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II SÉRIE-B — NÚMERO 59

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VOTO N.º 305/XII (4.ª)

DE PESAR PELA MORTE DE MARIA DE JESUS SIMÕES BARROSO SOARES

Morreu Maria de Jesus Simões Barroso Soares. Com 90 anos de idade, recentemente celebrados, o País

despediu-se hoje de uma mulher que emerge já do seu tempo como uma das figuras femininas mais relevantes

da história contemporânea de Portugal.

Nascida na Fuseta a 2 de maio de 1925 e falecida em Lisboa a 7 de julho, Maria Barroso, como era de todos

conhecida, deixa-nos o testemunho de uma vida ímpar, exemplo de talento, de coerência, de integridade e

coragem cívica, de pedagoga dedicada e de mulher permanentemente atenta e solidária com as causas do bem

comum.

Maria Barroso, mulher e companheira de vida de Mário Soares, com quem casou estando ele na prisão do

Aljube, deixa nos seus filhos, Isabel e João Soares, nosso colega Deputado, o legado de uma vasta missão de

dedicação ao ensino e à valorização da cultura e da elevação cívica da sociedade portuguesa. Revelou-se,

igualmente, um exemplo de mãe coragem que soube atravessar todas as adversidades sem nunca desistir dos

seus princípios e das suas convicções.

Maria Barroso, atriz cujo talento deixou bem expresso no Teatro Nacional e no cinema, como em «Benilde

ou a Virgem Mãe» do realizador Manuel Oliveira, ou na declamação de uma vasta geração de poetas

portugueses, com destaque para os do «Novo Cancioneiro», que disse como ninguém, marca o estilo de uma

modernidade clássica, comprometida com o seu tempo e com os combates pela liberdade e pela democracia

em nome da dignidade de todas as pessoas, sem exceção de condição ou de credo.

A sua determinação pela defesa da liberdade custou-lhe, durante a ditadura, interrogatórios na PIDE, a

carreira como atriz, a proibição de funções docentes no colégio a que sempre esteve ligada e uma vida de

percalços e de perseguições políticas que, todavia, nunca a fizeram vergar.

Maria Barroso foi voz ativa no Congresso Republicano de Aveiro, fundadora do Partido Socialista, Deputada

após o 25 de Abril e, ao lado do Presidente da República Mário Soares, exerceu as funções inerentes à

representação protocolar com a elevada finura do seu modo pessoal, discreto e distinto, que tanto cativou os

portugueses. Mas, sobretudo, Maria Barroso foi a mulher sempre atenta às necessidades dos outros e disponível

para fazer ouvir a sua palavra em defesa da tolerância, da proteção dos mais necessitados, em particular das

crianças, da igualdade de género e dos direitos humanos.

Maria Barroso, à frente de uma instituição de ensino, marcou indelevelmente gerações de alunos.

Na presidência da Cruz Vermelha Portuguesa contribuiu para o incremento dos valores humanitários e a

melhoria dos cuidados de saúde em Portugal e para o aprofundamento dos fatores de paz e desenvolvimento

em vários países de língua portuguesa.

Na presidência da Fundação Pro Dignitate continuou, sem desfalecer, empenhada na sua causa de sempre

contra todas as ameaças de violência e de opressão na sociedade.

Num mundo carecido de valores e de princípios, Maria Barroso testemunhou até ao fim a sua crença de

sempre nas pessoas e a sua fé religiosa com a simplicidade, a ternura e a dedicação que significativamente a

aproximou do Papa Francisco e das suas mensagens como representações do mundo e da necessidade de

reconstituição, a todos os níveis, da dignidade humana.