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II SÉRIE-C — NÚMERO 27

seu valor geral como instrumento de afinação do espírito crítico e de imunização de valores espirituais, morais e estéticos, o seu valor como instrumento de desenvolvimento da inteligência dos instruendos e o seu valor propedêutico para aprendizagem de novas línguas.

Portugal é provavelmente o País da Europa em que a divulgação da língua esperanto mais se ressente de repressões passadas (aparentemente mais ainda do que a Albânia e a Roménia, os dois últimos bastiões derrubados da repressão contra o esperanto).

Rivalizando com o nazismo, o estalinismo, o fascismo, o franquismo e o maccarthismo, nos respectivos países, o «corporativismo» português castigou tão severamente o movimento esperantista português, com proibições e perseguições, que, ainda hoje, este movimento se ressente disso nas sequelas que o marcam.

Sintomaticamente, nos países onde mais forte foi a repressão contra o movimento esperantista, mais ele floresce hoje, com o apoio activo, moral e material, do poder público, das universidades, dos meios de comunicação e das instituições de vocação cultural (a vizinha Espanha é disso exemplo eloquente), como se as instâncias com responsabilidade na cultura quisessem, à uma, em nome da democracia cultural, assumir a tarefa de redimir esse passado repressivo. Portugal é, por enquanto, a excepção a mendigar conversão à regra.

A União do Esperanto na Europa, dirigida pelos 12 presidentes das associações nacionais de esperanto dos Países membros da CEE, tem estado muito activamente apostada na implementação de um projecto europeu de instituição gradual do esperanto como segunda língua de cada um desses 12 países, a nível da CEE, jã a partir de 1993.

No âmbito desse projecto, têm tido lugar entrevistas dos dirigentes esperantistas europeus com membros dos seus governos nacionais (Ministérios da Educação, das Relações Exteriores e dos Assuntos Europeus) e com parlamentares do chamado «Grupo pró-Esperanto do Parlamento Europeu» (65 membros no último levantamento feito— 10 da Bélgica, 19 da Grã-Bretanha, 1 da Dinamarca, 1 da França, 5 da Irlanda, 21 da Itália, 3 da Alemanha e 4 da Holanda), assim como têm ocorrido campanhas participadas e programas divulgados pelos meios de comunicação, subsídios oficiais e institucionais e outras medidas de diversa natureza para implementação do projecto.

Apesar de, até hoje, muitos estadistas eminentes (entre eles chefes de Estado e de Governo da Europa) e muitos prémios Nobel, de entre muito mais gente do inundo político e cultural, terem apoiado a utilização do esperanto como segunda língua de cada povo; apesar de, em cerca de 130 universidades, ser hoje ministrado o ensino do esperanto (há na Europa licenciatura e doutonunento em Filologia do Esperanto); apesar de o multilinguísmo actualmente praticado na CEE (com nove línguas oficiais) atrasar e complicar as comunicações e impedir a optimização das relações intracomunitárias, mormente económicas, e de se avizinharem situações muilo. mais críticas com o aprofundamento do mercado comum e com o inevitável intercâmbio com os países do Leste europeu — apesar disso tudo, e de inuito mais, o esperanto, por conveniências tamanhas e preconceitos tacanhos, ainda não alcançou o estatuto oficial de língua veicular internacional, para que foi precisamente concebido.

7 — A comunicação linguística directa entre os cidadãos da Comunidade Europeia, apesar do enorme investimento

em meios humanos e financeiros, e do gasto de tempo, continua sem solução satisfatória.

Além da falta de talento natural e de motivação para a aprendizagem de línguas estrangeiras, uma das causas de tal insatisfação é o facto de as crianças não estarem preparadas para essa aprendizagem, tal como estão, desde o ensino primário, para outras disciplinas (v. g. matemática ciências e geografia). À maior parle dos alunos falta a compreensão «interna» do fenómeno linguístico, falta o conhecimento das bases essenciais da língua, de todas as línguas, falta o paradigma neutro, a língua referência neutra em que se encontram todas as qualidades e técnicas com que qualquer língua funciona como língua e não como um código. Tal paradigma tem de ter um valor preparatório, inicialório e propedêutico.

A língua esperanto costumam ser apontadas, como principais, três funções de natureza prática:

a) O facto de ser neutra, metodologicamente lógica, multidisciplinarmente apetrechada para a vida moderna e usada «normalmente» à escala mundial faz dela um instrumento de comunicação interétnica a todos os níveis e em todos os campos da sociedade, inclusive para as crianças menos dotadas;

/;) Como paradigma linguístico, como língua de referência, o esperanto tem também utilidade propedêutica, servindo para introdução ao ensino de outras línguas, inclusive ao da língua pátria e isso por causa das seguintes qualidades (do esperanto):

A sua estrutura interna, clara e regular, em que são imediatamente reconhecíveis lodos os mecanismos e noções gramaticais;

As suas regras sem excepções;

O seu sistema fonético, em que lodo e cada som está claro e uniformemente dcfinidcv,

A relação directa entre a ortografia e o sistema fonético;

O carácter internacional do léxico e da gramática;

A tlexibilidade e as possibilidades criativas da derivação de palavras mediante afixos;

c) O esperanto é também útil como meio de descobrir o talento natural para aprender línguas estrangeiras, ou a falta desse talento no ensino médio.

O valor propedêutico do esperanto foi objecto de pelo menos 15 experiências pedagógicas realizadas em vários países nas últimas décadas. De entre essas experiências sobressaem as recentes pesquisas do Prof. Doutor Helmar Frank, do Instituto de Cibernética da Universidade de Padcrbom, na Alemanha, cujo resultado, de comprovação desse valor propedêutico, foi objecto de publicação e

divulgação científica.

8 — Ocorrerá no Verão de 1992 o 1.° Convénio Europeu de Esperanto (sem prejuízo do Congresso Universal de Esperanto no mesmo ano). Promovido pela Federação Itidhuia e pela Associação Francesa, terá lugar em Verona, contando já com a participação de representantes dos 12 países da CEE.

Esta iniciativa tem apoios certos cm círculos culturais, políticos e mediáticos, além de encontrar eco dentro do próprio Parlamento Europeu.

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