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2 | II Série B - Número: 201 | 28 de Abril de 2012

VOTO N.º 59/XII (1.ª) DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EURODEPUTADO MIGUEL PORTAS

Após mais de dois anos de luta contra o cancro, Miguel Portas faleceu no dia 24 de abril, com 53 anos.
Ativista pela democracia desde jovem, foi preso pela polícia política da ditadura quando tinha apenas 15 anos. Esteve nas manifestações de estudantes e partilhou a esperança de tanta gente. Queria acabar a guerra, terminar a ditadura e mudar o mundo. Viveu o 25 de Abril e quis sempre continuar esses valores solidários.
Militou no PCP entre 1974 e 1991.
Trabalhou em diversos municípios, em programas culturais. Aprendeu a valorizar o poder local, as culturas, o interior e, sobretudo, as pessoas.
Economista por formação, o jornalismo foi a sua vocação. Foi diretor da revista Contraste e foi editor de cultura do jornal Expresso. Fundou o jornal Já e a revista Vida Mundial, publicações das quais foi diretor.
Cosmopolita, apaixonado pela diversidade das culturas e pelos seus sinais, foi coautor e apresentador de duas séries documentais televisivas — Mar das índias (2000) e, sobre o Mediterrâneo, Périplo (2004) — e escreveu dois livros sobre esta região: No Labirinto (2006) e, com Cláudio Torres, Périplo (2009). Publicou também E o resto é paisagem (2002), uma recolha de crónicas, ensaios e reportagens.
Miguel Portas foi fundador do Bloco de Esquerda, tendo sido o seu primeiro Eurodeputado em 2004, e foi reeleito Eurodeputado em 2009, continuando a exercer as suas funções em Bruxelas até aos seus últimos dias. Foi dirigente do Bloco de Esquerda desde a sua primeira assembleia até agora. Durante toda a sua doença, que encarou de forma corajosa e despojada, continuou sempre a cumprir as suas responsabilidades, dedicando-se, nas suas últimas semanas, a preparar o relatório do Parlamento Europeu sobre as contas do Banco Central Europeu.
O seu falecimento suscitou tomadas de posição do Presidente da República, do Governo, dos partidos políticos, da CGTP, de associações, de muitas personalidades, do Parlamento Europeu, de múltiplos partidos europeus e de tantas outras pessoas. De todos os quadrantes políticos, estas mensagens realçaram o lado humano e a importância dos contributos de Miguel Portas para uma democracia mais intensa. São, assim, demonstrações tanto da sua combatividade como do seu respeito pelos outros, que era uma das marcas distintivas do seu compromisso consigo próprio. A democracia era a sua vida e não a concebia sem se entregar totalmente ao que mais gostava de fazer: a intervenção pública e cidadã.
Teve uma vida preenchida, que viveu intensamente, mas tinha sempre os olhos postos no futuro: «Não vivo muito o meu passado, não carrego muitas saudades», escreveu. Na sua última entrevista, dizia ainda que «a minha vida valeu a pena porque ajudei os outros». Tinha razão. Ajudou, com o fulgor da sua inteligência e do seu humor, todos quantos privaram de perto com ele. Colaborou em causas. Disse o que pensava. Defendeu a beleza das coisas simples. Procurou ter tempo para pensar e para viver a companhia dos filhos. Viveu sempre com emoção. Não é pouco. Na verdade, é quase tudo.
Assim, a Assembleia da República apresenta à sua família e amigos as mais sentidas condolências, juntando-se a todas as vozes que lamentam a sua perda e a forma como esta empobrece a democracia.

Palácio de São Bento, 26 de abril de 2012.
Os Deputados do BE: Francisco Louçã — Luís Fazenda — Ana Drago — Catarina Martins — Mariana Aiveca — João Semedo — Cecília Honório — Pedro Filipe Soares.

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