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II SÉRIE-B — NÚMERO 22

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VOTO N.º 194/XIII (2.ª)

DE PESAR PELO FALECIMENTO DE MÁRIO SOARES

É com profundo pesar que a Assembleia da República assinala o falecimento de Mário Soares.

Com o seu desaparecimento, assalta-nos um sentimento de perda, mas o exemplo perdura.

A sua marca é demasiado grande para ser esquecida. Nela encontrarão as novas gerações a força e a

inspiração para ultrapassarem os desafios e darem continuidade ao seu impressionante legado, um legado de

coragem política, de patriotismo democrático e de abertura ao mundo.

Mário Soares abraçou desde cedo a política como vocação.

Enquanto jovem advogado, destacou-se pela defesa de vários presos políticos.

As corajosas atividades de oposição à ditadura, já travadas ao lado de Maria de Jesus Barroso, valeram-lhe

a prisão, a deportação e o exílio.

O lema de vida de Mário Soares foi sempre o mesmo: “só é vencido quem desiste de lutar”.

Em 1996, já tinha sido tudo: Ministro, Primeiro-Ministro, Presidente da República. E tinha o seu lugar na

História.

Contudo, atento às tendências de cada momento histórico e curioso em relação às novas gerações, preferiu

continuar a lutar e a pensar no futuro.

Lutou até ao fim e, com isso, deixa-nos um exemplo ímpar de cidadania política.

Se a política era a vocação de Mário Soares, a liberdade era a sua causa.

Mário Soares tinha a intuição dos grandes políticos e a visão dos grandes estadistas.

Antecipava os grandes movimentos do seu tempo e disso beneficiou o País, que assim melhor se posicionou

perante os desafios da História.

Foi antifascista durante a ditadura e anticolonialista quando a ditadura se dizia “orgulhosamente só”.

Desde o momento da sua chegada a Santa Apolónia, no “comboio da liberdade”, nunca perdeu de vista

aquilo que era, para si, o essencial.

Procurou sempre liderar os acontecimentos e o País inteiro acabou por apanhar o “comboio da liberdade”.

Como Deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República, honrou o parlamentarismo e a

atividade parlamentar.

Na qualidade de Primeiro-Ministro, deixou as bases do Estado social e a adesão à então Comunidade

Económica Europeia.

Foi Presidente da República entre 1986 e 1996. Nessa qualidade, prestigiou o Estado português e influenciou

o entendimento que temos hoje do cargo presidencial.

O Portugal democrático, tolerante e solidário, e o País do mar, europeu e aberto ao mundo, é o País de Mário

Soares. Isso é reconhecido pelos portugueses e pelos países amigos e aliados de Portugal, como temos

testemunhado ao longo destes dias.

Mário Soares era um democrata português e, nesse sentido, um cidadão aberto ao mundo.

O Partido Socialista, força estruturante da democracia portuguesa, do qual era o militante n.º 1, foi fundado

ainda durante o seu exílio.

Enquanto Secretário-Geral do PS, Mário Soares foi um dirigente influente da Internacional Socialista, o que

viria a contribuir, de forma relevante, para o sucesso da democratização portuguesa e da integração europeia

de Portugal.

Mas, mesmo enquanto Secretário-Geral do PS, não hesitou em ficar quase só para defender o seu

pensamento sobre Portugal e sobre a democracia.

Na Presidência da República esteve atento aos movimentos sociais e aberto ao mundo das ideias e da

cultura, com o qual teve sempre uma cumplicidade genuína.

Cometeu erros, certamente, mas sempre entendeu a política democrática como uma atividade apaixonante,

feita de vitórias mas também de derrotas, assente em escolhas claras e convicções fortes.

Todos estiveram, alguma vez, ao lado dele e contra ele. Ao mesmo tempo, todos lhe reconhecem a lealdade

com os adversários e a tolerância com a diferença.

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