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0224 | II Série B - Número 032 | 08 de Fevereiro de 2003

 

VOTO N.º 37/IX
DE PESAR PELO ACIDENTE QUE VITIMOU A TRIPULAÇÃO DO VAIVÉM COLUMBIA

No passado dia 1 de Fevereiro, a 28.ª viagem do vaivém Columbia ficou marcada pela tragédia, dor e luto. O mundo assistiu atónito e horrorizado às imagens passadas pela televisão que davam conta da desintegração do Columbia e da morte dos seus sete tripulantes.
A Assembleia da República transmite à nação norte-americana a mais profunda solidariedade neste hora difícil que está a passar.
Estendemos ainda a solidariedade ao povo de Israel que, pela primeira vez, esteve representado por um astronauta, numa missão da NASA, e que tragicamente não a conseguiu terminar.
A Assembleia da República expressa a admiração pela decisão determinada da administração norte-americana, de que o Programa Espacial vai continuar como prova de que as vidas perdidas não foram em vão.
Nestes termos, a Assembleia da República expressa o seu mais sincero voto de profundo pesar pelas vidas perdidas e transmite a solidariedade do povo português a todos aqueles que trabalham diariamente por uma causa de vital interesse para a humanidade, como é a investigação espacial.

Assembleia da República, 3 de Fevereiro de 2003. - O Deputado do CDS-PP, Telmo Correia.

VOTO N.º 38/IX
DE PESAR PELO FALECIMENTO DE JOÃO CÉSAR MONTEIRO

Com a morte de César Monteiro, morreu alguém que não pedia licença a ninguém. Que não se preocupava com o que dele dizia a crítica, com o que lhe diziam os produtores, com o que pensava o público. Não se preocuparia, mesmo, com o que dele disséssemos aqui, hoje.
Com a morte de César Monteiro, morreu uma parte da liberdade. Morreu João de Deus, um louco, como César Monteiro, um génio, como ele. E os génios, já se sabe, nunca têm de se explicar.
Com a morte de César Monteiro, perdeu-se um dos melhores cineastas da história portuguesa. Podia dizer que deu a conhecer, em todo o mundo, a cinematografia portuguesa. Podia dizer que manteve níveis de produção pouco habituais. Podia dizer que foi responsável por muitas polémicas que ajudaram a trazer para a praça púbica o debate sobre a criação artística. Podia até falar das dezenas de prémios que recebeu, apesar da incompreensão com que o País o brindava com frequência.
Mas o mais importante ficaria por dizer: César Monteiro fez-nos sentir vivos. E isso vale mais do que tudo.
"À flor do mar", "O último mergulho", "A bacia de John Wayne", "Recordações da Casa Amarela", "Comédia de Deus" ou "As bodas de Deus" são só alguns dos muitos filmes de César Monteiro.
César Monteiro disse um dia sobre outro realizador, com o humor corrosivo que lhe era habitual, que "este país descobriu que tem um cineasta maior do que ele próprio. Como não é possível alargar o país, encolhe-se o cineasta". Felizmente, César Mosteiro ficou sempre grande. Mesmo quando o País não deu por isso.
Com a morte de César Monteiro, os ecrãs de muitos cinemas ficaram negros. Ele teria gostado.
A Assembleia da República transmite aos amigos, à família e aos colegas de profissão o profundo pesar pelo falecimento do cineasta João César Monteiro e presta-lhe homenagem por tudo o que fez pelo cinema e pela cultura em Portugal.

Assembleia da República, 5 de Fevereiro de 2003. - Os Deputados do BE: João Teixeira Lopes - Luís Fazenda - Joana Amaral Dias.

VOTO N.º 39/IX
DE PESAR PELO FALECIMENTO DE JOSÉ CRAVEIRINHA

Para Moçambique, a perda de José Craveirinha não é apenas a perda de uma voz maior da literatura moçambicana, é a perda de uma das vozes fundadoras de uma identidade literária moçambicana, a qual atravessou o século XX e que, portanto, empreendeu a caminhada que o povo moçambicano e a sua literatura percorreram no sentido da afirmação da independência.
Depois de 80 intensos anos de vida, em que foi sobretudo poeta, mas também atleta e jornalista e revisor e contista e ensaísta e "cidadão de uma nação que ainda não existe", como ele proclamou no seu livro de estreia Xigubo, editado em Lisboa, em 1964, pela Casa dos Estudantes do Império, Craveirinha deixa-nos mas não sem antes nos ter contemplado, em 1995, com uma espécie de testamento, a que chamou "Poema de José Craveirinha num dia em que estava todo negro" e onde diz:

Olhem José Craveirinha que vai
vestido de negro passando
no luto calmo de si mesmo. (...)
Olhem José Craveirinha que leva o autêntico cerne
(...) do signo romântico das aves que cantam
na fatal paisagem de um continente
e nos poemas subversivos que o poeta não inventou. (...)
Olhem José Craveirinha que vai
No fatalismo atávico dos tambores rongas
Passando vestido de negro
No luto de si mesmo".

E nestes versos Craveirinha diz-se inteiro naquilo que constituiu o essencial da sua poesia, da sua prática da cidadania, da sua vida - a afirmação de uma identidade moçambicana construída:
- por um lado, num discurso literário que, como lembra Rui Knopfli, "transporta em si, profundamente arreigadas, as sementes de revolta, a denúncia frontal de uma exacerbada condição de injustiça, o amor e a raiva, temperados no lume obstinado da compaixão e solidariedade"; e basta lembrar alguns versos do famoso poema "Grito negro":

Eu sou carvão.
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da minha
Combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.

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