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5 DE JANEIRO DE 1995

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Os trabalhadores haviam cortado a estrada que atravessa a cidade e barricado a entrada na Caixa Geral de Depósitos, no sentido de sensibilizar uma das entidades que integra o grupo de reestruturação do sector vidreiro.

Após mais de uma semana de paralisação para forçar a administração a pagar os salários de Novembro e uma parte dos subsídios de férias e de Natal em atraso, os empregados da empresa vidreira colocaram-se, pelas 10 horas e 20 minutos, em frente à agência bancária e barraram a estrada. Depois do meio-dia polícias, com bastões e escudos, retiraram à força os manifestantes que estavam defronte da CGD. Momentos depois, houve uma nova carga policial, apanhando pelo caminho grevistas e populares que ali passavam. A polícia entrou mesmo no edifício da Câmara. «Eu escondi-me, senão também comia», contou um funcionário do município. Duas trabalhadoras vidreiras receberam assistência médica, uma por se ter aleijado ao rugir por uma janela e a outra por ter sido agredida nas mãos quando protegia a cabeça. Os confrontos provocaram ferimentos na cara a um polícia.

Na ausência do presidente da Câmara, que se deslocou ontem a Lisboa aos Ministérios da Indústria e do Emprego para tentar encontrar uma solução para o problema, um seu adjunto apenas adiantou que a autarquia «vai pedir uma averiguação dos acontecimentos». Muito criticado foi o comandante da PSP da Marinha Grande, por estar na primeira linha das cargas policiais. O sócio gerente da empresa Carlos Antero voltou ontem a manifestar a intenção de desligar os fornos e despedir muitos dos trabalhadores, designadamente os «agitadores», que acusou de colocarem a empresa num beco sem saída.

«O agitador é a fome», afirmou um empregado, enquanto Deonilde Mendes, da comissão de trabalhadores, chamou a atenção para os problemas que os despedimentos provocarão, pois «mais de 50 % dos trabalhadores têm mais de um membro do agregado familiar a trabalhar na fábrica».

Depois de ter estado reunido com os responsáveis da empresa, Sérgio Moiteiro comunicou aos trabalhadores, ao final da tarde, a nova proposta da administração: cerca de 115 empregados ficariam a trabalhar na produção e outros 90 iriam fazer cursos de formação profissional no sector vidreiro. Apenas parte do forno ficaria a trabalhar. Ou seja, cerca de metade dos trabalhadores seriam despedidos, tendo já sido enviadas as cartas aos visados. A administração disse ao dirigente sindical que esta «solução» permitiria uma facturação mensal de 40 mil contos.

Os empregados decidiram continuar hoje a luta pelos lugares de trabalho, não arredando pé da fábrica. — L F. S.

ANEXO N.° 3

Público, 23 de Dezembro de 1994.

Governador civil de Leiria pede desculpas peia carga policial

Solução à vista na Marinha Grande

O conflito laboral na empresa vidreira Manuel Pereira Roldão, da Marinha Grande, viu ontem uma luz ao fundo do túnel, após um encontro em Leiria, onde apenas ficou por saber se as Secretarias de Estado do Emprego e da Indústria conseguiriam as verbas para o pagamento dos salários em atraso aos trabalhadores. E o Governo Civil de Leiria pediu desculpas pela carga policial do dia anterior.

Os trabalhadores da Manuel Pereira Roldão, que desde o dia 12 se encontram em greve pelo pagamento de salários

em atraso, preparavam-se ontem para mais uma «jornada de luta», mas no plenário da manhã aceitaram antecipar para antes do almoço uma reunião no Governo Civil de Leiria e tentar encontrar uma saída para a situação. O governador civil, Fernando Coutinho, e o presidente da Câmara da Marinha Grande, Álvaro Órfão, reuniram-se em separado primeiro com os trabalhadores e o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira (STTV) e depois com a administração da empresa.

À saída da reunião, Carlos Antero, sócio gerente da firma, admitiu a existência de uma «proposta exequível» em negociação, assegurando a manutenção de todos os postos de trabalho antes do início da greve, a cessação dos processos disciplinares em curso aos «agitadores» eo pagamento do vencimento de Dezembro e do subsídio de Natal. O único problema residia em como seriam disponibilizadas as verbas necessárias, prevendo-se, no entanto, que a solução viesse a caber às Secretarias de Estado.

Ultrapassada essa questão — a decidir numa reunião, que apenas começou ao princípio da noite entre o presidente da Câmara, a administração da Roldão, a VTTROCRISTAL, empresa responsável pela reestruturação do sector vidreiro, e representantes do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento — a laboração seria retomada em pleno, até à já prevista reestruturação da empresa, que levará à dispensa de trabalhadores, mas com as devidas compensações financeiras.

O presidente da autarquia da Marinha Grande adiantou que o governador civil de Leiria «pediu desculpas» pelas cargas das forças de intervenção da PSP, no dia anterior, em frente e dentro dos Paços do Concelho. Álvaro Órfão condenou a violência da «desproporcionada» actuação policial, pois, considerou, «é legítimo que os munícipes entrem na Câmara para se protegerem, mas não é legítimo que as forças policiais entrem para bater nas pessoas». O edil comunicou que aguarda um relatório do Comando Distrital da PSP para decidir se tomará qualquer medida em relação à intervenção policial. Quem não esperou foi o Deputado da UDP Mário Tomé, que solicitou ontem ao Presidente da Assembleia da República para que a comissão permanente aprecie o «desrespeito» de que diz ter sido alvo por parte do comandante das forças da PSP e delibere uma eventual convocação do Ministro da Administração Interna. O PS e o líder da CGTP-IN, Carvalho da Silva, que se deslocou à fábrica, também se juntaram à condenação das agressões.

«Foram dados passos positivos para que a situação seja desbloqueada», manifestou, por seu lado, Sérgio Moiteiro, do STTV, lamentando apenas que tenham sido precisas «movimentações muito duras para que se chegasse a uma solução». «Foi preciso que os trabalhadores levassem porrada para que se sentassem à volta de uma mesa», reforçou Leonilde Mendes, da comissão de trabalhadores, que sublinhou a satisfação com que a possibilidade de acordo foi recebida pelos trabalhadores da Roldão. Sobre o processo de reestruturação, esclareceu que apenas deverá ser analisado durante a primeira quinzena de Janeiro. — L F. S.

ANEXO N.° 4

Diário de Notícias, 28 de Dezembro de 1994.

Polida carrega sobre vidreiros e entra em estabelecimentos comerciais

Marinha Grande: estado de choque

Pessoas tiveram de ser assistidas no Hospital de Leiria após a actuação dos agentes das forças de segurança, na perseguição aos vidreiros até ao centro da Marinha Grande.