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2 | II Série B - Número: 073 | 15 de Março de 2008

VOTO N.º 135/X (3.ª) DE PESAR PELO FALECIMENTO DA ESCRITORA MARIA GABRIELA LLANSOL

Maria Gabriela Llansol faleceu no passado dia 3 de Março, em Sintra, aos 76 anos.
Escritora portuguesa de ascendência espanhola, Llansol nasceu em Lisboa em 1931. Licenciou-se em Direito e em Ciências Pedagógicas. Estreou-se com o livro de pequenas narrativas Os Pregos na Erva, em 1962. Três anos depois deixaria Portugal para se exilar na Bélgica durante 20 anos, com o marido. Em Lovaina, com estudantes da universidade, criou e dirigiu uma escola experimental, especialmente vocacionada para receber filhos dos estudantes estrangeiros. Nesse ambiente, nasceu O Livro das Comunidades, publicado em 1977, obra seminal da escrita e do pensamento llansolianos.
Durante mais de quatro décadas de intensa escrita, Llansol construiu uma das obras mais singulares da literatura portuguesa contemporânea. Entre mais de 30 livros publicados, salientem-se obras como Contos do Mal Errante (1986), Um Beijo Dado Mais Tarde (1990), o Ciclo Lisboaleipzig (1994), Amigo e Amiga (2006) ou o recente Os Cantores da Leitura (2007). Publicou ainda três volumes de diário e traduções de Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Apollinaire, Rilke, Éluard e Thérèse Martin.
Embora tenha vivido deliberadamente à margem dos meios literários, Llansol foi muito premiada. Traduzida e publicada no Brasil e em diversos países europeus, a sua obra não pára de encontrar leitores fiéis ou, como preferia dizer, «legentes».
Em 1991, à pergunta «por que escreve?», Llansol respondeu: «Não há um porquê. Há uma afirmação. Eu só posso dizer 'eu escrevo'». Entendia que a escrita não é possessão do mundo, mas desejo — e inquérito às confidências de quem nos cerca. Por isso o espaço da escola ou da casa é atravessado por crianças, mas também por Nietzsche ou São João da Cruz, por Bach ou por Pessoa, por lobos, arbustos, gatos, estátuas e quadros, cacos de vasos. Ao mesmo tempo, é a história colectiva de uma Europa e suas guerras, seus mitos e desenganos, e também a história de uma escrita íntima, um lugar disponível para o pensamento, ou esse «jardim que o pensamento permite», de que falam tantos dos seus livros. Como nos jardins, não é preciso forçar o crescimento das plantas; basta aguardar, saber aguardar que elas cresçam. Escrever, para Maria Gabriela Llansol, foi sempre a sageza dessa espera.
Eduardo Lourenço afirmou, logo em 1980, «que Cultura corresponde a um tal texto não é fácil dizê-lo. Ou melhor: é impossível. Justamente por isso é essa enigmática prosa contemporânea por excelência». Mesmo quando os livros apresentam poetisas medievais, místicos modernos, poetas e pensadores nómadas, a escrita de Llansol nunca se afasta dessa contemporaneidade, tentando ouvir agora na história passada os diálogos que não se deram. A escrita torna-se lugar de encontro das vozes perdidas: o camponês morto, o herege condenado, a árvore cortada. Llansol precisou de estilhaçar a linguagem para poder dar voz aos que foram reduzidos ao silêncio; por isso a sua escrita se fragmenta, interrompe, cede por vezes ao espaço branco ou a um traço horizontal, à espera do texto que só o legente poderá, um dia, escrever. Quanto a Llansol, como disse em Amigo e Amiga, «Sai[u]/Deix[ou] esta cena entregue a ela mesma, depois de ter aberto a janela».
A Assembleia da República presta sentida homenagem à memória de Maria Gabriela Llansol, manifesta profundo pesar pelo seu falecimento e endereça, em nome de todos os grupos parlamentares, os mais sentidos votos de condolência à sua família e amigos.

Palácio de São Bento, 12 de Março de 2008.
Os Deputado do PS: António Galamba — Alberto Martins — Isabel Pires de Lima — Ana Catarina Mendonça.

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VOTO N.º 136/X (3.ª) DE LOUVOR PELOS ÊXITOS ALCANÇADOS NO 12.º CAMPEONATO DO MUNDO DE ATLETISMO EM PISTA COBERTA PELOS ATLETAS NAIDE GOMES E NELSON ÉVORA

O Grupo Parlamentar do PSD propõe a aprovação de um voto de louvor aos atletas Naide Gomes e Nelson Évora, que, ao serviço da Selecção Nacional, conquistaram, em Valência, no 12.º Campeonato do Mundo de Atletismo em Pista Coberta, respectivamente, a Medalha de Ouro no salto em comprimento e a Medalha de Bronze no triplo salto.
Importa salientar que, no quadro de medalhas deste Campeonato do Mundo, Portugal alcançou o 8.º lugar entre os 159 países presentes em Valência.
Este voto de louvor é extensivo aos treinadores dos atletas e aos dirigentes que com esforço contribuíram para a conquista destas medalhas e, concomitantemente, para a valorização do desporto português em geral e do atletismo em Portugal.

Assembleia da República, 12 de Março de 2008.

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