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29 DE NOVEMBRO DE 2014

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VOTO N.º 227/XII (4.ª)

DE PESAR PELO FALECIMENTO DE FERNANDO DE MASCARENHAS

No passado dia 12 de novembro morreu Fernando José Fernandes Costa Mascarenhas.

Conhecido pelo seu título de Marquês da Fronteira ou o "Marquês Vermelho", pela sua oposição ao Estado

Novo, Fernando de Mascarenhas era um homem generoso, culto e com um reconhecido sentido de humor, que

dizia de si próprio que era "um homem avidamente interessado na cultura", "monárquico por vocação e

republicano por convicção". Embora se considerasse um homem de esquerda, nunca minimizou a sua condição

de herdeiro de um dos maiores patrimónios associados à antiga nobreza, escrevendo até um sermão para o seu

sucessor, que intitulou Notas para uma Ética da Sobrevivência, onde resume o modo como achava que se deve

lidar com um estatuto e património como o seu: "Sê primeiro um homem e depois, só depois, mas logo depois,

um aristocrata."

Fernando Mascarenhas nasceu em Lisboa, a 15 de abril de 1947. Licenciado em Filosofia pela Faculdade

de Letras da Universidade de Lisboa, lecionou na Universidade de Évora durante oito anos.

Começou a interessar-se por política aos 16 anos, aquando das lutas estudantis de 1961, momento no qual

começa a contestar o regime opressivo em que vivia. No final dos anos 60 promove reuniões clandestinas e

conspirativas no Palácio Fronteira, nomeadamente para preparar a estratégia da oposição democrática, onde,

segundo conta numa entrevista, estavam presentes Jorge Sampaio, Vítor Reis, Vítor Wengorovius, Maria

Barroso e António Reis, entre outros.

Apesar da sua oposição ao regime, após o 25 de abril, tem consciência que a sua condição de grande

latifundiário lhe pode trazer alguns dissabores e parte primeiro para Marrocos e depois para Londres, sendo um

período que relata com lucidez e humor. "Eu vivi o 25 de Abril como homem de esquerda e como administrador

do património da casa. Não foi fácil mas fascinante. Quando em 1969 tomei as posições que tomei contra o

regime, eu já conhecia a Revolução Francesa e estava ciente de que, se houvesse uma revolução, a minha

cabeça também acabaria por rolar."

Não rolaram cabeças. Fernando Mascarenhas assistiu pacificamente a uma ocupação da Herdade da Torre,

que, segundo as suas palavras, acabara por ser uma ocupação "simbólica" e esperou que as "coisas seguissem

o seu curso normal" até à sua restituição 20 anos mais tarde.

Em 1989, Fernando Mascarenhas, sempre consciente que "os privilégios criam responsabilidades", cria a

Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, instituição de utilidade pública cuja vocação é o restauro e a

preservação do Palácio Fronteira e a promoção de atividades culturais, científicas e educativas com a

preocupação de partilhar com a comunidade o património que herdara.

Em 1994, foi condecorado com a Comenda da Ordem da Liberdade.

Sempre preocupado com o trabalho de divulgação cultural, Fernando de Mascarenhas dirigiu e apresentou

o programa Travessa do cotovelo, na RTP2, em 2000, tendo também colaborado com o Plano Nacional de

Leitura.

Como ele próprio afirmava, o sonho de Fernando Mascarenhas era "haver outras vidas com a memória da

que ficou para trás", pois "só o futuro justifica algum esforço. E o futuro ancorado no passado, o futuro que toma

o passado como referência a reinventar. O presente é para digerir com calma. Um dos grandes defeitos da

democracia é esta pressa, é o reino do curto prazo, e a curteza das vistas dos políticos produz efeitos dramáticos

na vida das nações."

A Assembleia da República, reunida em sessão plenária, presta o devido reconhecimento ao percurso de

cidadania de Fernando Mascarenhas ao longo de toda a sua vida, apresenta a toda a sua família e amigos as

suas sinceras condolências e junta-se a todos os que lamentam a perda de um incontestável símbolo da cultura

e democracia portuguesas.

Assembleia da República, 26 de novembro de 2014.

Os Deputados do PS, Inês de Medeiros — Ferro Rodrigues — Marcos Perestrello — Ana Catarina Mendonça

Mendes — Maria Antónia de Almeida Santos — Maria de Belém Roseira — Pedro Delgado Alves.

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