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5 DE JANEIRO DE 1995

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ocorreu na sequência de mais um bloqueio da linha do Oeste e da Estrada Nacional n.° 242, na zona da Amieirinha, iniciado pelos operários às 15 horas e 50 minutos. O corte terminou pouco antes das 18 horas com a chegada da polícia que puxou dos bastões quando os

Marinhenses persistiram em bloquear o trânsito já no perímetro da cidade. 10 feridos, l em estado grave, era o balanço uma hora depois.

Após a primeira investida, seguiu-se uma verdadeira correria com os trabalhadores (perto de 400) e centenas de populares a fugirem dos agentes pelas ruas do centro da Marinha Grande. Armados de metralhadoras, escudos, bastões e gás lacrimogéneo, os polícias chegaram a entrar numa igreja e em cafés e nem as pessoas que lá se encontravam terão escapado às bastonadas, segundo o testemunho de Horácio Matos, da União dos Sindicatos de Leiria, «Isto está em estado de sítio. A polícia bate em tudo o que mexe e duas crianças já foram agredidas», relatava o sindicalista, eram 19 horas e 30 minutos. E nem os jornalistas terão escapado: um operador da TVI terá ficado com a câmara destruída e quatro profissionais desta estação e da imprensa local terão sido agredidos.

Cerca das 20 horas, os homens da PSP recolheram ao posto da Marinha Grande, onde Álvaro órfão se reuniu com o comandante da força. Pouco depois, os operários e populares dispersavam. Mas, assegurou Horácio Matos, a «luta vai continuar». «Amanhã [esta manhã], às 9 horas, os trabalhadores vão realizar outro plenário, e logo decidirão o que vão fazer».

Os operários da Pereira Roldão decidiram ontem voltar a bloquear a Linha do Oeste —já o haviam feito no dia anterior, levando à intervenção da GNR, que usou balas de borracha e gás lacrimogéneo — depois de um plenário que teve lugar na empresa durante toda a manhã. Aí rejeitaram uma proposta da administração, que previa a manutenção de 115 postos, o enquadramento de 90 operários em programas de formação profissional e a passagem dos restantes, num total de 390, para uma bolsa de emprego, no âmbito da qual perderiam, no entanto, o vínculo à empresa.

A administração já havia lançado uma proposta semelhante na semana passada, sendo a única diferença relativamente à actual o abandono da intenção de avançar com despedimentos com justa causa. «Não despedem, mas de qualquer modo os trabalhadores ficam sem vínculo e sem segurança de emprego», denunciou ontem ao Público Etelvina Rosa, delegada sindical na Pereira Roldão. Esta adiantou que o plenário mandatou o Sindicato para convocar uma reunião urgente com os credores e contactar o juiz da comarca que está a acompanhar o processo de reestruturação da empresa.

Os operários — que estão em luta desde o dia 12 deste mês pelo pagamento dos salários em atraso e pela manutenção dos postos de trabalho — insistem em que a empresa deve reiniciar a laboração com todos os trabalhadores, exigem o pagamento dos ordenados atrasados e que todos mantenham o vínculo laboral. «Só nesta base é que se poderá negociar», adiantou Sérgio Moiteiro, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira (STTV). Para o preenchimento daquelas condições, o sindicalista considera indispensável a intervenção do Governo, no sentido de garantir os meios financeiros necessários ao pagamento dos salários.

A intervenção governamental foi já solicitada por Álvaro Órfão, que, na semana passada, enviou cartas relatando a situação ao Secretário de Estado da Indústria e ao

Ministério do Emprego e da Segurança Social, entre outras entidades. Também já na última quarta-feira um encontro no Governo Civil de Leiria, entre o Sindicato, o presidente da autarquia e a administração da empresa concluía pelo eventual pagamento dos ordenados de Dezembro

e do 13.° mês. O que se veio a revelar inexequível, segundo o STTV, por falta de interesse das entidades oficiais.

Entretanto, termina hoje o prazo para uma resposta à alternativa apresentada, na passada semana, pelo empresário dinamarquês Jorgen Mortensen, proprietário da Fábrica-Escola Irmãos Stephens, que se propôs a adquirir a empresa Roldão. Para isso, Mortensen pediu um acordo com todos os credores, incluindo o Estado, e exigiu a demissão dos administradores até ao final deste mês.

A administração foi, aliás, ontem acusada de má gestão por Mira Amaral, Ministro da Indústria, que afirmou que os administradores poderiam ter recorrido a fundos comunitários. Adiantou ainda o Ministro que a «indústria vidreira está em expansão». Uma opinião que não é partilhada pelo STTV, que anteontem classificava de «degradada» a situação do sector no concelho, prevendo o encerramento de outras empresas. Também Álvaro Órfão considera que o sector de cristalaria «continua a viver situações de dramáticas dificuldades». — Guilherme Paixão.

ANEXO N.° 7

Jornal de Notícias, 28 de Dezembro de 1994.

Polida cerca e persegue vidreiros à bastonada

Feridos manifestantes e Jornalistas

Os trabalhadores da Manuel Pereira Roldão bloquearam a circulação, pela segunda vez, na Estrada Nacional n.° 242. Cerca de 200 agentes da PSP e da GNR cercaram os operários, no centro da Marinha Grande, dispersando-os depois à bastonada.

ANEXO N.° 8

Jornal de Notícias, 28 de Dezembro de 1994.

Nova carga policial na Marinha Grande

Vidreiros foram cercados e perseguidos pela PSP e pela GNR, depois de terem bloqueado a Estrada Nacional n.B 242

Mário Soares vai protestar junto de Cavaco. — O Presidente da República vai fazer um protesto junto do Primei-ro-MJnistro, na sequência dos acontecimentos na Marinha Grande, revelou ontem à agência Lusa fonte camarária.

A fonte do gabinete do presidente da autarquia da Marinha Grande, Álvaro Órfão, adiantou que Mário Soares, num telefonema para se inteirar dos acontecimentos ocorridos, ontem, no centro da cidade, mostrou disponibilidade para receber hoje o autarca, a qualquer hora.

Mário Soares pretende discutir com o autarca a situação da indústria vidreira, em geral, e da Manuel Roldão, em particular, referiu a fonte.

Entretanto, Álvaro Órfão dirigiu-se à esquadra da PSP da Marinha Grande para se reunir com o comandante da força policial.