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28 DE NOVEMBRO DE 2020

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PROJETO DE VOTO N.º 406/XIV/2.ª

DE SAUDAÇÃO AO CENTENÁRIO DE BERNARDO SANTARENO

Nascido em Santarém, a 19 de novembro de 1920, Bernardo Santareno – pseudónimo do psiquiatra

António Martinho do Rosário – foi um dos mais relevantes dramaturgos portugueses do século XX, afirmando-

se pela vasta obra literária, essencialmente no domínio do teatro, mas onde pontua a prosa e a poesia.

O seu primeiro livro de poesia, Morte na raiz, é publicado em 1954, com ele nascendo o pseudónimo

Bernardo Santareno, em homenagem à sua cidade de Santarém e ao Santo Padroeiro do lugar de Espinheiro,

onde nasceram Pai e Avós e onde passou férias na infância e adolescência. É como Bernardo Santareno que

passa a ser conhecido no universo cultural português e internacional.

Seguem-se Romances do Mar, em 1955, e, em 1957, Os Olhos da Víbora. É desse ano o livro Teatro, com

as peças A Promessa, O Bailarino e A Excomungada – obra que o encenador e crítico António Pedro anuncia

no Diário de Notícias digna de qualquer país moderno do mundo, profetizando que «(…) o maior dramaturgo

de todos os tempos é um jovem médico embarcado na frota bacalhoeira portuguesa que usa o pseudónimo de

Bernardo Santareno».

Levando à cena A Promessa no Teatro Experimental do Porto, pela mão do seu diretor, António Pedro,

logo a censura a retira de palco, sob pressão dos setores mais conservadores da Igreja Católica. Inicia o

percurso de dramaturgo sob o signo de forte polémica, tendo Bernardo Santareno sido perseguido pelos seus

valores e ideias e o seu teatro alvo da censura.

Nas duras viagens à pesca do bacalhau pelos mares da Terra Nova e da Gronelândia, em 1957 e 1958,

embarcado como médico, escreve a peça O Lugre e o livro de viagens Nos Mares do Fim do Mundo,

profundamente humanista. É Bernardo Santareno quem introduz na sociedade portuguesa uma nova forma de

ver e de sentir o duro sofrimento dos pescadores, por contraponto à propaganda do regime.

No período que medeia entre 1957 e 1980, escreve dezasseis peças, que perseguem a luta pela liberdade

e a dignidade do ser humano contra todas as formas de opressão – causas do intelectual de esquerda que

sempre foi, tendo aderido à Juventude Comunista em 1941, data a partir da qual milita no Partido Comunista

Português. A última peça, O Punho, de 1980, só foi publicada postumamente, em 1987.

Personalidade de profunda cultura, acompanha a obra de Federico Garcia Lorca, contactando com o

existencialismo de Sartre, com Ionesco, ou com Jean Genet, de quem foi tradutor e cujo teatro representou

pela primeira vez em Portugal.

A importância da obra de Bernardo Santareno – desaparecido em 29 de agosto de 1980, e de cujo

nascimento se celebra, em 2020, o centenário – reside na centralidade que deu aos direitos e às liberdades

individuais por oposição aos preconceitos morais e sociais de um Portugal atrasado e isolado do resto do

mundo, abordando temas originais e não consensuais para a época, como o papel da mulher na sociedade,

nas instituições e no casamento.

A Assembleia da República, reunida em sessão plenária, evoca Bernardo Santareno, saudando e

associando-se às Comemorações Nacionais do Centenário do seu Nascimento (1920 – 2020), às quais

concedeu o seu Alto Patrocínio.

Palácio de São Bento, 26 de novembro de 2020.

O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

Outros subscritores: João Cotrim de Figueiredo (IL) — Alexandre Quintanilha (PS) — Santinho Pacheco

(PS) — Ana Mesquita (PCP) — Diana Ferreira (PCP) — Duarte Alves (PCP) — Jerónimo de Sousa (PCP) —

Paula Santos (PCP) — Alma Rivera (PCP) — João Dias (PCP) — Bruno Dias (PCP) — João Oliveira (PCP) —

António Filipe (PCP) — Edite Estrela (PS) — Cristina Jesus (PS).

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