O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

0003 | II Série B - Número 052 | 15 de Julho de 2006

 

No passado dia 14 de Março o Sr. Ministro da Saúde confirmou o encerramento da maternidade de Barcelos.
Esta posição do Governo confirmou a estratégia de deixar que a decisão fosse conhecida a conta-gotas para provocar uma espécie de efeito anestésico nas populações atingidas.
Por isso, não foi por acaso que a notícia do jornal Expresso do dia 28 de Janeiro não recebesse qualquer desmentido do Ministro Correia de Campos. Isto porque ele não se debruçava sobre uma qualquer futilidade, mas fazia eco que o Governo iria encerrar nove maternidades, incluindo nesse grupo a do Hospital de Barcelos.
Os barcelenses, que não estão nem distraídos nem adormecidos, mas, pelo contrário, bem acordados, não vão admitir mais um atentado à sua dignidade.
Porque o encerramento da maternidade de Barcelos constitui um atentado aos habitantes de Barcelos, à sua juventude e à demografia da região, não nos deixamos enredar no jogo de palavras do Governo, que diz não encerrar a maternidade mas, sim, os blocos de parto.
Não faz qualquer sentido que os filhos de Barcelos nasçam em Braga, sendo, por motivos óbvios, um ataque aos jovens pais, nomeadamente aos mais desfavorecidos, que querem que os seus filhos nasçam na sua terra, em condições saudáveis para os nascituros e para as mães que querem ser acompanhadas no parto pelo médico que acompanhou a gravidez.
Uma maternidade não pode ser um local a que as parturientes recorrem para tudo o necessário, menos para fazer partos; uma maternidade é um "estabelecimento ou serviço hospitalar onde se prestam cuidados médicos às mulheres grávidas, especialmente na fase terminal da gravidez, durante o trabalho de parto". Por isso maternidades sem blocos de partos serão tudo menos maternidades, chame-lhe o Ministro da Saúde o que quiser.
Lembramos que o Hospital de Santa Maria Maior serve os concelhos de Barcelos, com mais de 120 000 habitantes, e de Esposende, e que estes concelhos juntos têm mais de 155 000 habitantes, sendo Barcelos o concelho mais jovem do distrito de Braga.
Lembramos que existem 45 000 pessoas em Barcelos com idade compreendida entre os 10 e os 24 anos.
Lembramos que 48% da população do concelho, ou seja, quase metade dos barcelenses têm menos de 30 anos. Ou seja, há uma população jovem que pode contribuir para o aumento demográfico, a não ser que o Governo pretenda reduzir a demografia.
Lembramos que o Programa do Governo, a cumprir pelo Sr. Ministro, diz que o sistema de saúde deve "colocar a centralidade no cidadão".
Para esta centralidade existir não se pode, como parece ser intenção do Governo, deixar entrar em declínio as maternidades. Bem pelo contrário: há que melhorá-las permanentemente e em todas as suas multiplicidades.
Para esta centralidade existir a opção não é da escolha das parturientes, como se de um qualquer serviço de consumo se tratasse, mas a de uma melhoria do serviço nas maternidades para a ligação dos cidadãos à sua terra.
A maternidade, enquanto estado ou condição de mães, não tem a ver com consumo; é algo muito profundo que tem a ver com a essência do ser humano.
Ver as mães como "consumidoras" de uma maternidade é algo irreal, é ver o sector da saúde apenas pelo lado da economia.
Para os barcelenses as pessoas não são números.
Barcelos é um concelho da primeira linha de desenvolvimento em Portugal.
Orgulha-se do seu passado na afirmação da nacionalidade, do presente que constrói e do futuro que quer para os seus filhos.
A maternidade do seu hospital e os profissionais a ela ligados merecem o maior respeito e consideração. Os números não podem ser o único referencial; mas mesmo quanto a esses, e no que respeita à maternidade de Barcelos, realizam-se anualmente muito mais do que 1000 partos. Se a melhoria das instalações se concretizar (enquanto o Governo não assume a construção de um hospital) e se se colocar empenho no reforço dos recursos humanos, o número de partos aumentará, uma vez que o índice de natalidade no concelho é superior a 1500 ano, e não restam dúvidas de que se cumprem os indicadores da Organização Mundial de Saúde. Dizemos "indicadores", pois esses números são para aplicação a cada realidade concreta.
Melhoria da qualidade dos serviços e instalações é, assim, um objectivo de todos, tendo por primeiro responsável o Governo. Mas isso não é preocupação do Ministro da Saúde!
A morte lenta e o encerramento da maternidade de Barcelos é um castigo que não podemos aceitar.
Por isso, os barcelenses não têm, por uma qualquer decisão política discriminatória, de ver os seus filhos nascerem "numa cidade ao lado" quando temos dimensão e condições necessárias;
Os barcelenses não têm, por uma qualquer decisão política, de assistir ao abandono da sua maternidade;
Os barcelenses não têm, por uma qualquer decisão política, de ver as suas mulheres tratadas como "consumidoras".
Neste contexto, e face ao interesse da população de Barcelos, os subscritores solicitam à Assembleia da República que: