ofertas de Emprego 0,1 0,5 0,1 0,5 0,4

Total 2 593,0 2 737,7 2 238,7 1 760,6 1 509,7

Nota: As parcelas relativas aos "Programas Ocupacionais" e ao "Incentivo à Aceitação de Ofertas de Emprego" estão incluídas

no "Subsídio de Desemprego" nos mapas de execução orçamental no ponto 12.2.2.3 - Despesas. A parcela relativa ao apoio

extraordinário aos desempregados de longa duração encontra-se incluída no subsídio social de desemprego.

Fonte: CSS 2012 a 2016 e SIF.

Em detalhe, as despesas com “subsídio de desemprego” que, em 2016, ascenderam a € 1.100 M, evidenciaram, no quinquénio considerado, igualmente uma tendência evolutiva decrescente (menos

44,8%), mais acentuada entre 2013 e 2015 (menos 47,0%; menos 15,2% em termos homólogos). De

referir que as prestações sociais substitutivas do rendimento do trabalho viram o quadro legal que as

regula substancialmente alterado durante o período de vigência do PAEF, tendo tais alterações

produzido impactos relevantes, mormente as relativas a prazos de garantia, prazos de atribuição e

redução de tetos máximos na formação do valor da prestação, fatores que, a par com a recuperação do

mercado de trabalho, tiveram um forte impacto redutor neste tipo de prestações.

Já as despesas com “subsídio social de desemprego” (€ 232 M, em 2016), que apresentaram uma tendência crescente durante o PAEF (mais 8,0%), recuaram durante o quinquénio observado (menos 28,8%) e,

bem assim, entre períodos homólogos (menos 15,7%), beneficiando do efeito do reforço da aplicação

da condição de recursos às prestações sociais de caráter não contributivo. De referir que este tipo de

prestações é, em grande medida, dirigido a desempregados de longa duração (à procura de emprego há

12 ou mais meses), população que em 2016 representava a maior fatia da população desempregada

(cerca de 62,1%; 65,5% em 2014, ano em que apresentou a maior expressão).

As outras prestações de desemprego evidenciaram uma tendência crescente até 2013 (mais 23,3% face

a 2012), invertendo-a a partir daí (menos 47,5% entre 2013 e 2016). Destacaram-se as despesas relativas

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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à “garantia salarial”1 (cerca de 64,8% das outras prestações) que recuaram 34,8% no triénio (2014/2016), tendo atingido os € 115 M em 2016, o que representou um acréscimo em termos homólogos na ordem dos 11,6%, o “subsídio de desemprego por salários em atraso” € 27 M, que, em 2016, representou 15,0% do valor gasto com as outras prestações; (menos 61,6% no quinquénio e menos 55,7% no triénio iniciado

em 2014), e as relativas ao “complemento de desemprego”2, (€ 30 M, em 2016), com uma tendência decrescente ao longo de todo o período observado (menos 67,7% no quinquénio e menos 20,2% em

termos homólogos).

Na sequência de uma auditoria orientada às prestações de desemprego em 2014 constatou-se a existência

de um número elevado de recálculos, dos quais resultavam alterações ao valor das prestações. No

entanto, os beneficiários não eram notificados dessas alterações, como deveriam, em face do disposto

no art. 100.º do CPA, tendo o ISS informado, à data, de que já tinha solicitado ao Instituto de Informática,

em setembro de 2010, que os ofícios de notificação fossem emitidos.

O Tribunal, em sede de Parecer sobre a CGE/2013 formulou uma recomendação (80-PCGE/2013) no

sentido de que as alterações de valor das prestações de desemprego fossem objeto de realização de

audiência prévia aos interessados. Em sede de acompanhamento de recomendações a SESS informou

que “A alteração da aplicação informática de desemprego para emitir uma notificação aos beneficiários nos casos de reanálise/recálculo da prestação em que haja alteração do valor ou período de concessão do subsídio

encontra-se em avaliação entre o ISS, IP e o II, IP.” e que “Desde dezembro de 2016, que é disponibilizado na Segurança Social Direta, o montante a pagamento em cada mês”.

A SESS considerou a recomendação parcialmente acolhida. Não obstante o acréscimo de informação

disponibilizada aos beneficiários sobre o montante em pagamento, continua-se a considerar a

recomendação não acolhida, uma vez que a informação agora disponibilizada não substituiu a

notificação ao beneficiário para se pronunciar sobre a alteração ao cálculo da prestação anteriormente

deferida.

Na sequência de uma auditoria orientada às prestações de desemprego e processadas e pagas em 2014

verificou-se que ao nível da aplicação informática não existia segregação de funções entre o instrutor

do processo e o decisor, com competência para deferir as respetivas prestações, o que permitia aos

primeiros acionar o deferimento automático de prestações de desemprego sem a prévia decisão do

dirigente com competência para o efeito. Acresce que o deferimento automático importava a emissão

automática da respetiva notificação ao beneficiário, impressa com assinatura digitalizada do dirigente

com competência para o efeito, o que permitia dispensar o controlo de quem o subscrevia, o que não

contribuía para um adequado controlo da atribuição de prestações de desemprego e permitia a ocorrência

de situações de fraude e corrupção que podiam revelar-se de difícil deteção.

O Tribunal, em sede de Parecer sobre a CGE/2014 formulou uma recomendação (91-PCGE/2014) no

sentido de fosse assegurada a implementação na aplicação informática da segregação de funções entre

quem procede à instrução do processo e quem procede ao seu deferimento, devendo este ser

expressamente efetuado apenas por quem tem competência para o efeito. Em sede de acompanhamento

de recomendações a SESS informou que esta segregação de funções “(…) tem de ser garantida na

atribuição de acessos aos perfis dos utilizadores” e que o ISS está a “(…) preparar um documento técnico orientador para aplicação progressiva e transversal a todo o sistema, pretendendo-se definir um Workflow de

processos de Deferimento e Indeferimento para implementar a segregação de funções nas novas aplicações em

1 Prestações destinadas ao pagamento das dívidas das entidades empregadoras aos seus trabalhadores, quando aquelas não

as podem pagar por estarem em situação de insolvência ou em situação económica difícil, asseguradas pelo Fundo de

Garantia Salarial. 2 Corresponde à diferença entre o valor do subsídio de desemprego calculado nos termos legais e o montante mínimo

legalmente estabelecido (IAS).

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Tribunal de Contas

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desenvolvimento e posterior adequação das aplicações em produção (…)”. Mais informou que “designadamente a aplicação informática de Desemprego dispõe de perfis de acesso diferenciados e perfeitamente individualizados

para instrução e decisão (deferimento/indeferimento) de processos, respetivamente o perfil designado por

«Análise de processos» e o perfil «Despacho/Decisão de processos»”.

A SESS considerou a recomendação parcialmente acolhida. Porém, tendo em conta a informação

prestada, não se conclui que na aplicação de desemprego já se encontre acionado o mecanismo que

permita o funcionamento de perfis individualizados entre quem procede à instrução do processo e tem

competência para proceder ao deferimento ou indeferimento das prestações. Com efeito, à data da

realização da auditoria a aplicação informática do desemprego já dispunha de dois campos distintos

destinados à segregação de funções um designado “Utilizador_Instrutor” e outro “Utilizador_Decisor”. No entanto, qualquer colaborador investido de funções meramente instrutórias acedia ao campo

“Utilizador_Decisor” e deferia prestações de desemprego sem que pudesse demonstrar-se a existência de uma revisão dos pressupostos por parte do dirigente competente.

13.2.5. Financiamento

Em 2016, da despesa com prestações de desemprego, 82,6% (€ 1.247 M) foram financiados pelo sistema previdencial – repartição e os restantes 17,4% (€ 263 M) pelo sistema de proteção social de cidadania - subsistema de solidariedade.

Quanto ao financiamento das prestações de desemprego suportadas pelo sistema previdencial -

repartição, no quinquénio em observação apenas os anos de 2012 e 2013 apresentaram necessidades de

financiamento, as quais totalizaram € 516 M, compensados pelos excedentes verificados nos restantes anos (2014, 2015 e 2016), num total de € 1.791 M.

Quadro C. 39 – Financiamento das prestações de desemprego do sistema previdencial - repartição

(em milhões de euros)

2012 2013 2014 2015 2016

Contribuições e Receitas cessantes 1 972 2 021 2 048 2 108 2 218

Desemprego e apoio ao emprego 2 174 2 335 1 890 1 447 1 247

Necessidade de Financiamento 202 314 - 158 - 661 - 971

Nota: O subsídio de desemprego inclui as parcelas relativas aos "Programas Ocupacionais" e ao

"Incentivo à Aceitação de Ofertas de Emprego". Em 2015 a Ind. Compensatória por salários em

atraso (SD) passou a designar-se "Subsídio de desemprego por salários em atraso".

Fonte: CSS/2012 a CSS/2016.

Conforme tem vindo a ser referido em anteriores Pareceres, o sistema previdencial - repartição vem

beneficiando, desde 2011, de montantes transferidos pelo OE para financiar as situações enquadráveis

no art. 98.º N do Código do Processo do Trabalho, na redação dada pelo Decreto-Lei 295/2009, de 13/10

(pagamento de retribuições intercalares, pelo Estado, devidas aos trabalhadores após o decurso de 12

meses desde a apresentação, pelos mesmos, junto do tribunal competente, de declaração de oposição ao

despedimento até à notificação da decisão de 1.ª instância). Até ao final de 2016, o valor total recebido

totalizou € 10 M mas não houve qualquer execução refletida nas contas da segurança social1.

1 Foram transferidos do OE cerca de € 3 M, € 3 M, € 1 M, € 1 M, € 1 M e € 1 M, em 2011, 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016,

respetivamente.

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Esta matéria foi objeto de análise no PCGE/2013, tendo o ISS alegado, como motivos para a ausência

de execução de despesa naquela rubrica, dificuldade na identificação das situações enquadráveis nesta

disposição legal, em virtude de as decisões dos tribunais não serem claras por não conterem os dados

necessários à efetivação do pagamento desta prestação, motivo pelo qual foi proferida recomendação,

dirigida aos então Ministros da Solidariedade, Emprego e Segurança Social e da Justiça no sentido de

que fossem estabelecidos procedimentos de articulação entre os Tribunais e o ISS que promovessem a

célere identificação destas situações por parte do ISS1. Em sede de acompanhamento de recomendações,

a SESS informou que “(…) Foram desenvolvidas reuniões entre as partes e estabelecidos procedimentos por forma a dar cumprimento à recomendação” e que no mês de julho do corrente ano se iniciaram os pagamentos aos beneficiários. Na mesma sede, a SEAJ informou que a “Direção Geral da Administração da Justiça encontra-se a diligenciar no sentido de ser emitida uma orientação dirigida às secretarias dos tribunais

da comarca no sentido das comunicações em causa serem acompanhadas de todos os elementos que permitam

obviar os constrangimentos sinalizados, nomeadamente, da remessa do formulário ou da indicação da data da

respetiva apresentação”.

13.3. Património financeiro

13.3.1. Comportamento dos mercados financeiros

O crescimento da economia mundial manteve-se em ligeira desaceleração, ficando pelos 3,2% em 2016

(3,4% em 2015), pressionado pelo comportamento das economias avançadas (onde caiu de 2,2% para

1,7%), uma vez que nas economias emergentes estabilizou nos 4,3%. A Zona Euro não conseguiu dar

maior robustez à recuperação económica que se iniciou após 2012, com o crescimento real do PIB a

ficar em 1,8% (face aos 2,0% de 2015), embora tenha conseguido diminuir o desemprego para 10,1%.

Este comportamento associado a um crescimento quase nulo dos preços (0,2%) justificou a manutenção

da política monetária expansionista pelo BCE, que procurou, dessa forma, estimular a economia2. A

política orçamental e o investimento público tiveram um papel mais ativo, mas sempre limitados pela

prioridade de consolidação e controlo dos défices e da dívida pública3.

Nos EUA, a economia desacelerou substancialmente, para 1,5%, ficando, pela primeira vez em muitos

anos, abaixo do crescimento na Europa, prejudicada pelo comportamento do consumo privado, do

investimento e da despesa pública. Apesar disso, tal como em 2015, o Banco Central (Federal Reserve)

voltou a subir, no final do ano, as taxas de juro em 25 p.b. (para um intervalo entre 0,5% e 0,75%).

Também o Reino Unido revelou alguma quebra, com a economia a crescer ao mesmo ritmo da Zona

Euro (1,8%), depois de ter aumentado 2,2% em 2015. Ainda assim, foi o consumo privado que atenuou

o pior desempenho do investimento e dos gastos públicos. Em Portugal, o crescimento do PIB em

volume foi de 1,4% (abaixo dos 1,6% do ano anterior) e foi sustentado pelo consumo privado, pois os

gastos públicos desaceleraram, o investimento privado diminuiu e a procura externa líquida foi negativa.

Já o mercado de trabalho continuou em recuperação, combinando uma redução da taxa de desemprego

1 Recomendação 79 – PCGE/2013, disponível em www.tcontas.pt. 2 Em março de 2016, o BCE baixou as taxas de juro de referência (para 0,0%) e de juro do crédito overnight (para 0,25%)

e agravou a taxa de juro a cobrar pelos depósitos overnight (para 0,4%). 3 O défice da Zona Euro continuou em queda, ficando em 1,5% (2,1% em 2015). A Alemanha reforçou o superavit (0,8%),

tal como o Luxemburgo, a Estónia e a Suécia e países como a Holanda, República Checa ou a Grécia juntaram-se ao

grupo com contas superavitárias. Com défice acima de 3% surgem apenas a Espanha (4,5%) e a França (3,4%). Fora da

Zona Euro, os EUA apresentaram um défice de 4,4%, o Japão de 4,2% e o Reino Unido de 3,0%.

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(que foi de 11,1% na média do ano) com a criação líquida de emprego. Mas continuou a diminuir o

crédito concedido à economia1.

Os preços no consumidor mostraram uma tendência de subida nos EUA (de 0,1% em 2015 passaram

para 1,3% em 2016), mas na Zona Euro apenas aumentaram 0,2%, revelando mesmo variações negativas

em vários países, como França, Itália e Irlanda, o mesmo acontecendo no Japão. No Reino Unido

cresceram 0,7%.

No mercado da dívida pública, a yield dos títulos das principais economias europeias como a Alemanha,

a França, a Espanha e o Reino Unido apresentou uma ligeira tendência de redução, o mesmo

acontecendo no Japão. Nos EUA a tendência foi inversa, tal como em países como Portugal e Itália. A

maioria dos países da Zona Euro, e também os EUA, viram aumentar os spreads dos seus títulos face ao

Bund alemão. Em sentido contrário posicionaram-se os mercados do Japão e do Reino Unido.

Nos mercados de ações, os principais índices norte-americanos apresentaram aumentos em termos

homólogos, sendo que o S&P500 valorizou 9,5% e o Nasdaq100 5,9%, o mesmo acontecendo com o

FTSE100 (Reino Unido), que valorizou 14,4%. Já o japonês TopixIndex desvalorizou 1,9%. Na Zona

Euro não se detetou uma tendência clara: o StoxxEurope600 diminuiu 1,2%, o FTSE MIB (Itália) 10,2%

e o PSI20 11,9%, mas o DAX (Alemanha) valorizou 6,9% e o CAC 40 (França) 4,9%.

13.3.2. Desempenho do Fundo de Estabilização

13.3.2.1. Valor acrescentado

O valor do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS)2 aumentou 1,0% (€ 147 M), fixando-se em € 14.246 M no final de 2016. O nível de risco da carteira (medido pelo desvio-padrão anualizado das rendibilidades diárias) baixou para 4,8% (5,2% em 2015) e o índice de rotação da carteira

ficou em 0,835 (0,86 em 2015).

A variação do valor do FEFSS tem resultado das entradas de capital3 e da gestão e evolução dos

mercados onde dispõe de investimentos. Até ao presente, as suas reservas ainda não foram utilizadas

para suprir défices do sistema de segurança social, no que constituiria a corporalização da sua função

estabilizadora. Há uma década e meia atrás, o FEFSS valia € 3.799 M, apresentando a progressão anual que se observa no Gráfico C.17.

1 Os empréstimos concedidos pelo setor financeiro continuam a apresentar variações homólogas negativas: 3,6% às

empresas e 0,8% às famílias, mantendo-se a crescer apenas o crédito ao consumo. 2 O FEFSS é um património autónomo, afeto à capitalização pública de estabilização, criado em 1989 com uma dotação

de € 216,0 M, e encontra-se sob gestão do IGFCSS. Visa contribuir para o equilíbrio e sustentabilidade do sistema previdencial, gerando um montante que permita o pagamento de dois anos de pensões. A forma de financiamento consta

da LBSS, sendo que o art. 69.º da LOE 2016 determina a transferência para o Fundo dos saldos anuais do sistema

previdencial e das receitas da alienação de património. 3 O IGFSS transfere para o FEFSS os montantes que resultem das fontes de financiamento definidas, pelo que as

transferências ocorrem ao longo do ano, passando a integrar os recursos passíveis de gerar valor pela gestão da carteira.

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Gráfico C. 17 – Evolução do valor do Fundo

Fonte: IGFCSS.

Durante largos períodos, o Fundo foi alimentado fundamentalmente pela transferência de saldos

excedentários do sistema previdencial e por receitas de alienação de património (2001 a 2003; 2007 a

2011). Em 2008, em plena crise financeira, as entradas de capital atingiram um máximo histórico

(€ 1.092 M), mais do que compensando a primeira perda de valor proveniente da gestão da carteira. Entre 2004 e 2006 as transferências foram pouco relevantes, mas o contributo da gestão assumiu

importância, superando os € 300 M anuais. Em 2012 e 2013, num contexto de forte pressão orçamental, as entradas de capital foram mesmo insignificantes, mas, desde então, apresentam uma tendência de

crescimento que culmina em € 227 M em 2016.

O impacto da crise nas dívidas soberanas e a consequente desvalorização da dívida pública portuguesa,

contabilizada a preço de mercado, originou uma diminuição de € 1.063 M em 2011. Nos anos seguintes, os contributos da gestão resultam em grande parte da recuperação do seu valor de mercado, que, desde

2014, supera largamente o valor de reembolso, o que tem originado ajustamentos no valor do Fundo

com a aproximação da maturidade dos títulos.

No final de 2016, os rendimentos e valias acumulados pelo FEFSS totalizavam € 6.474 M (45,4% do total). A variação do valor em 2016 encontra-se desagregada no Quadro C.40, constatando-se que as

Dotações (entradas de capital) quase duplicaram face ao ano anterior1.

Quadro C. 40 – Variação do valor da carteira

(em milhões de euros)

Descrição 2014 2015 1T 2016 2T 2016 3T 2016 4T 2016 2016

1. Entradas de capital (a) 80 116 4 6 11 206 227

2. Valor acrescentado pela gestão (2.1 a 2.5) (b) 1 725 480 -149 80 11 -23 -81

2.1 Rendimentos 237 265 147 236 35 -31 387

2.2 Mercado Monetário Líquido 15 3 -9 -2 2 1 -9

2.3 Valias Realizadas 295 476 36 29 27 11 103

2.4 Juro corrido 59 47 -9 -109 90 43 15

2.5 Variação das Valias potenciais 1 119 -312 -314 -73 -142 -47 -577

3. Δ Total (1+2) 1 805 596 -145 86 22 183 147

(a) Dotações provenientes do IGFSS e que constituem receita do FEFSS de acordo com o estipulado na LBSS.

(b) Resultados da gestão dos ativos da carteira, que incluem as dotações entradas ao longo ano.

Fonte: IGFCSS.

1 Dos € 227 M, € 27 M são provenientes de alienação de imóveis e € 200 M de saldos do sistema previdencial.

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No valor acrescentado pela gestão da carteira, destacam-se os rendimentos obtidos1, que cresceram

46,0%, para € 387 M, e a variação negativa das valias potenciais2, que se agravou em 85,2% (para € 577 M), registando o pior desempenho desde 20113. Apresentando os valores mais baixos do último triénio, as valias realizadas4 diminuíram 78,3%, para € 103 M, e os juros corridos5 somaram € 15 M. Finalmente, o mercado monetário líquido6gerou um contributo anual negativo (de € 9 M), algo inédito nos últimos anos.

13.3.2.2. Composição da carteira

Os ativos que compõem o FEFSS constam do Quadro C.41, que resulta do tratamento da informação

disponibilizada pela entidade gestora, combinando dados de gestão da carteira com dados utilizados no

apuramento dos vários limites regulamentares a que o Fundo está sujeito7.

Quadro C. 41 – Composição e variação homóloga dos ativos da carteira

(em milhões de euros)

2015 2016 Variação homóloga

Descrição Valor Peso (%) Valor Peso (%) Valor %

Dívida Garantida pelo Estado Português (a) 11 011 78,1 10 792 75,8 -219 -2,0

Obrigações do Tesouro 9 415 66,8 9 441 66,3 27 0,3

Não emitida pelas Administrações Públicas (b) 22 0,2 22 0,2 0 -0,7

Bilhetes do Tesouro 1 002 7,1 0 0,0 -1 002 -100,0

CEDIC 573 4,1 1 329 9,3 756 131,9

Dívida pública estrangeira (a) (c) 1 063 7,5 1 295 9,1 231 21,8

Dívida Privada (a) 0 0,0 0 0,0 0 ―

Ações (c) 1 262 8,9 1 505 10,6 243 19,3

Fundos de Investimento Mistos 1 0,0 1 0,0 0 15,2

Imobiliário 168 1,2 73 0,5 -95 -56,6

Reserva Estratégica 4 0,026 3 0,020 -1 -23,6

Liquidez 588 4,2 569 4,0 -19 -3,2

Provisões e Impostos a Receber 3 0,0 9 0,1 6 226,1

Total 14 100 100,0 14 246 100,0 147 1,0

(a) Inclui juros corridos.

(b) Dívida emitida pela CP – Comboios de Portugal, E.P.E..

(c) Inclui futuros e valias potenciais de forwards afetas à cobertura de posições.

Fonte: IGFCSS.

1 Juros de depósitos a prazo, cupões de títulos de rendimento fixo, diferença entre juro corrido em operações de venda e

operações de compra, acertos associados ao encerramento de forwards e dividendos de títulos de rendimento variável. 2 Variação líquida da diferença entre preço de mercado de um ativo num determinado momento e o seu custo de aquisição,

traduzindo o ganho ou perda que se obteria com a sua alienação ao valor corrente de mercado. 3 As valias potenciais podem gerar distorções nas análises de desempenho e rendibilidade, uma vez que as oscilações de

valor de mercado dos títulos originam impactos elevados no valor da carteira sem que, por um lado, exista

necessariamente um papel determinante por parte da entidade gestora e, por outro, se venham a traduzir em valias efetivas.

A contabilização das valias potenciais resulta da adoção da regra do justo valor. À gestão cabe o mérito da seleção dos

títulos a adquirir, a manter e a vender. Todavia, no caso do FEFSS, a entidade gestora está obrigada a adquirir títulos da

dívida pública portuguesa até ao máximo de 90% da carteira (Portaria 216-A/2013), advindo desta componente o

essencial das valias potenciais. A sua realização depende, nomeadamente, da existência de liquidez no mercado e, uma

vez que as vendas implicam, à luz da referida Portaria, novas aquisições, a análise do mérito da gestão terá de ter em

conta as alternativas de investimento que se colocam entre o momento da aquisição e a data do reembolso. 4 Diferenças líquidas entre o preço de venda e o custo de aquisição dos títulos. 5 Diferença entre o juro corrido dos títulos em carteira na data n e o juro corrido dos títulos em carteira na data n-1. 6 Juros de depósitos à ordem, ajustes diários em contratos de futuros (mais e menos-valias) e despesas/receitas diversas. 7 O IGFCSS gere como Liquidez determinados ativos de dívida (pública e privada) e fundos que, para verificação dos

limites à composição da carteira de ativos, são considerados nas rúbricas adequadas.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Em 2016, o valor aplicado em dívida garantida pelo Estado Português diminuiu 2,0% (€ 219 M), o que originou uma diminuição de 2,3 p.p. do seu peso na carteira, para 75,8%. Este facto não se deveu a

desinvestimento nestes ativos, pois o montante detido até aumentou € 318 M (o reforço em Obrigações do Tesouro atingiu € 563). Resulta, essencialmente, da diminuição do valor de mercado das Obrigações do Tesouro, que, mesmo assim, ainda se mantinha, no final do ano, € 911 M acima do valor de reembolso1. Na dívida pública de curto prazo, onde o valor aplicado caiu € 246 M, optou-se por reforçar o investimento em CEDIC e deixar de deter Bilhetes do Tesouro.

Apesar de se ter mantido o movimento de aquisições líquidas de dívida pública portuguesa, que é

coerente com a aplicação da Portaria 216-A/2013, de 02/07, o valor das aplicações em algumas das

outras componentes mais relevantes também cresceu: a dívida pública estrangeira aumentou 21,8%,

para € 1.295 M, representando 9,1% do total (chegou a ser 21,3% no final de 2013) e a componente investida em ações aumentou 19,3%, para € 1.505 M, o que representava 10,6% da carteira (23,2% da carteira, no final de 2010). O reforço das ações deu-se no mercado dos EUA, onde registava € 870 M (57,8% do total), em detrimento do Japão, onde o Fundo detinha € 395 M, e da Europa, onde estavam aplicados € 240 M (€ 87 M no Reino Unido, € 53 M na Suíça e € 101 M na Zona Euro2).

A componente de Imobiliário diminuiu 56,6%, para € 73 M, que equivaliam a 0,5% do FEFSS. Neste caso, acelerou-se a estratégia de desinvestimento, com a venda da totalidade das unidades de

participação no Fundo Office Park Expo (33,3%), por € 61 M (€ 66 M no Balanço em 2015), o resgate das unidades detidas no fundo Lusimovest, por € 8 M (com mais valia de € 262 m), e as vendas parciais nos fundos European Strategic Office Fund (€ 10 M, com menos valia de € 169 m), no Curzon Capital Partners (€ 242 m, com menos valia de € 146 m) e no FEI Caixagest Imobiliário (€ 19 M, com menos valia de € 4 M)3. O edifício do Taguspark, único imóvel detido pelo FEFSS, manteve-se valorizado em € 12 M4. O conjunto dos Fundos de Investimento Imobiliário que permanecem na carteira registavam menos

valias acumuladas de € 21 M, mantendo-se compromissos remanescentes de € 3 M5.

Na Reserva Estratégica6 manteve-se a participação de 1,5% na Pharol, que desvalorizou mais 23,6% em

2016, para menos de € 3 M. A participação qualificada na Finpro deixou de ter valor ainda em 2015, na sequência de insolvência: como a empresa ainda não foi extinta, integra a carteira valorizada a zero

euros. Esta componente, concebida para permitir uma concertação de interesses com a tutela, revelou-

se ineficaz: perderam-se milhões de euros sem que tenham sido tomadas, em tempo útil, decisões

capazes de minimizar perdas e proteger o património do Fundo.

1 O aumento do seu valor de mercado origina a contabilização de mais-valias potenciais e também se reflete na

rendibilidade apurada. Mas, tal como aconteceu em 2016, vai ter consequências no desempenho futuro do Fundo, dado

que o que não for realizado em mais-valias no mercado, tenderá a ajustar-se com a aproximação da data de reembolso,

acabando como variação negativa das valias potenciais ou como menos valia realizada. Em 2016, o IGFCSS não efetuou

nenhuma venda no mercado, embora tenha aderido a uma oferta de troca promovida pelo IGCP (PTOTELOE0010 por

PTOTEKOE0011). 2 Não contém investimentos em Portugal. As únicas ações nacionais estão na Reserva Estratégica. 3 Note-se que não consta do Relatório e Contas do FEFSS informação individualizada sobre receitas, rendimentos, valias

e rendibilidade resultantes destas (ou de outras) alienações de ativos. A que aqui se reporta consta da resposta às

Instruções n.º 1/2008 – 2.ª Secção do Tribunal de Contas. 4 Avaliação efetuada em 2013. 5 De € 0,3 M no Curzon Capital Partners II e de € 2,3 M no Pan European Real Estate Fund of Funds (PREFF). 6 Constituída por participações de longo prazo no capital de sociedades que representem interesses estratégicos do Estado

Português ou constituam uma vertente complementar de investimento para a carteira, com um perfil temporal mais longo

e uma expectativa de rendibilidade superior. Na prática foi criada para enquadrar uma participação na Portugal Telecom

que resultou de um pagamento, em espécie, do Estado à Segurança Social.

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Tribunal de Contas

335

O montante considerado em Liquidez1 diminuiu 3,2% (€ 19 M) face ao período homólogo, representando 4,0% da carteira (€ 569 M). É nesta componente que são refletidas as margens afetas à réplica de investimentos feitos através de contratos de futuros, pelo que não tem uma leitura

independente das outras componentes e da estratégia relativa aos produtos derivados2.

O peso dos ativos de Rendimento Fixo (dívida) diminuiu para 84,8% (85,6% em 2015) enquanto o peso

dos ativos de Rendimento Variável (ações e participações da Reserva Estratégica) subiu para 10,6%

(9,0% em 2015).

13.3.2.3. Limites regulamentares e rendibilidade

Os limites, as operações autorizadas e os níveis de risco a respeitar, estão definidos no Regulamento de

Gestão, devendo enquadrar-se à luz do estipulado na Portaria 118/2012, de 30/04, nas LOE 2014 e 2015

e na Portaria 216-A/2013, de 02/073.

O Gráfico C.18 compara o peso de cada componente da carteira com os limites enquadrados pelo

Regulamento de Gestão e pelo target de dívida pública nacional que consta da Portaria 216-A/2013.

O Gráfico C.19 permite ponderar a rendibilidade obtida pelas várias componentes da carteira com a sua

dimensão relativa, para melhor avaliar o seu impacto4.

1 Pode incluir depósitos à ordem, fundos de tesouraria, depósitos a prazo, subtraindo-se o valor dos Futuros e as valias

potenciais de forwards. 2 Embora, devido ao risco de crédito, os investimentos em unidades de participação em instrumentos de investimento

coletivo não devam ultrapassar 10% do valor patrimonial de cada Fundo, o FEFSS mantém uma participação de 11,2%

no New Energy Fund (incluído na componente de Liquidez), que foi aprovada pelo Conselho Diretivo. 3 A Portaria 1273/2004, de 07/10, aprovou o Regulamento de Gestão, com o propósito genérico de “(...) otimizar a relação

entre rentabilidade e risco na gestão dos recursos do FEFSS (...)”.A Portaria 118/2012, de 30/04, veio suspender temporariamente“(…) as restrições previstas no atual Regulamento de Gestão do Fundo no que se refere à classificação de risco das instituições bancárias nacionais”durante o período da assistência externa a Portugal, mantendo-se depois em vigor, até ao final de 2014, por via do disposto no n.º 1 do art. 256.º da LOE 2014 (faz vigorar até 31 de dezembro de

2014 “todas as medidas e os efeitos, de natureza temporária, previstos em lei ou regulamentação que se encontrem diretamente dependentes da vigência do PAEF”, e até à decisão de revogação do procedimento por défices excessivos a que Portugal se encontra sujeito pela legislação da União Europeia, por via do art. 256.º da LOE 2015. A Portaria 216-

A/2013, de 02/07, estipula a substituição dos ativos em outros Estados da OCDE por dívida pública portuguesa até ao

limite de 90% da carteira. 4 O montante considerado no Gráfico C.18 como dívida privada corresponde a ativos geridos como Liquidez junto das

instituições bancárias, resultando daí a sua equiparação a dívida privada, no que concerne ao risco. No Gráfico C.19

constam apenas as componentes para as quais o IGFCSS disponibilizou os dados da rendibilidade.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 361

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Gráfico C. 18 – Limites à composição da carteira

* Aplicações em que a contraparte é uma instituição bancária e que, embora geridas na Liquidez, são consideradas dívida privada para efeitos do risco.

** Considerando o peso do valor nocional dos Derivados (em módulo).

Fonte: IGFCSS.

Gráfico C. 19 – Rendibilidade e dimensão das componentes da carteira

Fonte: IGFCSS.

Constata-se que o target máximo para a dívida pública portuguesa que consta da Portaria 216-A/2013

(90%), ficou mais distante, estando agora a 14,2 p.p. (11,9 p.p. no final de 2015). Isto ocorre apesar de

se ter mantido a aquisição líquida destes títulos. Em função do articulado daquela Portaria, os limites

mínimo e máximo do Regulamento de Gestão perdem pertinência1. A taxa de rendibilidade da carteira

de dívida pública nacional caiu para -1,7% (havia registado 2,6% em 2015), o que explica, em grande

medida, o desempenho da taxa de rendibilidade global (-0,6%).

1 Ao limite mínimo de 50% sobrepõe-se a obrigação de, pela referida Portaria, reforçar até ao máximo de 90% da carteira.

Por outro lado, o limite máximo de 100% da carteira aplicado em dívida pública nacional, embora resulte da leitura do

Regulamento de Gestão, serve essencialmente para operacionalização gráfica dos dados, uma vez que tal opção implicaria

uma diversificação nula da carteira.

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Tribunal de Contas

337

As ações apresentaram uma rendibilidade de 7,8% (12,2% em 2015), dinamizada pelo desempenho no

mercado dos EUA, onde atingiu os 10,9% (ficou-se pelos 6,2% no Japão e 1,6% na Europa). O seu peso

na carteira recuperou de 9,0% em 2015 para 10,5%1, mas encontra-se longe do máximo regulamentar

de 25%.

O montante aplicado em dívida pública estrangeira, para a qual não existe um limite regulamentar

explícito (mas que, no máximo, poderia constituir a totalidade dos 50% da carteira que não têm de ser

investidos em dívida pública nacional), aumentou em termos homólogos, fixando-se em 9,1% da carteira

(7,5% em 2015).

O Imobiliário, que regulamentarmente poderia chegar aos 10%, caiu para 0,5% do total (1,2% no ano

anterior), mas a taxa de rendibilidade manteve a tendência positiva dos últimos dois anos, ficando nos

4,6% em 2016. A Reserva Estratégica registou mais um ano de rendibilidades negativas (agora de 6,8%),

agravando a sua posição residual na carteira para 0,02% do total. A componente de Fundos de

Investimento Mistos não é representativa.

A Liquidez inclui aplicações de curto prazo, depósitos e outros instrumentos junto de instituições

financeiras privadas. Neste contexto, e embora o FEFSS não invista, desde 2012, em títulos de dívida

privada, cujo limite máximo é de 40%, possuía, no final de 2016, € 520 M (3,7% da carteira) enquadrados no risco de dívida privada, geridos em Liquidez2.

De acordo com o Relatório e Contas do FEFSS, os restantes limites regulamentares também eram

respeitados: a exposição não coberta a moeda estrangeira era inferior a 15% (6,4%); o valor nocional

dos Derivados equivalia a -10,5% do valor total do FEFSS3; não existiam montantes aplicados em

operações de fixação de custo de aquisições futuras (o limite é de 10%); e os investimentos encontravam-

se diversificados4, não ultrapassando os limites estabelecidos5.

Nos últimos anos, o comportamento dos mercados tem gerado fortes variações no valor dos ativos,

dificultando a análise do valor gerado pela gestão. O Gráfico C.20 mostra a evolução da rendibilidade

nominal e do risco6.

1 Para efeito da verificação do limite regulamentar de 25% não se inclui o valor nocional dos Futuros e as valias potenciais

de forwards que integram esta componente na ótica de gestão da carteira. 2 Para efeitos regulamentares é considerado o risco associado às instituições financeiras com as quais se realizam as

operações, podendo incluir depósitos à ordem, depósitos a prazo, valias potenciais de forwards e fundos de tesouraria.

Note-se que, no que concerne às instituições bancárias nacionais, a limitação de risco mínimo de BBB-/Baa3 se encontra

suspensa pela Portaria 118/2012. 3 O valor nocional das posições líquidas detidas em instrumentos financeiros derivados não pode exceder o valor líquido

global do FEFSS (n.º 1 do art. 10.º do Regulamento de Gestão). 4 O Regulamento refere que a aplicação de valores em títulos emitidos por uma entidade ou as operações realizadas com a

mesma contraparte não pode ultrapassar 20% dos respetivos capitais próprios nem 5% do ativo do Fundo. 5 Excluindo os produtos indexados, diversificados por natureza, as maiores participações faziam parte da Reserva

Estratégica (na Pharol, com 1,5% e na Finpro, que entrou em processo de falência) e os títulos com maior peso no FEFSS

eram a Nestlé (com 0,08%) e a Novartis (0,06%). 6 A Rendibilidade é apurada pelo método Time Weighted Rate of Return (TWRR), numa base diária e por classes de ativos

e o risco considerando o desvio-padrão anualizado das rendibilidades diárias.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Gráfico C. 20 – Rendibilidade e Risco

Fonte: IGFCSS.

O cenário de rendibilidades elevadas com um nível de risco relativamente baixo manteve-se até 2007.

Em 2008 e 2011 reflete-se o maior impacto da crise nos mercados financeiros e os anos de 2009 e 2012

beneficiaram da reversão daqueles movimentos para apresentar rendibilidades elevadas.

A partir de 2008 o nível de risco sobe para níveis mais elevados (atingiu 8,3% em 2011), primeiro, com

o aumento da volatilidade no mercado acionista, depois, com idêntica tendência no mercado de dívida

pública. Em 2014, e embora a composição da carteira já não seja comparável, o nível de risco pareceu

estar a regressar a valores antes da crise, mas o valor de 2015 (5,2%) traduz um novo aumento da

volatilidade, que vem ligeiramente atenuada em 2016 (4,8%).

Em 2014, a taxa de rendibilidade foi bastante elevada, mas 2015 já apresentou o desempenho menos

conseguido desde 2011. Em 2016 a taxa de rendibilidade voltou a terreno negativo pela terceira vez na

história do Fundo (todas nos últimos dez anos), embora em menor dimensão que em 2008 e 2011. Nos

últimos anos, a carteira tem estado a acomodar a variação das valias potenciais que resultam do aumento

do valor da dívida pública nacional para níveis acima do valor de reembolso, pois está a ser contabilizada

como investimento a mercado.

O FEFSS apresenta uma rendibilidade média anual de 4,65% desde a sua constituição, que baixa para

3,96% considerando apenas os últimos 10 anos e melhora para 9,26% nos últimos cinco. Em termos

reais a taxa de rendibilidade nos últimos 10 anos ficou em 2,45%, subindo para 8,34% nos últimos 5

anos1. As grandes oscilações na taxa de rendibilidade dos últimos anos têm afetado substancialmente a

análise das suas rendibilidades históricas.

13.3.3. Análise da estratégia e resultados

No final de 2016 o valor do FEFSS equivalia a 116,4% da despesa anual com pensões do sistema

previdencial (Gráfico C.21), face a uma proporção de 85,1% dez anos antes. Significa que permitiria

suportar 14,0 meses de pensões, aquém do objetivo de dois anos subjacente à sua criação2.

1 Considerando a TIR para a totalidade do período e TWRR para os intervalos a 5 e 10 anos. O FEFSS esteve sujeito a

retenção na fonte de IRC sobre o rendimento de capitais até 2000. O IGFCSS considera o IHPC da Zona Euro. 2 Apesar deste objetivo quantificado, o FEFSS foi concebido para suprir eventuais défices do Sistema ao longo do tempo

e não para se constituir em alternativa ou para substituir o paradigma previdencial atual.

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Página 365

Tribunal de Contas

339

O impacto da crise das dívidas soberanas interrompeu, em 2010 e 2011, uma tendência de valorização

do FEFSS acima da progressão do gasto com pensões. A partir de então, e até 2015, a dívida pública

nacional recuperou valor de mercado, contribuindo para variações da carteira superiores às ocorridas

nas pensões1. Mas em 2016 o valor do FEFSS aumentou apenas 1,0% enquanto a despesa total com

pensões aumentou 2,5% e no sistema previdencial cresceu 3,4%.

Gráfico C. 21 – Cobertura das Pensões pelo FEFSS

Gráfico C. 22 – FEFSS em % do PIB

Fonte: CSS e IGFCSS. Fonte: IGFCSS e INE.

Em proporção do PIB (Gráfico C.22), o valor do FEFSS progrediu de 4,3%, em 2007, para 7,8%, em

2015, caindo para 7,7% em 20162. O impressionante crescimento do valor dos investimentos em dívida

pública nacional, que lhes permitiu que passar de uma proporção de 2,6% do PIB para 6,1% em apenas

4 anos, inverteu-se em 2016, baixando para 5,8%.

Em 2016 a rendibilidade do Fundo foi negativa (-0,57%), o que resulta, em grande medida, do

movimento de ajustamento do valor da dívida pública portuguesa, diminuindo a diferença entre o valor

de mercado e o valor de reembolso3, que terá de se refletir negativamente nas valias. Embora o

desempenho do FEFSS compare favoravelmente, na componente gerida contra benchmark, com os

fundos de poupança reforma nacionais associados da APFIPP, o facto de dispor de grande parte da

carteira aplicada em títulos de dívida pública portuguesa não permite uma análise relativa sustentada4.

No final de 2016, apenas as componentes de dívida pública estrangeira (OCDE) e ações, que

representavam 19,7% do Fundo, permaneceram geridas contra o benchmark interno (um cabaz de índices

de mercado elaborado e aprovado pela entidade gestora), tendo obtido um excess return negativo de

0,25%5, que compara com um excess return positivo 0,18% em 2015. A dívida pública portuguesa é

1 Em 2013 o aumento do FEFSS superou a expansão do total de pensões, mas ficou aquém da variação ocorrida nas pensões

do Sistema previdencial. 2 O PIB nominal aumentou 3,0% em 2016, 3,9% em 2015, 1,7% em 2014, e 1,1% em 2013 (Contas Nacionais Trimestrais

por Setor Institucional, INE, 22/09/2017). O ano de 2011 foi o pior ano do FEFSS, tendo registado uma rendibilidade

negativa de 11%. 3 A realização integral das mais-valias será pouco provável, pois implica uma elevada rotação da carteira, liquidez

suficiente no mercado e a substituição por novos títulos de dívida com yields provavelmente inferiores face à sua evolução

recente. 4 Não são apenas diferenças na composição das carteiras de ativos dos vários fundos mas também a aparente ausência de

critérios técnicos na decisão estratégica, o impacto das decisões da tutela na gestão, a desvalorização do risco de não

diversificação e da inevitável associação do desempenho do Fundo à evolução no mercado de apenas um ativo. 5 O que significa que o retorno obtido pela gestão daqueles ativos, líquido de custos bancários, foi 0,25% inferior à que se

obteria se se implementasse a composição do benchmark interno.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

340

objeto de gestão autónoma e desconhece-se a estratégia de gestão das restantes componentes. Face ao

benchmark aprovado pela Tutela (funding ratio), que incide também nas mesmas componentes do

benchmark interno, o FEFSS apresentou um excess return negativo de 2,83%, face a um resultado positivo

de 1,62% em 2015.

Os custos de funcionamento do IGFCSS aumentaram 10,8%, para € 2.195 m, dos quais € 1.463 m são custos com pessoal e € 691 m são fornecimentos e serviços externos1. O financiamento do OSS aumentou 27,7%, para € 2.947 m (€ 2.882 m de transferências correntes e € 65 m de transferências de capital), o que equivale a 0,021% do montante médio sob gestão no FEFSS2. O Fundo suportou ainda

€ 1.994 m em despesas bancárias (mais 35,1%), entre as quais, € 900 m em comissões de custódia (menos 6,4%) e € 1.071 m em comissões de transação (mais 127,5%).

A 31 de dezembro de 2016, o Estado Português respondia por 75,8% da carteira, uma concentração de

investimentos que implica dependência e aumento do risco. A gestão do FEFSS está enquadrada por

objetivos externos ao setor, encontrando-se secundarizadas premissas básicas de gestão, como o

compromisso entre risco e rendibilidade e a diversificação (basilares no Regulamento de Gestão) e a

autonomia técnica da equipa de gestão.

Reitera-se a posição, expressa no Parecer de 2015, sobre a falta de transparência nas componentes da

carteira não sujeitas a uma gestão ativa, onde a Reserva Estratégica constitui um caso paradigmático de

perda de valor3, e cujos impactos surgem dissolvidos no desempenho global, sem que exista um efetivo

comparativo de desempenho, ou sequer dados que permitam a avaliação do resultado das operações

mais significativas.

É também com preocupação que se constata que:

 Relativamente à missão, o FEFSS se vem constituindo mais como um instrumento de intervenção no mercado da dívida pública e de gestão da emissão de dívida nacional e menos como um

instrumento de criação de valor para responder a necessidades de estabilização do sistema de

segurança social. Por outro lado, as suas reservas não foram utilizadas nos anos em que o setor

se mostrou deficitário;

 Em termos da estratégia de gestão, não se conseguiu implementar um modelo em que a seleção da totalidade dos ativos se encontre fundamentada em critérios técnicos, em que os resultados

obtidos sejam sujeitos a uma avaliação face a referenciais adequados (e aprovados fora da esfera

da entidade gestora) e em que dessa avaliação resultem consequências, nomeadamente ao nível

do seu financiamento/remuneração;

 Relativamente aos meios humanos e financeiros necessários, se privilegiam argumentos relacionados com o tamanho da carteira e extensão dos mercados-alvo, em detrimento das

1 Os custos de funcionamento representam 0,016% do montante médio sob gestão, mais 0,002 que no ano anterior. Os

custos com pessoal aumentaram 17,1% (entraram durante o ano 5 novos colaboradores) e os fornecimentos e serviços

1,3%. Nestes, destaque para os encargos com instalações (€ 171 m) e com terminais de acesso a informação financeira (€ 352 m).

2 No ano anterior ficou em 0,017%. Recebeu ainda € 58 m de prestação de serviços ao Fundo dos Certificados de Reforma

(FCR) e € 229 m ao Fundo de Compensação do Trabalho (FCT), também geridos pelo IGFCSS. 3 O investimento na Finpro perdeu-se com o processo de insolvência. A participação na Transurban foi alienada com

elevadas menos-valias. A participação na Portugal Telecom ficou alheada das oportunidades do mercado,

desempenhando o Fundo o papel de investidor institucional. Em 2015, a venda de uma parcela de ações da agora Pharol,

permitiu-lhe deixar de ter uma participação qualificada, numa altura em que seriam tomadas decisões cruciais. No final

de 2016, contabilizavam-se, no conjunto da Finpro e da Pharol, € 89 M de menos-valias acumuladas.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 366

Página 367

Tribunal de Contas

341

características intrínsecas das tipologias de ativos, como a complexidade, a rotação média, o

risco (nas suas várias vertentes) ou a sua natureza mais ou menos diversificada;

 No desempenho em 2016 se destaca: um aumento substancial dos custos de funcionamento do IGFCSS e das comissões de transação suportadas pelo FEFSS1; o desempenho da carteira do

FEFSS aquém da performance dos benchmarks interno e da tutela; e a diminuição homóloga da

rotação da carteira.

Para aumentar o nível de transparência e de accountability, seria importante que o Relatório e Contas do

FEFSS comportasse uma comparação entre a sua rendibilidade e as yield da dívida pública portuguesa,

utilizando prazos comparáveis; que reportasse o valor individualizado das vendas de ativos (e respetiva

rendibilidade acumulada) e que apresentasse a rendibilidade e o risco para cada componente da carteira.

1 Veja-se que 66,3% da carteira se encontra aplicada em apenas dez emissões de Obrigações do Tesouro. Apenas uma não

transita de 2015 e, das restantes nove, apenas em seis houve reforço das quantidades detidas.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

342

CAIXA 8 – CAIXA GERAL DE APOSENTAÇÕES (CGA)

A Caixa Geral de Aposentações, IP (CGA) é o instituto público responsável pela gestão do regime de

proteção social, nas eventualidades de velhice, morte e sobrevivência, dos trabalhadores do setor público,

atualmente designado por regime de proteção social convergente, onde se enquadram as pensões de

aposentação dos ex-trabalhadores em funções públicas e equiparados, pensões de reforma dos ex-membros

das forças armadas e da GNR, pensões de sobrevivência e outras de natureza especial, designadamente

pensões de preço de sangue e pensões por serviços excecionais e relevantes prestados ao País. A CGA faz

parte integrante da administração indireta do Estado, sob tutela do Ministério do Trabalho, da Solidariedade

e Segurança Social, desde 1 de janeiro de 20151, dotada de autonomia administrativa e financeira, património

próprio, e com jurisdição sobre todo o território nacional. Desde a sua criação e até 31 de dezembro de 2014

foi tutelada exclusivamente pelo membro do governo responsável pela área das Finanças e da Administração

Pública.

Historicamente, o financiamento do sistema de pensões da responsabilidade da CGA assentou em dois pilares

principais: quotização suportada pelos trabalhadores em funções públicas no ativo (10% da massa salarial

até 2010 e 11% em 2011 e anos seguintes) e transferências do OE na justa medida das necessidades de

financiamento do sistema, onde se incluíam as verbas substitutivas das contribuições das entidades

empregadoras públicas (com exceção das entidades integradas na administração pública local e regional que

estavam obrigadas a uma contribuição de igual montante ao da quota descontada aos respetivos

funcionários). O esforço financeiro do Estado para com a CGA tinha, assim, três objetivos: suprir a falta de

contribuições das entidades empregadoras; financiar o pagamento de pensões da sua inteira responsabilidade

e financiar o défice do sistema, caso ele existisse.

A partir de 2006 foram sendo adotados, gradualmente, vários procedimentos de convergência com o RGSS,

designadamente no que respeita a taxas contributivas, fórmulas de cálculo de pensões, idades de reforma,

carreiras contributivas relevantes e prazos de garantia, entre outros. Ao mesmo tempo, foi dado um novo

formato ao modelo de financiamento tradicional da CGA, de forma a separar as transferências do OE nos

seguintes termos: as que consubstanciavam as responsabilidades do Estado enquanto entidade empregadora;

as que se destinavam a satisfazer as responsabilidades financeiras diretas do Estado no pagamento de pensões

que não estavam ancoradas no sistema de repartição previsto para a CGA (as chamadas pensões da

responsabilidade do Estado); e as destinadas a suprir as necessidades de financiamento efetivas da CGA

(financiamento do défice do sistema). Esta alteração de formato, que teve a virtualidade de clarificar o

financiamento da despesa com as pensões dos trabalhadores do Estado, padeceu, porém, de algumas

deficiências, designadamente a de não proporcionar uma plataforma de comparação com o RGSS, para o

qual se entendeu dever convergir, uma vez que a cadeia de repartição (“pay as you go”) que se encontra na base dos dois sistemas deixou de existir para o sistema de pensões da responsabilidade da CGA desde 2006,

ano em que os novos trabalhadores em funções públicas passaram a ser obrigatoriamente inscritos no RGSS,

deixando de financiar as pensões em pagamento da CGA e passando a financiar as pensões em pagamento

do RGSS. Esta quebra de compromisso geracional, administrativamente imposta, implicou um acréscimo

das necessidades de financiamento reais da CGA e, consequentemente, do esforço financeiro do Estado.

1 A CGA, IP passou a estar sob a superintendência e tutela do MTSSS (art. 5.º, n.º 1, alínea h) do Decreto-Lei 167/2013,

de 31/12, com a redação introduzida pelo art. 2.º do Decreto-Lei 28/2015); tais poderes passaram a ser exercidos

conjuntamente pelo MTSSS e pelo MF em matérias objeto de negociação coletiva ou de participação dos trabalhadores

da Administração Pública através das suas associações sindicais e na elaboração de legislação com incidência orçamental

(art. 5.º, n.º 2, do Decreto-Lei 131/2012, de 25/06, com a redação introduzida pelo art. 3.º do Decreto-Lei 28/2015). Esta

alteração produz efeitos a partir de 01/01/2015 por força do disposto no art. 9.º do Decreto-Lei 28/2015, de 10/02.

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Tribunal de Contas

343

Caracterização da população alvo: aposentados e subscritores da CGA

O número total de aposentados da CGA, em 31 de dezembro de 2016, era de 482.6141 indivíduos,

maioritariamente do sexo masculino (53,4%) e com uma média de idades que rondava os 71,5 anos, sendo

que mais de metade (60,7%) dos indivíduos deste universo tinha idades compreendidas entre os 65 e os 74

anos e cerca de 20,8% tinha menos de 65 anos de idade. Já no que respeita aos escalões de rendimento, 21,2%

das pensões em pagamento eram iguais ou inferiores a € 500/mês, 27,9% situaram-se entre € 501 e € 1.000/mês, 27,6% entre os € 1.001 e os € 2.000/mês e 23,3% nos escalões superiores de rendimento (superiores a € 2.000/mês).

Em 2016, a média de idades dos subscritores da CGA, à data de aposentação, foi de 62,8 anos2 (61,1 em

2015) e à data da morte de 79,6 anos (79,1 em 2015), indicadores que remetem para que a duração média

das pensões em pagamento tenha passado a ser de 19,3 anos (mais 3,8 anos que em 2006), enquanto o tempo

médio de serviço relevante para efeitos de formação do valor da pensão (carreira contributiva) foi de 26 anos

em 20163 (30,3 anos em 2015 e 30,6 anos em 2006).

Quanto aos subscritores, o seu número total era, em 01/01/2016, de 463.861 indivíduos, menos 2,0% que no

período homólogo anterior (menos 37,3% que em 2006), observação que é consistente com a política de

recursos humanos estabelecida para o setor público. Esta população pertencia maioritariamente à

administração central do Estado (55,1%), era maioritariamente feminina (57,2%) e a sua média de idades

rondava os 50,6 anos.

Assim, o índice de dependência dos aposentados e pensionistas face aos subscritores evoluiu, entre 2006 e

2016, de 0,7 para 1,4, o que configura um agravamento acentuado deste indicador, justificado pelo aumento

da esperança de vida da população com 65 ou mais anos de 19,19 em 2015 para 19,31 em 2016 e pela

natureza de universo fechado deste subsistema. (Gráfico C.23).

Gráfico C. 23 – Grau de dependência do n.º de aposentados/pensionistas face ao n.º de subscritores

Fonte: CGA.

1 Menos 0,8% face ao período homólogo anterior, estável no triénio e mais 27,6% face a 2006. 2 Indicador que diverge do objetivo que, para 2016, foi fixado em 66 anos e 2 meses (idade normal de acesso à pensão de

velhice para o RGSS e para o regime de proteção social convergente) que combina com uma carreira contributiva de pelo

menos 40 anos. 3 Segundo o relatório e contas de 2016, o tempo médio relevante para o cálculo da pensão de aposentação e reforma

registou uma diminuição em relação ao ano anterior de 4,3 anos, justificada pelo maior peso das pensões unificadas pagas

da responsabilidade do CNP, com tempos de serviço mais baixos no total das novas pensões atribuídas no ano pela CGA.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

344

Fontes de financiamento da CGA

O comportamento das receitas da CGA, em 2016, foi influenciado pelas medidas de política orçamental com

incidência sobre salários e pensões e, bem assim, pela evolução demográfica dos seus beneficiários,

considerada a sua natureza de universo fechado.

Quadro C. 42 – CGA – Fontes de financiamento

(em milhões de euros e %)

Fontes de Financiamento 2014 2015 2016

Tvh Peso na

receita

total 2016/15 2016/14

Contribuições e Quotizações 4 421,1 3 869,0 3 958,4 2,3 -10,5 39,2

Quotas 1 292,8 1 251,2 1 279,9 2,3 -1,0 12,7

Contribuição de Entidades 2 665,4 2 594,3 2 665,8 2,8 0,01 26,4

Contribuição extra solidariedade 462,8 23,5 12,7 -45,7 -97,2 0,1

Dotação do Orçamento do Estado 4 130,8 4 858,3 4 926,0 1,4 19,2 48,8

Comparticipação do Estado para financiamento do défice 3 870,4 4 603,8 4 663,3 1,3 20,5 46,2

Comparticipação para financiamento de pensões da responsabilidade do Estado

260,4 254,5 262,7 3,2 0,9 2,6

Deficientes das Forças Armadas - invalidez 172,5 171,6 170,0 -0,9 -1,4 1,7

Subvenções vitalícias 0,7 0,7 12,4 1 779,2 1 592,5 0,1

Pensões de preço de sangue 31,0 30,2 29,6 -2,2 -4,7 0,3

Outras 51,9 50,1 49,2 -1,8 -5,1 0,5

Ex-combatentes 4,3 2,0 1,5 -25,8 -65,3 0,0

Comparticipação da SS para pagamento de pensões 509,7 524,6 528,1 0,7 3,6 5,2

Comparticipação do MDN para pagamento do complemento de pensões (DL n.º 166-A/2013)

14,0 27,6 26,1 -5,4 86,5 0,3

Comparticipação de outras entidades para pagamento de pensões e outras prestações

72,1 87,9 73,3 -16,6 1,6 0,7

Outras Receitas 13,7 18,9 13,4 -29,1 -2,6 0,1

Total das receitas dos fundos 2,8 58,2 0,0 -100,0 -100,0 0,0

Transferência DL n.º 30/2013 (IFAP) 0,4 0,0 0,0 -100,0 0,0

Transferência DL n.º 166-A/2013 (FP MILITARES) 2,4 0,0 0,0 -100,0 0,0

Transferência DL n.º 62/2015 ( FP ENVC - Estaleiros Navais de Viana do Castelo, SA)

0,0 11,2 0,0 -100,0 0,0

Transferência DL n.º 62/2015 (DGTF) 0,0 12,7 0,0 -100,0 0,0

Transferência DL n.º 62/2015 (FP GESTNAV - Serviços Industriais, SA)

0,0 34,3 0,0 -100,0 0,0

Aplicações Financeiras – reembolso e rendimento de títulos 568,3 579,7 577,8 -0,3 1,7 5,7

Reembolso de títulos 306,2 300,2 313,4 4,4 2,4 3,1

Rendimento de títulos 262,1 279,5 264,5 -5,4 0,9 2,6

Transferências de instituições comunitárias 0,0 0,1 0,2 277,0 0,0

Saldo Transitado da gerência anterior 75,3 53,0 0,4 -99,2 -99,4 0,0

Receita Total 9 808,0 10 077,1 10 103,8 0,3 3,0 100,0

Receita Efetiva 9 426,5 9 724,0 9 790,0 0,7 3,9 96,9

Fonte: CGA.

O efeito dos fatores conjunturais, como a apreciação da massa salarial dos trabalhadores em funções públicas

devida à reversão das políticas salariais, em vigor durante o PAEF, e o efeito de base decorrente da aplicação

da convergência gradual entre sistemas1, não foram suficientes para manter a tendência (ainda que mitigada)

de recuperação da capacidade de autofinanciamento da CGA verificada em 2014, passando os fatores

estruturais (diminuição do número de subscritores e a sua capacidade contributiva) a ter um peso

preponderante nesta dinâmica (primado da autossustentabilidade), configurada na evolução das receitas

22 DE DEZEMBRO DE 2017 370

Página 371

Tribunal de Contas

345

provenientes de contribuições e quotizações (onde se incluíram as receitas provenientes da CES)2, as quais

evidenciaram uma evolução negativa no triénio (menos 10,5%) ainda que positiva em termos homólogos

(mais 2,3%).

A alteração do modelo de financiamento da CGA (a partir de 2009), operada no âmbito do processo de

convergência para o RGSS, fortemente indexada ao número de beneficiários ativos, a perda de subscritores,

com o ano de 2015 a marcar um ponto de viragem, ano em que pela primeira vez o número de subscritores

foi inferior ao número de aposentados/reformados, constituiu a principal limitação estrutural à evolução

destas receitas.

No triénio considerado, o efeito das medidas de convergência aplicadas já não foi suficiente para compensar

o efeito da diminuição do número de beneficiários ativos nas receitas próprias do sistema.

Consequentemente, o esforço financeiro do Estado no equilíbrio do sistema tende a ser cada vez mais

relevante, tendo representado, em 2016, 46,2% (45,7% em 2015) das receitas totais. Entre períodos

homólogos, as receitas provenientes do Estado, para financiamento do défice do sistema, aumentaram 1,3%

(20,5% no triénio).

Os fundos de pensões das empresas de capitais públicos transferidos para a CGA evidenciaram uma evolução

negativa de € 101 M em 2016, representando, no final do ano, 85,9% das suas reservas iniciais. Em termos estruturais, a evolução do valor destas reservas é pressionada pela diferença entre as responsabilidades

(pensões e prestações sociais), que tendem a evoluir no sentido crescente, e os recursos obtidos para fazer

face a essas responsabilidades (quotizações, contribuições e rendimentos gerados pelas respetivas carteiras),

que tendem a diminuir, quer por via da diminuição das correspondentes populações ativas, quer por via da

capacidade de gerar mais ou menos valor através da aplicação dos seus recursos nos mercados financeiros.

1 No ano de 2014, a taxa contributiva passou para 23,75% (alteração introduzida ao art. 6.º A do Estatuto da Aposentação

pelo art. 81.º da LOE/2014), igualando as entidades empregadoras públicas o esforço contributivo das entidades

empregadoras privadas (empresas) para o RGSS, mas superando-o em razão das eventualidades cobertas. Na senda da

convergência entre sistemas, o esforço dos serviços públicos, na sua qualidade de entidades empregadoras, passou a ser

de 20,0% em 2013 (LOE/2013) e de 23,75% em 2014 (LOE/2014). Em termos comparativos com o RGSS, o esforço

contributivo total (trabalhadores e entidades empregadoras) para o regime de proteção social convergente foi de 34,75%

que compara com o do RGSS. Já o leque das eventualidades cobertas pelo regime de proteção social convergente difere

das eventualidades abrangidas pelo RGSS, cobrindo apenas parte destas (velhice, sobrevivência, invalidez e morte). Nos

termos da tabela de desagregação das taxas contributivas, o custeio destas eventualidades do RPSC absorve 26,94%, dos

34,75% arrecadados, acima dos índices de custeio das eventualidades cobertas, pese embora não tenham sido previstas

alterações nem quantitativas nem qualitativas no que respeita ao regime de benefícios. 2 A CES, que impendeu sobre o conjunto dos rendimentos auferidos a título de pensões por um único titular e gerou uma

receita de € 463 M em 2014 (€ 388 M em 2013) passou em 2015 a representar apenas 0,2% da receita total arrecadada pela CGA (€ 24 M) e 0,1% em 2016 (€ 13 M). Durante a vigência do PAEF (2011 – 2014) esta receita expandiu-se 15.359,4% e representou uma redução dos fluxos financeiros para os beneficiários de 4,9% na despesa com pensões,

minimizando as necessidades de financiamento cobertas por dotações do OE que apresentaram, no mesmo período, um

recuo de 7,2%.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 371

Página 372

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

346

Quadro C. 43 – CGA – Reservas dos Fundos de Pensões

(em milhões de euros)

Fundo

Ano de

constituição da

reserva

Reserva

constituída

Reserva em Relação entre Reserva em

31 de dezembro de 2016 e a

Reserva Constituída 01/01/2016 31/12/2016

Empresa (1) (2) (3) (4)=(3)/(1)

DRAGAPOR 1998 7,7 6,2 6,1 79,3%

RDP I 1999 28,4 8,8 7,7 27,1%

RDP II 2003 47,2 29,0 25,4 53,7%

INCM 2004 137,8 96,1 90,5 65,6%

ANA 2004 173,6 106,3 98,2 56,6%

NAV 2004 235,7 181,1 174,1 73,9%

CGD 2004 2 504,4 1 902,1 1 825,1 72,9%

PT 2011 2 418,4 2 430,8 2 432,9 100,6%

MARCONI 2011 385,4 391,3 392,0 101,7%

BPN 2012 96,8 123,0 127,7 132,0%

IFAP 2013 48,5 47,4 47,1 97,2%

ENVC 2015 23,9 23,0 20,8 87,1%

GESTNAVE 2015 34,3 32,5 29,2 85,2%

Total 6 142,1 5 377,6 5 276,8 85,9%

Fonte: CGA.

No ano de 2016, a diferença entre a constituição e anulação de provisões para fazer face a menos-valias

potenciais de investimentos financeiros que reflete a oscilação dos referidos mercados evidenciou um maior

risco de obtenção de menos-valias potenciais e, consequentemente, uma desvalorização das correspondentes

reservas. Com efeito, dos 18 fundos integrados na CGA, apenas 3 geraram receitas suficientes para suportar

os inerentes encargos e valorizar as suas reservas.

Entre 2011 e 2014, as reservas de quatro destes fundos (CTT, BNU, INDEP e Macau) esgotaram-se,

passando as inerentes responsabilidades com pagamento de pensões e outros encargos a ser suportadas por

verbas provenientes de receitas próprias da CGA e/ou do OE1. Também os encargos com complementos de

pensão pagos aos ex militares por conta do ex Fundo de Pensões dos Militares das Forças Armadas se

encontram na mesma situação. Entre 2011 e 2016, o esforço financeiro do Estado para fazer face a estes

encargos foi de € 1.069 M (€ 204 M em 2016).

Aplicação de recursos

A despesa efetiva da CGA totalizou € 9.703 M, mais 0,1% que em 2015 e mais 2,2% no triénio. Desta, destacam-se as pensões, que representaram, em 2016, cerca de 98,0% da despesa efetiva. Dos encargos

suportados com pensões, a maior fatia respeita ao pagamento de pensões de aposentação, as quais

apresentaram uma tendência crescente continuada no triénio, mais 1,5% (menos 0,2% em termos

homólogos). Esta tendência manteve-se, apesar das alterações legislativas introduzidas nas condições de

aposentação e nas fórmulas de cálculo das respetivas pensões que enformam a convergência para o regime

geral da segurança social e, bem assim, das medidas de contenção da despesa pública, fortemente suportadas

na racionalização da despesa corrente primária (salários e pensões).

1 A propósito desta matéria, já o TdC, no relatório de auditoria às transferências para a CGA dos fundos de pensões

(Relatório n.º 40/2005 – Auditoria Orientada às Transferências para a Caixa Geral de Aposentações das Responsabilidades com Pensões do Pessoal dos CTT, RDP, CGD, ANA, NAV Portugal e INCM, disponível em

www.tcontas.pt) sublinhou que o efeito positivo imediato que se sentiria nas finanças públicas do país com as

transferências de fundos de pensões das empresas de capitais públicos para a CGA, daria lugar, no futuro, a um resultado

negativo, que se sentiria por um longo período de tempo (cfr. pág. 6 do referido relatório).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 372

Página 373

Tribunal de Contas

347

O recuo destas despesas verificado em 2012, sustentado na política de redução do valor nominal das pensões,

consubstanciada sobretudo na suspensão do pagamento dos subsídios de férias e de Natal, já não produziu

efeito nos anos seguintes, devido ao caráter reversível da medida em causa e ao facto de o impacto das

medidas restritivas não ter sido suficiente para anular os efeitos da pressão demográfica sobre o sistema. De

referir ainda que a ligeira redução da despesa com pensões de aposentação/reforma verificada em 2016 se

deveu sobretudo a dois fatores: diminuição de beneficiários passivos (0,6%)1 e condições mais penalizantes

para os novos aposentados no que se refere à formação do valor da pensão, cuja média se situou 27,1%

abaixo da media total.

Quadro C. 44 – CGA – Aplicação de Recursos

(em milhões de euros e %)

Aplicação de Recursos 2014 2015 2016

tvh Peso na

despesa

total 2016/15 2016/14

Pensões 9 326,9 9 504,9 9 507,4 0,03 1,9 95,3

Aposentação/reforma 8 221,5 8 368,7 8 348,0 -0,2 1,5 83,7

Sobrevivência 848,9 884,4 898,6 1,6 5,9 9,0

Invalidez (Deficientes das Forças Armadas) 172,8 171,2 169,7 -0,8 -1,8 1,7

Subvenções vitalícias 0,7 0,6 12,4 1 827,1 1 562,4 0,1

Pensões de preço de sangue 31,1 30,1 29,6 -1,4 -4,6 0,3

Outras pensões (BNU, RDPI, Portos e Antigos Combatentes) 51,9 50,0 49,1 -1,8 -5,5 0,5

Outras Prestações 16,6 17,3 16,8 -2,6 1,6 0,2

Transferências para a SS 118,5 138,4 145,5 5,1 22,7 1,5

Outras Despesas 30,1 31,0 31,7 2,3 5,3 0,3

Encargos Financeiros 0,3 0,2 0,8 260,7 141,2 0,0

Transferências para Instituições Comunitárias 0,0 0,2 1,0 420,3 0,0

Aplicações Financeiras 262,6 338,6 268,1 -20,8 2,1 2,7

Despesa Total 9 755,0 10 030,6 9 971,3 -0,6 2,2 100,0

Despesa Efetiva 9 492,5 9 692,0 9 703,2 0,1 2,2 97,3

Fonte: CGA.

Cobertura das despesas com pensões pelas principais fontes de financiamento

O comportamento dos índices de cobertura das despesas com pensões pelas diferentes fontes de

financiamento, espelhados no Gráfico C.24, resulta, essencialmente, de dois fatores: a dinâmica de

crescimento das despesas com pensões, em resultado do aumento do número de beneficiários passivos,

associado ao aumento da esperança de vida, e a evolução negativa das receitas provenientes de contribuições

(subscritores ativos e entidades empregadoras), decorrente da diminuição do número de contribuintes e

correspondentes remunerações, as quais sofreram, durante o período de vigência do PAEF, uma pressão

adicional, motivada pelo corte administrativo aplicado às remunerações dos trabalhadores do setor público.

Consequentemente, as necessidades de financiamento do sistema de pensões gerido pela CGA evoluíram de

44,3% em 2013 para 48,3% em 2016 (41,0% em 2014 e 47,7% em 2015). A recuperação verificada em 2013

e 2014 deveu-se essencialmente a dois fatores: introdução de uma nova fonte de financiamento, a CES,

aplicada às pensões em pagamento a partir de 2011, cuja receita contribuiu para um abrandamento do esforço

financeiro do Estado de idêntica grandeza mas cujo efeito em 2015 e 2016 já foi diminuto € 24 M e € 13 M, respetivamente; e alteração do formato de financiamento deste subsistema de pensões que passou a

considerar as contribuições do Estado na sua qualidade de entidade empregadora de forma isolada do esforço

financeiro do Estado para o financiamento do défice do sistema.

1 O n.º de indivíduos que abandonaram o sistema em 2016 (20.289) foi superior ao n.º de indivíduos que entraram no

sistema (16.726) no mesmo período, único ano em que este saldo foi negativo, desde 2006.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 373

Página 374

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

348

Gráfico C. 24 – Índice de cobertura das despesas com pensões

Fonte: CGA.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 374

Página 375

Tribunal de Contas

PARTE D

CONCLUSÕES E

RECOMENDAÇÕES; JUÍZO

SOBRE A CONTA

Página 376

Tribunal de Contas

351

14. CONSOLIDAÇÃO DAS CONTAS

14.1. Conta consolidada da administração central e segurança social

A conta consolidada em contabilidade pública (administração central e segurança social) consta do

quadro seguinte, na parte A excluindo as operações com ativos e passivos financeiros e, na parte B (página

seguinte) incluindo, na administração central, as operações com ativos e passivos financeiros a considerar.

Os procedimentos de consolidação da CGE de 2016 são explicitados no ponto 14.2.

Quadro D. 1 – Conta consolidada da administração central e segurança social de 2016

(em milhões de euros)

Classificação económica Serviços

integrados SFA

Administração

central

Segurança

social

Conta

consolidada

A – Excluindo todos os ativos e passivos financeiros

Receitas correntes (1) 44 126 27 392 55 318 25 683 70 774

Impostos diretos 17 748 25 17 772 - 17 772

Impostos indiretos 22 496 828 23 324 219 23 543

Contribuições p/ SS, CGA, ADSE 633 4 062 4 696 14 778 19 474

Rendimentos da propriedade 497 441 798 454 1 251

Transferências correntes, das quais: 617 17 961 2 519 9 941 2 234

Estado - 15 677 - 8 821 -

Serviços e fundos autónomos 391 - - 146 -

Segurança social 124 1 420 1 544 - -

Divergências de consolidação 14 - 23 - 307

Outras receitas correntes 2 135 4 074 6 209 291 6 500

Receitas de capital (2) 104 1 905 1 279 29 1 307

Venda de bens de investimento 52 149 200 28 228

Transferências de capital, das quais: 24 1 652 946 1 946

Estado - 718 - 1 -

Serviços e fundos autónomos 12 - - - -

Segurança social - - - - -

Divergências de consolidação - - - - -

Outras receitas de capital 28 104 132 - 132

Total da receita “efetiva” (3)=(2)+(1) 44 230 29 297 56 596 25 712 72 080

Despesas correntes (4) 48 826 26 705 59 331 24 126 73 229

Despesas com pessoal 9 371 6 465 15 837 252 16 089

Aquisição de bens e serviços correntes 1 564 7 183 8 746 50 8 796

Juros e outros encargos 7 380 769 8 008 3 8 011

Transferências correntes, das quais 29 917 11 472 25 330 23 165 38 268

Estado - 416 - 180 -

Serviços e fundos autónomos 15 668 - - 1 262 -

Segurança social 8 695 276 8 971 - -

Divergências de consolidação - 6 31 - 218

Subsídios 118 523 641 636 1 277

Outras despesas correntes 475 293 768 20 788

Despesas de capital (5) 1 535 2 840 3 645 22 3 666

Aquisição de bens de capital 322 2 193 2 515 14 2 529

Transferências de capital, das quais: 1 135 631 1 036 8 1 043

Estado - 14 - - -

Serviços e fundos autónomos 735 - - - -

Segurança social 1 - 1 - -

Divergências de consolidação 1 9 29 - 29

Outras despesas de capital 78 16 94 - 94

Total da despesa “efetiva” (6)=(4)+(5) 50 361 29 544 62 976 24 148 76 895

Saldo global (7)=(3)-(6) -6 132 -248 -6 379 1 564 -4 815

(…)

22 DE DEZEMBRO DE 2017 376

Página 377

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

352

(…)

(em milhões de euros)

Classificação económica Serviços

integrados SFA

Administração

central

Segurança

social

Conta

consolidada

B – Ativos e passivos financeiros a considerar

Ativos financeiros da administração central (a)

Receita de capital dos SI e dos SFA (8) 310 233 543 543

Não considerados por terem contrapartida em passivos financeiros (9)

671 2 -

Despesa de capital dos SI e dos SFA (10) 139 773 912 912

Não considerados por terem contrapartida em passivos financeiros (11)

2 970 - -

Passivos financeiros (Parvalorem, Parups, Parparticipadas)

Despesa de capital dos SFA (12) - 384 384 384

Diferença (13) = (8)-(10)-(12) 171 -924 -753 -753

Total da receita (14)=(3)+(8) 44 540 29 530 57 140 25 712 72 624

Total da despesa (15)=(6)+(10)+(12) 50 501 30 701 64 272 24 148 78 192

Saldo incluindo ativos e passivos financeiros (16)=(14)-(15) -5 961 -1 171 -7 132 1 564 -5 568

(a) Os ativos financeiros não incluem: i) aplicações financeiras – empréstimos de curto prazo, títulos de curto prazo e, no subsector dos SFA, títulos a médio e longo

prazos; ii) conforme se indica nas linhas (9) e (11), os empréstimos a médio e longo prazo a SFA (e o seu reembolso), bem como os aumentos de capital a SFA, por

terem como contrapartida, neste subsector, na receita (e despesa) excluída de passivos financeiros; iii) outros ativos financeiros de EPR.

Fontes: CGE de 2016, SGR – Sistema de Gestão de Receitas, SIGO – Sistema de informação para a gestão orçamental, DGO, DGTF e informação dos serviços processadores.

Excluindo ativos e passivos financeiros (parte A do Quadro):

 Nas receitas consolidadas (€ 72.080 M) avultam as receitas fiscais (57,3%) [por via dos impostos indiretos (€ 23.543 M) e dos impostos diretos (€ 17.772 M)] e as contribuições para a segurança social, ADSE e CGA (€ 19.474 M, 27,0%).

 Nas despesas consolidadas (€ 76.895 M) destacam-se as transferências correntes (€ 38.268 M, 49,8%), as despesas com pessoal (€ 16.089 M, 20,9%), a aquisição de bens e serviços correntes (€ 8.796 M, 11,4%) e os juros e outros encargos (€ 8.011 M, 10,4%).

 O consequente saldo global é de € -4.815 M e resulta do desequilíbrio no saldo corrente (€ -2.456 M) e no saldo de capital (€ -2.359 M). Corresponde ao saldo global do Mapa XXIII da CGE.

Nas operações da administração central com ativos e passivos financeiros a considerar (parte B do Quadro

D. 1) destaca-se:

 Nos ativos financeiros a despesa excedeu a receita em € 369 M.

 As despesas com passivos financeiros da Parvalorem, da Parups e da Parparticipadas (€ 384 M).

Considerando o impacto do saldo das operações com ativos e passivos financeiros, que foi de € -753 M, o saldo global passaria para € -5.568 M. Porém, se corrigidos os erros nas classificações económicas identificados no quadro seguinte teriam um impacto nos saldos antes referidos (redução do défice) de

€ 22 M.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 377

Página 378

Tribunal de Contas

353

Quadro D. 2 – Erros de classificação económica

(em milhões de euros)

Operação Classificação económica Efeito

no saldo Utilizada (CGE) Adequada

RECEITA

Parups (receita de venda de ações, obrigações e resgate de unidades de participação)

Venda de bens de investimento Ativos financeiros -30

Fundo de Contra Garantia Mútuo (recuperação de créditos garantidos)

Outras receitas de capital Ativos financeiros -11

PARCAIXA (dividendos) Saldo da gerência anterior Rendimentos da propriedade 9

CP (juros de suprimentos) Ativos financeiros Rendimentos da propriedade 1

EAS (reembolso de empréstimo) Rendimentos da propriedade Ativos financeiros -

Defloc (rendas de locação) Passivos financeiros Rendas -

Subtotal -30

DESPESA

Fundo de Contra Garantia Mútuo (pagamentos em execução de contragarantias)

Transferências correntes Ativos financeiros 43

Fundo de Contra Garantia Mútuo (depósito bancário) Transferências correntes Ativos financeiros 32

DGTF (transferências para países terceiros e organizações internacionais)

Ativos financeiros Transferências de capital -18

IAPMEI (dotação de capital do FITEC) Ativos financeiros Transferências correntes -5

Fundo de Contra Garantia Mútuo (entrega ao Estado de recuperações de créditos garantidos)

Outras despesas de capital Ativos financeiros 3

SPMS (pagamento de dívidas a fornecedores) Passivos financeiros Aquisição de bens e serviços -3

SPMS (juros) Passivos financeiros Juros -

Subtotal 51

Total 22

Fonte: CGE e informação prestada pelas entidades processadoras.

Em contraditório, a DGO, reiterando respostas anteriores, refere que a sua análise “centra-se na perspetiva do apuramento do saldo global dos subsectores das AP, para efeitos de apuramento do défice de cada subsector,

o mais próxima possível da ótica de contabilidade nacional e do conceito de necessidade líquida de financiamento,

utilizado pelo INE e pelo Eurostat para a definição do indicador de défice orçamental. Acresce o facto de os ativos

financeiros contribuírem apenas para a variação do stock de dívida pública, não se refletindo na determinação

de saldo orçamental, em linha com os critérios do Eurostat. (…)”

Esta matéria foi apreciada em relatórios de acompanhamento da execução orçamental e no PCGE,

reiterando-se o que se disse no PCGE 20121: “Efetivamente, em contabilidade nacional, são excluídos os ativos financeiros – mas definidos segundo os conceitos do SEC, completados com as decisões do Eurostat, independentemente da classificação orçamental (em contabilidade pública) que tenha sido dada. Desse modo,

elevados montantes que haviam sido classificados, em contabilidade pública, como ativos financeiros, não são

considerados como tal em contabilidade nacional e são incluídos na despesa não-financeira [2]. (…) Uma vez que

o Tribunal examina as contas do Estado na ótica da contabilidade pública, e de acordo com o princípio da

prudência, não se exclui a despesa em ativos financeiros, para além dos mencionados títulos e empréstimos de

curto prazo, por se considerarem aplicações (ou movimentos) de tesouraria e, eventualmente, outros de natureza

semelhante. No tocante à receita, coerentemente, segue-se o mesmo critério”.

1 Ponto 14.1. 2 Por exemplo, a capitalização de instituições de crédito [€ 4.900 M do Novo Banco (2014) e € 2.255 M do Banif (2015)],

bem como as “injeções de capital em empresas públicas”: € 3.599 M (2014), € 3.033 M (2015) e € 2.143 M (2016 – cfr Quadro D.5).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 378

Página 379

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

354

14.2. Procedimentos de consolidação na CGE de 2016

A CGE de 2016 integra o Mapa XXIII – “Conta consolidada da administração central e segurança social”, reproduzido no relatório (Quadro 23, com a mesma designação).

Na sequência de recomendação do Tribunal no sentido da consolidação contemplar todas as operações

materialmente relevantes, a CGE, a partir de 2015, excluiu os juros e as transferências classificadas como

operações entre entidades da administração central e a aquisição/venda de bens e serviços por entidades do

programa Saúde1. Porém, os montantes das despesas que excedem as correspondentes receitas (ou,

reciprocamente, tratando-se de receitas) são reclassificados em “diferenças de consolidação” que, assim, juntam receitas ou despesas que tinham distintas classificações económicas, contrariando o princípio da

especificação.

A DGO, na sua resposta, refere que a “(…) individualização das diferenças de consolidação em linhas próprias

(…) é a que se apresenta como tendo maior número de vantagens (…)”. Porém, na CGE as “diferenças de consolidação”, em receitas correntes (€ 169 M) correspondem a transferências (€ 111 M) e a venda de serviços (€ 58 M) e, em despesas correntes (€ 30 M) a transferências (€ 22 M) e a juros (€ 9 M), o que contraria o princípio da especificação.

No Quadro D.1, foram excluídas todas as transferências (mantendo-se a divergência de consolidação

nessa classificação económica). Quanto aos juros, foram excluídos apenas os pagos por SFA a entidades

da administração central e, na aquisição de bens e serviços, a despesa registada pela ACSS nas

classificações identificadas pela DGO como paga a entidades do SNS (e mantidas as divergências de

consolidação também na correspondente classificação económica).

Continuam a verificar-se divergências de consolidação entre os organismos resultantes de deficiências

da contabilização desses fluxos, destacando-se as registadas nas transferências entre a administração

central e a segurança social (€ 471 M), entre SI e SFA (€ 35 M), entre SI (€ 15 M) e entre SFA (€ 15 M).

A persistência e a materialidade das divergências de consolidação evidenciam deficiências na aplicação

das normas vigentes e nos respetivos sistemas de gestão e controlo, requerendo-se, por isso, maior

eficácia dos procedimentos de controlo para identificar os erros e assegurar tempestivamente as devidas

correções, como o Tribunal tem alertado.

*

Como as receitas e despesas consolidadas da administração central e segurança social resultam da

agregação e consolidação dos montantes que constam dos quadros referentes a cada subsector, são-lhes

aplicáveis as correspondentes observações, limitações e reservas.

1 Abrange despesa em aquisição de bens (produtos químicos e farmacêuticos, produtos vendidos nas farmácias e material

de consumo clínico) e em aquisição de serviços (outros trabalhos especializados, serviços de saúde, outros serviços de

saúde e outros serviços). Na receita abrange a venda de materiais de consumo e a venda de serviços de saúde e outros

serviços.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 379

Página 380

Tribunal de Contas

355

14.3. O saldo estrutural

Com a confirmação de que o défice de 2016 se situava abaixo dos 3% do PIB1, Portugal viu corrigida a

situação de défice excessivo2 e passou a estar sujeito à vertente preventiva do Pacto de Estabilidade e

Crescimento (PEC)3. Esta vertente visa o cumprimento de políticas orçamentais sólidas, conducentes à

sustentabilidade a médio prazo das finanças públicas. Para a respetiva monitorização, é definido um

objetivo orçamental de médio prazo (OMP) relativo ao défice fixado em termos estruturais4 e

recomendada a trajetória de ajustamento para o alcançar.

O saldo estrutural, como já referido em Pareceres anteriores e também reconhecido no Programa de

Estabilidade 2016-2020, é um indicador de mensuração subjetiva5. A metodologia para o seu cálculo

inclui a correção do saldo nominal do efeito da variação cíclica da economia, que só pode ser verificada

à posteriori. Para além disso, a informação disponível nos vários documentos orçamentais não tem sido

apresentada de forma consistente, o que não permite identificar claramente as alterações das

componentes e respetivos efeitos neste indicador.

Relativamente a 2016, o quadro seguinte, identifica as diferentes estimativas para o saldo estrutural e

outros indicadores associados, apresentados em vários momentos e por diferentes organismos.

Quadro D. 3 – Composição do saldo estrutural – 2016 (Saldo PDE em % do PIB, saldo estrutural e componentes em % do PIB potencial)

Projeto de

Plano

Orçamental

Projeções

de inverno

da CE

OE

2016

Programa de

Estabilidade

2016-2020

OE

2017

Boletim

Económico

BdP (a)

CGE

2016

Comissão

Europeia

(AMECO)

OE

2018

jan/16 fev/16 fev/16 abr/16 out/16 mai/17 jun/17 ago/17 out/17

Saldo PDE (SEC 2010)

-2,6 -3,4 -2,2 -2,2 -2,4 -2,0 -2,0 -2,0 -2,0

Componente cíclica -0,5 -0,5 - -0,7 -0,9 -0,1 -0,3 (b) -0,3 -0,4

Medidas extraordinárias e temporárias

-1,0 0,1 - 0,2 0,1 0,4 0,3 0,3 0,4

Saldo estrutural -1,1 -2,9 -1,8 -1,7 -1,7 -2,3 -2,0 -2,0 -2,0

Variação do saldo estrutural

0,2 -1,0 0,3 0,3 0,2 0,0 0,4 0,3 0,3

OMP -0,5 0,25

Notas:

(a) O Banco de Portugal segue metodologia acordada no âmbito do Eurosistema.

(b) Deduzido por diferença.

1 Para efeitos do Procedimento do Défice Excessivo (PDE) – cfr. ponto 14.4. 2 O procedimento por défice excessivo que vigorou entre 2009 e 2016 foi encerrado com a decisão do Conselho Ecofin de

16 de junho de 2017. 3 De acordo com o artigo 121.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE) relativo à supervisão

multilateral e operacionalizada através do Regulamento (CE) n.º 1466/97 e subsequentes alterações pelo Regulamentos

(CE) n.º 1055/2005 e (UE) n.º 1175/2011. 4 O OMP é fixado em termos do rácio do saldo estrutural em percentagem do PIB potencial. Este saldo corresponde ao

“Saldo orçamental das administrações públicas, definido de acordo com o Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regionais, corrigido dos efeitos cíclicos e líquido de medidas extraordinárias e temporárias” (n.º 3 do art. 12.º- C da LEO).

5 Cfr. ponto 14.3 dos PCGE desde 2013.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 380

Página 381

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

356

No OE2016, o OMP de referência para o saldo estrutural era de -0,5%, como indicado no Quadro D. 3

e a redução anual de 0,5 p.p. do PIB para o ajustamento mínimo. Porém, a execução orçamental conduziu

a um saldo estrutural de -2,0% e ao ajustamento de 0,3 p.p., inferior ao mínimo definido. De notar que,

em resultado da revisão efetuada pela CE, no Programa de Estabilidade para 2016-2020, apresentado

em abril de 2016, o OMP passou de um défice de -0,5% para um excedente de 0,25%, o mais exigente

da UE. Para Portugal alcançar o novo OMP, a trajetória de consolidação orçamental, medida pelo

ajustamento estrutural, deve registar uma melhoria anual de pelo menos 0,6 p.p.

Atendendo à importância deste indicador no contexto da monitorização da situação orçamental dos

países membros da UEM, é exigível a identificação clara e bem definida da articulação que se pretende

estabelecer entre o orçamento anual e o respetivo indicador estrutural para a concretização dos objetivos

de médio prazo.

14.4. O saldo para efeitos do Procedimento dos Défices Excessivos (PDE)

A 2.ª notificação de 2017 no âmbito do PDE, remetida pelas autoridades estatísticas à Comissão

Europeia, confirmou que as administrações públicas, em 2016, registaram um défice de 2,0% do PIB.

Este resultado e a expectativa de manutenção do saldo abaixo do limite dos -3% imposto pelo PEC,

conduziram ao encerramento da situação de défice excessivo a que Portugal estava sujeito desde 2009.

A aplicação das regras da vertente preventiva do PEC, vêm exigir ações que assegurem, nomeadamente,

a manutenção do défice abaixo dos 3%, a redução da dívida e, como referido no ponto anterior, o

cumprimento do ajustamento estrutural.

Em 2016, em contabilidade nacional, o défice do subsector da administração central (€ -6.081 M)1, foi atenuado pelos excedentes nos outros sectores (fundos e segurança social e administração regional e

local), totalizando o saldo das administrações públicas € -3.665 M (vide quadro seguinte).

Entre a contabilidade nacional e a contabilidade pública existem diferenças quanto à classificação de

operações e entidades que integram o respetivo universo. O quadro seguinte, identifica os principais

aspetos metodológicos que diferenciam as duas óticas, apresentando os principais ajustamentos que

permitem obter o saldo do total das administrações públicas, em contabilidade nacional (referência para

efeitos do PDE) a partir do saldo dos serviços integrados (Estado), em contabilidade pública.

1 O saldo da administração central em contabilidade pública, foi de € -6.379 M – cfr. CGE 2016 – Mapa XXIII.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 381

Página 382

Tribunal de Contas

357

Quadro D. 4 – Saldos e ajustamentos – ótica da contabilidade pública para a da contabilidade nacional (2016)

M € % PIB

Saldo dos SI – ótica da contabilidade pública (excluindo ativos financeiros) -6 132 -3,3

Saldos das administrações regionais e locais em contabilidade pública 633 0,3

Saldo da segurança social em contabilidade pública 1 564 0,8

Ajustamentos ao universo 1 773 1,0

Ajustamentos relativos à especialização do exercício 1 192 0,6

Diferença entre juros pagos e devidos -74 0,0

Impostos e contribuições para a segurança social -124 -0,1

Ajustamento accrual da administração regional e local 191 0,1

Pagamento de pensões associado à transferência de fundos de pensões para as administrações públicas 459 0,2

Pre-paid margins de empréstimos no âmbito do FEEF 287 0,2

Material militar 229 0,1

Outros 222 0,1

Reclassificação de operações -2 695 -1,5

Injeções de capital da administração central: -2 189 -1,2

Aumentos de capital de empresas públicas (*)-2.143 -1,2

Fundo de Apoio Municipal -46 -

Injeções de capital da administração regional - Madeira -345 -0,2

Outros -160 -0,1

Contabilidade nacional (Capacidade (+) / necessidade (-) líquida de financiamento)

Saldo da administração central -6 081 -3,3

Saldo das administração regional e local 855 0,5

Saldo dos fundos de segurança social 1 561 0,8

Saldo do total das administrações públicas -3 665 -2,0

(*) Inclui os aumentos de capital realizados por despesa orçamental e por conversão de créditos, deduzidos de dívidas da Carris e do STCP já assumidas pelo

Estado em 2014.

Nota: Ajustamentos de sinal positivo (negativo) afetam positivamente (negativamente) o saldo em contas nacionais.

Fonte: CGE - Mapa XXIII e Quadro 25; Quadros PDE (notificação de setembro de 2017).

Além do saldo dos SI na ótica da contabilidade pública (€ -6.132 M), é necessário contabilizar os saldos das administrações regional e local e da segurança social, na ótica da contabilidade pública,

respetivamente, € 633 M e € 1.564 M.

Os ajustamentos ao universo (€ 1.773 M), para determinar o saldo PDE, correspondem ao saldo dos SFA e EPR de cada administração em contabilidade nacional. Este saldo é positivo pelo efeito da receita

de capital das EPR que beneficiaram das injeções de capital identificadas no quadro1.

Os ajustamentos relativos à especialização do exercício são negativos ou positivos em função da

operação associada ter sido efetuada antes ou depois do facto económico gerador da mesma. Em 2016,

registou-se, no total, um efeito líquido positivo de € 1.192 M, em resultado de operações muito diversificadas. Por exemplo, a aquisição do material militar é registada no momento da transferência de

propriedade do ativo e não no momento do pagamento.

Os ajustamentos decorrentes de regras do sistema de contas nacionais relativamente a determinadas

intervenções do Estado (identificadas no quadro em “Reclassificação de operações”) resultaram, em 2016, na reclassificação de ativos financeiros em despesa efetiva, com um agravamento no défice para

efeitos do PDE de € 2.695 M. Destacam-se os destinados a cobrir perdas acumuladas, extraordinárias ou futuras, de determinadas sociedades, a título de dotações de capital para capitalizar ou recapitalizar,

mas sem expectativa de razoável rendibilidade futura para o Estado, pelo que são registados em

contabilidade nacional como transferências de capital (injeções de capital). Salientam-se as para a

Infraestruturas de Portugal (€ 950 M), CP (€ 655 M) 2 e Metropolitano de Lisboa (€ 358 M).

1 Tratando-se de uma transferência de capital entre entidades dentro das administrações públicas (do Estado para EPR da

administração central e do governo regional da Madeira para EPR da administração regional da Madeira) o impacto final

no saldo é nulo, pelo efeito de consolidação. 2 Na CP, o valor total resulta de € 479 M de conversão de crédito em capital e € 176 M de dotações de capital.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 382

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

358

15. ACOLHIMENTO DE RECOMENDAÇÕES DO TRIBUNAL

O Tribunal avaliou o acolhimento das 95 recomendações formuladas no PCGE 2014 com base nos

resultados das auditorias, das ações de controlo realizadas e do exame da informação prestada pelos

destinatários das recomendações1; atualiza-se, também, a apreciação sobre o acolhimento de 2

recomendações formuladas no PCGE 2013 e não reiteradas no PCGE 2014. O quadro seguinte apresenta

o grau de acolhimento das recomendações objeto de apreciação2.

Recomendações – PCGE 2014 Número Percentagem

Totalmente acolhidas 8 8

Parcialmente acolhidas 49 52

Não acolhidas 35 37

Prejudicadas 3 3

Total 95 100

Recomendações não acolhidas – PCGE 20132

Foram corrigidas, total ou parcialmente, as deficiências que motivaram 57 recomendações (60%);

permanecem por cumprir 35 (37%) e 3 foram consideradas prejudicadas por alteração das circunstâncias

que as fundamentaram. Parte significativa das deficiências não corrigidas tem sido reiteradamente objeto

de recomendações nos PCGE, dado não terem sido apresentadas justificações atendíveis para o seu não

acolhimento.

Identificam-se de seguida as recomendações consideradas como não acolhidas e enunciam-se,

sumariamente, as alegações apresentadas pelas entidades destinatárias e as apreciações do Tribunal.

15.1. Recomendações não acolhidas pela administração central

Previsões macroeconómicas

Recomendação 2 – PCGE 2014

A CGE deve apresentar de forma quantificada os impactos de cada uma das medidas de consolidação

orçamental, sendo esta uma condição essencial para a transparência da tomada de decisão sobre as

medidas a adotar e sua continuidade ou a seleção de medidas alternativas que melhor permitam a

prossecução das políticas públicas numa perspetiva de equidade, eficiência e eficácia.

O Ministro das Finanças (MF) alegou que “esta informação consta no ROE de 2016 e 2017 e na CGE 2016. Há tabelas que quantificam as principais medidas de política com impacto na receita e na despesa (vide Quadro

II.3.6. Medidas orçamentais em 2016 (ROE 2016); Quadro III. 1.1. Medidas de política orçamental em 2017 (ROE

2017) e Quadro 7 - Medidas pontuais (CGE 2016)”, considerando a recomendação acolhida.

Apesar de o ROE 2016 apresentar a estimativa quantificada do efeito das medidas orçamentais na receita

e na despesa (Quadro II.3.6), a CGE 2016 não apresentou os resultados quantitativos da aplicação de

1 O Governo, através do Ministro das Finanças e das Secretárias de Estado da Segurança Social e Adjunta e da Justiça. 2 A recomendação é classificada como totalmente acolhida se verificada a correção das deficiências que a motivaram,

parcialmente acolhida quando a correção não é total, não acolhida quando as deficiências subsistem e prejudicada

quando, por factos ou circunstâncias supervenientes, deixou de ter pertinência.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 383

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Tribunal de Contas

359

cada uma dessas medidas. O referido Quadro 7 da CGE 2016 apenas identifica as medidas temporárias

(não consideradas aquando da elaboração do cenário orçamental) e o seu impacto no défice orçamental.

Alterações orçamentais

Recomendação 4 – PCGE 2014

A dotação provisional deve ser utilizada apenas para os fins previstos no n.º 5 do artigo 8.º da LEO:

“despesas não previsíveis e inadiáveis”.

O MF considerou a recomendação acolhida, invocando que: “Durante a execução dos OE, a DGO pronuncia-se sobre os pedidos de reforço de dotações orçamentais no sentido de esgotar plenamente as soluções

existentes no âmbito da gestão flexível – quer no plano do orçamento das entidades, quer ao nível do orçamento do programa orçamental – e de utilização das dotações cativas por força da Lei do OE e de outros diplomas. Só em último recurso e na inexistência de soluções alternativas, a DGO emite pareceres no sentido de se reforçarem

as dotações orçamentais insuficientes por contrapartida da dotação provisional.”

Apesar do alegado, em 2016 a dotação provisional foi utilizada na totalidade (€ 502 M) destinando-se 52,3% ao reforço das despesas com pessoal (€ 262 M) e a transferências para os SFA, o que evidencia, mais uma vez, a sua utilização indevida e a inobservância do princípio da especificação.

Receita

Recomendação 11 – PCGE 2014

Que o Governo, através da Direção-Geral do Orçamento, elimine os constrangimentos técnicos dos

sistemas de informação que obstam à adequada relevação das operações extraorçamentais e que geram

inconsistência entre a informação dos sistemas contabilísticos locais dos organismos da administração

central e a informação que suporta a Conta Geral do Estado.

O MF considerou a recomendação parcialmente acolhida alegando: “A DGO tem desenvolvido esforços no sentido de serem encontradas soluçõespara os constrangimentos existentes em vários sistemas de informação, quer locais quer centrais.”

Porém, subsiste a omissão de parte substancial (€ 3.463 M) dos fluxos financeiros recebidos por entidades da administração central nos sistemas que suportam os mapas contabilísticos gerais da CGE.

Recomendação 12 – PCGE 2014

Que o Governo, através da Direção-Geral do Orçamento, tome as medidas necessárias para assegurar

a inclusão, nos saldos da contabilidade orçamental, das aplicações financeiras dos organismos da

administração central passíveis de mobilização quase imediata.

O MF considerou a recomendação acolhida alegando: “A Circular Série A n.º 1379, designadamente, nos pontos 69 a 75 contém instruções sobre a contabilização das aplicações em títulos da dívida pública. No que

respeita aos procedimentos que têm vindo a ser indicados pela DGO, os mesmos têm vindo a ser no sentido da

contabilização, em despesa e receita orçamental, da subscrição e reembolsos (respetivamente) de CEDIC (…)”.

O procedimento definido pela DGO não dá acolhimento à recomendação em causa. Porém, a questão

subjacente à recomendação ficará resolvida com a entrada em vigor e plena aplicação do SNC-AP, o

que está legalmente previsto para 1 de janeiro de 2018. A Demonstração dos Fluxos de Caixa passará a

22 DE DEZEMBRO DE 2017 384

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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evidenciar no saldo, também, os equivalentes de caixa. Assim, a DGO na emissão de instruções deverá

ter em consideração o que decorre do SNC-AP.

Recomendação 13 – PCGE 2014

Que o Governo, através da Direção-Geral do Orçamento, confirme formalmente que os organismos da

administração central com autonomia financeira dispõem efetivamente de receita própria (o produto das

transações provenientes do exercício da atividade mercantil em regime de concorrência, bem como os

montantes que correspondam à contraprestação do serviço prestado) para cobertura das respetivas

despesas, nos termos legais (sem prejuízo das situações excecionais legalmente previstas).

O MF considerou a recomendação parcialmente acolhida alegando: “Entende-se que a verificação do cumprimento desta recomendação será por via da realização de auditorias”.

Ora, a confirmação formal recomendada é de um requisito prévio, nos termos legais, para atribuir

autonomia financeira a organismos da administração central. Como tal, deveria integrar e suportar o

processo de atribuição e, também, o de qualquer alteração subsequente no regime de financiamento dos

organismos autónomos.

Recomendação 15 – PCGE 2014

Que o Governo determine à Autoridade Tributária e Aduaneira que discrimine os custos associados ao

cumprimento das obrigações tributárias impendentes sobre os sujeitos passivos e realize uma análise

comparativa desses custos com os de outros estados-membros da União Europeia (v.g. Espanha, França,

Reino Unido) concluindo sobre a sua necessidade, adequação e proporcionalidade.

O MF considerou a recomendação não acolhida alegando: “Encontra-se em processo de avaliação para efeitos da criação dos mecanismos necessários para o seu cumprimento”.

Despesa

Recomendação 16 – PCGE 2014

O desenvolvimento de indicadores relevantes que permitam a fixação clara de objetivos no Orçamento

do Estado e o reporte da sua monitorização e avaliação na CGE.

O MF alegou que: “A CGE incorpora, no capítulo das políticas setoriais, uma análise dos resultados obtidos na execução de cada um dos Programas Orçamentais, para além da descrição dos recursos financeiros e humanos

utilizados. Nessa análise são identificados os objetivos de política, indicadores, metas e resultados. A título

ilustrativo, mencionam-se os quadros 124 a 126 do PO02-Governação (CGE 2016).”

Embora a CGE apresente melhorias na divulgação dos resultados da execução dos Programas

Orçamentais, continuam a não ser fixados no ROE os objetivos e indicadores, tendo em vista o seu

reporte, monitorização e avaliação na CGE.

Recomendação 17 – PCGE 2014

Enquanto a nova LEO não produzir todos os seus efeitos, deve ser respeitada a natureza vinculativa dos

valores fixados no QPPO nas suas diferentes dimensões (programas, agrupamentos de programas e

conjunto de todos os programas).

O MF considerou a recomendação acolhida, invocando que: “Pelo articulado da Lei de Enquadramento Orçamental (LEO) em vigor no ano de 2015 (…) parece poder concluir-se que o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) delimita o Quadro Plurianual de Programação Orçamental (QPPO) e que este deve ser

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 385

Página 386

Tribunal de Contas

361

atualizado, anualmente, para os 4 anos seguintes em consonância com os objetivos estabelecidos no PEC, também

revisto anualmente (…)".

Constatou-se que as sucessivas revisões do QPPO aumentaram os limites para a despesa.

Dívida pública

Recomendação 28 – PCGE 2014

A CGE deve passar a incluir a dívida pública direta de todos os SFA no mapa XXIX, bem como as

operações de derivados financeiros. No caso da dívida pública em moeda estrangeira esta deve ser

reportada nas respetivas divisas.

Recomendação 30 – PCGE 2014

A CGE deve evidenciar o stock da dívida consolidada do Estado, bem como os encargos com juros

consolidados que lhe estão associados.

O MF considerou as recomendações não acolhidas; de facto, a dívida de todos os SFA e as operações

de derivados financeiros continuam a não constar da CGE, não sendo igualmente apresentado o stock da

dívida consolidada do Estado.

Recomendação 31 – PCGE 2014

A LOE deve fixar o limite do acréscimo de endividamento líquido de forma desagregada, no mínimo, por

SI e SFA. O Tribunal recomenda ainda a instituição de procedimentos de controlo global da utilização

dos limites autorizados, bem como a respetiva apresentação no Relatório da CGE.

O MF alegou que: “O IGCP concorda que seria útil cruzar a verificação do limite do acréscimo de endividamento global, com a evolução da dívida consolidada de todas as entidades da Administração Central (SI

e SFA). No entanto, não julgamos que essa seja uma condição necessária para a verificação do limite. Dado que,

a informação apresentada nos quadros 80 e 81 do Relatório da CGE (pp. 162-163) apresenta elementos

suficientes para se atestar da verificação do limite de acréscimo de endividamento líquido inscrito no art.º 132.º

da LOE 2015.”, concluindo que a recomendação se encontra totalmente acolhida.

A LOE continua a não fixar esses limites.

Recomendação 32 – PCGE 2014

Face à dimensão dos custos apurados e à manifesta dificuldade em quantificar os benefícios obtidos,

recomenda-se que em futuros relatórios da CGE sejam identificados os custos anuais com a manutenção

destes saldos, bem como explicitados os eventuais benefícios.

O MF considerou a recomendação parcialmente acolhida, invocando que: “O IGCP tem apresentado algumas estimativas dos custos (com a manutenção destes saldos) no seu Relatório anual de Gestão da Tesouraria

e da Dívida Pública desde 2014, tendo também discutido os argumentos que estiveram na base desta opção desde

2011, tanto nos Relatórios anuais, como nas respostas aos pareceres do Tribunal de Contas sobre a CGE. (…)”.

Apesar de as estimativas dos custos constarem do relatório do IGCP, a CGE é omissa nessa matéria.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 386

Página 387

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

362

Dívida não Financeira

Recomendação 33 – PCGE 2014

Deve a CGE incluir informação sobre a dívida não financeira também das EPR e das EPE do SNS.

O MF considerou a recomendação parcialmente acolhida, porém, refere: “(…) a informação considerada na CGE não inclui a dívida não financeira das EPR, CGA e SNS, conforme explicitado em nota de rodapé nº 63

da CGE de 2015 (Volume I, Tomo I).”

De facto, a CGE 2016 continua a não incluir a referida informação.

Património financeiro

Recomendação 48 – PCGE 2014

Reitera-se que o Governo deve alterar a lei de modo a clarificar que, após os processos de reprivatização

levados a cabo pela Parpública, os valores a entregar por esta empresa ao Estado serão apenas o das

eventuais mais-valias que tenham ocorrido entre o preço de aquisição ao Estado e o preço final da

reprivatização.

O MF alegou que: “De acordo com o artigo 9.º do Decreto-Lei nº 209/2000, de 2 de setembro, o modo de aplicação da receita das reprivatizações é definido por despacho do Ministro das Finanças, sendo a afetação da

mesma realizada em conformidade com o artigo 16º da Lei nº 11/90, de 5 de abril (Lei Quadro das

Privatizações).”

A Lei Quadro das Privatizações permanece por alterar.

Património imobiliário

Recomendação 50 – PCGE 2014

Que o Governo, através da Direção-Geral do Orçamento, assegure que a informação reportada no

Relatório da Conta Geral do Estado sobre o património imobiliário é integral (abrange a totalidade das

variações patrimoniais) e consistente com a execução orçamental relativa a operações imobiliárias

registada pelos organismos da administração central nessa Conta.

O MF considerou a recomendação acolhida alegando: “(…) a DGO mantém o controlo mensal das receitas obtidas com a alienação de imóveis, fornecida pela DGTF, com a informação registada no SGR e/ou SIGO – SFA, alertando os serviços sempre que verifica que alguma receita consignada ainda não está refletida nos sistemas

centrais.”

Porém, dos € 115 M contabilizados como receita obtida, o relatório da CGE apenas reporta € 23 M (20%) recebidos com alienações promovidas pela DGTF. E dos € 207 M contabilizados como despesa incorrida, só reporta € 31 M (15%) pagos por aquisições promovidas pela DGTF. O relatório da CGE 2016 continua assim sem reportar nem explicar parte importante (83%) das variações patrimoniais

ocorridas no exercício.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 387

Página 388

Tribunal de Contas

363

Operações de tesouraria

Recomendação 52 – PCGE 2014

Que o Governo, através da Direção-Geral do Orçamento, inclua na Conta Geral do Estado a respetiva

conta dos fluxos financeiros, discriminando a execução orçamental dos organismos da administração

central, distinguindo as respetivas receitas e despesas orçamentais em efetivas e não efetivas e

registando a restante movimentação desses organismos como operações extraorçamentais.

O MF considerou a recomendação acolhida alegando: “Na Circular DGO Série A n.º 1384 (Preparação do OE 2017) foram incluídas instruções (pontos 19 e 20) que visam assegurar o reporte integral das operações

extraorçamentais.”

A conta dos fluxos financeiros apresentada na CGE continua a não incluir as movimentações fora do

Tesouro. Continua, também, sem relevar a execução orçamental dos SFA.

Recomendação 53 – PCGE 2014

Que o Governo, através da Direção-Geral do Orçamento, providencie para que a totalidade dos fluxos

financeiros dos organismos da administração central seja relevada nos mapas contabilísticos gerais da

Conta Geral do Estado (suportados pelos dados registados nos sistemas de contabilização orçamental)

cumprindo o princípio da universalidade e sujeitando todos os fundos movimentados ao princípio da

especificação e ao consequente controlo e responsabilização.

O MF considera a recomendação acolhida alegando: “A adequada relevação dos vários fluxos financeiros

depende do completo e correto reporte por parte dos organismos”.

A CGE continua a não contabilizar todas as operações subjacentes aos fluxos financeiros de cada

entidade. A falta de reporte por parte dos organismos não é atendível, pois existem fontes alternativas

de controlo dessa informação (contabilidade do Tesouro e contas dos organismos) que permitem

assegurar o registo nos sistemas de contabilização orçamental da totalidade dos fluxos financeiros.

Recomendação 54 – PCGE 2014

Que o Governo determine à Direção-Geral do Orçamento – entidade gestora da receita do Estado devida por rendimentos auferidos em incumprimento da unidade de tesouraria – a aplicação dos procedimentos necessários à cobrança coerciva da receita em falta, à semelhança das restantes dívidas ao Estado.

O MF considera a recomendação acolhida alegando: “A redação do n.º 8 do artigo 43.º do Decreto-Lei de execução orçamental de 2016 veio alterar as responsabilidades da DGO neste âmbito, colocando-as ao nível do

controlo e não da gestão da receita em causa, pelo que a recomendação já não será aplicável”.

O controlo da receita do Estado decorrente da entrega dos juros auferidos em incumprimento da unidade

de tesouraria obriga a DGO a confirmar essa entrega até ao final do mês seguinte ao da sua obtenção ou

a aplicar os procedimentos necessários à sua cobrança. O que voltou a não se verificar em 2016 visto

que ficou, novamente, a quase totalidade dos juros por entregar.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 388

Página 389

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

364

15.2. Recomendações não acolhidas pela segurança social

Recomendação 56 – PCGE 2013

Reitera-se que deve proceder-se à compatibilização das disposições legais que estabelecem as regras de

elaboração do orçamento, no sentido de simplificar e dotar de maior transparência todo o processo

orçamental e respetiva execução.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que “Dada a complexidade da matéria, bem como as significativas alterações introduzidas na Lei de Enquadramento Orçamental recentemente aprovada, a

compatibilização dos normativos terá de ser objeto de estudo aprofundado”.

O Ministro das Finanças informou que, no seu entendimento, “(…) à semelhança de respostas dadas em anos anteriores, (…) estas matérias têm enquadramento nos objetivos programáticos subjacentes à implementação da nova Lei de Enquadramento Orçamental ( )”.

Em 2016, não foi registada qualquer alteração.

Recomendação 80 – PCGE 2013

Recomenda-se ao Ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social que diligencie no sentido de

que as alterações de valor das prestações de desemprego sejam objeto de realização de audiência prévia

aos interessados.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que“A alteração da aplicação informática de desemprego para emitir uma notificação aos beneficiários nos casos de reanálise/recálculo da prestação em que

haja alteração do valor ou do período de concessão do subsídio encontra-se em avaliação entre o ISS, IP e o II,

IP.” e que“Desde dezembro de 2016, que é disponibilizado na Segurança Social Direta, o montante a pagamento em cada mês”.

Regista-se a melhoria de informação prestada aos beneficiários, que, contudo, não afasta a necessidade

de notificação ao beneficiário para se pronunciar sobre a alteração ao cálculo da prestação anteriormente

deferida.

Recomendação 56 – PCGE 2014

Reitera-se ao Governo que deve proceder à publicação das normas que permitam a adoção de

classificação orgânica no subsetor da segurança social.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que, com a publicação dos novos diplomas – LEO e SNC-AP –, está“(…) em processo de avaliação o enquadramento a ser proposto para esta classificação e a definição legal das instituições que integram o perímetro de Segurança Social”.

O Ministro da Finanças referiu que se trata de “Matéria acompanhada no âmbito da SS”.

Esta recomendação foi inicialmente formulada no PCGE 2007 e reiterada nos subsequentes, não tendo

sido ainda publicado qualquer normativo que vise acolher a recomendação.

Recomendação 57 – PCGE 2014

Reitera-se ao Governo que deve proceder à publicação do diploma que regulamente o quadro legal

aplicável à unidade de tesouraria da segurança social.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 389

Página 390

Tribunal de Contas

365

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que se encontra “(…) em análise proposta de

legislação para cumprimento desta recomendação” e o Ministro da Finanças referiu que se trata de “Matéria acompanhada no âmbito da SS”.

A recomendação foi inicialmente formulada no Parecer sobre a Conta da Segurança Social de 2004,

sendo sistematicamente reiterada nos Pareceres subsequentes, sem qualquer acolhimento até ao

momento.

Recomendação 58 – PCGE 2014

Reitera-se que a Assembleia da República e o Governo devem proceder à harmonização dos diplomas

legais que estabelecem e regulamentam o quadro de financiamento do sistema de segurança social, no

sentido de dirimir as discrepâncias atualmente existentes, designadamente no que respeita ao

financiamento da componente capitalização do sistema previdencial.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que“Atendendo a que a legislação em causa envolve diplomas de valor reforçado, considera-se que esta harmonização será oportuna numa revisão mais global dos

mesmos” e oMinistro da Finanças referiu que se trata de“Matéria acompanhada no âmbito da SS”.

A recomendação do Tribunal foi inicialmente formulada no PCGE 2008 e de novo reiterada em

Pareceres posteriores não havendo evolução relativamente a 2015.

Recomendação 59 – PCGE 2014

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie pela integração da

informação contabilística das operações realizadas pelo IGFCSS e pelo FEFSS no SIF.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que“A implementação do SNC-AP nos vários organismos do universo da Segurança Social implica alterações profundas no SIF, pelo que se encontra em

avaliação o interface com o FEFSS no âmbito destes desenvolvimentos”.

Esta recomendação foi inicialmente formulada no PCGE 2008 e de novo reiterada em 2010 e Pareceres

posteriores. Passados nove anos continua a não existir no SIF informação contabilística para qualquer

entidade (IGFCSS e FEFSS).

Recomendação 60 – PCGE 2014

Reitera-se a recomendação formulada ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social para

que diligencie no sentido de que sejam desenvolvidos os procedimentos necessários com vista à produção

automática dos mapas de execução orçamental consolidados globais, por componentes e por

subsistemas.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que “Foram desenvolvidos alguns mapas que respondem parcialmente ao solicitado apesar de se manterem as limitações técnicas elencadas anteriormente,

que impedem a efetiva consolidação orçamental no sistema (…)” e que,“Em sede de implementação do SNC-AP, serão tidas em conta soluções técnicas para o acolhimento integral desta recomendação”.

Esta recomendação foi inicialmente formulada no PCGE 2008 e de novo reiterada em Pareceres

posteriores, permanecendo por acolher, uma vez que o sistema informático continua a não produzir os

mapas consolidados exigidos por lei, sendo os mesmos produzidos fora do sistema com recurso a

intervenções manuais.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 390

Página 391

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

366

Recomendação 62 – PCGE 2014

Recomenda-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie pela nomeação

do Conselho Consultivo do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, IP.

A Secretária de Estado da Segurança Social, informou que “Foi solicitado às várias entidades envolvidas a designação do seu representante no Conselho Consultivo do IGFSS, no sentido de se publicar despacho de

nomeação dos mesmos no último trimestre de 2017”.

Não obstante as diligências desenvolvidas, até à presente data, o despacho de nomeação do Conselho

Consultivo do IGFSS ainda não foi publicado.

Recomendação 63 – PCGE 2014

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido de

ultrapassar as limitações inerentes ao atual módulo de consolidação, de modo a permitir, por um lado,

que as operações de consolidação se realizem de forma automática, sem recurso a instrumentos

paralelos e, por outro, que os mapas legalmente previstos sejam também produzidos de forma

automática.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que“O módulo de Consolidação Financeira SIF-ECCS encontra-se a ser utilizado em todas as suas funcionalidades/potencialidades, isto é, não se afigura possível

evoluir no sentido de colmatar insuficiências” e que“(…) em sede de implementação do SNC-AP, serão tidas em conta soluções técnicas para o acolhimento desta recomendação”.

Em 2016, mantiveram-se os constrangimentos no módulo de consolidação, continuando o IGFSS, em

paralelo, o método de consolidação manual.

Recomendação 64 – PCGE 2014

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que a contabilização das receitas

provenientes de contribuições e quotizações deve ser efetuada de acordo com a sua origem e não em

função de uma tabela de imputação.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que está“(…) em fase de implementação um método alternativo à tabela de partição, que irá permitir que a contabilização das receitas de contribuições e quotizações

se aproxime da natureza, encontrando-se já validados/aprovados por parte das instituições de segurança social

que intervêm neste processo os requisitos definidos”.

Em sede de contraditório, os três institutos (IGFSS, ISSA e II) informaram que em novembro de 2017

foi implementada uma nova metodologia de contabilização alternativa à tabela de imputação. O ISSA

acrescentou que esta nova metodologia não eliminará por completo os constrangimentos anteriores.

Aguarda-se, assim, com expectativa, o resultado desta nova metodologia, cujos efeitos só serão sentidos

em 2018.

Recomendação 66 – PCGE 2014

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que devem ser implementados os

procedimentos necessários de modo a que a despesa orçamental não seja sobrevalorizada com

pagamentos que efetivamente não se concretizaram.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que“Continuam em curso os trabalhos de desenvolvimento do novo Interface SICC-SIF pelo Instituto de Informática, IP, em articulação com o IGFSS, IP e

o ISS, IP, o qual irá contemplar o novo plano de contabilização que consagra o entendimento do Tribunal de

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 391

Página 392

Tribunal de Contas

367

Contas.” e que se prevê que“(…) no decurso do 1º trimestre de 2018 o projeto entre em produção com grande parte das operações implementadas”.

Esta recomendação foi inicialmente formulada no PCGE 2008 e sucessivamente reiterada em Pareceres

posteriores, não se registando, em termos práticos, evolução relativamente ao ano anterior, uma vez que

o novo interface ainda não se encontra implementado.

Em sede de contraditório, o ISSA alega que “Está previsto para o 2.º semestre de 2018 a entrada em produção do novo interface SICC-SIF (…)”.

Recomendação 71 – PCGE 2014

Recomenda-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que providencie no sentido

de que nos trabalhos de encerramento de contas sejam produzidos balancetes auxiliares com os valores

em dívida por contribuinte, discriminando se a mesma se encontra em cobrança voluntária ou coerciva.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que“O IGFSS, IP, em colaboração com o II, IP, está a desenvolver e a melhorar procedimentos que garantam a coerência dos dados contabilizados, com o objetivo

de se conseguir reconciliar a dívida de contribuintes e, consequentemente, a extração de balancetes auxiliares”

e que“O trabalho que se está a desenvolver, em colaboração com o II, IP, é o de garantir que a informação que é extraída de conta corrente chega a SIF. Contudo, e face aos milhares de documentos que são lançados e à

complexidade do sistema, é um trabalho bastante moroso”.

Esta recomendação foi inicialmente formulada no PCGE 2011 e de novo reiterada em Pareceres

posteriores. Em 2016 não se registaram evoluções, uma vez que ainda não foram extraídos balancetes

dos sistemas auxiliares.

Recomendação 72 – PCGE 2014

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que deve diligenciar no sentido

de que o princípio da especialização dos exercícios previsto no POCISSSS seja integralmente cumprido.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que“Permanecem em reavaliação, em colaboração com o II, IP, as condições técnicas necessárias para o cumprimento do princípio contabilístico invocado nesta

recomendação, associado à relevação dos juros já vencidos de valores em dívida de contribuintes, tendo ocorrido

reuniões entre os serviços ao longo do ano”.

Conforme decorre da resposta, a recomendação ainda não foi acolhida, uma vez que, em 2016, o valor

dos juros ainda não foi refletido nas demonstrações financeiras.

Recomendação 74 – PCGE 2014

Recomenda-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido de

assegurar que sejam implementadas as regras necessárias na aplicação informática para que não ocorra

a prescrição de valores em dívida sem que tenha decorrido o prazo legal para o efeito.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que “(…) os desenvolvimentos necessários encontram-se preconizados nos objetivos do Grupo de Trabalho constituído por elementos do IGFSS, do ISS e do II.

Encontram-se definidos os macro requisitos dos desenvolvimentos aplicacionais por parte do Grupo de Trabalho,

prevendo-se que até ao final do presente mês de outubro sejam concluídos os restantes documentos de requisitos.

Em paralelo decorre a definição da calendarização das fases de implementação das alterações aplicacionais (…) prevendo-se a intensificação dos trabalhos após a conclusão dos documentos de requisitos, e em sede de

desenvolvimentos aplicacionais”. Informou ainda que “Não há automatismos de prescrição de dívida na pendência do processo de execução fiscal, sendo assegurado no IGFSS que não há prescrição em SEF quando à

data da instauração a dívida fica ativa. A partir desta fase a dívida não prescreve, salvo quando registada por

22 DE DEZEMBRO DE 2017 392

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

368

utilizador. As secções de processo fazem a análise da prescrição de forma oficiosa ou a pedido do contribuinte,

decorrente da análise manual e controlada e não pela passagem do tempo. (…) Sempre que uma Secção de Processo recebe do Centro Distrital informação da existência de atos interruptivos/suspensivos, que determinem

que para a dívida participada manualmente deverá ser cancelada a prescrição da dívida automática à entrada de

SEF, é feito em SEF pelos Coordenadores um registo de cancelamento de prescrição, tornando aquela dívida

exigível em execução fiscal”.

Conforme decorre da resposta, ainda não foram implementadas as regras necessárias na aplicação

informática para uma correta e integral contagem de prazos. Todavia, foram introduzidos procedimentos

manuais alternativos que visam acautelar a ocorrência de prescrições sem que tenha decorrido o prazo

legal para o efeito.

Recomendação 76 – PCGE 2014

Reitera-se que o Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social deve diligenciar no sentido de

que sejam implementados procedimentos com vista à correção das inconsistências detetadas entre os

valores da conta “Prestações sociais a repor” relevados nas demonstrações financeiras (SIF) e os relevados nas contas correntes dos beneficiários (SICC).

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que o“O projeto SICC-SIF preconiza uma remodelação quer da forma de extração de informação financeira com origem no Sistema Integrado de Conta

corrente SICC quer da contabilização em sede do Sistema de Informação Financeira (SIF). Está previsto que o

novo interface permita realizar as contabilizações com uma periodicidade diária” e que a “(…) morosidade nos processos de aquisição de serviços de desenvolvimento de Software, em particular a autorização para extensão

de encargos plurianuais, apenas permitiu constituir a equipa de desenvolvimento no último trimestre de 2016,

inviabilizando a implementação do interface em 2017”. Informa ainda que no decorrer deste ano têm sido

desenvolvidas tarefas que visam a operacionalização do Programa de Regularização de Saldos e que,

atualmente, já estão desenvolvidas várias componentes,“(…) prevendo-se ter no decurso do 1.º semestre de 2018 o projeto em produção com grande parte das operações implementadas, sendo que o fecho das contas desse

ano já beneficiará destes desenvolvimentos”.

Apesar das diligências já desenvolvidas, ainda não se encontram em produção os mecanismos

necessários à correção das inconsistências entre os dois sistemas, mantendo-se a existência do desvio na

conta do exercício de 2016.

Recomendação 77 – PCGE 2014

Reitera-se que o Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social deve diligenciar no sentido de

que aquando da constituição de provisões para cobrança duvidosa de pensões sejam conhecidos e

tomados em consideração os elementos com o beneficiário, o mês e ano referência a que respeita a dívida

e o correspondente valor.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que se mantém em“(…) desenvolvimento o novo Sistema de Informação de Pensões, não obstante ser possível, através deste sistema, obter no início de cada ano

listagens nominais com a situação em 31 de dezembro”.

Em sede de contraditório o ISS vem informar que “(…) para os valores provisionados residiu mais uma nos saldos existentes em SIF pelo facto do nivelamento de saldos entre SIF e a base de dados de pensões se encontrar

dependente do sovo sistema de informação de pensões (…)”

Conforme decorre da resposta, o novo sistema de informação ainda não se encontra em produção, pelo

que a informação sobre a constituição de provisões, em 2016, ainda não beneficiou da listagem nominal.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 393

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Tribunal de Contas

369

Recomendação 82 – PCGE 2014

Reitera-se ao Governo que o FGS deve funcionar de acordo com a legislação comunitária e nacional

que o enquadra, o que implica que seja dotado de património próprio, que sejam definidos os critérios

de financiamento por parte do Estado e que os excedentes obtidos continuem exclusivamente afetos à

prossecução das finalidades que lhe são próprias.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que“Encontra-se em fase de elaboração de proposta

de portaria que fixa os termos de financiamento do FGS” e o Ministro das Finanças referiu que se trata de “Matéria acompanhada no âmbito da SS”.

A recomendação permanece por acolher.

Recomendação 84 – PCGE 2014

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que devem ser concluídos os

procedimentos necessários ao tratamento contabilístico adequado dos acordos prestacionais.

A Secretária de Estado da Segurança Socialinformou que“No início do ano de 2017, e com o objetivo de se conseguir implementar totalmente o processo dos acordos prestacionais, nomeadamente a componente da

compensação dos pagamentos, foram desenvolvidos vários trabalhos em colaboração com o II, IP; contudo, foram

identificados alguns obstáculos no desenvolvimento de outros processos que condicionavam a qualidade e

fiabilidade da contabilização da componente de pagamento de acordos. Assim, e uma vez que não foi possível

assegurar a correção dos erros com efeitos às contas de 2016, foi decidido dar continuidade às correções em

2017, não se colocando em produção a componente da compensação dos acordos”.

Conforme decorre da informação prestada, os procedimentos necessários ao tratamento contabilístico

dos acordos prestacionais ainda não foram implementados.

Recomendação 91 – PCGE 2014

O Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social deve diligenciar no sentido de assegurar a

implementação na aplicação informática da segregação de funções entre quem procede à instrução do

processo e quem procede ao seu deferimento, devendo este ser expressamente efetuado apenas por quem

tem competência para o efeito.

A Secretária de Estado da Segurança Social informou que“A segregação de funções entre quem procede à instrução do processo e quem procede ao seu deferimento/indeferimento, bem como a garantia que é efetuado

expressamente por quem tem competência para o efeito, tem de ser garantida na atribuição de acessos aos perfis

pelos utilizadores” e que “O ISS encontra-se a preparar um documento técnico orientador para aplicação progressiva e transversal a todo o sistema, pretendendo-se definir um Workflow de processos de Deferimento e

Indeferimento para implementar a segregação de funções nas novas aplicações em desenvolvimento e posterior

adequação das aplicações em produção”. Por fim, conclui que “(…) a aplicação informática de Desemprego dispõe de perfis de acesso diferenciados e perfeitamente individualizados para instrução e decisão

(deferimento/indeferimento) de processos, respetivamente o perfil designado por «Análise de Processos» e o perfil

«Despacho/Decisão de Processos»”.

Não obstante a intenção de introdução de procedimentos que visem a concretização da segregação de

funções na aplicação informática de desemprego, tal ainda não ocorreu.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 394

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

370

16. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Em resultado das observações expostas nos pontos antecedentes, fundamentadas nos resultados das

auditorias e de outras ações de controlo sobre a execução orçamental realizadas com vista à emissão do

PCGE 2016, formulam-se as seguintes conclusões e recomendações.

Implementação do SNC-AP e da ECE (cfr. Caixa 1)

A aplicação do novo referencial contabilístico das Administrações Públicas, o SNC-AP, foi adiada por

um ano, para 01/01/2018, mantendo-se o objetivo de elaborar as demonstrações financeiras previsionais

do OE 2019 e as respetivas demonstrações financeiras na CGE. Os constrangimentos identificados nas

auditorias realizadas, nomeadamente ao nível do desenvolvimento do quadro legal, da conceção e

desenvolvimento dos sistemas de informação, da preparação e emissão de orientações para o tratamento

e harmonização de políticas contabilísticas, do início da aplicação do SNC-AP por algumas entidades e

da implementação da ECE, exigem o reforço de ações, de forma a cumprir atempadamente as obrigações

decorrentes da lei.

A ECE, constituída pelo conjunto das operações contabilísticas da responsabilidade do Estado, é um

elemento fundamental do novo modelo de gestão das finanças públicas consagrado na LEO. Porém, a

implementação piloto em curso tem um âmbito material mais restrito que o definido pela LEO ao

excluir, por exemplo, as operações associadas à dívida pública, às receitas fiscais, ao património

imobiliário do Estado e às PPP. Também o âmbito do balanço de abertura a 01/01/2019 não irá coincidir

com o âmbito da ECE.

Nos relatórios de auditoria que suportam a Caixa aqui em referência, o Tribunal formulou ao Ministro

das Finanças e à UniLEO

Recomendações

no sentido de que, para a correta e atempada implementação do SNC-AP e da ECE, continua a ser necessário

tomar medidas pertinentes, que permitam recuperar os atrasos que se verificam, de forma a cumprir os objetivos de apresentação, no OE 2019, de demonstrações financeiras previsionais e, na CGE 2019, de

demonstrações orçamentais e financeiras consolidadas.

Enquadramento macroeconómico e orçamental

No ROE 2016 subsistem insuficiências relativamente à informação sobre a relação dos pressupostos

macroeconómicos com a orçamentação das receitas e despesas públicas (cfr. ponto 1.2.1).

Recomendação 1 – PCGE 2016

Que o Governo, no relatório que acompanha a proposta do OE, explicite, de forma quantificada, o

impacto do cenário macroeconómico na orçamentação das receitas e despesas, em benefício da

transparência orçamental e da avaliação da sua execução.

O RCGE 2016 não quantificou os impactos das medidas de consolidação orçamental e na análise dos

desvios nas previsões orçamentais não apresentou o efeito, de forma quantificada, de cada uma daquelas

medidas e dos valores verificados na economia portuguesa (cfr. ponto 1.2.2).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 395

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Tribunal de Contas

371

Recomendação 2 – PCGE 2016

Que o Governo apresente na CGE, de forma quantificada, os impactos de cada uma das medidas de

consolidação orçamental na execução orçamental, os quais devem ser considerados na análise dos

desvios nas previsões orçamentais, a par com o impacto da evolução das variáveis macroeconómicas.

Orçamento do Estado (Administração Central)

Alterações orçamentais (cfr. ponto 2)

O OE aprovado sofreu alterações significativas, ascendendo o aumento da previsão da receita efetiva a

€ 1.755 M (2,8%) e o da despesa efetiva a € 2.393 M (3,4%), com destaque para a aquisição de bens e serviços correntes em € 1.709 M (13,1%) e as despesas com pessoal em € 721 M (4,6%), que agravaram o défice em € 638 M (8,4%).

A dotação provisional, destinada a despesas imprevisíveis e inadiáveis, foi totalmente utilizada

(€ 502 M) para reforçar diversas dotações suborçamentadas, como as despesas com pessoal, o que, mais uma vez, evidencia a sua utilização indevida e a inobservância do princípio da especificação, igualmente

incumprido com a reserva orçamental.

Recomendação 3 – PCGE 2016

Que o Ministro das Finanças assegure que a dotação provisional seja apenas utilizada para os fins

previstos no n.º 5 do artigo 8.º da LEO: “despesas não previsíveis e inadiáveis”.

Execução Orçamental

Receita (cfr. ponto 3.2)

A receita consolidada da administração central (€ 56.596 M) cresce 1,9% (€ 1.069 M) impulsionada pelo aumento de 2,4% (€ 973 M) nas receitas fiscais (€ 41.096 M) e de 2,1% (€ 95 M) nas contribuições sociais (€ 4.696 M). A evolução da receita fiscal resulta do acréscimo de 6,7% (€ 1.466 M) nos impostos indiretos atenuado pela quebra de 2,7% (€ 493 M) nos impostos diretos. Para essa evolução concorre a cobrança de € 444 M ao abrigo do Programa Especial de Redução do Endividamento ao Estado (PERES) e de € 150 M de impostos devidos em 2015, mas cobrados já em 2016. Por sua vez, o aumento das contribuições sociais decorre do acréscimo de 1,8% (€ 73 M) na receita da CGA e de 2,9% (€ 16 M) na receita da ADSE.

O exame das receitas da administração central inscritas na CGE voltou a evidenciar casos relevantes de

desrespeito de princípios orçamentais, incumprimento de disposições legais que regulam a execução e

a contabilização das receitas e insuficiências dos sistemas de contabilização e controlo. Ocorreram

omissões materiais e a manutenção de autonomia financeira a entidades que, indevidamente, registam

receitas do Estado como receitas próprias.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Recomendação 4 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGO, verifique se os organismos da administração central com autonomia

financeira apenas registam como receita própria o produto das transações provenientes do exercício da

atividade mercantil em regime de concorrência, bem como os montantes que correspondam à

contraprestação do serviço prestado, e não receita do Estado, e se aquela cumpre os requisitos legais

de cobertura das respetivas despesas para a manutenção do regime de autonomia administrativa e

financeira, devendo, em caso negativo, ser revogado esse regime.

Com a entrada em vigor do OE 2016, passaram a ser contabilizadas na receita do Estado, como devido,

a contribuição de serviço rodoviário afeta à Infraestruturas de Portugal, a receita do ISP afeta a outras

entidades e a receita fiscal cobrada pela AT que é afeta ao Fundo de Estabilização Tributário.

No entanto, subsiste a omissão de receitas do Estado (€ 1.272 M) por serem contabilizadas diretamente pelas entidades às quais o respetivo produto está consignado, por exemplo: a contribuição para o

audiovisual (entregue à RTP), ao contrário do previsto no OE; outros impostos indevidamente

contabilizados por SFA (v.g.: resultados de exploração de apostas mútuas, lotarias e imposto sobre o

jogo). Estes procedimentos retiram transparência à gestão orçamental e desrespeitam a lei sempre que

as receitas do Estado não são contabilizadas pelas respetivas entidades administradoras.

Recomendação 5 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGO, assegure que todas as receitas, inclusive as extraorçamentais, sejam

contabilizadas pelas respetivas entidades administradoras.

Em 2016 a identificação formal das entidades administradoras de receitas, especificando as receitas

administradas sob a responsabilidade direta de cada uma dessas entidades, só foi divulgada quatro meses

após o início do exercício orçamental, faltando-lhe 15 entidades que registaram receita e subsistem

receitas que, só devendo ter uma entidade administradora, foram contabilizadas por mais do que uma

entidade.

Recomendação 6 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGO, identifique formal e previamente a cada exercício orçamental, todas

as entidades administradoras de receitas do Estado (serviços integrados que asseguram ou coordenam

a liquidação de uma ou mais receitas e zelam pela sua cobrança), especificando as receitas

administradas sob a responsabilidade direta de cada uma dessas entidades.

A falta de interligação dos sistemas próprios das entidades administradoras de receitas do Estado ao

Sistema de Gestão de Receitas (SGR), que suporta a informação reportada na CGE, não assegura a

consistência desta com a residente nesses sistemas e inviabiliza o cumprimento de outras normas legais,

como a prestação diária da informação.

A DGO tem limitado o registo das operações extraorçamentais no SGR impedindo a AT de relevar a

totalidade das receitas que administra, incluindo a receita extraorçamental a entregar às regiões

autónomas e aos municípios (€ 2.209 M em 2016 só para os principais impostos).

Recomendação 7 – PCGE 2016

Que o Governo determine à DGO que crie as condições necessárias para as entidades administradoras

de receitas do Estado poderem registar no Sistema de Gestão de Receitas a totalidade das receitas que

administram, incluindo as receitas extraorçamentais (cujos saldos devem ficar relevados e transitar para

o exercício seguinte).

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Tribunal de Contas

373

O controlo eficaz das contas públicas pressupõe a certificação do universo dos organismos da

administração central. Ora, para além da falta de identificação das entidades administradoras da receita

do Estado em tempo útil, subsiste a omissão de entidades (Sistema de Indemnização aos Investidores,

Fundo para a Promoção dos Direitos dos Consumidores, Fundo de Capital e Quase Capital e Fundo de

Dívida e Garantias), cujas receitas e correspondentes despesas não integram a conta consolidada da

administração central.

Recomendação 8 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGO, tome as medidas necessárias para que sejam incluídas no Orçamento

e na Conta, e devidamente classificadas, todas as entidades previstas na LEO, justificando todas as

alterações ocorridas na composição do universo dos serviços e fundos da administração central

constantes da lista divulgada pelo INE.

Verifica-se, ainda, a indevida classificação como EPR do Fundo de Garantia de Crédito Agrícola Mútuo,

do Fundo de Garantia de Depósitos e do Fundo de Resolução, os quais nos termos da LEO, são fundos

da administração central, prévia e independentemente da sua inclusão pelo INE como Entidades do

Sector Institucional das Administrações Públicas.

Recomendação 9 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGO, tome as medidas necessárias para que organismos da administração

central não sejam indevidamente consideradas no OE e na correspondente CGE como entidades públicas

reclassificadas.

Subsistem organismos da administração central que não reportam a execução de operações

extraorçamentais e constrangimentos técnicos dos sistemas de informação que obstam à adequada

relevação dessas operações na CGE. Tais deficiências conduzem ao incumprimento de normas legais e

desrespeitam os princípios orçamentais da universalidade e da especificação.

Acresce que a DGO passou a exigir às entidades a inscrição orçamental (na receita e na despesa) das

operações extraorçamentais gerando, deste modo, inconsistências com os sistemas contabilísticos locais,

tanto atualmente (segundo as regras do POCP e POC sectoriais) como no futuro, visto colidir com o

SNC-AP que determina um tratamento diferenciado para estas receitas (despesas) ao não prever as

correspondentes contas de previsões (dotações) iniciais e corrigidas.

Recomendação 10 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGO, elimine os constrangimentos que obstam à adequada relevação das

operações extraorçamentais e que geram inconsistência entre a informação dos sistemas contabilísticos

locais dos organismos da administração central e a informação que suporta a CGE.

A CGE continua sem apresentar resultados quantitativos do combate à fraude e à evasão fiscais e o

Relatório que, nesse âmbito, o Governo apresentou à Assembleia da República não discrimina os valores

das liquidações adicionais e das coletas recuperadas por imposto como exigido pela lei, referindo-se à

cobrança coerciva (€ 1.307 M), à cobrança resultante de processos de contraordenação concluídos em 2016 (€ 231 M) e às notas de cobrança de IRC emitidas na sequência de correções da inspeção tributária (€ 435 M). Ora, a cobrança coerciva é de dívidas não pagas por cobrança voluntária, as coimas não são coletas recuperadas e a emissão de notas de cobrança corresponde a valores liquidados e não cobrados.

Porém, segundo a informação prestada pela AT ao Tribunal neste âmbito, a respetiva receita fiscal

totaliza € 491 M (mais € 252 M e 105,4% face a 2015).

Constituindo o combate à fraude e à evasão um elemento importante da ação inspetiva, os ciclos das

respetivas dívidas evidenciam estrutura similar traduzida por receitas inferiores a 10% das dívidas e

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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saldos superiores a 85%, mesmo com o impacto do PERES. A subsistência desta estrutura revela a

existência de um núcleo importante de dívida fiscal comum ao referido combate, à ação inspetiva que o

concretiza, à fase de cobrança coerciva para a qual evolui e, em regra, ao subjacente contencioso (entre

devedores e administração tributária) que o prolonga.

Recomendação 11 – PCGE 2016

Que o Governo, através da AT, passe a reportar na CGE os ciclos da dívida fiscal (impostos liquidados

por cobrar ou anular) em cobrança coerciva (por incumprimento do prazo de cobrança voluntária) ou

resultante da ação inspetiva e, em particular, do combate à fraude e à evasão, bem como a reconciliação

da receita fiscal gerada por cada um desses ciclos.

Das insuficiências detetadas e recorrentemente assinaladas pelo Tribunal na contabilização das receitas

do Estado, incluindo o incumprimento do regime legal em vigor desde 2001, decorre a manifesta

subavaliação do saldo das receitas por cobrar que consta da CGE (€ 13.770 M).

Atividade dos Fundos de Estabilização Tributário e Aduaneiro (cfr. Caixa 2)

Subsiste a inconsistência do saldo de disponibilidades nos documentos de prestação de contas por

omissão dos equivalentes de caixa. Com efeito, continuam omissas disponibilidades de montante

materialmente relevante dos organismos da administração central no saldo da demonstração dos fluxos

de caixa. Porém, esta questão ficará resolvida com a entrada em vigor e plena aplicação do SNC-AP,

legalmente prevista para 01/01/2018. Efetivamente, a demonstração dos fluxos de caixa passará

evidenciar no saldo, também, os equivalentes de caixa.

Recomendação 12 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGO, tome as medidas necessárias para assegurar a verificação sistemática

da consistência dos saldos de disponibilidades (caixa e equivalentes de caixa) dos organismos da

administração central nos respetivos documentos de prestação de contas, tal como decorre do SNC-AP.

Despesa (cfr. ponto 3.3)

A despesa consolidada da administração central, excluindo ativose passivos financeiros, cifrou-se em

€ 62.976 M. Considerando a parte dos ativos financeiros e os passivos financeiros da Parvalorem, Parups e Parparticipadas, a despesa passa para € 64.272 M.

Os montantes mais significativos de despesa foram registados nos programas PO12 – Trabalho, solidariedade e segurança social (€ 19.513 M), PO13 – Saúde (€ 9.881 M) e PO05 – Gestão da dívida pública (€ 7.381 M), que, no seu conjunto, representam 58,2% da despesa.

A execução dos 18 programas orçamentais é relevada na CGE essencialmente quanto aos recursos

financeiros utilizados, com apenas quatro a apresentar os resultados obtidos, partindo dos objetivos,

indicadores e medidas sectoriais, que não foram previamente definidos no Relatório do OE. A

orçamentação por programas, visando focar a discussão do orçamento e da sua execução nos resultados

obtidos com os meios utilizados e com recurso a indicadores relevantes, carece ainda de

desenvolvimentos significativos (cfr. ponto 3.3.2).

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Tribunal de Contas

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Recomendação 13 – PCGE 2016

Que o Governo, nos programas orçamentais, fixe objetivos claros e indicadores relevantes que permitam

o seu reporte, monitorização e avaliação na CGE.

Na despesa por natureza destacam-se as transferências correntes, de capital e subsídios (€ 27.007 M, 42,9% do total), as despesas com pessoal (€ 15.837 M, 25,1%), a aquisição de bens e serviços (€ 8.746 M, 13,9%) e os juros e outros encargos (€ 8.746 M, 13,9%).

A fiabilidade destes valores encontra-se afetada pelo incumprimento de princípios orçamentais,

nomeadamente, os da universalidade e da anualidade, bem como pela ausência de informação fiável que

permita consolidar (eliminar) todas as operações materialmente relevantes entre as entidades do

subsector (cfr. pontos 3.3.1 e 3.3.4).

A despesa consolidada sem ativos nem passivos financeiros aumentou € 1.111 M (1,8%) face ao ano anterior. Os aumentos mais significativos ocorreram nas despesas com pessoal (em € 619 M, dos quais € 337 M em remunerações certas e permanentes e € 210 M na segurança social) e nos juros e outros encargos (€ 191 M). Em sentido contrário, as maiores reduções de despesa verificaram-se na aquisição de bens de capital (€ 242 M, com destaque para a quebra de € 151 M das despesas da Infraestruturas de Portugal com infraestruturas de transportes rodoviários e de € 141 M da EDIA em construções diversas).

Os ativos financeiros considerados (que totalizaram € 912 M) registaram uma redução de € 2.498 M (-73,2%), com destaque para operações que ocorreram em 2015, sem correspondência em 2016, que

abrangem a capitalização do Banif (€ 2.255 M) e os empréstimos de médio e longo prazos concedidos à Região Autónoma da Madeira (€ 319 M).

A análise da evolução da despesa entre 2015 e 2016 é afetada especialmente pela reestruturação orgânica

resultante do XXI Governo Constitucional, que também teve impacto nos programas orçamentais (cfr.

pontos 3.3.1.2 e 3.3.4.4).

O Quadro Plurianual de Programação Orçamental (QPPO) é uma medida disciplinadora das finanças

públicas, estipulando, para os quatro anos seguintes, limites vinculativos à despesa: para o primeiro ano

a despesa financiada por receitas gerais de cada programa orçamental; no segundo ano para cada

agrupamento de programas; e nos dois anos últimos anos para o conjunto dos programas. Em 2016, tal

como nos anos anteriores, estes limites foram sucessivamente alterados (cfr. ponto 3.3.3.1).

Recomendação 14 – PCGE 2016

Deve ser respeitada a natureza vinculativa dos valores fixados no QPPO nas suas diferentes dimensões

(programas, agrupamentos de programas e conjunto de todos os programas).

A CGE continua a não abranger todos os serviços que deveriam ser incluídos no seu perímetro e todas

as despesas orçamentais (cfr. ponto 3.3.4.1), em violação do princípio da universalidade.

Recomendação 15 – PCGE 2016

O Governo, através da DGO, deve garantir a integralidade da despesa registada na CGE, abrangendo

a execução orçamental definitiva de todas as entidades que constituem o universo da administração

central e assegurar o cumprimento dos princípios e regras orçamentais.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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A CGE 2016 evidencia os “pagamentos efetuados”, o que abrange o pagamento de dívidas de anos anteriores e exclui a despesa por pagar no final do ano. Esta, segundo o Relatório da Conta ascendia a

€ 370 M na administração central.

O Relatório da CGE indica que os pagamentos em atraso da administração central há mais de 90 dias

ascendiam a € 580 M (cfr. ponto 3.3.4.2.1). Considerando as consequências económicas, financeiras e sociais do atraso nos pagamentos, o Tribunal torna a recomendar:

Recomendação 16 – PCGE 2016

Que o Governo assegure um maior rigor na assunção e na previsão dos encargos a pagar anualmente,

a fim de que as dotações orçamentais permitam o pagamento da totalidade dos encargos vencidos.

A CGE continua a evidenciar como despesa paga as transferências de verbas para as contas bancárias

dos próprios organismos, embora parte tivesse por objetivo a transição/utilização no ano seguinte e não

o pagamento de despesas durante o ano económico em que foram requisitadas.

As reposições não abatidas nos pagamentos dos SI registadas na CGE 2016 (€ 233 M, que deram origem à abertura de créditos especiais no montante de € 69 M) e os saldos da gerência anterior dos SFA financiados por receitas gerais no valor de € 354 M, indiciam que, em 2015, foram requisitadas verbas em montante superior ao necessário para assegurar os pagamentos, em incumprimento do estipulado no

decreto-lei de execução orçamental.

Do mesmo modo, a despesa dos SI de 2016 foi sobrevalorizada, porquanto os montantes repostos, entre

01/01 e 31/08/2017 ascendiam a € 204 M e os saldos da gerência anterior de SFA financiados por receitas gerais a € 224 M.

Estas práticas constituem uma violação dos princípios da anualidade e da transparência, com efeito na

despesa do subsector dos SI e, no caso da abertura de créditos especiais, também sobrevalorização da

receita (cfr. ponto 3.3.4.2.2).

Recomendação 17 – PCGE 2016

O Governo, através da DGO, deve garantir o estrito cumprimento das disposições sobre o pedido de

libertação de créditos que constam do decreto-lei de execução orçamental, em particular nos casos de

requisição de verbas orçamentais para integração nas dotações do ano seguinte ou a transitar como

saldo de gerência, dados os seus efeitos na transparência das contas públicas, no défice da CGE de cada

ano e na tesouraria do Estado.

Verificaram-se erros de classificação económica, especialmente praticados por EPR ou em operações

atípicas às atividades dos serviços. As classificações de caráter residual representam mais de 20% da

despesa de 10 entidades, não dando cumprimento ao princípio da especificação (cfr. ponto 3.3.5.3; ponto

4.1.2.1; e ponto 9.2.3).

Recomendação 18 – PCGE 2016

Que o Governo garanta o cumprimento rigoroso do princípio da especificação, com a utilização da

classificação económica apropriada na contabilização das despesas e dos fluxos associados à dívida

pública e ao património financeiro, e o recurso às classificações de carácter residual apenas quando

não exista outra adequada à natureza das despesas.

Na inscrição orçamental da despesa, as indemnizações compensatórias são, desde 2014, pagas pelo

programa orçamental/ministério onde a entidade recebedora está integrada, porém, as pagas a entidades

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 401

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Tribunal de Contas

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não reclassificadas nas administrações públicas continuam a ser asseguradas pelo PO04 – Finanças, embora a atividade desenvolvida se insira no âmbito de outros programas orçamentais.

Foram detetados erros e inconsistências nos mapas e quadros relativos à despesa da administração

central por programas, nos mapas dos projetos, que prejudicam a comparabilidade (cfr. pontos 3.3.4.4 e

3.3.4.5).

Recomendação 19 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGO, melhore a coerência da informação a relevar nos mapas e quadros da

CGE, melhorando a sua consistência e comparabilidade.

Consolidação da administração central (cfr. ponto 3.4)

Excluindo operações com ativos e passivos financeiros, da consolidação da conta da administração central

resulta a receita consolidada de € 56.596 M, a despesa de € 62.976 M e o consequente saldo de € -6.379 M, que consta da CGE de 2016 (Mapa XXIII). Porém, o impacto global das operações com ativos e passivos financeiros a considerar (€-753 M) fez com que esse saldo global passasse para € -7.132 M (cfr. ponto 3.4.1).

Dívida pública (cfr. ponto 4)

Dívida financeira (cfr. ponto 4.1)

A informação apresentada na CGE continua a ter lacunas e incorreções diversas, suscetíveis de distorcer

a análise sobre o valor da dívida pública em 2016.

A CGE – mapas XV, XXIX e Relatório: adota um conceito de dívida pública restrito a empréstimos, títulos e instrumentos derivados geridos pelo IGCP, deixando de fora outros instrumentos de dívida,

designadamente locações financeiras, e de outros emitentes, designadamente SFA; não procede à

consolidação do stock da dívida nem dos fluxos de despesa e receita associados ao seu serviço; usa

inadequadamente diversos critérios contabilísticos, em particular o classificador económico das receitas

e despesas públicas.

O valor nominal apurado da dívida não consolidada do subsector dos SI, em 31/12/2015, era de

€ 226.363 M e, em 31/12/2016, de € 236.282 M. Na CGE 2016 (mapa XXIX), o correspondente valor em 31/12/2015, está subvalorizado em € 0,1 M por incluir receitas de juros obtidas na emissão de BT que foram contabilizadas como passivos financeiros. Pela mesma razão em 31/12/2016, o stock está

sobrevalorizado em € 0,5 M (cfr. 4.1.1.1).

Em 31/12/2016, cerca de 55% do total da dívida direta do Estado era detida por entidades externas (50%

por não residentes e 5% pelo BCE), situação para a qual contribuíram fortemente os empréstimos do

PAEF. Considerando apenas a dívida transacionável, na mesma data, 17% estavam na posse do BdP e

9% do BCE, (26% no total, o que compara com 19% em 31/12/2015), verificando-se um aumento do

peso dos bancos centrais como detentores da dívida pública portuguesa (cfr. 4.1.1.1.).

A dívida de médio e longo prazos, em 31/12/2016, correspondia a 91% do total da dívida direta não

consolidada, cifrando-se em € 213.844 M, com maturidades entre 2017 e 2045. O ano 2021 será o ano com maior concentração de vencimentos, com necessidades de refinanciamento no valor de € 25.799 M.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Prevê-se que em 2024 as necessidades de refinanciamento de dívida sejam de € 18.647 M e em 2025 de € 16.398 M (cfr. 4.1.1.1.).

Os contratos de derivados financeiros (SI), avaliados ao justo valor, passaram de € 2.552 M em 31/12/2015 para € 2.106 M em 31/12/2016, valores que não se encontram na CGE 2016 (cfr. ponto 4.1.1.1).

No subsector dos SI, o produto das emissões de 2016 foi de € 66.020 M (na CGE, mapa 50 e XXVIII, sobrevalorizado em € 0,6 M). A despesa com amortizações foi de € 55.606 M (na CGE, mapa 13 e 52, sobrevalorizado em € 0,3 M), com juros foi de € 7.278 M e com outros encargos correntes da dívida foi de € 101 M.

No que respeita ao valor nominal das amortizações de dívida em moeda estrangeira (SI), a CGE (mapa

XXIX) continua a não refletir o correto contravalor em euros em alguns instrumentos. A Conta também

mantem outros erros e algumas deficiências, como a errada classificação de receitas de juros como

passivos financeiros (BT) e o uso de classificações económicas que não identificam corretamente o

sector económico dos detentores da dívida. Alguns dos seus mapas (XXIX, 50 e 51) não refletem com

transparência os fluxos (receita/despesa) associados a alguns instrumentos de dívida, observando-se a

existência de vários critérios no mesmo mapa e a ausência de notas explicativas, essenciais na

interpretação dos valores (cfr. 4.1.1.2).

Recomendação 20 – PCGE 2016

Que o Governo, através do IGCP, promova a utilização da rubrica adequada na contabilização dos juros

obtidos com a emissão de BT e de critérios uniformes nos diversos mapas da CGE.

O mapa XXIX da CGE continuou a não incluir o stock da dívida dos SFA, tendo, neste subsector, sido

identificadas 45 entidades com dívida financeira para as quais se apurou que o valor nominal do capital

em dívida em 31/12/2015 era de € 37.900 M, passando para € 36.585 M em 31/12/2016 (-3,5%). Porém, os fluxos financeiros associados ao correspondente serviço de dívida estão incluídos nos mapas de

receita e despesa (cfr. ponto 4.1.2.1).

O justo valor dos contratos de derivados financeiros, relativos a seis empresas, com destaque para a

Metropolitano de Lisboa e a Metro do Porto, era de € -1.399 M, em 31/12/2016, tendo aumentado € 39 M (2,7%) durante o exercício. Estas operações originaram € 46 M de encargos líquidos com juros (cfr. ponto 4.1.2.1).

No subsector dos SFA, as receitas de passivos financeiros registadas na CGE estão sobrevalorizadas em

64% (€ 3.245 M na CGE contra € 1.178 M apurados pelo Tribunal) e as despesas da mesma natureza subvalorizadas em 1,8% (€ 1.996 M na CGE contra € 2.032 M apurados pelo Tribunal). A despesa corrente com o serviço da dívida está subvalorizada em € 124 M (19%), com destaque para os juros da dívida pública cuja despesa foi de € 732 M, estando registados na CGE apenas € 628 M. Consequentemente, o total da receita dos SFA indicado nos mapas V e VI, € 48.835 M, e o total da despesa dos SFA indicado nos mapas VII, VIII e IX, € 41.180 M, está subvalorizado em € 47 M (cfr. ponto 4.1.2.1).

Tal resulta de numerosas incorreções de classificação económica e de omissões, com particular

relevância no que aos novos SFA diz respeito. De entre as incorreções, salienta-se a relativa à

classificação da receita proveniente de aumentos de capital de EPR, que na CGE foi considerada como

receita de passivos financeiros, empolando esta em € 2.037 M. O argumento de inexistência de classificação específica levaria à utilização da classificação residual, outras receitas de capital, e não a

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Tribunal de Contas

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considerar passivo o que de facto são recursos próprios das empresas (cfr. Recomendação nº 18 – PCGE 2016).

Recomendação 21 – PCGE 2016

Que o Governo, na revisão do classificador da receita, crie uma rubrica própria para a receita

proveniente de aumentos de capital.

A despesa por programas, apresentada no mapa XV da CGE, omite os encargos com a dívida da

generalidade dos SFA pelo que o valor imputado ao PO005 – Gestão da dívida pública está subvalorizado em € 2.795 M.

A dívida consolidada do subsector dos SFA, isto é, a dívida a entidades exteriores ao perímetro da CGE,

era em 31/12/2016 de € 18.270 M, tendo diminuído € 1.226 M (6,3%) face a 2015. Registaram-se diminuições em todos os tipos de dívida considerados: empréstimos 8,4%, títulos 4,9% e locações

financeiras 6,1%. Os instrumentos de médio e longo prazo continuaram a ser os mais relevantes e o peso

dos títulos no total do valor da dívida foi de cerca de 60%. Esta dívida estava concentrada em seis

empresas: Parpública (23%), Infraestruturas de Portugal (19%), Parvalorem (13%), Metropolitano de

Lisboa (13%), Metro do Porto (7%) e CP (6%), que representavam 80% do total da dívida consolidada

dos SFA (cfr. ponto 4.1.2.2).

O valor da dívida consolidada do Estado (SI e SFA) apurado pelo Tribunal era de € 234.573 M em 31/12/2016, o que representou um aumento de € 9.472 M (4,2%) em relação ao final do ano anterior. A dívida consolidada e os encargos a ela associados não foram apresentados na Conta.

O RCGE apura, com base nos fluxos de receita e de despesa de passivos financeiros, o valor de

€ 10.490 M para o acréscimo de endividamento global líquido (SI). Este valor não é comparável com o apurado pelo Tribunal, cujo cálculo é realizado com base nos valores nominais do stock da dívida. No

caso dos SFA, aquele relatório apresenta o endividamento líquido de € -1.013 M. Como a CGE não apresenta o stock da dívida das entidades que compõem o subsector dos SFA nem sequer é possível

verificar a origem da diferença.

Trata-se de um apuramento destinado a verificar o cumprimento de um limite fixado na LOE e, sobre

este tema, o Tribunal já se pronunciou no sentido da necessidade de clarificação dos conceitos de “dívida pública direta do Estado” e de “acréscimo de endividamento líquido”, utilizados na fixação de limites pela Assembleia da República, por forma a eliminar as ambiguidades que nos anos recentes, em

particular desde o alargamento do âmbito do OE a EPR, têm impedido a verificação daqueles limites

(cfr. ponto 4.1.3).

Recomendação 22 – PCGE 2016

Que o Governo determine que a CGE evidencie o stock da dívida consolidada do Estado, bem como os

encargos com juros consolidados que lhe estão associados.

Em 2016 o saldo médio diário de depósitos na tesouraria central do Estado foi de € 12.378 M (em 2015 fora de € 13.856 M), o qual teve um custo líquido de € 182 M (€ 210 M, em 2015) (cfr. 4.1.4).

Recomendação 23 – PCGE 2016

O Governo deve assegurar que o relatório da CGE identifique os custos anuais com a manutenção dos

saldos médios elevados na tesouraria, bem como explicite os eventuais benefícios.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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Garantias do Estado (cfr. ponto 4.2)

No final de 2016 as responsabilidades do Estado por garantias a financiamentos totalizavam € 23.339 M, incluindo € 2.283 M de SFA, e as de seguros de crédito e similares € 948 M, reduzindo-se em € 1.761 M (-7%) face às registadas no ano anterior. As responsabilidades que constam da CGE do ano em apreço

encontram-se subavaliadas em cerca de € 2.258 M, por não incluírem a maior parte das garantias prestadas por SFA.

Recomendação 24 – PCGE 2016

Que o Governo diligencie no sentido de a CGE, Relatório e mapa 1 do Volume II, Tomo I, incluir as

garantias prestadas por todos os SFA.

As novas garantias concedidas pelo Estado a operações de financiamento totalizaram apenas € 872 M, compreendendo uma contragarantia ao Fundo de Resolução, no montante de € 746 M, e uma nova garantia ao Fundo de Contragarantia Mútuo, no montante de € 126 M, destinada, mais uma vez, a substituir parcialmente a dotação de capital que o Estado deveria realizar no Fundo. No âmbito dos

seguros de crédito e similares foram concedidas garantias no total de € 278 M.

No que se refere a garantias dos SFA, foram prestadas pelo Fundo de Apoio Municipal ao Município de

Vila Real de Santo António, até ao montante de € 28 M, e no âmbito das atribuições do Fundo de Contragarantia Mútuo, foram emitidas contragarantias, em termos líquidos de amortizações, no

montante total de € 191 M.

Foram cumpridos os limites para a concessão de garantias fixados pela LOE 2016, com exceção do

relativo a outras pessoas coletivas de direito público, que não contemplou os efeitos decorrentes da

inclusão do Fundo de Contragarantia Mútuo no perímetro orçamental.

As execuções de garantias a operações de financiamento implicaram pagamentos no montante total

líquido de € 44 M, envolvendo, essencialmente, a Europarque e o FCGM, e a seguros de crédito e similares, no montante de € 13 M.

As responsabilidades no final do ano por garantias prestadas ao sistema financeiro reduziram-se para

€ 1.800 M, sendo todas respeitantes ao Novo Banco; as relativas às sociedades veículo do ex-BPN totalizavam cerca de € 2.714 M.

O saldo global entre receitas e despesas foi positivo em € 67 M, em virtude, essencialmente, das comissões de garantia recebidas e das recuperações relativas aos seguros de crédito (acordo da dívida

de Angola).

Dívida não Financeira (cfr. ponto 4.3)

Os dados sobre a dívida não financeira que constam da CGE carecem de aperfeiçoamento, em particular

no tocante aos valores que servem de base aos apuramentos realizados pela DGO.

Em 31/12/2016 a dívida não financeira a fornecedores externos da totalidade das entidades do SNS,

incluindo hospitais empresarializados, era cerca de € 1.841 M e a dívida das restantes EPR relativa a passivos não financeiros cerca de € 199 M.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 405

Página 406

Tribunal de Contas

381

Recomendação 25 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGO, inclua na CGE informação sobre a dívida não financeira das EPR,

incluindo as que pertencem ao SNS.

Fluxos financeiros com a União Europeia (cfr. ponto 5)

Em 2016, registaram-se transferências de € 3.202 M da UE para Portugal e de € 1.726 M de Portugal para a UE. O saldo dos fluxos financeiros entre Portugal e a UE (€ 1.476 M) registou um aumento face a 2015 no montante de € 800 M, devido, no essencial, ao acréscimo dos fluxos financeiros provenientes da UE em € 781 M (+32,3%) (cfr. ponto 5.1).

Apesar da boa prática registada quanto à decisão de se pagar condicionalmente os montantes solicitados

pela Comissão, continuaram a verificar-se atrasos nos pagamentos, o que faz onerar o Estado Português

em encargos acrescidos (cfr. ponto 5.2), pelo que se reitera a recomendação formulada em pareceres

anteriores:

Recomendação 26 – PCGE 2016

Os recursos próprios devem ser pagos tempestivamente de modo a evitar onerar o Estado com juros.

A CGE 2016 continua a não evidenciar autonomamente os fluxos financeiros relativos ao Fundo de

Auxílio Europeu às Pessoas mais Carenciadas (FEAC), que se encontram incluídos no FSE (cfr. ponto

5.3.1), recomendando-se:

Recomendação 27 – PCGE 2016

Deve ser adequadamente autonomizado o fluxo financeiro relativo ao FEAC.

Apesar do cumprimento praticamente generalizado do dever de informação sobre os montantes

recebidos diretamente da UE pelas entidades sujeitas à disciplina orçamental, continuam a verificar-se

divergências nos valores reportados (cfr. ponto 5.3.1), pelo que se recomenda:

Recomendação 28 – PCGE 2016

A DGO deve melhorar a articulação com as entidades intervenientes na receção dos fundos europeus,

por forma a evidenciar esses fluxos com rigor na CGE.

A análise comparativa dos dados da execução orçamental dos fundos europeus constantes da CGE com

a reportada pelas Autoridades de Certificação evidencia diferenças significativas. De acordo com o

modelo preconizado pela DGO, estas divergências podem resultar de pagamentos sem cofinanciamento

público nacional e, consequentemente, sem expressão orçamental, ou podem advir da sua incorreta

classificação pelos serviços que movimentam este tipo de fundos (cfr. ponto 5.3.1). Recomenda-se, por

isso:

Recomendação 29 – PCGE 2016

Na CGE, no domínio dos fundos europeus, deve existir informação detalhada sobre as operações

extraorçamentais das entidades da administração central sujeitas à disciplina orçamental.

No final do terceiro ano do período de programação 2014-2020 (Portugal 2020), os FEEI com despesa

validada, no montante global de € 2.860,5 M, refletem uma taxa de execução acumulada muito baixa (11,1%), embora o FEADER e o FSE apresentem níveis de execução superiores (26,4% e 14,2%,

respetivamente) (cfr. ponto 5.3.2). Assim, recomenda-se:

22 DE DEZEMBRO DE 2017 406

Página 407

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

382

Recomendação 30 – PCGE 2016

Especial atenção aos trabalhos de validação da despesa executada, conducentes à sua certificação e

pedido de reembolso à CE, de forma a evitar perdas no âmbito da avaliação do cumprimento da

designada “regra n+3”, a realizar já no fim de 2017.

No domínio do FEADER e do FEAMP registam-se divergências entre a informação divulgada pela

Agência para o Desenvolvimento e Coesão, enquanto Coordenadora Técnica Geral do Portugal 2020 e

a reportada pelo IFAP, Comissão de Coordenação Nacional para o FEADER e Comissão de

Coordenação para o FEAMP (cfr. ponto 5.3.2), recomendando-se:

Recomendação 31 – PCGE 2016

Melhor articulação entre as entidades responsáveis pelo acompanhamento dos FEEI de modo a ser

garantida a coerência e a fiabilidade dos dados divulgados sobre o Portugal 2020.

A informação reportada pela Agência para o Desenvolvimento e Coesão, enquanto Coordenadora

Técnica Geral do Portugal 2020, não inclui os dados relativos à Despesa Pública, apesar de terem sido

solicitados no âmbito dos trabalhos preparatórios dos PCGE 2015 e 2016 (cfr. ponto 5.3.2). Por isso,

recomenda-se:

Recomendação 32 – PCGE 2016

Que o reporte de informação sobre os FEEI contemple todos os campos necessários ao acompanhamento

dos compromissos assumidos, nomeadamente no tocante à Despesa Pública.

Fluxos financeiros com o sector público empresarial (cfr. ponto 6)

Os fluxos financeiros com o SPE apresentaram um saldo global desfavorável para a administração direta

do Estado de € 2.456 M (€ 2.704 M para o SPE e € 248 M proveniente do SPE).

Nas despesas salientam-se os aumentos de capital (€ 1.897 M), os empréstimos (€ 564 M, líquidos de reembolsos) e as indemnizações compensatórias (€ 54 M). Às empresas de transporte e infraestruturas rodo-ferroviárias foram entregues os maiores montantes (€ 1.714 M)1, seguindo-se a Parvalorem, a Parups e a Parparticipadas (€ 434 M) e a Parpública (€ 290 M).

Nas receitas destacam-se os dividendos e participações nos lucros de sociedades financeiras do BdP

(€ 147 M).

O classificador económico das receitas e das despesas não distingue as sociedades financeiras públicas

das privadas, mas já o faz em relação às sociedades não financeiras, o que lhe retira coerência. Do lado

das receitas, nos ativos financeiros, o classificador também não distingue as que provêm do SPE.

Recomendação 33 – PCGE 2016

Face às lacunas dos atuais classificadores que, designadamente, inviabilizam o apuramento rigoroso da

totalidade dos fluxos financeiros entre o OE e o sector público empresarial, deve o Governo alterar o

diploma que os aprovou, no sentido de as mesmas serem colmatadas.

1 Com destaque para a Infraestruturas de Portugal (€ 950 M), Metropolitano Lisboa (€ 362), CP (€ 177 M), Metro do Porto

(€ 126 M) e Carris (€ 74 M).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 407

Página 408

Tribunal de Contas

383

Fluxos financeiros com as regiões autónomas e autarquias locais (cfr. ponto 7)

Os fluxos financeiros para as regiões autónomas ascenderam a € 863 M (€ 252 M para os Açores e € 244 M para a Madeira), sendo € 496 M de operações orçamentais, € 263 M de operações extraorçamentais e € 103 M da segurança social.

Os fluxos financeiros para as autarquias locais ascenderam a € 3.252 M, sendo € 2.985 M de operações orçamentais, € 266 M de operações extraorçamentais e € 2 M da segurança social. Os mapas XIX e XX do OE e XIX da CGE incluem as transferências para os respetivos fundos (FEF, FSM e FFF) e a

participação variável dos municípios do continente no IRS. Porém, não consideram um conjunto de

fluxos que totalizam € 940 M: outras transferências e subsídios (€ 609 M), empréstimos a médio e longo prazos (€ 66 M) e a totalidade das operações extraorçamentais (€ 266 M).

Nos fluxos da administração local para a administração central o quadro 57 não inclui € 92 M de receita de passivos financeiros.

O OE e a CGE, apesar das melhorias introduzidas (em 2016, foram incluídos os quadros 58 e 62

referentes a operações extraorçamentais), não refletem de forma fidedigna, completa e agregada todos

fluxos financeiros destinados às autarquias locais.

Recomendação 34 – PCGE 2016

Que o Governo providencie no sentido de o OE e a CGE incluírem informação completa e agregada

sobre os fluxos financeiros para as Autarquias Locais, em cumprimento do disposto no artigo 76.º, n.º 7,

da LEO.

Benefícios fiscais, subsídios e outras formas de apoio (cfr. ponto 8)

Benefícios fiscais (cfr. ponto 8.1)

A despesa fiscal (receita cessante por benefícios fiscais) relevada na CGE (€ 2.538 M) continua muito subavaliada, desde logo, pela omissão de € 60 M em IRC e de parte dos € 5.795 M em IVA considerados como receita cessante por desagravamentos fiscais estruturais quando, em rigor, se trata de benefícios

fiscais. Além disso, não foi quantificada despesa relevante, incluindo a relativa a operações e atos isentos

de imposto do selo declarados por sujeitos passivos (€ 67.051 M de matéria coletável). Aplicando as taxas mínimas previstas na tabela geral desse imposto aos montantes declarados apura-se o valor de

€ 89 M. Omissões deste tipo são recorrentes.

Subsistem, no essencial, as deficiências objeto de recomendações reiteradas pelo Tribunal, das quais

avulta a necessidade de assegurar a regularidade, correção financeira e adequada relevação da despesa

fiscal no OE e na CGE.

Recomendação 35 – PCGE 2016

Que o Governo, através da AT, inventarie e classifique os benefícios fiscais, por imposto, de acordo com

o respetivo Estatuto, implementando procedimentos de controlo da despesa fiscal que assegurem a

relevação apropriada dessa despesa na CGE.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 408

Página 409

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

384

Subsídios e outras formas de apoio (cfr. ponto 8.2)

Em 2016, a administração central pagou € 2.684 M em apoios financeiros, 4,2% da sua despesa consolidada; € 2.636 M foram concedidos a particulares e a entidades privadas e € 48 M a empresas públicas (excluindo as EPR). A maior fatia destinou-se à “educação e investigação” (€ 710 M), seguindo-se a “agricultura e pescas” (€ 696 M) e o “emprego e formação profissional” (€ 459 M).

Apoios públicos ao sector financeiro (cfr. Caixa 5)

Entre 2008 e 2016, foram concedidos apoios públicos ao sector financeiro cujos fluxos financeiros

líquidos ascenderam a € -14.606 M. Em 2016, este valor foi de € -258 M e representou 0,4% das necessidades de financiamento da CGE (essencialmente, novos apoios às sociedades veículo do

ex-BPN, com um encargo líquido de € 455 M, em parte compensado por rendimentos de CoCos). Em 31/12/2016, as responsabilidades efetivas, por garantias prestadas neste âmbito, eram de € 5.170 M.

Património do Estado (cfr. ponto 9)

Património financeiro (cfr. ponto 9.1)

O património financeiro consolidado do Estado (SI e SFA, incluindo EPR) em 31/12/2016 cifrava-se

em € 59.054 M, em consequência, sobretudo, do aumento do valor das participações sociais no sector dos SI.

Na carteira do Estado existem ativos que apenas empolam o seu valor e carecem de urgente solução:

entidades em liquidação; créditos com registo duplicado; créditos prescritos ou já impossíveis de

recuperar; situações vencidas, que permanecem sem qualquer movimento há vários anos; créditos de

valores diminutos, cujo custo de gestão e recuperação deverá superar os valores a recuperar; e ainda

ativos abandonados a favor do Estado, em particular títulos de dívida pública, em que o Estado é

simultaneamente devedor e credor, os quais acarretam encargos para o Estado (suportados pelo IGCP),

devendo os serviços detentores de títulos de dívida pública, em especial a DGTF, ponderar o respetivo

resgate (cfr. ponto 9.1.1.1.).

Recomendação 36 – PCGE 2016

Deve o Governo, através do Ministro das Finanças, empreender esforços adicionais para identificar os

ativos da carteira do Estado, em especial a gerida pela DGTF, cuja manutenção não se justifique.

Dos € 1.126 M de novos empréstimos concedidos pela DGTF em 2016, 90% respeitam à Metro do Porto (que, todavia, amortizou € 435 M de empréstimos anteriores) e às sociedades veículo do ex-BPN (que não procederam a qualquer amortização) (cfr. ponto 9.1.1.1.).

No final de 2016, o património financeiro consolidado dos SFA, incluindo EPR, totalizava € 19.649 M, menos € 136 M do que em 2015.

A LOE 2016 estabeleceu no n.º 2 do art. 81.º o limite para a concessão de empréstimos e realização de

outras operações de crédito ativas pelos SFA em € 1.239 M, o qual não foi respeitado, sendo de realçar que apenas as contratações de novos incentivos reembolsáveis pelo IAPMEI atingiram cerca de 86% do

limite estipulado (cfr. ponto 9.1.2.1.).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 409

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Tribunal de Contas

385

No que respeita aos SFA, em 2016 detetaram-se, para além da falta de comunicação de anulação de

créditos por parte da Caixa Seguros e Saúde, erros provenientes da incorreta interpretação da informação

que deve ser prestada para a CGE (cfr. ponto 9.1.2.2).

Recomendação 37 – PCGE 2016

Que o Governo garanta que a CGE reflita todas as variações do património financeiro do Estado, em

particular as que não geram fluxos financeiros.

Foram identificadas em 2016 várias incorreções e omissões relativas aos fluxos relacionados com ativos

financeiros no subsector dos SFA, que implicaram uma subvalorização das respetivas rubricas de receita

e despesa (cfr. ponto 9.1.2.3 e Recomendação nº 18 – PCGE 2016).

Em conformidade com a recomendação do Tribunal, a DGO procedeu à emissão de instruções em

matéria de fluxos financeiros relacionados com os CEDIC e CEDIM (cfr. ponto 9.1.2.3).

Saldo das receitas e das despesas orçamentais relativas ao BPN (cfr. Caixa 6)

No final de 2016, o saldo acumulado das receitas e despesas orçamentais decorrentes da nacionalização

e reprivatização do BPN e da constituição e funcionamento das sociedades-veículo Parups, Parvalorem

e Parparticipadas ascendia a € -3.658 M. Estas sociedades apresentavam capitais próprios negativos que totalizavam € 2.033 M (não considerando no passivo € 2.875 M de empréstimos do Estado), encargos que poderão vir a ser suportados pelo Estado no futuro. Somados aos já suportados, refletidos no saldo

global, totalizavam € 5.692 M, a que irão acrescer os resultados negativos de exercícios seguintes.

As garantias prestadas pelo Estado a estas sociedades totalizavam € 2.714 M.

Património Imobiliário (cfr. ponto 9.2)

Para além de subsistir a falta de inventário e da valorização adequada dos imóveis, a informação sobre

o património constante da CGE continua inconsistente e permanece afetada por várias deficiências. Com

efeito, o relatório da Conta é manifestamente insuficiente para confirmar a contabilização, nos mapas

respetivos, das receitas obtidas (€ 115 M) e das despesas pagas (€ 207 M) com operações imobiliárias realizadas por organismos da administração central, as quais, por sua vez, estão afetadas por erros

(€ 3 M) e, sobretudo, por falta de validação (€ 270 M).

Recomendação 38 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGTF, assegure a implementação de um sistema de informação sobre o

património imobiliário do Estado e dos organismos da administração central que registe e mantenha

não só os dados do inventário geral no final de cada ano mas, também, os dados relativos à totalidade

das variações patrimoniais ocorridas em cada ano, as quais não se limitam às operações de alienação

e de aquisição de imóveis.

Recomendação 39 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGO, assegure que a informação reportada no Relatório da CGE sobre o

património imobiliário é integral (abrange a totalidade das variações patrimoniais) e consistente com a

execução orçamental relativa a operações imobiliárias registada pelos organismos da administração

central nessa Conta (não se limitando às operações conduzidas pela DGTF).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 410

Página 411

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

386

A inventariação de imóveis do Estado e dos institutos públicos permanece incompleta e a informação

relativa ao inventário não é fiável.

Recomendação 40 – PCGE 2016

Que o Governo, nos termos do regime legal aplicável, promova a atualização do Programa de Gestão

do Património Imobiliário e do Programa de Inventariação, com as ações necessárias à conclusão do

inventário e os procedimentos indispensáveis à sua permanente atualização, refletindo as variações

patrimoniais que ocorram em cada ano.

A implementação do princípio da onerosidade (pagar pela ocupação de imóveis do Estado) continua

insuficiente, subsistindo elevados montantes por cobrar relativos a contrapartidas vencidas. No triénio

2014-2016, apenas foi cobrado 49% do valor devido, estando € 26 M em dívida, no final de 2016. Além disso, a contabilização das contrapartidas recebidas continua inapropriada porque a DGTF continua a

omitir, da receita do Estado, a parte afeta ao Fundo de Reabilitação e Conservação Patrimonial e a

entregar a respetiva verba por transferência extraorçamental não registada impedindo o Fundo de a

registar devidamente, como transferência do Estado.

Recomendação 41 – PCGE 2016

Que o Governo determine à DGO a emissão de apropriadas instruções para assegurar a contabilização

da receita do Estado relativa à totalidade das contrapartidas resultantes da aplicação do princípio da

onerosidade, bem como da parte afeta a outras entidades, na despesa, como transferência do Estado.

Operações de tesouraria (cfr. ponto 10)

A conta dos fluxos financeiros não desempenha o papel que lhe cabe no controlo das contas do Estado

ao não comportar a totalidade dos movimentos dos organismos da administração central. Em 2016,

€ 3.474 M das receitas reportadas na execução orçamental não constam da contabilidade da tesouraria. Da prática contabilística do IGCP resulta o reiterado incumprimento da lei.

Recomendação 42 – PCGE 2016

Que o Governo tome as medidas necessárias para assegurar a relevação na contabilidade do Tesouro

da movimentação integral de todas as contas de disponibilidades e aplicações detidas por todos os

organismos da administração central distinguindo, de forma inequívoca, as contas desses organismos

(na classe relativa à execução do OE) das contas de outras entidades (nas classes relativas a operações

específicas do Tesouro).

Recomendação 43 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGO, inclua na CGE a respetiva conta dos fluxos financeiros, discriminando

a execução orçamental dos organismos da administração central, distinguindo as respetivas receitas e

despesas orçamentais em efetivas e não efetivas e registando a restante movimentação desses organismos

como operações extraorçamentais.

Continua a ser muito relevante (€ 3.463 M) o valor dos saldos dos organismos da administração central apurados pela contabilidade da tesouraria que excede o dos correspondentes saldos apurados pela

contabilidade orçamental. Tal excesso não deveria existir visto a aplicação dos princípios orçamentais

obrigar à contabilização, em operações extraorçamentais, dos fluxos financeiros desses organismos que

não tenham natureza orçamental. O desrespeito desses princípios exime verbas relevantes do controlo e

da responsabilização determinados para a execução orçamental desses organismos.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 411

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Tribunal de Contas

387

Recomendação 44 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGO, providencie para que a totalidade dos fluxos financeiros dos

organismos da administração central seja relevada nos mapas contabilísticos gerais da CGE

(suportados pelos dados registados nos sistemas de contabilização orçamental) cumprindo o princípio

da universalidade e sujeitando todos os fundos movimentados ao princípio da especificação.

A centralização dos fundos públicos no Tesouro continua, por ineficácia do respetivo sistema de

informação e controlo do Ministério das Finanças, sem abranger todos os organismos sujeitos à unidade

da tesouraria do Estado e a não relevar disponibilidades importantes fora do Tesouro, bem como os

respetivos rendimentos (que devem reverter para o Estado). Com efeito, uma parte relevante das

disponibilidades financeiras dos organismos da administração central e das empresas públicas (com

saldos médios de € 569 M e muitas entidades sem informação reportada) continua a ser movimentada fora do Tesouro, não sendo registada na contabilidade da tesouraria. Para além disso, 86% (€ 99 M) dos juros auferidos, desde 2011, em incumprimento da unidade de tesouraria ainda não foi entregue ao

Estado.

Recomendação 45 – PCGE 2016

Que o Governo defina com clareza os critérios de apuramento e relevação das disponibilidades dos

organismos sujeitos à unidade da tesouraria do Estado, dos rendimentos obtidos em situação de

incumprimento e das correspondentes receitas devidas e receitas entregues ao Estado e assegure a sua

entrega durante o respetivo exercício orçamental.

Atividade do Fundo de Resolução (cfr. Caixa 7)

Em 31/12/2016 o capital em dívida do Fundo de Resolução era de € 4.953 M. Em 2016, o Fundo amortizou € 136 M de empréstimos concedidos pelo Estado (que ascendiam a € 4.389 M) e promoveu a revisão das condições destes empréstimos e dos concedidos por entidades participantes do Fundo (que

ascendem a € 700 M), designadamente no que respeita a prazos de vencimento e taxas de juro. Apesar dos prazos de vencimento dos empréstimos terem sido alargados em mais de 25 anos, os contratos ainda

preveem o ajustamento desses prazos em função das receitas a receber pelo Fundo de Resolução ou das

responsabilidades adicionais decorrentes das medidas de resolução aplicadas.

Da concretização da operação de venda de 75% do capital do Novo Banco (em 18/10/2017) resultaram:

o compromisso do Fundo em assegurar a injeção de capital no Novo Banco, até € 3.890 M, se e quando o rácio de capital descer abaixo de determinado limiar devido a perdas na antiga carteira de ativos; e o

acordo-quadro a celebrar com o Estado para disponibilizar meios financeiros ao Fundo de Resolução se

e quando for necessário satisfazer obrigações contratuais decorrentes da venda.

Segurança social (cfr. pontos 11, 12, 13 e Caixa 8)

A LEO ainda parcialmente em vigor prevê que as despesas do OSS sejam estruturadas por classificação

orgânica a definir por decreto-lei, diploma que nunca veio a ser publicado, não obstante as sucessivas

recomendações do Tribunal em Pareceres anteriores. Em 2015 foi publicada a nova LEO, mas a

classificação orgânica do subsetor da segurança social foi substancialmente reduzida, no que respeita

aos mapas contabilísticos a integrar a LEO (arts. 42.º e 51.º), relegando tal classificação para valores

residuais (despesas de administração). Já no que se refere aos orçamentos dos serviços do subsetor da

segurança social (art. 17.º) é estabelecido que as despesas aí inscritas são estruturadas por programas,

fontes de financiamento e classificador orgânico, funcional e económico, remetendo a regulamentação

22 DE DEZEMBRO DE 2017 412

Página 413

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

388

da estrutura dos códigos dos classificadores para diploma autónomo, que ainda não foi publicado (cfr.

ponto 11.1.).

Continua por publicar a regulamentação do enquadramento e funcionamento da tesouraria única da

segurança social, o que tem gerado sucessivas recomendações do Tribunal em pareceres anteriores (cfr.

ponto 11.1.).

Recomendação 46 – PCGE 2016

Reitera-se ao Governo que deve proceder à publicação do diploma que regulamente o quadro legal

aplicável à unidade de tesouraria da segurança social.

Não foi publicada a Portaria que visa regulamentar a composição e os limites das aplicações financeiras

a efetuar pelo IGFSS, o que resulta na falta de um quadro regulamentador desta atividade financeira do

Instituto (cfr. ponto 11.1.).

Recomendação 47– PCGE 2016

Reitera-se aos Ministros das Finanças e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que devem

proceder à publicação da Portaria que estabeleça a composição e os limites das aplicações de capital

efetuadas pelo IGFSS, nos termos do n.º 7 do art. 3.º do Decreto-Lei n.º 84/2012, de 30/03.

Apesar das reiteradas recomendações do Tribunal em anteriores Pareceres, continuam a existir

discrepâncias entre a LEO, a LOE, a LBSS e o DL que regula o financiamento da segurança social,

designadamente no que se reporta ao financiamento do sistema previdencial - capitalização. Não

obstante o facto de já terem sido publicadas alterações legislativas a estes diplomas, as referidas

discrepâncias não foram ultrapassadas (cfr. ponto 11.1.).

Recomendação 48 – PCGE 2016

Reitera-se que a Assembleia da República e o Governo devem proceder à harmonização dos diplomas

legais que estabelecem e regulamentam o quadro de financiamento do sistema de segurança social, no

sentido de dirimir as discrepâncias atualmente existentes, designadamente no que respeita ao

financiamento da componente capitalização do sistema previdencial.

O IGFSS é uma das entidades que integra o sistema de controlo interno da administração financeira do

Estado, assumindo as funções de organismo de controlo estratégico do sistema de segurança social. Para

o exercício destas, a orgânica do Instituto inclui um Gabinete de Auditoria do sistema de segurança

social. Contudo, não se encontra afeto a esta estrutura qualquer recurso humano, o que prejudica o

exercício das correspondentes competências (cfr. ponto 11.1.).

Recomendação 49 – PCGE 2016

Reitera-se aos Ministros das Finanças e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligenciem

no sentido de dotar o IGFSS dos meios humanos necessários ao exercício das funções de organismo de

controlo estratégico do sistema de segurança social.

O Conselho Consultivo do Fundo Especial de Segurança Social dos Profissionais de Banca dos Casinos

não emitiu parecer sobre o relatório e os mapas demonstrativos da gestão do Fundo, como deveria, em

face do disposto alínea a) do n.º 1 do art. 52.º do Regulamento do Fundo aprovado pela Portaria 140/92,

de 04/03, uma vez que não lhe foi submetida a informação necessária nem lhe foi fixado um prazo para

o efeito. O Presidente do Conselho Consultivo teve conhecimento da informação pertinente por força

das funções exercidas no IGFSS, tendo aprovado as contas do exercício de 2016 (cfr. ponto 11.1.).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 413

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Tribunal de Contas

389

Recomendação 50 – PCGE 2016

Recomenda-se à entidade gestora do Fundo Especial de Segurança Social dos Profissionais de Banca

dos Casinos que disponibilize ao Conselho Consultivo do Fundo toda a informação relevante para efeitos

de exercício por este da competência prevista na alínea a) do n.º 1 do art. 52.º do Regulamento do Fundo

aprovado pela Portaria 140/92, de 04/03, fixando-lhe igualmente o prazo a que se refere o n.º 2 do

mesmo preceito.

Não foram disponibilizados ao Tribunal de Contas o parecer do Fiscal Único e a certificação legal de

contas do IGFSS relativos ao exercício de 2016. Em agosto de 2017 o Instituto informou que o relato

sobre as demonstrações financeiras, no âmbito da certificação legal de contas de 2016, estava em fase

de contraditório. Em novembro de 2017 a versão definitiva ainda não tinha sido entregue ao IGFSS (cfr.

ponto 11.1.).

O Fiscal Único do ISSM emitiu o parecer sobre as respetivas demonstrações financeiras, mas não emitiu

a certificação legal de contas. Já no ano transato este Fiscal Único não emitiu este último documento,

alegando que não está assegurada a independência entre as funções de fiscal único e de emitente da

certificação legal de contas. Não obstante a recomendação formulada ao Ministro das Finanças no

Parecer sobre a CGE/2015 com vista à clarificação das competências dos fiscais únicos, até á presente

data não foi efetuada nenhuma alteração legislativa sobre a matéria (cfr. ponto 11.1.).

Recomendação 51 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro das Finanças que diligencie pela clarificação das competências dos fiscais únicos

dos Institutos Públicos, tendo em consideração eventuais conflitos decorrentes na sua dupla qualidade

de fiscal único e de entidade emitente da certificação legal de contas.

As certificações legais de contas de três dos institutos que integram o perímetro de consolidação da

conta da segurança social foram emitidas com opiniões de reserva. As reservas ficam a dever-se, no ISS,

a aspetos relacionados com a dívida de beneficiários e de outros devedores e ainda com o imobilizado,

no II, a questões relacionadas com imobilizado; e no ISSA a aspetos relativos a dívidas de terceiros,

imobilizado e encargos com pensões (cfr. ponto 11.1.).

O n.º 4 do art. 7.º do Decreto-Lei 84/2012, de 30/03, estabelece que compete ao Conselho Consultivo

do IGFSS emitir parecer sobre o orçamento e a conta da segurança social. No entanto, este órgão ainda

não foi nomeado, pelo que se encontra prejudicado o exercício destas competências (cfr. ponto 11.1.).

Recomendação 52 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie pela nomeação dos

membros do Conselho Consultivo do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, IP.

O orçamento e a conta do FSS constituem anexos ao orçamento e à conta da segurança social. As contas

têm sido publicadas em anexo às contas da segurança social desde o exercício de 2014. No entanto, os

orçamentos do Fundo continuam a não ser publicados em anexo ao OE, como deveriam, em face do

disposto no n.º 3 do art. 6.º do Decreto-Lei 102/2012, de 11/05, alegando a SESS que os mapas

orçamentais do FSS foram remetidos à DGO em anexo às propostas do OSS de 2016 e 2017 para efeitos

de publicação e a DGO que a inclusão de tais mapas não se encontra na LEO e que o IGFSS não fez,

aquando da sua remessa à DGO, expressa menção sobre a necessidade da sua aplicação, manifestando

abertura para que a questão venha a ser analisada para efeitos dos futuros OE (cfr. ponto 11.1.).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 414

Página 415

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

390

Recomendação 53 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro das Finanças que diligencie pela publicação do Orçamento do FSS em anexo ao

OE.

O mapa das alterações orçamentais da despesa publicado na CGE não reflete de forma completa e

transparente o resultado final das alterações orçamentais ocorridas nalgumas das classificações

económicas, justificando o IGFSS tal facto com constrangimentos da aplicação informática no

carregamento de dados do orçamento inicial na sequência de um período transitório, alegando que o

sistema é rígido e pouco flexível, não estando preparado/parametrizado para situações excecionais como

é o caso de um orçamento transitório, em especial nos casos em que os valores do orçamento inicial são

inferiores aos que vigoraram no período transitório e com alterações legislativas que se refletem em

utilização de classificação económica diferente entre o novo orçamento e o anterior (cfr. ponto 12.1.2.).

Recomendação 54 – PCGE 2016

Recomenda-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido de

assegurar que a adaptação do sistema informático para efeitos de implementação do novo modelo

contabilístico SNC-AP contemple também as funcionalidades necessárias ao adequado registo dos

movimentos em períodos de vigência de orçamentos transitórios e de orçamentos iniciais aprovados após

o inicio do exercício económico.

As transferências do OE destinadas ao sistema de proteção social de cidadania têm vindo

sistematicamente a revelar-se superiores ao necessário, obrigando, nesta vertente, a um esforço maior

do que o devido por parte do OE. Os saldos não transitam, no ano seguinte, para o mesmo sistema, antes

sendo transferidos, no próprio ano, para o sistema previdencial-repartição. Muito embora esta prática

seja legalmente permitida, o procedimento seguido, para além do aspeto negativo anteriormente focado,

torna menos transparente o valor total do financiamento do défice do sistema previdencial-repartição

que, na prática, para além da transferência do OE anualmente inscrita no OSS para o efeito, é também

sistematicamente colmatado por esta via (cfr. ponto 12.1.2.).

O SIF continua a não integrar a informação financeira relativa às operações do IGFCSS e do FEFSS,

aguardando, para o efeito, a concretização de funcionalidade tecnológica a introduzir na aplicação do

SNC-AP. Por outro lado, as funcionalidades tecnológicas existentes não permitem que a integralidade

dos documentos orçamentais, financeiros, patrimoniais e económicos da conta consolidada da segurança

social sejam extraídos do SIF de forma automática, o que potencia a ocorrência de eventuais erros (cfr.

pontos 12. e 12.2.1.).

Recomendação 55 – PCGE 2016

Recomenda-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido de

que a aquisição e/ou adaptação da aplicação informática de suporte à elaboração das demonstrações

financeiras e orçamentais, para efeitos de implementação do SNC-AP, contemple as funcionalidades

necessárias à integração no Sistema da informação do IGFCSS e do FEFSS e à produção, de forma

automática, dos documentos orçamentais, financeiros, patrimoniais e económicos, da conta consolidada

da segurança social.

A entidade consolidante emitiu normas gerais para apresentação das contas anuais das instituições de

segurança social, das quais constam, entre outras, a obrigatoriedade de prestação de informação que

permita a uniformização de critérios no registo. No entanto, tal não foi suficiente, uma vez que os

critérios utilizados na desagregação das dívidas de curto prazo e de médio e longo prazo não foram

uniformes entre os três institutos (IGFSS, ISSA e ISSM). Também os critérios utilizados no tratamento

do desvio anualmente apurado entre o valor das dívidas de beneficiários (SICC) e o valor relevado nas

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 415

Página 416

Tribunal de Contas

391

demonstrações financeiras (SIF) são diferentes nos três institutos (ISS, ISSA e ISSM) (cfr. pontos

12.2.1. e 12.2.3.1.2.).

O ISSA, na conta de Provisões para riscos e encargos procedeu à anulação do valor (€ 5 M) que havia transitado do ano anterior relativo a encargos com pensões futuras realizadas pelo ISSA, dando

acolhimento à recomendação formulada no Parecer sobre a CGE de 2015 (Recomendação 65/PCGE

2015) e assegurando a uniformização dos registos contabilísticos que integram o perímetro de

consolidação. No entanto, este mesmo Instituto, com base num parecer do Fiscal Único procedeu, de

forma isolada, a um ajustamento, com impacto também no balanço consolidado da Segurança Social,

no valor € 105 M, numa das subcontas da conta de contribuintes c/c, o que se considera incorreto, uma vez que qualquer ajustamento referente à citada c/c carece, necessariamente, pelo caráter nacional do

respetivo sistema auxiliar, da intervenção de todos os Institutos que para este carreiam informação (cfr.

pontos 12.2.1., 12.2.3.1.2. e 12.2.3.2.).

Em 2016, a receita total arrecadada ascendeu a € 31.973 M, 75,8% do previsto e menos 8,6% em termos homólogos (incluindo € 1.125 M provenientes de saldos de gerências anteriores e € 650 M de transferências do OE destinados ao financiamento do défice do sistema previdencial – repartição, menos 27,4% em termos homólogos) e a despesa total atingiu € 30.030 M, 73,8% do previsto, menos 9,3% em termos homólogos. A receita efetiva foi de € 25.712 M (mais 4,5% que em 2015) e a despesa efetiva foi de € 24.148 M (mais 2,5% que em 2015) (cfr. pontos 12.2.2.1., 12.2.2.2. e 12.2.2.3.).

Em 2016 foi aprovado um regime excecional de regularização de dívidas de natureza fiscal e de dívidas

de natureza contributiva à segurança social (PERES) que permitiu arrecadar, em relação a estas últimas,

até ao final do ano, € 52,2 M e associar a esta medida uma dispensa de juros de € 12,7 M. Os prazos de adesão e de pagamento foram alargados até 23/12/2016 e 13/01/2017, respetivamente, sem que, no

entanto, tenha sido adotada a forma devida, em face do disposto no art. 112.º da CRP, o que importou

um aumento de € 40,1 M na cobrança e de € 11,8 M em juros dispensados. O valor final de cobrança associado à medida foi de € 94 M; no entanto € 9,3 M foram pagos por contribuintes que não reuniram os requisitos de acesso exigíveis, representando os pagamentos integrais mais de metade do valor

cobrado (56,6%). Foi dispensada a totalidade dos juros aos contribuintes que não manifestaram vontade

de aderir à medida, mas efetuaram pagamentos integrais no período da sua vigência de valores em dívida

abrangida pelo PERES (“adesões tácitas”), mas também aos contribuintes que optaram pelo pagamento em prestações, relativamente ao pagamento inicial de pelo menos 8% sobre o valor da dívida,

contrariando, neste último caso, o disposto nos arts. 2.º e 8.º do Decreto-Lei 67/2016 (cfr. ponto 12.2.2.).

Continuou a verificar-se, não obstante as sucessivas recomendações do Tribunal de Contas, a

contabilização de mais de metade (51,4%) da receita proveniente de contribuições e quotizações pelas

respetivas classificações económicas com recurso a uma tabela de imputação, não se encontrando

integralmente garantida a sua afetação real em função da sua origem, em incumprimento do estabelecido

no classificador económico das receitas públicas. Este aspeto assume especial importância para efeitos

de cálculo dos montantes a afetar ao FGS e ao FEFSS. De acordo com as alegações do IGFSS, ISSA e

II, a contabilização com recuso à tabela de imputação foi abandonada em novembro de 2017 e

introduzida uma metodologia alternativa, cujo impacto se produzirá integralmente nas demonstrações

financeiras de 2018 (cfr. ponto 12.2.2.2.).

Em 2016, foram devolvidos ao IGFSS saldos no valor de € 6 M pelas entidades que beneficiaram de verbas do OSS em 2015. No entanto, nem todas cumpriram o prazo estabelecido pelo DLEO para a

devolução dos excedentes, verificando-se que 18,4% das entidades só procederam àquela devolução nos

meses de novembro e dezembro de 2016, pelo que a recomendação formulada no Parecer sobre a

CGE/2014 ainda não se encontra totalmente acolhida (cfr. ponto 12.2.2.2.).

22 DE DEZEMBRO DE 2017 416

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

392

As receitas efetivas mais relevantes são as provenientes de contribuições e quotizações (€ 14.778 M) e de transferências correntes da administração central (€ 8.970 M), com destaque para as transferências provenientes do OE para financiamento da LBSS (€ 7.268 M), que integram a transferência extraordinária para financiamento do défice do sistema previdencial – repartição. As despesas com pensões (€ 16.124 M) e as despesas com ação social (€ 1.727 M) são as mais significativas no âmbito das despesas efetivas (cfr. pontos 12.2.2.2. e 12.2.2.3.).

As “Despesas correntes”, que representaram 80,3% da despesa total, acomodaram 99,9% da despesa efetiva e expandiram-se 2,5% face a 2015, para € 24.126 M, com as “Transferências correntes” a crescerem 2,2% em termos homólogos, influenciadas pelo comportamento da sua principal componente,

“Transferências correntes para as famílias” (86,8% das transferências correntes; taxa de execução orçamental de 99,5%), que aumentaram 1,3% face a 2015 (cfr. ponto 12.2.2.3.).

Nas transferências para as famílias foram indevidamente contabilizados pelo menos € 6 M, referentes a prestações sociais cujos meios de pagamento não foram movimentados pelos respetivos beneficiários,

tendo a sua devolução ocorrido ainda dentro do exercício económico sem que tivesse havido lugar à

respetiva anulação. Este procedimento traduziu-se numa sobrevalorização da despesa com prestações

sociais de igual montante ou superior, uma vez que não foram apurados os montantes devolvidos ao ISS

relativos a pensões e CSI (cfr. ponto 12.2.2.3.).

Recomendação 56 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que devem ser implementados os

procedimentos necessários de modo a que a despesa orçamental não seja sobrevalorizada com

pagamentos que efetivamente não se concretizaram.

Em 2016, as despesas com complementos de pensão suportadas pelo Fundo Especial de Segurança

Social dos Profissionais de Banca dos Casinos registaram uma redução muito significativa (33,4%),

relativamente ao período homólogo, em consequência da aplicação do Despacho do Secretário de Estado

da Solidariedade e da Segurança Social 2.201/2015, de 9/02 (cfr. ponto 12.2.2.3.).

O total das despesas com “Formação profissional e PAE” correspondeu a 6,4% da despesa efetiva, apresentando um acréscimo na ordem dos 25,9% face ao ano anterior, atingindo o montante de

€ 1.535 M (mais € 316 M que em 2015). Vinham sendo contabilizados nesta rubrica valores relativos a intervenções que não visavam total ou parcialmente tal fim, por causa de deficiências de informação

entre os institutos envolvidos (IGFSS e AD&C), o que levou à formulação da recomendação 66-PCGE

2013. A SESS, em sede de acompanhamento da referida recomendação, informou que já foram

desenvolvidos contactos junto da AD&C no sentido de melhorar a informação para contabilização das

despesas de formação profissional a relevar no orçamento e na conta da segurança social, estando

previsto no orçamento para 2017 um registo mais adequado dos encargos com formação profissional

(cfr. ponto 12.2.2.3.).

O saldo de execução orçamental foi de € 818 M (valor que compara com um saldo de € 1.183 M no período homólogo anterior), permitindo um acréscimo de 26,5% no saldo final acumulado, em linha

com a tendência crescente já verificada em anos anteriores. Em 2016, o saldo de execução efetiva foi de

€ 1.564 M, sustentado nas transferências extraordinárias do OE, as quais vêm ocorrendo desde 2012. Estes saldos evidenciaram uma tendência negativa entre 2010 e 2012, caraterizada por uma degradação

consistente dos saldos do SSS, consentânea com os efeitos da forte contração do tecido económico

(consequência da crise financeira internacional de 2008), só retomando uma evolução crescente devido

a transferências extraordinárias do OE para esse efeito, as quais, entre 2012 e 2016, totalizaram

€ 5.160 M. A erosão destes saldos absorveu ainda parte das reservas destinadas ao reforço do FEFSS (saldos de 2008 e 2009 da componente repartição, cuja transferência para capitalização se efetivou

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 417

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Tribunal de Contas

393

apenas em 2014). Ainda sobre a transferência de verbas do sistema previdencial para o FEFSS (art. 91.º

da Lei 4/2007, de 16/01), o valor transferido (€ 227 M) durante o ano de 2016, da componente de repartição para a componente de capitalização, respeitou à receita obtida na alienação de imóveis,

relativa a 2016 (€ 27 M) e, bem assim, a saldos de anos anteriores da componente repartição, que totalizaram € 200 M, dos quais apenas € 81 M foram efetivamente apurados no regime previdencial repartição, tendo os restantes € 119 M constituído transferências provenientes do regime de proteção social de cidadania (cfr. ponto 12.2.2.5.).

A despesa efetiva da segurança social apresentou uma variação superior à do PIB durante vários anos,

mas a partir de 2014 registou quebras ou crescimentos menos pronunciados, sendo que a TCMA do PIB,

no quinquénio terminado em 2016, dobrou a da despesa (1,0% e 0,5%, respetivamente). Em 2014, a

taxa de variação nas contribuições ultrapassou a das pensões, alargando a diferença nos anos seguintes

(2,7 p.p. em 2016). Embora a despesa mostre algum efeito contra cíclico, existe uma margem reduzida

para responder ao impacto social dos ciclos económicos, pois a maior parte é constituída por pensões

(67,8% em 2016), uma componente rígida que tem crescido acima do total da despesa efetiva (cfr. ponto

12.2.2.6.).

Em 2016, as contribuições (8,0% do PIB) continuam a dominar a receita, mas foram as transferências

da Administração Central (4,6% do PIB) que, até 2010, com crescimentos médios anuais próximos ou

superiores a 10%, financiaram a expansão da despesa. As transferências da UE representam 0,5% do

PIB e os rendimentos 0,2%. Na despesa, as pensões equivalem a 8,7% do PIB (9,0% em 2013) e o gasto

com desemprego e apoio ao emprego a 0,8% (1,6% em 2013), sensivelmente o mesmo da formação

profissional e políticas ativas de emprego e pouco menos que a ação social (0,9%). A despesa efetiva

total progrediu até 14,3% do PIB em 2013, baixando até 12,8% em 2016 (cfr. ponto 12.2.2.6.).

Desde 2002, a despesa com pensões do sistema previdencial quase duplicou (mais 99,8%), enquanto as

contribuições cresceram 45,3%. A diferença entre a receita de contribuições e as pensões pagas

degradou-se 37,1%, mas recupera desde os 54,1% registados em 2013. A deterioração acumulada

ascende a € 15.852 M, caindo para € 6.323 M se abatido o valor acrescentado ao FEFSS no período (cfr. ponto 12.2.2.6.).

O imobilizado é a terceira parcela mais relevante do ativo e a sua componente mais representativa o

imobilizado corpóreo, apresentando estabilidade em relação ao ano anterior com o valor das

amortizações a corresponderam a 70,4% do valor do imobilizado bruto e as componentes relativas aos

bens móveis a apresentarem níveis de amortizações superiores a 92,5%, o que significa que grande parte

destes bens já chegou ao final da sua vida útil e, eventualmente, alguns já se encontram obsoletos (cfr.

ponto 12.2.3.1.1.).

Entre o MTSSS a CNIS a UM e a UMP foram celebrados dois protocolos de cooperação, nos termos

dos quais as partes se propunham apoiar a atividade das entidades do setor social através da criação de

duas linhas de crédito, uma no valor de € 50 M e outra no valor de € 12,5 M. Estas linhas de crédito encontram-se garantidas pelo MTSSS que, através do IGFSS, efetuou junto da CEMG dois depósitos

bancários no exato valor das linhas de crédito, que seriam reduzidos à medida que as amortizações de

capital fossem sendo efetuadas, devendo permanecer como não mobilizáveis os montantes necessários

para garantir os valores em dívida (cfr. ponto 12.2.3.1.1.1.).

Estes Protocolos têm vindo a ser objeto de alterações por via de acordos, declarações ou aditamentos.

Assim, ainda em 2012, foram celebrados acordos entre o IGFSS e a CEMG permitindo a esta debitar

aos depósitos bancários constituídos para garantia dos empréstimos concedidos os montantes referentes

a mora ou incumprimento, sem especificar se tais débitos se reportavam exclusivamente ao capital em

dívida ou se igualmente cobriam juros e outras despesas bancárias, tendo, no mesmo ano, o IGFSS

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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emitido uma Declaração nos termos da qual expressamente mandatou e autorizou a CEMG, para

garantia dos contratos a celebrar ao abrigo do Protocolo de Cooperação, e também, para garantia de

todas e quaisquer despesas, incluindo juros remuneratórios e moratórios, vencidos ou vincendos,

decorrentes dos contratos de mútuo. Estas Declarações, implicaram, pois, a assunção pela Segurança

Social do risco de não pagamento de juros de qualquer natureza, bem como de despesas, o que não havia

sido expressamente assumido aquando da celebração dos Protocolos iniciais, até porque os mesmos

fizeram corresponder os montantes dos depósitos dados em garantia ao montante máximo do capital a

disponibilizar através dos empréstimos, daqui resultando que a garantia cobria apenas o capital,

deixando de fora juros e despesas (cfr. ponto 12.2.3.1.1.1).

O prazo inicialmente estabelecido para a concessão dos empréstimos às instituições foi de 7 anos. No

entanto, por aditamentos aos protocolos de 2014 e 2016 o mesmo foi sucessivamente alargado para10,5

anos e 15,5 anos, respetivamente. Foram concedidos empréstimos a 296 instituições. No final de 2016

apenas 16,6% das instituições mantinham o prazo inicial do empréstimo e 16,2% tinham amortizado

integralmente os empréstimos por sua iniciativa, o que representou o reembolso de 11,5% do capital

inicial mutuado. 31,4% das instituições fizeram alteração dos contratos para o prazo mais alargado (até

2028) (cfr. ponto 12.2.3.1.1.1.).

Acresce que os mencionados aditamentos aos Protocolos, celebrados em 16 de outubro de 2014 e em

16 de junho de 2016, contêm outras alterações às condições inicialmente contratualizadas para além do

alargamento do período de vigência dos empréstimos e, consequentemente, o período de imobilização

dos depósitos constituídos para garantia dos mesmos, as quais respeitam à alteração da taxa de

remuneração dos depósitos dados em garantia, que diminui relativamente à inicial (cfr. ponto

12.2.3.1.1.1.).

Todas as alterações introduzidas no negócio se consubstanciaram em condições menos vantajosas para

a Segurança Social (cfr. ponto 12.2.3.1.1.1.).

No final de 2016, a garantia prestada pelo IGFSS já tinha sido executada em cerca de € 764 m, valor respeitante a 4 instituições que estavam em incumprimento, constatando-se que, para 2 destas

instituições, os relatórios iniciais de avaliação económico-financeira não foram favoráveis e, não

obstante o Protocolo que instituiu a respetiva Linha de Crédito dispor que tais relatórios seriam

vinculativos quando desfavoráveis, as candidaturas foram, ainda assim, aprovadas uma delas sujeita a

uma condicionante não definida e cuja análise do cumprimento não era possível aquando da aprovação

(cfr. ponto 12.2.3.1.1.1.).

Três destas instituições celebraram planos prestacionais com o IGFSS para reembolso dos valores em

dívida: duas têm as prestações em dia e uma, cuja execução da hipoteca do imóvel inicialmente dado

em garantia ao IGFSS foi substituída por um plano prestacional, está em incumprimento. De acordo

com a informação prestada pelo Instituto, em setembro de 2017 esta instituição tinha liquidado 6

prestações e desde abril do mesmo ano que não efetua pagamentos, estando previsto o acionamento da

garantia prestada pela Instituição ao IGFSS. Para uma instituição o processo foi remetido ao Ministério

Público para recuperação do crédito (cfr. ponto 12.2.3.1.1.1.).

O valor divulgado na nota 16 do anexo às DF consolidadas relativamente ao valor das garantias prestadas

em 31/12/2016 não está correto, uma vez que respeita ao valor aplicado no depósito a prazo efetuado na

instituição financeira que concedeu o empréstimo e não apenas ao valor não mobilizável àquela data

(cfr. ponto 12.2.3.1.1.1.).

Em termos de inventário dos bens móveis, continua a verificar-se uma deficiente identificação destes.

Cerca de 38,8% dos equipamentos não tem o campo de localização preenchido, desconhecendo-se desta

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 419

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Tribunal de Contas

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forma o serviço e sala onde está afeto. Os Discos/USB/Pen, as máquinas de calcular e os

Ipad/Workpad/Notebook/Pinpad são os bens que lideram esta não referência (mais de 66%). O ISS é o

Instituto que possui o maior número de bens sem qualquer informação sobre a localização (70,5%) e o

IGFSS o que apresenta o maior número de bens com a identificação completa (100,0%). Comparando

com o ano de 2015, verifica-se uma melhoria dos indicadores em todos os institutos, relativamente à

identificação completa, com exceção do ISSM que passou de 99,4% em 2015 para 98,2% em 2016 (cfr.

ponto 12.2.3.1.1.2.).

No que respeita aos bens adquiridos no exercício de 2016, regista-se uma evolução positiva a nível

global quando comparada com o ano anterior. No entanto, ao nível dos institutos constata-se que houve

uma melhoria no IGFSS, no ISS e no ISSM, mas um retrocesso acentuado relativamente ao II (de 54,8%

em 2015 passou para 5,3% em 2016) e ao ISSA (de 77,8% em 2015 passou para 19,4% em 2016). Ainda

assim, ambos os institutos apresentam 100% dos bens com registo de localização, embora a maioria não

disponha de registo de sala (cfr. ponto 12.2.3.1.1.2.).

Recomendação 57 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido de

assegurar uma correta e integral inventariação contabilística dos bens móveis das várias instituições de

segurança social, de acordo com as regras legais e regulamentares aplicáveis, de modo a permitir um

efetivo controlo sobre a respetiva existência, localização e estado de conservação.

Ainda no âmbito dos inventários, verificou-se que existem bens cujo período de vida útil já decorreu e

ainda não estão totalmente amortizados, em virtude de deficiências na introdução de dados no sistema

informático e de ausência de mecanismos de monitorização dos inventários com vista a ultrapassar e

corrigir estas situações. O valor não amortizado é de € 176 m, o que subvaloriza as amortizações acumuladas e sobrevaloriza os resultados transitados (cfr. ponto 12.2.3.1.1.2.).

A área dos imóveis continua a apresentar assinaláveis fragilidades. Não foi possível confirmar

integralmente os valores dos imóveis relevados nas demonstrações financeiras em 31/12/2016, uma vez

que não foram disponibilizados documentos de suporte àquele registo. Com efeito, relativamente aos

imóveis adquiridos pelo IGFSS por via de dações em cumprimento, dos 35 números de imobilizado que

constituíram a amostra, apenas foram disponibilizados 11 relatórios de avaliação, pelo que apenas foi

possível confirmar 52,5% do valor das dações. Por outro lado, relativamente aos imóveis integrados no

património do IGFSS por via de extinção de organismos ou por transferências do ISS, não foram

apresentados documentos que comprovassem a integralidade do volume financeiro registado (num total

de valores relevados no ativo bruto de € 3,8 M apenas foi possível confirmar € 0,9 M, 22,6%). O ISS não apresentou documentação suficiente que justifique o valor relevado de € 35,4 M mas apenas para 12,2% (€ 4,3 M). O ISSM disponibilizou documentação comprovativa para 58,6% (€ 8,4 M) do valor relevado nas demonstrações financeiras (€ 14,3 M). O ISSA disponibilizou documentação que comprova 99,9% do valor relevado (cfr. ponto 12.2.3.1.1.3.).

Os institutos têm justificado a falta de disponibilização de alguma documentação, essencialmente a

relativa a obras e outras intervenções efetuadas nos edifícios, com o facto de os documentos terem sido

eliminados ao abrigo dos respetivos regimes arquivísticos. Salienta-se que estamos perante documentos

cujo valor perdura nas demonstrações financeiras por longos anos sendo necessário manter a

documentação de suporte aos registos contabilísticos, pelo que haverá que considerar sempre quer o

estatuído nos referidos regimes arquivísticos, designadamente no que respeita à determinação de

conservação permanente de documentos, desta natureza, quer o definido no ponto 2.8.1 do POCISSSS

sobre a necessidade de manter os documentos de suporte ao registo referente a inventário (cfr. ponto

12.2.3.1.1.3.).

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

396

Recomendação 58 – PCGE 2016

Recomenda-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido de

assegurar que os processos relacionados com imóveis contenham toda a informação comprovativa dos

valores relevados nas demonstrações financeiras.

O ISS mantém um imóvel registado pelo Valor Patrimonial Tributário em vez do valor de aquisição,

justificando tal procedimento com o Manual de Implementação do SNC-AP. Contudo, à data do seu

registo, o SNC-AP ainda não estava em vigor nem as demonstrações financeiras de 2016 do Instituto

são apresentadas ao abrigo deste normativo contabilístico. Tal aplicação parcelar do SNC-AP

sobrevaloriza, assim, o valor bruto do imóvel em 102,2%. Por outro lado, o valor de um terreno

adquirido em 1991 não se encontra relevado nas demonstrações financeiras do ISS, o que as subvaloriza

em cerca de € 341 m. O ISS justifica esta ausência de contabilização com uma situação de litígio sobre o negócio da permuta, realizado em 1991, ao abrigo da qual o ISS se tornou proprietário do imóvel, que

poderá determinar a sua anulação. Desconhece-se a data em que a empresa co-contraente intentou a ação

contra a segurança social. No entanto, desde 1991 que o terreno está registado a favor da segurança

social e o edifício concluído há mais de 12 anos, não existindo correspondência entre a titularidade

registada e a devida repercussão nas demonstrações financeiras (cfr. ponto 12.2.3.1.1.3.).

No que respeita às amortizações, continuam a verificar-se situações que desrespeitam a legislação e as

regras contabilísticas, o que nada contribui para a fiabilidade dos valores relevados nas demonstrações

financeiras. Com efeito, existem situações em que não são calculadas amortizações sobre o valor das

edificações desde 2002, e outras em que existem valores que foram incorretamente transferidos para as

parcelas de terreno, não obstante respeitarem a valores que têm origem em benfeitorias inicialmente

contabilizadas como imobilizado em curso, o que incumpre o disposto nos arts. 21.º e 22.º do CIBE. Por

outro lado, continuam a ser indevidamente efetuadas amortizações sobre o valor da parcela do terreno,

incumprindo o disposto na alínea g) do art. 36.º do CIBE. Acresce que também nem sempre são

devidamente atribuídos e registados os períodos de vida útil dos imóveis, quer em função da natureza

dos materiais e tecnologias utilizadas, quer em função do tempo de vida útil já decorrido nos imóveis

adquiridos em estado de uso, quer em função da verificação do seu grau de degradação, incluindo os

casos em que dos edifícios só restam ruínas. Todas estas situações têm impacto no valor líquido dos

imóveis e no cálculo das amortizações do exercício e acumuladas, bem como nos resultados líquido do

exercício e transitados. Estima-se que as subvalorizações e sobrevalorizações do exercício sejam de

€ 98 m e de € 65 m, respetivamente, e as acumuladas de € 1.066 m e de € 1.296 m, respetivamente (cfr. pontos 12.2.3.1.1.3. e 12.2.4.).

Recomendação 59 – PCGE 2016

Recomenda-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido de

assegurar que o cálculo das amortizações seja realizado nos termos legalmente estabelecidos.

Continuam a existir imóveis relevados nas demonstrações financeiras que ainda não têm a titularidade

regularizada a favor da segurança social, destacando-se o IGFSS pelo número (15) e o ISS pelas

situações existentes em dois imóveis que permanecem há longos anos por regularizar (cfr. ponto

12.2.3.1.1.3.).

Recomendação 60 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido de

assegurar que a titularidade dos imóveis na esfera do património dos institutos da segurança social seja

devidamente regularizada.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 421

Página 422

Tribunal de Contas

397

Em 2016, as dívidas de terceiros em termos brutos totalizam € 12.579 M, mais € 175 M (1,4%) do que no ano anterior. Verificaram-se acréscimos em todas as componentes, com exceção do valor da dívida

de Contribuintes, que reduziu 0,2% (€ 14 M), com maior incidência na dívida de médio e longo prazo, concorrendo para esta redução o programa PERES, que permitiu a regularização de dívida contraída até

31/12/2015 com dispensa total ou parcial de juros. As dívidas mais relevantes reportam-se a

“Contribuintes” e “Clientes”, representando, respetivamente, 75,5% e 11,1% do total. As dívidas de terceiros de médio e longo prazo ascendem a € 9.300 M (€ 8.835 M em 2015) e as de curto prazo a € 3.279 M (€ 3.570 M em 2015). Cerca de 61,8% (€ 7.775 M) do total destas dívidas estão registadas como dívidas de cobrança duvidosa e as respetivas provisões ascendem a € 7.546 M (97,1%) (cfr. ponto 12.2.3.1.2.).

Continua a existir dívida que não é participada para efeitos de execução fiscal, designadamente a

proveniente de importâncias pagas por prestações de alimentos a menores (€ 238 M), de entidades empregadoras por aplicação do art. 63.º do Decreto-Lei 220/2006 (€ 52 M), de contraordenações aplicadas a beneficiários e a estabelecimentos com e sem fins lucrativos (€ 12 M), de rendas de imóveis (€ 3,9 M) e de pagamentos indevidos de despesas com pessoal (€ 822 m), o que coloca em risco a efetiva cobrança destas dívidas por não serem acionados os mecanismos legais com vista à sua recuperação

(cfr. ponto 12.2.3.1.2.).

Recomendação 61 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que providencie no sentido da

que sejam instaurados processos de cobrança coerciva visando a recuperação de todas as quantias

indevidamente pagas pelas instituições de segurança social, independentemente da sua natureza e da

existência ou não de meios automáticos que permitam a participação para tal efeito.

Mantêm-se as reservas quanto à fiabilidade dos valores dos saldos relevados no balanço relativos a

dívidas de contribuintes, dado que se continua a verificar que no âmbito do processo de encerramento

de contas não é feita uma validação entre a informação relevada nas demonstrações financeiras (SIF) e

a residente nos sistemas auxiliares de contas correntes de contribuintes (GC e SEF). Acresce ainda a

existência de contas no razão, destinadas ao registo de juros de mora de contribuintes, que evidenciam

saldos credores (contranatura), no valor de € 21,6 M, que pode ter origem em eventuais erros de parametrização de movimentos contabilísticos indexados a estas contas. Verifica-se também que o saldo

da conta corrente 212 – Contribuintes c/c do ISSM não se revela fidedigno, o que pode estar,

eventualmente, associado a questões de parametrização/interfaces de lançamentos automáticos ou então

estar a refletir a utilização incorreta, ao longo de 7 anos, do apuramento do valor da dívida de cobrança

duvidosa e do valor de dívida prescrito por todos os 3 institutos que relevam dívida de contribuintes (cfr.

ponto 12.2.3.1.2.).

Em 2016, o ISSA procedeu à redução do saldo da conta 212111- Contribuintes c/c – Regime de Segurança

Social – Trabalhadores por conta de outrem, no montante de € 105 M (cerca de 42,2% do saldo desta conta) na sequência de uma comparação que realizou entre os dados constantes de SIF e de GC, e de

recomendação genérica constante do parecer do Fiscal Único relativamente à necessidade de dar passos

para a conciliação daquela informação. No entanto, considera-se que a metodologia adotada não

acautelou aspetos que garantam uma comparação segura, uma vez que foi realizada de forma isolada

quer ao nível de subconta do razão quer ao nível do Instituto. Tais operações devem envolver todas as

instituições que carreiam informação para as contas correntes dos contribuintes residentes nos sistemas

auxiliares, que são de âmbito nacional, bem como ter em conta algumas especificidades na atual

estrutura contabilística, como é o caso das contas de “clarificação” e os movimentos incorretamente realizados durante 7 anos em todas as instituições, decorrentes do cálculo do valor de dívidas de

cobrança duvidosa e dívida prescrita. Por fim e de extrema relevância, é também necessário assegurar o

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

398

mesmo momento para o “corte de operações” em todos os sistemas: financeiro (SIF) e auxiliares (GC e SEF) (cfr. ponto 12.2.3.1.2.).

A metodologia utilizada para classificação nas demonstrações financeiras de dívidas em conta corrente

e de cobrança duvidosa e, dentro destas, as de CP e MLP não permite identificar o contribuinte devedor,

o valor da dívida e a sua antiguidade, para a totalidade do valor em dívida. Por outro lado, não existe

harmonização, entre os vários institutos envolvidos, na classificação daquelas dívidas. Não obstante os

ajustamentos efetuados em sede de consolidação com vista à harmonização daquela classificação, tal

harmonização não foi plena, o que prejudica a informação divulgada nas demonstrações financeiras e

no ADFOC (cfr. ponto 12.2.3.1.2.).

Recomendação 62 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que providencie no sentido de

que nos trabalhos de encerramento de contas sejam disponibilizados elementos que permitam verificar

os valores em dívida por contribuinte, com indicação da sua antiguidade, e desagregados por dívida em

cobrança voluntária ou coerciva.

Os critérios estabelecidos para a constituição de provisões de dívida contributiva apresentam várias

fragilidades, dado que apenas são incluídas as dívidas que estão em mora há mais de seis meses e que

já foram participadas a execução fiscal. Acresce que são indevidamente constituídas provisões para

dívida já cobrada ou que ainda está a ser regularizada ao abrigo de planos prestacionais fora do processo

executivo. Por outro lado, aqueles critérios também não cumprem integralmente o princípio da não

compensação estabelecido no POCISSSS, uma vez que não foram reconhecidos como proveitos

extraordinários todos os valores decorrentes de redução de provisões ou de anulação de prescrições, o

que afeta os resultados operacionais e os resultados extraordinários (cfr. pontos 12.2.3.1.2. e 12.2.4.).

Recomendação 63 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que providencie no sentido de

que os critérios de constituição de provisões para cobrança duvidosa de contribuintes assegurem os

princípios estabelecidos no POCISSSS.

Continua a verificar-se o incumprimento do princípio da especialização dos exercícios, uma vez que os

juros vencidos até 31/12/2016, relativos a valores em dívida, não estão relevados nas demonstrações

financeiras. Efetuada uma estimativa sobre o impacto que esta metodologia causa nas demonstrações

financeiras, constatou-se que, para a dívida participada a execução fiscal e constituída só a partir de

2011, o valor dos juros vencidos até 2016 era de € 580 M, sendo os juros referentes apenas ao exercício de 2016 de € 156 M. No entanto, se se considerar toda a dívida residente no SEF (1976 a 2016), os valores são de € 2.072 M e de € 372 M, respetivamente. O incumprimento deste princípio afeta ainda os proveitos imputados ao exercício de 2016 relativos aos juros vencidos neste ano e cobrados no exercício

no âmbito de acordos prestacionais que correm termos fora do processo executivo (cfr. pontos

12.2.3.1.2., 12.2.3.2.2. e 12.2.4.).

Recomendação 64 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido de

assegurar que o princípio da especialização dos exercícios previsto no POCISSSS seja integralmente

cumprido.

Relativamente às “prescrições manuais”, verificou-se que, em 2016, os registos foram todos realizados pelos coordenadores das secções de processo indicados pelos três institutos. Relativamente à informação

que deve ser inserida na aplicação informática, regista-se que apenas não consta em “notas ao processo”

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 423

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Tribunal de Contas

399

ou em “notas executado” em 8,2% do total das linhas de dívida, o que denota uma melhoria relativamente a 2014. Contudo, relativamente ao conteúdo da informação introduzida, verifica-se que

não há qualquer harmonização sobre o preenchimento dos referidos campos da aplicação SEF,

mencionando-se em alguns casos a informação que propôs o reconhecimento da prescrição, mas não o

respetivo despacho autorizador, nem o período considerado (cfr. pontos 12.2.3.1.2. e 12.2.4.).

O IGFSS implementou alguns mecanismos de controlo de introdução da informação pertinente sobre

reconhecimento de prescrições a introduzir em SEF pelas Secções de Processo Executivo. Contudo, o

controlo instituído considera regular que, num processo constituído por processo principal e processos

apensos, a informação sobre o reconhecimento da prescrição, ainda que relativa a um processo apenso,

seja exclusivamente registada no processo principal, o que não é correto. Em sede de contraditório, o

IGFSS informou que foram já divulgadas pelos coordenadores das Secções de Processo orientações no

sentido de que o registo seja feito no processo a que respeita e inclua informação anteriormente não

obrigatória (cfr. pontos 12.2.3.1.2. e 12.2.4.).

O valor da conta de Prestações sociais a repor relevado nas demonstrações financeiras continua a exibir

um desvio de € 102 M relativamente ao valor existente no sistema auxiliar de contas correntes de beneficiários, o que compromete a fiabilidade das demonstrações financeiras relativamente a esta dívida.

O valor das provisões para cobrança duvidosa de valores a receber de pensões indevidamente pagas

continua a ser calculado com base nos registos das contas do razão (SIF), não permitindo relacionar a

dívida com o devedor e a data em que a mesma foi constituída, nem validar a fidedignidade do valor da

dívida com origem em pagamentos indevidos de pensões. Os serviços já iniciaram diligências com vista

à resolução destas duas situações. No entanto, a sua implementação ainda não foi concretizada (cfr.

pontos 12.2.3.1.2. e 12.2.4.).

Recomendação 65 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido de que

sejam implementados os procedimentos necessários com vista à correção das inconsistências detetadas

entre os valores da conta “Prestações sociais a repor” relevados nas demonstrações financeiras (SIF) e os relevados nas contas correntes dos beneficiários (SICC).

Recomendação 66 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido de que

sejam implementados os procedimentos necessários para que a constituição de provisões para cobrança

duvidosa proveniente de dívida de pensões indevidamente pagas permita identificar o beneficiário, o mês

e ano referência a que respeita a dívida e o correspondente valor.

Em 2014 iniciou-se o processo de participação para execução fiscal de dívida originada em pagamentos

indevidos a beneficiários. Em 2016 foram participadas dívidas de 11.388 beneficiários, no total de

€ 10,6 M. Pese embora a melhoria verificada ao nível do número de beneficiários abrangidos pela participação de dívida a execução fiscal, contata-se que em 31/12/2016 o valor em dívida de prestações

sociais a repor participada a execução fiscal representava apenas 4,3% (€ 29,7 M) do valor total da dívida relevada no ativo bruto (€ 694 M), indicador que evidencia uma ligeira melhoria relativamente a 2015 (3,7%), mas reflete ainda a ineficácia da segurança social na cobrança de valores indevidamente

pagos até 2016 (cfr. ponto 12.2.3.1.2.).

Recomendação 67 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que diligencie no sentido de que

sejam acionados os mecanismos necessários com vista a uma cobrança mais eficaz dos valores

indevidamente pagos a beneficiários.

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

400

Em outros devedores permanecem dívidas, algumas com mais de 30 anos, sobre as quais o Tribunal vem

recorrentemente formulando recomendações em anteriores Pareceres. Para duas destas dívidas (€ 89 M), o Tribunal há cerca de 10 anos dirigiu recomendações aos então Ministros do Trabalho e da

Solidariedade Social e da Saúde no sentido de que promovessem diligências e/ou tomassem decisões

que permitissem resolver os diferendos existentes entre os dois Ministérios. Foram também dirigidas,

ao longo do tempo, recomendações ao Governo e ao Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social

para que diligenciassem pela regularização das dívidas da Direção Regional do Trabalho e da

Qualificação Profissional da Região Autónoma dos Açores (€ 2 M), da Caixa de Previdência do Pessoal do Caminho de Ferro de Benguela (€ 6 M) e do Ministério da Agricultura (€ 85 M). Não obstante as diligências já desenvolvidas com vista a encontrar soluções que permitam regularizar as situações, ainda

nenhuma produziu efeitos com impacto na relevação contabilística destas dívidas (cfr. ponto

12.2.3.1.2.).

Em 2016, o grupo patrimonial “Disponibilidades”, o mais expressivo no ativo da segurança social, cifrou-se em € 17.537 M, tendo aumentado 6,3% (€ 1.043 M) face ao ano anterior. O maior contributo deste acréscimo (27,4%) resulta dos Depósitos em instituições financeiras, em especial em Depósitos à Ordem,

que registam um acréscimo de 61%. O IGFSS foi o Instituto que mais contribuiu para o acréscimo destes

depósitos. Com efeito, no final de 2016, este Instituto detinha cerca 82,2% (€ 3.135 M) do total dos Depósitos em instituições financeiras, € 1.689 M em Depósitos à Ordem e € 1.446 M em Depósitos a prazo. No entanto, apenas 15,6% (€ 488 M) estavam depositados no IGCP em contas à ordem destinadas a acolher, essencialmente, as transferências do OE ou fluxos financeiros com outras entidades públicas.

Deste modo, o IGFSS continua a não dar cumprimento às normas constantes dos n.ºs 4 e 5 do art. 56.º

do DLEO, que estabelecem que as aplicações de fundos em depósitos bancários se encontram confinadas

exclusivamente ao necessário à atividade dos serviços da segurança social, não justificando quaisquer

outros objetivos a sua constituição (cfr. ponto 12.2.3.1.3.).

Recomendação 68 – PCGE 2016

Recomenda-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que providencie no sentido

de que as normas estabelecidas nos DLEO de cada ano, relativas ao destino a dar às disponibilidades

financeiras à guarda do IGFSS, sejam devidamente cumpridas.

Em 2016, relativamente aos movimentos das contas bancárias, verifica-se uma melhoria muito

significativa na relevação contabilística dos documentos que permaneciam há longos anos por

reconciliar, com especial incidência nas contas destinadas ao registo de receita de contribuições, quando

comparado com o exercício de 2014. No entanto, verifica-se um acréscimo de 58,0% nos documentos

por reconciliar do próprio ano, no mesmo período (cfr. ponto 12.2.3.1.3.).

Recomendação 69 – PCGE 2016

Recomenda-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que continue a providenciar

pela conclusão dos procedimentos necessários ao tratamento adequado dos movimentos por reconciliar

nas contas de disponibilidades.

Em 2016, continuam ainda a existir valores depositados em contas bancárias sem que tenha havido o

correspondente registo contabilístico, alguns dos quais por dificuldades na identificação da sua origem,

designadamente por falta de informação de entidades terceiras que procedem àqueles depósitos, não

obstante algumas das diligências já desenvolvidas para ultrapassar estas dificuldades. Esta situação

implicou a subvalorização dos saldos de disponibilidades e de execução orçamental em, pelo menos,

€ 8 M e € 5 M, respetivamente, e, ainda, a existência de saldos contranatura nas contas de disponibilidades, dado que 4 destas contas apresentam saldos negativos. Em outubro de 2017, verificou-

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 425

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Tribunal de Contas

401

se que cerca de 52,5% (€ 4,2 M) do montante não relevado em 2016 já se encontrava registado (cfr. ponto 12.2.3.1.3.).

Recomendação 70 – PCGE 2016

Reitera-se ao Governo que continue a diligenciar no sentido de estabelecer uma articulação permanente

entre as entidades externas ao perímetro de consolidação da SS que procedem ao depósito de verbas em

contas bancárias do IGFSS e do ISS e estas entidades recetoras, por forma a definir os procedimentos

que garantam a célere identificação da proveniência, natureza e finalidade da referida receita da

segurança social para efeitos da sua tempestiva contabilização.

Os “Fundos próprios” totalizam € 21.542 M e evidenciam um decréscimo de 5,5% relativamente ao ano de 2015 (menos € 1.258 M) (cfr. ponto 12.2.3.2.1.).

Em 2015 foi publicado e entrou em vigor o novo regime do FGS, nos termos do qual o Fundo goza de

personalidade jurídica e autonomia administrativa, patrimonial e financeira e capacidade judiciária, o

que se revela compatível com a Diretiva 2008/94/CE, que faz impender sobre os Estados-Membros o

dever de criação de uma instituição. Contudo, apesar de a Diretiva inculcar que esta instituição tem

património próprio, e não obstante a previsão legal nacional da sua autonomia financeira e patrimonial,

regista-se que, por um lado, a parte do financiamento a cargo do Estado ainda não se encontra regulada

e, por outro, que o Fundo não dispõe de património próprio, sendo este de difícil constituição,

designadamente atento o facto de os saldos gerados pelas receitas atribuídas ao Fundo reverterem para

o Orçamento da Segurança Social (cfr. ponto 12.2.3.2.1.).

Recomendação 71 – PCGE 2016

Reitera-se aos Ministros do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e das Finanças que o FGS deve

funcionar de acordo com a legislação comunitária e nacional que o enquadra, o que implica que seja

dotado de património próprio, definidos os critérios de financiamento por parte do Estado e que os

excedentes obtidos continuem exclusivamente afetos à prossecução das finalidades que lhe são próprias.

O total das contas de “Resultados” apresenta um decréscimo de 26,5% (menos € 1.847 M), decorrente de variações negativas de ambas as componentes: “Resultado líquido”, menos 44,7% (€ 656 M), para cuja redução muito contribuiu o resultado líquido negativo do FEFSS (€ 561 M), e “Resultados transitados” menos 21,6% (€ 1.191 M), o que decorre, essencialmente, da constituição, pela primeira vez, de provisões para cobrança duvidosa de contribuintes relativa a dívida participada a execução fiscal e que

se encontra “suspensa” por declaração de falência e insolvência (€ 1.968 M) e do ajustamento da dívida de contribuintes realizada pelo ISSA (menos € 105 M). Esta conta incorpora ainda a anulação da provisão constituída pelo ISSA em 2015 para fazer face a encargos futuros com pensões (cfr. ponto

12.2.3.2.1.).

O valor do saldo de dívidas a terceiros provenientes de “Créditos não reclamados” relevado nas demonstrações financeiras (SIF) e o registado nas contas individuais dos beneficiários (SICC)

apresentam uma divergência de € 4 M, o que compromete a fiabilidade das demonstrações financeiras (cfr. ponto 12.2.3.2.2.).

Em 2016, a despesa com pensões e complementos paga pelo SSS totalizou € 16.124 M, mais 2,4% que no período homólogo anterior. Desta, 78,9% destinou-se a fazer face aos encargos com pensões de

velhice, correspondendo 74,3% ao sistema previdencial – repartição. As pensões de invalidez e sobrevivência representaram, no seu conjunto, 21,1% do total da despesa com pensões, continuando as

pensões de invalidez a constituir a menor parcela (7,7%). As despesas com pensões aumentaram nas

eventualidades de velhice e sobrevivência (mais 2,8% e 2,2%, respetivamente), tendo apenas a

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

402

eventualidade de invalidez registado um decréscimo (menos 1,5%) em termos homólogos (cfr. ponto

13.1.3.).

O número total de pensões atribuídas pelo SSS atingiu, no final de 2016, 2.994.711 (mais 2.199 que em

2015; 0,1%). Entre 2012 e 2016 o número de pensões apresentou um crescimento de 0,4%. Por

eventualidade, destaca-se a velhice, que representou 68,0% do total, seguindo-se-lhe a sobrevivência

com 24,0% e a invalidez com 8,0% (cfr. ponto 13.1.1.).

A despesa com as pensões do sistema previdencial evoluiu no sentido crescente no que respeita às

pensões de velhice (mais 4,1%) e sobrevivência (mais 2,6%), tendo-se verificado um recuo nas pensões

de invalidez (menos 1,6%). No seu conjunto estas despesas cresceram 3,4% em termos homólogos (mais

13,7% no quinquénio iniciado em 2012). Tendencialmente deficitário no período observado (que

contrasta com o primado da autossustentabilidade presente na sua génese), o sistema previdencial – repartição foi, em 2016, reforçado com verbas provenientes do OE destinadas ao financiamento do seu

défice no valor de € 650 M, situação que se verificou também em anteriores anos (2012 a 2015, num valor total de € 4.510 M), em que os saldos acumulados já não foram suficientes para financiar os défices do sistema (cfr. ponto 13.1.4.).

Foi realizada uma auditoria orientada à área das pensões, nas eventualidades velhice, invalidez e

sobrevivência, atribuídas e com início de processamento em 2016, com incidência nas pensões de maior

volume financeiro e nas atribuídas com efeitos retroativos a períodos temporais alargados. Da análise

das amostras, constituídas por 125 processos de pensões de velhice e de invalidez e 30 de sobrevivência,

concluiu-se o seguinte (cfr. ponto 13.1.5.):

a) Em 44 processos de pensões de velhice verificaram-se irregularidades no cálculo dos montantes

das pensões atribuídas, face a divergências entre as remunerações que concorreram para a

determinação das remunerações de referência e as constantes da aplicação de Gestão de

Remunerações, e situações de taxas de bonificação incorretas, devido à irregular contabilização

do número de meses considerados. Estas irregularidades resultaram, designadamente: da falta de

registo de remunerações à data da atribuição da pensão; de alterações ou anulações ocorridas

após a atribuição da pensão; de sobreposições de remunerações devido ao exercício de atividade

profissional em mais do que uma entidade; e de situações em que foram indevidamente

consideradas equivalências por doença e desemprego.

b) Um processo apresenta incorreções nos dados introduzidos para efeitos de cálculo da pensão, no

âmbito da contagem do número de anos que concorrem para esse cálculo, tendo resultado um

valor de pensão superior ao devido.

c) Em dois processos relativos a pensões de invalidez, foi aplicado o regime geral e não o regime

especial de proteção face à natureza da invalidez. Dessa aplicação incorreta da lei resultou a

atribuição de pensões de valor inferior ao devido. Num destes processos verificou-se, ainda, a

não aplicação do fator de sustentabilidade, à data da convolação da pensão de invalidez em

velhice.

d) A organização física dos processos, nas duas amostras, apresenta, num número elevado de casos,

omissão de datas de análise e de verificação, ausência de assinatura do organizador e/ou do

conferente e, ainda, ausência, incompletude ou incorreção, muitas vezes por desatualização, das

menções às delegações ou subdelegações de competências, o que incumpre o disposto no art.

48.º do CPA.

A despesa com prestações de desemprego e apoio ao emprego totalizou, em 2016, € 1.510 M, repartidos entre “subsídio de desemprego” (72,9%), “subsídio social de desemprego” (15,4%) e “outras prestações” (11,8%). Estas despesas apresentaram-se tendencialmente decrescentes (menos 41,8%) no quinquénio iniciado em 2012, tendência que se acentuou a partir de 2013 (menos 44,9%), e que se

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Tribunal de Contas

403

apresenta consistente com a evolução da recuperação do mercado de trabalho a partir de 2014, com a

evolução do n.º de desempregados subsidiados e com a introdução de medidas legislativas mais

restritivas para a atribuição destas prestações durante o período de vigência do PAEF que se mantiveram

nos anos seguintes (cfr. ponto 13.2.4.).

Influenciado pelo contexto macroeconómico e pelas medidas adotadas durante o PAEF relativas ao

sector, verificou-se, no triénio iniciado em 2014, que todos os indicadores apresentam uma diminuição

(n.º de desempregados registados pelo INE, menos 21,1%, n. º de desempregados inscritos nos centros

de emprego, menos 18,1%, e n.º de prestações de desemprego atribuídas e pagas, menos 21,4%), o

mesmo acontecendo em termos homólogos (menos 11,4%, menos 6,7% e menos 12,7%,

respetivamente) (cfr. ponto 13.2.2.).

No quinquénio em análise (2012/2016), apenas em 2012 e 2013 se verificaram necessidades de

financiamento das prestações de desemprego suportadas pelo sistema previdencial-repartição, as quais

totalizaram € 516 M, compensadas pelos excedentes verificados nos restantes anos (cfr. ponto 13.2.5.).

O sistema previdencial – repartição tem beneficiado desde 2011 de montantes transferidos pelo OE para financiar situações enquadráveis no art. 98.º-N do Código do Processo do Trabalho, na redação dada

pelo Decreto-Lei 295/2009, de 13/10, que até ao momento, segundo os mapas de execução orçamental,

ainda não tiveram execução, por dificuldades na identificação das situações enquadráveis nesta

disposição legal. A SESS e a SEAJ vieram informar que se encontram a desenvolver diligências com

vista à resolução dos constrangimentos apontados, informando ainda a SESS que os pagamentos haviam

sido já iniciados no mês de julho de 2017 (cfr. ponto 13.2.5.).

Decorre do acompanhamento ao acolhimento das recomendações formuladas no PCGE 2014 em matéria

de prestações de desemprego que continuam a não se encontrar integralmente implementadas as

referentes a ausência de notificação aos beneficiários de alterações no valor das prestações e à

necessidade de adaptar as aplicações informáticas às competências de cada um dos intervenientes no

procedimento tendente ao deferimento daquelas (cfr. ponto 13.2.4.).

Recomendação 72 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que diligencie no sentido de que

as alterações de valor das prestações de desemprego sejam objeto de realização de audiência prévia dos

interessados.

Recomendação 73 – PCGE 2016

Reitera-se ao Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que diligencie no sentido de

assegurar a implementação na aplicação informática da segregação de funções entre quem procede à

instrução do processo e quem procede ao seu deferimento, devendo este ser expressamente efetuado

apenas por quem tem competência para o efeito.

Em 2016, o FEFSS aumentou 1,0% (€ 147 M), para € 14.246 M. A volatilidade baixou para 4,8% e o índice de rotação da carteira para 0,835. As dotações atingiram € 227 M, pelo que o valor acrescentado pela gestão foi negativo (em € 81 M), destacando-se o contributo negativo das valias potenciais (€ 577 M) e o positivo dos rendimentos (€ 387 M) e das valias realizadas (€ 103 M). Os acréscimos acumulados gerados pelo Fundo desde a sua criação atingem € 6.474 M (45,4% do total) (cfr. ponto 13.3.2.1.).

O montante aplicado em dívida garantida pelo Estado Português foi reforçado em € 318 M, mas o seu valor diminuiu 2,0% (€ 219 M) e o seu peso caiu para 75,8% da carteira, dada a diminuição no valor de mercado das OT, que, ainda assim, se mantinha € 911 M acima do valor de reembolso. O valor afeto a

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Página 429

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

404

dívida pública estrangeira aumentou 21,8%, para € 1.295 M (9,1%) e a ações 19,3%, para € 1.505 M (10,6%). Com a venda de várias participações, o valor em Imobiliário diminuiu 56,6%, para € 73 M. A Reserva Estratégica desvalorizou mais 23,6%, para € 3 M. O total dos ativos de Rendimento Fixo caiu para 84,8% e dos ativos de Rendimento Variável subiu para 10,6% (cfr. ponto 13.3.2.2.).

O target da Portaria 216-A/2013 para a dívida pública portuguesa (90% da carteira) ficou mais distante

e as ações, apesar do reforço, mantiveram-se longe do máximo regulamentar (de 25%). As componentes

de Imobiliário e Reserva Estratégica continuaram a afastar-se dos respetivos limites (de 10% e 5%). A

taxa de rendibilidade foi negativa (-0,6%) pela terceira vez na história, influenciada pelo desempenho

da carteira de dívida pública nacional (-1,7%), que, através da variação das valias potenciais, tem vindo

a acomodar o diferencial entre o valor de reembolso e o valor de mercado. As ações apresentaram uma

rendibilidade de 7,8% e o Imobiliário de 4,6%. Desde a constituição, o FEFSS apresenta uma

rendibilidade média anual de 4,65%, que baixa para 3,96% nos últimos 10 anos (cfr. ponto 13.3.2.3.).

No final de 2016 o valor do FEFSS equivalia a 116,4% da despesa anual com pensões do sistema

previdencial, o que permitiria suportar 14,0 meses, aquém do objetivo de dois anos subjacente à sua

criação. Em proporção do PIB, o valor do FEFSS progrediu de 4,3%, em 2007, para 7,8%, em 2015,

caindo para 7,7% em 2016. O impressionante crescimento do valor dos investimentos em dívida pública

nacional, que lhes permitiu passar de uma proporção de 2,6% do PIB para 6,1% em apenas 4 anos,

inverteu-se em 2016, baixando para 5,8% (cfr. ponto 13.3.3.).

Apenas 19,7% do Fundo (dívida pública estrangeira e as ações) foi gerido contra o benchmark interno

(excessreturn de -0,25%) e a dívida pública portuguesa manteve a gestão autónoma, desconhecendo-se

a estratégia de gestão das restantes componentes. Face ao benchmark aprovado pela Tutela, o FEFSS

apresentou um excessreturn negativo de 2,83%. Os custos de funcionamento do IGFCSS aumentaram

10,8% e o financiamento pelo OSS aumentou 27,7%, para € 2.947 m, 0,021% do montante médio sob gestão no FEFSS, que suportou ainda € 1.994 m em despesas bancárias (mais 35,1%) (cfr. ponto 13.3.3.).

Encontram-se secundarizadas premissas básicas de gestão, como o compromisso entre risco e

rendibilidade, a diversificação e a autonomia técnica da equipa de gestão. Falta transparência,

nomeadamente nas componentes da carteira não sujeitas a uma gestão ativa, onde a Reserva Estratégica

constitui um caso paradigmático de perda de valor, sendo que os impactos surgem dissolvidos no

desempenho global, sem que exista um efetivo comparativo de desempenho, ou sequer dados que

permitam a avaliação do resultado das operações mais significativas (cfr. ponto 13.3.3.).

As receitas efetivas da CGA totalizaram € 9.790 M (96,9% da receita total), mais 3,9% no triénio, comportamento fortemente condicionado pelas medidas de contenção/redução dos gastos públicos,

conjugado com a alteração das taxas contributivas, pelo alargamento da base de incidência e pelo

aumento da massa salarial dos subscritores por via da reversão de algumas das medidas adotadas durante

o PAEF (cfr. Caixa 8).

As despesas efetivas da CGA situaram-se em € 9.703 M (97,3% da despesa total), mais 2,2% no triénio, destacando-se a despesa com pensões, que representou 98,0% da despesa efetiva e manteve uma

tendência crescente (mais 1,9% no triénio iniciado em 2014), porquanto as medidas restritivas que

impenderam sobre estas despesas, designadamente as que respeitam a alterações às condições de acesso

à pensão de velhice e às regras de formação do valor das mesmas, não foram suficientes para contrariar

o efeito da pressão demográfica sobre o sistema (cfr. Caixa 8).

A receita proveniente de quotas dos subscritores apenas cobriu 13,3% da despesa com pensões,

indicador que tem vindo a degradar-se desde 2006, obrigando a um esforço financeiro acrescido por

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 429

Página 430

Tribunal de Contas

405

parte do Estado no financiamento do sistema de pensões gerido pela CGA. Entre 2014 e 2016 este

indicador sofreu um aumento de 20,5%, comportamento que se encontra em linha com a sua condição

de sistema fechado (cfr. Caixa 8).

As reservas referentes aos fundos de pensões das empresas de capitais públicos transferidos para a CGA

representavam, no final de 2016, 85,9% das iniciais. No período em observação, as responsabilidades

com o pagamento de pensões e outros encargos dos fundos cujas reservas se esgotaram entre 2011 e

2014 (CTT, BNU, INDEP e Macau) foram suportadas por verbas provenientes de receitas próprias da

CGA e/ou do Orçamento do Estado. Também os encargos com complementos de pensão pagos aos ex-

militares por conta do ex-Fundo de Pensões dos Militares das Forças Armadas se encontram na mesma

situação. Entre 2011 e 2016, o esforço financeiro do Estado para fazer face a estes encargos foi de

€ 1.069 M (€ 204 M em 2016). (cfr. Caixa 8).

Consolidação das contas (cfr. ponto 14)

Excluindo as receitas e despesas em ativos e passivos financeiros, da consolidação das contas da

administração central e da segurança social resulta a receita consolidada de € 72.080 M, a despesa de € 76.895 M e o consequente saldo de € -4.815 M, que consta da CGE (mapa XXIII).

Considerando o impacto global das operações com ativos e passivos financeiros considerados, que foi de

€ -753 M, o saldo global passaria para € -5.568 M (cfr. ponto 14.1).

Em 2016, persistem elevados ajustamentos de consolidação, sobretudo devido a deficiências na

contabilização das transferências entre os sectores. A consolidação, além das transferências, passou a

abranger outras operações, de juros e de aquisição de serviços (entidades do Programa Saúde). Porém,

os montantes dessas despesas/receitas que excedam as correspondentes receitas/despesas são

reclassificados em “diferenças de consolidação” que, assim, juntam despesas e receitas que tinham distintas classificações económicas, contrariando o princípio da especificação (cfr. ponto 14.2).

Recomendação 74 – PCGE 2016

Que o Governo, através da DGO, assegure a correção das deficiências na contabilização e no controlo

das transferências e de outros fluxos entre os serviços abrangidos pela Conta, através da correta

identificação dos serviços emissores e dos destinatários e que sejam tomadas todas as iniciativas

necessárias no sentido da consolidação da CGE contemplar todas as operações materialmente

relevantes, tendo em conta o princípio da especificação.

A CGE continua a não apresentar satisfatoriamente o procedimento de articulação entre o saldo

orçamental nominal e o correspondente saldo estrutural (cfr. ponto 14.3), pelo que se recomenda:

Recomendação 75 – PCGE 2016

Que o Governo, no Relatório da CGE, proceda à explicação e quantificação dos critérios subjacentes

ao saldo estrutural observado.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 430

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

406

CAIXA 9 – RISCOS PARA A SUSTENTABILIDADE DAS FINANÇAS PÚBLICAS NACIONAIS

Na presente Caixa sinalizam-se os riscos para a sustentabilidade das finanças públicas identificados ao longo

deste Parecer, como sejam a subsistência de níveis de despesa pública superiores à receita, a acumulação de

elevados níveis de dívida pública – especialmente dívida financeira, mas também dívida não financeira – e a existência de valores consideráveis de responsabilidades contingentes. Apresentam-se ainda as projeções

do FMI que apontam para a manutenção do desequilíbrio orçamental pelo menos até 2022. Adiciona-se

informação sobre os encargos financeiros futuros relativos às empresas públicas, aos pagamentos em atraso

e às PPP.

Diversos estudos têm vindo a destacar que os custos inerentes às alterações climáticas representam um risco

para as finanças públicas de magnitude comparável aos custos resultantes do envelhecimento da população.

No entanto, se os primeiros atingirão o seu máximo apenas na segunda metade do século, os custos ligados

ao envelhecimento populacional prevêem-se já bastante elevados até 20501. Nesta Caixa a abordagem aos

impactos destes efeitos nas finanças públicas, um tema com metodologias ainda insuficientemente

exploradas e aplicadas2, é feita recorrendo-se à apresentação das projeções do INE sobre o envelhecimento

da população e das projeções da CE e da Agência Europeia do Ambiente sobre os impactos económicos das

alterações climáticas.

1. Trajetória do défice e da dívida

a) Subsistência dos défices orçamentais na administração central

No período de 2012 a 2016 o subsector da administração central manteve um valor de despesa superior à da

receita, gerando necessidades líquidas de financiamento. As receitas ascendiam a € 53.277 M em 2012 (31,6% do PIB) e a € 57.140 M (30,9% do PIB) em 2016. As despesas ascendiam a € 67.697 M em 2012 (40,2% do PIB) e a € 64.272 M (34,7% do PIB) em 2016. Neste ano, o saldo global da administração central (incluindo ativos financeiros de médio e longo prazo) melhorou em € 2.682 M face a 2015, situando-se em € -7.132 M (-3,9% do PIB) (cfr. ponto 3.4).

b) Acumulação de dívida pública

A subsistência de défices orçamentais anuais na administração central teve como consequência o crescimento

do stock da dívida pública direta consolidada a uma taxa média de 5,2% nos anos de 2012 a 2016.

Quadro D. 5 – Evolução da dívida pública – 2012-2016

(em milhões de euros)

Descrição 2012 2013 2014 2015 2016

Dívida direta (stock) não consolidada(a) 217 947 229 088 240 689 264 196 272 867

Dívida direta (stock) consolidada(a) 191 527 199 906 210 147 225 264 234 573

Amortizações e encargos com a dívida direta 104 114 100 097 85 895 74 545 65 780

Amortizações, das quais:96 68792 29278 19266 50957 638

Dívida de médio e longo prazo20 667 15 278 18 74725 61417 795

Juros7 3097 7017 5977 9188 011

Outros encargos118104107118131

Dívida de Maastricht 212 556 219 715 226 029 231 541 240 958

(a) O universo dos valores de dívida é o do OE de cada ano; em 2016 está incluída a dívida de 45 SFA.

Fonte: TC, PCGE 2012 a 2016 e INE, 2.ª not.. PDE setembro de 2017.

1 German Ministry of Finance (2009), “Klimawandel: WelcheBelastungen entstehen fur die Tragfahigkeit deer

Offentlichen Finanze?” (sumário em Inglês). 2 US Government Accountability Office (2017): “Climate Change: Information on potential economic effects could help

guide Federal efforts to reduce fiscal exposure”.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 431

Página 432

Tribunal de Contas

407

No final de 2016, os rácios da dívida direta consolidada e da dívida de Maastricht em relação ao PIB

situavam-se em 126,7% e em 130,1%, respetivamente.

i) Dívida direta do subsector dos SFA

Em 2016, os 356 SFA que integravam o perímetro orçamental detinham dívida (valor nominal não

consolidado) no montante de € 36.585 M representada por empréstimos (€ 25.382 M), títulos (€ 10.950 M) e locação financeira (€ 253 M). A dívida representada por derivados, avaliada ao justo valor, ascendia a €-1.399 M. A dívida consolidada ascendia a € 18.270 M (cfr. pontos 4.1.2.1 e 4.1.2.2).

ii) Dívida do sector público empresarial (administração central, local e regional)

No contexto mais abrangente e na ótica das contas nacionais, as empresas públicas apresentavam uma dívida

total de € 43.964 M1, dos quais € 36.867 M (84%) referem-se a empresas públicas classificadas no perímetro

das AP2 e € 7.097 M (16%) correspondem a empresas fora do perímetro.

iii) Dívida não financeira

Em 31/12/2016 a dívida não financeira das entidades do SNS a fornecedores externos, incluindo os hospitais

EPE, era de € 1.841 M, e a das EPR (excluindo as do SNS) ascendia a € 199 M (cfr. ponto 4.3).

O valor dos pagamentos em atraso totalizava € 854 M (total consolidado, no que respeita às entidades que pertencem às AP). O subsector da saúde, incluindo os hospitais EPE, assumia o maior peso, € 550 M, seguido das administrações local e regional, € 162 M e € 120 M, respetivamente.

c) Projeções para a trajetória do défice orçamental e da dívida pública (2017-2022)

As previsões do FMI (setembro de 2017) apontam para a manutenção do desequilíbrio orçamental no período

de 2017 a 2022 que, em valores nominais, passa de € 2,8 mil M para € 3,4 mil M no final do período3.

Gráfico D. 1 – Composição da receita e da despesa públicas – 2017-2022

Fonte: FMI, Country Report n.º 17/278, setembro de 2017.

1 BdP, Boletim Estatístico, outubro de 2017. A dívida inclui empréstimos, títulos de dívida e créditos comerciais (valores

não consolidados) e o seu apuramento segue a ótica das contas nacionais, mas difere do conceito de dívida de Maastricht

para efeitos do PDE pelo facto de incluir os créditos comerciais. 2 Administração central: € 34.628 M e administração regional e local: € 2.240 M. 3 Algumas destas projeções poderão ser alteradas na sequência da última missão pós-programa do FMI, em dezembro de

2017.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 432

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

408

Ao nível das receitas, as previsões apontam para um crescimento da receita fiscal de 16,1% e da receita de

contribuições sociais de 16,8%. Na composição da despesa pública prevê-se a estabilidade do peso relativo

de cada um dos seus agregados, sendo de destacar o peso médio esperado das despesas com juros (9,0%).

Ao nível da dívida pública, as previsões do FMI para o período de 2017 a 2022 apontam para uma redução

gradual do rácio da dívida pública, passando de 125,7% do PIB em 2017 para 114,0% em 2022. A

condicionar a evolução da dívida está a taxa de crescimento real prevista do PIB de 1,7%, em média, até ao

final do horizonte da previsão. As mesmas previsões apontam para que, no referido período, os encargos

com amortizações de dívida de médio e longo prazo (incluindo as administrações regionais e locais e as

empresas públicas) totalizem € 74 mil M (média de € 12 mil M ao ano) e os juros da dívida alcancem € 50 mil M (média de € 8 mil M ao ano).

2. Parcerias Público-Privadas

Em 31/12/2016, o universo de PPP abrangia 32 projetos, distribuídos pelos sectores rodoviário (21), da saúde

(8), ferroviário (2) e da segurança (1), com um investimento acumulado, entre 1998 e 2016, de € 14.609 M. Ao sector rodoviário cabe 93% deste investimento, seguindo-se os sectores ferroviário e da saúde, ambos

com 3%, e o sector da segurança, com 1%1. Em 2016 os pagamentos líquidos ascenderam a € 1.703 M,

incorporando um aumento de € 181 M face ao ano anterior decorrente, essencialmente, da evolução verificada no sector rodoviário.

O valor atualizado dos encargos brutos futuros do Estado em resultado dos contratos estabelecidos com os

parceiros privados é estimado em € 20.696 M até 2041. Após considerar as receitas previstas nas parcerias

rodoviárias (€ 6.622 M), o valor atualizado dos encargos líquidos é de € 14.074 M2.

3. Responsabilidades contingentes

a) Garantias prestadas pelo Estado e pelos SFA

Em 31/12/2016, as responsabilidades acumuladas assumidas pelo Estado por garantias pessoais prestadas a

operações de financiamento e a seguros de crédito totalizavam € 21.404 M e € 948 M, respetivamente; destacam-se as garantias do Estado prestadas às EPR, no valor total de € 8.735 M, e às sociedades veículo ex-BPN, no valor total de € 2.714 M. As garantias prestadas ao sector financeiro atingiram € 5.170 M na mesma data (cfr. Caixa 5). A dívida garantida do Estado ascendia a € 22.352 M (cfr. pontos 4.2.1 e 4.2.2).

Por sua vez, as responsabilidades efetivas por garantias pessoais prestadas por SFA, incluindo EPR,

atingiram € 2.283 M no final de 2016 (cfr. ponto 4.2.1).

b) Instrumentos de gestão de risco financeiro das empresas públicas

Em 31/12/2016 subsistiam 24 instrumentos de gestão de risco financeiro (IGRF) detidos por empresas

públicas com um valor de mercado negativo de € 428 M. A estas responsabilidades contingentes acrescem 8 IGRF em processo de contencioso nos tribunais ingleses, com um valor de mercado negativo de

€ 1.191 M3.

1 UTAP, Relatório Anual das PPP, 2016. 2 MF, Relatório do Orçamento do Estado 2018. 3 UTAM, Boletim Informativo do Setor Empresarial do Estado – 4.º Trimestre de 2016.

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Tribunal de Contas

409

4. Tendências demográficas e alterações climáticas

a) Envelhecimento da população (2015-2080)

Diversos estudos têm revelado a pressão que o envelhecimento da população em Portugal terá a longo prazo

nas contas públicas, quer por via da redução continuada das contribuições para o sistema público de pensões

quer do aumento projetado para as despesas, em particular com pensões e cuidados de saúde.

Projeções recentes do INE1 apontam para o agravamento do envelhecimento demográfico. Os dados mostram

que a população residente em Portugal passará de 10,3 milhões de pessoas em 2015 para 7,5 milhões em

2080; no mesmo período, a população em idade ativa (entre 15 e 64 anos) passará de 6,7 milhões para 3,8

milhões de pessoas e o decréscimo da população jovem (de 1,5 para 0,9 milhões de pessoas) será

acompanhado pelo aumento da população idosa (de 2,1 para 2,8 milhões de pessoas). Entre 2015 e 2080, o

índice de envelhecimento2 poderá mais do que duplicar, passando de 147 para 317 idosos por cada 100

jovens.

Este agravamento do défice demográfico tem, no entanto, recebido um contributo positivo do saldo

migratório (Censos, 2011) com um impacto favorável no equilíbrio financeiro da conta das pensões de

velhice do sistema previdencial3.

b) Alterações climáticas (impacto económico)

As alterações climáticas constituem um risco para a sustentabilidade das finanças públicas através,

designadamente, do efeito adverso sobre o crescimento económico e dos custos adicionais para a despesa

pública e perda de receitas. Uma estimativa recente para as finanças públicas da Alemanha4 aponta que em

2100 esses custos adicionais possam atingir 0,6% a 2,5% do PIB.

O RCGE 2016 não especifica a execução da despesa pública afeta à mitigação e adaptação às alterações

climáticas.

O estudo e a utilização de informação sobre os potenciais efeitos económicos causados pela mudança do

clima pode ajudar à identificação dos riscos climáticos significativos e das respostas adequadas por parte das

entidades públicas, reduzindo a pressão sobre as finanças públicas no futuro5.

Para os anos de 1980 a 2013, a Agência Europeia do Ambiente estimou perdas económicas devido às

alterações climáticas em Portugal no valor de € 6.783 M, dos quais somente € 300 M estavam cobertos por

seguros, representando € 665 M per capita e 0,14% do PIB6.

O relatório da CE7 coloca Portugal, a par de Espanha, Itália, Grécia e Bulgária, entre os países da UE mais

vulneráveis às alterações climáticas no futuro. Para o sul da Europa, a CE estima perdas económicas com

impacto no PIB entre 1,8% e 3%.

1 INE (2017), Projeções de População Residente 2015-2080. 2 Número de pessoas com 65 e mais anos por cada 100 jovens. 3 Fundação Francisco Manuel dos Santos (2017), “Migrações e sustentabilidade demográfica”. 4 German Ministry of Finance (2009), “Klimawandel: WelcheBelastungen entstehen fur die Tragfahigkeit deer

Offentlichen Finanze?” (sumário em Inglês). 5 US Government Accountability Office (2017), “Information on potential economic effects could help guide Federal

efforts to reduce fiscal exposure”. 6 Agência Europeia do Ambiente (2017), “Climate change, impacts and vulnerability in Europe 2016”. 7 Joint Research Centre of the European Commission (2014), “Climate Impacts in Europe”.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 434

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

410

17. JUÍZO SOBRE A CONTA

Nos termos da sua Lei de Organização e Processo (artigo 41.º, n.º 2) o Tribunal de Contas no parecer

sobre a Conta Geral do Estado, incluindo a da Segurança Social, “emite um juízo sobre a legalidade e a

correção financeira das operações examinadas”.

A nova Lei de Enquadramento Orçamental determina que a Conta Geral do Estado de 2019 inclua

demonstrações orçamentais e financeiras consolidadas, preparadas de acordo com o SNC-AP, cuja

aplicação foi adiada para 01/01/2018. O Tribunal manifesta preocupação pelo facto de entidades várias

reconhecerem a impossibilidade de efetuar a transição para o SNC-AP dentro do prazo fixado e por

subsistirem diversos constrangimentos e riscos que poderão pôr em causa a elaboração das referidas

demonstrações orçamentais e financeiras consolidadas para os subsetores da AC e SS.

A presente Conta Geral do Estado continua, passados vinte anos, a não comportar um balanço e uma

demonstração de resultados da Administração Central do Estado, devido à não aplicação integral do

POCP e planos sectoriais. Daí que as demonstrações financeiras que apresenta sejam suportadas por

diferentes sistemas contabilísticos em vigor. Assim sendo, o juízo formulado não é, ainda,

completamente coincidente com o modelo previsto pelas Normas Internacionais de Auditoria.

Neste contexto, atentas as evidências recolhidas, as observações efetuadas, as conclusões extraídas e as

recomendações formuladas, o Tribunal de Contas emite, no âmbito estrito deste Parecer, o juízo

seguinte:

A) Conta da Administração Central

A conta da Administração Central está afetada por erros materialmente relevantes, pelo que formula

reservas e chama a atenção para um conjunto de ênfases e limitação de âmbito, nos termos que se

seguem.

Sistemas contabilísticos

Reservas:

 Não aplicação integral do Plano Oficial de Contabilidade Pública (POCP).

 Não apresentação de Balanço nem de Demonstração de Resultados na Conta Geral do Estado, ainda que parcelares.

Legalidade

Reservas:

 Omissão de € 1.272 M nas receitas do Estado (sobretudo impostos) contabilizados diretamente pelas entidades às quais o respetivo produto está consignado (v.g. Segurança Social, RTP).

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 435

Página 436

Tribunal de Contas

411

Enfâses:

 Os princípios da anualidade, da unidade e da universalidade, da não compensação, da não consignação, da especificação, do cabimento prévio e da unidade de tesouraria não são

observados em todas as situações em que o devem ser.

 Permanece por aplicar a reforma da contabilização das receitas estando em falta a ligação dos sistemas próprios ao de contabilização orçamental.

 Sucessivas alterações dos valores vinculativos inicialmente fixados no Quadro Plurianual de Programação Orçamental (QPPO) para cada um dos programas orçamentais.

 A conta dos fluxos financeiros continua a não desempenhar o papel que lhe cabe no controlo das contas do Estado, por não comportar a totalidade dos movimentos.

 O relatório do Governo que integra a Conta Geral do Estado é omisso em matérias relevantes (v.g. património imobiliário e unidade de tesouraria).

Correção financeira

Reservas:

 Subavaliação da receita cessante por benefícios fiscais (€ 60 M em IRC, pelo menos € 89 M em IS, até € 5.795 M em IVA, além de despesa fiscal por quantificar).

 Classificação económica incorreta de um conjunto elevado de operações de despesa que, não afetando o total da CGE, afeta o valor da despesa efetiva, reduzindo-a.

 A informação sobre o stock da dívida pública direta do Estado não abrange a dos SFA (incluindo EPR) que, em 31/12/2016, ascendia a € 36.585 M.

 Nos SFA, em particular nas novas EPR, a receita de passivos financeiros está sobrevalorizada em cerca de € 2.067 M, devido a erros na classificação dos aumentos de capital.

 Falta de inventário do património imobiliário e sua devida valorização. As receitas e despesas relativas às operações mobiliárias estão afetadas por erros e por falta de validação (€ 273 M).

 Movimentação fora do Tesouro de parte relevante das disponibilidades dos organismos da administração central e das empresas públicas (saldos médios de € 569 M; muitas entidades sem informação reportada) que continua a não ser registada na contabilidade da tesouraria. Não foi

entregue ao Estado 86% (€ 99 M) dos juros auferidos, desde 2011, em incumprimento da unidade de tesouraria.

Enfâses:

 A execução dos 18 programas orçamentais não é avaliada com base em indicadores previamente fixados.

 A informação sobre os fluxos financeiros para as autarquias locais não é, ainda, fidedigna nem completa.

 O Relatório da CGE não evidencia a dívida não financeira das EPR e de parte do SNS.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 436

Página 437

PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

412

 Os ativos financeiros de médio e longo prazos foram excluídos na consolidação da conta.

 Omissão de disponibilidades dos organismos da administração central nos saldos da contabilidade orçamental, com destaque para o Fundo de Estabilização Tributário (€ 24 M de saldo com € 1.072 M de disponibilidades).

 Omissão de € 3.463 M nos saldos da contabilidade orçamental face aos da contabilidade da tesouraria dos organismos da administração central, em virtude da não contabilização, em

operações extraorçamentais, dos fluxos que não tenham natureza orçamental.

 Omissão de € 3.474 M nos saldos da contabilidade da tesouraria face aos da contabilidade orçamental dos organismos da administração central, em virtude da movimentação fora do

Tesouro não ser objeto de relevação na primeira dessas contabilidades nem na conta dos fluxos

financeiros.

Limitação de âmbito

 A Conta Geral do Estado não inclui a receita e a despesa de quatro organismos da administração central, o que subvaloriza a receita e a despesa global.

B) Conta da Segurança Social

O Tribunal considera que a conta da Segurança Social continua a estar afetada por erros materialmente

relevantes. Regista, contudo, que as recomendações que ao longo dos anos tem formulado com vista à

sua correção têm merecido a aceitação dos membros do Governo envolvidos e da generalidade das

instituições que integram o perímetro de consolidação, que vêm sucessivamente desenvolvendo

diligências com vista ao seu acolhimento, apesar da escassez de recursos humanos e orçamentais e da

complexidade dos sistemas informáticos envolvidos. Nestes termos, o Tribunal aguarda, com

expectativa, que, a breve trecho, muitos dos erros detetados possam ser ultrapassados.

Os erros materialmente relevantes detetados determinam a formulação das seguintes reservas e ênfases:

Controlo Interno

Reservas:

 Ausência de informação integral sobre a localização dos bens móveis, impedindo a realização de um efetivo controlo físico;

 Ausência de informação relevante relativa a imóveis que justifique o valor relevado nas demonstrações financeiras;

 Inexistência de procedimentos de controlo que evitem ou corrijam:

 Valores incorretamente incluídos em parcelas de terreno de imóveis provenientes de imobilizado em curso;

 A incidência do cálculo das amortizações sobre o valor das parcelas de terreno dos imóveis.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 437

Página 438

Tribunal de Contas

413

 A organização física de muitos dos processos das amostras de pensões revela a omissão de datas de análise e verificação dos mesmos, ausência de assinatura do organizador e/ou do conferente

e incorreta menção às delegações ou subdelegações de competências;

 Ausência de segregação das funções instrutória e decisória no âmbito da atribuição de prestações de desemprego, ao nível da aplicação informática, não prevenindo, assim, a ocorrência de

situações de fraude e corrupção que podem revelar-se de difícil deteção.

Legalidade

Reservas:

 Aplicação de fundos, pelo IGFSS, em depósitos bancários, com vista à obtenção de uma rendibilidade superior à proporcionada através da aplicação desses mesmos fundos junto do

IGCP, fora das condições estabelecidas no DLEO;

 Incumprimento pelo ISS da obrigação legal de comunicação à Autoridade Tributária e Aduaneira dos rendimentos pagos aos pensionistas nos casos em que não dispõe nas suas bases de dados de

informação sobre o número de identificação fiscal;

 Incumprimento da legislação comunitária e ausência de regulamentação de legislação nacional de enquadramento do Fundo de Garantia Salarial;

 Incumprimento do Decreto-Lei 67/2016 por dispensa total de juros sobre o valor do capital pago durante a vigência da medida para a modalidade de pagamento em prestações;

 Incumprimento das regras estabelecidas na Lei 90/2009 nos casos em que o cálculo do valor da pensão é superior a 12 vezes o IAS;

 Não inclusão, no cálculo de algumas pensões, de valores de remunerações em períodos em que se verifica sobreposição das mesmas, o que resulta na atribuição de pensões inferiores às devidas;

 Cálculo incorreto de valores de pensões por via da consideração de bonificações superiores ou inferiores às devidas;

 Instauração de processos executivos relativos a valores indevidamente pagos a beneficiários de prestações sociais e a pessoal em número e volume financeiro inferior ao devido;

 Ausência de instauração de processos executivos relativos a:

 Reembolso de importâncias pagas por prestações de alimentos a menores;

 Reembolso de importâncias pagas de prestações de desemprego;

 Contraordenações aplicadas a beneficiários e a estabelecimentos sem fins lucrativos;

 Dívidas provenientes de rendas de imóveis.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 438

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

414

Ênfases:

 Inexistência de diploma regulador da tesouraria única da segurança social;

 Existência de discrepâncias no quadro do financiamento;

 A conta do IGFSS e do ISSM não foram objeto de certificação legal de contas;

 Incumprimento de disposições legais relativas ao reconhecimento e registo da titularidade de imóveis e à atribuição do respetivo período de vida útil.

Correção financeira

Reservas:

 Na Conta de Execução Orçamental:

 Parte das contribuições cobradas, € 7.598 M, não se encontra imputada às diferentes classificações económicas e respetivas desagregações em função da sua origem;

 O valor de prestações sociais registado como pago inclui, indevidamente, pelo menos € 6 M de prestações devolvidas à segurança social no exercício;

 O saldo de execução orçamental está subvalorizado em cerca de € 5 M;

 Os saldos das contas bancárias relevam movimentos “por reconciliar”, no montante de € 44 M.

 No Balanço e na Demonstração de Resultados:

 Impossibilidade de validação do valor relevado nas demonstrações financeiras relativo a imóveis, por inexistência de documentação comprovativa em, pelo menos, 58,8% do valor

da amostra;

 Incorreções nas contas de imobilizado e de amortizações, em virtude, designadamente, de: Bens móveis por amortizar, apesar do período de vida útil já ter decorrido (imobilizado:

€ 673 m e amortizações: € 176 m); Bens imóveis: não relevação de valor de terreno (€ 341,3 m); relevação de imóvel por valor superior ao devido (€ 21, 4 m); inclusão na parcela de terreno dos imóveis de valores provenientes de imobilizado em curso (€ 931 m); imóveis não amortizados (€ 4,2 M); cálculo de amortizações sobre a parcela de terreno (€ 697,4 m); incorreta atribuição de vida útil aos imóveis e omissão de cálculo de amortizações extraordinárias em imóveis em mau estado de conservação e omissão de abate

de imóveis em ruínas. Todos estes factos subvalorizaram e sobrevalorizaram as amortizações

do exercício em € 98 m e € 65 m, respetivamente, e as acumuladas € 1,1 M e € 1,3 M;

 Impossibilidade de reconciliação das dívidas de contribuintes com os respetivos saldos de contas correntes; manutenção em dívida do valor de € 92,0 M que poderá ter sido pago ou prescrito; e existência de saldos contranatura relativos a juros de mora (€ 21,6 M);

 O não cumprimento do princípio da especialização do exercício relativamente aos juros vencidos até 31/12/2016 implica uma subvalorização da dívida de contribuintes em, pelo

menos, € 580 M, se se considerar apenas a dívida constituída a partir de 2011. No entanto, se for considerada toda a dívida residente em SEF (1976 a 2016) o valor é de € 2.072 M. No

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 439

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Tribunal de Contas

415

exercício de 2016 os proveitos estão, assim, subvalorizados em cerca de € 156 M e 372 M, conforme se considere um ou outro dos períodos;

 Dívidas por prestações sociais a repor contabilizadas por mais € 102 M do que o valor constante das contas correntes de beneficiários;

 Subvalorização do saldo de disponibilidades em € 8 M;

 Os saldos das contas bancárias relevam movimentos “por reconciliar”, no montante de € 44 M;

 Incorreção do valor relevado em proveitos diferidos por não especialização no exercício dos proveitos dos juros relativos a acordos prestacionais, sobrevalorizando aquela conta e

subvalorizando os proveitos do exercício em valores não quantificados;

 Os valores das provisões do exercício e acumuladas respeitantes a dívida contributiva estão subvalorizados, em valor não quantificado, por não incluírem dívida não participada a

execução fiscal, e sobrevalorizados, em valor não quantificado, por incluírem dívida que já

está paga ou está a ser regularizada por via de acordo prestacional;

 Os valores dos custos operacionais e dos proveitos extraordinários estão subvalorizados na exata medida do valor das provisões não constituídas nem revertidas por incumprimento do

princípio da não compensação no registo de prescrições, de anulação de prescrições e de

cobrança de dívida com provisões constituídas;

 Os proveitos extraordinários encontram-se subvalorizados em, pelo menos, € 156 M, relativos a juros vencidos em 2016 e não cobrados respeitantes a dívida constituída a partir

de 2011;

 Os custos extraordinários estão subvalorizados em, pelo menos, € 15 M, por ausência de registo de prescrições em 2016;

 Os resultados operacionais, financeiros, extraordinários e líquido encontram-se afetados pelas reservas supra.

22 DE DEZEMBRO DE 2017 440

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

416

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 441

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Tribunal de Contas

Ficha Técnica

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Tribunal de Contas

419

Parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2016

Juiz Conselheiro responsável pela Coordenação Geral:José Luís Pinto Almeida

Juízes Conselheiros responsáveis pela Parte A e pela Parte B, pontos 2 a 4 e 6 a 10: José Luís Pinto Almeida e Ana Margarida Leal Furtado

Juiz Conselheiro responsável pela Parte B, ponto 5: António dos Santos Carvalho

Juiz Conselheiro responsável pela Parte C: António Manuel Fonseca da Silva

Apoios técnicos

Departamento de Auditoria I

Auditora Coordenadora: Ana Furtado (até 31/10/2017);Auditores Chefes:António Marta e Francisco MoledoExecução técnica:Arabela Correia, Clarisse Wagner, Fátima Cortes, Luís Pires Cabral, Manuel Rodrigues, Margarida Gouveia, Maria

Cristina Mendes, Marília Carrilho, Rosa Maria Sequeira, Teresa Ferreira, Teresa Garrido, Teresa Nunes e Zaida Sousa

Apoio informático:Kátia Nobre

Departamento de Auditoria II

Auditor Coordenador: Luís Filipe Simões; Auditores Chefes: Maria João Caldas e Mário Tavares da Silva

Execução técnica: Ângela Maria Castro, Bella Isa Rodrigues, Dina Rocha Machado, Fátima Perfeito, Frederico Hugo Pinto, Manuela Trigo, Maria Gisela da Cunha, Maria Umbelina Pires, Miguel Abrantes, Mónica Morgado Ferreira, Nuno Miguel Rosa, Paulo Duque,

Rogério Paulo Luís, Rui Miguel Salvador e Tiago de Moura Gonçalves

Apoio informático: Ângela Maria Castro

Departamento de Auditoria III

Auditora Coordenadora: Leonor Côrte-Real Amaral; Auditor Chefe:Júlio Gomes Ferreira

Execução técnica: Ana Cristina Cabo, João Palma, Paula Martinho e Teresa Estrela Apoio Informático: Cristina Fernandes

Departamento de Auditoria VII

Auditora Coordenadora: Helena Cruz Fernandes; Auditora Chefe: Maria Luísa Rato BispoExecução técnica: Adelina do Rosário Cardoso, Ana Godinho Tavares, Arlette Costa, Graciosa Neves, Carla Rodrigues Martins, Isilda

Albuquerque Costa, Júlia Curado; Luís Carlos Martins, Maria de Fátima Costa; Maria de Nazaré Silva, e Paulo Ramos Costa

Departamento de Sistemas e Tecnologias de Informação

Diretor de Serviços: João Carlos Cardoso

Apoio informático geral: Ana França, Graças Vaz, João Paulo Amado, Paula Fonseca e Sandra Paula Sousa

Encadernação: Edgar Gouveia Lopes

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 443

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Tribunal de Contas

Principais Abreviaturas

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Tribunal de Contas

423

PRINCIPAIS ABREVIATURAS

7.º PROGRAMA

QUADRO

Sétimo Programa-Quadro de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico

AA Módulo de Gestão de Imobilizado

AC Administração central

ACL Academia das Ciências de Lisboa

ACSS Administração Central do Sistema de Saúde

AD&C Agência para o Desenvolvimento e Coesão, IP

ADFOC Anexo às Demonstrações Financeiras e Orçamentais Consolidadas

ADSE Direcção-Geral de Proteção Social aos Trabalhadores em Funções Públicas

AEOAC Acompanhamento da Execução Orçamental da Administração Central

AICEP Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, EPE

AMECO Annual Macroeconomic Indicators (Comissão Europeia)

ANA ANA – Aeroportos de Portugal, SA

AP Administrações Públicas

APFIP Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios

APH Academia Portuguesa de História

ARS Administração Regional de Saúde

ARSC Administração Regional de Saúde do Centro

ARSLVT Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo

ARSN Administração Regional de Saúde do Norte

ASECE Apoio Social Extraordinário ao Consumidor de Energia

AT Autoridade Tributária e Aduaneira

Banif Banco Internacional do Funchal

BCE Banco Central Europeu

BCP Banco Comercial Português

BdP Banco de Portugal

BDP Base de Dados dos Pensionistas

BEI Banco Europeu de Investimentos

BES Banco Espírito Santo

BF Benefício Fiscal

Bndbu Base Nacional de Dados de Beneficiários e Utentes

BNU Banco Nacional Ultramarino

BPI Banco Português de Investimento

BPN Banco Português de Negócios

BPP Banco Privado Português

BST Banco Santander Totta

BT Bilhetes do Tesouro

C/C Conta Corrente

CA Certificados de Aforro

CARRIS Companhia Carris de Ferro de Lisboa, SA

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

424

CAV Contribuição para o Audiovisual

CE Comissão Europeia

CEB Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa

CEDIC Certificados Especiais de Dívida de Curto Prazo

CEDIM Certificados Especiais de Dívida de Médio e Longo Prazo

CEMG Caixa Económica do Montepio Geral

CEP Tempo de Serviço Militar em Condições Especiais de Serviço

CERDP Classificador Económico das Receitas e das Despesas Públicas

CES Contribuição Extraordinária de Solidariedade

CFP Conselho das Finanças Públicas

CGA Caixa Geral de Aposentações, IP

CGD Caixa Geral de Depósitos

CGE Conta Geral do Estado

CHLC Centro Hospital de Lisboa Central, EPE

CIBE Cadastro e Inventário dos Bens do Estado

CIFRE Comissão Interministerial de Financiamento a Retornados

CMVM Comissão do Mercado Valores Mobiliários

CNIS Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade

CNP Centro Nacional de Pensões

CoCos Obrigações subordinadas de conversão contingente

CP Comboios de Portugal, EP

CP Curto Prazo

CPA Código do Procedimento Administrativo

CPN Comparticipação Pública Nacional

CRC Conservatória do Registo Comercial

CRCSPSS Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de segurança Social

CRP Constituição da República Portuguesa

CRP Certificados de Renda Perpétua

CSC Código das Sociedades Comerciais

CSI Complemento Solidário para Idosos

CSS Conta da Segurança Social

CT Certificados do Tesouro

CT Contabilidade do Tesouro

CTPM Certificados do Tesouro Poupança Mais

CTT Correios de Portugal, SA

CVM Código dos Valores Mobiliários

DF Despesa Fiscal

DF Demonstrações Financeiras

DGADR Direção-Geral da Agricultura e Desenvolvimento Regional

DGAL Direção-Geral das Autarquias Locais

DGE Direção-Geral da Educação

DGESTE Direção-Geral dos Equipamentos Escolares

DGO Direção-Geral do Orçamento

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Tribunal de Contas

425

DGPC Direção-Geral do Património Cultural

DGTC Direção-Geral do Tribunal de Contas

DGTF Direção-Geral do Tesouro e Finanças

DL Decreto-Lei

DLEO Decreto-Lei de Execução Orçamental

DP Depósito a Prazo

DR Diário da República

DR Declarações de Remunerações

DRAGAPOR Dragagens de Portugal, SA

DRAPN Direção-Regional da Agricultura e Pescas do Norte

DRCC Direção Regional de Cultura do Centro

EC-CS Módulo de Consolidação – Consolidação Financeira

ECE Entidade Contabilística Estado

Ecofin Economic and Financial Affairs Council

EDIA Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva, SA

EE Entidade Empregadora

EMPORDEF Empresa Portuguesa de Defesa (SGPS), SA

ENE Entidades não Empregadoras

ENMC Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis

ENVC Estaleiros Navais de Viana do Castelo

EP Empresa Pública

EPE Entidade Pública Empresarial

EPR Entidade Pública Reclassificada

EQ-QREN Empréstimo Quadro – Quadro de Referência Estratégico Nacional

ERASMUS+ Programa da UE para a Educação, a Formação, a Juventude e o Desporto

ESPAP Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública

ESTAMO Participações Imobiliárias, SA

EUA Estados Unidos da América

EURATOM Comunidade Europeia da Energia Atómica

FAM Fundo de Apoio Municipal

FBCF Formação Bruta de Capital Fixo

FCGM Fundo de Contragarantia Mútuo

FCR Fundo de Capital de Risco

FCR Fundo de Certificados de Reforma

FCT Fundo de Compensação do Trabalho

FdR Fundo de Resolução

FEA Fundo de Estabilização Aduaneiro

FEAC Fundo de Auxílio Europeu às Pessoas mais Carenciadas

FEADER Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural

FEAGA Fundo Europeu Agrícola de Garantia

FEAMP Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas

FEDER Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

FEEF Fundo Europeu de Estabilidade Financeira

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 447

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

426

FEEI Fundos Europeus Estruturais e de Investimento

FEF Fundo Equilíbrio Financeiros

FEFSS Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social

FEOGA Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola

FEP Fundo Europeu das Pescas

FESSPBC Fundo Especial de Segurança Social dos Profissionais de Banca dos Casinos

FET Fundo de Estabilização Tributário

FFF Fundo Financiamento das Freguesias

FGCAM Fundo de Garantia do Crédito Agrícola Mútuo

FGD Fundo de Garantia de Depósitos

FGS Fundo de Garantia Salarial

FLAD Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento

FMI Fundo Monetário Internacional

FPC Fundo Português de Carbono

FRCP Fundo de Reabilitação e Conservação Patrimonial

FRDP Fundo de Regularização da Dívida Pública

FSE Fundo Social Europeu

FSM Fundo Social Municipal

FSS Fundo de Socorro Social

GAFC Gestão Administrativa e Financeira da Cultura

GC Gestão de Contribuintes

GESTNAVE GESTNAVE – Serviços Industriais, SA

GIL Gare Intermodal de Lisboa

GNR Guarda Nacional Republicana

GR Gestão de Remunerações

HORIZONTE 2020 Programa-Quadro Comunitário de Investigação e Inovação

IAPMEI Agência para a Competitividade e Inovação, IAPMEI, IP

IAS Indexante de Apoios Sociais

idD Indústrias de Defesa Nacional

IDQ Subsistema de Identificação e Qualificação

IEFP Instituto do Emprego e Formação Profissional

IFAP Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas, IP

IFD Instituição Financeira de Desenvolvimento, SA

IFOP Instrumento Financeiro de Orientação da Pesca

IGCP Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, IGCP, EPE

IGFCSS Instituto de Gestão dos Fundos de Capitalização da Segurança Social, IP

IGFEJ Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça, IP

IGFSS Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, IP

IHPC Índice Harmonizado de Preços no Consumidor

IHRU Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, IP

II Instituto de Informática, IP

IMT Instituto da Mobilidade e dos Transportes

INAC Autoridade Nacional Aviação Civil

22 DE DEZEMBRO DE 2017 448

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Tribunal de Contas

427

INCM Imprensa Nacional Casa da Moeda

INDEP Indústrias Nacionais de Defesa, EP

INE Instituto Nacional de Estatística

INEM Instituto Nacional de Emergência Médica

IP Infraestruturas de Portugal, SA

IP Instituto Público

IPC Índice de Preços no Consumidor

IPO Instituto Português de Oncologia

IPSS Instituições Particulares de Solidariedade Social

IRC Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas

IRS Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

ISS Instituto da Segurança Social, IP

ISSA Instituto da Segurança Social nos Açores, IPRA

ISSM Instituto da Segurança Social da Madeira, IP-RAM

IVA Imposto sobre o Valor Acrescentado

LBSS Lei de Bases da Segurança Social

LEO Lei de Enquadramento Orçamental

LOE Lei do Orçamento do Estado

M Milhões

m Milhares

MA Ministério do Ambiente

MARCONI Companhia Portuguesa Rádio Marconi, SA

MCTES Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

MDN Ministério da Defesa Nacional

ME Ministério da Educação

MEE Mecanismo Europeu de Estabilidade

MF Ministério das Finanças

MJ Ministério da Justiça

MLP Médio e Longo Prazo

MM Manutenção Militar – Gestão Partilhada, EPE

MPI Ministério do Planeamento e das Infraestruturas

MTSSS Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social

n.a. Não aplicável

NAV Navegação Aérea de Portugal, EPE

NB Novo Banco

NIB Número de Identificação Bancária

NIC Número de Identificação Civil

NIF Número de Identificação Fiscal

NISS Número de Identificação da Segurança Social

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

OE Orçamento do Estado

OMP Objetivo de Médio Prazo

OPART Organismo de Produção Artística, EPE

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 449

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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OSS Orçamento da Segurança Social

p.p. Pontos Percentuais

PAE Políticas Ativas de Emprego

PAEF Programa de Assistência Económica e Financeira

PAIC Programas de Ação de Iniciativa Comunitária

PAR Programa de Financiamento a Arrendatários Rurais

Parpública Párpublica – Participações Públicas SGPS, SA

PCGE Parecer sobre a Conta Geral do Estado

PCSS Parecer da Conta da Segurança Social

PDE Procedimento dos Défices Excessivos

PDR 2020 Programa de Desenvolvimento Rural do continente 2014-2020

PE Programa de Estabilidade

PEC Pacto de Estabilidade e Crescimento

PERES Programa Especial de Redução do Endividamento ao Estado

PES Programa de Emergência Social

PIB Produto Interno Bruto

PLC Public limited company

PME Pequena e Média Empresa

PO Programa Orçamental

POAPMC Programa operacional de apoio às pessoas mais carenciadas

POCISSSS Plano Oficial de Contabilidade das Instituições do Sistema de Solidariedade e de

Segurança Social

POCP Plano Oficial de Contabilidade Pública

PORTUGAL 2020 Acordo de Parceria entre Portugal e a CE 2014-2020

PPO Projeto de Plano Orçamental

PPP Parcerias Público-Privadas

PRODER Programa de Desenvolvimento Rural

PRODERAM Programa de Desenvolvimento Rural da Região Autónoma da Madeira

PROMAR Programa Operacional Pesca

PRORURAL Programa de Desenvolvimento Rural da Região Autónoma dos Açores

PSP Polícia de Segurança Pública

PSPP Public Sector Purchase Programme

QCA Quadro Comunitário de Apoio

QPPO Quadro Plurianual de Programação Orçamental

QREN Quadro de Referência Estratégica Nacional

RAM Região Autónoma da Madeira

RCGE Relatório da Conta Geral do Estado

RDP Rádio Difusão Portuguesa

Rede Rural Programa da Rede Rural Nacional

REFER Rede Ferroviária Nacional – REFER, EPE

RGSS Regime Geral da Segurança Social

RNB Rendimento Nacional Bruto

RNC Regime não contributivo

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Tribunal de Contas

429

ROE Relatório do Orçamento do Estado

RSI Rendimento Social de Inserção

RTE Regime da Tesouraria do Estado

RTP Rádio e Televisão de Portugal, SA

SCML Santa Casa de Misericórdia de Lisboa

SD Subsídio de Desemprego

SEAJ Secretária de Estado Adjunta e da Justiça

SEATF Secretário de Estado Adjunto do Tesouro e Finanças

SEF Sistema de Execuções Fiscais

SEO Saldo de Execução Orçamental

SESS Secretária de Estado da Segurança Social

SFA Serviços e Fundos Autónomos

SFAC Serviços e Fundos da Administração Central

SGM Sociedade de Garantia Mútua

SGMDM Secretaria Geral do Ministério da Defesa Nacional

SGPS Sociedade Gestora de Participações Sociais

SGR Sistema de Gestão de Receitas

SI Serviços Integrados

SICC Sistema Integrado de Conta Corrente

SIF Sistema de Informação Financeira

SIGO Sistema de Informação de Gestão Orçamental

SII Sistema de Indemnização aos Investidores

SIIE Sistema de Informação de Imóveis do Estado

SIP Sistema Integrado de Pensões

SMP Securities Market Programme

SNC-AP Sistema de Normalização Contabilística para as Administrações Públicas

SNS Serviço Nacional de Saúde

SPE Sector Público Empresarial

SPGM SPGM Sociedade de Investimentos, SA

SPMS Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, EPE

SS Segurança Social

SSD Subsídio Social de Desemprego

SSS Sistema de Segurança Social

STCP Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, SA

t.v. Taxa de variação

TCMA Taxa de Crescimento Média Anual

TdC Tribunal de Contas

TIR Taxa Interna de Rendibilidade

TLP Ex-Caixa de Previdência do Pessoal dos Telefones de Lisboa e Porto

Tmvh Taxa média de Variação Homóloga

Tvh Taxa de variação homóloga

TWRR Time Weighted Rate of Return

UE União Europeia

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 451

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PARECER SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2016

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UEM União Económica e Monetária

UE-SILC UE-Statistics on Income and Living Conditions

UM União das Misericórdias

UMP União das Mutualidades Portuguesas

UniLEO Unidade de Implementação da LEO

USD Dólar dos Estados Unidos

UTAM Unidade Técnica de Acompanhamento e Monitorização do Setor Público Empresarial

UTAP Unidade Técnica de Acompanhamento de Projetos

UTE Unidade da Tesouraria do Estado

Vh Variação homóloga

22 DE DEZEMBRO DE 2017 452

Página 453

Tribunal de Contas

ANEXOS

Página 454

Tribunal de Contas

Anexo I

Página 455

Tribunal de Contas

435

ANEXO I - ENTIDADES A QUEM O ANTEPROJETO FOI ENVIADO, MATÉRIA CORRESPONDENTE E APRESENTAÇÃO DE ALEGAÇÕES

Matéria Entidade

Resposta Observações

Sim Não Com alegações Sem comentários

1. Enquadramento Macroeconómico

Ministro das Finanças X X

2. Orçamento do Estado

Ministro das FinançasX X

Direção-Geral do Orçamento X X

3.2. Receita

Ministro das Finanças X X

Direção-Geral do Orçamento X X

Autoridade Tributária e Aduaneira X X

Direção-Geral do Tesouro e Finanças X X

Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública - IGCP

X X

Caixa 2 “Atividade dos Fundos de Estabilização Tributário eAduaneiro

Ministro das Finanças X X

Direção-Geral do Orçamento X X

Autoridade Tributária e Aduaneira e Fundo de Estabilização Tributário

X X

3.3. Despesa

Ministro das FinançasX X

Direção-Geral do Orçamento X X

3.4.Consolidação (Administração Central)

Ministro das Finanças X X

Direção-Geral do Orçamento X X

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 455

Página 456

436

Matéria Entidade

Resposta Observações

Sim Não Com alegações Sem comentários

4.1. Dívida Financeira

Ministro das FinançasX X

Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública - IGCP

X X

Direção-Geral do Orçamento X X

Agência para o Desenvolvimento e Coesão

X X

Comboios de Portugal X X

Defaerloc X

Defloc - Locação de Equipamentos de Defesa

X

Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva

X

Entidade Nacional Mercado de Combustíveis

X X

Estamo X X

Fundo de Apoio Municipal X X

Fundo de Resolução X X

Fundo Garantia Crédito Agrícola Mútuo X X

Fundo Garantia Depósitos X X

Gil – Gare Intermodal de Lisboa X X

Infraestruturas de Portugal X X

Marina Parque das Nações X

Metropolitano de Lisboa X X

Parparticipadas/Parvalorem/Parups X X

Parpública X X

Parque Escolar X X

Radio e Televisão de Portugal X X

Sagesecur X X

Serviços Partilhados Ministério da Saúde

X X

Sociedade Portuguesa Empreendimentos

X

Transtejo X X

Wolfpart X X

4.2. Garantias do Estado

Ministro das Finanças X X

Direção-Geral do Tesouro e Finanças X X

SPGM – Sociedade de Investimento X X

Companhia de Seguros de Crédito X X

Caixa 3” Custos Públicos Associados a Linhas de Crédito com Garantia Mútua (2008-2016)

PME Investimentos – Sociedade de Investimento

X X

SPGM – Sociedade de Investimento X X

4.3. Dívida não financeira Ministro das Finanças X X

Direção-Geral do Orçamento X X

22 DE DEZEMBRO DE 2017 456

Página 457

Tribunal de Contas

437

Matéria Entidade

Resposta Observações

Sim Não Com alegações Sem comentários

5. Fluxos financeiros com a UE

Ministro das Finanças X X

Direção-Geral do Orçamento X X

Autoridade Tributária e Aduaneira X X

Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP

X X

Agência para o Desenvolvimento e Coesão

X X

Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas

X X

Comissão de Coordenação Nacional do FEADER

X

Comissão de Coordenação do FEAMP X X

6. Fluxos financeiros entre o Orçamento do Estado e o sector Público Empresarial

Ministro das FinançasX X

Direção-Geral do Orçamento X X

7. Fluxos financeiros com as Regiões Autónomas e com as Autarquias Locais

Ministro das FinançasX X

Direção-Geral do Orçamento X X

8.1. Benefícios fiscais

Ministro das Finanças X X

Direção-Geral do Orçamento X X

Autoridade Tributária e Aduaneira X X

Conselho de Coordenação dos Incentivos Fiscais ao Desenvolvimento

X

8.2. Subsídios e outros apoios financeiros não reembolsáveis

Ministro das FinançasX X

Direção-Geral do Orçamento X X

Caixa 5 “Apoios ao setor financeiro”

Ministro das FinançasX X

9.1. Património financeiro

Ministro das FinançasX X

Direção-Geral do Tesouro e Finanças X X

Direção-Geral do Orçamento X X

SPGM/Fundo Contragarantia Mútuo X X

Comboios de Portugal X X

Parvalorem/Parups X X

Caixa Seguros Saúde X X

Universidade do Porto X X

AICEP Portugal Global X X

Instituto Português Oncologia de Coimbra Francisco Gentil de Coimbra

X X

Fundo de Estabilização Aduaneiro X X

Parcaixa X X

Empresa de Ambiente na Saúde, Tratamento de Resíduos Hospitalares

X X

Centro Hospitalar de Lisboa Central X X

Wolfpart X X

Agência para o Desenvolvimento e Coesão

X X

Fundo Português de Carbono X X

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 457

Página 458

438

Matéria Entidade

Resposta Observações

Sim Não Com alegações Sem comentários

9.1. Património financeiro

Unidade Local de Saúde de Matosinhos X X

Comissão do Mercado de Valores Mobiliários

X X

Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública

X

Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento

X

Serviços de Ação Social da UNL X

IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação

X

Fundo de Resolução X

Empordef X

Fundo de Reestruturação do Setor solidário

X

Laboratório Nacional de Energia e Geologia

X

Caixa 6 – Saldo das receitas e das despesas Orçamentais relativas ao BPN

Ministro das Finanças X X

Direção-Geral do Tesouro e Finanças X X

Parvalorem X X

9.2. Património Imobiliário

Ministro das Finanças X X

Direção-Geral do Orçamento X X

Direção-Geral do Tesouro e Finanças X X

Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública

X X

10. Operações de Tesouraria

Ministro das Finanças X X

Direção-Geral do Orçamento X X

Direção-Geral do Tesouro e Finanças X X

Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública

X X

Caixa 7 – Atividade do Fundo de Resolução

Ministro das Finanças X X

Direção-Geral do Orçamento X X

Fundo de Resolução X X

Conta da Segurança Social 11. Enquadramento

Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social

X

Ministro das Finanças X X

Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social

X X

Instituto da Segurança Social X X

Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social

X

Instituto de Informática X X

Instituto da Segurança Social dos Açores, IPRA

X X

Instituto da Segurança Social da Madeira, IP-RAM

X X

Direção-Geral do Orçamento X X

22 DE DEZEMBRO DE 2017 458

Página 459

Tribunal de Contas

439

Matéria Entidade

Resposta Observações

Sim Não Com alegações Sem comentários

Conta da Segurança Social 12. Orçamento e conta

Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social

X

Ministro das Finanças X X

Ministro da Saúde X X

Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural

X

Ministro dos Negócios Estrangeiros X

Vice-Presidente do Governo Regional dos Açores

X

Município de Braga X

Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social

X X

Instituto da Segurança Social X X

Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social

X

Instituto de Informática X X

Instituto da Segurança Social dos Açores, IPRA

X X

Instituto da Segurança Social da Madeira, IP-RAM

X X

Direção-Geral do Orçamento X X

Direção-Geral do Tesouro e Finanças X X

IP Património X X

Comissão Executiva das Linhas de Crédito de Apoio à Economia Social

X X

Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade

X X

Conta da Segurança Social 13. Análise complementares

Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social

X

Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social

X X

Instituto da Segurança Social X X

Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social

X

Instituto de Informática X X

Instituto da Segurança Social dos Açores, IPRA

X X

Instituto da Segurança Social da Madeira, IP-RAM

X X

Instituto de Emprego e Formação Profissional

X X

Caixa 8 – Caixa Geral de Aposentações

Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social

X

Caixa Geral de Aposentações X

14. Consolidação (Estado e Segurança Social)

Ministro das Finanças X X

Direção-Geral do Orçamento X X

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 459

Página 460

Tribunal de Contas

Anexo II

Página 461

Tribunal de Contas

Respostas dos serviços e entidades nos termos do disposto no n.º 3

do artigo 73.º da Lei de Enquadramento Orçamental

Página 462

Tribunal de Contas

1. Enquadramento

Macroeconómico

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II SÉRIE-A — NÚMERO 46 463

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Tribunal de Contas

2. Orçamento do Estado

Página 467

453

a) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 1 - ofício n.º 1850 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

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Tribunal de Contas

3. A execução orçamental

(CGE)

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474

b) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 9 - ofício n.º 1946 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

c) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 9 - ofício n.º 976 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

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Tribunal de Contas

4. A Dívida Pública

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Página 541

Tribunal de Contas

5. Fluxos Financeiros com a

União Europeia

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II SÉRIE-A — NÚMERO 46 553

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Tribunal de Contas

6. Fluxos Financeiros entre o

Orçamento do Estado e o

Sector Público Empresarial

Fluxos Financeiros com o

Sector Público Empresarial e

Fundacional

Página 555

547

a) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 1 - ofício n.º 1850 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

b) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 1 - ofício n.º 927 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 555

Página 556

Tribunal de Contas

7. Fluxos Financeiros com as

Regiões Autónomas e com as

Autarquias Locais

Página 557

551

a) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 1 - ofício n.º 1850 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

b) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 2 - ofício n.º 927 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 557

Página 558

Tribunal de Contas

8. Benefícios Fiscais;

Subsídios; e outras formas de

apoio

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Página 567

563

a) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 1 - ofício n.º 1850 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

b) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 1 - ofício n.º 927 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 567

Página 568

Tribunal de Contas

9. Património do Estado

Página 569

567

d) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 4 - ofício n.º 1919 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

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570

e) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 4 - ofício n.º 943 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

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591

f) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 4 - ofício n.º 1919 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

II SÉRIE-A — NÚMERO 46 593

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g) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 4 - ofício n.º 1797 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

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Tribunal de Contas

10. Operações de Tesouraria

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Tribunal de Contas

14. Consolidação das Contas

(Estado e Segurança Social)

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h) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 3 - ofício n.º 1939 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

i) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 3 - ofício n.º 969 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

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Tribunal de Contas

Índices

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Tribunal de Contas

INDÍCE

Anexos –………………………….………………………………………………………………………………... 431

Anexo I –…………………………………………………………………………………………………………... 433

Anexo II –……………………………………………………………………………………………...................... 441

1 – Enquadramento Macroeconómico ………………………………………………………………………... 445

 Ministro das Finanças ………………………………………...………………………………………….. 447

2 – Orçamento do Estado ……………………………………………………………………………….…....... 451

 Ministro das Finanças ……………………………………………...…………………………………….. a)

 Direção-Geral do Orçamento ……………………………………….………………………………….... 454

3 – A Execução Orçamental ………………………………………………………………………………........ 457

 Ministro das Finanças (ponto 3.2) …………………………………………………………………..……. 459

 Direção-Geral do Orçamento (ponto 3.2) ………………………………………………………….…….. 460

 Autoridade Tributária e Aduaneira (ponto 3.2) ………………………………………………………..…. 464

 Direção-Geral do Tesouro e Finanças (ponto 3.2) …………………………………………………..…… 472

 Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (ponto 3.2) ……………………………………….. 473

 Ministro das Finanças (caixa2) ………………………………..……………………………………...….. b)

 Direção-Geral do Orçamento (caixa2) ………………………..……………………………………...….. c)

 Autoridade Tributária e Aduaneira e Fundo de Estabilização Tributário (caixa2) …………………...….. 475

 Ministro das Finanças (pontos 3.3 e 3.4) ………………………………………….……………….......... 476

 Direção-Geral do Orçamento (pontos 3.3 e 3.4) ………………………………………………………… 478

4 – A Dívida Pública …………………………………………………………………………………………..... 485

 Ministro das Finanças (pontos 4.1 e 4.3) ………………………………………………….…………….. 487

 Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (ponto 4.1) ……………………………………… 489

 Direção-Geral do Orçamento (pontos 4.1 e 4.3) ………………………………………….……………... 492

 Agência para o Desenvolvimento e Coesão (ponto 4.1) …………………………………………….. 494

 Comboios de Portugal (ponto 4.1) …………………………………...………………………….…….. 495

 Entidade Nacional Mercado de Combustíveis (ponto 4.1) …………………………………………... 496

 Estamo (ponto 4.1) …………………………………………………......……………………………….. 498

 Fundo de Apoio Municipal (ponto 4.1) ……………………………………………………………….. 499

 Fundo de Resolução (ponto 4.1) …………………………………………...………………....……….. 501

 Fundo Garantia Crédito Agrícola Mútuo (ponto 4.1) …………………………………………....….. 503

 Fundo Garantia de Depósitos (ponto 4.1) ………………………………….…………...…………….….. 505

 Gil – Gare Intermodal de Lisboa (ponto 4.1) …………………………….......………………....……….. 507

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 Infraestruturas de Portugal (ponto 4.1) ……………………………………………...………….….…….. 508

 Metropolitano de Lisboa (ponto 4.1) ……………………………………………...……………….....….. 509

 Parparticipadas/Parvalorem/Parups (ponto 4.1) …………….…………….……….……….…...…….…. 510

 Parpública(ponto 4.1) ……………………………………………….………………………...…………. 513

 Parque Escolar (ponto 4.1) …………….…………………………………………………….…………... 514

 Rádio e Televisão de Portugal (ponto 4.1) ………………………………………………………………. 516

 Sagesecur (ponto 4.1) ………………………………………………….….…………………..…………. 517

 Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (ponto 4.1) …………….………………………………….. 518

 Transtejo (ponto 4.1) …………………………………………………………………………………….. 519

 Wolfpart (ponto 4.1) ……………………………………….…………………………………………….. 520

 Ministro das Finanças (ponto 4.2) ……………………………………………………………………….. 521

 Direção-Geral do Tesouro e Finanças (ponto 4.2) ……………………………………………….............. 523

 SPGM – Sociedade de Investimento (ponto 4.2) ………………………………………………................ 524

 Companhia de Seguros de Crédito (ponto 4.2) ………………………………………….......................... 527

 PME Investimentos – Sociedade de Investimento (Caixa3) …………………………….…………......... 528

 SPGM – Sociedade de Investimento (caixa3) …………………………………………………................ 529

5 – Fluxos financeiros com a União Europeia ………………………………………………………………… 531

 Ministro das Finanças …………..………………………………………………………………………... 533

 Direção-Geral do Orçamento ……………………………………………………………………………. 534

 Autoridade Tributária e Aduaneira …………………...………………………………………………….. 537

 Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública ………………………….……………………….. 539

 Agência para o Desenvolvimento e Coesão ………………………………………………………........... 541

 Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas …………………………….……………………….. 543

 Comissão de Coordenação do FEAMP …………………………………………………………..….. 544

6 – Fluxos Financeiros entre o OE e o SPE …………………………………………………………………… 545

 Ministro das Finanças ……………...…………………………………………………………………….. a)

 Direção-Geral do Orçamento ……………………………………………………………………………. b)

7 – Fluxos financeiros com as Regiões Autónomas e com as Autarquias Locais …………………………… 549

 Ministro das Finanças …………………………………………………………...……………………….. a)

 Direção-Geral do Orçamento ……………………………………………………………………………. b)

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Tribunal de Contas

8 – Benefícios fiscais; Subsídios e outras formas de apoio ………………………………………………… 553

 Ministro das Finanças (ponto 8.1) ……………………………………………………………………….. 555

 Direção-Geral do Orçamento (ponto 8.1) ………………………………………………………………... 556

 Autoridade Tributária e Aduaneira (ponto 8.1) ………………………….………………………………. 557

 Ministro das Finanças (ponto 8.2) ……………………………………………………………………….. a)

 Direção-Geral do Orçamento (ponto 8.2) ………………………………………………………………... b)

 Ministro das Finanças (caixa 5) ………………………………………………………………………….. a)

9 – Património do Estado …………………………………………………………………………………….. 565

 Ministro das Finanças (ponto 9.1) ………………………………………………………………………... d)

 Direção-Geral do Tesouro e Finanças (ponto 9.1) ……………………………………………...………... 568

 Direção-Geral do Orçamento (ponto 9.1) ……………………………………………………….……….. e)

 SPGM/Fundo Contragarantia Mútuo (ponto 9.1) …………………………………………...…………… 571

 Comboios de Portugal (ponto 9.1) ………………………………………………………………...…...… 572

 Parvalorem/Parups (ponto 9.1) ……………………………………………………………………..……. 573

 Caixa Seguros Saúde/Parcaixa (ponto 9.1) ……………………………………………………..……...... 575

 Universidade do Porto (ponto 9.1) ……………………………………………………………………..... 576

 AICEP Portugal Global (ponto 9.1) ……………………………………………………………………… 578

 Instituto Português Oncologia de Coimbra Francisco Gentil de Coimbra (ponto 9.1) ……………...…… 582

 Fundo de Estabilização Aduaneiro (ponto 9.1) ……………………………………………………….….. 583

 Empresa de Ambiente na Saúde, Tratamento de Resíduos Hospitalares (ponto 9.1) ……………………. 587

 Centro Hospitalar de Lisboa Central (ponto 9.1) ………………………………………………………… 588

 Wolfpart (ponto 9.1) ………………………………………………………………………………….….. 589

 Agência para o Desenvolvimento e Coesão (ponto 9.1) ………………………………………………… f)

 Fundo Português de Carbono (ponto 9.1) ………………………………………………………………... 592

 Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ponto 9.1) ……………………………………………….…….. 593

 Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (ponto 9.1) ……………………………………………... 594

 Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (ponto 9.1) ……………………………………….. 599

 Ministro das Finanças (caixa 6) ……………………………………………………………....………….. g)

 Direção-Geral do Tesouro e das Finanças (caixa 6) ………………….…………....…………………….. 601

 Parvalorem (caixa 6) ……………………………………………………………....………………….….. 605

 Ministro das Finanças (ponto 9.2) ……………………………………………………………………….. 608

 Direção-Geral do Orçamento (ponto 9.2) ………………………………………………………...……… 614

10 – Operações de Tesouraria…………………………………………………………………..………….….. 621

 Ministro das Finanças ……………………………………………………………………………...…….. 623

 Direção-Geral do Orçamento ………………………………………………………………..………….. 624

 Direção-Geral do Tesouro e Finanças ……………………………………………………………………. 628

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 Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública …………..…………………………………. 634

11 a 11 a 13 – Segurança Social …………………………………………….……………………………………. 641

 Ministro das Finanças …………..…………………………………………………………………... 643

 Ministro da Saúde ……..………..…………………………………………………………………... 645

 Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social ……………………………………………….. 646

 Instituto da Segurança Social ………………………………………………………………………. 679

 Instituto de Informática …………………………………………………………………………….. 694

 Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social dos Açores …………………………………… 703

 Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social da Madeira …………………………………… 708

 Direção-Geral do Orçamento ………………………………………………………………………. 709

 Direção-Geral do Tesouro e Finanças ….…………………………………………………………… 711

 Instituto de Emprego e Formação Profissional….……………………………………………..…… 712

 Instituto Português Património ………………………………………………………………..…… 714

 Comissão Executiva das Linhas de Crédito de Apoio à Economia Social ….………………. 716

 Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade ………………………….………... 722

14 –Consolidação das Contas (Estado e Segurança Social) ……………………………………………… 725

 Ministro das Finanças ……………………………………………………………………………… h)

 Direção-Geral do Orçamento ………………………………………………………………………. i)

a) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 1 - ofício n.º 1850 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

b) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 9 - ofício n.º 1946 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

c) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 9 - ofício n.º 976 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

d) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 4 - ofício n.º 1919 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

e) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 4 - ofício n.º 943 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer

f) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 4 – email com n.º entrada 17490 da entidade no

qual apresenta alegações de outros pontos do Parecer.

g) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 4 - ofício n.º 1797 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

h) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 3 - ofício n.º 1939 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

i) Ver resposta ao contraditório constante do ponto 3 - ofício n.º 969 da entidade no qual apresenta

alegações de outros pontos do Parecer.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

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