O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

21 DE JUNHO DE 2019

53

Cortiça, uma riqueza

No entanto, subsistem fortes razões ambientais, paisagísticas, sociais e culturais para que se procure travar

a enorme redução das áreas de montado bem como da sua densidade.

Em termos económicos, pela produção de cortiça, um mercado muito antigo que teve início nas boias para

as redes de pesca. Como a generalidade dos países não tem clima favorável à produção de cortiça, era

exportada do espaço geográfico correspondente ao de Portugal, sobretudo para os países do centro e norte da

Europa já, certamente, desde tempos anteriores aos da independência de Portugal.

Com o desenvolvimento das transações comerciais na Europa, alargou-se muito o comércio de vinho de

qualidade em garrafas de vidro vedadas com rolhas de cortiça. Nasceu então um novo mercado, a acrescer à

ancestral utilização da cortiça em boias.

Pelos fins do século 19, a cortiça começou a ser usada no isolamento térmico de instalações frigoríficas para

armazenamento e transporte de mercadorias perecíveis.

Assim, a procura de cortiça foi crescendo, com benefício para a economia do montado e do país.

Todavia, com o desenvolvimento da química, a cortiça passou a ser substituída progressivamente por

plásticos. No caso das rolhas, o plástico veio resolver o velho problema do TCA no vinho (sabor a rolha).

No entanto, a investigação aplicada, ao eliminar o TCA no vinho com rolhas de cortiça, a par da crescente

revalorização do uso de produtos naturais, permitiu reganhar e alargar mercados, recuperando a economia do

setor. Atualmente a cortiça de qualidade média tem sido vendida a cerca de 25 € por arroba (15 kg) e a de

melhor qualidade (a dos vales do Tejo e do Sado) a cerca de 40 € por arroba.

Montado, um sistema ecológico multifuncional

As azinheiras e os sobreiros produzem bolota utilizada no pastoreio da produção suinícola extensiva.

O rendimento gerado pela criação de ruminantes em pastoreio no sob coberto do arvoredo compensa as

despesas com a eliminação dos matos.

Porém, como o gado ruminante e as lavouras do solo do montado tendem a impedir o normal renovo do

arvoredo, há que tomar medidas para assegurar a existência permanente de árvores jovens no montado, para

assegurar a reposição suficiente das que morrem por envelhecimento ou doença.

De facto, o montado proporciona um ambiente favorável à biodiversidade, ao desenvolvimento de diversas

espécies de cogumelos e de plantas aromáticas e medicinais que constituem também uma enorme riqueza,

para além de favorecer a infiltração das águas pluviais e a preservação dos solos contra a erosão.

Impõe-se, por fim, assinalar a valia do montado como singular paisagem natural a atrair cada vez mais

atividades, nomeadamente turísticas, associadas ao ambiente, às vivências tradicionais e genuínas, bem como

a uma gastronomia de forte identidade.

Recuperar o montado

O empenhamento político na florestação do País vem desde o século 19, com fundamento na necessidade

de fixação das dunas de origem marinha, para prevenir a erosão dos solos de montanha e desenvolver a

produção de madeira para construção. Na segunda metade do século 19, com a construção da rede de

caminhos-de-ferro, a madeira teve maior procura para as travessas (sulipas) de fixação dos carris. Aumentou

também a procura de rolaria para exportação com destino à entivação das minas (armação para segurança),

sobretudo minas de carvão, então a maior fonte de energia industrial.

Porque o pinheiro-bravo é espécie de crescimento bastante mais rápido que as espécies folhosas

endógenas, o poder público promoveu a florestação com essa espécie, o que foi intensificado com a entrega da

posse e administração aos Serviços Florestais da maior parte dos baldios do País entre as décadas de 1940 e

1960.

Posteriormente, com o fim generalizado da pequena agricultura de subsistência no centro e norte do País

decorrente sobretudo da emigração para os centros urbanos, incluindo de outros países, para o que contribuiu

a entrega dos baldios aos Serviços Florestais, os fogos queimaram extensas zonas de floresta de pinheiro-bravo

e de eucalipto. Há poucas dezenas de anos, chegou o nemátodo do pinheiro, que os começou a matar.

Páginas Relacionadas
Página 0006:
II SÉRIE-A — NÚMERO 115 6 4 – Nos conflitos de consumo a que se refer
Pág.Página 6