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16 DE MAIO DE 2018

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Já diversos estudos16 vieram a confirmar que a exposição das crianças a violência explícita provoca efeitos

significativos nas mesmas, daí as restrições previstas na legislação quanto a outros espetáculos de natureza

artística. Ocorre também um efeito de dessensibilização face à violência, que pode levar a que os menores

passem a ver a violência como uma forma vulgar de solucionar problemas, acabando por poder levar à

verificação de comportamentos desviantes. Por outro lado, a promoção de atitudes de afeto para com os

animais não humanos tem demonstrado ser benéfica para o desenvolvimento das crianças, que passam a

entender os animais humanos e não humanos com mais respeito e dignidade.

5 – Do sofrimento

E se até aqui temos versado apenas sobre fatores externos à lide, a verdade é que muito há a dizer sobre

esta em concreto e o impacto que a mesma provoca nos animais.

Em 1842, José Feliciano de Castilho, jornalista, escritor, advogado e deputado da nação referia-se da

seguinte forma à tourada: “Houve concurso numerosíssimo, em despeito da inclemência do dia – 14 animais

atormentados – um dos homens de forcado morto, ou pouco menos, um cavaleiro despejado da sela, dez

homens maltratados e escorrendo em sangue – e por sobre isto tudo as gritas de uma multidão selvagem. O

espetáculo de morte era presidido e dirigido pela autoridade pública, cuja missão devera ser a de tutelar os

mais preciosos tesouros, moral, costumes, sentimentos, civilização”.

Ainda assim aquela descrição peca por defeito pois a barbárie a que o touro é sujeito tem início horas antes

e termina muito depois do fim do evento.

No transporte, as manobras a que o touro é submetido no trajeto do campo até à arena provocam stresse

emocional que se traduz pela libertação de adrenalina e por uma depleção de glicogénio (substrato energético)

na ordem dos 75%17, diminuindo a glucose a valores muito abaixo dos que se supõem necessários para que

um organismo aguente uma lide comum. Aumentam também os valores do cortisol, a chamada hormona do

stresse e de creatina-quinase, enzima específica dos músculos, cujos níveis altos indicam trauma muscular

devido a lesão ou excesso de esforço físico18.

A embolação, ou seja, o corte das hastes, que ocorre antes do início da corrida é um dos procedimentos de

maneio que mais stresse causa aos animais, pela imobilização e manipulação forçadas e pela dor que

provoca.

Já na arena, à medida que decorre a lide a visão do touro vai-se debilitando, pois, o estado de stresse e de

lacrimejamento produzidos durante a prova intervém no sentido de provocar uma visão menos nítida ao animal

com provável defeito de acomodação pupilar, que diminui a capacidade de visão ao perto, tornando-o mais

vulnerável.

A somar a todas estas experiências, já por si extremamente negativas em termos do bem-estar do animal,

há a considerar a dor provocada pelas lesões dos tecidos em virtude da sua perfuração pelas bandarilhas.

Durante a lide o touro vai dando sinais do seu sofrimento, estando os mesmos devidamente documentados,

tais como a abertura da boca, a respiração ofegante e mesmo a queda dos animais19.

O touro é um animal senciente, como de resto a lei civil já estatui, e como tal capaz de sentir dor. Importa

referir que, até hoje, não existe nenhum estudo, idóneo e cientificamente comprovado, que prove o contrário –

que o touro não sente dor ou que goza momentos de imunidade à mesma. A dor é um mecanismo

extraordinariamente importante para a sobrevivência de qualquer animal. Se um animal não sentir dor, não

evitará o perigo. A seleção genética destes animais não os tornou imunes à dor simplesmente porque tal não

seria sequer possível, o que sucede é que o touro não expressa a dor como o fazem os carnívoros ou o

Homem. Os touros raramente vocalizam ou se agitam e isso é resultado da evolução e da adaptação ao

ambiente ao longo de milhões de anos e é transversal a todos os bovinos e demais ruminantes – dado que

estes animais eram a presa natural de muitos predadores sobreviveram aqueles que melhor disfarçavam os

sinais de dor, dessa forma os predadores não os achavam débeis e desistiam de os perseguir e atacar20.

15 Adotada pela Assembleia Geral nas Nações Unidas em 20 de Novembro de 1989 e ratificada por Portugal em 21 de Setembro de 1990. 16 Browne & Hamilton, 2005; Bartholow, Sestir & Davis, 2005; Fitzpatrick, C. Bernett, T. & Pagani, 2012; Edenburg & Van Lith, 2011. 17 A Muñoz, El Aguera, F Castejón. Patrón de depleción glucogénica y respuesta metabólica muscular a la lidia en toros bravos. Analecta Veterinaria 2007; 27 (2) 18 Lefebvre e colaboradores, 1996 citados por Grigor et al., 2004 19 Cotzee, Hans 2007, Pain Management in Cattle 20 Cotzee, Hans 2007, Pain Management in Cattle

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