O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Página 1

Sexta-feira, 13 de outubro de 2017 II Série-E — Número 3

XIII LEGISLATURA 3.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2017-2018)

S U M Á R I O

Comissão Técnica Independente sobre a análise e apuramento dos factos relativos aos incêndios que ocorreram em Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Ansião, Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Arganil, Góis, Penela, Pampilhosa da Serra, Oleiros e Sertã, entre 17 e 24 de junho de 2017:

— Relatório.

Página 2

Página 3

Página 4

3

ÍNDICE

SUMÁRIO EXECUTIVO .................................................................................................................................. 7

1. NOTA PRÉVIA .......................................................................................................................................... 25

2. OS INCÊNDIOS EM ANÁLISE .................................................................................................................. 29

2.1 OS INCÊNDIOS DE PEDRÓGÃO GRANDE E DE GÓIS ..................................................................................................... 29 2.2 OUTROS INCÊNDIOS NO PINHAL INTERIOR ................................................................................................................. 30

3. IMPACTOS E TENDÊNCIAS NACIONAIS ............................................................................................... 33

3.1 AS ÁREAS ARDIDAS .................................................................................................................................................. 33 3.2 AS PERDAS DE VIDAS ............................................................................................................................................... 35 3.3 OS CUSTOS SOCIAIS QUANTIFICADOS ........................................................................................................................ 36 3.4 OUTRA DESPESA PÚBLICA ........................................................................................................................................ 38

4. MUDANÇAS NO TERRITÓRIO E NO REGIME DE FOGO ...................................................................... 41

4.1 ALTERAÇÕES NA OCUPAÇÃO HUMANA DO TERRITÓRIO ................................................................................................ 41 4.2 A DINÂMICA DO USO DO SOLO ................................................................................................................................... 44 4.3 A MUDANÇA DE REGIME DE FOGO.............................................................................................................................. 48

5. O COMPORTAMENTO DO FOGO ........................................................................................................... 53

5.1. CONDIÇÕES PIROMETEOROLÓGICAS ........................................................................................................................ 53 5.1.1. Situação antecedente ............................................................................................................ 535.1.2. Meteorologia e perigo de incêndio ....................................................................................... 55

5.2. O INCÊNDIO DE PEDROGÃO GRANDE ....................................................................................................................... 61 5.2.1. Deteção .................................................................................................................................... 615.2.2. Causa ....................................................................................................................................... 615.2.3. Períodos de propagação do fogo ......................................................................................... 64

5.3. O INCÊNDIO DE GÓIS .............................................................................................................................................. 70 5.4. EXPLICAÇÃO E DISCUSSÃO DO COMPORTAMENTO DO FOGO ....................................................................................... 73

5.4.1. Os incêndios de Pedrógão Grande e Góis no contexto dos maiores incêndios em

Portugal ............................................................................................................................................... 73 5.4.2. A “aridez” do combustível ...................................................................................................... 775.4.3. Meteorologia que afeta o incêndio versus meteorologia do incêndio ............................. 785.4.4. O papel da instabilidade atmosférica ................................................................................... 815.4.5. As características gerais do incêndio de Pedrogão Grande ............................................ 84 5.4.6. As causas do “colapso” da pluma do incêndio ................................................................... 865.4.7. A diferente evolução dos incêndios de Pedrogão Grande e de Góis ............................. 86

5.5. RELEVÂNCIA PARA AS OPERAÇÕES DE COMBATE ....................................................................................................... 88

6. REGISTO E ANÁLISE DAS FATALIDADES ............................................................................................ 91

6.1. CARACTERIZAÇÃO DOS LOCAIS DAS FATALIDADES ..................................................................................................... 91 6.1.1 Distribuição geográfica ............................................................................................................ 916.1.2 Uso do solo e gestão dos combustíveis na proximidade dos locais ................................ 946.1.3 Comportamento local do fogo ................................................................................................ 95

6.2. AS FATALIDADES .................................................................................................................................................... 95 6.2.1 Caracterização das vítimas e sua ligação à zona ............................................................... 966.2.2 Relação entre as vítimas e as casas .................................................................................... 976.2.3 Circunstâncias das fatalidades em relação às viaturas ..................................................... 986.2.4 O período de ocorrência das fatalidades ............................................................................. 99

7. PREVENÇÃO E PRÉ-SUPRESSÃO NOS CONCELHOS AFETADOS ................................................. 101

7.1 A PREVENÇÃO ESTRUTURAL ................................................................................................................................... 101

Página 5

4

7.1.1 Metodologia de análise ......................................................................................................... 1017.1.2 Recursos e implementação da prevenção ......................................................................... 1017.1.3 Análise das ações de gestão de combustível executadas no território ......................... 1037.1.4 A ligação da prevenção à pré-supressão e supressão .................................................... 113

7.2. A PREVENÇÃO OPERACIONAL E A DETEÇÃO DE INCÊNDIOS NA ÁREA AFETADA ............................................................ 118 7.2.1. A identificação das causas .................................................................................................. 1187.2.2. Sensibilização e fiscalização............................................................................................... 1187.2.3. Vigilância, pré-posicionamento e deteção ........................................................................ 119

7.3. AVALIAÇÃO DO PERIGO METEOROLÓGICO DE INCÊNDIO ........................................................................................... 119

8. O COMBATE AOS INCÊNDIOS DE PEDRÓGÃO GRANDE E DE GÓIS .............................................. 121

8.1 O DISPOSITIVO E O PLANEAMENTO .......................................................................................................................... 121 8.1.1 O Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) ............................ 1218.1.2 O planeamento para o período de 16 a 18 junho ............................................................. 122

8.2. O COMBATE AO INCÊNDIO DE PEDRÓGÃO GRANDE .................................................................................................. 124 8.2.1 O ataque inicial (ATI) ............................................................................................................. 1248.2.2. O ataque ampliado (ATA) .................................................................................................... 1268.2.3. O posto de comando operacional (PCO) .......................................................................... 1298.2.4. Comunicações ....................................................................................................................... 1338.2.5. O comando da operação de socorro (COS) ..................................................................... 134

8.3. COMBATE AO INCÊNDIO DE GÓIS ........................................................................................................................... 138 8.3.1. O ataque inicial (ATI) ............................................................................................................ 1388.3.2. O ataque ampliado (ATA) .................................................................................................... 1388.3.3. O posto de comando operacional (PCO) .......................................................................... 1398.3.4. Comunicações ....................................................................................................................... 1408.3.5. O comando da operação de socorro (COS) ..................................................................... 140

8.4 A GESTÃO DO TRÂNSITO E AS EVACUAÇÕES ............................................................................................................. 141 8.4.1 A gestão do trânsito ............................................................................................................... 1418.4.2 A evacuação das populações .............................................................................................. 1448.4.3 O que poderia ter sido diferente .......................................................................................... 145

8.5. CUIDADOS DE SAÚDE ............................................................................................................................................ 145 8.6. O SISTEMA SIRESP ............................................................................................................................................. 147

9. AVALIAÇÃO DE CENÁRIOS ALTERNATIVOS ..................................................................................... 149

9.1. DIFERENTES MODELOS DE OCUPAÇÃO FLORESTAL E DE GESTÃO DO COMBUSTÍVEL ........ 149

9.2. DIFERENTES ESTRATÉGIAS DE GESTÃO DO FOGO .......................................................................... 150

10. PROBLEMÁTICAS E RECOMENDAÇÕES .......................................................................................... 153

A.SISTEMA ............................................................................................................................................ 154

10.2 MAIOR INTEGRAÇÃO DA PREVENÇÃO E DO COMBATE ................................................................... 155 10.3 MONITORIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DO SISTEMA E DOS SEUS INTERVENIENTES ............................. 156

B.CONHECIMENTO .............................................................................................................................. 156

10.4 GARANTIR A INTRODUÇÃO CONSISTENTE DE CONHECIMENTO NAS DIVERSOS COMPONENTES

DO SISTEMA ............................................................................................................................................................ 156 10.5 GRAU DE PREVISIBILIDADE NOS INCÊNDIOS FLORESTAIS ............................................................ 157 10.6 PROMOVER A INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA NO ÂMBITO DO SISTEMA NACIONAL

DE DEFESA DA FLORESTA CONTRA INCÊNDIOS ................................................................................................. 159

C.RECURSOS HUMANOS .................................................................................................................... 160

10.7 RECURSOS HUMANOS QUALIFICADOS, COMPONENTE CRÍTICA DO SISTEMA ............................. 160 10.8 FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO EXIGENTES E AJUSTADAS ÀS NECESSIDADES DO SISTEMA ...... 161

Página 6

5

D.ORDENAMENTO E GESTÃO ............................................................................................................ 163

10.9 ORDENAMENTO FLORESTAL ............................................................................................................. 163 10.10 PRIVILEGIAR O USO DO SOLO EM DETRIMENTO DE DIREITOS DE ABANDONO ............................ 164 10.11 PROTEÇÃO DE PESSOAS E BENS E VALORIZAÇÃO DOS ESPAÇOS FLORESTAIS ........................ 165 10.12 ADEQUADO USO DO FOGO NA PREVENÇÃO .................................................................................... 168

E.GESTÃO DE OPERAÇÕES DE COMBATE ...................................................................................... 169

10.13 VALORIZAÇÃO E PROTEÇÃO DO POSTO DE COMANDO .................................................................. 169 10.14 INCREMENTAR A EFICÁCIA DA PRIMEIRA INTERVENÇÃO E DAS REGRAS DO ATI ........................ 169 10.15 REFORÇAR A CAPACIDADE DE ATAQUE AMPLIADO ATA ................................................................ 170 10.16 MELHORAR O SISTEMA DE COMUNICAÇÕES E DE REGISTO DE INFORMAÇÕES ......................... 171

10.17 REFORÇO DO PAPEL DAS FORÇAS ARMADAS NO APOIO AO SISTEMA DE PROTEÇÃO CIVIL ..... 172

F.POPULAÇÕES ................................................................................................................................... 173

10.18 ENVOLVER A SOCIEDADE NO PROBLEMA DOS INCÊNDIOS – A QUESTÃO DAS IGNIÇÕES .......... 173 10.19 ASSOCIAR AS POPULAÇÕES ÀS MEDIDAS DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIOS RURAIS ........... 174 10.20 MOBILIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E COLABORAÇÃO LOCAIS ......................... 175

11. AGÊNCIA PARA A GESTÃO INTEGRADA DOS FOGOS RURAIS (AGIF) ........................................ 177

11.1 PRINCÍPIOS .......................................................................................................................................... 177 11.2 AGÊNCIA PARA A GESTÃO INTEGRADA DE FOGOS - AGIF .............................................................. 179

ANEXOS ..................................................................................................................................................... 183

ÍNDICE DE ANEXOS ...................................................................................................................................................... 185

APÊNDICES ................................................................................................................................................ 277

Página 7

Página 8

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

7

SUMÁRIO EXECUTIVO

Os acontecimentos relacionados com os incêndios de Pedrógão Grande e de Góis, dos quais

resultaram um enorme conjunto de vítimas mortais, colocaram a problemática da floresta e dos

incêndios florestais na ordem do dia. Embora de importância central na vida das nossas

comunidades, foram os incêndios florestais de 2016 e, sobretudo, os de 2017 que remeteram

esta temática para uma situação reconhecidamente insuportável e que exige soluções

profundas, estruturantes e consensuais.

A questão que se coloca é a seguinte: no século XXI, com o avanço do conhecimento nos

domínios da gestão da floresta, da meteorologia preventiva, da gestão do fogo florestal, das

características físicas e da ocupação humana do território, como é possível que continuem a

existir acontecimentos como os dramáticos incêndios da zona do Pinhal Interior que tiveram lugar

no verão de 2017?

A análise desenvolvida pela CTI abordou os principais aspetos, relacionados com a atuação dos

diversos agentes e entidades, com a severidade do fenómeno e com as características do

território em questão.

Como resultado dessa análise, há que concluir, desde já, que as razões principais que

conduziram àquele acontecimento dramático, têm origem em três níveis de problemáticas,

embora se reconheça que todos eles estão profundamente interligados. Essas problemáticas

são:

 Conhecimento Não é possível continuar a ignorar que o fenómeno do fogo florestal se

caracteriza por diversos aspetos que correspondem, na atualidade, a um conhecimento

diverso acumulado, desenvolvido em Portugal e noutros países. Nos diversos domínios,

desde a meteorologia à gestão florestal, desde a manipulação do fogo até à operação

de combate, desde os modelos de silvicultura até aos figurinos suscetiveis de mobilizar

os proprietários, todos estes aspetos têm sido objeto de intensa reflexão, de produção

científica internacionalmente validada e de construção de mecanismos orientados para

a aplicabilidade desse conhecimento. Não há razão alguma para manter o divórcio entre

a premência de soluções para estes problemas e o conhecimento existente sobre esses

mesmos problemas.

Pode até evocar-se, no caso português, o desprezo que se tem atribuído, com

frequência, ao conhecimento acumulado, muitas vezes com o pretexto de adoção de

novidades aparentemente ofuscantes, mas que escondem equívocos e desajustes

pessoais. O dominio da gestão da floresta em Portugal foi frequentemente afetado, nos

últimos anos, por intervenções que fizeram tábua rasa do conhecimento acumulado e

que levaram a introduzir alterações, reajustamentos ou reformas que quebraram o ciclo

normal de valorização e proteção deste recurso nacional.

O conhecimento que tem sido desenvolvido, incorporando os enormes avanços que a

ciência tem protagonizado (principalmente na área da meteorologia, da silvicultura e da

gestão do fogo) e recuperando modelos e práticas ancestrais de gestão da floresta, não

pode continuar a ser entendido apenas como um tema que anima a reflexão académica,

que reforça os indicadores de produção científica ou que prestigia os centros de

investigação científica, sem que se assuma uma insistência significativa na transferência

e na aplicabilidade do conhecimento aos problemas concretos do país.

Este aspeto, que se conseguiu já superar em alguns domínios da sociedade portuguesa,

continua anquilosado na área florestal, com especial relevo para a supressão dos

incêndios florestais. E não se identifica razão alguma para que, em tese, esse fosso

insista em se manter.

Esta a primeira problemática que urge superar.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 8

Página 9

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

8

 Qualificação Esta problemática abrange transversalmente diversos setores

comprometidos com a defesa da floresta contra incêndios. Reconhece-se que a

diversidade de agentes intervenientes não facilita uma intervenção coordenada e

qualificada, pois confrontam-se profissionais com diferentes capacidades e

competências, enquadrados por variadas instituições, independentes umas das outras

(públicas e privadas), e assumindo funções centradas em atribuições que, nalguns

casos, incidem em desafios laterais aos que justificaram as respetivas mobilizações.

Trata-se, por conseguinte, de uma situação que gera enormes dificuldades quando se

procura um forte empenho e concertação.

A evolução deste complexo e do respetivo enquadramento social conduziu a uma

redução da disponibilidade de muitos dos intervenientes, à ausência de formação e

capacitação profissionais adequadas para muitos outros e, ainda, ao não integral

aproveitamento de outros que, embora preparados, não têm sido chamados para intervir

nos momentos para os quais poderiam ter uma atuação positiva. Em suma, a

desadequação entre as funções desempenhadas por cada um dos diversos agentes e

as respetivas qualificações e competências é um dos graves problemas que impede a

solução de muitos dos problemas existentes em torno dos incêndios florestais.

O corpo dos bombeiros voluntários, por exemplo, presta um enorme serviço às diversas

comunidades, com especial relevo para os aglomerados mais isolados. Mais de 90% dos

serviços prestados por estas corporações inserem-se nas áreas sociais, incluindo a

saúde. Porém, o regime de voluntariado tem-se degradado nos últimos anos, por

ausência de vocação, por solicitações sociais diversas e, também, por escassez de

pessoas. Por esse motivo, é importante valorizar o que pode ser feito com vocação,

evitando outras tarefas que necessitam de outros perfis profissionais, por ventura mais

intensos e especializados.

As forças profissionais de intervenção (GIPS e FEB) estão preparadas, ao nível

operacional, para intervenções nas fases de ataque inicial e de ataque ampliado. Mas o

seu efetivo é limitado e, nas condições atuais do sistema de defesa da floresta contra

incêndios, dificilmente poderão cobrir, de um ponto de vista geográfico, as diversas

emergências que se manifestam nos períodos críticos, não extintas nos momentos

iniciais. Teremos de orientar a atuação para a adoção de forças especializadas, com

elevado nível de qualificação, destinadas à resolução destas problemáticas, o que não

se coaduna com amadorismos.

Os operacionais da autoridade da proteção civil, recrutados no seio de licenciados,

podem cumprir adequadamente as suas funções ou assumir desempenhos pouco

ajustados à exigência dos acontecimentos de socorro e emergência. A ausência de uma

carreira especificamente dedicada à formação deste perfil profissional e a instabilidade

ocasional provocada pelos ciclos políticos atribuem a esta função desempenhos

fortuitos, o que pode gerar (tem gerado), em alguns casos, situações com graves

consequências. As competências de comando, de liderança, de organização ou de

logística, normalmente associadas ao perfil castrense, não são neste universo

características assumidas por todos os operacionais.

A componente tecnológica e profissional, assumida pelos intervenientes dispersos por

várias entidades e agentes (Universidades, Câmaras Municipais, ICNF, Organizações

de produtores Florestais, Empresas privadas, Sapadores Florestais, etc.), é variada e

não é suficientemente chamada a intervir nos diversos momentos destes

acontecimentos. Em Espanha, por exemplo, qualquer incêndio de amplitude significativa

tem um Diretor, que é um técnico florestal experimentado na gestão da floresta e do

fogo. Esse perfil profissional, também iniciado em Portugal mas adotado de forma

distinta, é pouco solicitado, conduzindo a que as operações de combate a incêndios

13 DE OUTUBRO DE 2017 9

Página 10

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

9

tenham um carácter estritamente quantitativo, em redor da mobilização de homens,

viaturas, aviões ou helicópteros, apimentados com os relatos artificialmente empolados

da responsabilidade de alguns órgãos da comunicação social.

 Governança A terceira problemática resulta do quadro de governança a que a floresta

portuguesa tem estado submetida. Recorde-se, desde logo, que a autoridade florestal

nacional mudou seis vezes de figurino institucional nos últimos vinte anos. Para uma

instituição que se manteve estável durante mais de um século, nada de bom haveria a

esperar desta evolução tortuosa. A estabilidade desta área institucional constitui o

paradigma da maior parte dos países que encaram a floresta como uma riqueza

nacional, independentemente das formas de exploração ou de proteção.

Mesmo no interior da autoridade florestal nacional, a orgânica da gestão da defesa da

floresta contra incêndios passou, em poucos anos, de uma estrutura de topo da

administração pública, com um perfil de Direção Geral, para um setor marginal,

encaixado com dificuldade numa Divisão de Serviços de uma entidade que aglomerou,

por fusão, funções originárias de diversos organismos.

A presença institucional orientada para a floresta, com expressão territorial, foi em

determinado momento partilhada com os Municípios. Em tese esta tendência de

descentralização parece interessante, embora tenha de ser acompanhada pela

autoridade nacional nas componentes técnica e estratégica. Essa dependência

funcional, em resultado da extrema redução das atividades da autoridade nacional, não

se impôs, levando a que os núcleos municipais (Gabinetes Técnicos Florestais)

enveredassem em muitos casos por funções marginais em relação ao que poderia (e

deveria) ser a sua carta de missão.

As iniciativas nos domínios da prevenção e do combate deveriam ser protagonizadas,

pelo menos nos seus pilares básicos, por entidades com a mesma orientação e, se

possível, com a mesma inserção institucional. O combate protagonizado por

operacionais que não acompanharam as intervenções de prevenção, e vice-versa, tem

todas as condições para gerar situações de desaproveitamento de oportunidades

criadas pela prevenção para aumentar o êxito do combate.

Em momentos de emergência aguda, na presença de incêndios florestais de significativa

dimensão, a conjugação da atuação das diversas entidades, sem comando

especializado, profissionalmente prestigiado e com autoridade reconhecida, torna difícil

a condução dessas operações. Entidades privadas, associativas, profissionais, a que se

deverão associar os diversos agentes de proteção civil (segurança, saúde, transportes,

logística, Forças Armadas), transformam estas atuações em complexas operações,

obrigatoriamente multifacetadas, que exigem grande capacidade de liderança e

comando.

As deficiências do quadro institucional e do modelo de governança contribuem para

agravar o problema dos incêndios florestais e, de um modo mais geral, para dificultar um

melhor ordenamento e gestão do espaço rural. Estes aspetos refletem-se na limitada

aplicação e cumprimento dos objetivos estabelecidos nos textos legais e nos diversos

Planos entretanto concebidos. Por estes motivos, importa refazer os mecanismos que

possam permitir uma ação eficaz, designadamente a partir de um novo pacto social a

estabelecer entre proprietários, utentes e instituições, com impacto nacional e municipal.

Neste quadro, sublinhando as principais razões que têm retirado coerência aos domínios da

gestão florestal e da defesa da floresta contra incêndios, poderá fazer-se uma recordatória

comentada sobre os incêndios de Pedrógão Grande e de Góis e sintetizar-se algumas

Recomendações que são avançadas no Relatório.

As condições gerais

Os incêndios de Pedrogão Grande e Góis percorreram um território que pela sua orografia

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 10

Página 11

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

10

ondulada e continuidade florestal favorece grandes incêndios. Acresce que partes extensas da

região não ardiam desde há mais de 20 anos, o que à partida implica maior acumulação de

combustível florestal. Ainda assim, prevaleciam na área que veio a arder quantidades moderadas

de combustível, embora acima do limiar necessário para a ocorrência de incêndios “explosivos”.

Os incêndios ocorreram durante uma onda de calor prolongada, que se sucedeu a uma

primavera seca e anormalmente quente (em abril e maio), que por sua vez aconteceu após um

inverno seco. Esta sequência pré-condicionou a humidade da vegetação para níveis bastante

baixos, sendo que o combustível estava disponível para arder na sua totalidade desde o final de

maio.

As condições meteorológicas presentes e antecedentes resultaram em perigo de incêndio

extremo e elevada instabilidade atmosférica, uma conjugação que no passado gerou a

ocorrência dos maiores incêndios registados em Portugal.

No dia 17 de junho predominou vento fraco a moderado de noroeste e foi aumentando de

velocidade até às 18:00, tendo então rodado para o quadrante leste e enrijecido, havendo forte

evidência indireta de tal ter sido causado por uma frente de rajada proveniente das células

convectivas (trovoada) situadas a leste e em aproximação à região. No dia 18 de junho, as

condições meteorológicas foram ainda particularmente severas.

A excecionalidade dos incêndios e das condições específicas associadas

Os incêndios de Pedrogão Grande (28914 ha) e Góis (17521 ha), o segundo e o oitavo maiores

de sempre desde que há registos, foram causados respetivamente, por descargas elétricas

mediadas pele rede de distribuição de energia e por raio. O incêndio de Pedrogão Grande, cujo

período mais crítico é resumido no Quadro 5.2 é muito provavelmente aquele que, em Portugal,

libertou mais energia e o fez mais rapidamente (com um máximo de 4459 ha ardidos numa só

hora), exibindo fenómenos extremos de vorticidade e de projeção de material incandescente a

curta e a longa distância.

Há diferenças importantes entre estes incêndios e aqueles de grandeza semelhante que

ocorreram no passado:

 São os primeiros a acontecer ainda na primavera;

 relativamente aos índices individuais de perigo meteorológico associados à

velocidade de propagação do fogo e à quantidade de combustível morto disponível

para arder estão num patamar inferior, portanto não ocorreram numa situação tão

extrema.

Consequentemente, a excecionalidade destes eventos resulta da sinergia e encadeamento com

fatores adicionais, a saber:

 O adiantado estado de secura da vegetação, que distingue o ano de 2017 de

qualquer um dos anos anteriores;

 a grande instabilidade da atmosfera e o seu perfil de humidade, implicando muita

energia disponível para fenómenos convectivos e para correntes de ar descendente;

 o efeito da frente de rajada na velocidade de propagação, intensidade frontal e

capacidade do incêndio para gerar focos secundários;

 a expansão em área, assim possibilitada, permitiu que o incêndio aproveitasse e

reforçasse a estrutura favorável da atmosfera, fazendo ascender a coluna de

convecção até à formação de um pirocúmulonimbo, em que processos atmosféricos

dominam o fogo e o tornam mais errático e perigoso;

 o “colapso” da coluna de convecção, que originou a forte corrente de ar descendente

(downburst) causador do súbito e violento crescimento do fogo que provocou muitas

das fatalidades.

13 DE OUTUBRO DE 2017 11

Página 12

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

11

Quadro 1 Descrição sumária do incêndio de Pedrogão Grande e das correspondentes condições e dificuldades

de combate até à ocorrência das vítimas mortais no dia 17 de junho.

Horas,

área ardida no

final do período

Meteorologia Comportamento do fogo Dificuldade de controlo

14:30-16:00,

25 ha

Humidade do combustível muito

baixa (~4%) e no mínimo diário.

Vento fraco no início, com

progressivo aumento de

velocidade.

Cerca de 0,5 h após ignição:

velocidade de propagação

moderada, intensidade elevada a

extrema com fogo de copas

dependendo do declive e

vegetação.

Cabeça do incêndio

intermitentemente acima da

capacidade de extinção com meios

terrestres cerca de 0,5 h após ignição.

Oportunidades de sucesso nos

flancos. Contenção com meios de

ataque ampliado seria possivelmente

comprometida pelos focos

secundários.

16:00-18:00,

416 ha

Humidade do combustível a subir.

Influência da instabilidade

convectiva começa a fazer-se

sentir, com a velocidade do vento

a aumentar e primeiras rajadas

fortes.

Elevada velocidade de

propagação e intensidade

intermitentemente extrema.

Aumento da quantidade e

distância de projeção dos

materiais incandescentes.

Cabeça do incêndio

intermitentemente acima da

capacidade de extinção com meios

aéreos pesados. Contenção dos

flancos possível em modo de ataque

ampliado e bem organizado mas

provavelmente comprometida pelos

focos secundários.

18:00-19:00,

1.211 ha

Humidade do combustível

continua a subir. O vento geral

sopra de leste e tem a intensidade

máxima às 18:00. Condições

locais sob a influência da frente de

rajada.

Dominado pela coluna de

convecção, com formação de

pirocúmulonimbo. Velocidade de

propagação e intensidade

duplicam face ao período anterior.

Vorticidade acentuada e aumento

das projeções em quantidade e

distância alcançada.

Incontrolável, independentemente dos

meios disponíveis.

19:00-20:00,

3.799 ha

Rajadas de vento

progressivamente mais fortes e

erráticas. Outflow convectivo na

sua expressão máxima conjugado

com as condições meteorológicas

geradas pela coluna de

convecção.

Reforço das características do

período anterior com quási-

duplicação da velocidade e

intensidade do fogo. Maturação da

coluna de convecção com

aumento progressivo em vigor e

altitude.

Incontrolável, independentemente dos

meios disponíveis.

20:00-21:00,

8.258 ha

Downburst causado por queda

abrupta da coluna de convecção.

Colapso da coluna de convecção,

resultando em "chuva" de

projeções, com junção entre focos

secundários e sua interação com a

frente de propagação, resultando

em avanços súbitos das frentes de

chamas e fenómenos de ignição

em área. O incêndio deslocou-se a

15 km/h durante 10 minutos do que

resultou a maioria das vítimas

mortais.

Incontrolável, independentemente dos

meios disponíveis.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 12

Página 13

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

12

A previsibilidade dos eventos

Face às condições antecedentes e previsões existentes:

 Era possível que na região ocorressem fogos simultâneos, causados direta ou

indiretamente por trovoada “seca”;

 qualquer ignição em local com vegetação e topografia favoráveis certamente se

desenvolveria rapidamente, e bastante cedo, e a sua intensidade ultrapassaria a

capacidade de extinção;

 era provável na região a ocorrência de ventos localmente intensos com grande

potencial para modificar a direção de um incêndio a decorrer e ampliar a sua

magnitude;

 a muito elevada instabilidade atmosférica exacerbaria os efeitos anteriores e tornaria

o comportamento do fogo mais errático.

O incêndio de Pedrogão Grande é um caso especial de superação do potencial previsível de

propagação ao passar por duas alterações de comportamento, a primeira das quais possível

(alteração de direção e evolução mais rápida) e previsível, havendo acompanhamento

meteorológico; e a segunda muito improvável (colapso da coluna de convecção e downburst), tal

como demonstrado pelas simulações de comportamento do fogo. O facto de tal ter sucedido

antes do início do verão e à hora do dia em que normalmente diminui a severidade das condições

meteorológicas presumivelmente afetou a perceção de risco por parte dos operacionais.

A segunda modificação do comportamento do fogo não poderia ser prevista por nenhum serviço

de emergências em Portugal ou na Europa. O incêndio de Pedrogão Grande é, portanto, um

exemplo e um aviso de como os sistemas atuais de combate a incêndios não estão preparados

para enfrentar um novo problema com raiz nas alterações climáticas. Este incêndio tornou esse

problema evidente, pelo que urge entender o fenómeno e adaptar as estruturas de proteção civil

para adquirir capacidade de antecipação e planeamento face ao mesmo, substintuindo a lógica

de “mais meios” pela lógica do conhecimento e da próatividade.

As medidas de prevenção estrutural

A área de faixas de gestão de combustível, incluídas nos Planos Municipais de Defesa da

Floresta Contra Incêndios, dos 11 municípios afetados pelos incêndios de Pedrogão Grande e

Góis, atingem a extensão de 31 712,09 ha. No período de 2012 a 2017, apenas foram

executados cerca de 19%, de acordo com a informação cartográfica recolhida.

O maior constrangimento apontado foi a falta de cumprimento da legislação ao nível das faixas

de rede secundária (50 m em volta das edificações, 10 m para cada lado da rede viária e 100 m

à volta dos aglomerafos populacionais), comprometendo transversalmente proprietários privados

e as entidades gestoras das infraestruturas públicas e privadas.

A rede primária foi executada na totalidade apenas em três municipios. Num dos outros

municipios foi executada só no perímetro florestal. E em quatro outros concelhos não foi

planeada a rede primária. Nos três restantes municipios o grau de execução foi baixo. A utilidade

das faixas de gestão de combustível, em rede primária, foi evidente sobretudo no incêndio de

Góis, quando utilizada pelas forças de combate.

O tratamento de combustíveis em mosaico não foi, em termos gerais, utilizado. Esta modalidade

de gestão de combustíveis pode constituir-se no futuro como a mais interessante do ponto de

vista económico, se o seu delineamento assentar no conhecimento do histórico dos incêndios e

do comportamento do fogo.

A gestão ativa executada em áreas arborizadas e de matos representa 9,6% da área florestal

13 DE OUTUBRO DE 2017 13

Página 14

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

13

total (inclui povoamentos florestais e matos), no período de 2012 a 2017. Quer dizer que esta

gestão abrange menos de 2% por ano, o que corresponde a um valor manifestamente baixo.

Porém, nas áreas de floresta geridas pela indústria, o esforço de gestão do combustível é cerca

de 10 vezes maior.

A prontidão do Sistema de Defesa da Floresta Contra Incêndios

As condições atmosféricas então vigentes determinaram no dia 16 de junho um alerta especial

de perigo de incêndio florestal em nível Amarelo para todo o território por parte do CNOS. Estava-

se ainda na fase Bravo (15 de maio a 30 de junho) e não tinha sido tomada decisão alguma para

eventualmente antecipar a fase Charlie (normalmente de 1 de julho a 30 de setembro). Face às

condições instaladas e previstas, a avaliação que deve ser feita relativamente à prontidão das

atividades de pré-supressão de incêndios é francamente negativa, uma vez que:

 Os postos de vigia para deteção de incêndios mais próximos da ocorrência de

Pedrógão Grande não estavam ainda ativos;

 não havia vigilância móvel armada nem pré-posicionamento de meios de combate

em local estratégico, à exceção dos sapadores florestais.

Nesta situação, e perante os avisos e alertas meteorológicos, estavam criadas as condições para

que um eventual incêndio florestal se desenvolvesse, explorando as condições físicas,

meteorológicas e de insuficiente prontidão das forças de proteção civil. A antecipação da fase

crítica do DECIF poderia ter permitido a deteção mais precoce dos fogos nascentes e certamente

teria tido implicações nos resultados do combate aos incêndios.

É manifesta a rigidez dos procedimentos e recursos disponíveis para a pré-supressão e

supressão a incêndios em Portugal, indicando deficiências na perceção do risco e impedindo

uma resposta efetiva à evolução temporal do potencial de incêndios ao longo do ano. Note-se

que Portugal não dispõe de operacionais especializados em meteorologia aplicada a incêndios,

com acompanhamento permanente (em tempo real) das condições e dos incêndios ativos.

Assim, a incapacidade em reconhecer e/ou responder atempada e adequadamente às condições

meteorológicas que seriam enfrentadas ao longo do dia 17 está na génese da tragédia de

Pedrogão Grande.

A resposta aos incêndios

Em síntese, para o desfecho catastrófico do incêndio de Pedrogão Grande concorreram

decisivamente:

O alerta do incêndio (Escalos Fundeiros) foi recebido em Leiria às 14h43, na sala de operações

do Comando Distrital Operacional de Leiria (CDOS Leiria). O ataque inicial desenvolveu-se de

acordo com as regras estabelecidas (avanço de forças em triangulação, neste caso dos

bombeiros voluntários de Castanheira de Pera, de Figueiró dos Vinhos e de Pedrógão Grande).

Foi igualmente mobilizado um meio aéreo (H31) guarnecido por uma equipa helitransportada da

Força Especial de Bombeiros (FEB).

O conhecimento de que as freguesias do concelho de Pedrógão Grande estavam previamente

tipificadas como “freguesias prioritárias”, isto é, como freguesias com elevado risco de incêndio

florestal, deveria ter colocado de sobreaviso a autoridade de proteção civil e suscitado o envio

do segundo meio aéreo (H08 ou H15). Estes estavam, aliás, estacionados em bases na

proximidade do ponto de origem do incêndio de Pedrógão Grande, embora um deles estivesse

a uma distância ligeiramente superior a 40 km (41,9 km), que é distância limite definida nas

normas para concretizar a mobilização deste tipo de meios. Uma hora depois há um outro alerta

de incêndio em Moninhos Fundeiros, que foi também atacado pelos meios aéreos disponíveis

no local. É lícito concluir, portanto, que houve subavaliação e excesso de zelo na análise da fase

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 14

Página 15

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

14

inicial do incêndio de Pedrógão Grande, que contribuíram para que o ataque inicial não

conseguisse debelar o avanço do fogo.

O ataque ampliado é obrigatoriamente garantido se nos primeiros 90 minutos o incêndio não é

resolvido. No caso de Pedrógão Grande, quando tecnicamente se passou à fase de ataque

ampliado, dever-se-ia ter alterado o comportamento do combate. Contudo, entre as 16h00 e as

18h00, numa fase crítica do incêndio, não houve intervenção de meios aéreos. Este período

abrange já um primeiro momento de ataque ampliado sem a presença de qualquer meio aéreo.

Nesta fase o incêndio tinha já um comportamento agressivo, com a cabeça do fogo a progredir

intermitentemente acima da capacidade de extinção. Talvez fosse possível ainda a contenção

do flanco direito, mas era já imparável a multiplicação dos focos de incêndio por projeções

frequentes a distâncias assinaláveis.

No período entre as 18h00 e as 21h00 o fogo expande-se de forma alargada e com enorme

intensidade, reduzindo as possibilidades de circulação. Os bombeiros presentes no terreno, com

as mudanças de vento, ficam colocados na cauda do fogo e com enorme dificuldade de intervir

nos respetivos flancos. Nestas três horas o fogo consome quase 8000 ha, destruindo quase 60%

desta área só no período das 20h00 às 21h00. A situação de “muito fogo”, as alterações de

orientação dos ventos (e do fogo) e a escassez de meios dificultam a circulação dos bombeiros

e, por maioria de razão, das pessoas. A mobilização de meios adicionais, integrados já na fase

de ataque ampliado, é concretizada, mas esses meios chegam já de noite e a área ardida havia

já superado os 10000 ha.

Este território define-se por uma multiplicidade de núcleos populacionais, herança do seu padrão

tradicional de ocupação e exploração do território. O fim-de-semana de junho (dia 17 era um

sábado) tinha trazido à região inúmeros visitantes, muitos deles com raízes na região e

possuidores aí de segundas residências. Pode constatar-se que, nesse sábado, havia uma

grande concentração de pessoas nesses núcleos populacionais (residentes, visitantes e outros),

sendo impossível, por razões compreensivas, determinar o número exato de pessoas que

permaneciam nessa tarde nesses territórios.

A intensidade e rapidez do fogo, aliada à ausência de autoridades e de bombeiros, criou um

ambiente de grande intimidação, sobretudo para as famílias que integravam crianças e jovens.

Muitas dessas famílias saíram das respetivas casas em plena “tempestade do fogo” resultante

do downburst associado ao colapso da coluna de convecção. Na situação de fuga provavelmente

pouco haveria a fazer. A maioria das fatalidades ocorreu no período entre as 20h00 e as 21h00,

durante o qual arderam mais de 4500 ha. Nesse período, e durante 10 minutos, o incêndio

desenvolveu-se à velocidade estimada de 15 km/hora, situação crítica apenas passível de

medidas defensivas.

Poder-se-á recordar que as medidas de gestão de combustível em redor das vias de

comunicação e em volta dos aglomerados populacionais não tinham sido cumpridas. A

promiscuidade entre casas e árvores nestes aglomerados, por incúria ou falta de recursos

económicos dos proprietários, cria situações de enorme risco junto às habitações. Nas vias de

comunicação, as obrigações das entidades gestionárias e/ou concessionárias não tinham sido

cumpridas de acordo com as determinações legais.

Como refere o Relatório, admite-se que, dadas as características particulares do incêndio, o seu

impacto nas pessoas a ele expostas talvez não pudesse ter sido mitigado, mesmo admitindo que

aquelas medidas de prevenção estrutural tivessem sido cabalmente cumpridas. Aspetos para os

quais deverá haver, no futuro, maior cuidado, pois são essenciais na defesa das pessoas e na

proteção dos bens.

A notícia das vítimas mortais marcou, a partir da noite do dia 17, a evolução dos acontecimentos.

13 DE OUTUBRO DE 2017 15

Página 16

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

15

O Posto de Comando Operacional (PCO) conheceu, por razões operacionais, três localizações

diferentes. A instalação em Pedrógão, após ter saído de Escalos Fundeiros, confrontou-se com

dificuldades irremediáveis no acesso às redes de comunicações. O PCO voltou a emigrar, já no

dia 19, para Avelar (Ansião). O seu funcionamento, para além dos aspetos técnicos referidos, foi

nos primeiros dias perturbado pela presença excessiva de autoridades e elementos de órgãos

da comunicação social. Situação que se deveria evitar, pois a função de comando exige total

concentração.

O desempenho do comando das operações foi, nos períodos seguintes, assegurado por

elementos da ANPC, atribuído a operacionais com experiência e alternando com outros que,

pela primeira vez, foram confrontados com situações extremas de emergência. O próprio registo

da fita do tempo, do qual devem constar todos os acontecimentos que têm lugar nas operações

de emergência e de socorro, sofreu interrupções decididas pelo comando, com justificação

atribuída ao congestionamento de informação que atingia o Posto de Comando Operacional.

O incêndio de Góis decorreu de forma mais ajustada ao Sistema de Gestão de Operações

(SGO), tendo sido apoiado desde o seu início por meios terrestres e aéreos. Evolui inicialmente

num contexto territorial mais favorável, comparativamente ao incêndio de Pedrógão Grande, e a

sua grande dimensão resultou das condições físicas do território e da acumulação de

combustível. O incêndio é contudo perdido no dia 18 devido ao agravamento das condições

meteorológicas e ao aparecimento de um novo foco de incêndio. A sua resolução apenas viria a

acontecer no dia 22 de junho.

Nestes dois mega-incêndios, as falhas de comunicações do SIRESP foram sendo colmatadas

transitoriamente com o recurso às redes móveis públicas e à ROB. Estas redes permitiram

superar pontualmente as ineficiências da rede SIRESP funcionando como redes redundantes. A

rede SIRESP está baseada em tecnologia ultrapassada (quando comparada com as tecnologias

3G e 4G). Representou, quando foi introduzida, um enorme avanço em relação à fragmentação

passada. Mas não acompanhou a evolução vertiginosa que as tecnologias de comunicação

sofreram nos últimos anos.

Em resumo, no que respeita ao incêndio de Pedrógão Grande, e para além das excecionalidades

meteorológicas atrás referidas, não houve pré-posicionamento de forças, nem análise da

evolução da situação com base na informação meteorológica disponível. A partir do momento

em que foi comunicado o alerta do incêndio, não houve a perceção da gravidade potencial do

fogo, não se mobilizaram totalmente os meios que estavam disponíveis e os fenómenos

meteorológicos extremos acabaram por conduzir o fogo, até às 03h00 do dia 18 de junho, a uma

situação perfeitamente incontrolável. Em síntese, para o desfecho trágico do incêndio de

Pedrógão Grande concorreram decisivamente:

1. A incapacidade para debelar o fogo nascente na primeira meia hora após a eclosão,

dado o tempo decorrido desde a ignição e os meios empregues em ataque inicial,

que foram insuficientes para as condições do dia.

2. Passado esse momento o controlo do incêndio foi-se tornando progressivamente

mais difícil pelo crescimento rápido do perímetro, com a cabeça praticamente

sempre acima da capacidade de extinção e projeções em número significativo. O

combate ao então flanco direito do incêndio foi descurado, o que foi decisivo para a

sua rápida expansão, o que se verificou após a mudança na direção do vento

registada às 18 horas. Na verdade, após as 16 horas, e particularmente após as 17

horas, a probabilidade de sucesso em deter o incêndio seria sempre reduzida,

mesmo na presença de ataque ampliado bem organizado e dispondo de um conjunto

reforçado de meios.

3. Eram diminutas as perspetivas de vir a dominar rapidamente o incêndio, informadas

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 16

Página 17

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

16

pelas suas características, pela leitura das condições em que evoluía e pelas

previsões meteorológicas existentes. Assim, as necessárias medidas de proteção

civil (disposições relativas à circulação na rede viária, acompanhamento da

população rural, preparação de evacuações) deveriam ter sido equacionadas logo

às 16h00-17h00 e cumpridas a partir das 18 horas.

4. As deficiências no comando e gestão da operação de socorro foram agravadas pelas

dificuldades de comunicação. Porém, e em face do ponto 2, se a atuação tivesse

seguido os padrões em vigor, pouco teria aumentado a efetividade das operações

de controlo do incêndio. Pelo contrário, as consequências catastróficas do incêndio

não são alheias às opções táticas e estratégicas que foram tomadas.

As consequências

Os resultados dramáticos do incêndio de Pedrógão Grande atingiram um elevado número de

famílias e retiraram a vida a 64 pessoas (incluindo um bombeiro).

Não obstante o predomínio de idosos nas diversas aglomerações rurais daqueles concelhos, o

facto já referido dos acontecimentos terem tido lugar num fim-de-semana apanhou a presença

nesses aglomerados de um número elevado de visitantes.

A maioria das vítimas mortais integra o segmento etário dos 20 aos 59 (cerca de 50% do total).

As vítimas jovens (menos de 20 anos de idade) foram nove. As restantes vítimas têm idades

superiores a 60 anos (cerca de 35%).

Metade das vítimas eram residentes na região, embora pudessem ter a primeira residência nas

vilas sedes de concelho, e 12% eram visitas regulares, por ventura com ligações familiares à

região. Esta distribuição, maioritariamente composta por pessoas com fortes ligações à região

(residentes ou visitas regulares), poderia indiciar um outro comportamento na convivência com

o fogo: aguardar dentro das habitações que o fogo passasse, como era habitual. Apenas a

violência do fogo, o brutal ruído gerado pelo vento e as perigosas e assassinas projeções fizeram

com que as pessoas optassem por sair de suas casas e procurar abrigo nas sedes de concelho.

Note-se que 70% das vítimas mortais estava em fuga a partir das respetivas casas, que

acabariam por não arder.

Cerca de três quartos das vítimas faleceram no interior das respetivas viaturas ou na proximidade

delas.

As destruições de património e de bens patrimoniais foram importantes. Arderam cerca de 490

habitações, embora apenas cerca de um terço fossem primeiras habitações. As restantes eram

segundas habitações (40%) ou mesmo casa devolutas (24%).

Quase meia centena de unidades industriais de diversos setores foram atingidas, perdendo-se

equipamento e infraestruturas diversas.

Como se afirmou anteriormente, o cumprimento das medidas de prevenção estrutural,

abrangendo vias rodoviárias e aglomerações populacionais tinha sido muito deficiente. Em certos

casos, a vegetação cumpria alguns daqueles requisitos devido à expansão de parcelas agrícolas

junto ao edificado. Mas raramente se verificou o cumprimento integral das normas legalmente

instituídas. Contudo, não existem evidências que permitam associar as mortes ocorridas em

espaço aberto ou dentro das viaturas ao não cumprimento das referidas medidas de gestão.

Reflexões e Recomendações

O Relatório avança de seguida para Reflexões e Recomendações centradas na problemática da

valorização da floresta e da sua defesa contra incêndios. Da lista de Recomendações, podem

sintetizar-se as seguintes:

13 DE OUTUBRO DE 2017 17

Página 18

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

17

1. Sistema

 O sistema de defesa da floresta contra incêndios associa duas componentes, sem

conseguir isolar as iniciativas orientadas para cada uma: defesa de pessoas e bens

e proteção da floresta. Reconhece-se a dependência das duas situações, mas

defende-se a segmentação estratégica das duas componentes ao nível das políticas,

dos objetivos, das especializações e, tanto quanto possível, dos agentes

intervenientes nas duas áreas, sobretudo na fase do ataque ampliado. Reconhece-

se que, em termos operacionais, os dois tipos de intervenção deveriam recorrer a

especificações técnicas e a modalidades de combate diferentes.

 A elevada frequência com que ocorrem incêndios no interface urbano-florestal leva

a que, em muitas das ocorrências, prevaleça naturalmente a defesa de pessoas e

bens. A defesa da floresta passa, nestas ocasiões, rapidamente para lugar

secundário.

 Defende-se o ajustamento do sistema, passando a designar-se Sistema Nacional de

Gestão Integrada de Fogos Rurais, com duas componentes:

o Gestão de Fogos Rurais, orientado para os espaços florestais, e

o Proteção Contra Incêndios Rurais, abrangendo as pessoas e bens.

 No campo do combate aos incêndios florestais, regista-se que muitos dos agentes

que se empenham no ataque desconhecem a região e, ainda pior, não

acompanharam as medidas executadas de prevenção estrutural. E, paralelamente

e com muita frequência, os intervenientes na prevenção e gestão florestais não

participam nas decisões operacionais de combate aos incêndios.

 No novo quadro, que se deseja estabilizado, defende-se que os elementos das

diversas estruturas, designadamente dos operacionais profissionais (FEB e GIPS,

para além dos operacionais da ANPC) devem acompanhar e/ou participar nas ações

de prevenção estrutural, designadamente nas intervenções de gestão de

combustíveis.

 As diversas componentes deste sistema deverão ser objeto de avaliação periódica.

Reconhece-se o interesse das avaliações recentemente realizadas ao Plano

Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios e ao desempenho dos Sapadores

Florestais. Mas o sistema de combate da ANPC, integrando a diversidade de

agentes, e a articulação do conjunto das suas componentes tem estado arredada de

uma avaliação externa.

 Deve realizar-se uma avaliação global ao sistema, integrando naturalmente a análise

da eficiência dos investimentos efetuados no âmbito do Sistema Nacional de Defesa

da Floresta contra Incêndios.

 No âmbito da melhor clarificação, racionalidade, planeamento estratégico e

operacionalidade do sistema, propõe-se a criação de uma Agência para a Gestão

Integrada dos Fogos Rurais, acolhida na Presidência do Conselho de Ministros.

Trata-se de uma estrutura ligeira, altamente especializada, com capacidade de

melhor articular os setores que preenchem os três pilares, com capacidade de definir

e programar e executar anualmente as intervenções operacionais a realizar no

âmbito do sistema e a monitorizar e garantir uma afetação adequada dos recursos

financeiros públicos.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 18

Página 19

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

18

2. Conhecimento

 Como se afirmou no início deste Sumário Executivo, o Sistema Nacional de Defesa

da Floresta Contra Incêndios carece de uma forte incorporação de conhecimento.

Muitas das decisões são tomadas apenas com base em conhecimento empírico e

baseadas em perceções normalmente questionáveis.

 É aliás também nesse sentido que se discute a previsibilidade dos incêndios

florestais. São ocorrências que, com o histórico e as características das ocorrências

em Portugal, podem ter uma avaliação operacional previsível, o que pode conferir

eficácia à intervenção, designadamente à capacidade de antecipação.

 Neste patamar, a integração do conhecimento com a ação deverá ser uma trave

mestra na organização futura do sistema. O aproveitamento das melhores condições

para o combate, a fluidez da informação técnica do IPMA, a capacidade de

interpretar a complexidade das situações, a integração de especialistas de análise

do fogo, assim como a intervenção de operacionais profissionais especializados

convergem num fluxo onde o conhecimento deverá ser o fator privilegiado de

conjugação. Nesse sentido pode afirmar-se que os mecanismos de simulação e de

apoio à decisão estão em estado incipiente e não têm permitido dar suporte

qualificado às intervenções operacionais.

 Ainda no domínio do conhecimento, é fundamental que a capacidade e os recursos

da investigação científica instalados em instituições nacionais, designadamente em

universidades e nos laboratórios de Estado, seja confrontada, mobilizada, utilizada

e integrada em programas de investigação aplicada que associem empresas,

associações, forças operacionais profissionais e centros de investigação. O

tradicional desajustamento entre a investigação e a solução concreta das

problemáticas nacionais deve, também neste setor, ser ultrapassado, garantindo

uma crescente incorporação do conhecimento nessas problemáticas.

 Domínios como a gestão do fogo, incluindo o comportamento de fogos extremos, os

modelos de ordenamento e de silvicultura preventiva, os instrumentos e aplicações

de apoio à decisão, os projetos na área da meteorologia são alguns dos aspetos que

devem corresponder a linhas de I&D a estruturar no futuro.

 É neste quadro que se avança com a proposta de criação de um Laboratório

Colaborativo, impulsionado por empresas e outras entidades florestais, permitindo

estruturar um programa especial dedicado, integrando linhas de investigação

aplicada e proporcionando soluções adequadas aos problemas relacionados com o

SNDFCI.

3. Recursos Humanos

 Este capítulo é crítico e constitui um dos bloqueios maiores do sistema nacional de

defesa da floresta contra incêndios. O deficit de conhecimento no sistema é também

o resultado da fragilidade com que os diversos agentes interpretam os

acontecimentos, utilizam as informações e manipulam os instrumentos (sobretudo

as aplicações de simulação). Por esse motivo, um esforço enorme de qualificação

deverá ser introduzido no sistema, através da fixação de perfis profissionais

adequados às diversas funções e da formação exigida para a respetiva integração.

 Neste domínio, o sistema português deveria integrar o perfil de qualificações

europeu, que permite a definição de conteúdos funcionais associados às diversas

funções previstas na proteção civil.

13 DE OUTUBRO DE 2017 19

Página 20

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

19

 As modalidades de seleção dos operacionais para lugares de comando deve ser

realizada por concurso, prevalecendo-se as regras de seleção de dirigentes

superiores previstas na administração pública.

 A capacidade de proporcionar formação e as estruturas que permitem concretizar

essa função têm igualmente de se integrar no desafio da qualificação do sistema.

Os diversos domínios da proteção civil e da defesa da floresta contra incêndios

correspondem a áreas muito pouco integradas no sistema educativo nacional. O

patamar do 12.º ano não é exigido em muitas das funções e o nível superior está

desvalorizado por via da oferta de graus estruturados de forma muito pouco

comprometida com as problemáticas reais.

 Neste domínio impõe-se uma reformulação completa, admitindo áreas de formação

profissional e tecnológicas inseridas nas opções profissionais do ensino secundário

e nos cursos superiores não conducentes a grau (TeSP). O carácter profissional das

formações superiores aconselhariam o seu desenvolvimento no sistema politécnico,

embora a estruturação de pós-graduações deva ser conduzida com o apoio ativo de

instituições de referência estrangeiras.

 A Escola Nacional de Bombeiros, integralmente financiada por recursos públicos,

deverá ser integrada no sistema educativo nacional, transformando-se numa escola

profissional e orientando a sua ação prioritariamente para perfis profissionais

acreditados. A oferta atual de cursos de curta e muito curta duração, deverá ser

avaliada e eventualmente reformulada, explorando as modalidades de ensino a

distância.

4. Ordenamento e Gestão

 Deverão criar-se mecanismos que garantam a intervenção num espaço, de largura

a definir para cada caso – atualmente está regulamentado em 100 metros - à volta

dos aglomerados que assegure pela sua ocupação (pela carga reduzida e

descontinuidade do complexo combustível), uma reduzida intensidade do fogo e a

proteção das habitações e de outros bens. Devem ser promovidos usos do solo que

reduzam a intensidade do fogo e o risco de propagação para edificações e utilizadas

espécies de baixa inflamabilidade, com elevado teor de humidade nos períodos

secos, ou que promovam o desenvolvimento de complexos vegetais de reduzida

combustibilidade. Estas medidas devem privilegiar a minimização das intervenções

de manutenção não produtivas, a promoção de atividades humanas de manutenção

e as culturas agrícolas de sequeiro ou regadio – anuais ou perenes - desde que os

proprietários ou quem a eles se substitua tenha capacidade para a sua gestão e

manutenção.

 Os utilizadores do espaço florestal deverão ser mobilizados para uma intervenção

que instale formações arbustivas ou arbóreas com menor combustibilidade e da

adoção de práticas que reduzam o risco de incêndios e ajudem a mitigar o problema.

 Deverá proceder-se a uma reformulação da Autoridade Florestal Nacional nos seus

princípios, forma e capacidade de atuação, preocupada com a regulação do setor

florestal em geral e focalizada na gestão das áreas sob regime florestal e na

prevenção estrutural.

 As organizações representativas das entidades privadas no setor devem concorrer

para apresentar alternativas de utilização e de gestão aos proprietários.

 Promoção da compartimentação das manchas florestais puras através de

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 20

Página 21

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

20

plantações novas, ou reconversões, ou ainda adensamentos, com outras espécies

arbóreas ou arbustivas de baixa inflamabilidade/combustibilidade ou plantadas em

faixas de alta densidade, promovendo um efeito de barreira por quebra da

continuidade de combustível ao nível do solo.

 Reconhece-se que povoamentos puros ou mistos de pinheiro bravo ou eucalipto sem

redução efetiva da carga de matos no seu interior conduzem, em situações de

secura, a incêndios de grande intensidade com elevada possibilidade de projeções

de focos secundários a grandes distâncias. Para estas duas espécies a regra é a da

gestão do combustível no sub-bosque. Sem combustível no seu interior estas

florestas, em vez de um problema sério, podem fazer parte da solução.

 As melhores soluções de ordenamento para a mitigação dos incêndios florestais

passam pela diversificação da floresta e a utilização de espécies que conduzam a

formações menos combustíveis, nomeadamente das folhosas de folha caduca,

como os carvalhos, castanheiros ou outras folhosas, por terem um grande teor de

humidade. Estas espécies não são propícias a fogos de copas e devem, portanto,

ser consideradas em misturas com outras espécies ou em áreas estratégicas para

contrariar a fácil propagação dos incêndios. No Pinhal Interior modelos de silvicultura

apropriados com Sobreiro e com Medronheiro têm também demonstrado fazer parte

integrante de uma solução em que a diversificação da floresta tem de ser um

objectivo.

 Deve dar-se uma redobrada atenção à finalização, a curto prazo, dos novos

Programas Regionais de Ordenamento Florestal, os quais podem ser utilizados para

que, a partir do conhecimento dos últimos dados do Inventário Florestal Nacional (a

aguardar publicação), se revejam as metas inicialmente estabelecidas no sentido de

possibilitar que a nível da Região PROF e dos concelhos, sejam cada vez mais

incorporadas as questões associadas aos incêndios florestais. As suas propostas

deverão ser integradas nos Planos Directores Municipais e ser alvo de maior

proximidade e acompanhamento do ordenamento florestal pelas entidades

municipais.

 Criação de programa específico que compense a perda de rendimento por alguns

anos para a criação de florestas de carvalhos, castanheiros e outras folhosas. Este

programa deverá incentivar os proprietários e gestores florestais a optarem por estas

espécies que a médio e longo prazo poderão ser ainda mais rentáveis do que as

actuais alternativas e com menor perigo de incêndio para as próprias florestas e para

as aldeias existentes nos espaços florestais.

5. Proteção civil

 As considerações sobre a valorização e proteção do Posto de Comando Operacional

(PCO) resultam sobretudo do desempenho associado a algumas ocorrências, nas

quais o PCO viu-se frequentado por inúmeras pessoas, autoridades, representantes

de entidades e membros de órgãos de comunicação social, numa presença que

perturba drasticamente as funções de comando e a capacidade de reflexão e de

frieza que se tem de ter para tomar, em momentos sucessivos, as decisões mais

adequadas. A presença na área do PCO das diversas entidades que concorrem para

a eficácia das operações de socorro está prevista em espaços dedicados, pelo que

o próprio PCO tem de ser valorizado, protegido e remetido, de forma focalizada, para

as suas funções.

13 DE OUTUBRO DE 2017 21

Página 22

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

21

 A primeira intervenção, designada por ATI, tem sido incrementada nos últimos anos,

atacando uma fase em que os incêndios são mais facilmente controláveis. Necessita

de maior profissionalização nos agentes disponíveis para esta intervenção.

Necessita ainda de um padrão flexível de pré-posicionamento e a colocação no

território de forma criteriosa, em função da visibilidade, do risco estrutural e

meteorológico, das acessibilidades, e dos meios existentes na região.

 A intervenção mais musculada, designada por ATA, obriga igualmente ao reforço

das forças profissionais, designadamente dos GIPS e das FEB. Reconhecendo-se

que estas forças deverão estar disponíveis para todas as emergências (e não só

para os incêndios florestais), deverá encontrar-se a justa medida para conciliar

reforço numérico e especialização.

 A prudência no que respeita a eventuais maiores investimentos no combate aos

incêndios florestais aconselha, previamente a qualquer decisão com implicações

financeiras, à adoção de medidas que conduzam a uma maior preparação destas

forças, a uma disposição no território mais racional, à afetação de meios rápidos de

deslocação e ao reforço da especialização, tendo presente os diversos teatros de

operações para os quais podem ser chamadas.

 Perante a dimensão e a gravidade que estas ocorrências poderão, no futuro, atingir,

será útil criar uma bolsa de peritos, nacionais e internacionais, que poderão ser

mobilizados em caso de operações de socorro de extrema gravidade.

 A rede SIRESP foi objeto de críticas relativas à sua eficácia. A destruição pelo fogo

de algumas das suas ligações e a inexistência de soluções de redundância com a

mesma qualidade colocaram dúvidas relativas à solidez da rede. E se a redundância

constitui um problema que pode ser solucionado através da possibilidade de ligações

via satélite (apenas para determinadas zonas e períodos de tempo), o potencial da

rede SIRESP não foi totalmente explorado (parametrizações para concentrar

capacidades ou maior densidade de estações móveis).

 Paralelamente, o Relatório recorda que a rede SIRESP está baseada em tecnologia

(2G) que pode ser considerada obsoleta, não evoluindo para as novas tecnologias

baseadas no 3G ou ainda no 4G. A solução futura, exclusivamente nacional ou

encontrada no âmbito da cooperação europeia, deverá ser oportunamente

explorada.

 O sistema de registo e controlo de informações da ANPC deverá evoluir para um

sistema desmaterializado, registando de forma automática as comunicações e as

informações e evitando perturbações que a operação manual pode introduzir.

 Finalmente uma recomendação é desenvolvida, orientada para o reforço do papel

das Forças Armadas no sistema de proteção civil. O seu desempenho em ações de

prevenção (patrulhamento e realização de medidas estruturais), de logística (no

momentos de combate aos incêndios florestais), de rescaldo e de vigilância de

reacendimentos é fundamental. A criação recente do Regimento de Apoio Militar de

Emergência pretende mobilizar as diversas capacidades das Forças Armadas para

operações de socorro e de emergência, havendo, no caso dos incêndios florestais,

um campo alargado de áreas de intervenção para as quais as Forças Armadas

deverão estar vocacionais.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 22

Página 23

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

22

6. Populações

 A sociedade portuguesa tem um distanciamento cultural em relação à floresta que

urge ultrapassar. Por esse motivo, Portugal regista um elevadíssimo número de

ignições por ano, valor que é seis vezes superior ao registado em Espanha e 19

vezes superior ao da Grécia. Neste domínio propõe-se a revisão da estratégia

nacional de prevenção de ignições, convidando a comunicação social a

desempenhar um papel pedagógico na área da prevenção e a montar um sistema

de avisos automáticos e generalizados que permitam impedir ou, quando muito,

reduzir o desproporcionado número de ignições que anualmente é registado.

 As populações são naturalmente as principais interessadas em que os impactos dos

incêndios rurais sejam minimizados. É neste domínio que deverão ser reforçados os

programas de sensibilização e de autoproteção das populações e de rápido

desenvolvimento e adoção de programas de proteção dos aglomerados baseados

em princípios de subsidiariedade e de sustentabilidade das intervenções. Nesse

sentido são propostas medidas e ações para a adoção de um programa de proteção

de pessoas e bens contra fogos rurais, baseadas na criação e gestão de zonas de

proteção aos aglomerados e na identificação de pontos críticos, de locais de refúgio

e de pontos focais. As autarquias deverão constituir-se como entidades pró-ativas

na mobilização das populações para, com as comunidades, garantirem a adoção

daquelas medidas.

 A criação de sistemas rotineiros de aviso e de alerta que tenham a maior cobertura

possível no domínio da sensibilização das populações. As redes móveis e a

comunicação social poderão desempenhar aqui um papel fundamental.

 Será interessante, e nalguns casos decisivo, a incorporação do conhecimento

prático existentes ao nível das comunidades locais. As famílias, as empresas e os

restantes utilizadores do território poderão associar as suas iniciativas, sejam elas

pessoais ou profissionais, a uma melhor gestão do território.

7. Criação da Agência AGIF

 Com base no que se constatou e de análises anteriores centradas no problema dos

fogos rurais em Portugal, verifica-se a necessidade de adoção de princípios,

frequentemente ausentes do nosso SDFCI, nomeadamente:

o Reformulação do problema reconhecendo-se que as intervenções

deverão ser assumidas de forma diferenciada, distinguindo-se, por um

lado, a proteção de pessoas e de bens contra incêndios rurais e, por

outro, da defesa da floresta contra incêndios;

o transversalidade inter-setorial imprescindível para suportar as

estratégias de resolução da problemática dos incêndios rurais;

o exigência de incorporação de conhecimento, de estratégia, de

planeamento, de cooperação nas intervenções;

o integração dos agentes locais na resolução dos problemas;

o necessidade de monitorização, avaliação e transparência no

funcionamento do sistema.

13 DE OUTUBRO DE 2017 23

Página 24

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

23

 Neste sentido é proposta a criação da Agência de Gestão Integrada de Fogos

(AGIF), na dependência direta da Presidência do Conselho de Ministros. Composta

por técnicos especializados nas várias temáticas dos incêndios florestais, será

suportada por uma estrutura ligeira, com atuação no território.

 A proposta baseia-se nas entidades existentes e nos meios alocados, aproveitando

as suas virtudes e colmatando os seus defeitos. As propostas de melhoria da eficácia

têm em consideração os esforços financeiros e organizativos realizados no passado,

numa perspetiva de rentabilização dos recursos, de eficiência de resultados, e do

tempo necessário para a sua obtenção.

 Neste formato os recursos e organizações existentes mantêm a sua estabilidade

organizacional, pelo menos numa fase inicial, garantindo-se que sejam, no futuro,

colmatadas as principais lacunas ao nível do planeamento, da integração e interação

entre entidades e intervenções, da estratégia, inteligência e avaliação do sistema.

Esta perspetiva de estabilidade e manutenção organizacional implica a criação de

uma nova entidade hierarquicamente superior e com intervenção transversal e

autónoma.

 Esta entidade garante a análise integrada do sistema e a sua articulação, e é atuante

no território. Funciona como antecipadora e no apoio ao planeamento, à decisão e

intervenção, no âmbito dos três pilares. Avaliza junto do poder político a informação

e a monitorização sobre o funcionamento do Sistema de Gestão Integrada de Fogos

Rurais (SGIFR). Utiliza as ferramentas técnicas mais evoluídas de apoio à decisão

para a previsão e a intervenção. Assegura também a aplicação e o desenvolvimento

dessas técnicas no âmbito da prevenção, da pré-supressão e da supressão e da

imprescindível utilização das complementaridades destas componentes.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 24

Página 25

Página 26

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

25

1. NOTA PRÉVIA

A Assembleia da República, na sequência dos incêndios florestais ocorridos nos concelhos de

Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Ansião, Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Arganil, Góis,

Penela, Pampilhosa da Serra, Oleiros e Sertã entre 17 e 24 de junho de 2017, criou, através da

Lei nº 49-A/2017, de 10 de julho, a Comissão Técnica Independente (CTI) com um mandato para

proceder a uma avaliação independente sobre aqueles incêndios.

O mandato da Assembleia da República implica as seguintes atribuições:

a) Analisar e avaliar todas as origens, características e dinâmicas dos incêndios ocorridos

entre 17 e 24 de junho nos concelhos indicados, incluindo as que se prendem com o

ordenamento florestal na área afetada e as respostas nos planos preventivo e de

combate operacional, bem como emitir as conclusões e as recomendações entendidas

como pertinentes para aplicação futura (alínea a), artigo 1.º);

b) Analisar e avaliar a atuação de todas as entidades do sistema de proteção civil e do

dispositivo de combate a incêndios, dos sistemas de comunicação e informações e de

serviços públicos relevantes, nomeadamente de infraestruturas de transportes, de

cuidados de saúde, de meteorologia, de forças de segurança e órgãos de polícia,

incluindo ações e omissões e a coordenação entre elas, nos dias imediatamente

anteriores e no período desde o início dos incêndios referidos até à sua extinção (alínea

b), artigo 2.º).

A composição da Comissão Técnica Independente, prevista na mesma Lei, foi estabelecida pelo

Presidente da Assembleia da República, através da Resolução n.º147-A/2017, de 11 de julho.

Foram designados os seguintes peritos:

a) Indicados pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas:

 Professor Doutor João Guerreiro (Universidade do Algarve), que preside;

 Professor Doutor Carlos Fonseca (Universidade de Aveiro);

 Engenheiro António Salgueiro (Universidade Lusófona do Porto);

 Professor Doutor Paulo Fernandes (Universidade de Trás os Montes e Alto Douro);

 Professor Doutor Edelmiro López Iglesias (Universidade de Santiago de Compostela,

Espanha);

 Professor Doutor Richard de Neufville (Massachusetts Institute of Technology,

Estados Unidos da América);

b) Indicados pelo Presidente da Assembleia da República, ouvidos os Grupos

Parlamentares:

 Tenente-General Frutuoso Mateus;

 Engenheiro Marc Castellnou Ribau;

 Professor Doutor Joaquim Sande Silva;

 Dr. José Manuel do Vale Moura Ferreira Gomes;

 Professor Doutor Francisco Castro Rego;

 Engenheiro Paulo Mateus.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 26

Página 27

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

26

A atividade da CTI iniciou-se com a primeira reunião, que se realizou a 18 de julho de 2017, e

prolongou-se pelo prazo estipulado pela Lei n.º 49-A/2017: um período de 60 dias prorrogado

por mais 30 dias. A prorrogação foi autorizada pelo Presidente da Assembleia da República,

mediante requerimento apresentado atempadamente pela CTI.

A Comissão Técnica Independente definiu, num primeiro momento, um guião para a sua

atividade, a qual foi preenchida com diversos contactos realizados nos vários concelhos incluídos

no mandato. Autarquias, Gabinetes Técnicos Florestais, Associações de Produtores Florestais,

Associações de Bombeiros, Guarda Nacional Republicana e Serviços públicos relevantes com

expressão na região ou com intervenção nos incêndios foram todos abordados por membros da

CTI. Os contactos abrangeram igualmente diversas pessoas residentes na região ou que tinham

aí património, abrangendo algumas que perderam familiares nos trágicos acontecimentos de

junho passado.

Uma atenção especial foi dada nas audições aos membros da Autoridade Nacional de Proteção

Civil, designadamente aos que tiveram um papel ativo no período em análise.

Simultaneamente a CTI solicitou um conjunto alargado de informações a entidades diversas com

intervenção na região ou que dispusessem de dados ambientais, sociais ou institucionais

referentes ao conjunto dos concelhos que integram a área de estudo.

No seguimento do trabalho foram realizados debates e reflexões com unidades de I&D de

universidades e também de Laboratórios de Estado, contribuições que permitiram enriquecer o

Relatório Final.

Valerá a pena sublinhar a visita que membros da CTI fizeram à Unidade Militar de Emergências

(Madrid). Esta visita, preparada com o apoio do General Chefe do Estado-Maior General das

Forças Armadas e da Embaixada de Portugal em Espanha, permitiu tomar contacto com uma

unidade militar sofisticada, preparada para um vasto leque de intervenções de emergências,

entre as quais estão os incêndios florestais. Trata-se de uma Unidade profissional, pertencente

ao Exército espanhol e com capacidade de intervenção complementar em relação aos

mecanismos locais e das Comunidades Autónomas.

A Comissão Técnica Independente entendeu que a reconstituição dos momentos iniciais dos

incêndios na área de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera permitiria

aclarar alguns aspetos relacionados com o combate inicial. Foi possível organizar essa

reconstituição mobilizando os intervenientes que tinham estado nesses mesmos locais no

fatídico dia 17 de junho passado.

A elaboração do Relatório beneficiou da diversidade de qualificações dos membros da CTI,

embora se tenham solicitado, como atrás se afirmou, contribuições complementares a entidades

e instituições externas à Comissão. Por esse motivo a Comissão Técnica Independente gostaria

de agradecer a especial contribuição do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores-

Tecnologia e Ciência (INESC-TEC, Porto), do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA),

da Diretoria do Centro da Policia Judiciária (PJ) e também do Investigador Nuno Guiomar

(Universidade de Évora) e do Professor José Gaspar (Escola Superior Agrária de Coimbra).

Os agradecimentos são naturalmente extensivos a todas as pessoas e instituições que de

qualquer forma contribuíram para a elaboração do Relatório, fornecendo informações, sugerindo

explicações, ilustrando iniciativas passadas ou dissipando dúvidas sobre os diversos aspetos

sobre os quais incidiu a reflexão da Comissão.

O muito elevado número de pessoas contactadas nas diversas visitas de trabalho efetuadas à

região impede que delas se faça referência neste Relatório sendo todas merecedoras do nosso

agradecimento. A lista das pessoas convidadas para prestar informações e auxiliar o trabalho da

CTI na Assembleia da República consta do Anexo 1 a este Relatório. A todos os que aceitaram

13 DE OUTUBRO DE 2017 27

Página 28

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

27

o convite e prestaram com isso o apoio à CTI o nosso agradecimento.

Finalmente cabe um agradecimento à Secretaria Geral da Assembleia da República, e ao Senhor

Secretário Geral e ao Secretariado, pelo apoio irrepreensível que prestaram ao funcionamento

da Comissão Técnica Independente.

O Relatório apresenta a seguinte estrutura:

 O capítulo 2 apresenta sumariamente o panorama recente dos incêndios em

Portugal.

 O capítulo 3 aborda as perdas de vida em resultado dos incêndios florestais e estima

os custos sociais associados a este drama que ciclicamente afeta as áreas florestais.

É igualmente abordada a despesa pública suportada, não só no combate, como

também na prevenção e na reposição dos estragos que resultam desses incêndios.

 O capítulo 4 resume as alterações sofridas no território nos últimos anos, com

especial relevo para a área de Pedrógão Grande e concelhos limítrofes, abordando

igualmente as mudanças do regime de fogo.

 O capítulo 5 faz uma análise explicativa do comportamento do fogo na região

abrangida pelos incêndios de Pedrógão Grande e de Góis. Tratou-se de um

fenómeno singular, caracterizado por uma violência extrema e que coloca novas

problemáticas para o futuro, designadamente se ocorrências deste tipo se

multiplicarem por via do efeito das alterações climáticas.

 O capítulo 6 aborda com detalhe as fatalidades, cruzando o drama vivido nesse

período com as condições do território.

 O capítulo 7 analisa os aspetos relacionados com a prevenção e com a pré-

supressão nos concelhos afetados.

 O capítulo 8 descreve com detalhe as operações de combate desempenhadas pelos

diversos intervenientes operacionais, com especial relevo para a ANPC, abordando

igualmente as intervenções da GNR, do sistema de saúde e o papel das

comunicações.

 O capítulo 9 apresenta um conjunto de simulações destinadas a avaliar o impacto

de distintos modelos de gestão florestal e de diferentes estratégias de gestão do fogo

na proporção de área ardida e na dimensão média dos incêndios.

 O capítulo 10 concentra as Problemáticas e as Recomendações que a Comissão

Técnica Independente entende poder avançar após os trabalhos realizados no

âmbito do prrsente Relatório.

 O capitulo 11 avança com uma proposta destinada a criar a Agência para a Gestão

Integrada de Fogos (AGIF),

 Os anexos complementam a informação avançada nos diferentes capítulos.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 28

Página 29

Página 30

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

29

2. OS INCÊNDIOS EM ANÁLISE

2.1 Os incêndios de Pedrógão Grande e de Góis

O mandato da Comissão Técnica Independente abrangia os incêndios que se desenvolveram na

região de Pedrógão Grande de 17 a 24 de junho de 2017. Foi desde logo tarefa prioritária a

identificação e caracterização dos vários incêndios ocorridos no território e espaço temporal

definidos na Lei n.º 49-A/2017.

Pela análise das ocorrências registadas verificaram-se um total de 28 ocorrências nos 11 concelhos

e no período referido. No entanto, das 28 ocorrências de fogo rural, 10 revelaram-se falsos

alarmes. O Quadro 2.1 descrimina as restantes 18 ocorrências por data, hora e localização, área

ardida e causa. Até ao final de setembro apenas estão indicadas no Sistema de Gestão de

Informação de Fogos Florestais (SGIF) as causas de 10 das ocorrências. Neste período e nestes

concelhos, o dia com maior número de fogos foi o de 17 de junho com nove incêndios.

Quadro 2.1 Incêndios rurais ocorridos entre 17 e 24 de junho de 2017, nos concelhos da região de Pedrógão (Lei

49-A/2017), com indicação da deteção, localização, área ardida e causa (Fonte: SGIF)

Deteção Localização Área

ardida

(ha)

Causa Dia Hora Fonte Concelho Freguesia

17

14:43 Outros Pedrógão Grande Pedrógão Grande 28914

14:52 CCO Góis Alvares 17521 Raio

15:40 CCO Figueiró dos Vinhos Aguda 0 Vandalismo

16:26 112 Pedrógão Grande Graça 0

17:04 Figueiró dos Vinhos Figueiró dos Vinhos 0 Indeterminado

18:08 PV Oleiros Orvalho 202 Raio

18:09 PV Oleiros Orvalho 409 Raio

18:38 Populares Oleiros

Sarnadas de São

Simão 0 Raio

19:42 Populares Sertã Cernache do Bonjardim 0

18 12:42 CCO Ansião Ansião 0

19:51 CCO Ansião Avelar 0

19

17:08 Penela Podentes 0 Acidental

18:51 PV Sertã Figueiredo 0

22:30 Populares Penela Santa Eufémia 5 Acidental

21 12:21 117 Sertã Marmeleiro 0

22 14:48 PV Sertã Figueiredo 2 Doloso

18:28 117 Penela São Miguel 0 Vandalismo

23 14:28 PV Arganil Vila Nova de Alva 0 Vandalismo

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 30

Página 31

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

30

Os dois primeiros incêndios, pelas suas dimensões e consequências, terão sido seguramente a

razão da constituição da CTI. Assim o âmbito geográfico do mandato da CTI foi interpretado como

tendo origem no facto do incêndio florestal de Pedrógão Grande ter afetado mais seis concelhos,

a saber: Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Ansião, Alvaiázere, Penela e Sertã, enquanto

o incêndio de Góis afetou mais três concelhos: Pampilhosa da Serra, Arganil e Oleiros. Daqui terão

resultado os 11 concelhos referidos na Lei.

Quanto ao período temporal, ambos os incêndios (Pedrógão Grande e Góis) tiveram início no dia

17 de junho, com uma diferença na hora de início de 9 minutos. Foram dados como dominados e

posteriormente extintos só a 24 de junho.

Atendendo ao exposto, os incêndios analisados circunstanciadamente foram os grandes incêndios

de Pedrógão Grande e de Góis, sendo que os demais são incêndios que não atingiram dimensão

assinalável e foram suprimidos rapidamente no âmbito do ataque inicial.

2.2 Outros incêndios no Pinhal Interior

Entretanto, durante o período de trabalhos da Comissão, ocorreram novos incêndios que

percorreram áreas muito significativas dos concelhos de Proença-a-Nova, Mação e Vila do Rei,

a sul dos concelhos referidos na Lei (Figura 2.1).

Figura 2.1 Área ardida no período de 17 a 24 de junho afetando os onze concelhos referidos na Lei n.º 49-

A/2017 de 10 de julho (à esquerda) e área ardida até 19 de agosto afetando também os concelhos de Proença-

a-Nova, Mação e Vila do Rei (à direita). Fonte: Imagens da área ardida obtidas pelo MODIS e recolhidas a 19 de

agosto de 2017 no site do European Forest Fire Information System (COPERNICUS Emergency Management

Service): http://effis.jrc.ec.europa.eu/static/effis_current_situation/public/index.html.

Estavam conferidas à Comissão, entre outras, as atribuições de analisar e avaliar as origens,

características e dinâmicas desses incêndios florestais, incluindo "as que se prendem com o

ordenamento florestal na área afetada", de forma a "emitir as conclusões e as recomendações

entendidas como pertinentes para aplicação futura" (artigo 2.º, alínea a).

13 DE OUTUBRO DE 2017 31

Página 32

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

31

O âmbito espacial da análise deste Relatório teria necessariamente de incluir os onze concelhos

referidos na Lei que criou a Comissão Técnica Independente. Mas também teria de corresponder

a uma unidade espacial de análise relevante para as questões do Ordenamento Florestal.

Considerou-se assim a opção de utilizar como unidade de análise as Regiões estabelecidas no

âmbito da definição dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF), já que estes são

os instrumentos sectoriais de gestão territorial previstos desde a Lei de Bases da Política

Florestal aprovada consensualmente pela Assembleia da República (Lei n.º 33/96, de 17 de

agosto).

Acontece que os onze concelhos afetados pelos incêndios de 17 a 24 de junho de 2017 estão

incluídos em duas regiões PROF distintas: a do Pinhal Interior Norte e Pinhal Interior Sul. Nove

destes concelhos incluem-se da região do Pinhal Interior Norte, representando 64% do número

de concelhos (9/14) e 70% da área da região (183/262), e os dois outros concelhos incluem-se

na região do Pinhal Interior Sul, representando 40% do número de concelhos (2/5) e 45% da sua

área (92/206) como se pode verificar da análise do Quadro 2.2.

Quadro 2.2 A integração dos concelhos referidos na Lei n.º 49-A/2017 de 10 de julho nas Regiões dos Planos

Regionais de Ordenamento Florestal (PROF)

Sucede que entretanto, nos meses de julho e agosto, os outros três concelhos do Pinhal Interior

Sul (Proença-a-Nova, Mação e Vila do Rei) foram também duramente afetados pelos incêndios

florestais. Se associarmos estes três concelhos aos anteriores estão incluídos no Pinhal Interior

Sul todos os concelhos afetados pelos incêndios de junho a agosto (Figura 2.1).

Assim, pelo facto das Regiões PROF serem as unidades territoriais apropriadas para a

elaboração de análises associadas ao Ordenamento Florestal e por estarem os concelhos

afetados incluídos em apenas duas Regiões PROF, constituindo grande parte da sua área, foram

estas regiões utilizadas nos capítulos apropriados para verificar a relação entre o Ordenamento

Florestal e os Incêndios.

Região PROF Lei nº49-A/2017 Concelho Área (milhares de hectares)Oliveira do Hospital 24

Tábua 20

Vila Nova de Poiares 8

Lousã 14

Miranda do Corvo 13

Arganil 33

Góis 26

Pampilhosa da Serra 40

Castanheira de Pêra 7

Penela 13

Figueiró dos Vinhos 17

Ansião 18

Alvaiázere 16

Pedrógão Grande 13

Oleiros 47

Sertã 45

Proença-a-Nova 40

Mação 40

Vila de Rei 34

Pinhal Interior Norte

262 mil hectares

Pinhal Interior Sul

206 mil hectares

Referidos na Lei

275 mil hectares

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 32

Página 33

Página 34

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

33

3. IMPACTOS E TENDÊNCIAS NACIONAIS

3.1 As áreas ardidas

A primeira das medidas utilizadas para avaliação e comparação do impacto dos incêndios é a

das áreas ardidas. Por isso é importante comparar as áreas ardidas no ano de 2017,

contabilizadas pelo SGIF até 15 de setembro, com as de anos anteriores. E é também importante

fazer a distinção entre áreas ardidas de povoamentos florestais e de matos. Nessa comparação

verifica-se que este é o terceiro pior ano desde que há registos, ultrapassado apenas, desde

2000, em dois anos (2003 e 2005). Registe-se que o ano de 2017 parece continuar uma

tendência crescente nos últimos anos.

Figura 3.1 A evolução das áreas ardidas (milhares de ha) em povoamentos florestais em matos desde 2000.

Fonte: ICNF.

As estatísticas de área ardida são frequentemente utilizadas para avaliar o desempenho das

políticas e das atividades de gestão do fogo ao longo do tempo. No entanto, as tendências de

evolução a médio prazo das áreas ardidas são difíceis de avaliar devido à influência da

meteorologia que conduz a uma significativa variação inter-anual.

Uma das formas de isolar as grandes tendências da variabilidade meteorológica inter-anual é

com a utilização de médias móveis e horizontes temporais alargados. Esta abordagem aplicada

a uma série temporal de cinco décadas de área ardida em Portugal indica resultados muito pouco

positivos, não se verificando qualquer alteração significativa posterior ao incremento de área

ardida observado em meados da década de 1980. Em contraste, a mesma abordagem aplicada

em Espanha regista um decréscimo bastante apreciável que se inicia em meados da década de

1990, ao ponto de atualmente exibir área ardida média inferior à de Portugal, quando duas

décadas antes era aproximadamente o dobro (Figura 3.1).

Os dois países ibéricos são diferentes no que respeita à incidência do fogo, mas acresce que em

Portugal os incêndios atingem maiores dimensões e os maiores incêndios respondem por uma

maior percentagem do total de área ardida (MATEUS & FERNANDES 2014) (Figura 3.2).

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 34

Página 35

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

34

Figura 3.2 Tendências de longo prazo de área ardida em Portugal e Espanha obtidas por análise das respetivas

séries temporais.

Fonte:(http://www.mapama.gob.es/es/desarrollo-rural/estadisticas/Incendios_default.aspx#para0)

Uma outra forma de avaliação das tendências gerais das áreas ardidas para isolar a componente

devida ao desempenho da DFCI (Defesa da Floresta Contra Incêndios) consiste na remoção das

influências que outros fatores exercem na quantidade de área ardida, nomeadamente a

meteorologia e a área ardida em anos anteriores (valores mais elevados reduzem a área

queimada nos anos seguintes). Com essa análise foi possível isolar as tendências gerais (entre

1998 e 2017) que não são devidas nem à meteorologia nem às áreas ardidas em anos anteriores

(Figura 3.3)

.

13 DE OUTUBRO DE 2017 35

Página 36

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

35

Figura 3.3 Tendências (1998-2017) de área ardida e dimensão dos fogos não explicadas pela meteorologia

nem pela área ardida cumulativa dos seis anos anteriores. Consideraram-se nos gráficos da esquerda todos os

fogos com mais de 1 ha e nos gráficos da direita apenas fogos com dimensão superior a 500 ha.

Verifica-se nesta análise que a área ardida anual mostra uma pequena tendência de diminuição

e que a área ardida em grandes fogos (mais de 500 ha) não tem tendência temporal. No entanto,

é claro que a dimensão média dos fogos tem vindo a aumentar significativamente ao longo do

tempo, tanto considerando todos os fogos como aqueles com dimensão superior a 500 ha.

A diminuição ligeira da área ardida acompanhada pelo aumento da dimensão média dos fogos é

contraintuitiva mas pode explicar-se pela redução do número de fogos (de mais de 1 ha) pelo

efeito combinado da diminuição do número de ignições e do aumento da percentagem de

fogachos (ocorrências com menos de 1 ha), provavelmente resultantes da melhoria progressiva

do ataque inicial, o que havia já sido identificado preliminarmente (FERNANDES 2008).

A tendência observada de fogos gradualmente maiores é preocupante, pois indica um regime de

fogo crescentemente mais severo com todas as implicações socioeconómicas e ambientais que

tal acarreta. Esta tendência não será alheia ao aumento da continuidade do espaço florestal, por

diminuição das áreas afetas a uso agrícola, à homogeneidade estrutural imposta pela ocorrência

de grandes incêndios, e à dinâmica natural de acumulação de combustível permitida pela menor

pressão humana. No entanto, dependendo do caso, estes processos operam na paisagem rural

nacional desde há cerca de 3-5 décadas, antes da série temporal em análise. Desta forma, é à

insuficiência das operações de ataque ampliado a incêndios, diagnosticada diversas vezes

(BEIGHLEY & QUESINBERRY 2004; BOTELHO et al. 2008; FERNANDES et al. 2016), e

aparentemente agravada nas duas décadas em análise, que se deve uma parte substancial da

explicação para o aumento progressivo da dimensão dos incêndios em Portugal.

3.2 As perdas de vidas

Independentemente das áreas ardidas, a morte de pessoas é sempre a consequência mais

dramática dos incêndios florestais e o ano de 2017 foi, neste sentido, o mais trágico desde que

há registos, muito mais do que os anos de 2003 e 2005 em que a área ardida foi

substancialmente superior.

Ainda assim, as estatísticas sobre fatalidades humanas relacionadas com o fogo indicam,

infelizmente, que estas são comuns em Portugal, embora nunca com a dimensão da tragédia de

2017. Deverão ser recordados alguns anos do século passado particularmente fatídicos (Quadro

3.1).

Quadro 3.1 Número de fatalidades em incêndios em anos particularmente trágicos do século passado:

Ano Local Civis Operacionais Total

1966 Sintra 25 25

1985 Armamar 14 14

1986 Águeda 3 13 16

Mais recentemente, no período entre 2000 e 2017 registou-se a perda de 165 vidas humanas

como um resultado direto de incêndios florestais, das quais 112 civis e 53 operacionais

combatentes (Figura 3.4).

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 36

Página 37

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

36

Figura 3.4 Número de fatalidades de 2000 a 2017, verificando-se a situação do ano de 2017 (até 30 de

setembro 2017), com valores muito superiores aos dos anos de 2003 e 2005, em que as áreas ardidas foram

muito superiores. Fonte: ANPC, 2000-2017 dados oficiais não publicados; MATEUS, 2015; CE, (2015)

Nas fatalidades que envolvem os operacionais do combate, contabilizaram-se também os

acidentes rodoviários ou com meios aéreos. No caso das perdas de vida de civis, importa referir

que, muitas vezes, são recorrentes os casos de agricultores idosos, vítimas de fogueiras,

queimas e queimadas em relação às quais perderam o controlo.

Para além das fatalidades, muitas pessoas ficam feridas nos incêndios. A título de exemplo,

durante o ano extremo de 2003, mais de mil pessoas precisaram de assistência médica por

causa da inalação de fumo, de queimaduras, de ferimentos e de outros problemas relacionados

com o fogo. Os danos em edifícios devido a incêndios florestais causaram quase 200 desalojados

(CE, 2004).

A situação específica em 2017 será detalhada noutro capítulo.

3.3 Os custos sociais quantificados

Para além das perdas de vidas humanas e dos feridos e das perdas de património, a dimensão

das consequências de um incêndio na perspetiva florestal pode, em grande medida, ser avaliada

por via do custo social desses incêndios, que é a mais negativa das externalidades relacionadas

com as florestas (ENF 2015).

Nos trabalhos preparatórios realizados em 2006 para a Estratégia Nacional para as Florestas

(ENF) estimou-se o valor total das florestas, ou seja, a riqueza produzida anualmente pelas

florestas, incluindo produtos lenhosos e não lenhosos, bens e serviços ambientais. Nesse estudo

foi possível estimar que os custos e prejuízos associados aos incêndios representavam em

média na altura uma externalidade negativa de cerca de 380 milhões de euros reduzindo em

cerca de 30% a riqueza média produzida pelas florestas em cada ano, reduzindo-a para cerca

de 1000 milhões de euros.

Os custos sociais dos incêndios na floresta são geralmente subdividos em quatro componentes:

prevenção, supressão, perdas de bens e serviços e recuperação de áreas ardidas (Quadro 3.2).

13 DE OUTUBRO DE 2017 37

Página 38

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

37

Quadro 3.2 Custos e perdas médias anuais dos Incêndios Florestais nos períodos 2000-06, 2007-12 e 2013-

2016

Médias (M €) 2000-06 2007-12 2013-16

Custos de Prevenção 24,0 23,6 25,0

Custos de Supressão 65,9 69,5 78,1

Perdas de Bens e Serviços 236,0 114,5 136,2

Custos de Recuperação 65,2 22,1 39,7

Fonte: Baseado em ISA (2005), IESE 2015 e dados oficiais (ICNF, 2005-2016 e ANPC, 2015-

2016) não publicados

No período 2000-2016 os custos de prevenção variaram, no entanto, muito pouco: entre os três

períodos, entre 23 a 25 milhões de euros por ano. Os custos com a supressão, porém,

aumentaram naqueles três períodos de 65,9 para 69,5 e para 78,1 milhões de euros por ano,

destacando-se a importância dos meios aéreos de combate que variaram naquele período entre

50% e 65% do custo total de supressão. O rácio supressão/prevenção acentuou-se ao longo dos

três períodos de 2,7 para 2,9 e depois para 3,1. Segundo aqueles dados foram aplicados nos

últimos 17 anos em média cerca de 92,5 milhões de euros/ano na Defesa da Floresta Contra

Incêndios (prevenção e supressão).

As perdas de bens e serviços e os custos de recuperação dependem das áreas ardidas que são

muito variáveis ao longo dos anos. No que respeita a esta componente, a ENF aponta para que

esses custos sejam, sobretudo, calculados em função da área de povoamentos florestais e de

matos ardidos. Para uma avaliação global, seguindo a metodologia indicada no relatório de

avaliação do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI), atribui-se um

valor de 2,8 milhares de euros a 1 ha de floresta ardida (1,8 para perdas de bens e serviços e

1,0 para recuperação) e 0,9 milhares de euros a 1 ha de mato ardido, justificados pela exigência

de combate, por poderem afetar outras áreas (p. ex., interface com áreas urbanas) e pelas

consequências ambientais negativas, em particular no sequestro de carbono (IESE 2014).

De acordo com o Quadro apresentado, verifica-se que os valores associados às perdas de bens

e serviços e aos custos de recuperação diminuíram de forma muito significativa entre o período

de 2000-2006 e o de 2007-2012, por diminuição das áreas ardidas, mas voltaram a aumentar no

período 2013-2016 para 136,2 e 39,7 milhões de euros/ano, respetivamente.

Este custo social dos incêndios florestais varia, no entanto, muito significativamente de ano para

ano, oscilando nos últimos anos entre um mínimo de 127 milhões de euros (2008) e um máximo

de 1303 milhões de euros (2003) ou seja, aproximadamente de 10 a 100% da produção de

riqueza florestal anual. Os detalhes anuais entre 2000 e 2016 são apresentados noAnexo 2.

O custo social dos incêndios de 2017 na perspetiva da floresta pode então ser já aproximado.

Apontando-se para um custo para a prevenção e combate de cerca de 92,5 milhões de euros

(valor médio dos últimos anos) e utilizando os dados de áreas de povoamentos e matos ardidos

até 15 de setembro de 2017, as perdas de bens e serviços e custos de recuperação podem já

ser estimadas em 523 milhões de euros, ou seja, com um custo social total de 613 milhões de

euros perderam-se com os incêndios perto de 50% da riqueza anual produzida pela floresta

(Figura 3.5).

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 38

Página 39

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

38

.

Figura 3.5 Evolução dos custos associados à Defesa da Floresta Contra Incêndios (Prevenção e Supressão), à

Perda de bens e Serviços e Recuperação das Áreas Ardidas entre 2000 e 2017.

3.4 Outra despesa pública

Para além da despesa pública normalmente incluída nas contas da prevenção e da supressão

pelas entidades oficiais (ICNF e ANPC, respetivamente) a despesa pública real com a DFCI

deverá incluir outras componentes incluindo as financiadas por programas de fundos europeus.

Fazendo cálculos para a despesa executada e comprometida para a prevenção e supressão

incluindo programas com fundos europeus os valores alteram-se significativamente como se

pode observar no Quadro 3.3 Estes cálculos devem ser observados com cuidado porque se

referem a valores de despesa executada e de despesa comprometida e não contabilizam, com

grande probabilidade, outras verbas que deveriam ser incluídas. Para além disso convém referir

que os custos com a pré-supressão (vigilância, deteção e fiscalização), na sua maioria, não estão

considerados. Acresce ainda o facto da fronteira entre despesas de prevenção e de supressão

nem sempre ser clara.

13 DE OUTUBRO DE 2017 39

Página 40

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

39

Quadro 3.3 Estimativa da despesa pública de DFCI incluindo os programas com fundos europeus

Despesa pública

(milhões de euros)

ExecutadaComprometida

Prevenção

-Dados fornecidos pelo ICNF (essencialmente FFP) 21,6 21,6

-PDR 2020. Operação 8.1.3 Prevenção da floresta contra

agentes bióticos e abióticos

7,1 20,0

-PO SEUR 4,8

Estimativa total prevenção 28,6 46,4

Supressão

-Dados oferecidos pela ANPC 77,5 77,5

-PO SEUR 16,1

Estimativa total supressão 77,5 93,6

Fonte: Elaboração própria (Anexo 3 - Financiamento da prevenção e combate a incêndios florestais com fundos

europeus). Para os dados fornecidos pelo ICNF e ANPC os valores referem-se a médias anuais 2015-2016.

Para os dados do PDR 2020 e PO SEUR a média anual refere-se ao período 2015-2017.

Relativamente aos dados de execução do PO SEUR convirá referir que há uma forte pendência

de investimentos destinados à supressão (76,4%). A despesa pública supera aqui 16 milhões de

euros anuais e está dirigida na grande maioria para as Associações Humanitárias de Bombeiros

Voluntários, tanto para construção, remodelação e ampliação de quarteis como para aquisição

de veículos. As ações de prevenção só receberam 1/4 dos fundos para DFCI, uma média anual

de 4,8 milhões. Quantidade distribuída em proporções semelhantes entre as Câmaras

Municipais, Comunidades Intermunicipais e ICNF (neste caso para a rede primária de gestão de

combustíveis em áreas sob sua gestão).

Tendo por base a noção do valor meramente indicativo das cifras apresentadas podem, no

entanto, retirar-se duas conclusões principais:

c) A despesa pública associada a DFCI excede em muito a apontada habitualmente. Em

vez dos cerca de 90 milhões de euros por ano contabilizados nos dados oficiais

veiculados pelo ICNF e ANPC, a despesa pública total relacionada com a gestão de

incêndios pode atingir os 140 milhões anuais.

d) Mantêm-se a evidência, apesar de algum aumento nos últimos anos do investimento da

prevenção (financiado com fundos europeus), da maior parte da despesa (cerca de 2/3)

ser destinada ao combate.

Conclui-se que no atual sistema de DFCI a partição financeira pelas várias entidades não está

perfeitamente esclarecida. Os valores apresentados relativamente aos custos de prevenção e

combate foram indicados pela ANPC e ICNF I.P., mas, pelo facto de não terem sido

apresentados os orçamentos discriminados não é possível avaliar sobre a sua concretização.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 40

Página 41

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

40

Não é também percetível em que medida os instrumentos financeiros nacionais, comunitários,

públicos ou privados, suportam o sistema. Esta realidade deriva também da falta de

apresentação detalhada dos custos. Fica a dúvida de se nos valores totais indicados pelo ICNF

I.P. e ANPC estão, ou não, contabilizados valores que dizem respeito à totalidade das despesas

do sistema, ou por outro lado, se estão a ser referenciados custos que na realidade devem ser

imputados a outros sistemas.

Não estão apurados os orçamentos relacionados com a vigilância e fiscalização, normalmente

incluídos na pré-supressão.

Os instrumentos financeiros nacionais, dos quais se destaca o Fundo Florestal Permanente, mas

também os orçamentos próprios das várias entidades públicas que compõe o sistema e os

instrumentos comunitários ou estrangeiros como o Fundo Europeu de Desenvolvimento regional

(FEDER) o Fundo Social Europeu (FSE), o Fundo de Coesão, o Fundo de Solidariedade, o

EEAGrants, os fundos privados de Empresas ou outras entidades, etc., devem ser contabilizados

e integrados.

É essencial perceber com rigor o peso financeiro de cada pilar coordenador do Sistema e o peso

do próprio Sistema. A identificação clara do custo/benefício, anual, do sistema e das peças que

o compõem é essencial para equacionar um horizonte temporal necessário para harmonizar os

setores e com isso estabilizar o risco de incêndio em limiares aceitáveis.

Como já referido anteriormente é necessário um balanceamento mais equilibrado dos

investimentos em “supressão” versus “prevenção”. Mesmo perante a evidência da possibilidade

de existirem cada vez maiores incêndios é necessário atenuar a tendência do sistema de auto-

reforço dos investimentos na componente de “supressão”.

Deve evitar-se a chamada “paradoxo do combate a incêndios” que conduz à ineficácia de todo o

sistema no longo prazo. O ciclo vicioso de reforço do combate conduz a mais biomassa

combustível nos espaços florestais e a incêndios mais extremos (MATEUS E FERNANDES,

2014).

Deve ser assegurado que não são admitidos desvios de orçamento deste sistema para outras

áreas dos setores dos quais dependem cada um dos pilares do sistema (administração interna,

agricultura e ambiente). A aplicação da lei dos vasos comunicantes no orçamento do sistema

DFCI é essencial, mas não deve haver fugas para o exterior do sistema (MATEUS, 2015).

A visão conjunta e integrada das disponibilidades financeiras é essencial para o bom

funcionamento, transparente, equilibrado e uno do sistema de defesa da floresta contra

incêndios.

13 DE OUTUBRO DE 2017 41

Página 42

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

41

4. MUDANÇAS NO TERRITÓRIO E NO REGIME DE FOGO

4.1 Alterações na ocupação humana do território

Os incêndios de Pedrogão Grande e Góis tiveram como palco o território escassamente povoado

(densidade populacional entre 10 e 47 habitantes por km2, dependendo do município).

É reconhecido que a situação do mundo rural sofreu profundas alterações nos últimos 30 a 40

anos. Caracterizado por um desempenho com um elevado nível de autarcia e beneficiando da

conjugação das atividades agrícola, pastoril e silvícola, as atividades agrárias garantiam não só

uma presença numerosa de pessoas nos espaços rurais, como também permitiam a valorização

de uma variedade significativa de recursos naturais. A completa integração mercantil da vida

rural e a emigração, expulsando destas áreas um efetivo significativo de população rural, criaram

um problema de difícil solução.

Na região dos onze concelhos atingidos pelos incêndios de Pedrógão e de Góis, a situação é

igualmente difícil. A diminuição de população residente (Quadro 4.1) e o abandono da atividade

agrícola conduziram à perca de diversidade na paisagem e a que a floresta fosse deixada à sua

própria dinâmica, com ciclos previsíveis de produção-destruição e sem capacidade para

contribuir para um melhor ordenamento do território.

Quadro 4.1 Evolução da população residente nos concelhos da área de Pedrógão Grande, em diversos anos

CONCELHO ANOS TAXAS DE

CRESCIMENTO 1950 1970 1991 2011 2016 1950-2016 2011-2016

Arganil 21.736 15.410 13.926 12.105 11.317 -47,93 -6,51

Alvaiázere 14.950 11.165 9.306 7.272 6.789 -54,59 -6,64

Ansião 18.309 14.905 14.029 13.101 12.449 -32,01 -4,98

Castanheira de

Pera 6.330 4.540 4.442 3.164 2.736 -56,78 -13,53

Figueiró dos

Vinhos 12.300 8.760 8.012 6.148 5.757 -53,20 -6,36

Pedrógão Grande 8.955 4.960 4.643 3.891 3.516 -60,74 -9,64

Góis 11.103 6.540 5.372 4.230 3.936 -64,55 -6,95

Pampilhosa da

Serra

14.800 9.065 5.797 4.469 4.112 -72,22 -7,99

Penela 10.525 7.745 6.919 5.953 5.556 -47,21 -6,67

Oleiros 15.137 12.620 7.767 5.698 5.197 -65,67 -8,79

Sertã 28.623 22.670 18.199 15.852 14.983 -47,65 -5,48

TOTAL 162.768 109.315 98.412 81.883 76.348 -53,09 -6,76

Fonte: INE, Recenseamentos da População 1950, 1970, 1991 e 2011. Estimativas da População, 2016.

Sem atividades e, portanto, sem empregos, estas áreas rurais do interior têm-se mantido com

base nos serviços administrativos públicos e de apoio social, sem grandes expetativas de

inversão da tendência estrutural verificada nos últimos decénios. Os planos e projetos de

dinamização do interior têm sido apresentados com uma periodicidade correspondente às

mudanças de governo, mas os resultados efetivos são parcos.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 42

Página 43

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

42

A população residente está envelhecida e as atividades do passado desapareceram no

movimento de concentração e de modernização que forçaram a desestruturação da base

económica das regiões periféricas (Figura 4.1).

Figura 4.1 Variação da estrutura etária da população entre 1991 e 2011 nos 11 concelhos afetados.

O padrão de ocupação humana do território, herdeiro do mosaico passado, integra ainda uma

rede densa de núcleos populacionais, de reduzida dimensão, que acolhem na sua maioria uma

população idosa e reformada. Poder-se-ia caracterizar maioritariamente esta população pela sua

presença-ausência1.

Este modelo, traduzindo também uma enorme dispersão, conduz a que mais de 50% da

população residente se encontre localizada em numerosos aglomerados de pequena dimensão

(entre 20 e 100 residentes), situação que se revela extremamente vulnerável em momentos de

incêndios florestais (Figura 4.1).

1 JACINTO, Rui (2015) – “Calcanhar do Mundo: da Geografia das Ausências à Geografia da Esperança”, Praça Velha, XVII (35), 243-260.

16 17 18 17 17 16 15 15 14 15 17 9 11 10 9 9 10 6 7 11 11 12

12 15 12 13 13 11 10 11 10 1314

10 10 10 9 10 9 8 811 10 10

4648

46 49 4844 49 45 47

46 47

4952 52

48 49 5047 45

48 49 50

25 19 24 21 22 29 26 29 29 2521

32 27 28 34 32 31 39 4030 30 28

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Alv

aiaz

ere

An

sião

Arg

anil

Cas

tan

he

ira

de

Per

a

Figu

eir

ó d

os

Vin

ho

s

is

Ole

iro

s

Pam

pilh

osa

Pe

dró

gão

Gra

nd

e

Pe

ne

la

Sert

ã

Alv

aiaz

ere

An

sião

Arg

anil

Cas

tan

he

ira

de

Per

a

Figu

eir

ó d

os

Vin

ho

s

is

Ole

iro

s

Pam

pilh

osa

Pe

dró

gão

Gra

nd

e

Pe

ne

la

Sert

ã

Estrutura etária 1991 2011

65 anos emais

25-64 anos

15-24 anos

0-14 anos

13 DE OUTUBRO DE 2017 43

Página 44

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

43

Figura 4.2 Número de agregados populacionais e percentagem da população por classe de dimensão do

agregado nos três concelhos mais afetados.

11

16

8 7

1

27

36

23

7

1 1

26

39

12

1 1 1

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Número de agregados populacionais por classe de dimensão

Castanheira de Pera

Figueiró dos Vinhos

Pedrógão Grande

24

1517

26

0 0

35

6 5

20

26

15

30

25

47

33

22

3 4

0

29

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Percentagem da populaçãopor classe de dimensão do agregado populacional

Castanheira de Pera

Figueiró dos Vinhos

Pedrógão Grande

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 44

Página 45

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

44

4.2 A dinâmica do uso do solo

O espaço florestal deste território é largamente predominante na ocupação do solo da região,

sendo essencialmente constituído por povoamentos de eucalipto e pinheiro bravo com grande

continuidade espacial. A opção pela arborização com pinheiro e eucalipto surge como

consequência dos solos pobres e delgados de origem xistosa, conjugados com produtividade

primária líquida elevada (8,0 t/ha/ano), respetivamente 116% e 83% da média e do máximo

nacional. Com efeito, os PROF de primeira geração indicam que os municípios de Pedrogão

Grande e Figueiró dos Vinhos têm um potencial produtivo ótimo para o eucalipto e, em menor

medida, também para o pinheiro bravo, e atribuem à produção lenhosa a função primária do

espaço florestal, a qual se mantém bastante relevante em Castanheira de Pera, Góis e

Pampilhosa da Serra.

Com a dominância absoluta destas duas espécies as poucas manchas de quercíneas e outras

folhosas estão limitadas ao fundo dos vales. Nalgumas áreas as formações arbustivas ganham

terreno devido a fogos mais frequentes, mas a sua representatividade mantém-se inferior à da

floresta.

Devido às alterações na ocupação humana do território as áreas agrícolas são agora quase

residuais e situam-se nas baixas e junto aos aglomerados populacionais e a densidade de gado

miúdo que poderia reduzir a acumulação de combustível é muito baixa, situando-se os efetivos

caprinos em 1-3 cabeças por km2.

A evolução do uso do solo e do coberto vegetal destes territórios, pode ser analisada através da

informação dos Inventários Florestais Nacionais (IFN) relativa às duas regiões do Plano Regional

de Ordenamento Florestal (PROF) afetadas: Pinhal Interior Norte e Pinhal Interior Sul (Figura

4.3).

Figura 4.3 As Regiões dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF) do Pinhal Interior Norte (à

esquerda) e do Pinhal Interior Sul (à direita), com a indicação dos concelhos aí incluídos.

13 DE OUTUBRO DE 2017 45

Página 46

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

45

É importante, neste quadro, saber qual tem sido a evolução do uso/ocupação do solo nas

Regiões do Pinhal Interior Norte e do Pinhal Interior Sul e quais foram as perspetivas e metas

estabelecidas para estas duas Regiões PROF.

No Pinhal Interior Norte a evolução no último século iniciou-se com uma arborização muito

significativa dos incultos com Pinheiro bravo até 1968-80. Desde essa altura assistiu-se a uma

diminuição muito significativa da Agricultura e do Pinheiro bravo acompanhados por um

correspondente aumento substancial do Eucalipto que ultrapassou o Pinheiro bravo em área já

na altura do último (6º) Inventário Florestal Nacional.

As metas do PROF do Pinhal Interior Norte, baseadas nos dados do 4º Inventário Florestal

Nacional, apontavam para a redução das áreas de Pinheiro bravo, do Eucalipto e de Incultos e

Improdutivas com um acréscimo correspondente das áreas de Carvalhais, Castanheiros e Outras

Folhosas (Figura 4.4).

Figura 4.4 Evolução percentual do uso/ocupação do solo no último século na Região PROF do Pinhal Interior

Norte em comparação com as metas estabelecidas para 2025 e par 2045 no PROF de 2006.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 46

Página 47

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

46

Figura 4.5 Evolução percentual do uso/ocupação do solo no último século na Região PROF do Pinhal Interior

Sul em comparação com as metas estabelecidas para 2025 e par 2045 no PROF de 2006.

A evolução da paisagem no Pinhal Interior Sul teve algumas diferenças em relação ao que

acontecia em simultâneo no Pinhal Interior Norte. A grande percentagem de Incultos e

improdutivos existentes no início do século XX seria inicialmente transformada em Agricultura

em 1968-80. Depois dessa altura assiste-se, como no Pinhal Interior Norte, a uma redução muito

substancial da Agricultura, numa primeira fase compensada pelo aumento do Pinheiro bravo e

depois, a partir de 1999, pelo aumento dos Incultos e improdutivos e do Eucalipto (Figura 4.5).

O PROF apontava, em 2006, para que, em relação a 1999 (IFN4), houvesse apenas alguma

redução da área de Pinheiro bravo e algum aumento da área de Eucalipto mas sobretudo um

aumento da área de sobreiros e de carvalhos, castanheiros e outras folhosas. De facto, o que

aconteceu no Pinhal Interior Sul foi o de um grande aumento dos Incultos e improdutivos, a que

não é alheia seguramente a existência de grandes áreas ardidas, e a um aumento da área de

Eucaliptal.

Para além das diferenças entre as duas regiões PROF na sua história e ocupação recente

existem também diferenças significativas no uso/ocupação do solo entre os diferentes concelhos

das duas Regiões PROF (Figura 4.6).

13 DE OUTUBRO DE 2017 47

Página 48

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

47

Figura 4.6 Ocupação (%) dos diversos tipos de uso do solo nos concelhos das Regiões do Pinhal Interior Norte

e do Pinhal Interior Sul. Fonte: Análise dos dados dos fotopontos do 6.º Inventário Florestal Nacional, fornecidos

pelo ICNF.

Na Região do Pinhal Interior Norte a variabilidade é grande, sendo o concelho de Pedrógão

Grande aquele que apresenta, no seu conjunto, uma maior área conjunta de Pinheiro bravo e

Eucalipto (72%) e uma menor área de Incultos e improdutivos (8%) em contraste com o concelho

de Pampilhosa da Serra, com 37% de área conjunta de Pinheiro bravo e Eucalipto e 58% de

Incultos e improdutivos (Figura 4.6).

Na Região do Pinhal Interior Sul (Figura 4.6) existe uma maior semelhança entre os vários

concelhos, sempre com áreas de Agricultura relativamente reduzidas, com uma grande

componente de Incultos e improdutivos (entre 37% e 55%), e importantes componentes de

Pinheiro bravo e de Eucalipto (entre 32% e 51% no conjunto).

As diferenças entre concelhos, no que respeita ao comportamento dos incêndios, à sua

dimensão e aos seus efeitos, não podem deixar de estar associada a estas diferenças de

composição das paisagens destes territórios.

As diferenças entre concelhos no que respeita ao comportamento dos incêndios, à sua dimensão

e aos seus efeitos não podem deixar de estar associadas a estas diferenças de composição das

paisagens destes territórios.

Recorde-se que os concelhos de Pedrógão Grande e de Góis são dos que têm simultaneamente

menos agricultura e maior percentagem de pinheiro bravo e eucalipto.

A área ardida nos incêndios de Pedrógão Grande e de Góis é bastante representativa da

ocupação do solo nos respetivos concelhos (Quadro 4.2).

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 48

Página 49

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

48

Quadro 4.2 Distribuição da área ardida (%) por ocupação do solo, com base na interpretação da cartografia

COS2010 (www.igeo.pt).

Tipo de coberto Pedrogão Góis

Floresta 73,5 65,4

Eucalipto 37,4 34,8

Eucalipto com outras resinosas 8,7 1,3

Eucalipto com outras folhosas 0,3 1,6

Pinheiro bravo 17,1 19,4

Pinheiro bravo com outras folhosas 5,0 4,2

Outras resinosas 0,3 0,0

Povoamentos mistos sem dominância de espécie 1,3 1,3

Acacias 0,4 0,3

Outras folhosas 2,7 2,4

Carvalhos 0,3 0,1

Matos e pastagens 19,3 31,7

Outras ocupações 7,2 2,9

Quanto ao combustível acumulado nas florestas imperam na região estruturas florestais baixas

e densas, exatamente aquelas que em Portugal geram fogos mais rápidos e intensos

(FERNANDES, 2009). As visitas à área ardida revelaram que uma porção substancial das

plantações de eucalipto não havia recebido qualquer intervenção após o primeiro corte,

nomeadamente seleção de varas, apresentando um estrato arbustivo expressivo (dominado por

espécies altamente inflamáveis – tojos, urzes, carqueja) e densidade excessiva de pés. Os dados

do último inventário florestal nacional (IFN6) permitem estimar que em 2010 estavam

acumuladas na floresta da região 14,9 t/ha de combustível fino em eucaliptal e acacial, 19,6 t/ha

nas restantes folhosas e 17,5 t/ha em pinhal bravo, sendo a diferença entre os dois primeiros

tipos estatisticamente significativa. Desagregando os valores associados a cada tipo de coberto

florestal e ponderando-os pelo contributo para a área ardida obtêm-se 16,3 t/ha e 16,5 t/ha como

cargas de combustível médias em floresta, respetivamente para os incêndios de Pedrogão

Grande e Góis. A estes valores haveria que acrescentar os combustíveis mortos de maior

dimensão, não quantificados, mas que tipicamente acrescem 25% à carga de combustível fino,

totalizando portanto ≈20 t/ha. Este nível de acumulação de combustível é considerado moderado

mas está acima do limiar necessário para a ocorrência de um fogo “explosivo” (WENDELL et al.

1962).

4.3 A mudança de regime de fogo

Os dois grandes incêndios em análise ocorreram num território compreendido grosso modo entre

as serras da Lousã e Açor e o vale do Zêzere. A orografia é razoavelmente homogénea com

dominância de ondulações pronunciadas com microbacias e cristas ocasionais mais íngremes e

elevadas, facilitando sobremaneira a expansão dos incêndios por escassez de acidentes

topográficos tendentes a limitar a sua propagação. No interior das áreas ardidas a altitude e

declive médios situaram-se em 420 m e 11%, e em 540 m e 15%, respetivamente para Pedrogão

Grande e Góis. No Pinhal Interior Norte os incêndios orientam-se preferencialmente de acordo

com o eixo SE-NW, ou seja perpendicularmente à orientação da bacia hidrográfica (BARROS et

al. 2012).

Na carta de Perigosidade de Incêndio Florestal produzida pelo ICNF à escala nacional (Figura

4.7) e que é função do declive, ocupação do solo e recorrência do fogo (nos últimos 20 anos) a

região é predominantemente incluída nas classes de Muito Alta e Alta Perigosidade. As classes

de Perigosidade Média e Baixa são descritas como importantes nos concelhos de Pedrogão

13 DE OUTUBRO DE 2017 49

Página 50

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

49

Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, por ter aí havido menor incidência de fogos

nos últimos anos.

Figura 4.7 Pormenor da Carta de Perigosidade de Incêndio Florestal para 2017 para os incêndios de Pedrogão

Grande e Góis e sua envolvente. Fonte: http://www.icnf.pt/portal/florestas/dfci/inc/cartografia/map-perig-incend-flor

Os municípios mais afetados pelos dois grandes incêndios registam 0,1 - 0,2 ignições/km2/ano,

cerca de quatro vezes menos que a média municipal nacional. Deste conjunto de ocorrências, 8

- 19% excedem 1 ha de dimensão, e 1 - 4% resultam em incêndios de dimensão superior a 100

ha.

A relação entre probabilidade de fogo e tempo desde o último fogo tem sido estudada. De facto,

em Portugal mais de 90% da superfície percorrida pelos maiores incêndios (acima de 2500 ha)

corresponde a áreas que não ardem há 15 e mais anos e que atingiram ou estão perto de atingir

o potencial máximo de carga de combustível (FERNANDES et al. 2016). Desta forma a

distribuição da área ardida (%) por classes de idade do combustível é um bom indicador da

suscetibilidade do território a grandes incêndios, especialmente quando o esforço de redução do

combustível é mínimo ou inexistente, como é o caso da região.

Verifica-se que em 69% e 83% da área dos fogos de Pedrogão Grande e Góis, respetivamente,

o tempo de acumulação de combustível excedia 14 anos (Quadro 4.3).

Quadro 4.3 Distribuição da área ardida (%) por classe de tempo desde o último fogo (1975-2016).

Tempo desde o fogo (anos) Pedrogão Grande* Góis**

1-4 1,3 1,1

5-8 2,1 0,7

9-14 27,5 15,7

15-19 6,3 20,2

>20 37,5 55,5

Não ardeu 25,3 6,9

* 11,8% tinha ardido em 1991 e 24,1% em 2005.

** 15,4% ardido em 1990, 16,4% ardido em 1991 e 17,7% ardido em 2000.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 50

Página 51

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

50

O mesmo tipo de análise pode ser efetuado para o conjunto das regiões do Pinhal Interior Norte

e Sul revelando alterações muito relevantes do regime de fogo (Figura 4.8).

Figura 4.8 Áreas ardidas (em percentagem do território da Região PROF correspondente - eixo vertical em

escala logarítmica) no Pinhal Interior Norte e no Pinhal Interior Sul desde 1975 até 2017 (dados até 19 de

agosto) indicando-se as tendências com linhas representando as médias móveis de 15 anos.

Da análise da Figura 4.8 fica claro que as grandes diferenças da situação atual em relação às

últimas décadas não estão na área média ardida (algum aumento no Pinhal Interior Sul e alguma

diminuição no Pinhal Interior Norte) mas sim na grande variabilidade inter-anual em que muitos

anos apresentam valores de área ardida muito baixos e poucos anos valores muito elevados.

De facto, os grandes incêndios de 2017 ocorrem após muitos anos de área ardida muito abaixo

da média. No Pinhal Interior Norte 12 anos depois dos grandes incêndios de 2005 apenas num

ano (2012) se excedeu o valor médio e nos restantes a área ardida não excedeu 1% do território.

No Pinhal Interior Sul depois dos incêndios de 2003 e 2005 em nenhum dos 12 anos foi excedido

o valor de 1% da área do território.

Conclui-se facilmente que sem significativa influência de práticas de redução do combustível em

pinhal e eucaliptal, após 12 anos de acumulação de combustível em zonas de alta produtividade

primária, estão reunidas as condições para que, em situações meteorológicas adversas um

incêndio ganhe uma grande intensidade.

Confirma-se neste território a tendência nacional para que, sem grande alteração das áreas

ardidas totais, esta seja obtida por poucos incêndios mas de muito maior dimensão e intensidade.

13 DE OUTUBRO DE 2017 51

Página 52

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

51

Em média, a área anual ardida do território do Pinhal Interior Norte atinge 3,2%, um dos valores

mais elevados do país (OLIVEIRA et al. 2012). No entanto a variação intermunicipal é grande,

com valores <1% para Penela, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Pedrogão Grande e

Góis, e valores >5% para a Pampilhosa da Serra e Sertã. A recorrência do fogo (nº de vezes que

uma área ardeu desde 1975) é também muito variável espacialmente, tendendo a ser mais

elevada na área correspondente ao incêndio de Góis (Figura 4.9).

Figura 4.9 Tempo desde o último fogo e recorrência do fogo (1975-2016) nos incêndios de Pedrogão Grande

(esquerda) e Góis (direita).

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 52

Página 53

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

52

O intervalo médio de retorno do fogo Pinhal Interior Norte é de 24 anos (1975-2005), portando

potenciador de plantações florestais de rotação curta, apresentando esta região a mais forte

relação em Portugal entre a probabilidade de arder e a acumulação de combustível (OLIVEIRA

et al. 2012). Idênticas conclusões usando metodologia distinta e um intervalo temporal mais

alargado foram obtidas para a região natural da Estremadura na qual o Pinhal Interior Norte se

insere (FERNANDES et al. 2012). Tal indica que:

 É a região do país onde mais se justifica o investimento em gestão de combustíveis

e silvicultura preventiva;

 para um determinado cenário meteorológico é nesta região que os incêndios serão

potencialmente mais intensos.

Em suma, o número de fogos na região é comparativamente reduzido, mas as suas dimensões

e severidade são elevadas, tal como verificado em 1990, 1991, 2000 e 2005. E essa é uma

tendência que, a não ser devidamente combatida, poderá ainda acentuar-se.

13 DE OUTUBRO DE 2017 53

Página 54

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

53

5. O COMPORTAMENTO DO FOGO

Apresentado o território e as condições orográficas e de vegetação e combustível florestal que

presidiram ao desenvolvimento dos incêndios, esta secção descreve a dinâmica da evolução e

características de comportamento do fogo, que é inseparável das condições pirometeorológicas,

nas suas componentes atmosférica e de secura do combustível. As implicações operacionais na

vertente do combate serão discutidas no final. As metodologias utilizadas neste capítulo são

descritas no Anexo 4.

5.1. Condições pirometeorológicas 5.1.1. Situação antecedente

A primavera de 2017 foi quente e seca em Portugal, incluindo o mês de abril mais seco desde

1931 (IPMA 2017a). Há que destacar as ondas de calor ocorridas em abril (a mais significativa

desde 1941) e em maio (de 20 a 27). Na região em causa a precipitação de outubro de 2016 a

junho de 2017 alcançou 600-800 mm, ou seja 50-75% da média para o período 1971-2000 (IPMA

2017b). Nos dias de 2017 que antecederam os incêndios as estações do IPMA na região

registaram um total de 282 a 407 mm de precipitação, respetivamente na Lousã e em Proença-

a-Nova; a última precipitação superior a 1 mm havia ocorrido 19 dias antes do dia de início dos

incêndios, exceto na Lousã (11 dias).

A escassez de precipitação levou a que o índice de Seca (DC) na região aumentasse

praticamente sem interrupções desde meados de maio (Figura 5.1). O DC é representativo do

teor de humidade dos combustíveis mortos de maiores dimensões e correlaciona-se

moderadamente com as humidades da vegetação arbustiva e dos horizontes orgânicos do solo

mais profundos e compactos. Um DC de 300 é usualmente assumido como o limiar para a

necessidade de rescaldo do perímetro de um incêndio e foi alcançado de 7 de junho a 18 de

junho, dependendo do local (Figura 5.1). No entanto, os valores do DC na semana que

antecedeu os incêndios aproximavam-se dos valores médios (2001-2016) para a época na

região (Figura 5.2), sendo, portanto, inferiores àqueles observados noutros anos,

nomeadamente em 2005 (Figura 5.3).

Face à escassez de precipitação na primavera de 2017 seria expectável que a humidade da

vegetação viva fosse inferior aos valores típicos da época. Os dados fornecidos pelo CEIF-ADAI

e respeitantes à Lousã confirmam-no, revelando baixas percentagens de humidade para os

arbustos (~70%) e ligeiramente baixas para eucalipto (~90%), mas normais para o pinheiro bravo

(~120%).

Figura 5.1 Evolução semestral (1 de janeiro a 30 de junho de 2017) dos índices de Seca (DC) e de

Humidade da Manta Morta (DMC) do sistema FWI de Indexação do Perigo Meteorológico de Incêndio para

as estações meteorológicas do IPMA localizadas na região dos incêndios.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 54

Página 55

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

54

Figura 5.2 Valores médios semanais em 2001-2016 e 2017 do índice de Secura (DC) até à data de início dos

incêndios para as estações meteorológicas do IPMA em Ansião e Proença-a-Nova.

Figura 5.3 Evolução comparativa do índice de Secura (DC) durante o primeiro semestre dos anos de 2001 a

2017 para as estações meteorológicas do IPMA em Ansião e Proença-a-Nova.

O índice de Humidade da Manta Morta (DMC) é o melhor indicador disponível do contributo

energético do combustível florestal para a intensidade do fogo. A sua evolução a partir de

meados de maio (Figura 5.1) foi paralela à do DC, à exceção de algumas perturbações induzidas

pela ocorrência pontual de chuva. Os valores do DMC indicam que os combustíveis finos e

regulares estavam disponíveis para arder na sua totalidade desde o final de maio, tanto em pinhal

(FERNANDES e LOUREIRO 2013) como em eucaliptal (PINTO et al. 2014).

Na semana antecedente aos incêndios Portugal esteve sob a influência de uma onda de calor,

com início a 4 de junho e que apenas findou a 24 de junho, determinando que o mês viesse a

ser considerado como extremamente quente e muito seco. Em consequência, a classificação do

perigo meteorológico de incêndio na região e nessa semana variou entre Elevado e Extremo,

dependendo do dia e estação IPMA, e revelou grosso modo um gradiente de aumento de oeste

para este. Na véspera das ocorrências, dia 16 de junho, o perigo de incêndio foi classificado

como Elevado (Lousã), Muito Elevado (Ansião) e Extremo (Pampilhosa da Serra, Proença-a-

13 DE OUTUBRO DE 2017 55

Página 56

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

55

Nova). Esta classificação é baseada no índice FWI e descreve a intensidade potencial de um

incêndio e a sua dificuldade de supressão.

5.1.2. Meteorologia e perigo de incêndio

De 17 a 20 de junho os incêndios evoluíram num quadro sinótico (Figura 5.4) caracterizado por

dois núcleos anticiclónicos posicionados a oeste e a norte de Portugal Continental e uma

depressão térmica centrada na Península Ibérica, correspondendo a uma massa de ar

particularmente quente e seco de 17 a 19 de junho (IPMA 2017b) e ao tipo de tempo (situação

sinótica) mais comummente associado à ocorrência de grandes incêndios no país (FERNANDES

et al. 2016). A partir de 21 de junho manteve-se a depressão com centro em Espanha e os dois

núcleos anticiclónicos, agora respetivamente a oeste em crista para Portugal, e a este em crista

para Marrocos.

Figura 5.4 Cartas sinóticas para o dia de 17 de junho de 2017. Fonte: http://www.wetterzentrale.de

Figura 5.5 Valores horários das variáveis meteorológicas registadas nas estações do IPMA localizadas na

região durante o dia 17 de junho de 2017. As curvas representam a tendência temporal geral e resultam do

ajustamento de um spline cúbico aos dados.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 56

Página 57

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

56

A presença de um vale depressionário nos níveis mais elevados da troposfera na região atlântica

delimitada pelo litoral de Marrocos, Madeira e Açores, fez com que ar relativamente mais frio se

deslocasse para a Península Ibérica. A combinação com o pronunciado aquecimento à superfície

originou no dia 17 elevada instabilidade atmosférica e condições propícias à ocorrência de

trovoadas (Figura 5.6) no interior centro do país; as descargas elétricas foram numerosas e

frequentemente não foram acompanhadas pela chegada de precipitação à superfície (IPMA

2017c). No dia 17 de junho o índice de HAINES atingiu o valor máximo na escala de 2 a 6. Este

índice avalia o potencial para o desenvolvimento de grandes incêndios de natureza convectiva e

comportamento mais errático, próprios de situações de grande instabilidade atmosférica. Uma

vez que é um índice pouco diferenciador, tem sido proposto o seu uso numa versão que pode

tomar o valor máximo de 13 (MILLS & MCCAW 2010), sendo que no dia 17 de junho esse valor

ascendeu a 12.

No dia 17 de junho a maioria das estações do IPMA na região registou temperaturas máximas

superiores a 40ºC e humidades relativas mínimas entre 15 e 20% (Figura 5.5), portanto

resultando em teores de humidade do combustível morto fino muito baixos, cerca de 4 a 6%

(Figura 5.7). Predominaram ventos de noroeste até às 18h00, atingindo os valores máximos a

essa hora, rodando então para nordeste-sudoeste, e variando entre leste e oeste a partir das

20h00. O vento soprou genericamente fraco a moderado, com variação acentuada entre

estações, tendo a partir do meio da tarde sido registadas rajadas bastante fortes (50-85 km/h)

nas localizações mais interiores, relacionadas com episódios convectivos locais e com

características de outflows convectivos (IPMA 2017c).

Figura 5.6 Imagens do satélite EUMETSAT em infravermelhos referentes ao dia 17 de junho de 2017. Fonte:

http://archives.meteo60.fr.

As condições pirometeorológicas permaneceram severas no dia 18 de junho, com progressivo

desagravamento nos dias seguintes, o qual culminou nos dias 22 e 23 de junho (Figura 5.7). Do

Quadro 5.1 é interessante notar que:

1. Houve sempre pelo menos uma estação IPMA a registar perigo meteorológico

Extremo para a região no período 17-23 de junho, ainda que nos dias 21-22 tal

corresponda à estação de Proença-a-Nova, a mais distante dos incêndios;

2. A classificação de perigo do dia 19 de junho reflete a ocorrência de chuva, exceto em

Ansião;

3. No caso particular da floresta industrial de eucalipto a classificação de perigo é um a

dois níveis inferior ao caso geral, com uma exceção decorrente da queda de

precipitação.

13 DE OUTUBRO DE 2017 57

Página 58

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

57

Figura 5.7 Combinações entre a humidade relativa e temperatura do ar, principais determinantes da humidade

do combustível morto fino, e entre esta e a velocidade do vento a 10 m, determinantes do comportamento do

fogo, para os dias 17 a 23 de junho. Dados medidos às 12h00 nas estações do IPMA na região.

Quadro 5.1 Perigo Meteorológico de Incêndio de 17 a 23 de junho dado pelas estações meteorológicas do

IPMA na região. A primeira e a segunda coluna referem-se respetivamente à classificação padrão para Portugal

e à classificação para eucaliptal sob gestão industrial.

A previsão, posteriormente materializada, de valores de FWI para o dia 17 e dias seguintes

levando a classificações de perigo Muito Elevado a Extremo na região foi comum às três fontes

de informação disponíveis, respetivamente IPMA, European Forest Fire Information System e

Instituto Dom Luiz. Note-se em particular a Figura 5.8 que individualiza uma região

imediatamente a sul de Figueiró dos Vinhos e Pedrogão Grande e que inclui Alvaiázere, Ferreira

do Zêzere e Vila de Rei.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 58

Página 59

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

58

Figura 5.8 Previsão para o dia 17 de junho de 2017 do Índice de Perigo Meteorológico de Incêndio (FWI) para a

região. Fonte: Instituto Dom Luiz (http://idlcc.fc.ul.pt/MDMF/index.php).

A classificação diária do perigo meteorológico de incêndio avalia o comportamento potencial do

fogo em termos genéricos. Contudo, são possíveis previsões a escalas temporais mais finas,

com vantagens óbvias do ponto de vista da definição da prontidão e planeamento das atividades

de pré-supressão e supressão de incêndios. Partindo das previsões do IPMA (run 0 de 17 de

junho) baseadas no modelo AROME, o cálculo dos índices do sistema FWI para Pedrogão

Grande e Pampilhosa da Serra indica (Figuras 5.9 e 5.10):

 Humidades relativas máximas baixas de 17 a 20 de junho em Pedrogão Grande e

de 17 a 21 de junho na Pampilhosa da Serra, implicando reduzida recuperação

noturna da humidade do combustível morto fino;

 humidade do combustível morto fino extremamente reduzida nos dias 17 e 18 de

junho e muito reduzida nos dias 19 e 20 de junho;

 potencialmente, fogo extremamente rápido ou muito rápido especialmente nos dias

18 e 19 de junho e na Pampilhosa da Serra;

 potencialmente, fogo extremamente intenso durante todo o período mas

especialmente nos dias 18 e 19 de junho e na Pampilhosa da Serra.

Estes indicadores permitem ainda identificar janelas de oportunidade noturnas ou matinais para

o efetivo controlo do fogo através de métodos diretos ou indiretos.

13 DE OUTUBRO DE 2017 59

Página 60

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

59

Figura 5.9 Temperatura e humidade do ar e índices selecionados do sistema FWI para Pedrogão Grande:

evolução horária de 17 a 22 de junho resultante das previsões do IPMA (17.06.2017, run 0) efetuadas com o

modelo AROME.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 60

Página 61

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

60

Figura 5.10 Temperatura e humidade do ar e índices selecionados do sistema FWI para Pampilhosa da Serra:

evolução horária de 17 a 22 de junho resultante das previsões do IPMA (17.06.2017, run 0) efetuadas com o

modelo AROME.

Concluindo, face às condições antecedentes e previsões existentes:

 Era possível na região a ocorrência de fogos simultâneos causados direta ou

indiretamente por trovoada “seca”;

 Qualquer ignição em local com vegetação e topografia favoráveis certamente se

desenvolveria rapidamente e bastante cedo, ou mesmo desde o início, a sua

intensidade impor-se-ia à capacidade de extinção;

 Era provável na região a ocorrência de frentes de rajada, ou seja ventos localmente

intensos com grande potencial para ampliar a magnitude de um incêndio a decorrer;

 A muito elevada instabilidade atmosférica exacerbaria os efeitos anteriores e tornaria

o comportamento do fogo mais errático.

13 DE OUTUBRO DE 2017 61

Página 62

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

61

5.2. O incêndio de Pedrogão Grande

A descrição dos incêndios segue a ordem cronológica dos eventos, tratando com mais detalhe a

ignição e evolução inicial em Pedrogão Grande, dadas as implicações da resposta inicial para os

acontecimentos subsequentes. A partir daí os períodos considerados são delimitados

horariamente, ou multi-horariamente, respeitando a escala temporal da reconstrução da

expansão dos incêndios.

5.2.1. Deteção

O incêndio de Pedrogão Grande deflagrou no vale da ribeira de Frades em galeria ribeirinha

dominada por carvalho (Quercus robur), num local situado a 0,6 e 4,6 km a norte de Escalos

Fundeiros e Pedrogão Grande, respetivamente. O foco ativo foi detetado pelo sensor VIIRS a

bordo do satélite meteorológico Suomi-NPP às 14h42 e a correspondente pluma é visível nas

imagens de radar do IPMA a partir das 15h10 (IPMA 2017d).

As obstruções visuais inerentes à localização de Escalos Fundeiros relativamente ao ponto de

início e existência de cortinas de árvores no vale, altas e perpendiculares à sua orientação,

prejudicaram a deteção precoce do fogo. Habitantes locais na aldeia avistaram o fumo pela

primeira vez às 14h37, tendo reportado a ocorrência por telefone (112.pt) às 14h39. Inicialmente

a coluna de fumo teria cerca de um metro de diâmetro e era cinzento clara e vertical, já que o

vento sentido em Escalos Fundeiros soprava (de norte para sul) com pouca força; uma fotografia

posterior (15h17) mostra chamas e fumo aproximadamente verticais. As testemunhas referiram

que o fogo estaria “mesmo no início” e estimam que tenha principiado cerca das 14h30.

Uma segunda ignição ocorreu cerca das 16h00 em Regadas Cimeiras, localizada 2,8 km a

noroeste da 1ª ignição e que a população detetou e reportou imediatamente. O fumo proveniente

deste foco é visível a partir das 16h34 no vídeo da câmara instalada no quartel dos bombeiros

voluntários de Pedrogão Grande.

5.2.2. Causa

A causa da ignição inicial associada ao incêndio de Pedrogão Grande não consta ainda do

Sistema de Gestão de Informação de Incêndios Florestais (SGIF). O relatório circunstanciado da

GNR datado de 26 de julho refere que teve origem na linha elétrica, por contacto ou descarga, a

qual observámos estar muito próxima da copa das árvores; o ponto de ignição situa-se num troço

da linha de média tensão que numa extensão de 500 m estava desprovido de faixa de proteção.

De acordo com a Polícia Judiciária trata-se de um incêndio de causa acidental que tem como

origem primária a incidência de um raio em linha de média tensão. A evidência é dada pelos

danos observados em três pontos distintos nas linhas, com rotura de alguns fios do entrançado

metálico (dois pontos num cabo e um ponto noutro), o que é corroborado por engenheiros da

EDP, entidade gestora da linha. Perturbações no funcionamento de eletrodomésticos e um corte

de corrente registado pela EDP (não necessariamente associado à descarga que deu origem à

ignição) ocorreram respetivamente por volta das 14h30 e 14h40.

Na vertical aos pontos danificados na linha de média tensão localiza-se um carvalho,

completamente carbonizado e com sinais no tronco condizentes com o impacto de uma descarga

elétrica. O dano observado não é confundível com a cicatriz de um fogo anterior, cicatrizes essas

que estão presentes nalguns carvalhos vizinhos e possivelmente datam do incêndio de 1991.

Desta forma a descarga transmitiu-se ao carvalho, que terá sido o primeiro combustível a arder.

A árvore em questão integra um pequeno grupo de árvores que, de pé ou tombadas, estavam

mortas antes do incêndio, formando uma clareira na mata. Dadas as características do local,

ocupado por sub-bosque húmido composto de fetos e silvas, a existência de árvores mortas terá

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 62

Página 63

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

62

facilitado a ignição e subsequente propagação do fogo. A probabilidade de ignição por descarga

elétrica positiva - descargas de sinal negativo correspondem a probabilidades substancialmente

menores - para aquele local e hora poderia variar entre 6% e 49%. Estes valores correspondem

a extremos de humidade de respetivamente 30% e 6% (ligeiramente acima do teor de humidade

do combustível morto fino) na manta morta e combustível lenhoso de maior dimensão.

A causa apurada é discordante da não identificação de raios na região àquela hora pelo IPMA,

que refere “uma probabilidade baixa, não nula, de ocorrência de descargas nuvem-solo na

proximidade do local de início do incêndio de Pedrógão Grande.” (IPMA 2017c). Trovoadas

acompanhadas por raios (incluindo do tipo nuvem-solo) certamente ocorreram mais a leste após

as 14h00, especialmente em Oleiros, tal como reportado pelos vigias de postos localizados em

Arganil, Sertã e Oleiros e detetado pelo IPMA. O EUMETSAT assinala uma descarga elétrica

positiva na região por volta das 14h45 sendo de notar que os registos de raios detetados pelo

IPMA não incluem a descarga que originou o fogo de Góis nem aquelas observadas em fase

mais adiantada do incêndio de Pedrogão Grande.

A ignição de Regadas Cimeiras decorreu da formação de um arco voltaico com vários metros

em volta de um poste frente à fábrica existente junto à localidade, associado a um grande

estrondo. Toda a linha terá entrado em sobrecarga após a descarga em Escalos Fundeiros, o

que poderá ter originado o arco voltaico em Regadas Cimeiras.

Figura 5.11 Ponto de início (1) junto a Escalos Fundeiros, com indicação de eucaliptal jovem não ardido (2) e

pinhal adulto com fogo de copas (3). Fotografia de drone a 500 m de distância vertical do solo, efetuada a 13 de

setembro de 2017.

12

3

13 DE OUTUBRO DE 2017 63

Página 64

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

63

Figura 5.12 Isolinhas de propagação do incêndio de Pedrogão Grande. As setas indicam a direção de

propagação averiguada no terreno a partir dos indícios na vegetação.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 64

Página 65

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

64

5.2.3. Períodos de propagação do fogo

Período 14h30-16h00

A evolução no espaço e no tempo do incêndio de Pedrogão Grande é apresentada nas Figuras

5.12 e 5.13 e no Quadro 5.2.

De acordo com os testemunhos existentes a propagação inicial do fogo foi tímida e a sua

intensidade inicial muito reduzida, apresentando no caso de Regadas Cimeiras chamas com

tamanho aproximado de 20 cm. À chegada dos meios de ATI a Escalos Fundeiros o fogo evoluía

já na mancha florestal de pinho e eucalipto adjacente à linha de água. A natureza e quantidade

do combustível e o declive médio de 25% da encosta facilitaram a propagação desse flanco, o

direito, tendo comprometido os esforços do ATI. A propagação do flanco esquerdo e da

retaguarda fez-se com mais dificuldade e foi inicialmente condicionada pelo curso de água e pela

humidade e estrutura da vegetação ribeirinha do vale, constituída por folhosas diversas, fetos e

gramíneas, bem como pela estrada que lhe corre paralela. A partir da origem o fogo propagou-

se ao longo do vale de norte para sul, seguindo a direção predominante do vento.

O comportamento inicial do fogo no flanco direito foi bastante variável. Em eucaliptal predominou

o fogo de superfície de intensidade moderada, com autoextinção numa plantação recentemente

gradada (Figura 5.11) e fogo de copas nas formações de menor porte. Em pinhal o comprimento

de chama típico inicial foi de 1,5-2 m, tal como indicado pela altura de copa dessecada, mas

onde o sub-bosque era bastante desenvolvido o fogo de superfície estendeu-se rapidamente ao

estrato arbóreo (Figura 5.11). À encosta sucedeu-se terreno ondulado que moderou a

propagação do fogo, mas resultou ainda assim em dessecação total da copa das árvores.

A velocidade de propagação estimada para este período, que é delimitado pela chegada do fogo

a Escalos Fundeiros, é de 0,47 km/h. Nas áreas do vale ocupadas por vegetação ribeirinha ou

aberta o combate ao fogo estaria mais facilitado, mas nas áreas florestais a intensidade da frente

de chamas terá variado entre 2500 e 7000 kW/m, dependendo da quantidade de combustível

existente, o que é consistente com o comportamento do fogo violento e com comprimentos de

chama até 7 m descrito pelos bombeiros e pela referência a “muita intensidade” no relatório da

ANPC logo às 15h10.

Durante este período a pluma do incêndio apresentou-se relativamente vertical e em altitude

(600-900 m) orientava-se para S-SE (IPMA 2017d).

Período 16h00-18h00

A persistência de vento soprando de NNW para SSE até à mudança na sua direção registada

cerca das 18 horas circunscreve este segundo período, findo o qual o incêndio tinha queimado

416 ha e chegado a Troviscais e à vizinhança da zona industrial de Pedrogão Grande. Note-se

porém que a partir das 16h50 a pluma regista já a influência da instabilidade convectiva e passa

a ter orientação N-NE, a qual manteve até às 19h00.

O prosseguimento da expansão do incêndio para sul fez-se a velocidade crescente, com média

estimada de 1,2 km/h na secção mais adiantada da frente, portanto mais do dobro daquela

observada no 1.º período e correspondendo a uma expansão em área à taxa de 195 ha/h.

Consequentemente a intensidade da cabeça do incêndio terá variado no intervalo 6000-18 000

kW/m e tipicamente ter-se-á situado em 12 000 kW/m, logo, acima da capacidade de extinção

em ataque ampliado e bem organizado (10 000 kW/m). A pluma do incêndio manteve-se vertical

mas consideravelmente e naturalmente bastante mais encorpada que no período anterior.

13 DE OUTUBRO DE 2017 65

Página 66

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

65

Dos relatórios (ANPC, GNR) e testemunhos existentes durante este período ressaltam o

reconhecimento da incapacidade iminente (16h20) ou já verificada (16h50) de controlo do fogo,

e as referências à ocorrência de muitas projeções resultando em focos secundários (16h30,

16h57) bem como de novos focos presumivelmente originados por raios (17h33). Um dos focos

secundários ocorreu junto à localidade de Valongo tendo tido um papel relevante na expansão

do fogo para sul e depois para oeste. Entre as 17h00 e as 18h00 foi observada a queda de

fragmentos queimados de casca de pinheiro e folhas e casca de eucalipto, sem capacidade de

ignição, a cerca de 4 km a sul e 6,5 km a oeste do incêndio.

Quadro 5.2. Expansão em área do incêndio de Pedrogão Grande.

Dia Período

Área ardida Área ardida cumulativa

ha ha/h ha %

17 14:30-16:00 24,78 16,52 24,78 0,08

17 16:00-17:00 109,82 109,82 134,60 0,46

17 17:00-18:00 281,15 281,15 415,75 1,42

17 18:00-19:00 794,88 794,88 1210,63 4,12

17 19:00-20:00 2588,65 2588,65 3799,28 12,94

17 20:00-21:00 4458,57 4458,57 8069,75 27,49

17-18 21:00-3:00 5316,98 1063,40 13545,64 46,15

18 3:00-8:00 1818,62 363,72 15392,61 52,44

18 8:00-11:00 780,55 260,18 16173,16 55,10

18 11:00-13:00 952,58 476,29 17125,73 58,34

18 13:00-15:00 1443,48 721,74 18569,21 63,26

18 15:00-17:00 3369,29 1684,64 21938,50 74,74

18 17:00-19:00 1407,70 703,85 23346,20 79,53

18-19 19:00-2:00 3027,36 432,48 26373,56 89,85

19 2:00-5:00 2296,78 765,59 28670,34 97,67

19 5:00-10:00 405,36 81,07 29075,71 99,05

19-20 10:00-19:00 277,96 8,42 29353,67 100,00

Figura 5.13 Expansão horária em área dos incêndios de Pedrogão Grande (PG) e Góis (G): velocidade e área

ardida acumulada relativa, correspondente às linhas no gráfico que evoluem de zero para 100%.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 66

Página 67

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

66

Período 18h00-19h00

Por volta das 18h00 dá-se uma mudança rápida e pronunciada da direção do vento, que passa

a soprar de ENE para WSW e se torna também mais forte, como resultado da aproximação das

células convectivas. Esta alteração é patente nos vídeos da câmara de vigilância localizada no

quartel da corporação de bombeiros de Pedrogão Grande, que mostram também inclinação da

pluma do incêndio. Como resultado o incêndio mudou a direção de propagação, que se tornou

praticamente perpendicular àquela que prevalecia desde o início. Os bombeiros locais

entrevistados referem o “arranque” do incêndio bem como terem ficado na retaguarda ou na base

do agora flanco esquerdo do incêndio.

Nesta hora a velocidade de propagação voltou a duplicar (2,3 km/h), com triplicação da área

ardida e da velocidade de expansão do perímetro face ao período anterior. A intensidade frontal

ter-se-á situado tipicamente acima dos 20000 kW/m, o que está de acordo com as referências a

“intensidade extrema, em copas” e a “chamas com mais de 40 m” nos relatórios da GNR e da

ANPC respetivamente. Os vídeos disponíveis são bastante ilustrativos da vorticidade existente

e natureza fortemente convectiva do incêndio.

Neste período a geração de focos secundários por projeção de material incandescente torna-se

ainda mais importante, tanto a curta como a longa distância. Em vários locais as chamas foram

avistadas pela primeira vez por volta das 18 horas, nomeadamente em Vila Facaia e em

Sarzedas de S. Pedro, quando a frente de propagação distava 4 a 5 km. A distância de projeção

prevista para esta hora é de 2,3 km sob a ação do vento médio, mas o uso da velocidade das

rajadas na simulação resultaria em distâncias substancialmente superiores.

No final deste período a frente que se dirigia para oeste tinha cerca de 5 km de extensão,

acercando-se de Vermelho e Coelhal a norte e de Mosteiro a sul.

Período 19h00-20h00

É durante este período que o incêndio adquire a intensidade e a dimensão que potenciaram o

comportamento do fogo verificado na hora seguinte e as fatalidades daí decorrentes. Estimamos

que tenha avançado a cerca de 3,9 km/h na direção de máxima propagação, correspondendo a

intensidades frontais de 20000-60000 kW/m e, mais tipicamente, 40000 kW/m, triplicando a

velocidade de expansão perimetral (2589 ha/h) e a área ardida (3799 ha no final do período). A

norte, o incêndio propaga-se para lá de Feteira e acerca-se de Moita e Sarzedas do Vasco; mais

a sul ultrapassa Salaborda Nova e Campelos e chega a Vila Facaia; e, mais a sul ainda, cruza o

IC8, passa Outão e acerca-se de Adega e Pinheiro Bordalo.

Os relatórios do IPMA detalham pormenorizadamente o desenvolvimento da pluma do incêndio.

A partir das 19h20 evoluiu predominantemente seguindo um arco de azimutes de 60 a 120.º, e

a partir das 19h30 adquiriu forma mais elíptica que circular, sob a influência de um escoamento

atmosférico de SE para NW. A velocidade da pluma aumentou significativamente às 19h30-

19h40 e até às 20h20 deslocou-se a 5 km/h. Pelas 19h50 este processo de intensificação

resultou na ascensão da pluma até uma altitude de 13 km, 3 km acima do topo da bigorna

convectiva, tendo mantido essa posição durante 10 minutos.

A intensificação da pluma do incêndio a partir das 19h20 é consistente com outra informação

disponível. O pirocúmulonimbo formado pelo incêndio (visível em imagem de satélite cerca das

18h30) torna-se mais denso às 19h152. A observação dos vídeos existentes coloca nas 19h23 o

início da fase mais ativa do incêndio e permite identificar numerosos focos secundários que

2 (http://rammb.cira.colostate.edu/templates/loop_directory.asp?data_folder=dev%2Flindsey%2Floops%2F20jun17_pyrocb_ir&image_width=1020&image_height=720

13 DE OUTUBRO DE 2017 67

Página 68

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

67

crescem rapidamente, como em Alagoas às 19h50 (relatório da GNR), observando-se a

formação de raios na coluna de convecção em dois momentos (Figura 5.14). A presumível

chegada da frente de rajada produziu ventos muito fortes em conjugação com a turbulência

resultante da interação entre o fogo e a atmosfera. A este respeito é significativo que junto a Vila

Facaia a GNR relate às 19h13-19h25 o impedimento da abertura das portas da viatura, que

abanava violentamente.

Figura 5.14 Vista para oeste do incêndio às 19:26, extraída de vídeo efetuado a partir do quartel dos bombeiros

voluntários de Pedrogão Grande. É visível uma descarga elétrica proveniente da coluna de convecção.

Período 20h00-21h00

Nesta hora o incêndio registou um acréscimo de área queimada estimado em 4459 ha,

duplicando portanto a área ardida até então e correspondendo a uma velocidades de propagação

máxima (eixo SE-NW) de 5,3 km/h. Ao longo dos eixos NE-SW, E-W e S-N a deslocação foi

menos rápida, na casa dos 4 km/h, portanto superando também a do período anterior.

Uma parte substancial da expansão do incêndio seguiu-se à descida abrupta do topo da pluma,

de 13 para 6 (ou menos) km de altitude, a qual sucedeu em 10 minutos apenas (20h00-20h10)

(IPMA 2017d), configurando uma situação de “colapso” ou rutura da coluna de convecção, tal

como designada na literatura técnica, e causando um downburst local. No radar do IPMA é visível

o avanço da base da pluma pelas 20h20, tal como no downburst do Waldo Canyon Fire

(JOHNSON et al. 2014). A este respeito, e de entre os testemunhos prestados que com mais ou

menos detalhe coincidem nos seus traços gerais, selecionamos o de uma habitante de Sarzedas

de S. Pedro:

“Cerca das 20 horas e pouco (não posso precisar a hora exata) escureceu totalmente e logo de

seguir surgiu uma grande bola de fogo precedida por um vento, parecido com ciclone (...). O que

por aqui passou não é o fogo que vinha lavrando nos pinhais circundantes mas sim uma espécie

de bomba que rebenta do nada e que abre o céu numa claridade de chamas que espalha faúlhas,

ou línguas de fogo, em todas as direções. Foram essas línguas de fogo que incendiaram a minha

aldeia e outras em redor”.

A natureza súbita e extrema deste evento desencadeou a fuga dos habitantes das aldeias e

surpreendeu quem circulava nas estradas, nomeadamente na EN 236-1. As linhas isócronas,

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 68

Página 69

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

68

apresentadas com maior resolução temporal na Figura 6.1, indicam que os 10 minutos

anteriormente referidos correspondem ao tempo de que o fogo necessitou para se propagar das

imediações de Vila Facaia até à EN 236-1, sendo que a hora estimada de chegada à estrada

coincide com a hora de chegada da orla dianteira da pluma (figura 2 em IPMA 2017b). A

velocidade de propagação correspondente é de 15,2 km/h, um valor quase sem paralelo na

literatura referente a fogos em floresta. Em rigor, é uma estimativa que não se refere a uma frente

de chamas única, antes reflete:

 Os numerosos focos secundários causados pela receção dos materiais

incandescentes provenientes da pluma em queda;

 a interação e junção entre focos individuais e entre eles e a frente principal de

chamas, com aumento de intensidade;

 avanços súbitos da frente de chamas e ignição quási-simultânea de uma parte da

área, em resultado dos pontos anteriores.

O denso “salpicado” de pequenas manchas ardidas observado nas áreas agrícolas verdes

adjacentes às aldeias, por exemplo em Vila Facaia onde a faixa agrícola envolvendo a aldeia

tinha 300-400 m de largura, testemunha bem a extensão do fenómeno de projeção de faúlhas e

materiais incandescentes.

Às 20h30 verificou-se novo aumento de intensidade da pluma, tendo ascendido a uma altitude

de 13,5 km, o máximo verificado durante o incêndio. O IPMA (2017d) atribui esta segunda

intensificação ao downburst anterior, mas o facto de o incêndio estar agora a evoluir em terreno

mais declivoso e em espaço florestal mais contínuo terá também contribuído para o acréscimo

de intensidade. O mapa de severidade do fogo (Figura 5.15) suporta esta explicação, mostrando

um padrão de severidade muito elevada a oeste da EN 236-1.

No final deste período o incêndio estava próximo das localidades de Fontão Fundeiro (descendo

o vale neste ponto em direção a Foz do Fontão, a pouco mais de 1km a SW) e Carregal Fundeiro,

a norte; Ágria Grande e Ervideira, a oeste; e Graça e Covais, a sul.

Período 21h00-3h00

Nesta fase, e sob a influência condições meteorológicas mais benignas, o incêndio retomou as

velocidades de propagação comparativamente moderadas que o haviam caracterizado no

período 16h00-18h00, de cerca de 1,2 km/h. A expansão fez-se principalmente para oeste e em

menor medida para norte, à taxa estimada de 1063 ha/h.

Às 3h00 do dia 18 o incêndio tinha queimado boa parte da envolvente da vila de Castanheira de

Pera e alcançado Figueiró dos Vinhos, totalizando 13546 ha ardidos.

Período das 3h00 do dia 18h00 às 19h00 do dia 20

Optamos por agregar a restante história do incêndio num só período, necessariamente muito

longo em comparação com os anteriores. Limitar-nos-emos a indicar as situações mais

marcantes do ponto de vista da sua expansão e comportamento, contudo sem olvidar que neste

período de tempo o incêndio iria ainda consumir 15 780 ha, ou seja, mais de metade da superfície

total.

Neste período a expansão do incêndio foi dominada pela propagação para sul. Assim, durante a

madrugada e manhã do dia 18 percorreu 3552 ha em 10 horas. A partir das 13h00, e até às

19h00 do mesmo dia, o incêndio recrudesceu de intensidade e queimou 6220 ha (1037 ha/h),

boa parte na região das localidades de Vale do Rio (destruída por um incêndio em 1961) e Casal

de Ferreiros. Em particular, a cabeça do incêndio deslocou-se à velocidade média de 3,8 km/h

13 DE OUTUBRO DE 2017 69

Página 70

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

69

entre as 15h00 e as 17h00, correspondendo a uma intensidade aproximada de 40000 kW/m

assumindo uma carga de combustível de 20 t/ha. Este surto não surpreende, pois no dia 18 as

condições eram ainda bastante severas, especialmente a meio da tarde, tal como descrito na

secção da meteorologia. Durante a noite seguinte arderam até às 5h00 mais 5324 ha, perfazendo

quase 98% da área total contabilizada.

Figura 5.15 Severidade do fogo na área ardida pelo incêndio de Pedrogão Grande.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 70

Página 71

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

70

5.3. O incêndio de Góis

Dedicaremos ao incêndio de Góis menos espaço, uma vez que não teve as consequências

dramáticas associadas ao incêndio anterior. O trabalho de reconstituição permitiu detalhar a sua

evolução, apresentada nas Figuras 5.16 e 5.13.

O incêndio decorreu em simultâneo com o incêndio de Pedrogão Grande, apesar de vir a ser

extinto mais tarde (Figura 5.13), tendo o alerta para a ocorrência sido dado às 14h52 do dia 17

de junho. A ignição, originada por raio, originou-se num vale a 0,5 km a oeste de Fonte Limpa e

4 km a NE de Álvares, a sede de freguesia.

A expansão inicial do incêndio foi relativamente lenta comparativamente ao de Pedrogão Grande

e dominada pela topografia, e só a partir das 18h00 é que superou 100 ha/h, o que constitui um

desfasamento aproximado de duas horas. No entanto é exatamente durante essa hora, em que

se propagou essencialmente para SW em direção a Alvares, que atinge a máxima velocidade de

propagação observada, 1,8 km/h, correspondendo a uma intensidade de cerca de 20000 kW/m

assumindo as cargas de combustível mais representativas na região. Dada a pequena dimensão

do incêndio a essa hora, a expansão do perímetro deu-se a 191 ha/h, subindo para 441 ha/h no

período das 19h00-20h00, durante o qual manteve a direção dominante de propagação para SW.

Na direção oposta de propagação (NE) as velocidades estimadas entre as 18h00 e as 20h00

cifram-se em 0,5 km/h. Às 24h00 o incêndio havia queimado 1603 ha, dirigindo-se para

Simantorta (direção NE) e para Amioso (direção SW).

Entre a meia-noite e as 8h00 do dia 18 de junho a área do incêndio de Góis duplicou. Nesse dia

verificaram-se expansões muito significativas de 616 ha/h entre as 12h00 e as 13h00, e de 1056

ha/h (com velocidade de propagação máxima de 1,6 km/h) na hora seguinte. Esta evolução deu-

se principalmente para SE, de Foz de Alvares para Machio Baixo e Trinhão, mas também para

Malhada da Serra a NE. Ao final do dia o incêndio estava com 8538 ha ardidos.

No dia 19 a progressão do incêndio abrandou, crescendo para 11250 ha e havendo apenas a

registar um período de expansão moderadamente rápida (~400 ha/h) entre as 2h00 e as 4h00.

No dia 20 o incêndio ganhou novo fôlego, propagando-se predominantemente para NNW e NWW

e unindo-se ao incêndio e Pedrogão Grande no lado leste. Este recrudescimento teve início a

partir das 3h00 (171 ha/h) e culminou às 13h00-14h00 (679 ha/h, 1,2 km/h). No final do dia a

área ardida ascendeu a 15 179 ha, sendo que nos dias 21 e 22 a propagação se fez em direção

a Pampilhosa da Serra mas foi residual.

A cartografia (Figura 5.17) identifica áreas de muito elevada severidade do fogo, particularmente

na parte norte da área ardida no dia 18 e nas áreas ardidas no dia 20, tanto a norte como a leste

(entre Boiça e Obrais). Em geral, correspondem a porções do território que não ardiam há pelo

menos 20 anos. Nas áreas sob gestão florestal industrial observam-se diversas manchas de

severidade reduzida a moderada, bem como ilhas não ardidas.

13 DE OUTUBRO DE 2017 71

Página 72

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

71

Figura 5.16 Isolinhas de propagação do incêndio de Góis.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 72

Página 73

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

72

Figura 5.17 Severidade do fogo na área ardida pelo incêndio de Góis.

13 DE OUTUBRO DE 2017 73

Página 74

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

73

5.4. Explicação e discussão do comportamento do fogo

5.4.1. Os incêndios de Pedrógão Grande e Góis no contexto dos maiores incêndios em

Portugal

Desde 1980 ocorreram em Portugal 17 incêndios acima de 10000 ha, dos quais nove em 2003,

no que constitui uma incidência sem paralelo na Europa (Quadro 5.3). Aliás, desde que há

estatísticas (1980) ou cartografia (1975) de áreas queimadas é 2003 o primeiro ano em que

ocorrem incêndios desta dimensão, o que sugere alterações na paisagem, no clima-meteorologia

ou nas políticas. Com duas exceções estes mega-fogos percorreram territórios serranos do

centro do país, Tejo Superior e Algarve. O incêndio de Pedrogão Grande é o segundo maior de

sempre, sendo apenas superado por aquele que se iniciou em Várzea dos Cavaleiros, Sertã,

também em 2017. O incêndio de Góis integra a lista em oitavo lugar. A união dos dois incêndios

formou uma mancha queimada de 46 432 ha, somente ultrapassada em dimensão por duas

manchas que em 2003 totalizaram respetivamente 66 071 e 56 551 ha e pela mancha de 66 427

ha que em 2017 se veio a formar imediatamente a sul e que resultou de seis incêndios distintos.

Quadro 5.3 Incêndios nacionais de dimensão superior a 10 000 ha (1980-2017), com indicação do município e

freguesia de início. Fonte: ICNF (http://fogos.icnf.pt/sgif2010/).

Concelho Freguesia Ano Área (ha)

Sertã Várzea dos Cavaleiros 2017 33639,7

Pedrogão Grande Pedrogão Grande 2017 28913,6

Tavira Cachopo 2012 24843,0

Chamusca Ulme 2003 22190,0

Arouca Janarde 2016 21909,0

Gavião Belver 2003 20087,5

Nisa S. Matias 2003 17869,4

Góis Alvares 2017 17520,6

Monchique Alferce 2003 17213,0

Loulé Alte 2004 14508,1

Alfândega da Fé Ferradosa 2013 14136,1

Proença-a-Nova Sobreira Formosa 2003 13500,0

Monchique Marmelete 2003 13144,0

Silves Silves 2003 12656,0

Pampilhosa da Serra Vidual 2005 11706,8

Oleiros Isna 2003 11300,0

Sertã Ermida 2003 10500,0

Comparativamente a outros grandes incêndios que no passado e em 2017 afetaram o centro do

país (Figura 5.18), os fogos de Pedrogão Grande e Góis ocorreram em condições de perigo

meteorológico de incêndio um pouco menos favoráveis à propagação rápida do fogo e,

principalmente, de menor secura do combustível morto, apesar de tal se refletir apenas no

consumo do material lenhoso de maiores dimensões, como referido anteriormente. Tal como a

Figura 5.18 sugere, os dois fogos não se enquadram na tipologia de incêndios “extremamente

grandes” (>2500 ha) definida por FERNANDES et al. (2006a), uma vez que no passado fogos

desta ordem de magnitude resultaram da combinação de valores extremos de ISI e BUI e

instabilidade atmosférica muito elevada. Os dois eventos em estudo apenas cumprem a última

condição. No entanto são os primeiros incêndios desta grandeza a ocorrer ainda na primavera,

sendo que o incêndio de Alfândega da Fé aconteceu no início de julho após uma primavera

húmida. Da mesma forma, em Espanha ocorreram 11 incêndios com mais de 10 000 ha de 2003

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 74

Página 75

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

74

a 2017, todos eles no verão e apenas dois deles no seu início, a maioria (sete) ocorrendo na

metade ocidental do país onde o clima resulta em maior acumulação de combustível.

Figura 5.18 Classificação do perigo meteorológico de incêndio, incluindo índices de velocidade de propagação

do fogo (ISI) e de disponibilidade de combustível (BUI) do sistema FWI, associado aos incêndios de Pedrogão

Grande e de Góis e a outros grandes incêndios no centro de Portugal. O índice ISI respeita às 12:00 e portanto

não reflete as condições mais severas verificadas posteriormente.

O modelo subjacente à Figura 5.19 (FERNANDES et al. 2006b) permite enquadrar os fogos de

Pedrogão Grande e de Góis no que respeita às condições meteorológicas e do território que em

Portugal determinam o tamanho dos grandes incêndios. De novo, os índices meteorológicos de

perigo de incêndio, e em particular o BUI, estão distantes do efeito máximo que podem ter no

tamanho de um incêndio. Pelo contrário, a extrema conectividade florestal (variável eMSfor) e

muito reduzida pirodiversidade (o padrão espacial de combustíveis resultante de fogos

anteriores, expresso pela variável ED) eram propícios ao desenvolvimento de incêndios

excecionalmente grandes, sendo aliás estas as duas variáveis mais influentes no modelo.

13 DE OUTUBRO DE 2017 75

Página 76

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

75

Outras variáveis apresentam na Figura 5.19 valores muito favoráveis ao crescimento do fogo

em área, nomeadamente a reduzida precipitação de inverno e primavera, o equilíbrio entre as

altitudes mais elevadas e aquelas mais baixas (índice DISS) e a reduzida densidade de estradas.

Porém, estas variáveis contribuem pouco para a variação do tamanho de um incêndio, bem como

aquelas que na Figura 5.19 exercem efeito contrário, à exceção da ausência de manchas de

recorrência do fogo com forma irregular (AWMPFD muito reduzido), a qual modera a expansão

de um incêndio.

Uma base de dados preexistente (FERNANDES et al. 2016b) e respeitante a métricas descritivas

do comportamento dos maiores incêndios que ocorreram no país de 1998 a 2013 constituiu o

referencial para avaliar o grau de anomalia representada pelo evento de Pedrogão Grande. Um

conjunto significativo de incêndios expandiu o seu perímetro a velocidades (em média)

substancialmente superiores (Quadro 5.4) mas desconhece-se a velocidade máxima de

expansão de cada um desses incêndios, o que impede uma comparação mais objetiva. No

entanto, qualquer um dos incêndios individuais constantes da base ficou muito aquém a

Pedrogão Grande no que concerne à quantidade total de energia libertada, e nenhum deles

atingiu a sua potência (velocidade de libertação de energia por unidade de tempo integrando

todo o perímetro do incêndio).

Os valores de potência do incêndio que constam do Quadro 5.4 são uma aproximação simples.

Para os fogos da base de dados não é possível uma quantificação mais próxima da realidade,

usando um método de cálculo que exige o conhecimento das linhas isócronas de propagação do

fogo. Contudo, existindo informação para o fazer para o incêndio de Pedrogão Grande podemos

enquadrá-lo internacionalmente, comparando-o com incêndios ocorridos em florestas de

eucalipto na Austrália e que resultaram em mortalidade humana significativa (HARRIS et al.

2011). Os resultados do incêndio de Pedrogão Grande são óbvia e inegavelmente catastróficos

mas o Quadro 5.5 torna patente que a potência estimada para o evento é somente um terço

daquela possível em fogos mais rápidos, mais intensos e de maior dimensão registados nos

eucaliptais da Austrália.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 76

Página 77

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

76

Figura 5.19 Variáveis que determinam a dimensão dos grandes incêndios (>100 ha) em Portugal com base no

modelo de FERNANDES et al. (2016b), efeitos na dimensão (eixo yy) e valores correspondentes aos incêndios

de Pedrogão Grande e Góis. ISI – índice de velocidade de propagação do fogo do sistema FWI; BUI – índice de

disponibilidade de combustível do sistema FWI; eMSfor – conectividade da floresta (ha); eMSshr –

conectividade dos matos (ha); ED – densidade de orlas da recorrência do fogo; AWMPFD – dimensão fractal da

recorrência do fogo, média ponderada pela área; DISS – rácio entre a altitude e o relevo.

13 DE OUTUBRO DE 2017 77

Página 78

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

77

Quadro 5.4 Métricas de comportamento do fogo do incêndio de Pedrogão Grande no contexto dos incêndios

>2500 ha ocorridos em Portugal de 1998 a 2013.* Os fogos surgem ordenados por ordem decrescente de

velocidade de expansão e os valores superiores aos observados em Pedrogão Grande surgem a itálico.

Município, ano Velocidade média de

expansão (ha h-1)

Energia libertada

total (TJ)

Potência (GW)

Portalegre, 2003 1244,2 2,2 121,8

Portel, 2003 1023,7 1,3 92,8

Nisa, 2003 997,5 2,2 74,3

Oleiros-Sertã, 2003 892,9** 15,8 129,1**

Portimão, 2003 835,4 0,9 59,9

Vila Nova de Poiares, 2005 806,2 4,3 118,1

Abrantes, 2005 802,1 2,2 64,2

Oleiros, 2003 751,5 4,6 106,9

Proença-a-Nova, 2003 746,5 4,4 67,2

Chamusca, 2003 732,2 6,0 62,1

Castro Daire, 1998 726,0 1,1 68,9

Pedrogão Grande, 2017 725,8 13,1 139,2

Gavião-Crato-Nisa, 2003 541,1** 16,4 56,2**

*Fonte dos dados: http://onlinelibrary.wiley.com/store/10.1002/2016JG003389/asset/supinfo/jgrg20633-sup-

0002-ds01.xls?v=1&s=52e1ad74dd5448392516ef9d9565f00b6751d9d5

** Incêndio resulta da união de duas ocorrências distintas.

Quadro 5.5 Potência e número de fatalidades associadas ao incêndio de Pedrogão Grande e a incêndios em

eucaliptal na Austrália – dados de HARRIS et al. (2011).

Incêndio, ano Potência (GW) Nº de fatalidades

Murrindini, 2009 1642 39

Kilmore East, 2009 1537 121

Black Friday, 1939 1446 56

Churchill, 2009 984 11

Pedrogão Grande, 2017 568 64

Cockatoo, 1983 218 21

5.4.2. A “aridez” do combustível

É importante observar que a atividade de fogo não é somente determinada pela seca como base

estrutural e pela meteorologia como base conjuntural do risco. A aridez continuada tem efeitos

de maior disponibilidade temporal de toda a vegetação para arder, resultando em campanhas de

incêndios contínuas ou ampliadas, criando-se as condições para grandes incêndios com mais

facilidade e rapidez do que sob o regime “normal” de situações. O conceito de “aridez” do

combustível tem sido relacionado nos E.U.A. com o aumento dos incêndios florestais em

dimensão e em severidade (ABATZOGLOU & WILLIAMS 2016). Este conceito está relacionado

com as alterações climáticas e contribui para que o regime de incêndios extremos do passado

se vá gradualmente tornando no regime de fogo normal atual (WERTH et al. 2016).

As condições meteorológicas de primavera e, especialmente, as de junho conduziram a

condições de “aridez” do combustível importantes. Os meses de junho de 2015-2017 juntamente

com o quadriénio de 2003-2006 foram os mais quentes desde que há registos, coincidindo com

os anos em que ocorreram incêndios de maiores dimensões (FERNANDES et al. 2016). Há

contudo uma diferença significativa entre 2017 e os anos de 2003 a 2006, que faz com que em

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 78

Página 79

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

78

2017 o conceito de “aridez” do combustível tenha alcançado o seu máximo em Portugal ao fazer

suceder um junho quente a uma primavera quente, sendo esta combinação aquilo que

basicamente diferencia a campanha de 2017 dos anos de grandes incêndios do passado recente.

Por conseguinte, em 2017 houve um adiantamento dos primeiros incêndios de extrema

dimensão do ano para junho, quando no passado sempre tinham ocorrido em fins de julho e

princípios de agosto. Esta mudança constitui um impacto claro do efeito das alterações climáticas

nos regimes de fogo contemporâneos (WESTERLING 2016).

Destacamos de novo a acumulação de dias de onda de calor durante a primavera e

especialmente durante o mês de junho de 2017 em Portugal. Este ano é assim o expoente claro

de um novo tipo de ano árido, somando a seca estrutural de inverno e primavera à onda de calor

excecional com epicentro em 16-19 de junho e que coincide com os dois incêndios.

5.4.3. Meteorologia que afeta o incêndio versus meteorologia do incêndio

No contexto de um ano particularmente quente e seco é importante distinguir entre a parte do

comportamento do fogo que é explicável pela meteorologia e pelas condições do combustível,

daquela que o incêndio gera ou ajuda a gerar, alterando a atmosfera próxima e criando a sua

própria pirometeorologia (WERTH et al. 2016). Aqui entramos na meteorologia de incêndios

convectivos.

As simulações AMICUS (PLUCINSKI et al. 2017) das características de comportamento do

incêndio de Pedrogão versus as estimativas apresentadas anteriormente com base na

reconstituição mostram que eram previsíveis com os dados observados nas estações do IPMA

até às 18h00 e a partir das 21h00. No entanto a subestima, que já se faz sentir na hora 18h00,

agrava-se muito durante as horas críticas do incêndio. Se as observações IPMA de temperatura

e humidade relativa do ar forem combinadas com os ventos inferidos localmente as previsões

são adequadas. Finalmente, usando as previsões do IPMA para Pedrogão Grande com o modelo

AROME em conjunto com o vento local há alguma sobrestima. Nos gráficos não figura a

velocidade de propagação para o período das 20h00-21h00, uma vez que inclui o segundo

downburst e o incêndio nessa fase não se terá propagado como uma frente de chamas

organizada, tal como antes descrito.

13 DE OUTUBRO DE 2017 79

Página 80

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

79

Figura 5.20 Simulações do comportamento do fogo para Pedrogão Grande durante o dia 17 de junho com o

sistema AMICUS para vários cenários de combustível e meteorologia.

A Figura 5.21 complementa a anterior. Mostra a previsão do comportamento do fogo com as

condições registadas nas estações IPMA, integrando o efeito da seca no combustível, com base

no índice de perigo meteorológico de incêndio (FFDI) para floresta de eucalipto (NOBLE et al.

1980). A dificuldade em combater o incêndio é visível desde o início do mesmo, pois supera

sempre a capacidade de ataque inicial com meios terrestres e aéreos ligeiros e está no limite

máximo de um ataque ampliado. Ao simular o efeito de um incêndio convectivo com downburst

a intensidade frontal do incêndio chega a triplicar. Reforçando esta constatação, note-se que

estas previsões deverão constituir uma subestima relativamente às simulações do topo da

Figura 5.20, construídas com modelos que constituem o estado da arte. Portanto, a Figura 5.21

ilustra bem o que a meteorologia e estado do combustível descritos significam para um incêndio

e como este, sendo extremo, pode induzir condições ambientais muito mais severas, por

aproveitamento e alteração de uma atmosfera favorável, criando uma “tempestade de fogo”. São

portanto estes incêndios convectivos, potencialmente cerca de metade dos maiores incêndios

que ocorrem no país (FERNANDES et al. 2016), aqueles que podem ampliar uma

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 80

Página 81

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

80

pirometeorologia adversa. Havendo condições mais severas de stress hídrico da vegetação,

podem ocorrer ao longo de um período mais alargado do ano. Finalmente, sobrepondo as

isócronas do crescimento observado com as da simulação do crescimento espacial do incêndio

vê-se claramente que a expansão mais rápida ocorreu quando tal não era previsível, pois a

velocidade do vento estava a diminuir e a humidade do combustível a aumentar (Figura 5.22).

Figura 5.21 Simulações da intensidade frontal do fogo para Pedrogão Grande durante o dia 17 de junho,

usando o FFDI com os dados meteorológicos de várias estações do IPMA e um cenário de downdraft baseado

nas rajadas de vento registadas na região (BEAVER 2017).

Figura 5.22 Sobreposição das isócronas simuladas (a vermelho) às isócronas reconstruídas (a preto), com base

na aplicação WildfireAnalyst.

Intensidad

efrontal(kW

/m)

Horadodia17dejunho

Simulaçãoparadowndra

Capacidadedoataqueampliado

Capacidadedoataquedireto

13 DE OUTUBRO DE 2017 81

Página 82

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

81

5.4.4. O papel da instabilidade atmosférica

O incêndio de Pedrogão Grande cresceu de forma extrema no final da tarde de 17 de junho. Este

desenvolvimento não sucede em qualquer incêndio e depende da capacidade da pluma do

incêndio para gerar a instabilidade convectiva atmosférica que o alimentará, criando condições

meteorológicas sobre o incêndio não previstas pelos modelos e que dependerão em grande

medida da sua intensidade. A variável principal é a capacidade do incêndio para criar ou

aproveitar a estrutura vertical da atmosfera para transformar o pirocúmulo num pirocúmulonimbo

(FROMM et al. 2010). Basicamente têm que estar presentes as seguintes condições

atmosféricas:

 Uma base alta extremamente seca (perfil V invertido entre a adiabática seca e a

adiabática saturada) que favorece os mecanismos de microburst (WAKIMOTO

1985), alimentados por precipitações escassas (tal como reportado por diversas

testemunhas) que criariam no processo de evaporação mecanismos de outflow ou

downdraft;

 presença de humidade suficiente na atmosfera, proveniente da superfície ou de

frentes frias próximas.

Uma vez feita a transição pode-se confirmar pela presença de nuvens de topo geladas que

podem então gerar raios, precipitação e fenómenos de downdraft ou outflow evaporativo

(LAREAU & CLEMENTS 2016).

A estrutura atmosférica a 17 de junho baseada no modelo do ECMWF era instável (Figura 5.23),

com previsão de instabilidade e precipitação ligeira na forma de aguaceiros. Um estudo prévio

(FERNANDES et al. 2016) para Portugal determinou que 49% dos incêndios que superam 2500

ha de dimensão e 63% da área por eles ardida ocorre quando um valor de FWI extremo se

conjuga com o índice de HAINES no seu valor máximo, o que efetivamente sucedeu no dia 17

de junho, sendo que a versão expandida do índice igualou o registo de 2 de agosto de 2003 no

qual enormes incêndios causados por raios ocorreram no centro do país. Na verdade, é a

combinação de um índice HAINES elevado com muita disponibilidade de energia potencial

convectiva (CAPE) que está associada à formação de pirocúmulonimbos (FROMM et al. 2010).

Um índice de HAINES tão elevado e, especialmente, CAPE >1000 J/kg e presença de humidade

na média e alta atmosfera, em contraste com a extrema secura da mesma em superfície, com

um claro perfil de V invertido, claramente indica potencial para o desenvolvimento de células de

forte instabilidade convectiva. Este tipo de condições associa-se a incêndios erráticos e intensos

que basicamente são dominados por processos atmosféricos. Adicionalmente, a energia máxima

potencialmente disponível para um downdraft (DMAPE) calculada para a região de Pedrogão

Grande às 16:00 do dia 17 a partir dos modelos GFS e WRF é de cerca de 1300 J/kg, similar à

dos incêndios de Waldo Canyon, Dude e Yarnell Hill que também causaram fatalidades

associadas a downburst (POTTER 2017).

Estas condições estão claramente documentadas no relatório do IPMA, ainda que por leitura do

radar apenas na parte sul do incêndio. Os registos das estações meteorológicas em redor

também indicam compatibilidade com o processo de outflow ou downburst (GOENS &

ANDREWS 1998):

 Diminuição da temperatura (ar frio chega ao solo);

 alterações na direção do vento (a instabilidade convectiva domina);

 rajadas fortes de vento de curta duração (expansão do ar precipitado ao chegar à

superfície);

 precipitação residual (a maioria é evaporada e cria ar mais frio ao mesmo tempo que

alimenta a convecção com a energia que liberta).

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 82

Página 83

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

82

A leitura dos dados da radiossondagem (real, não baseada em modelos) de Lisboa (Figura 5.24)

indica uma realidade mais complexa e mais favorável ao crescimento de pirocúmulos e sua

transição para pirocúmulonimbos e portanto à modificação do comportamento do fogo por

alteração das condições envolventes. Apesar de Lisboa estar distante do incêndio é aceitável

assumir diferenças mínimas acima dos 850 hPa na atmosfera, ou seja, ao nível de interesse para

esta análise.

Figura 5.23 Diagrama SkewT baseado nas previsões do modelo do ECWMF, válido para as 19h00 de 17 de

junho de 2017, em Pedrógão Grande (IPMA 2017c). São representadas a pressão (hPa, linhas horizontais), a

temperatura (°C, linhas inclinadas para a direita), a temperatura potencial ou adiabáticas secas (°C, linhas

inclinadas para a esquerda), as adiabáticas saturadas (°C, linhas curva a verde), as linhas de igual razão de

mistura (g/kg, linhas tracejado a verde), e o perfil do vento (direção e intensidade em nós, no lado direito).

A radiossondagem mostra um perfil V invertido em superfície. Havendo possibilidade de

evolução para a formação de um pirocúmulonimbo tal favoreceria um cenário de downdraft. Estes

fenómenos são dependentes da capacidade de convecção livre da pluma do incêndio para poder

ascender até níveis compatíveis com a formação de cristais que desenvolveriam os downdrafts

ao precipitar.

13 DE OUTUBRO DE 2017 83

Página 84

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

83

Figura 5.24 Radiossondagem de Lisboa no dia 17 de junho.

Neste caso, contudo, o nível de condensação com ascensão (LCL) forma-se com atmosfera

instável condicional, mas com um CAPE baixo (35,34). Esta situação cria uma estrutura de

coluna que vai estabilizando até uma altitude de 3 km. Nesta condição atmosférica inicial o fogo

não desenvolveria uma pluma convectiva. O nível de condensação por convecção (CCL) é inibido

por um CIN (inibição convectiva) de -550. Nestas condições o pirocúmulo dificilmente poderia

evoluir para um pirocúmulonimbo, o que exigiria a subida da base da coluna do LCL para o CCL

equivalendo a uma temperatura de convecção de 44.º C. Registaram-se temperaturas desta

ordem no dia 17, sobretudo na região em redor do incêndio. Com pouco esforço e a ajuda de

temperatura do ponto de orvalho favorável sob a influência da instabilidade convectiva vinda de

este, a pluma facilmente romperia o CIN acedendo a uma atmosfera de convecção livre com

CAPE >1000 J kg-1. Em todo o caso, esta posição de convecção livre é facilmente alcançável

aceitando que em grandes incêndios o LCL real frequentemente coincide com o CCL (LAREAU

& CLEMENTS 2016).

Com esta instabilidade o incêndio poderia elevar a pluma convectiva até 13 km de altitude à

temperatura de -55ºC, permitindo gerar o topo de nuvens gelado, precipitação, downdrafts e

raios. Importa destacar que estes dados de altitude coincidem com os dados de situação do Echo

Top de radar do IPMA. A observação à superfície de raios dentro da pluma (Figura 5.14) indica

que está carregada de cristais de gelo, confirmando a coluna desenvolvida e chegando às

altitudes referidas com a parte alta gelada. A hora dos raios (19h26 e 19h36) indica crescimento

intenso já neste momento e piro convecção profunda (LANG et al. 2014). A pluma pode iniciar o

movimento descendente e de precipitação leve que favorecerá outflows evaporativos intensos

(ROTHERMEL 1991) com duração de dezenas de minutos, como aqueles observados neste

caso.

Estas características de instabilidade e humidade a níveis médios na atmosfera mas com secura

à superfície, claramente facilitam a alteração de um CAPE baixo para um CAPE de instabilidade

convectiva intensa por influência do incêndio. Com este processo, a precipitação ligeira favorece

a formação do fenómeno de downdraft que poderia explicar o comportamento invulgarmente

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 84

Página 85

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

84

extremo do incêndio entre as 19 e as 21 horas, e especialmente entre as 19h50 e as 20h20.

Picos na velocidade do vento verificados por volta das 20h00 em parques eólicos na vizinhança

do incêndio podem ser uma manifestação do downdraft associado à queda da pluma.

5.4.5. As características gerais do incêndio de Pedrogão Grande

Na classificação de grandes incêndios de KERR et al. (1971) o incêndio de Pedrogão Grande

apresenta características consistentes com o tipo V – Coluna de convecção inclinada com ventos

moderados à superfície. Neste tipo de fogo a velocidade de combustão é controlada pela pluma

do incêndio, a propagação é errática e rápida com abundante emissão de projeções tanto a curta

como a longa distância, e elevada vorticidade, especialmente na orla dianteira do incêndio,

podendo incluir remoinhos de chamas. O aumento da velocidade do vento a partir dos 2 km de

altitude, visível no diagrama SkewT, deu alguma inclinação à pluma, favorecendo a aparição de

focos secundários a distâncias significativas, não sendo porém suficiente para a truncar e impedir

a sua ascensão.

O reconhecimento da área ardida no terreno transmitiu a impressão geral de uma paisagem com

maior prevalência de castanho do que de negro nas copas, portanto não ardidas ou sofrendo

apenas combustão do seu terço ou metade inferior. Tal aponta para a prevalência do fogo de

superfície, ou do fogo de superfície com combustão parcial das árvores, sobre o fogo de copas.

A análise do mapa de severidade do fogo da área ardida no dia 17 de junho não contradiz esta

impressão, uma vez que a soma das categorias de severidade reduzida a elevada - uma

estimativa conservadora da extensão relativa do fogo de superfície - perfazem 34,2% do total da

área. O mapa também mostra que as severidades mais elevadas foram alcançadas em áreas

onde o fogo foi mais intenso, antecedendo ou sucedendo ao segundo downburst, e em topografia

mais declivosa, grosso modo correspondente à divisória entre os municípios de Pedrogão

Grande e Castanheira de Pera e o município de Figueiró dos Vinhos. Dadas as características

já descritas de velocidade e intensidade de propagação seria expectável maior

representatividade do fogo de copas. Instados a pronunciarem-se, ALEXANDER & CRUZ (2017)

teceram as seguintes considerações:

 A razão mais provável para a expressão algo limitada do fogo de copas é a variação

natural na estrutura da vegetação, relativamente alta na região apesar da

continuidade, e na orografia, que faz variar o alinhamento entre fatores favoráveis a

fogo de copas;

 ventos muito fortes e turbulentos podem baixar a altura da chama e a temperatura

da pluma, impedindo a transmissão vertical do fogo, havendo alguns casos

documentados em eucaliptal na Austrália e no Chile (CASTELLNOU et al. 2017);

 o copado das plantações de eucalipto é relativamente pouco denso e as folhas vivas

algo espessas (e moderadamente resistentes à combustão), o que em conjunto

também reduz o teor de voláteis na mistura gasosa.

Em face dos relatórios existentes (IPMA 2017c, 2017d; COEN 2017; POTTER 2017) é

praticamente adquirido que um outflow convectivo (frente de rajada) terá modificado o

comportamento do fogo a partir das 18h00, alterando a velocidade e direção de propagação e o

potencial de produção e transporte de materiais incandescentes. A evidência existente é sólida,

ainda que indireta, nomeadamente a mudança de direção do vento não prevista pelos modelos

numéricos. POTTER (2017) considera a hipótese de uma interação turbulenta entre a frente de

rajada, que produz circulação em rotor na sua orla, e a elevada capacidade de produção de

projeções por parte do eucalipto, causando o aumento e a rapidez de deslocação dos materiais

projetados.

13 DE OUTUBRO DE 2017 85

Página 86

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

85

Foi ainda pouco referido neste relatório o contributo da topografia para as características do

incêndio. O efeito direto do declive na velocidade de propagação é relevante numa fração

limitada do território que ardeu, uma vez que predomina o terreno pouco ou moderadamente

inclinado. Há, no entanto, outras dimensões do efeito da orografia no comportamento do fogo,

relacionadas com a canalização do vento, que amplificaria o efeito das rajadas de vento

acelerando o fogo, ou com o aumento da turbulência em terreno mais ondulado e complexo

(COEN 2017). Depressões no terreno são particularmente afetadas por downbursts. Estas

interações poderão em parte explicar as numerosas situações observadas no terreno de zonas

agrícolas e interfaces de aldeias onde a vegetação, tendo ardido apenas pontualmente devido

às projeções, foi generalizadamente dessecada pelo ar quente. A Figura 5.25 mostra os

caminhos preferenciais do fogo em direção à EN 236-1, indicando impacto onde efetivamente

houve vítimas mortais.

A secção longitudinal que consta da Figura 5.26 mostra a tendência de inclinação do terreno

desde Vila Facaia até à EN 236-1, cerca de 10% em média, o que representa um acréscimo de

67% na velocidade de propagação do fogo comparativamente a terreno plano.

Figura 5.25 Caminhos preferenciais do fogo com vento de leste e sua incidência na EN 236-1, simulados com a

aplicação FlamMap.

Figura 5.26 Perfil do terreno ao longo do eixo Vila Facaia-Várzea-EN 236-1 (da direita para a esquerda, sentido

de propagação do fogo), produzido com o GoogleEarth.

De entre as explicações para os fenómenos de muito rápida propagação do fogo está a da

combustão muito rápida, quase explosiva, de compostos voláteis libertados pela vegetação

numa fase de aquecimento anterior à da chegada da fonte de ignição. Esta hipótese é de muito

difícil verificação, por não ser possível a experimentação em condições de campo para validação

dos modelos sugeridos, e é mais plausível em ambientes confinados. No entanto, é uma

explicação que frequentemente surge na análise de incêndios com comportamento extremo,

designados por "blow-up", "eruption", "flashover", "explosive", ou simplesmente "accelerating

fires" observados em Portugal em 2003, mas também na Califórnia, na Córsega ou na Austrália.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 86

Página 87

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

86

De acordo com este modelo os compostos voláteis presentes na vegetação libertam-se quando

se atinge a sua temperatura de volatilização (por volta dos 150-175.o C), podendo acumular-se

em locais onde, depois de chegar a fonte de ignição e na presença de oxigénio, ardem muito

rapidamente originando propagações e intensidades momentaneamente muito altas. Neste

aspeto os tipos de floresta predominantes na região do Pinhal Interior são particularmente

propícios à ocorrência deste tipo de fenómenos. Nas agulhas do pinheiro bravo compostos

voláteis como o α-pineno são significativos e nas folhas de eucalipto o cineol constitui uma

componente ainda mais importante da sua composição química. Por outro lado, as temperaturas

extremas (por vezes acima dos 40.o C) observadas ao longo do dia 17 de junho associadas ao

calor do próprio incêndio (mesmo que ainda distante) favoreceriam a ocorrência hipotética deste

fenómeno raro.

5.4.6. As causas do “colapso” da pluma do incêndio

A evolução em altura da pluma de convecção e a sua descida repentina, evento que muito

provavelmente causou muitas das fatalidades ocorridas, foram anteriormente descritos e

explicados. Há no entanto fatores adicionais, ainda não mencionados, que podem estar

envolvidos no colapso e que se relacionam com o facto da manutenção de uma pluma de

convecção de incêndio exigir o afluxo permanente de energia.

O mapa da severidade do fogo (Figura 5.15) mostra um arco no qual estão bastante

representadas as classes de severidade do fogo reduzida e moderada, e que se inicia em

Salaborda Nova, acompanhando sucessivamente as aldeias de Vila Facaia, Adega, Outão e

outras mais além e os campos agrícolas que lhes estão adjacentes. É também uma área de vale

ou depressão, portanto antecedida por declive negativo que pode reduzir a velocidade de

progressão do fogo. À chegada a este arco o fogo terá consequentemente perdido intensidade

e a sua progressão sido dificultada pela redução da continuidade e quantidade de combustível.

A norte de Vila Facaia, uma área ardida em 2013 e consequentemente com menor acumulação

de combustível poderá ter também contribuído para a redução de intensidade.

A segunda, e ainda mais vigorosa intensificação da pluma, não colapsou, antes decaiu

lentamente, sendo plausível que tal tenha sucedido por o incêndio estar agora a evoluir em

terreno mais declivoso e revestido por floresta contínua.

5.4.7. A diferente evolução dos incêndios de Pedrogão Grande e de Góis

Os incêndios de Pedrogão Grande e Góis iniciaram-se quase simultaneamente em locais que

distam 12 km entre si, e de facto os seus perímetros acabaram por se juntar. A cronologia horária

do crescimento dos dois incêndios (Figura 5.13) mostra dois “irmãos” com evoluções muito

paralelas.

De facto, a velocidade de expansão em área segue um padrão horário similar, à exceção do dia

17. O crescimento explosivo do incêndio de Pedrogão Grande motivado pelo downdraft não tem

correspondência no incêndio de Góis, o qual de certa forma permaneceu imerso na nebulosidade

associada à perturbação convectiva que se deslocou de este para oeste. Pelo contrário, os

momentos de expansão, e a expansão verificada, foram muito próximos nos dias 18 e 19

(sequência horária 20 a 44 na Figura 5.13). Tal diz-nos que os dois incêndios estavam sob o

efeito das mesmas condições de disponibilidade de combustível e meteorologia.

Olhando para o dia 17 em detalhe vê-se que os dois incêndios partilham o crescimento das 18

às 20 horas. É o momento em que os incêndios deixam de se propagar para sul e rodam para

SW-W. Contudo, o incêndio de Góis é constrangido pela fragmentação do espaço florestal que

impede o crescimento para oeste, tendo que flanquear as áreas agrícolas para se dirigir em

direção a S-SW. Obviamente que isto o limita e lhe reduz a dimensão potencial. Assim, o incêndio

13 DE OUTUBRO DE 2017 87

Página 88

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

87

de Góis tem 81 ha (quando em Pedrogão já se passaram os 400 ha) quando o vento muda às

18h00 e por volta das 20h00 cresceu para 713 ha apenas, versus os 3799 ha de Pedrogão

Grande. Os dois incêndios estão a produzir nuvens pirocúmulo, mas apenas o de Pedrogão

Grande é suficientemente grande para gerar um pirocúmulonimbo (THURSTON et al. 2015). Dá-

se então o “colapso” em Pedrogão que espalha o fogo em arco para SW-NW e o incêndio de

Góis praticamente cessa o crescimento em direção ao outro incêndio e aumenta 133 ha para

NE.

O padrão descrito corresponde primeiro a um fenómeno de indraft (fluxo de ar) forçado pelo

maior incêndio, e depois a um outdraft com expansão em todas as direções quando se dá o

colapso, eliminando a “atração” do fogo de Góis pelo fogo de Pedrogão Grande. Este efeito no

perímetro do fogo de Góis entre as 20 e as 21 horas evidencia um outflow contrário ao fluxo geral

da atmosfera, num momento em que o vento na estação da Pampilhosa da Serra continua a

soprar de leste e numa tarde em que todos os outflows se dirigiram de este para oeste ou de

este para SW, constituindo a assinatura de um colapso de pluma. A divergência dos dois

incêndios no momento crítico suporta a hipótese de que o desenvolvimento do pirocúmulonimbo

induziu outflows evaporativos que fizeram crescer o incêndio e geraram rajadas de vento

extremamente fortes. Este processo culmina com o decaimento súbito da coluna detetado no

radar e que a diferença entre os dois incêndios confirma.

A potência radiativa (máxima diária) do fogo indica o consumo de biomassa e a energia

correspondente e é determinada a partir da observação por satélite. Apesar das diferenças

substanciais no desenvolvimento dos dois incêndios, e não havendo dados para o dia 17 devido

às nuvens da trovoada e do incêndio, importa referir que o incêndio de Góis foi tão intenso quanto

o de Pedrogão Grande nos dias 18, 19, 22 e 23 de junho, superando-o largamente nos dias 20

e 21 de junho. Tal se deve à maior duração do incêndio de Góis e, provavelmente, ao facto de

nesses últimos dias ter percorrido áreas que não ardiam há mais de 20 anos (Figura 5.27).

Figura 5.27 Potência radiativa do fogo em Pedrogão Grande e Gois

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 88

Página 89

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

88

5.5. Relevância para as operações de combate

Face às condições extremas que presidiram ao desenvolvimento do incêndio de Pedrogão

Grande é importante começar por destacar o pré-condicionamento do combustível imposto pela

acumulação de dias de onda de calor durante a primavera e especialmente durante o mês de

junho. Estas condições justificariam a antecipação da fase crítica do DECIF, aliás como veio a

acontecer após a tragédia.

As respostas iniciais aos fogos nascentes em Escalos Fundeiros e Regatas Cimeiras foram

lentas, mesmo considerando que as ignições se deram em locais impeditivos de propagação

rápida imediata. Assumindo que o comportamento do fogo estaria dentro da capacidade de

extinção, simulação com o Behave Plus indica que:

 Às 15h30 os meios disponíveis representavam 55% da capacidade de supressão

necessária para conter o fogo;

 adiantando o ATI em 10 minutos, constituiriam, ainda assim, apenas 75% da

capacidade exigida para a contenção.

Assim, a quantidade de meios empregues em ATI foi insuficiente. Acresce que a cabeça do

incêndio esteve intermitentemente acima da capacidade de extinção por meios terrestres

(intensidade >4000 kW/m) quando o fogo se estendeu ao pinhal e eucaliptal, pelo que as

oportunidades de combate efetivo estariam basicamente limitadas aos flancos e retaguarda.

Após o fogo ter entrado no espaço florestal propriamente dito apenas a disponibilidade de um

conjunto reforçado de meios (equivalente a ATA), poderia ter logrado conter o incêndio. Tal era

expectável, dadas as dificuldades associadas às condições previstas para o dia em causa.

De acordo com a reconstituição efetuada o incêndio terá percorrido 25 ha até às 16 horas do dia

17. Note-se que BYRAM (1954) considera ser impossível controlar um incêndio que ultrapasse

esta dimensão se as condições atmosféricas forem propícias a fogos explosivos. Dadas as

previsões existentes de mudança da direção do vento e a aproximação da tempestade

convectiva este período ofereceu as últimas oportunidades de controlo da expansão do incêndio,

as quais deveriam ter incidido no flanco direito. Essa opção teria implicado concentrar aí todo o

esforço, sendo questionável a possibilidade de sucesso face às características do incêndio, ou

mesmo a exequibilidade dessa opção, dada a necessidade de defender as várias aldeias

dispersas na região.

O facto da expansão do incêndio para sul se ter dado a velocidade crescente indica que as

operações de combate não foram efetivas na mitigação do seu crescimento. Depois das 16

horas, e particularmente após as 17 horas, e face às condições do dia consideramos que a

probabilidade de sucesso em deter a cabeça e o flanco direito do incêndio seria sempre reduzida,

mesmo na presença de ataque ampliado bem organizado que dispusesse de meios aéreos

pesados e bulldozers. A este respeito o cálculo dos índices do esforço exigido aos meios de

combate para conter o incêndio em ataque ampliado, usados na Catalunha, indicam insucesso

provável já antes das 16 horas, e sucesso garantido apenas entre as 3h00 e as 13h00 do dia 18

de junho (Quadro 5.6). Usar o fogo em ataque indireto e numa extensão de frente significativa

poderia ter resultado, mas face às condições prevalecentes e dispersão do povoado seria

arriscado e exigiria competências técnicas que escasseiam em Portugal.

13 DE OUTUBRO DE 2017 89

Página 90

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

89

Quadro 5.6 Rácio do esforço de combate necessário para controlar o incêndio de Pedrogão Grande. Valores

acima de 1 indicam que o controlo é improvável.

Período Ataque ampliado Ataque inicial

14:30-16:00 1,31 2,61

16:00-17:00 2,61 5,22

17:00-18:00 3,46 6,92

18:00-19:00 5,67 11,35

19:00-20:00 10,57 21,14

20:00-21:00 11,51 23,03

21:00-3:00 1,68 3,37

3:00-8:00 0,60 1,19

8:00-11:00 0,41 0,82

11:00-13:00 0,73 1,45

13:00-15:00 1,06 2,13

15:00-17:00 2,33 4,67

17:00-19:00 0,92 1,84

19:00-2:00 0,54 1,08

2:00-5:00 0,91 1,82

5:00-10:00 0,09 0,19

10:00-19:00 0,01 0,02

No dia 17 de junho estavam presentes e haviam sido previstas condições para a ocorrência de

incêndios com comportamento extremo, a partir do meio do dia e até final da tarde, embora

diminuindo gradualmente de intensidade. Na verdade, e ao invés do que sucede usualmente, as

condições meteorológicas foram-se agravando ao longo da tarde. Nos dias em que a

instabilidade atmosférica é conducente à formação de fogos convectivos o comportamento mais

extremo do fogo surge tipicamente a partir do fim da tarde (FROMM et al. 2010). A capacidade

do incêndio para gerar o pirocúmulonimbo em resposta às frentes de rajada agravou o

comportamento do fogo a partir das 18h00, ao que acresceu o decaimento súbito da coluna de

convecção. Desta forma, e face à leitura das condições e características do incêndio, as

necessárias medidas de proteção civil (disposições relativas à circulação na rede viária,

acompanhamento da população rural, preparação de evacuações) deveriam ter sido

equacionadas logo às 16h00-17h00 e cumpridas a partir das 18h00.

A incapacidade do SDFCI em reconhecer e/ou responder atempada e adequadamente às

condições meteorológicas que seriam enfrentadas ao longo do dia 17 está na génese da tragédia

de Pedrogão Grande. Contudo, tal não implica que o evento fosse previsível, o que evidenciámos

ao mostrar que a capacidade de prever ou reproduzir adequadamente a expansão do fogo cessa

às 20h00. A extrema raridade de incêndios com formação de pirocúmulonimbo implica a

inexistência em Portugal (e na Europa) da capacidade de leitura necessária para identificar uma

situação potencialmente catastrófica deste tipo. Pelo contrário, o incêndio de Waldo Canyon em

Colorado Springs, E.U.A., a 26 de junho de 2012, constitui um bom exemplo de antecipação à

possível ocorrência de um incêndio especialmente severo. As ordens de pré-evacuação e

evacuação obrigatória foram emitidas respetivamente às 13h39 e 16h21, tendo a frente de rajada

chegado às 16h53 e o colapso da pluma de convecção ocorrido às 17h11 (JOHNSON et al.

2014). Na verdade, a quantidade de casos de estudo existentes no resto do mundo relativos a

fatalidades em incêndios “explosivos” sugere que poucas organizações e indivíduos têm a

capacidade de planear para um evento que é possível mas que quando ocorre é sempre

surpreendente.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 90

Página 91

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

90

É manifesta a rigidez dos procedimentos e recursos disponíveis para a pré-supressão e

supressão a incêndios em Portugal. A resposta à alteração das condições ambientais é reativa

em vez de proactiva, não antecipando os efeitos no comportamento do fogo e favorecendo a

subestima do potencial das condições meteorológicas para causarem incêndios graves,

indicando deficiências na perceção do risco por parte do SDFCI. Da mesma forma é sintomático

que o planeamento e ajustamento da prontidão do combate coloque a ênfase no número de

ocorrências e não na sua potencial gravidade, o que é patente no relatório produzido pela ANPC.

Na verdade, a natureza do sistema – assente no (semi-)voluntariado e com mobilização sazonal

de recursos – impede a implementação de mecanismos e procedimentos que garantam que o

SDFCI responda de forma efetiva à evolução temporal do potencial de incêndios ao longo do

ano. Mais especificamente, o SDFCI não dispõe de conhecimento especializado em

pirometeorologia aplicada, incluindo a sua relação com o comportamento do fogo, com

acompanhamento permanente (em tempo real) das condições e dos incêndios ativos. Em última

análise é à combinação desta ausência de competências com a desadequada prontidão do

SDFCI face à pirometeorologia que se deve a tragédia de Pedrogão Grande.

13 DE OUTUBRO DE 2017 91

Página 92

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

91

6. REGISTO E ANÁLISE DAS FATALIDADES

6.1. Caracterização dos locais das fatalidades

O incêndio de Pedrógão Grande, que decorreu entre os dias 17 e 24 de junho de 2017, devastou

uma extensa área dos concelhos de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de

Pera, tendo ainda alastrado aos concelhos vizinhos de Sertã, Alvaiázere, Ansião e Penela.

Apesar da considerável área ardida (cerca de 28 913,6 ha – ver Quadro 5.3, e das consequentes

perdas em termos de valores naturais, culturais, sociais e económicos, este incêndio ficou

marcado pela elevada perda de vidas humanas, para além dos bens e equipamentos.

Tendo em conta que a perda de vidas humanas foi a consequência mais grave dos incêndios em

análise, considerou-se fundamental fazer um levantamento especificamente dedicado a

caracterizar os locais onde ocorreram essas fatalidades. Com este objetivo, foi feito um registo

e a análise dos 20 locais onde ocorreram as 64 fatalidades. Esta caracterização teve em conta

diversas variáveis associadas: 1) ao uso do solo, 2) à propagação do fogo e seus efeitos

(severidade) e 3) ao cumprimento de medidas preventivas ao nível da gestão de combustíveis.

Muito embora muita desta informação seja também utilizada noutras secções do presente

relatório, o texto que se segue destina-se a apresentar de forma sistematizada os resultados

dessa caracterização. O trabalho de campo consistiu em localizar cada local com base nas

respetivas coordenadas e observar e interpretar a área circundante, registando os valores

modais (mais frequentes) de cada variável analisada. A localização geográfica destes locais

resultou de um levantamento anterior desenvolvido por elementos da ANPC entre os dias 17 e

18 de junho. Esta localização foi confirmada através de relatos testemunhais e dos vestígios

observados em cada local. Houve ainda uma confirmação posterior recorrendo a informação

disponibilizada pela Diretoria do Centro da Polícia Judiciária. O troço com cerca de 300 m na EN

236-1 onde ocorreram 30 vítimas foi considerado um local único, tal como constava na listagem

enviada pela ANPC. Neste caso específico foi feita uma subamostragem em oito pontos ao longo

deste troço e calculados os valores médios ou os valores modais (no caso de variáveis

categóricas). O conjunto de 20 locais não inclui o local onde ocorreu a vítima por atropelamento,

junto ao lugar de Outão, uma vez que este processo está em investigação para determinação

das causas da morte no NICAV - Núcleo de Investigação Criminal de Acidentes de Viação da

GNR.

6.1.1 Distribuição geográfica

As fatalidades ocorreram todas numa área com cerca de 20 km2 abrangendo os concelhos de

Pedrógão Grande (quinze locais e 53 vítimas com destaque para as 34 fatalidades que ocorreram

na EN 236-1), Castanheira de Pera (quatro locais e nove vítimas destacando-se os grupos de

vítimas nas proximidades de Sarzedas de São Pedro e Sarzedas do Vasco) e Figueiró dos

Vinhos (um local e duas vítimas, nomeadamente junto à povoação de Vilas de Pedro), tal como

se pode verificar na Figura 6.1. O número de vítimas em cada local variou entre 1 e 30, neste

último caso num troço com cerca de 300m na EN 236-1. A grande maioria dos locais está

associada a estradas (13 locais) ou a casas junto a estradas (quatro locais). Apenas três locais

estão associados a casas que arderam (incêndios urbanos) como consequência do incêndio

florestal (Quadro 6.1).

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 92

Página 93

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

92

Quadro 6.1 – Listagem dos 20 locais onde ocorreram vítimas mortais. Ver mapa da Figura 6.1.

Local ANPC* Localidade próxima Nº de vítimas Tipo de incêndio

A** Sarzedas do Vasco 1 florestal

1 Barraca da Boavista 30 florestal

2 Outeiro do Nodeirinho 1 florestal

3 Nodeirinho 2 florestal

4 Outão 1 florestal

5 Sarzedas do Vasco 1 florestal

6 Ramalho 1 florestal

7 Vilas de Pedro 2 florestal

8 Sarzedas do Vasco 1 florestal

9 Sarzedas de São Pedro 4 florestal

10 Pobrais 4 florestal

11 Nodeirinho 3 florestal

12 Sarzedas do Vasco 2 florestal

13 Nodeirinho 3 florestal

14 Figueira 1 florestal

15 Nodeirinho 1 florestal

16 Sarzedas de São Pedro 2 florestal

19 Pobrais 1 urbano

20 Balsa 1 urbano

21 Moita 2 urbano

* Os locais 17 e 18 referem-se a feridos, não incluídos nesta tabela.

** Local não incluído no levantamento inicial feito pela ANPC.

13 DE OUTUBRO DE 2017 93

Página 94

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

93

Figura 6.1 – Isócronas de propagação do incêndio de Pedrogão Grande para a área onde se verificaram vítimas

mortais, indicadas pelo seu número total em cada local. As setas indicam a direção de deslocação do fogo

inferida dos sinais na vegetação.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 94

Página 95

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

94

6.1.2 Uso do solo e gestão dos combustíveis na proximidade dos locais

A informação de uso do solo foi obtida através dos vestígios no local e da análise de imagens de

satélite (Google Earth®) e de imagens Google Street View®. Numa grande parte dos casos existia

heterogeneidade de usos do solo, devido à fragmentação das propriedades em pequenas

parcelas, cada uma com diferentes ocupações. Em cinco locais havia uma ocupação

predominantemente agrícola com alguma floresta, ao passo que nos restantes a ocupação era

predominantemente florestal; sete dos locais com ocupação florestal tinham o pinheiro-bravo

como espécie dominante e sete outros tinham o eucalipto como espécie dominante; um dos

locais era predominantemente dominado por acácia. Em apenas dois dos locais havia uma

ocupação por uma única espécie (eucalipto num dos casos e pinheiro-bravo no outro). Tendo

em conta a estrutura (sobretudo irregular) e a composição (mista) dos povoamentos e ainda os

vestígios de mato desenvolvido numa grande parte dos locais, é possível afirmar que uma parte

das parcelas ou não eram geridas ou tinham uma gestão deficiente, tendo em conta os padrões

de boas práticas silvícolas associados às duas espécies dominantes (pinheiro-bravo e eucalipto).

No que respeita à gestão dos combustíveis efetuou-se uma avaliação destinada a determinar se

as medidas preventivas constantes no Art.º 15.º do Decreto-Lei n.º 17/2009 de 14 de janeiro e

respetivo anexo, estavam a ser cumpridas à data do incêndio. Esta avaliação foi realizada com

base na observação dos vestígios no terreno, tendo sido um pouco dificultada na EN 236-1 pelo

facto de a entidade gestora ter procedido ao corte do material queimado ao longo das bermas,

pouco tempo após o incêndio. Em alguns casos foram utilizadas imagens recentes de satélite

disponíveis no sistema Google Earth® e imagens locais disponibilizadas no serviço Google Street

View® para confirmar as observações no terreno. Foi feita a distinção entre as medidas

preconizadas para a berma de estradas e aquelas preconizadas para a envolvente às casas e

aos aglomerados populacionais, consoante os casos descritos na legislação referida. Para além

da legislação, foram consultados os Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios,

para verificar se os locais em questão deveriam ou não ser alvo de medidas de gestão de

combustíveis de acordo com o Art.º 15,º do Decreto-Lei n.º 17/2009 de 14 de janeiro. Como

resultado dessa consulta foi concluído que todos os locais deveriam estar abrangidos pelos

critérios técnicos previstos no anexo do referido Decreto-Lei.

De todos os locais visitados nenhum apresentava indícios de ter sido alvo de medidas de gestão

de combustíveis correspondentes aos critérios técnicos previstos no anexo do Decreto-Lei

17/2009 de 14 de janeiro. Apesar de em alguns casos, devido à própria natureza da utilização

do solo (nomeadamente utilização agrícola), a vegetação cumprir alguns requisitos do referido

anexo, este cumprimento era parcial (por exemplo apenas numa das bermas) e não resultava da

adoção de medidas de gestão especificamente destinadas a cumprir a legislação em vigor. Em

particular, no caso da EN 236-1, verificou-se a existência de gestão das bermas da estrada, mas

apenas numa largura máxima de aproximadamente 2 m, não existindo evidências de que a

gestão de combustíveis abrangesse a largura de 10 m prevista na legislação em vigor.

A este respeito importa salientar que não existem evidências que permitam associar as mortes

ocorridas em espaço aberto ou dentro de viaturas, ao não cumprimento de medidas de gestão

de combustíveis. Tal como é sugerido noutras partes do presente relatório, as condições

extremas de propagação do fogo que se verificaram nos locais e nos momentos das ocorrências

fatais, provavelmente ter-se-iam verificado de qualquer forma, independentemente dos trabalhos

de gestão junto a infraestruturas. Durante o trabalho de campo pudemos observar sinais de

extrema severidade do fogo, mesmo em locais onde os indícios no terreno apontavam para

cargas de combustível muito reduzidas.

Já a ocorrência de fatalidades resultantes de incêndios urbanos (quatro mortes em três locais) é

bem mais complexa, pois é difícil determinar as circunstâncias em que o fogo florestal se

13 DE OUTUBRO DE 2017 95

Página 96

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

95

propagou às casas. Essa determinação exigiria exames periciais que estão para lá das

competências e do horizonte temporal desta Comissão.

6.1.3 Comportamento local do fogo

As informações sobre o comportamento do fogo e seus efeitos nos locais das fatalidades foram

recolhidas tendo como base a observação do arvoredo queimado e dos caules remanescentes

da vegetação arbustiva, assim como medições efetuadas sobre a cartografia digital.

A distância média entre cada local e o ponto de início, a norte de Escalos Fundeiros, foi de 6,7

km, variando entre 4,6 e 8,0 km. Os locais situam-se predominantemente a oeste do ponto de

início, numa direção oscilando entre os azimutes 228 º e 286 º, relativamente ao ponto de ignição.

De acordo com a direção das copas e folhas petrificadas pelo fogo, a direção média de

propagação foi de 282 º, variando entre 240 º e 309 º. O tipo de fogo dominante em cada local

foi essencialmente fogo de superfície havendo, no entanto, seis locais com registo de fogo de

copas passivo (sem propagação entre copas). Apenas em dois locais o fogo dominante foi

classificado como de copas ativo (em que o fogo se propaga ao nível das copas).

A severidade nas copas das árvores foi avaliada com base nos danos em pinheiros e eucaliptos.

As copas apresentavam uma proporção chamuscada média de 67% (o remanescente

corresponde a copa consumida) e não se observaram árvores destas espécies com copa verde.

Pelo contrário, foi possível observar muitos sobreiros e outras folhosas com uma boa parte da

copa verde.

A severidade do fogo no tronco das árvores foi em geral muito elevada, com uma média de 3,7,

utilizando uma escala de 1-4 (1 – casca não afetada, 2 – chamuscado heterogéneo, 3 –

chamuscado homogéneo, 4 – casca carbonizada) de acordo com Ryan (1982). A severidade do

fogo no solo foi de 3,9, utilizando uma metodologia semelhante (1 – não afetado, 2 – consumo

heterogéneo da folhada superficial, 3 – consumo homogéneo da folhada superficial, 4 – consumo

até ao solo mineral). Uma estimativa o terreno permitiu avaliar a altura média do chamuscado no

tronco das árvores em 7,5 m e o diâmetro mínimo do material arbustivo remanescente (não

consumido pelo fogo) em 6.2 mm.

Como conclusão geral podemos considerar que se tratou de um fogo com grande severidade à

superfície, mas não ao nível das copas. Estes indicadores são compatíveis com as informações

que referem a existência de ventos muito fortes e extremamente quentes, afetando sobretudo os

combustíveis de superfície.

6.2. As fatalidades

No âmbito desta Comissão procedeu-se a uma análise exploratória das condições e

particularidades das 64 vítimas humanas que faleceram devido a este incêndio (uma possível

65.ª vítima está sob investigação para determinação das causas da morte no NICAV - Núcleo de

Investigação Criminal de Acidentes de Viação da GNR), tendo por base o cruzamento de

informação obtida através do levantamento no terreno, relatos in loco, audiências e dados

fornecidos pela Diretoria do Centro da Polícia Judiciária (Coimbra) e pelo Departamento de

Investigação e Ação Penal de Leiria (DIAP de Leiria).

As causas de morte das 64 vítimas do incêndio de Pedrógão Grande, apuradas nas Conclusões

dos Relatórios das Autópsias, enquadram-se em cinco tipologias: Carbonização (23 casos),

Queimaduras de vários graus (21 casos), Inalação de gases quentes (13 casos), Asfixia por

inalação de monóxido de carbono (8 casos) e Lesão traumática por queimaduras com

carbonização (1 caso). Note-se que a mesma vítima podia apresentar mais do que uma causa,

em simultâneo.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 96

Página 97

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

96

6.2.1 Caracterização das vítimas e sua ligação à zona

A distribuição etária das 64 vítimas permitiu concluir que 14% das vítimas tinha menos de 18

anos e 23% tinha idade superior ou igual a 70 anos. Assim, a maioria das vítimas (63%) tinha

entre 18 e 70 anos, isto é, em plena “vida ativa”. Como se poderá constatar mais adiante, grande

parte das vítimas estava em fuga das habitações onde se encontravam, podendo haver alguma

relação com a perceção de que teriam condições para fugir ao incêndio (Figura 6.2).

Figura 6.2 Distribuição etária das vítimas mortais do incêndio de Pedrógão por intervalos de idade de 10 anos

Relativamente à proporção de géneros, confirmou-se que das 64 vítimas mortais no incêndio de

Pedrógão Grande, 34 eram do sexo masculino e 30 do sexo feminino, havendo uma razão entre

géneros muito próxima.

A ligação das vítimas à zona foi também avaliada. Trinta e duas das 64 vítimas eram residentes

na zona de abrangência do incêndio de Pedrógão, enquanto oito vítimas visitavam a zona com

regularidade, por questões familiares, profissionais ou em turismo. Vinte e quatro vítimas eram

visitantes ocasionais, apesar de alguns deles terem relações de afetividade (e.g. naturalidade)

com a zona afetada (Figura 6.3).

Figura 6.3 – Relação das vítimas com a região avaliada pelo número e percentagem de residentes, visitantes

regulares e visitantes ocasionais.

7

21

13

7

11

8

10

4

1

0

2

4

6

8

10

12

14

1-9 10-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80-89 90 emais

32; 50%

8; 12%

24; 38%

Residentes

Visitantesregulares

Visitantesocasionais

13 DE OUTUBRO DE 2017 97

Página 98

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

97

6.2.2 Relação entre as vítimas e as casas

No que respeita à relação entre as vítimas e as suas casas de habitação ou de visita regular

registe-se que apenas quatro das 64 vítimas do incêndio de Pedrógão Grande faleceram no

interior das suas casas de habitação (Figura 6.4). Estas vítimas situam-se entre os 56 e os 87

anos e algumas delas apresentavam problemas de saúde. Três vítimas faleceram nas

proximidades (a menos de cem metros) da casa de habitação, sendo que uma destas vítimas

faleceu dentro da viatura enquanto tentava fugir ao incêndio. Vinte e duas vítimas (34%) vieram

a falecer próximo das suas residências habituais enquanto a maioria (55%) das vítimas do

incêndio de Pedrógão residiam habitualmente a mais de 5 km do local onde vieram a falecer.

Alguns dos visitantes ocasionais eram residentes nos concelhos de Almada, Amadora, Lisboa,

Loures, Odivelas, Seixal e Sintra.

Figura 6.4 – Ocorrência das fatalidades relativamente à distância às suas casas de habitação regular.

A situação das casas depois do incêndio também foi avaliada. Das quarenta vítimas mortais que

tinham residência habitual na região afetada pelo incêndio de Pedrógão ou que a visitavam com

regularidade apenas quatro tiveram a sua casa ardida (as quatro vítimas que faleceram dentro

das suas casas de habitação). Todas as restantes habitações, pertencentes às trinta e seis

vítimas deste incêndio residentes nesta região ou que a visitavam com regularidade, não arderam

(Figura 6.5).

4 3

3235

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Dentro de casa Próximo da casa(<100m)

Entre 100m e 5kmda casa

Longe da casa(>5km)

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 98

Página 99

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

98

Figura 6.5 – Situação pós-incêndio das casas de habitação das 40 vítimas que viviam na região ou que a

visitavam com regularidade.

6.2.3 Circunstâncias das fatalidades em relação às viaturas

A análise de relatos e processos relativos às vítimas permitiu concluir que 45 das 64 vítimas

(70%) estariam a fugir ao incêndio, tendo-se deslocado em viaturas. Dezoito vítimas mortais

(28%) não estariam a fugir ao incêndio, havendo evidências de que algumas dessas pessoas

estariam de passagem, de visita ao território, de regresso ao seu alojamento ou que terão saído

de casa para ir ver onde “andava o incêndio”. Neste grupo incluem-se também as quatro vítimas

mortais que pereceram nas suas casas de habitação.

As vítimas mortais que estariam a fugir ao incêndio percorreram uma distância relativamente

curta até ao local da fatalidade. Esta distância oscila entre os 100 metros e os 2400 metros desde

o local de proveniência (a casa onde se encontravam e que não ardeu) e o local da fatalidade. A

média desta distância, para as vítimas que estariam a fugir ao incêndio foi de 1030 metros. Estas

distâncias foram calculadas tendo por base o histórico obtido através de audições e análise de

processos e utilizando o Google Maps ®, como referência geográfica, calculando-se a distância

entre o ponto de partida e o local da fatalidade, utilizando-se o percurso habitual ao conduzir-se

uma viatura (Figura 6.6)

Figura 6.6 – Distância das fatalidades em relação ao local de proveniência das vítimas.

Arderam

4; 10%

Não arderam

36; 90%

7

16 17

2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

0-5

00

m

50

0-1

00

0m

10

00

-15

00

m

15

00

-20

00

m

20

00

-25

00

m

13 DE OUTUBRO DE 2017 99

Página 100

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

99

Tentando traduzir as distâncias em tempo calculou-se o histórico obtido através de audições e

análise de processos e utilizando o Google Maps ®, como referência. O tempo entre local de

partida e chegada diz respeito a um tempo médio percorrido por uma viatura, sem trânsito. De

acordo com essa análise 26% das vítimas fizeram um percurso de menos de 1 minuto, 43% de

menos de 2 minutos, e 93% de menos de 3 minutos em fuga em viatura entre o local de

proveniência e o local da fatalidade.

A maioria das vítimas do incêndio de Pedrógão Grande (52%) faleceu dentro de viaturas,

enquanto 23% faleceu próximo das viaturas, até um raio de 50 metros, e 14% das vítimas

faleceram relativamente afastadas da viatura onde seguiam e da qual saíram na tentativa de

escapar ao incêndio (Figura 6.7). As sete vítimas onde esta análise não se aplica referem-se às

quatro vítimas que faleceram no interior das suas casas, a duas vítimas que saíram a pé de suas

casas e ao bombeiro que veio a falecer no Hospital dois dias após o acidente.

Figura 6.7 – Ocorrência das fatalidades em relação às viaturas em fuga.

6.2.4 O período de ocorrência das fatalidades

Sessenta e duas fatalidades do incêndio de Pedrógão Grande terão ocorrido entre as 19h50 e

as 20h40 do dia 17 de junho de 2017 (Figura 6.8). A primeira vítima terá ocorrido na zona de

Ramalho, no concelho de Pedrógão Grande, pelas 19h50. Por volta das 20h05 o incêndio estaria

próximo de Nodeirinho e Pobrais, prestes a chegar à EN 236-1 onde, por volta das 20h10 terá

provocado a maioria das vítimas nesta via de comunicação (Figura 6.1). As duas últimas vítimas

deste dia terão ocorrido por volta das 20h40 junto à povoação de Vilas de Pedro, no concelho de

Figueiró dos Vinhos.

No dia 18 de junho de 2017, pelas 10h00 da manhã, ocorre a 63.ª fatalidade, na povoação de

Balsa, concelho de Castanheira de Pera no interior da sua casa de habitação, após

reacendimento do incêndio junto à casa. O bombeiro, a 64.ª vítima veio a falecer no Hospital no

dia 19 de junho.

33

15

97

0

5

10

15

20

25

30

35

Dentro da viatura Próximo da viatura(<50m)

Afastado da viatura(>50m)

Não se aplica

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 100

Página 101

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

100

Figura 6.8 – Hora aproximada da ocorrência das fatalidades do incêndio de Pedrógão Grande, com indicação

do número de vítimas em cada intervalo temporal de 5 minutos desde as 19h50 às 20h40 de dia 17 de junho e

às 10h00 de dia 18 de junho.

Em resumo, a maioria das vítimas eram residentes nesta região ou visitavam-na com

regularidade, tendo fugido de casa devido ao incêndio, casa essa que em geral não ardeu, tendo

percorrido, entre as 19h45 e as 20h35 do dia 17 de junho de 2017, em média, cerca de 1000

metros durante 2,5 minutos até ao local da fatalidade, tendo falecido no concelho de Pedrógão

Grande, na maioria dentro da viatura, carbonizados ou queimados.

Estas evidências devem ser interpretadas e projetadas com especial acuidade no âmbito da

sensibilização e educação das populações relativamente aos comportamentos de auto-proteção

contra incêndios florestais.

1 1

16

34

8

2 1

0

5

10

15

20

25

30

35

40

19

:50

19

:55

20

:00

20

:05

20

:10

20

:15

20

:20

20

:25

20

:30

20

:35

20

:40

10

:00

13 DE OUTUBRO DE 2017 101

Página 102

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

101

7. PREVENÇÃO E PRÉ-SUPRESSÃO NOS CONCELHOS AFETADOS

7.1 A prevenção estrutural

7.1.1 Metodologia de análise

A análise e avaliação do grau de cumprimentos das ações de prevenção estrutural nos 11

concelhos teve por base duas fontes de informação. A primeira, resultou de 16 entrevistas

realizadas entre 2 e 11 de agosto de 2017 a técnicos de Gabinetes Técnicos Florestais (GTF),

de Organizações de Produtores Florestais (OPF) e aos três Coordenadores de Prevenção

Estrutural (CPE) do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas IP. (ICNF) que

trabalham na área dos concelhos visados. A segunda, consistiu na recolha de informação,

sobretudo em formato vetorial, de toda a atividade de gestão de combustíveis e silvicultura

disponível para os 11 concelhos. Foi feita uma síntese de toda a informação vetorial de faixas de

gestão de combustível (FGC) e mosaicos de parcelas de gestão de combustíveis (MPGC) dos

planos municipais de defesa da floresta contra incêndios (PMDFCI), de onde foi retirado o que

estava planeado por ano (os valores totais planeados apresentados não resultaram da soma

algébrica dos parciais dado que em alguns municípios há faixas que não têm intervenções todos

os anos enquanto outros consideram intervenções plurianuais em várias faixas, podendo desta

forma causar enviesamentos na interpretação da área intervencionada). O executado foi

calculado com base na informação enviada pelos Gabinetes Técnicos Florestais, das áreas de

fogo controlado, relatórios de atividade dos sapadores florestais enviada pelo Instituto de

Conservação da Natureza e das Florestas e informação adicional remetida pela Altri, The

Navigator Company e EDP.

7.1.2 Recursos e implementação da prevenção

O Quadro seguinte apresenta o número de técnicos existentes no Gabinete Técnico Florestal de

cada município, com base na informação reportada pelos respetivos técnicos (Quadro 7.1)

Quadro 7.1 – Técnicos GTF por concelho

Concelho N Técnicos GTF

Figueiró dos Vinhos 4

Penela 2

Góis 2

Pedrógão Grande 1

Pampilhosa da Serra 2

Arganil 1

Castanheira de Pera 4

Ansião 1

Alvaiázere 1

Sertã 2

Oleiros 3

Total 23

Fonte: Entrevistas

A maioria dos GTF tem técnicos com formação florestal (80%); no entanto é de assinalar a

inexistência desta formação em dois GTF. Os técnicos identificaram necessidades de formação

não só ao nível das Tecnologias e Sistemas de Informação Geográfica, como também

evidenciaram lacunas de conhecimento em diferentes aspetos da Defesa da Floresta Contra

Incêndios (DFCI), incluindo fogo controlado e legislação relacionada com o Sistema de Defesa

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 102

Página 103

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

102

da Floresta contra Incêndios (SDFCI). Vários técnicos criticaram a inexistência de uma estrutura

que congregue os vários GTF de modo a permitir a organização de ações de formação conjuntas,

o intercâmbio de conhecimentos e a criação de massa crítica.

Os técnicos referiram que cumprem todas as funções inscritas na legislação que regulamenta as

competências dos GTF, mas reconhecem as dificuldades práticas em fazer cumprir a legislação

de DFCI, nomeadamente a implementação da rede secundária junto às casas e aglomerados

populacionais. Cerca de 1 terço dos técnicos refere a existência de um regulamento para o

licenciamento de queimadas e de utilização de fogo-de-artifício no seu município, cuja

elaboração é competência dos GTF (alíneas j) e l) do art.º 2 º da Lei n.º 20 de 2009). São várias

as causas apontadas pelos técnicos para o início dos incêndios no seu concelho, mas a causa

mais referida foi o uso de maquinaria durante o período crítico. Há também situações localizadas

e identificadas de incendiarismo.

Entre os maiores constrangimentos à ação dos GTF são salientados pelos técnicos a falta de

equipamentos e de recursos humanos, nomeadamente equipas próprias de sapadores florestais,

e ainda de recursos financeiros.

Seis municípios dispõem de equipas que utilizam veículos ligeiros para auxílio do combate a

incêndios florestais. Estas equipas também participam na execução e coordenação de ações de

prevenção estrutural.

A existência de maquinaria pesada propriedade das câmaras municipais ou protocoladas para

sua utilização (como é o caso das máquinas da Associação de Desenvolvimento Regional da

Serra do Açor – ADESA) é muito valorizada, quer para ações de beneficiação de caminhos e/ou

de faixas de gestão de combustíveis, quer para apoio ao combate a incêndios florestais.

Existem equipas de sapadores florestais em todos os concelhos. Estas equipas são utilizadas,

mas apenas em vigilância, primeira intervenção e rescaldo. Normalmente não intervêm no

combate alargado. Em onze municípios que responderam apenas quatro têm protocolos com

equipas de sapadores florestais, como pode ver-se no Quadro 7.2.

Quadro 7.2. – OPF e equipas de sapadores florestais

Concelho OPFESF

Figueiró dos Vinhos APAFCFV; FICAPE 1 APAFCFVprot.CM*

Penela FLOPEN 1

Góis AFG 3

Pedrógão Grande APFLOR 2

Pampilhosa da Serra APFPS 2

Arganil APFCA 1

Castanheira de Pera - -

Ansião AFA 2 prot CM

Alvaiázere APFA 2

Sertã APROFLORA 3; 2 prot. CM

Oleiros APFAM; AFLOPINHAL; FLORVAL 2 prot CM

Total 13 19

* protocolado 1/3 do ano com a CM. Fonte: Entrevistas

Tendo em atenção a informação em formato vetorial disponibilizada pelo ICNF, relativa aos

planos de atividades e relatórios de atividades das equipas de sapadores florestais, podemos

verificar, da análise das Figuras 7.10 e 7.11, que não há total concordância entre o planeado e

o executado, mas foram executados mais trabalhos do que os planeados. Entre janeiro de 2013

13 DE OUTUBRO DE 2017 103

Página 104

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

103

e junho de 2017, de acordo com os dados geográficos que acompanham os relatórios de

atividade dos sapadores florestais, terão sido intervencionados 4072,52 ha nos municípios

afetados pelos incêndios de Pedrogão Grande e de Góis. No entanto, a dispersão espacial de

manchas trabalhadas é elevada, sendo estas, na generalidade, parcelas de pequenas

dimensões planeadas sem qualquer estratégia. A eficácia destas manchas é nula perante

incêndios com comportamento de fogo moderado a elevado.

Nos perímetros florestais geridos em regime de co-gestão entre os Baldios e o ICNF IP., situados

nos concelhos de Penela, Góis e Pampilhosa da Serra, trabalham três equipas CNAF (Corpo

Nacional de Agentes Florestais). No concelho de Arganil atua uma equipa da AFOCELCA.

(Quadro 7.3)

Quadro 7.3 – Meios Afocelca e ICNF

Concelho AFOCELCAPF - CNAF

Figueiró dos Vinhos

Penela

PF Alge e Penela

Góis

PF Rabadão e de PF Góis

Pedrógão Grande

Pampilhosa da Serra

PF Pampilhosa da Serra

Arganil 1

Castanheira de Pera

Ansião

Alvaiázere

Sertã

Oleiros

Total 1 3

Fonte: Entrevistas

7.1.3 Análise das ações de gestão de combustível executadas no território

À exceção da REN e EDP, o cumprimento do PMDFCI pelas restantes entidades é considerado

relativamente baixo (Quadro 7.4). Todos os técnicos estão de acordo que a legislação de

prevenção não é, em termos gerais, cumprida. Dão especial relevo à necessidade de gestão do

uso do solo em volta dos aglomerados populacionais, que deveria incluir espécies com menor

combustibilidade distribuídas num mosaico mais heterogéneo, e agricultura. O cadastro foi

referido por dois entrevistados, como fundamental para a prossecução destes objetivos.

Quadro 7.4- PMDFCI

Concelho PMDFC taxa execução

PMDFCI

Figueiró dos Vinhos aprovado baixa

Penela aprovado alta

Góis aprovado baixa

Pedrógão Grande não aprovado baixa

Pampilhosa da Serra aprovado baixa

Arganil aprovado 55%

Castanheira de Pera não aprovado baixa

Ansião aprovado baixa

Alvaiázere aprovado baixa

Sertã aprovado baixa

Oleiros aprovado Baixa. CM alta

Fonte: Entrevistas

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 104

Página 105

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

104

Relativamente ao relacionamento do GTF com o ICNF foram referidas dificuldades na aprovação

dos PMDFCI cujos processos se arrastam durante anos em alguns casos.

O Quadro seguinte indica o horizonte temporal das ações de gestão de combustível previstas

nos PMDFCI em cada um dos concelhos em análise, assim como a quantificação da intervenção

em cada ano (Quadro 7.5).

Quadro 7.5 – Ações de gestão de combustível previstas nos PMDFCI

Horizonte

temporal das

ações

Faixas de gestão

de combustível

(FGC)

Áreas de intervenção (INT)

(ha)

Concelho (PMDFCI)Total

(ha)

não-

florestal2014201520162017

Ansião 2014-2018 4040 1880 215 304 262 186

Góis 2014-2018 5316 1010 1636 2473 1842 2166

Pampilhosa da

Serra 2014-2018 3312 190 228 278 63 118

Oleiros 2015-2019 8412 564 - 3779 3483 3473

Sertã 2015-2019 11781 4764 - 5812 6744 3598

Figueiró dos

Vinhos 2016-2020 3094 810 - - 517 2444

Alvaiázere 2017-2021 5924 2424 - - - 1685

Pedrogão

Grande 2015-2019 1966 608 - 498* 315* 336*

Arganil 2013-2017 6252 607 2004 1006 1247 712

Penela 2015-2019 1694 497 - 336 399 621

Castanheira

de Pera 2011-2015 754 145 24 - - -

Total 52549 13499 4107 14485 29357 15339

Fonte: Informação geográfica que acompanha os PMDFCI dos 11 concelhos em análise. a) primeira coluna:

horizonte temporal das ações dos respetivos PMDFCI; b) segunda coluna - área total de faixas de gestão de

combustível (FGC); c) terceira coluna - área de FGC em espaço não-florestal (agrícola, massas de água, cursos

de água, áreas sem vegetação); d) restantes colunas (INT) áreas (ha) de intervenções previstas por ano. *

Valores incluídos nos dados geográficos fornecidos pelo GTF de Pedrogão Grande, mas que não se encontram

aprovados em sede de Comissão Municipal de defesa da Floresta (CMDF).

Refira-se o caso de Pedrógão-Grande que não tem o plano aprovado, apesar de ter procedido

ao planeamento das faixas de gestão de combustível. Este planeamento não pode ser

negligenciado, sendo por isso considerado na presente análise.

Sobre a caducidade dos PMDFCI, segundo informação veiculada pelo ICNF, no regulamento

dos PMDFCI não há nenhuma disposição que expressamente determine a caducidade dos

planos decorridos os cinco anos. O que há é a indicação de um prazo de vigência findo o qual

se torna necessário proceder à apresentação de um novo PMDFCI atualizado. Trata-se, pois, de

um prazo administrativo (e não de um prazo judicial ou processual) e, portanto, não perentório.

A não observância desse prazo não determina a invalidade do plano cuja duração atingiu o limite

de cinco anos estabelecido no regulamento, pelo que, enquanto não for possível proceder à sua

substituição, é entendimento daquele organismo que o Plano deve manter-se em vigor.

Dos 52549 ha planeados nos PMDFCI de 2.ª geração, cerca de 26% corresponde a espaços não

florestais (espaço agrícola, massas de água, cursos de água e áreas sem vegetação).

13 DE OUTUBRO DE 2017 105

Página 106

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

105

Com o objetivo de perceber qual o nível de planeamento das ações de gestão de combustível e

consequente execução do planeado nos últimos cinco anos (2012-2017) nos 11 concelhos, foi

compilada toda a informação vetorial disponível.

A área planeada para este período corresponde a 60% da área atualmente prevista nos PMDFCI

de 2.ª geração.

A área total de faixas de gestão de combustível incluídas nos PMDFCI soma 31 712,09 ha, tendo

sido executada no território, no período considerado (2012-2017), apenas cerca de 19%. Este

valor vem confirmar a perceção de baixo nível de execução manifestada pelos técnicos dos GTF

e OPF nas entrevistas realizadas. Refira-se, no entanto, que em Pampilhosa da Serra, Arganil e

Penela foram executados 81,56 e 42%, respetivamente, da área planeada, o que evidencia

diferentes níveis de dinâmica no território. Em todos os outros concelhos a percentagem de

execução foi inferior a 25% do planeado.

Esta medida da execução é muito débil pois é demasiado dependente da ambição da

CMDF/GTF, havendo diferenças substanciais entre municípios e mais ainda entre distritos.

Deverão equacionar-se valores mínimos relativos de gestão de combustível por município de

forma a contrariar esta variabilidade de ambição.

As Figuras 7.10 e 7.11 representam a distribuição espacial das faixas de gestão de combustível

(FGC) dos municípios que intersectam o fogo de Pedrogão e Góis, respetivamente,

discriminando as faixas executadas, das planeadas no período antecedente ao fogo. Apresenta-

se também a distribuição das FGC em espaço florestal (matos e povoamentos) sem intervenção

prevista nos PMDFCI no mesmo período, bem como a distribuição das FGC noutras classes de

uso (agrícola, massas de água, etc.). A constatação da baixa percentagem de execução de

ações gestão de combustível, no âmbito da prevenção estrutural, é também visível nestas duas

figuras. No entanto, todos os técnicos manifestaram a convicção de que as ações de gestão de

combustível planeadas são eficazes na prevenção de incêndios se realmente forem executadas.

À baixa taxa de execução das medidas de gestão de combustível planeadas deve acrescentar-

se que, conforme perceção evidenciada nas entrevistas aos técnicos, o acompanhamento e a

monitorização dos planos é praticamente nulo por parte das entidades competentes (CMDF,

GTF, ICNF-CPE, etc.), e em consequência a fiscalização também, pelo que o retrato evidenciado

pelos dados fornecidos é, naturalmente, distorcido.

A perceção espacial traduzida pelas duas figuras referidas, vem corroborar o constrangimento

apontado pelos técnicos (Quadro 7.6 e 7.7) dos gabinetes técnicos florestais da falta de

cumprimento da legislação ao nível das faixas de rede secundária, comprometendo

transversalmente proprietários privados, e as entidades gestoras das infraestruturas públicas e

privadas.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 106

Página 107

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

106

Quadro 7.6 – Rede secundária

Concelho 50 m

edificações

100 m

aglomerados, etc.

10 m

rede viária

Figueiró dos Vinhos Baixa Não 6 a 8 m RVM

Penela Baixa Baixa RVM

Góis Baixa Não RVM sim (ADISA); Ascendi não

Pedrógão Grande Baixa Baixa RVM parcial (bermas); Ascendi não

Pampilhosa da Serra Baixa Baixa RVM com ADISA

Arganil Baixa baixa RV acesso RP - cand. POSEUR

Castanheira de Pera Baixa baixa RVM – bermas

Ansião Baixa baixa Concessionárias - bermas e taludes

Alvaiázere Baixa baixa RVM e Concess - bermas (3m) – baixa

Sertã Baixa não RVM e Concess - bermas (3m)

Oleiros Baixa baixa; Parques ind. Sim IP - bermas (3m)

RVM - rede viária municipal - Fonte: Entrevistas

Em todos os concelhos a taxa de gestão de combustíveis em volta das habitações (faixa de 50

metros) é baixa, de acordo com a perceção dos técnicos entrevistados. A limpeza dos 100 metros

em volta dos aglomerados não é executada em três concelhos e nos oito restantes a taxa de

execução é considerada baixa. A gestão de combustíveis na rede viária, em termos gerais,

apenas é realizada na de responsabilidade municipal. É, no entanto, referido que a largura da

faixa raramente tem 10 metros para cada lado da via, atingindo quando muito 3 m. Esta perceção

foi também referida para as ações da responsabilidade das empresas concessionárias de

infraestruturas rodoviárias. Deve referir-se que durante as visitas feitas aos concelhos em

apreço, após os incêndios, foi verificado que a empresa Ascendi procedia à gestão de

combustível nos 10 metros para cada lado das vias.

A gestão de combustíveis na rede ferroviária não foi referenciada por nenhum técnico. Já

relativamente à gestão de combustíveis executada quer pela REN quer pela EDP de uma faixa

de largura não inferior a 10 m ou 7 m para cada um dos lados, consoante a linha seja de muito

alta e alta tensão ou de média tensão, em seis municípios foi declarada como executada. Nos

restantes cinco o assunto não foi referido (Quadro 7.7). Refira-se, no entanto, que não existem

evidências de gestão de combustível (mesmo que só superficial) no troço de 500m sob a linha

de média tensão que inclui o ponto de início, responsabilidade da EDP, tal como atestado nas

visitas ao local e observado na figura seguinte. Esta FGC está considerada na versão do PMDFCI

de Pedrogão Grande que ainda não se encontra aprovada e, de acordo com os dados

geográficos fornecidos pelo GTF, deveria ter sido intervencionada em 2017.

13 DE OUTUBRO DE 2017 107

Página 108

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

107

Figura 7.1

Quadro 7.7 – Rede secundária

Concelho 10 m

rede ferroviária

10 m ou 7 m

linhas elétricas

Figueiró dos Vinhos - -

Penela - executado

Góis - executado

Pedrógão Grande - -

Pampilhosa da Serra - -

Arganil - -

Castanheira de Pera - executado

Ansião - executado

Alvaiázere - executado

Sertã - executado

Oleiros - -

"-“ sem informação; Fonte: entrevistas

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 108

Página 109

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

108

Pode também inferir-se, pela observação do Figura 7.10 relativo ao incêndio de Pedrogão, que

as faixas de gestão de combustíveis obrigatórias e definidas na Lei para salvaguarda de pessoas

e bens, nomeadamente para proteção dos aglomerados, não foram definidas na sua totalidade

em sede de planeamento.

A rede primária é talvez a infraestrutura mais valorizada pela maioria dos técnicos dos GTF e

OPF entrevistados (Quadro 7.8).

Quadro 7.8 – Rede primária, mosaico e silvicultura

Concelho 125 m

rede primária

Oportunidades

Combate mosaico Silvicultura

Figueiró dos Vinhos executada - -

Penela - - -

Góis executada no PF Baixo - celuloses

Pedrógão Grande não há - - -

Pampilhosa da Serra executada Alto - Navigator comp.

Arganil executada Alto - PF

Castanheira de Pera não há - - não

Ansião não há - - -

Alvaiázere não há - - -

Sertã pouco executada Baixo - -

Oleiros pouco executada - - -

PF - perímetro florestal - Fonte: Entrevistas

Como pode ver-se nas Figuras 7.10 e 7.11, em três municípios a rede primária foi executada na

totalidade (Figueiró dos Vinhos, Pampilhosa da Serra, Arganil); em Góis apenas em área de

Perímetro Florestal. Em quatro concelhos não foi planeada rede primária e em três municípios o

grau de execução é baixo com o argumento de que incide em áreas privadas nas quais há

dificuldade na identificação dos proprietários. Refira-se que não foi ainda utilizada em Portugal a

prerrogativa prevista na Lei do dever de declarar estas faixas como utilidade pública, nos termos

e para os efeitos previstos no Código das Expropriações.

13 DE OUTUBRO DE 2017 109

Página 110

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

109

Figura 7.2 Efeito da Rede Primária de Faixas de Gestão de Combustível na progressão do incêndio de Góis

(indicadores determinados a partir de imagens SENTINEL-2).

Na Figura 7.2 podem ser observados dois casos de sucesso no aproveitamento de rede primária

como oportunidade de combate, os pontos a) e b), intervencionados em 2015 e 2016

respetivamente. Na imagem da esquerda, que representa o NDVI (normalized difference

vegetation índex), aqui utilizado como um indicador da variabilidade da quantidade de biomassa,

é possível observar as diferenças deste indicador entre a faixa da rede primária e a sua

envolvente. É ainda de salientar que estas faixas permitiram conter o incêndio mesmo em zonas

onde este apresentou elevada severidade (imagem da direita). Na zona de fronteira entre os

municípios de Góis e de Pampilhosa da Serra, entre o ponto geodésico de Malhadas e o Cabeço

da Mata, a faixa de rede primária executada em 2015 e 2016 terá sido utilizada pelas forças de

combate para conter um dos flancos do incêndio de Góis.

Na Figura 7.3 pode ver-se um outro caso de sucesso semelhante no incêndio de Pedrogão

Grande, numa faixa associada ao Parque Eólico que fica na fronteira dos municípios de Penela

e Figueiró dos Vinhos.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 110

Página 111

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

110

Figura 7.3 Efeito da faixa associada ao Parque Eólico situado na interface dos municípios de Penela e Figueiró

dos Vinhos e identificada no PMDFCI de Penela como Rede Primária de FGC.

No entanto no ponto c) da Figura 7.2, a faixa de rede primária não permitiu a contenção do

incêndio. Não foi possível apurar se tal se deveu por não ter sido utilizada como oportunidade de

combate ou se, a ter sido utilizada, não permitiu um combate eficaz. Esta secção da faixa terá

sido intervencionada em 2015, mas pelo NDVI parece não ter sido em toda a extensão e largura.

Estes casos vêm reforçar a utilidade das faixas de gestão de combustível em rede primária se

utilizadas pelos combatentes.

Na Figura 7.4 evidencia-se o efeito benéfico na contenção do incêndio relacionado com a

existência de áreas ardidas em anos anteriores, até três anos. A inclusão destes incêndios (área

ardida e suas características físicas) no planeamento, que deve ser atualizado anualmente em

função destes acontecimentos, é essencial. Mais uma vez, as forças de combate podem tirar

enorme partido deste conhecimento.

13 DE OUTUBRO DE 2017 111

Página 112

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

111

Figura 7.4 – Efeito das áreas ardidas de outros incêndios em datas anteriores

Uma das conclusões retiradas, também das entrevistas realizadas, foi o facto do tratamento de

combustíveis em mosaico não ser utilizado em termos gerais, muito embora fosse valorizada

por alguns técnicos a sua aplicação em locais estratégicos para impedirem, ou dificultarem, a

progressão dos incêndios. Esta modalidade de gestão de combustíveis pode constituir-se no

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 112

Página 113

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

112

futuro como a mais interessante do ponto de vista económico, isto se o seu delineamento

assentar no conhecimento do histórico dos incêndios e do comportamento do fogo.

Tendo em consideração toda a informação disponível, enviada pelo ICNF (incluindo cortes finais

e culturais os Perímetros Florestais em regime de cogestão), pela Altri, The Navigator Company

e EDP, de gestão ativa em áreas arborizadas e de matos que vise a redução de combustíveis,

conclui-se que esta componente representa 9,6% da área florestal total (inclui povoamentos

florestais e matos – COS2010), no período 2012 a 2017, i.e, menos de 2% ao ano que

corresponde a um valor manifestamente baixo. A The Navigator Company, por ano, procede à

gestão de combustíveis em 19,7% da área total gerida pela empresa, enquanto a Altri, por ano,

em média, gere 25,1% do espaço florestal sob sua gestão. Estes valores são substancialmente

superiores aos 2% referidos acima, porém convirá referir que, como não foi feita uma analise

espacial aos dados, não é conhecida a área que efetivamente foi tratada, ou seja, esta área pode

refletir muitas ações levadas a cabo nos mesmos locais, e dessa forma apenas traduz o esforço

das entidades, não existindo a certeza se no espaço esta percentagem se mantem.

As empresas papeleiras são detentoras de uma área significativa dentro do perímetro

do incêndio de Góis. Informação recebida da Navigator Company é significativa no que respeita

aos efeitos que a gestão florestal e do combustível pode ter num incêndio desta grandeza:

 44% da superfície das unidades de gestão inseridas no perímetro do incêndio não

arderam;

 20% da área ardida de eucalipto foi classificada como não tendo dano;

 a severidade do fogo distribuiu-se da seguinte forma: 20,6% - reduzida; 31,7% -

reduzida a moderada; 35,1% - moderada a elevada; 12,6% - elevada.

Ainda no âmbito da gestão ativa em áreas arborizadas e de matos, evidencia-se que nos

concelhos de Arganil, Penela, Castanheira de Pera e Góis, as áreas geridas para redução de

combustível chegam a ultrapassar os 15% da área total florestal.

A este nível da silvicultura, foi referido recorrentemente pelos técnicos dos GTF um problema

que se prende com a aplicação do Regime Jurídico aplicável às Ações de Arborização e

Rearborização (RJAAR), já que o ICNF aprova muitos pedidos de arborização com eucalipto cujo

parecer do município é negativo.

O Quadro 7.9 seguinte considera o esforço anual por tipologia de faixas de gestão de

combustível (FGC) (intervenções efetuadas no âmbito da execução dos PMDFCI). Neste caso,

as áreas intervencionadas mais do que uma vez no período 2012 a 2017 são consideradas.

Foram feitas sobreposições entre todos os dados executados e a FGC planeada para extrair

dados da tipologia de faixa. Grande parte dos mosaicos de parcelas de gestão de combustível

estão associados à atuação dos sapadores florestais.

13 DE OUTUBRO DE 2017 113

Página 114

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

113

Quadro 7.9 – Custos estimados por tipo de ação planeada em PMDFCI

Ações previstas nos PMDFCI Ha

Custos estimados

(milhares de euros)

Instalação

Manutenção

anual

Faixas de proteção ao edificado (códigos 1, 2 e 3) 1862 745 93

Faixas confinantes à RVF (código 4) 584 58 19

FGC associadas às infraestruturas de distribuição de

energia elétrica (códigos 7, 10 e 13) 1576 788 52

Redes primárias de faixas de gestão de combustível

(código 8) 1351 676 84

Rede terciária de FGC (código 9) 5 0,2 0

Mosaicos de gestão de combustíveis (código 11) 2795 279 56

Faixa de proteção imediata aos pontos de água (código

12) 8 3 0,4

Totais 8180 2549 306

Fonte: informação vetorial recolhida e cálculos próprios

As faixas de proteção ao edificado, que englobam as faixas de 50 metros em torno das

edificações e os 100 metros de faixa em volta dos aglomerados populacionais corresponde a

23% das ações previstas nos planos para os 11 concelhos. Em número de ha, este valor supera

o esforço de gestão de combustíveis a realizar nas faixas associadas às infraestruturas de

distribuição de energia elétrica, que representa 19% do total, mas também a obra de instalação

de rede primária (17% do total). Neste ponto convirá enfatizar que a área executada associada

às infraestruturas de distribuição de energia elétrica é superior à de Rede Primária de FGC.

Conforme pode ver-se nas Figuras 7.10 e 7.11 o território está pontuado por ações de gestão

de combustível desenvolvidas por iniciativa de proprietários privados. Este trabalho, apesar de

constituir a maior percentagem (37%) do esforço de gestão de combustíveis realizado, tem

reduzida eficácia na contenção de incêndios, podendo, contudo, contribuir em alguns casos para

a diminuição da severidade do fogo no momento em que percorre essas propriedades. A

dispersão destas ações constitui, no entanto, um esforço desmesurado do ponto de vista

financeiro e inglório se se tiver uma visão do conjunto.

Olhando para os custos estimados para a instalação e manutenção das faixas associadas às

diferentes redes de DFCI, planeadas na área dos 11 concelhos, pode concluir-se que a

instalação de faixas de gestão de combustível associadas às infraestruturas de distribuição de

energia elétrica representa o investimento mais elevado, logo seguido do investimento para a

proteção do edificado. O custo estimado de manutenção das faixas para proteção do edificado é

o mais alto, enquanto a manutenção das faixas da rede elétrica assume valores estimados,

comparativamente, mais baixos. A instalação da rede primária tem um custo estimado inferior

aos das redes já referenciadas, contudo o custo da manutenção é mais alto, sendo, no entanto,

inferior em valor absoluto ao custo da manutenção das faixas para proteção do edificado.

7.1.4 A ligação da prevenção à pré-supressão e supressão

Alguns técnicos apontaram críticas à definição tardia do período crítico e à falta de prontidão do

dispositivo em função do índice de risco meteorológico.

Foi referido um bom, ou pelo menos normal, relacionamento dos GTF com a GNR, sobretudo

através dos GIPS apontando, no entanto, a antecipação da GNR na aplicação de coimas, antes

que a CM possa tentar convencer os proprietários através de uma notificação.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 114

Página 115

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

114

A maioria dos técnicos considera que a informação operacional que recebe do ICNF e de outras

entidades é útil e suficiente, no entanto dois técnicos referiram que peca por tardia.

Os técnicos apontam a necessidade de preparar as populações para ocorrências como a de

Pedrogão, através de um trabalho pedagógico continuado e dirigido.

O deficiente acompanhamento da execução dos planos já aludido contribui para a falta de

integração do combate na prevenção. Foi referido nas entrevistas que, em grande parte dos

casos, os dados da prevenção estrutural relativos ao Inverno e Primavera de 2016/2017 não

foram compilados pelos GTF até julho de 2017, não sendo, portanto, considerados nas

cartografias de apoio à decisão para a campanha de 2017.

De acordo com a informação dos técnicos entrevistados o relacionamento com dispositivo de

combate DECIF é em geral bom, muito embora tenha sido referida alguma deficiência na

participação dos GTF no TO e nos PCO. Por outro lado, a maioria dos técnicos que responderam

acha que os POM não são tidos em conta nos TO.

De um modo geral todos os GTF tiveram algum tipo de envolvimento no incêndio de Pedrogão e

Gois. No entanto, esse papel foi sobretudo o fornecimento de informação nos PCO e ativação

de máquinas de rasto. Alguns técnicos referem que nem sequer foram chamados ao PCO. Em

quatro casos em sete, existe um procedimento estabelecido para ativação de máquinas pesadas.

Não há relatos de intervenção direta na tomada de decisões ao nível de combate a qual, segundo

alguns técnicos, seria vantajosa, tendo em conta o conhecimento do terreno. Metade dos

técnicos acha que faltaram meios no incêndio de Pedrogão e que houve falhas de coordenação.

Há críticas também à falta de formação dos bombeiros e ao facto de os comandantes não serem

escolhidos em função das suas competências. Houve críticas também de descoordenação no

PCO.

Houve igualmente críticas às falhas de comunicação, sobretudo por motivos organizacionais.

Apesar das críticas ao dispositivo de combate, a maioria dos técnicos considera que as

condições foram excecionais em termos de meteorologia e de comportamento do incêndio.

A conclusão mais significativa relacionada com a ligação entre a prevenção e o combate e que

advém diretamente dos dados vetoriais compilados é a da utilidade das faixas de gestão de

combustível em rede primária apenas e só se utilizadas pelos combatentes. Acrescenta-se que

as forças de combate podem tirar enorme partido do conhecimento de todas as ações de

prevenção (sua localização e tipologia) executadas no território, mas também considerando as

áreas ardidas e suas características físicas.

A análise da ocupação do solo de três dos muito grandes incêndios ocorridos em 2017, reflete

de forma expressiva a falta de aproveitamento de oportunidades no combate, criadas por

reduzidas cargas e continuidades de combustíveis – independentemente da sua origem - com

expressão importante em territórios percorridos pelo fogo.

Incêndio Data início Data fim Área ardida % area agrícola

Chã/Alijó 16/07 18/07 5.597 36,91

Vila Nova Foz Côa 17/7 21/7 2.526 43,81

Mealhada 10/08 14/08 1.563 43,61

Fonte: EFFIS

No âmbito de intervenções/investimentos dedicadas à gestão de combustíveis em espaços

florestais, recorrendo-se a princípios de localização estratégica, assume-se que cerca de 20 %

de território intervencionado é satisfatório para a contenção de grandes incêndios florestais se

estas oportunidades forem devidamente utilizadas nas ações de combate. Nos incêndios

referidos, apesar da localização dos mosaicos agrícolas poder não ser estratégica, estes

ocupavam entre 37 e 44 % do território ardido, apresentando cargas e continuidades de

combustíveis extremamente reduzidas (como nunca se conseguem em espaços florestais, já que

13 DE OUTUBRO DE 2017 115

Página 116

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

115

se tratam fundamentalmente de culturas perenes, vinha, olival, amendoal), mas que não foram

suficientes para impedir que estas ocorrências se transformassem em muito grandes incêndios

florestais. Esta constatação põe em causa a viabilidade e a racionalidade de qualquer estratégia

de prevenção – ou de intervenção – se não criarmos condições que impliquem a

responsabilidade e obrigatoriedade da sua utilização pelas forças de combate, que está

intimamente associada ao uso do conhecimento e à implementação de estratégias adequadas

na gestão do fogo e das intervenções.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 116

Página 117

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

116

Figuras 7.10 Pedrogão Grande – trabalho de gestão de combustíveis planeado/executado, planeado/não

executado e não planeado.

13 DE OUTUBRO DE 2017 117

Página 118

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

117

Figuras 7.11 Gois – trabalho de gestão de combustíveis planeado/executado, planeado/não executado e não

planeado.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 118

Página 119

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

118

7.2. A prevenção operacional e a deteção de incêndios na área afetada

7.2.1. A identificação das causas

Conhecer as causas dos fogos o melhor possível é fundamental para desenhar políticas

preventivas e planear ações que resultem na redução das ignições. Na verdade, só são

conhecidas as causas de uma fração limitada das ocorrências de fogo rural em Portugal. Nos

municípios de interesse para este relatório cerca de um terço das ocorrências de fogo rural tem

causa indeterminada, o que compara favoravelmente com a média nacional (Quadro 7.10). No

ano de 2017, e até ao momento, a percentagem de causas indeterminadas é quatro vezes inferior

ao valor médio anual de 2006-2016, o que configuraria uma enorme eficácia no apuramento das

causas de ignição. Efetivamente, é provável que um número tão baixo reflita o facto de uma parte

das ignições estar ainda a ser investigada.

Quadro 7.10. Percentagem de fogos rurais com causa indeterminada após investigação.

Município Média anual

(2006-2016) 2017*

Alvaiázere 37,5 36,4

Ansião 42,9 23,5

Arganil 12,5 0,0

Castanheira de Pera 36,4 0,0

Figueiró dos Vinhos 33,3 8,3

Góis 13,3 6,7

Oleiros 45,5 20,0

Pampilhosa da Serra 16,7 0,0

Pedrogão Grande 36,0 8,7

Penela 37,5 11,1

Sertã 43,2 8,4

Média regional 32,2 8,4

Média nacional 35,8 33,6

Fonte: http://fogos.icnf.pt/sgif2010/

*Até 26 de setembro

7.2.2. Sensibilização e fiscalização

A sensibilização para a necessidade de intervenção em redor das habitações faz-se caso a caso

e no âmbito da fiscalização, não havendo ações coletivas de sensibilização, mas no passado

terá havido distribuição de folhetos à população.

Os técnicos das organizações de produtores florestais e GTF foram unânimes no que respeita à

grande dificuldade em fazer cumprir a legislação referente à defesa de casas e aglomerados

habitacionais através da execução da rede secundária de faixas de gestão de combustível. Essa

dificuldade advém dos problemas de identificação dos proprietários (por vezes mesmo no caso

dos prédios urbanos), devido à sua ausência e à existência de propriedades indivisas devido a

heranças não regularizadas. Alguns técnicos mencionaram também que o esforço de

fiscalização e sensibilização da GNR/GIPS é insuficiente e pouco articulado com os GTF, por

exemplo são efetuadas autuações antes que o município possa fazer o trabalho de aproximação

e sensibilização. Por conseguinte o processo global de notificação, aplicação de coimas e

execução da rede secundária é deficiente, sendo por vezes desencadeado por reclamações de

proprietários vizinhos.

13 DE OUTUBRO DE 2017 119

Página 120

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

119

7.2.3. Vigilância, pré-posicionamento e deteção

No DECIF2017 a RNPV é constituída por 233 postos de vigia distribuídos pelo território

continental, dos quais 72 (30,9%) entram em funcionamento a 15 de maio de cada ano,

constituindo a rede primária. Os restantes (rede secundária) apenas são guarnecidos no primeiro

dia de julho.

A região afetada pelos incêndios dispõe de boa cobertura pela RNPV. No entanto, apenas dois

postos de vigia estavam ativos no dia 17 de junho de 2017, respetivamente Caveiras (41-01) e

Chão do Bardo (42-02), uma vez que os restantes integram a rede secundária. Ambos estão

relativamente distantes de Escalos Fundeiros, o primeiro (e principal) local de início do fogo de

Pedrogão Grande (Quadro 7.11), sendo que a 41-01 dista menos de 10 km do ponto de início

do fogo de Góis.

A RNPV detectou 27,8% das ignições (excluindo falsos alarmes) ocorridas nos dias 17 a 24 de

junho nos concelhos em causa. Os fogos de Pedrogão Grande e Góis não se encontram entre

elas. A rápida deteção de um fogo nascente é crucial, uma vez que desencadeia a sequência de

processos que constituem a resposta à ocorrência. Como tal, e à semelhança de outras

atividades da gestão do fogo, a prontidão da RNPV devia ser função exclusiva das condições

pirometeorológicas e não estar subordinada ao rígido calendário do DECIF.

Quadro 7.11 Postos de vigia mais próximos dos pontos de início dos fogos de Pedrogão Grande e Góis.

Posto de vigia Município Distância linear (km)

Pedrogão Grande Góis

Muro (42-08) Pedrogão Grande 8,5 20

Ortiga (42-04) Castanheira de Pera 10 13

Sto. António da Neve (42-01) Castanheira de Pera 13 9,5

Alto do Pião (42-03) Figueiró dos Vinhos 11,5 23,5

Caveiras (41-01) Pampilhosa da Serra 20 8,5

Chão do Bardo (42-02) Miranda do Corvo 14 18

A vigilância móvel deve complementar a RNPV, especialmente em áreas não cobertas pela

vigilância fixa, onde o risco de incêndio é mais elevado, onde os valores a proteger são mais

elevados, e nos dias e horas do dia com maior risco de ignição. Tanto quanto foi possível apurar

a região não tem práticas de vigilância móvel nem meios de combate pré-posicionados em locais

estratégicos. Constituem exceção as equipas de sapadores florestais de Pedrogão Grande e

Castanheira de Pera, as quais no dia 17 de junho estavam pré-posicionadas.

7.3. Avaliação do perigo meteorológico de incêndio

O papel do IPMA nas atividades de gestão do fogo consiste na produção e disseminação de

informação meteorológica e de indexação do perigo meteorológico de incêndio e do risco de

incêndio que permitam decisões fundamentadas pelas entidades com responsabilidades

operacionais, nomeadamente a ANPC e o ICNF. A informação pirometeorológica é essencial ao

bom funcionamento de qualquer sistema de gestão do fogo e é relevante para quase todas as

atividades, nomeadamente prevenção de ignições, regulação do uso do fogo em meio rural,

planeamento do fogo controlado, definição de níveis de prontidão para a vigilância, deteção e

combate a incêndios, e planeamento das operações de combate.

Na semana dos incêndios de Pedrogão Grande e Góis o IPMA emitiu avisos diários relativos à

“persistência de valores elevados de temperatura máxima” ou “persistência de valores elevados

(...) em especial nas regiões do interior” nos distritos de interesse para os eventos posteriores.

Os avisos iniciais foram para o distrito de Castelo Branco (dia 12), sendo alargados a Leiria e

Coimbra (dia 14), o mesmo dia em que o alerta para Castelo Branco passou de amarelo para

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 120

Página 121

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

120

laranja, o mesmo sucedendo no dia seguinte para os outros distritos. Daí em diante os avisos

mantiveram-se, sendo o último emitido no dia 21 e apenas para Castelo Branco.

O IPMA interage com a ANPC através de briefings, na forma de apresentações formais ou orais,

os quais ocorreram nos dias 13, 14 e 16 de junho e diariamente de 18 a 24 de junho. O conteúdo

das apresentações é variável, incluindo a carta de superfície e imagens de satélite e previsões

na forma de mapa de temperatura, humidade relativa e direção e velocidade do vento para três

dias, bem como as classes de Risco de Incêndio (RCM) associadas.

O briefing do dia 14 de junho deu conta do agravamento da situação meteorológica a partir do

dia 16 e culminando nos dias 17 e 18, com previsões do aumento da temperatura máxima do ar

e diminuição da humidade relativa (e sem recuperação noturna no interior do país), aliás como

se veio a verificar. Muito significativamente, apontou para “instabilidade no interior, mais provável

a partir do dia 17 com trovoada e aguaceiros”.

O briefing do dia 16 assinalou condições críticas para os dois dias seguintes, informando que a

humidade relativa mínima na região em causa seria ≈15%. Finalmente, às 18:05 do dia 17 de

junho, foram pedidos ao IPMA meteogramas para a região, os quais são anexados à ocorrência

(pelo CNOS) às 19:18. O IPMA continuou a disponibilizar diariamente meteogramas para

diversos locais na região até ao dia 23 de junho.

Em Portugal o apoio à decisão baseado na informação pirometeorológica está subdesenvolvido,

pese embora o manancial de informação atualmente disponível e que procede de várias fontes.

Além do IPMA há que referir o European Forest Fire Information System e o serviço “Mapas e

Dados Meteorológicos e Florestais”, disponibilizado pelo Instituto Dom Luiz e apoiado pela ANPC

e ICNF. Este subaproveitamento da informação é consequência de:

 Reduzida capacidade técnica e de assimilação de conhecimento por parte do SDFCI;

 o planeamento e níveis de prontidão do DECIF são rígidos, obedecendo a uma

calendarização que não é compatível com a variação inter-sazonal das condições

meteorológicas e portanto das necessidades das atividades de gestão do fogo;

 o facto do SDFCI não estar dotado de competências de análise de incêndios implica

que não se sinta a necessidade de profissionais especializados em meteorologia

aplicada a incêndios nem haja pressão institucional para a sua formação;

 assim, os organismos que integram o SDFCI não dispõem de técnicos que traduzam

as previsões e observações meteorológicas e os índices de perigo e risco de

incêndio em termos de comportamento do fogo, uma lacuna que é inaceitável num

sistema contemporâneo de gestão do fogo e que tem impactos óbvios nos resultados

alcançados.

As considerações elencadas no parágrafo anterior determinam que a informação

pirometeorológica fornecida pelo IPMA seja demasiado genérica e careça de elementos

adicionais e a respetiva interpretação para fins operacionais, como sejam a probabilidade de

ignição, o potencial para fogos rápidos, intensos ou de comportamento mais errático, e as

dificuldades de supressão e consolidação perimetral. Estranhamente, uma vez que o IPMA os

produz e são diretamente traduzíveis para fins operacionais (ao contrário do índice RCM, de

interpretação subjetiva), não são transmitidos à ANPC os índices de perigo meteorológico do

sistema FWI, nem o índice de instabilidade atmosférica de Haines.

Independentemente das limitações e insuficiências apontadas, consideramos que o IPMA

providenciou informação assaz detalhada e exata relativamente às condições

pirometeorológicas, antes e durante os eventos. Esta informação, e tendo em conta as

necessidades atuais do SDFCI, era suficiente para informar o processo de tomada de decisão

por parte da ANPC no sentido de responder adequadamente à conjuntura meteorológica.

13 DE OUTUBRO DE 2017 121

Página 122

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

121

8. O COMBATE AOS INCÊNDIOS DE PEDRÓGÃO GRANDE E DE GÓIS

8.1 O dispositivo e o planeamento

8.1.1 O Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF)

A Comissão Nacional de Proteção Civil, na qualidade de órgão de coordenação em matéria de

proteção civil, aprova anualmente uma Diretiva Operacional Nacional (DON) que visa

estabelecer, para cada ano, o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF),

conforme proposta elaborada pela Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) e que é sujeita

a despacho de homologação pela respetiva tutela da Administração Interna.

O Combate constitui o 3 º pilar do sistema de defesa da floresta contra incêndios, sendo que a

prevenção estrutural e a prevenção operacional constituem-se o 1 º e 2 º pilares, respetivamente

da responsabilidade do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e da

Guarda Nacional Republicana (GNR).

No âmbito do Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro (SIOPS), é constituído um

dispositivo que garante em permanência, ao longo de todo o ano, a resposta operacional

adequada e articulada de forças de proteção e socorro em conformidade com os graus de

gravidade e probabilidade de incêndios florestais.

Daqui decorre que a elaboração da referida Diretiva Operacional Nacional, que tem um carácter

universal, permanente e flexível e que garante a arquitetura de direção, comando e controlo,

regula a coordenação institucional, articulação e otimização da atuação operacional. Constitui

um Instrumento de planeamento, organização, coordenação e comando operacional.

A DON serve ainda de base à elaboração dos planos de operações de resposta aos incêndios

florestais e de referência à elaboração das diretivas, planos ou ordens de operações de todos os

agentes e entidades integrantes do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais

(DECIF). A referida DON aplica-se a todo o território continental e aos organismos e instituições

que concorrem para a defesa da floresta contra incêndios, bem como todos os que cooperam

nesta matéria.

Os meios de combate do DECIF

1. O DECIF compreende as seguintes forças de empenhamento permanente:

a. Corpos de Bombeiros (CB);

 Equipa de Combate a Incêndios (ECIN´s)

 Equipas de Intervenção Permanente (EIP´s);

 Grupos de Intervenção Permanente (GIPE)

b. Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS) da GNR;

c. Força Especial de Bombeiros (FEB);

d. Equipas de Sapadores Florestais (ESF), contratualizadas com o ICNFno

âmbito do Programa Nacional de Sapadores Florestais;

e. Equipas da AFOCELCA (Agrupamento Complementar de Empresas do

Grupo Navigator e Grupo Altri)

2. O DECIF compreende os seguintes meios aéreos de empenhamento permanente

ou eventual:

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 122

Página 123

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

122

a. Helicópteros de Ataque Inicial (HEATI);

b. Helicópteros de Ataque Ampliado (HEATA);

c. Aviões de Ataque Ampliado (AVATA);

d. Meios Aéreos de Reconhecimento, Avaliação e Coordenação (MARAC).

3. O DECIF compreende também as seguintes forças e meios:

a. Técnicos do ICNF, da ANPC e dos Gabinetes Técnicos Florestais (GTF) das

Câmaras Municipais (CM), ou outros elementos com capacitação técnica,

qualificados para apoio ao Comandante das Operações de Socorro (COS)

/Posto de Comando Operacional (PCO), ao nível do planeamento dos TO e

gestão da informação técnica de âmbito florestal, bem como da análise e uso

do fogo;

b. Corpo Nacional de Agentes Florestais, atuando no âmbito da gestão, defesa

e salvaguarda do património florestal;

c. Vigilantes da natureza atuando no âmbito da vigilância em áreas da Rede

Nacional de Áreas Protegidas (RNAP);

d. Meios das Forças Armadas (FFAA);

e. Meios GNR, PSP, DGAM e INEM;

f. Outras forças e meios, qualificados para a execução de missões de combate

a incêndios florestais, de entidades com especial dever de colaboração, onde

se integram os meios coordenados pelos Serviços Municipais de Proteção

Civil;

8.1.2 O planeamento para o período de 16 a 18 junho

Como já foi referido no capítulo 5 (meteorologia) deste relatório as condições meteorológicas

previstas e verificadas para os dias 17 de junho e seguintes eram de risco muito elevado ou

extremo, como de resto e à data foi amplamente noticiado pela maioria dos órgãos de

comunicação social (OCS). Ou seja, as previsões difundidas bem como os briefings realizados

pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) com o Comando Nacional de Operações

de Socorro (CNOS) não deixaram de dar nota das condições previstas para aquele período.

Tanto assim é que o CNOS determinou a passagem de alerta especial para o nível Amarelo para

todo o território desde o dia 16 de junho às 08h00 até dia 18JUN17 às 23h59, conforme

comunicado técnico operacional cujo assunto em destaque foram “CONDIÇÕES

METEOROLÓGICAS ADVERSAS – Perigo de incêndio florestal”.

Na descrição da situação meteorológica pode-se ler no 4º parágrafo do referido CTO, sublinhado

e a bold no comunicado técnico “entre os dias 16 e 18, a temperatura máxima poderá atingir

valores entre 40 e 43 º C nas regiões do interior…” associado a ventos moderados e a

humidades abaixo dos 30%. Sem dúvida que se estaria na presença de um quadro em que era

expectável tempo quente e seco com permanência de condições favoráveis à eventual

ocorrência e propagação de incêndios florestais.

Sabe-se também que estávamos em plena fase Bravo, em que os meios disponíveis e a

capacidade instalada é francamente menor do que a prevista e planeada para a fase Charlie.

Contudo não deixa de ser estranho que em sede de determinações operacionais, de acordo com

o ponto 4 do já referido CTO, o único meio de reforço pré-posicionado para o quadro previsto

fosse o Grupo de Ataque Ampliado (GRUATA) da Força Especial de Bombeiros (FEB), na base

de apoio logístico (BAL) de Castelo Branco.

13 DE OUTUBRO DE 2017 123

Página 124

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

123

Os Comandantes operacionais distritais, ouvidos em sede desta Comissão Técnica

Independente (CTI), foram questionados se, para além da determinação nacional, terá havido ao

nível distrital medidas de pré-posicionamento de meios. Todos estes elementos confirmaram que

não. Não tendo havido reforço do dispositivo para aquele período, já não foi antecipado o início

da fase Charlie, pelo que, com o dispositivo disponível, não seria possível pré-posicionar.

O aviso do IPMA 114/2017 apontando tempo quente para os distritos de Vila Real, Bragança,

Viseu, Guarda, Castelo Branco (nível laranja) veio a determinar o nível amarelo para os restantes

distritos, onde se incluía Leiria. Aqui também se exige ao planeamento uma capacidade de

análise dinâmica. Sabe-se que a estação meteorológica de Leiria, que sustenta os dados deste

distrito, está junto à cidade de Leiria. Pedrógão Grande dista da mesma cerca de 40 Kms (em

linha reta) para o interior, situando-se a menos de 1 Km do distrito de Castelo Branco e a menos

de 5 Km do distrito de Coimbra, pelo que os valores que refletem a sua situação meteorológica

são sempre muito mais próximos dos da região interior central do que dos valores próximos do

litoral. Sublinhe-se que a amplitude térmica entre Pedrógão e Leiria é, não raras vezes, superior

a 10 graus celsius, e numa linha Peniche-Pedrogão essa diferença é ainda mais acentuada, pese

o facto desses dois aglomerados populacionais pertencerem ao mesmo distrito e, por isso,

atribuírem-lhes previsões meteorológicas semelhantes.

Acresce que no relatório elaborado pela Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), de 06

de julho de 2017 e referente ao incêndio de Pedrógão, remetido à Senhora Ministra da

Administração Interna, se afirma que o número de ocorrências de incêndio florestal tem sido

muito baixo, deduzindo-se que por isso a probabilidade de novas ocorrências deveria ser

igualmente baixa. Este racional é reforçado no documento de resposta à senhora Ministra onde

se reafirma que: “… dado que na zona de Pedrógão não ocorriam incêndios há 10 anos,

por este facto a zona não era historicamente relevante.”Além de não haver rigor factual na

afirmação, a não ocorrência de incêndios numa série de anos não deverá constituir fundamento

para aliviar o planeamento operacional e a prevenção.

Os territórios da Região Centro, onde se inserem os distritos como Castelo Branco, Coimbra,

Leiria, Santarém, Guarda, não têm um histórico nem são caracterizados por terem número de

ocorrências significativo, ao contrário do distrito do Porto, Braga, ou Lisboa, são os distritos em

que as séries estatísticas demonstram um elevado número de ocorrências, embora em regra de

mais fácil resolução e dirimidas em grande percentagem no ataque inicial. Os territórios em

apreço registam menos ocorrências, mas têm grande potencial para que os incêndios percorram

grandes áreas atendendo, entre outras variáveis, à continuidade horizontal e vertical do

combustível e à orografia, características que concorrem para que os incêndios tenham potencial

de se transformarem em grandes incêndios florestais (GIF). Refira-se, para além do incêndio de

Pedrógão Grande, os de Góis, Mação, Oleiros, Sertã, entre outros, que ocorreram naquela região

do País no corrente ano.

Ou seja, para cada dia, para cada mês ou para cada ano que passa sem que um território,

caracterizado por elevado risco de incêndio florestal, seja fustigado pelo fogo, conduz a um

aumento gradual de risco de incêndio, situação que aconselharia a redobrar a atenção relativa a

novos incêndios. Por este motivo, medidas de ajustamento operacional, antecipando cenários,

teriam tido todo o sentido, se orientadas para o interior norte do distrito de Leiria, bem como para

os distritos de Castelo Branco e de Coimbra.

O planeamento da resposta operacional para o período de 16 a 18 de junho aplica-se do mesmo

modo aos incêndios de Pedrógão Grande e de Góis. Desde logo porque as determinações do

Comando Nacional foram de âmbito nacional, bem como os avisos do IPMA que abrangeram

todo o território.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 124

Página 125

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

124

O CTO que foi difundido a 15 junho pelas 12 horas determinando o início de Estado de Alerta

Especial, de nível Amarelo, foi ajustado ao escalão distrital e difundido para as seguintes

entidades: Presidentes da Câmara Municipal, SMPC, Presidentes de Junta, Comandante de

Corpos de Bombeiros, Centrais dos Corpos de Bombeiros e elementos que compõem o Centro

Coordenador Operacional Distrital (CCOD) de Coimbra. Em complemento foi difundida uma

mensagem via sms em 151201JUN17: “Emitido CTO 08/2017 - Condições Meteorológicas

Adversas - Perigo de incêndio florestal, determina-se a passagem ao Estado de Alerta Especial,

do SIOPS para o DECIF, de nível AMARELO a partir de 160800JUN17 até 182359JUN17; para

o Distrito de Coimbra, \\CDOS Coimbra”. Foi ainda remetido aos Órgãos de Comunicação Social

o Aviso à População n.º 8/2017 em 151539JUN17.

Foi igualmente enviado para todas as entidades os seguintes avisos meteorológicos do IPMA:

1. Aviso Meteo 114/2017 – em 150707JUN17;

2. Aviso Meteo 115/2017 – em 152355JUN17;

3. Aviso Meteo 116/2017 – em 161922JUN17.

Apesar do nível do Estado de Alerta Especial ser Amarelo, o Comando Distrital de Operações

de Coimbra não fez nenhum pré-posicionamento de meios, justificando esse comportamento

essencialmente por três razões:

Primeiro porque o dispositivo na FASE BRAVO é reduzido, ou seja, apenas 12 Equipas de

Combate a Incêndios (ECIN) num universo de 24 Corpos de Bombeiros, ou seja, em 17

concelhos do Distrito de Coimbra apenas 10 concelhos possuíam dispositivo especial de

combate a incêndios florestais durante a fase Bravo.

Segundo, os concelhos do interior do Distrito de Coimbra, tais como Arganil, Gois e Pampilhosa

da Serra, tinham dispositivo atribuído, no caso em apreço, uma equipa de combate a incêndios.

Terceiro, porque no CTO acima referido, estava estabelecido que operacionalmente ficaria pré-

posicionado na BAL de Castelo Branco o GRUATA da FEB, o que dava uma garantia de reforço

eficaz no interior do Distrito, caso se verificasse essa necessidade. Em suma o mesmo conjunto

de razões que foram aplicadas no distrito de Leiria.

8.2. O combate ao incêndio de Pedrógão Grande

8.2.1 O ataque inicial (ATI)

O conceito de ATI caracteriza-se como uma intervenção organizada e integrada, sustentada por

um despacho inicial até 2 minutos depois de confirmada a localização do incêndio, mobilizando

meios aéreos (se disponíveis) e organizada em triangulação dos meios terrestres de combate a

incêndios florestais.

Sabe-se, pelo que foi já demonstrado no capítulo 5 deste relatório, que se tratou de um incêndio

de grande complexidade, combatido em condições extremas. Sabe-se também, após análise

detalhada, que este incêndio “deu ao combate” uma janela de oportunidade de pouco mais de

duas horas para ser resolvido. Após esse período, e durante várias horas, “foi ele que se

comandou a si próprio”, conforme relatos de vários operacionais e outros técnicos ouvidos no

âmbito desta CTI, razão pela qual foi feita uma análise circunstanciada de todas as variáveis do

ataque inicial, incluindo uma reconstituição do mesmo.

O alerta para o incêndio em Escalos Fundeiros foi recebido, via 112pt, na sala de operações do

Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Leiria às 14H39M52. Efetuados os

procedimentos de validação, o alerta foi registado no Sistema de Apoio à Decisão Operacional

13 DE OUTUBRO DE 2017 125

Página 126

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

125

(SADO) às 14h43. A esta hora é feito o despacho de meios aplicando o conceito de triangulação,

três meios de combate de três CB’s diferentes e um meio aéreo ligeiro.

Os meios despachados são do Corpo de Bombeiros (CB) de Pedrógão Grande com um veículo

de combate a incêndios florestais (VFCI), um VFCI do CB de Castanheira de Pera e um VFCI do

CB de Figueiró dos Vinhos. O meio aéreo foi um Helicóptero ligeiro estacionado no Centro de

Meios Aéreos (CMA) de Ferreira do Zêzere, guarnecido com uma equipa helitransportada da

Força Especial de Bombeiros (FEB), que chegou ao teatro de operações às 15h05. Despacho

inicial sem reparos, dentro dos critérios estabelecidos para o despacho de 1º alerta e em

triangulação.

A Diretiva Operacional Nacional (DON) n.º 2 determina o acionamento de um único meio aéreo

em ataque inicial (ATI), o que aconteceu. Sendo esta a norma aplicável por defeito, não obsta a

que, conforme expresso na mesma Diretiva, possa existir empenhamento adicional de meios

aéreos de ATI, estando este pendente da anuência prévia do Comando Nacional de Operações

de Socorro (CNOS).

O facto de alguns locais oferecerem condições particularmente favoráveis à rápida propagação

de incêndios, como no caso em apreço, torna-se um fator de eficácia, mas também de eficiência,

que a decisão de acionar mais do que um meio aéreo, até um máximo de dois, em ATI, seja um

procedimento recomendável, mais célere. Esta possibilidade dispensaria a aceitação

previamente referida no momento da ocorrência, tendo essa mesma anuência sido dada, por

defeito, para áreas bem identificadas.

No passado foi estabelecida uma Instrução Operacional (INSTROP), Anexo 7 que estabelece

quais as freguesias prioritárias em Portugal continental para intervenção, em ATI, com mais do

que um meio aéreo. Na referida Instrução Operacional as três freguesias do concelho de

Pedrógão Grande, Graça, Pedrógão e Vila Facaia, são abrangidas por esses critérios.

Assim sendo, pode questionar-se porque razão um outro helicóptero (H08), estacionado no CMA

de Pampilhosa da Serra e estando disponível, não foi acionado para o incêndio de Pedrógão

Grande, seja como 2 º meio aéreo em ATI, seja até como primeira opção, atendendo que estava

muito mais perto do que o H31 que estava estacionado em Ferreira do Zêzere. Sendo certo que,

11 minutos volvidos, o H08 foi mobilizado para o incêndio de Góis. Mas, à hora de despacho de

meios, não havia ainda esse alerta.

Questiona-se igualmente, gorada a possibilidade referida em supra, porque razão o H15,

estacionado no CMA de Pombal e estando disponível, não foi ativado para o incêndio de

Pedrógão Grande, sendo esta classificada como freguesia prioritária tal como anteriormente

referido.

Sabe-se também que a distância entre o CMA de Pombal e o ponto de início do incêndio dista

41,9 Kms. O que está determinado é a mobilização dos meios aéreos em ATI dentro de um raio

de 40 Kms.

Atendendo às circunstâncias poderemos reconhecer que as decisões tomadas poderiam ter sido

outras se não houvesse um excesso de zelo na mobilização do helicóptero estacionado no CMA

de Pombal e se fosse considerado, desde o início, que as freguesias do concelho de Pedrógão

Grande estavam referenciadas como freguesias prioritárias, e por isso apresentando um risco

potencial significativo.

De facto, cerca de uma hora depois, há um alerta de incêndio para Moninhos Fundeiros, concelho

de Figueiró dos Vinhos. O H15 foi então despachado e efetuou duas missões. Infelizmente, horas

mais tarde, o incêndio de Pedrógão haveria de percorrer toda a área de Moninhos Fundeiros,

transformando em área ardida tudo o que, até ali, tinha conseguido ser evitado pela intervenção

dos meios terrestres, incluindo o H15.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 126

Página 127

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

126

A ativação do H15 ou até do H08 para Pedrógão Grande, em ATI e como freguesia prioritária,

teria provavelmente feito todo o sentido.

Note-se que o incêndio próximo, no concelho de Góis, distrito de Coimbra, que se iniciou às

14H52, ou seja 9 minutos depois do de Pedrógão Grande, do mesmo dia 17 de junho, mobilizou

dois meios aéreos em ATI usando a prerrogativa prevista na referida INSTROP. Uma hora e

trinta e seis minutos depois, conseguiu mobilizar mais dois meios aéreos pesados (aviões tipo

Canadairs). Reconhece-se que estas mobilizações para Góis terão influenciado na mobilização

de mais meios, em tempo útil, para Pedrógão Grande como mais à frente neste relatório ficará

demonstrado. Sabia-se igualmente que em plena fase Bravo o dispositivo disponível, incluindo o

aéreo, não tinha a dimensão do que viria a ter duas semanas depois, com o início da fase Charlie.

Da fita de tempo e desde a sua fase inicial retiramos os seguintes pontos de situação (POSIT):

 14h54 –“Incêndio a arder com muita intensidade necessita de mais meios para o

local…”

 15h10 –“Incêndio com muita intensidadepedido de mais uma brigada.”

 16h14 –“incêndio continua com grande intensidade.”

 16h57 –“Comando 3 de Pedrógão Grande informa que estão a haver muitas projeções

e que provocam vários incêndios.”

 17h04 –“Incêndio com três frentes ativas a arder com intensidade.”

Com indicações desta natureza era previsível desde muito cedo que a probabilidade de o

incêndio ser resolvido em ATI seria muito diminuta, pelo que haveria todas as condições para

prever a antecipação de meios de ataque ampliado (ATA).

No ATI a este incêndio o Corpo de Bombeiros de Pedrógão Grande, nos 30 minutos iniciais,

consegue mobilizar e entrar no Teatro de Operações com sete veículos e 23 bombeiros, para

além de meios de outros CB’s e de outros agentes de proteção civil.

Assistimos à mobilização de duas brigadas do distrito de Leiria, uma do centro com CB de

Batalha, Vieira de Leiria e Marinha Grande e outra do sul do distrito com CB de Caldas da Rainha,

Óbidos e Bombarral, meios que tiveram que percorrer grandes distâncias, sendo que alguns

destes meios entraram em operação entre as 22 e as 23 horas do dia 17 de junho.

8.2.2. O ataque ampliado (ATA)

O início do ataque ampliado é obrigatoriamente garantido sempre que, após atingidos os

primeiros 90 (noventa) minutos de intervenção desde o despacho do primeiro meio de ATI, o

incêndio não tenha sido dado ainda como dominado (ou em resolução) pelo Comandante das

Operações de Socorro (COS-única função obrigatória em todos os teatros de operações). A ação

de ATA pode mesmo iniciar-se antes de se atingirem os primeiros 90 minutos de operação,

quando a previsão de evolução do incêndio, efetuada pelo COS, assim o determine, e como no

caso em apreço as condições o recomendem.

Tecnicamente o incêndio de Pedrógão Grande passou à fase ATA às 16h13. No relatório da

ANPC de 06 de julho de 2017, sobre o incêndio de Pedrógão e remetido à Senhora Ministra da

Administração Interna, é referido o seguinte: “16h43 – Total de meios acionados é de 167

operacionais, 48 veículos, dois meios aéreos”.

Em rigor, e sem prejuízo de estarem de facto mobilizados aqueles meios, àquela hora estavam

em operação 68 operacionais, 22 veículos e não estava meio aéreo algum a operar naquele

incêndio. O H31 sai do teatro de operações às 16h10 e HESA02 sai também do TO às 16h03.

13 DE OUTUBRO DE 2017 127

Página 128

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

127

A passagem a ATA implica um reforço de meios com características de ataque ampliado, (meios

aéreos pesados e grupos de reforço), o que se consegue através de um processo de

balanceamento de meios intra-distritais de socorro e apoio terrestres, por despacho do CDOS,

ou de meios interdistritais ou nacionais terrestres e/ou aéreos, neste caso por despacho do

CNOS, obtendo-se, se necessário, a cooperação de outros organismos ou instituições nacionais

ou estrangeiras.

Assim e em rigor às 16h13 quando o incêndio passou à fase de ATA, não se verificou incremento

algum de meios, como seria expectável.

O que se verificou foi a mobilização de dois grupos de reforço de incêndios florestais (GRIF), de

Santarém e Castelo Branco, solicitados respetivamente às 17h30 e 18h00, o que fez todo o

sentido porque se trata de distritos vizinhos, sendo que de Coimbra não era possível mobilizar

meios, devido ao incêndio de Góis, e a ajuda mobilizada a norte de Coimbra, distritos como Viseu

e Aveiro, foi afeta ao incêndio de Góis.

Contudo às 17h50, são mobilizados para este incêndio um GRIF de Setúbal e outro de Évora,

que chegaram ao teatro de operações respetivamente às 23h00, ainda do dia 17 de junho, e às

03h18, já do dia 18 de junho.

Recuperando o Comunicado Técnico Operacional emitido e já referido, indicando que o único

meio pré-posicionado era o GRUATA da FEB na Base de Apoio Logístico (BAL) de Castelo

Branco, não se encontram razões explícitas que poderiam ter justificado a não mobilização deste

grupo. Na verdade, a partir das 16h13, quando se passou à fase de ATA, e sabendo que o

GRUATA da FEB estava a cerca de uma hora do incêndio, a mobilização desta força em tempo

útil poderia ter sido diferenciadora e ter contribuído de forma objetiva para a contenção do

incêndio de Pedrógão Grande.

Recorda-se que este grupo da FEB e um segundo grupo da FEB são mobilizados às 22h30 e

chegam ambos ao teatro de operações às 03h00 do dia 18 de junho, quando o incêndio já tinha

assumido uma enorme dimensão e as fatalidades já tinham ocorrido.

Em suma são mobilizados vários grupos de reforço, de vários distritos, e o único formatado,

posicionado num distrito vizinho, com estado de prontidão imediato, não é mobilizado. Nos

diversos contactos realizados pela CTI não se encontrou justificação racional para esta decisão.

Contudo este grupo seria posteriormente mobilizado para Nisa (18h05) para alertas de incêndio

sem expressão e de pouca intervenção. Sabe-se que a capacidade para organizar a mobilização

dos grupos é mais demorada na fase Bravo do que na fase Charlie, pela disponibilidade de

meios, pelo que havia em principio todas as razões para que este grupo tivesse sido mobilizado

para Pedrógão Grande, até como medida de antecipação, de forma a aproveitar a janela de

oportunidade que o incêndio permitiu, após a qual tudo seria mais difícil.

Verificou-se igualmente que com a passagem à fase de ataque ampliado, não houve incremento

algum de meios aéreos diferenciados nas primeiras duas horas desta fase do incêndio, a saber:

Quadro 8.1 – Missão diária dos meios aéreos

MEIO Chegada TO Saída TO Tempo no TO

Hotel31 15h05 16h10 01h05

Hotel31 18h06 19h14 01h08

HESA02 15h40 16h03 00h23

HESA02 17h58 19h16 01h18

Hotel15 18h25 19h20 00h55 Fonte: Relatório controlo missão diária – ANPC

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 128

Página 129

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

128

Como se pode verificar, o H31 em ATI abandona o teatro de operações às 16h10, o HESA02

esteve apenas 23 minutos no teatro de operações e abandona às 16h03 (Quadro 8.1). Estes dois

meios regressam ao teatro de operações às 18H06 e às 17h58 respetivamente, bem como o

hotel 15 que é desmobilizado de um outro teatro de operações e entrou no incêndio de Pedrógão

Grande às 18h25.

Na fita de tempo é referido que às 18h18 é acionado o H03-Kamov para este teatro de operações,

o que nunca veio a acontecer como se comprova pelo relatório de controlo missão diário desta

aeronave, já que à mesma hora foi mobilizado para São Miguel Rio Torto, concelho de Abrantes,

distrito de Santarém, onde efetuou sete descargas e onde esteve em missão até ao final do dia.

Assim conclui-se que entre 16h03/16h10 e as 17h58/18h06, um período de cerca de duas horas

na fase mais crítica do incêndio, não esteve nenhum meio aéreo a operar no incêndio de

Pedrógão Grande, nem em ATI nem em ATA. Precisamente no início da fase de ataque

ampliado, na qual os meios deveriam ser diferenciados, esta operação ficou desprovida de

qualquer meio aéreo.

Esta fase critica do incêndio é caraterizada por:

 Meios terrestres mobilizados, mas ainda em trânsito;

 meios aéreos escassos, não disponíveis durante duas horas e ausência de novas

mobilizações;

 assunção de um comportamento violento do incêndio, com o agravamento

progressivo contínuo, culminando no colapso da coluna de convecção, logo após as

20h00;

 alteração da orientação para oeste a partir de Pedrógão Grande, tendo como

referência a noroeste Castanheira de Pera e sudoeste Figueiró Vinhos;

 meios do CB de Pedrógão Grande e os demais empenhados no ATI acabam por ficar

na traseira do incêndio e/ou impedidos pelo incêndio de circular na rede viária do seu

concelho ;

 meios do CB de Castanheira de Pera, rapidamente envolvidos na defesa perimétrica

das aldeias no seu concelho, respondendo com dificuldade às diversas solicitações;

 meios do CB de Figueiró dos Vinhos, envolvidos igualmente na defesa perimétrica

das aldeias do seu concelho;

 ausência de condições para efetuar combate direto;

Estas características conduzem a uma situação de “muito fogo” disperso por imensa área

territorial, com escassez de meios, o que provoca uma sensação de abandono em que os CB

ficaram entregues a si próprios, sendo igualmente a sensação manifestada pelas várias das

pessoas ouvidas em sede desta CTI.

Na madrugada do dia 18 de junho o país é confrontado com a trágica notícia de dezenas de

vítimas mortais no incêndio florestal de Pedrógão Grande. Nesta fase a mobilização de meios e

recursos torna-se muito mais efetiva, quer em meios terrestres quer em meios aéreos. São

mobilizados meios nacionais e internacionais. São ativados os acordos bilaterais com Espanha

e com Marrocos e, na perspetiva internacional, foi ainda ativado o mecanismo europeu de

proteção civil, constituindo um efetivo de nove aviões anfíbios tipo Canadairs, dois aviões

anfíbios tipo Air tractor. Pela primeira vez se efetivou o pedido de ajuda de meios terrestres,

tendo o país vizinho mobilizado módulos terrestres de Madrid, Galiza, Andaluzia, Extremadura e

ainda um módulo da UME (Unidade Militar de Emergências).

13 DE OUTUBRO DE 2017 129

Página 130

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

129

A partir do dia 19 melhoram todas as condições, facilitando o controlo de setores do incêndio que

percorreu os sete concelhos, havendo ainda muito trabalho de combate, mas com um dispositivo

muito mais significativo à disposição do COS. Permitiu consolidar algumas partes do território

afetado e finalmente, no dia 21 de junho, foram reunidas todas as condições para dar o incêndio

como dominado, concretamente às 16h43, tendo o incêndio estado ativo quatro dias, uma hora

e quarenta e três minutos.

Para esta solução muito contribuíram as 224 entidades envolvidas, destacando-se desde logo

os 175 corpos de bombeiros de todo o país.

8.2.3. O posto de comando operacional (PCO)

O PCO é o órgão diretor das operações no local da ocorrência destinado a apoiar o responsável

pelas operações - COS - na preparação das decisões e na articulação dos meios mobilizados

para o teatro de operações, garantindo a máxima coordenação das várias forças presentes.

O PCO é constituído pelas células de planeamento, operações e logística, cada uma com um

responsável nomeado pelo COS, que assume, respetivamente, a designação de oficial de

planeamento, oficial de operações e oficial de logística.

O PCO tem como missões genéricas:

a) A recolha e tratamento operacional das informações;

b) A preparação das ações a desenvolver;

c) A formulação e a transmissão de ordens, diretrizes e pedidos;

d) O controlo da execução das ordens;

e) A manutenção da capacidade operacional dos meios empregues;

f) A gestão dos meios de reserva;

g) Preparação, elaboração e difusão de informação pública.

O faseamento do Sistema de Gestão de Operações (SGO) está bem definido, ou seja, são

balizados diferentes níveis de desenvolvimento do sistema de gestão das operações, tendo por

base os meios envolvidos. O faseamento do SGO pretende adequar a organização às

necessidades operacionais e automatizar a evolução da organização e a sustentação das

operações, proporcionando meios e ferramentas de comando e controlo adequados. Teremos

então:

 Fase I - nesta fase todas as funções e tarefas, inerentes ao comando e controlo, são

desempenhadas pelo COS. Esta fase adequa-se a operações pouco complexas, até

ao máximo de empenhamento de seis equipas de intervenção, independentemente

da sua tipologia e titularidade. O COS será o bombeiro mais graduado, presente no

teatro de operações (eg. O ATI dos Incêndios Florestais).

 Fase II - nesta fase as funções e tarefas necessárias ao comando e controlo,

necessitam, obrigatoriamente, da ativação da célula de operações Adequa-se a

operações envolvendo meios correspondentes até três Grupos. O COS tem de

pertencer à carreira de oficial bombeiro ou ao quadro de comando de um Corpo de

Bombeiros (CB). Obriga à instalação de um Posto de Comando (PC) em local

adequado e devidamente identificado.

 Fase III - deve ser implementada em operações que tendem a tornar-se complexas,

obrigando à ativação das células de planeamento e de logística. É adequada para

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 130

Página 131

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

130

operações que envolvem meios correspondentes até 18 grupos. A função de COS é

desempenhada, por um comandante de CB. A célula de operações deverá ser

chefiada, preferencialmente, por um elemento do quadro de comando, do CB com

responsabilidade pela Área de Atuação (AA). São designados comandantes de setor

dedicados. São implementadas, na ZCR (Zona de Concentração e Reserva), as áreas

de reabastecimento e reserva. É ativada, pelo menos uma Equipa de

Reconhecimento e Avaliação da Situação (ERAS).

 Fase IV - será implementada num teatro de operações de grande envergadura e/ou

complexidade. O SGO desenvolve-se na plenitude da sua organização. Podem existir

até seis setores, cada um deles comportando até seis grupos. As células de

Planeamento e de Logística executam tarefas diferenciadas e podem integrar

especialistas. As células do PCO são asseguradas, preferencialmente, por Equipas

de Posto de Comando Operacional (EPCO), pré formatadas e devidamente treinadas

para o efeito. A função de COS é assumida, preferencialmente, por um elemento da

estrutura operacional da ANPC.

No Incêndio de Pedrógão Grande, o PCO foi inicialmente instalado às 17h13 em Escalos

Fundeiros, numas instalações disponibilizadas pela Associação Recreativa de Escalos. A viatura

de comando e comunicações (VCOC) de Peniche, que tinha sido mobilizada para o local, chegou

ao PCO às 18h58. Rapidamente se concluiu que o local escolhido não é o melhor, atendendo

que não tem acesso ao SADO (por não ter internet), para além de dificuldades de comunicações

rádio. O incêndio tinha já percorrido uma significativa distância desde o seu ponto de início, pelo

que a esta hora foram dadas indicações para reposicionar o posto de comando.

Depois de considerarem outra possibilidade, o PCO foi instalado na zona industrial de Pedrógão

Grande, concretamente em armazéns da Câmara Municipal. O PCO foi dado como operacional

nesta nova localização às 19h55.

Foi a partir deste espaço que o incêndio foi comandado e em que se viveram os difíceis

momentos da gestão de informação referente às fatalidades. Foi igualmente neste espaço que

foi recebido o Senhor Presidente da República, para além de outras entidades que visitaram o

PCO na noite do dia 17 e madrugada do dia 18 de junho.

Das audições efetuadas por esta CTI foi unânime a opinião, manifestada por operacionais,

autarcas, agentes de proteção civil entre outros testemunhos, de que o PCO estava

permanentemente superlotado, desorganizado, desorientado, descoordenado, com autoridades

políticas a intervirem também nas decisões operacionais. A comunicação social estava em peso

e muito próxima do PCO. O comando e coordenação da operação era obrigado a intervalar o

seu trabalho para realizar briefings às diferentes autoridades e entidades que ali se deslocaram.

E as comunicações não fluíam, atendendo também à localização do PCO e às falhas detetadas

no SIRESP.

A organização do PCO prevê a realização de briefings à hora certa com os órgãos de

comunicação social. Prevê igualmente a nomeação pelo COS de um oficial para as relações

públicas, para os momentos em que seja manifesta a sua indisponibilidade. O comando de uma

operação de socorro não pode ser prejudicado por estas circunstâncias, como parece ter

acontecido em vários momentos.

O COS, por muito experiente que seja, tem que ter uma disponibilidade permanente para a ação

de coordenação e comando, pois num cenário destes são tomadas dezenas de decisões por

hora. A presença continuada de altas autoridades, que aguardam pelas suas explicações,

perturba naturalmente os trabalhos de comando. Por estes motivos, recomenda-se que altas

entidades deveriam estar presentes em áreas específicas com coordenação dedicada.

13 DE OUTUBRO DE 2017 131

Página 132

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

131

O COS em funções desde as 22h00 do dia 17 de junho até às 20h50 do dia 18 de junho, realizou

11 briefings operacionais a outras tantas entidades que ali se deslocaram, o que se entende não

ser razoável para o bom comando da operação em curso.

O PCO na noite de 17 para 18 de junho funcionou sempre na VCOC do CB de Peniche, pelo

facto da VCOC do CDOS de Leiria estar inoperacional. Na manhã do dia 18 foi mobilizada o

veículo de planeamento comando e comunicações (VPCC) do CDOS de Lisboa. Atendendo que

esta foi uma das maiores ocorrências a que o País assistiu teria talvez feito todo o sentido a

mobilização do CETAC (Centro Tático de Comando), nomeadamente um dos seus veículos, o

VC3, veículo de comando, comunicações e controlo, dotado de toda a tecnologia necessária ao

melhor desenvolvimento de uma ocorrência. Contudo, ao que se apurou, este veículo estaria

inoperacional. Esta situação de inoperacionalidade deveria ter sido evitada por todos os meios,

numa fase crítica de incêndios florestais e a 13 dias do início da fase Charlie.

Compulsando a fita de tempo constata-se que apenas às 19h58 do dia 17 de junho se encontra

criado o lançamento no SGO dos diferentes responsáveis pelas respetivas Células:

 Operações - Cmdt António Marques, do CB de Ansião;

 Planeamento - Rui Alves, Oficial Bombeiro do CB Castanheira Pera;

 Logística - Nuno Marto, Adjt do CB de Pombal.

O 2.º Comandante Operacional Distrital de Leiria Mário Cerol, assumiu a esta hora a função de

COS.

Em poucas horas o incêndio assumiu uma enorme dimensão, o que obrigou à mobilização de

um conjunto de meios e projetou esta operação para a fase IV do SGO.

Assim, mais tarde, pelas 01h23 do dia 18 de junho, o SGO na fita de tempo regista os mesmos

responsáveis pelas Células, sendo que os setores eram comandados por: sector Alfa 2,º Cmdt

do CB Marinha Grande Mário Canelha; sector Bravo Cmdt do CB do Bombarral Pedro Lourenço;

sector Charlie Cmdt CB de Porto de Mós Elísio Pereira; sector Delta Cmdt do CB de Figueiró dos

Vinhos Paulo Renato: e Cmdt sector Echo Cmdt do CB da Batalha Fernando Bastos A esta hora

o COS era o 2.º Comandante Operacional Nacional Albino Tavares.

Analisando a fita de tempo, constata-se que nas primeiras horas o SGO não estava bem

estabelecido, ou seja, no momento em que o incêndio assume um comportamento violento na

sua propagação com o posterior colapso da coluna de convecção, com uma orientação bem

definida para oeste, a célula de planeamento não conseguiu prever com detalhe quais as

localidades criticas que seriam envolvidas na propagação do incêndio e a merecerem despacho

de meios para defesa perimétrica. É verdade que os acontecimentos se deram a uma velocidade

muito significativa, o que obrigaria a uma maior ação de planeamento no território percorrido pelo

incêndio.

Ilustrando o referido no parágrafo anterior, pode recorrer-se às conclusões do relatório final do

processo instaurado pela GNR e à audição do 2CODIS de Leiria. Este refere: “nunca ter tido

conhecimento de que o incêndio estava perto da EN236-1 e que não deu instruções para o corte

de trânsito naquela via”. Aliás o único corte de via assumido pelo COS Cmdt CB de Pedrógão

Grande foi o da EN02, logo nas primeiras horas do incêndio.

Perante muitos pedidos de socorro, aldeias cercadas, pessoas em risco, a resposta operacional

foi “a informação chegou tarde ao PCO e apenas através da fita de tempo (quando houve acesso

a dados)”. Esta indicação encontra-se na fita do tempo às 19h36, 19h45, 20h11, 21h35, todos

do dia 17 de junho. Uma outra informação “esta informação não chegou ao conhecimento do

PCO (por dificuldade de comunicações) ”, está referenciada às 22h45, 23h17, 23h23, 23h29 do

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 132

Página 133

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

132

dia 17 e já no dia 18 de junho às 00h49, 02h00, 02h08, 02h09. Ainda outra informação

“Aguardam-se meios de reforço para enviar ao local” aconteceu às 19h50, 19h53, 20h10, 21h28,

21h37 do dia 17 de junho. A fonte detalhada desta informação é o documento resposta à análise

do incêndio de Pedrógão Grande, da responsabilidade da ANPC de 07 de agosto de 2017,

remetido à Senhora Ministra Administração Interna.

Daqui se constata que houve problemas nas comunicações e nos planos de comunicações deste

teatro de operações (cf. capítulo sobre o SIRESP). É, contudo, excecional que tenha havido uma

decisão do COS, 2.º CONAC Albino Tavares às 04h56 de 18 de junho, ordenando ao Chefe Sala

do CDOS de Leiria que os operadores de telecomunicações não deveriam registar mais

informações na fita de tempo no SADO acerca dos alertas que ali recebiam. A partir daquela

hora todos os alertas deveriam ser comunicados ao PCO por telefone, e só após validação do

mesmo, seriam ou não inseridos na fita do tempo do SADO. O 2.º CONAC, no decorrer da sua

audição junto desta CTI, justificou a sua decisão com o excesso de informação que era produzida

a partir do CDOS de Leiria.

Este procedimento contraria o SGO, bem como toda a doutrina instituída relacionada com o

funcionamento do SADO, que impõe que as todas as situações críticas devem, até de forma

intempestiva, ficar registadas no sistema, independentemente da determinação operacional

associada. Esta determinação do COS pode subtrair à fita do tempo do SADO informações que

poderiam ser importantes para a compreensão dos acontecimentos na noite de 17 para 18. Pode

até admitir-se que, para além das falhas de comunicação provocados pela rede SIRESP,

pudessem ter havido pedidos de ajuda veiculadas através de chamadas efetuadas para o PCO

mas que não teriam sido registadas.

Por este motivo, as informações registadas podem ter impedido que se conheça completamente

o que se passou naquele período de tempo, introduzindo uma exceção no procedimento de que

deveria ter sido executado de forma inquestionável.

Quanto à setorização do teatro de operações, foram ouvidos os operacionais envolvidos e

constata-se que houve setores com áreas estabelecidas entre os 20 e os 30 Kms. Esta

setorização mostra-se desadequada para o efetivo comando e controlo que se pretende ter sobre

o sector geográfico, bem como para o desenvolvimento da ação de combate a um incêndio que

atingiu enormes dimensões.

Vale a pena referir que, no decorrer da operação de combate, houve Comandantes de sector

que referiram nunca terem sido contactados pelo PCO. A dimensão do incêndio, as dificuldades

de comunicação, os resultados dramáticos em termos de vidas humanas e o ambiente gerado

pelo congestionamento nas instalações do PCO permitem talvez justificar aqueles

comportamentos, embora se entenda que sem coordenação e sem orientação não é possível

executar a ação de comando.

A setorização de um teatro de operações corresponde à identificação de setores geográficos ou

funcionais, depende do tipo de ocorrência e das opções estratégicas estabelecidas. Num

incêndio florestal, os setores correspondem a áreas geográficas. O estabelecimento de setores

funcionais atribui-se a tipo de tipologias de socorro. Não é recomendável que tenham sido

atribuídos quatro setores geográficos a um setor funcional. O grupo de apoio sanitário poderia

estar atribuído à zona de concentração e reserva ou até na zona de apoio, e ser a partir daí

mobilizado para intervir nos diferentes setores constituídos.

No dia 18 de junho, pela manhã, o incêndio tinha percorrido dezenas de Kms e milhares de ha,

e afetava já os concelhos de Ansião e Penela. Parece que no PCO não se terá tido uma efetiva

noção desse acontecimento, como se constatou pelas desadequadas cartas militares que no

momento davam apoio no PCO e conforme alerta dado pelo Cmdt do CB de Ansião.

13 DE OUTUBRO DE 2017 133

Página 134

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

133

No dia 19 de junho, pelas 02h03 foi uma vez mais efetivado o reposicionamento do PCO por

razões evidentes de falha de comunicações e geográficas relativamente à propagação do

incêndio, para a localidade de Avelar, concelho de Ansião. A partir desta localização começa a

haver condições para uma melhoria significativa e efetiva da organização do PCO, e

consequentemente, de todo o teatro de operações, num outro espaço, com outro tipo de

condições, com os demais oficiais de ligação dos diferentes agentes de proteção civil, com um

conjunto de meios de reforço mais significativo, permitindo conduzir as operações até o incêndio

poder ser dado como dominado, como veio a acontecer no dia 21 de junho.

Importa referir ainda que, como órgão diretor no âmbito de uma operação de socorro, o PCO tem

a obrigação de dar nota pública do ponto de situação da ocorrência de forma regular. Constatou-

se que a autoridade operacional não o fez nas primeiras 30 horas da ocorrência. A autoridade

política assumiu, em parte, essa função. Esta, no seu âmbito, desempenha naturalmente o seu

papel, mas não menos importante nestes acontecimentos, é o papel da autoridade operacional,

que deve conduzir a gestão da informação operacional de emergência nos diversos escalões,

com o objetivo de fornecer, proactivamente, informação técnica e operacional, oportuna e

precisa, aos órgãos de comunicação social e aos cidadãos.

8.2.4. Comunicações

Um bom plano de comunicações, em qualquer teatro de operações, constituiu um fator

diferenciador para o sucesso da mesma. Na equação dos incêndios florestais, as comunicações

constituem mesmo uma variável determinante, atendendo em particular à sua extensão territorial

Os planos de comunicações, em operações de proteção e socorro, assentam a sua organização

sustentada em duas redes: a rede SIRESP e a ROB (Rede Operacional dos Bombeiros).

O projeto SIRESP consiste na conceção, fornecimento, montagem, construção, gestão e

manutenção de um sistema integrado de tecnologia trunking digital, para a rede de emergência

e segurança de Portugal. A palavra trunking pode ser entendida como sistema de rádio auxiliado

por computador, pois os equipamentos possuem “inteligência” capaz de gerir o tráfego de

chamadas sem a necessidade de qualquer outro tipo de intervenção.

Este sistema deveria permitir responder adequadamente aos desafios colocados às forças de

segurança e da proteção civil na sua atuação diária e em cenários de emergência - catástrofes,

acidentes ou incêndios de grandes proporções.

A ROB é uma rede analógica e como tal só permite uma conversação de cada vez (modo

simplex). Este sistema, num teatro de operações com alguma complexidade e com necessidade

intensa de transmissão de informação/conversação, abrangendo um grande número de

operacionais, condiciona necessariamente todo o fluxo de informação.

A ROB subdivide-se nos seguintes conjuntos de canais: três canais de Comando, cinco canais

Táticos e sete canais de Manobra.

Com o surgimento do SIRESP esta realidade passou para 05 canais de Comando, 15 Táticos e

30 de Manobra para além de outras vantagens proporcionadas por esta rede.

Contudo, no momento da implementação do SIRESP, a formação proporcionada aos

operacionais referia que “o SIRESP não é substituo da ROB, mas antes se complementam”. A

justificação próxima para esta indicação era o entendimento de que teria que existir redundância

na rede. Desde sempre foram identificadas zonas sombra na rede SIRESP, tal como a rede

GSM. Na verdade, num outro evento de proteção civil, a ciclogénese explosiva que ocorreu em

2013, o sistema tinha já exposto a vulnerabilidade das redes.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 134

Página 135

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

134

Atendendo ao exposto muitos operacionais nas suas ações de socorro de rotina mantêm ao nível

estratégico um canal SIRESP e, para a manobra o nível operacional, a ROB. Nas ocorrências

mais significativas com um grau de complexidade mais efetivo, naturalmente o SIRESP pela sua

cobertura nacional e a interação com os demais agentes de proteção civil é a rede recomendada.

No caso do incêndio de Pedrógão Grande, foi público e notório a falha da rede SIRESP,

associada também à falha da rede GSM. Deste facto estão registadas inúmeras passagens na

fita de tempo relativa a esta ocorrência, bem como no relatório final do processo de inquérito da

GNR n.º 06/17.

Importa referir que no incêndio de Pedrógão, desde o início da ocorrência às 14h43, o plano de

comunicações estabelecido passava pela utilização das duas redes ROB e SIRESP.

Após as 19h30, coincidindo com a expansão do incêndio e de um crescente aumento de meios

e de utilizadores, começaram a verificar-se intermitências nas comunicações SIRESP, levando

até nesta fase à mudança da localização do PCO. Note-se que a boa ou má localização do PCO

também concorre para a eficácia e eficiência das comunicações.

Às 21h25 por intermitência mais significativa nas comunicações SIRESP, o PCO adotou o

sistema redundante para assegurar o comando e o controlo da operação, alterando o plano de

comunicações.

Recorda-se que a implementação do plano de comunicações, nas fases I e II do SGO, é da

responsabilidade do COS. Nas fases III e IV a responsabilidade passa para o oficial da logística.

No documento de resposta à Senhora Ministra da Administração Interna, referente à análise do

relatório sobre o incêndio de Pedrógão Grande da ANPC, de 07 de agosto de 2017, é referido

na página 7, “Questão 3: porque houve falhas de comunicação na ROB? Não houve falhas de

comunicações na ROB. Importa salientar que esta rede é testada diariamente, …”. Este é um

dado relevantíssimo, porque havendo esta garantia dada pela ANPC, por quem teve a

responsabilidade de conduzir operacionalmente esta operação de socorro, sabe-se que as

eventuais falhas do SIRESP foram garantidas pela ROB, ainda que com as diferenças que

caracterizam estes sistemas. Poderá admitir-se que não terá sido apenas pelas comunicações

que o incêndio de Pedrógão Grande atingiu a dimensão e as consequências que dali resultaram.

8.2.5. O comando da operação de socorro (COS)

O incêndio florestal ocorrido em Pedrógão Grande e que viria a afetar sete concelhos (Pedrógão

Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Alvaiázere, Ansião, Penela e Sertã), com as

dramáticas consequências que daí resultaram, vítimas mortais, habitações destruídas, empresas

desfeitas, uma área ardida como nunca, constitui uma gigantesca operação de Proteção de Civil,

cuja causa próxima foi o já referido incêndio florestal.

Dito isto reconhece-se que o comando desta complexa operação de proteção e socorro seria

sempre de elevada complexidade para quem quer que fosse que viesse a assumir o comando

da mesma.

O COS é o responsável por toda a operação. A cada momento há um e só um elemento a

comandar. O COS é um elemento tecnicamente qualificado e dotado de autoridade para atribuir

missões operacionais, articular e rearticular as forças que lhe forem atribuídas, dirigir e regular

aspetos logísticos de interesse imediato para as operações, bem como gerir a informação

operacional.

13 DE OUTUBRO DE 2017 135

Página 136

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

135

No Quadro 8.2 está referido, por ordem cronológica, quem assumiu o comando desta complexa

operação de socorro, desde o seu início até às 20h13 do dia 22 de junho de 2017.

Quadro 8.2 – Evolução da função do COS em Pedrogão Grande

GDH INICIOCOSDURAÇÃO

171454JUN17 Bombeiro 2ª PED Hugo Carvalho00h16

171510JUN17 Cmdt CB PED Augusto Arnaut04h45

171955JUN17 2CODIS Leiria Mário Cerol02h05

172200JUN17 2CONAC Albino Tavares22h50

182050JUN17 CODIS SETUBAL Elísio Oliveira28h55

200145JUN17 CODIS FARO Vaz Pinto40h15

211800JUN17 CODIS AVEIRO Antonio Ribeiro26h13

Na fase inicial, o 1.º COS foi o Bombeiro de 2.ª Hugo Carvalho, bombeiro experiente que faz

parte da Equipa de Intervenção Permanente (EIP) do Corpo de Bombeiros de Pedrógão Grande.

A sua ação enquanto COS foi muito limitada no tempo. Em deslocação para o teatro de

operações e até à Estrada Nacional n.º 02 (EN2), este afirmou que não era visível qualquer

coluna de fumo. É já no cruzamento para Escalos Fundeiros que é notória a existência do

incêndio.

A equipa com cinco elementos dirigiu-se ao local do incêndio junto a um açude na Ribeira dos

Frades, onde terá posicionado a viatura e iniciado o combate num dos flancos do incêndio. Para

tal houve necessidade de atravessar a linha de água e atacar as chamas que lavravam na

margem esquerda da ribeira. Perante a intensidade do fogo é introduzida uma referência no

SADO: “incêndio a arder com muita intensidade, solicita mais meios para o local”. Passados

alguns minutos e tendo em conta que o incêndio se dirigia para Escalos Fundeiros a equipa

retira-se do local em direção àquela localidade onde se procede à mudança de COS.

O Comandante dos Bombeiros de Pedrógão Grande, que de imediato se deslocou para o teatro

de operações, assume a função de COS às 15h10. Nesta fase, quando chega ao teatro de

operações, desloca-se para o centro de Escalos Fundeiros e procede a defesas perimétricas de

várias habitações. Compulsando a fita de tempo, constata-se várias indicações em que são

solicitados mais meios e elementos de Comando para auxiliarem nesta operação, os quais são

despachados de acordo com as disponibilidades. Do seu CB e nos primeiros 30 minutos, são

despachados sete veículos e 23 bombeiros, já referidos ca capítulo do ATI.

Nesta fase foi mobilizada a VCOC do CB de Peniche, o seu Comandante, o Comandante do CB

de Ansião, o Adjunto do CB de Pombal, o Oficial Bombeiro de Castanheira de Pera. Estes

elementos começam por estabelecer o PCO, atribuindo as diferentes funções no PCO.

As indicações referidas na fita do tempo indicam que não haveria melhoria e são

continuadamente solicitados mais meios, para além dos da zona norte do distrito. Foram

mobilizados Grupos/Brigadas do Centro e sul do distrito de Leiria e do distrito de Castelo Branco

e Santarém, meios que na maior parte dos casos tardaram a entrar em operação, conforme já

referido noutra parte deste relatório.

O ATI não vence o incêndio. O nível de projeções atingiu uma fase crítica suportada nas

condições meteorológicas que eram muito desfavoráveis, expandindo o incêndio com diferentes

sentidos de propagação.

Pelas 17h08 fica registado que o 2.º Comandante Operacional Distrital de Leiria (2CODIS) se

encontrava em trânsito para o teatro de operações. Pelas 18h14, o COS dá nova indicação,

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 136

Página 137

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

136

afirmando que o incêndio tinha quatro frentes, 60% a arder livremente. Nesta fase já há registo

de problemas nas comunicações; julga-se que por má localização do PCO.

Pelas 19h00 surgem as primeiras indicações de alguns feridos e foram solicitadas ambulâncias

de socorro e equipamento diferenciado, como máquinas de rasto. O oficial de ligação da GNR

chega entretanto ao local. Rapidamente o incêndio entra na fase III do SGO. Estamos na fase

em que as operações tendem a tornar-se complexas, obrigando à ativação das células de

planeamento e logística. A função de COS deve ser desempenhada por um comandante de CB,

o que acontecia. O Oficial de Operações deveria ser, preferencialmente, um elemento do quadro

de comando, do CB com responsabilidade pela área de atuação. Nesta fase já poderiam ter sido

designados os oficiais de segurança, ligação e relações públicas, o que não aconteceu.

Às 19h55 a função de COS é assumida pelo 2.º CODIS Leiria, Mário Cerol. Volvidos três minutos,

e apenas 3 minutos, o CADIS com o indicativo Chacal 8, informa o PCO, supõe-se via rádio

porque nesta fase nunca se apresentou pessoalmente ao COS, que estava presente no teatro

de operações.

Importa referir que o CADIS está hierarquicamente acima do 2.ºCODIS e do Comandante

Operacional Distrital (CODIS), pelo que e conforme estabelecido no SGO o comando da

operação está atribuído ao mais graduado que a cada momento está no teatro de operações ou

é mobilizado com essa missão. Este elemento deveria, de acordo com o que está estabelecido,

ter assumido o Comando.

O 2.º CODIS de Leiria desconhece a missão que foi atribuído ao CADIS, que afirma estar no

teatro de operações e não estabelece qualquer tipo de articulação com o PCO. Poderia ter-lhe

sido atribuída alguma missão ao nível do Comando Nacional; mas essa decisão não deverá

prevalecer sobre a função COS, pois é este e só este que estabelece missões e é, sempre e

para todos os efeitos, o responsável máximo por aquela operação de socorro.

Esta circunstância, que poderá ser entendida como um pormenor, é relevante na medida em que

o que está determinado no SGO não foi aparentemente cumprido.

Importa esclarecer que a ausência do CODIS de Leiria nesta fase da operação foi justificada por

o mesmo se encontrar com um problema de saúde, tendo dado baixa hospitalar.

Sublinhe-se que o 2.º CODIS de Leiria, Mário Cerol, foi nomeado recentemente para a estrutura

operacional da ANPC. Embora seja um elemento com experiência ao nível local, poderá não terá

sido a melhor escolha para ocupar o COS. Na verdade, este operacional nunca tinha sido

confrontado com o comando de uma operação da fase III e IV da SGO, muito embora a sua

nomeação pudesse pressupor que teria competência para o comando de uma operação com

esta dimensão. Havendo alternativas, pode questionar-se por que razão, nesta fase, não foi

projetado um outro CODIS, com um perfil sénior e de outro distrito, de forma a assegurar o COS

num momento particularmente difícil.

Acresce que 2.º CODIS de Leiria esteve no comando desta operação entre as 19h55 e as 22h00,

momentos extraordinariamente difíceis, onde o incêndio era imenso, os meios eram escassos e

os danos humanos e materiais começaram a fazer-se sentir. Os pedidos de socorro em

diferentes localidades de diferentes concelhos são cada vez mais numerosos, conforme relato

descrito na fita de tempo.

Às 22h00 assume a função de COS o 2.º CONAC Albino Tavares. Aqui e ao passar o Comando

da operação de um 2.º CODIS para o 2.º CONAC há um entendimento lógico: O Comando

Nacional avoca o comando da operação. Esteve no comando da operação até às 20h50 do dia

18 de junho, já na fase IV do SGO, fase em que é implementada no teatro de operações uma

intervenção de grande envergadura e/ou complexidade, sendo que o quadro previsto no SGO se

desenvolve na plenitude da sua organização.

13 DE OUTUBRO DE 2017 137

Página 138

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

137

O 2.º CONAC até final do ano transato desempenhava funções de Comandante do GIPS da

GNR. Atendendo a que se trata de um oficial superior da GNR, o desempenho dessas funções

dá-lhe um natural conhecimento do sector, não lhe conferindo a necessária capacidade de

comando operacional.

Recorda-se que estamos a analisar uma ocorrência da qual acabou por resultar um maior

número de vítimas mortais, dezenas de feridos, casas destruídas, famílias destruturadas. Uma

ocorrência que foi combatida com centenas de meios. E, embora no momento de atribuição do

COS, não fosse ainda conhecida a dimensão dos acontecimentos (22h00 do dia 17), a evolução

da situação foi revelando o enorme impacto que estava a ter na região. Talvez fosse possível

encontrar uma nova solução para a função de COS, através de um operacional com maior

experiência em operações de socorro com esta dimensão.

O CNOS foi no corrente ano reforçado de três para seis adjuntos nacionais (ainda que três sob

forma de CADIS), pelo que a decisão do CNOS de avocar o comando parece correta, ou seja,

havia um número de elementos que poderiam garantir esta decisão, o que não veio a acontecer.

Verificou-se que às 23h00 o CODIS de Santarém foi mobilizado para este teatro de operações.

Como havia incêndios no seu distrito, este operacional só chegou Pedrógão Grande às 02h28,já

do dia 18 de junho. Trata-se de um CODIS sénior que poderia ter constituído uma ajuda

significativa. Contudo foi de imediato desmobilizado daquele teatro de operações e mobilizado

para o concelho de Penela.

Os relatos que foram ouvidos em sede de CTI sobre esta fase do comando da operação foram

muito críticos. Percebe-se que as fatídicas notícias que, durante a noite de 17 de junho foram

chegando ao PCO, devem ter constituído momentos extraordinariamente difíceis, levando até a

alguma desorientação, situação que nos foi relatada em vários momentos.

Para ilustrar esta desorientação, pode recorrer-se à fita de tempo que refere que às 23h23 do

dia 17 de junho, a seguinte informação: “informação da localidade da Graça que se

encontram casas a arder, não há bombeiros”. Quando o PCO acionou meios, entre os quais

o GRUATA da FEB, o mesmo só viria a chegar ao teatro de operações às 03h00 do dia 18 de

junho, 03h30 depois da solicitação.

Repete-se o referido no início deste capítulo, reconhecendo que comandar uma operação com

esta envergadura seria sempre muito difícil para quem quer que estivesse na função de COS.

Constata-se assim que num intervalo de 3 horas, entre as 19h30 e as 22h30, o incêndio teve três

COS, o que por si só não traduz uma decisão errada. Mas a questão é que estes ajustamentos

coincidiram com a fase mais crítica da operação de socorro, pelo que não é garantido que nestas

passagens de comando, ainda que cara a cara, alguma informação mais critica não tenha sido

desvalorizada ou perdida.

Conforme se constata na tabela supra, os elementos que viriam subsequentemente avocar a

função de COS foram o CODIS de Setúbal, Faro e Aveiro. Ou seja, foram CODIS sénior, qualquer

deles com mais de 10 anos de experiência na ANPC, que trouxeram organização e competências

para ajudar na resolução de uma difícil operação de proteção Civil.

Constatamos assim que quando referimos que o Comando Nacional avocou o Comando da

operação, essa iniciativa, em rigor, não se ajustou à doutrina vigente. Depois do COS ser o 2.º

CONAC, o comando da operação desgraduou para um CODIS. Enquanto um incêndio não

estiver dominado, a doutrina aponta para não desgraduar o seu comando.

Contudo, na pior e mais fatídica ocorrência no País provocada por incêndio florestal, tendo

estado presentes as mais altas individualidades do país, esta operação de socorro exigiria a

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 138

Página 139

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

138

presença dos operacionais mais qualificados, designadamente do Comandante Operacional

Nacional (CONAC), que deveria ter mantido a avocação desta operação de Socorro.

Esperava-se que a estrutura do Comando Nacional, recentemente reforçada, daria garantias de

acompanhamento e funcionamento do CNOS para o número de ocorrências que se verificavam

no país. Sublinhe-se que mais de 95% das ocorrências foram acompanhadas e resolvidas pelos

respetivos Comandos Distritais. A presença ativa do Comandante Nacional teria todo o sentido

pelo facto de se estar perante uma das piores catástrofes com que o País alguma vez foi

confrontado.

8.3. Combate ao incêndio de Góis

8.3.1. O ataque inicial (ATI)

No dia 17 de junho a Sala de Operações do CDOS de Coimbra recebeu pelas 14h52 um alerta

com origem no CB de Góis, para um incêndio florestal na localidade de Fonte Limpa, Concelho

de Góis.

De imediato procedeu-se ao despacho de meios musculados, tendo em conta o local da

ocorrência e o seu histórico. Despacho para além da triangulação que está estabelecido na

DON02 para o ATI, nomeadamente:

 Quatro corpos de Bombeiros;

 Dois meios aéreos de ATI, Hotel 8 (CMA Pampilhosa da Serra) e Hotel 9 (CMA

Lousã).

Após 9 minutos do alerta, e ainda sem meios em combate no local, com a informação dada pelo

chefe de equipa helitransportada do Hotel 8 a caminho do teatro de operações e ao visualizar à

distância a coluna de fumo, deu uma indicação que de imediato levou a Sala de Operações a

mobilizar mais quatro Corpos de Bombeiros.

Para assegurar o Comando e Controlo deste teatro de operações, foram acionados os

Comandantes do CB de Góis e Pampilhosa da Serra, bem como o Comandante Permanente às

Operações (CPO) de serviço, neste caso o Adjunto Comando de Côja.

Constata-se, como já referido noutra parte deste relatório, que foi usada a prerrogativa de

poderem ser usados dois meios aéreos de ATI. Verifica-se ainda um reforço de meios terrestres

em ATI bastante significativo, mas ainda assim as condições proporcionadas por este incêndio

não permitiram que houvesse sucesso nesta fase, ainda que todos os procedimentos tenham

sido rigorosamente cumpridos.

8.3.2. O ataque ampliado (ATA)

No seguimento de uma atitude proactiva já verificada no ATI, e ainda antes dos 90 minutos

determinados pela DON02, o ataque ampliado foi antecipado. Foram acionados todos os CB’s

do Distrito de Coimbra, dois meios aéreos pesados (Canadairs, ALFA02 e 09) e solicitado ao

CAS (Comandante de Assistência e Serviço) em permanência no CNOS, quatro grupos de

reforço (GRIF’s).

De referir que o CAS, aquando o pedido dos grupos de reforço, informou o CODIS que ia analisar

o que poderia disponibilizar tendo em conta que tinha um outro incêndio também a necessitar de

meios de reforço (incêndio de Pedrogão Grande). Recorda-se que ambos os incêndios tiveram

início no mesmo período, apenas com uma diferença de 9 minutos.

13 DE OUTUBRO DE 2017 139

Página 140

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

139

O CAS (CNOS) apenas disponibilizou dois GRIF’s (Aveiro e Viseu) dando nota que não era

possível enviar mais nenhum grupo de reforço o que, para aquele território e para o histórico da

mobilização de meios, ficou aquém do que seria expectável.

O CODIS, ao chegar ao teatro de operações, iniciou o reconhecimento ao local. Apercebeu-se

que as condições meteorológicas eram muito adversas, com vento forte, chuva, e muitas

projeções de partículas incandescentes, o que o levou de imediato a efetuar uma chamada geral

na rede de telecomunicações via SIRESP. Apelou então à retirada de todos os meios em

combate direto nas frentes de incêndio, devido à falta de condições de segurança para os

operacionais e solicitou que se retirassem para junto das populações ali afetadas, procedendo à

defesa perimétrica das mesmas e à avaliação de eventuais necessidades de evacuações de

pessoas.

Foram efetuadas evacuações e cortes de estradas com sucesso e sem registo de qualquer tipo

de vítimas.

Estas iniciativas obrigaram à reposição de meios, à reformulação do SGO e ao reforço de pedido

de meios ao CNOS.

A partir daquele momento, ou seja, a partir das 22h00, o COS estabeleceu como objetivo que o

incêndio deveria ser contido junto à EN02. Este objetivo foi alcançado com sucesso pelas 05h00

do dia 18 de junho, embora com muita dificuldade por manifesta falta de meios. Assim, impediu-

se que o incêndio se propagasse para o concelho da Lousã.

Com o agravamento das condições meteorológicas, a constante variação da direção do vento

bem como a sua intensidade, o incêndio ganhou força no sentido norte, tendo sido estabelecido

um novo objetivo já no dia 19 junho pelas 08h15. Esse objetivo pretendia que o incêndio não

viesse a passar a EN112, que estabelece a ligação entre Góis a Pampilhosa da Serra.

Contudo, o Comandante de Assistência e Serviço (CAS), de serviço ao CNOS, foi informado que

devido à falta de meios este incêndio teria todo a possibilidade de vir a passar a EN112 e, como

consequência, aumentava a dimensão do incêndio nos concelhos de Arganil e Oliveira do

Hospital. Atendendo ao empenhamento verificado, o incêndio passou marginalmente no

concelho de Arganil e evitou-se que o mesmo se propagasse ao concelho de Oliveira do Hospital.

Só durante o dia 20 de junho, já com o Incêndio a norte da EN112, foram rececionados os meios

de reforço que deram corpo à possibilidade de fazer face ao domínio do incêndio, o que veio a

acontecer formalmente no dia 22 de junho pelas 07h48.

O ATA deste incêndio foi naturalmente prejudicado pela circunstância da simultaneidade de dois

grandes incêndios a decorreram em simultâneo e a poucos Kms um do outro, acrescido pelo

trágico acontecimento das fatalidades que se verificaram no incêndio de Pedrógão GrandeFoi

difícil reforçar este teatro de operações desde o seu início, pois a partir do dia 18 de junho toda

a mobilização de meios foi orientada para aquele incêndio e só quando o mesmo começou a

ficar resolvido é que foram libertados meios que permitiram resolver o incêndio no concelho de

Góis.

O incêndio em Góis afetou quatro concelhos: desde logo Góis e Pampilhosa da Serra onde a

área ardida é bastante significativa e os concelhos de Arganil e Oleiros onde a área ardida

provocada por este incêndio é marginal.

8.3.3. O posto de comando operacional (PCO)

Aplica-se a este capítulo o que foi referido no mesmo ponto para o incêndio de Pedrógão Grande.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 140

Página 141

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

140

O PCO inicialmente foi instalado às 16h27 do dia 17 de junho, em Fonte Limpa próximo do ponto

de início. Inicialmente funcionou na viatura de comando do CB de Condeixa-a-Nova. Volvida

cerca de uma hora, concretamente às 17h26, o posto de comando foi deslocalizado para o

campo de futebol de Chãs de Alvares, e funcionou na VPCC (viatura de Planeamento Comando

e Comunicações) pertença da ANPC e atribuída ao CDOS de Coimbra. Aqui se manteve até às

12h27 do dia 20 de junho, atendendo a que a sua localização não comprometia nenhuma das

variáveis do comando e controlo da operação de socorro em curso.

O PCO foi reposicionado no já referido dia 20 de junho. A sua localização, ficou

desproporcionada em relação à área já percorrida pelo incêndio. Foi instalado junto da EN112

no cruzamento para a aldeia do Cadafaz, local que oferecia todas as condições para manter o

comando e controle de toda a operação.

As recomendações feitas ao PCO de Pedrógão Grande aplicam-se ao PCO de Góis. Contudo o

mesmo não teve um nível de passagens quer por entidades quer por órgãos de comunicação

social, como aconteceu em Pedrógão.

8.3.4. Comunicações

No mesmo ponto do incêndio de Pedrógão Grande é feita uma breve explicação do

funcionamento das redes de comunicações ao dispor do Comandante das Operações de

Socorro, procurando determinar o plano de comunicações mais adequado para o bom

desenvolvimento das operações.

Foram igualmente levantadas dúvidas quanto ao funcionamento da rede SIRESP, questão já

esclarecida no ponto já referido. Contudo na audição do CODIS de Coimbra e para o incêndio

de Góis, ficou claro que as comunicações não comprometeram em nenhum momento as

operações.

8.3.5. O comando da operação de socorro (COS)

No Quadro 8.3 infra está referido por ordem cronológica quem assumiu o comando desta

operação de socorro desde o seu início até às 13h30 do dia 22 de junho de 2017.

Quadro 8.3 – Evolução da Função do COS em Gois

GDH INICIOCOSDURAÇÃO

171515JUN17 Bombeiro 1ª GÓIS Ana Antunes00h25

171540JUN17 Cmdt CB GÓIS João Pratas04h50

172030JUN17 CODIS Coimbra Carlos Tavares17h30

181400JUN17 2CODIS Coimbra António Oliveira09h49

182349JUN17 CODIS Coimbra Carlos Tavares04h36

190425JUN17 CODIS Évora José Ribeiro15h15

191940JUN17 CODIS Coimbra Carlos Tavares16h51

201231JUN17 CADIS Pedro Nunes21h59

211030JUN17 CODIS Coimbra Carlos Tavares27h00

Ao chegar ao local pelas 15h15 do dia 17 de junho, a Bombeira de 1.ª Ana Antunes, do CB de

Gois, assumiu a função de 1.º COS. Foi-lhe transmitida informação pelo CDOS de Coimbra sobre

os meios acionados para aquele teatro de operações. Os meios, terrestres e aéreos, foram

colocados a combate. Volvidos 25 minutos, ou seja, às 15h40, foi efetuada a passagem de COS

para o Comandante do CBV de Gois, responsável pela AAP (Área de Atuação Própria). De referir

que os meios terrestres dos Corpos de Bombeiros do Distrito de Coimbra, acionados para este

teatro de operações e atendendo às distâncias a percorrer, chegam com este COS em funções.

13 DE OUTUBRO DE 2017 141

Página 142

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

141

O COS coloca os meios aéreos na cabeça do Incêndio e distribui os meios terrestres quer pelo

flanco esquerdo quer pelo direito. O combate está a decorrer de forma favorável até que, em

determinado momento e apenas quando faltava uma pequena frente de cerca de 50 metros junto

a uma linha de água, o COS apercebe-se do agravamento das condições meteorológicas com

trovoada e de um novo foco de incêndio. A frente com cerca de 50 mts faz então uma projeção

para o lado contrário da linha de água.

Neste momento o COS solicita reforço de meios e o CDOS informa que já estavam pedidos e

deveriam estar a entrar em operação. Mas é aqui que se perde o incêndio. Nesta fase o incêndio

estava sectorizado com dois setores, o Alfa e o Bravo.

A passagem da função COS ocorre de novo às 20h30, assumindo a função o CODIS de Coimbra.

Depois de já ter efetuado o reconhecimento do teatro de operações e já com a VPCC 06 no

campo de futebol de Chãs de Alvares, ou seja, com o PCO instalado, e após novo agravamento

das condições meteorológicas extremamente adversas entre as 19h30 e as 21h30, verifica-se

que será necessário proceder a nova setorização de todo o teatro de operações devido ao facto

de os veículos que estavam à ordem do CODIS terem abandonado o combate direto e

procederem à defesa perimétrica das povoações. Novamente sectorizado era necessário travar

a cabeça do incêndio a norte de Alvares e não permitir que o mesmo passasse a EN2 em direção

à Lousã.

A rotação do vento veio permitir que a cabeça do incêndio virada a norte (Góis) se

desenvolvesse, associada à manifesta falta de meios que se verificava nesta fase do combate,

ou seja durante a madrugada do dia de 18 de junho.

O COS foi naturalmente passando entre os elementos da EO desgraduando apenas quando o

mesmo foi dado como dominado, cumprindo a doutrina e o estabelecido no SGO. De referir que

o CODIS de Coimbra esteve a assumir as funções de COS, alternando com demais elementos

da Estrutura Operacional, em mais de 70 horas repartidos por quatro períodos.

O Comando da operação decorreu em plena normalidade e só com o reforço de meios foi

possível dominar o incêndio florestal já no dia 22 de junho.

8.4 A gestão do trânsito e as evacuações

8.4.1 A gestão do trânsito

Quase metade das fatalidades (30) ocorreram num pequeno troço com cerca de 300 m na EN

236-1 com início (considerando o sentido Figueiró dos Vinhos-Castanheira de Pera) junto ao

cruzamento para Várzeas/Vila Facaia, próximo da Barraca da Boavista. Todas as pessoas que

faleceram nesta via deslocavam-se de carro, pelo que importa analisar as medidas que foram

tomadas para a gestão do trânsito por parte da Guarda Nacional Republicana (GNR) que possam

ter influenciado o movimento de pessoas na EN 236-1. Para tal socorremo-nos do Relatório Final

relativo ao Processo de Inquérito N° 06/17 instaurado pela GNR tendo em vista o apuramento

das circunstâncias em que foi desenvolvida a ação desta autoridade e aos registos da fita do

tempo listados no anexo ao Relatório 2/2017 do Comando Territorial de Leiria.

Da consulta daqueles documentos resultou a Quadro 8.4 com as principais ocorrências relativas

ao corte de estradas. Esses cortes encontram-se sinalizados no mapa da Figura 8.1 com a hora

respetiva, de acordo com os documentos consultados.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 142

Página 143

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

142

Quadro 8.4 - Sequência de acontecimentos associados ao corte de estradas pela GNR

Hora do dia 17 JunAcontecimentos

14h39 Alerta de incêndio em Escalos Fundeiros

15h17 SEPNA da GNR no local

15h40 Corte da EN 2 entre Pedrogão e Venda da Gaita

16h20 Corte da EM 512 (Venda da Gaita-Escalos do Meio)

16h20 Corte da CM 1162 (Escalos Fundeiros-Regadas Cimeiras)

17h40 Corte no cruzamento da CM 1166 com a M 516

17h53 Corte no entroncamento da EN 2 com a CM 1166

18h50 Corte no IC 8 antes do Nó da Zona Industrial (nó da CM 1166)

19h02 Corte do IC 8 no nó Troviscais/Mosteiro (acesso à M 516}

19h16 O incêndio atravessa o IC 8

19h16 Corte do IC 8 no nó Vila Facaia/Graca/Outáo (CM 1170}

19h26 Corte do nó do IC 8 com a EN 350

19h45 Corte do IC 8 no nó da EN 236-1

20h00 Corte da EN 350, entre Pedrógão Grande e Outão

20h00 Corte da EM 515 Outão-Atalaia

20h15 Patrulha de trânsito recua para o nó do IC 8 em Figueiró dos Vinhos - Oeste

Figura 8.1 - Localização dos cortes de estradas e hora respetiva.

13 DE OUTUBRO DE 2017 143

Página 144

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

143

De acordo com os documentos consultados, a GNR terá tido conhecimento do início do incêndio

em Escalos Fundeiros, através da Sala de Situação (SSit) do Comando Territorial (CTer) de

Leiria via sistema 112. Pelas 15h00, a SSit terá contactado o Núcleo de Proteção Ambiental

(SEPNA), do Destacamento Territorial de Pombal, para se deslocar ao local do incêndio, o que

terá acontecido cerca das 15h17. A partir desta altura houve um acompanhamento permanente

deste incêndio (e de outros focos que foram detetados) por parte da GNR, quer na assistência

às populações quer no condicionamento do trânsito, à medida que o incêndio ia progredindo. Os

documentos analisados referem que a GNR não teve qualquer contacto por parte do Comando

Distrital de Operações de Socorro (CDOS) relativamente ao incêndio e que os cortes de estradas

foram decididos pela própria GNR, não tendo recebido quaisquer indicações por parte do

Comando Operacional (COS). Uma das razões invocadas prende-se com as sucessivas falhas

nas comunicações. De referir que são relatadas dificuldades de comunicações a partir das 19h00

e que, devido à ausência de instruções, as patrulhas terão passado a movimentar-se sozinhas

acompanhando o evoluir do incêndio.

Os cortes de estradas começaram por se efetuar nos acesos à EN2, tendo em conta a evolução

do incêndio de norte para sul, a oeste daquela estrada. Os acessos foram primeiro cortados a

norte às 15h40 e às 16h20 (Escalos do Meio, Venda da Gaita) e depois a sul já perto de

Pedrogão, às 17h40 e às 17h53. A partir daí com a aproximação do incêndio ao IC8, este

itinerário passou a ser cortado a partir de Pedrogão (18h50) para oeste. Há um segundo corte

no nó Troviscais/Mosteiro (acesso à M 516) pelas 19h02 e há o registo que às 19h16 o incêndio

atravessa o IC8 (Figura 6.1). Após essa altura a patrulha de trânsito recua para oeste seguindo

o avanço do fogo, e faz um novo corte no nó de Vila Facaia/Graça/Outão (CM 1170) pelas 19h16.

Face ao avanço contínuo das chamas na direção oeste, esta patrulha de trânsito, constituída

pelo cabo Santos e pelo cabo Lopes voltaram a recuar, desta vez até ao nó com a EN 236-1

onde terão novamente cortado o acesso ao IC 8 (sempre na direção Pombal-Pedrógão Grande).

Nesta fase crítica do incêndio muito próxima da chegada à EN 236-1, que deverá ter ocorrido

cerca das 20h10, há relatos aparentemente contraditórios:

 Às 20h00, o cabo Santos ter-se-á deslocado (deslocou-se sozinho), na viatura de

patrulha, pela EN 236-1, até ao cruzamento da Várzea/Vila Facaia, para se inteirar

da situação relacionada com o aproximar de uma nuvem escura de fumo.

 O cabo Santos ao regressar ao cruzamento da EN 236-1 com o IC 8, verificou que a

nuvem de fumo se encontrava ainda mais próxima pelo que decidiu mandar retirar

todos os populares que se encontravam no viaduto da EN 236-1 sobre o IC 8.

 De acordo com o mesmo, não se terá cruzado com nenhum veículo no regresso ao

nó com a EN 236-1.

 Já o colega o cabo Lopes refere ter visto viaturas a passar na N236-1 nos dois

sentidos.

 Por outro lado há relatos testemunhais que referem a existência de uma fila de trânsito

que se terá formado na EN 236-1, no troço entre o nó com o IC 8 e o cruzamento

para Várzea/Vila Facaia, em momento não determinado mas não muito tempo depois

das 20h00, coincidindo com a fuga a partir das aldeias a leste da EN 236-1. Este

congestionamento terá dificultado a progressão do trânsito para sul e tido

eventualmente consequências fatais para algumas das pessoas que se encontravam

na EN 236-1 a tentar fugir às chamas, e que acabaram por tomar o sentido inverso

na direção de Castanheira de Pera.

 A este respeito o relatório da GNR é completamente omisso, apesar de terem sido

ouvidas várias testemunhas civis no âmbito do inquérito.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 144

Página 145

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

144

Entretanto a patrulha de trânsito, vendo que o incêndio se continuava a aproximar voltou a recuar,

cerca das 20h15, desta vez para o nó do IC 8 em Figueiró dos Vinhos – Oeste, tendo verificado

não haver trânsito na EN 236-1. O Relatório Final relativo ao Processo de Inquérito n° 06/17

refere que em momento algum houve, por parte da GNR, a indicação da EN 236-1 como itinerário

alternativo ao IC 8. Por outro lado, o relatório refere ainda que “não foi efetuado qualquer corte

por patrulhas da Guarda na EN 236-1, em particular junto ao nó do IC 8, no sentido de

Castanheira de Pera, por nunca ter sido comunicada à Guarda qualquer decisão operacional ou

informação de risco naquela estrada nacional”. No entanto o risco parecia ser iminente, tendo

em conta a rápida aproximação da coluna de fumo detetada pela patrulha entre as 20h00 e as

20h15. Ainda no dia 17, é interditado o trânsito na EN 236-1 devido aos trabalhos de investigação

por parte das autoridades e de recolha das vítimas mortais e respetivas viaturas. Para além dos

cortes de estradas referidos, outros foram efetuados à medida que o incêndio progredia para

oeste, incluindo todo o IC 8 e posteriormente a A 13.

Muito embora a atuação da GNR pareça, de acordo com as informações recolhidas, ter sido a

correta, dentro de todos os condicionalismos, nomeadamente de comunicações, e tendo em

conta a excecionalidade da situação, fica por apurar até que ponto o corte do acesso ao IC 8,

terá tido alguma influência no relatado congestionamento de trânsito na EN 236-1 entre o

cruzamento com estrada Várzea/Vila Facaia e o nó com o IC 8. Fica também por apurar a

aparente contradição sobre o relato de não haver trânsito naquela via entre as 20h00 e as 20h15,

e os relatos que referem a existência de um congestionamento de trânsito. Finalmente fica por

apurar porque razão, perante a rápida aproximação da frente de fogo, não foi feito o corte da EN

236-1 na direção Figueiró dos Vinhos – Castanheira de Pera. A justificação de não haver ordens

do COS nesse sentido, contrasta com a descrição de que os cortes de estrada foram

essencialmente tomados por livre iniciativa dos militares da GNR, de acordo com a sua perceção

do risco para a circulação do trânsito.

8.4.2 A evacuação das populações

Apesar de terem existido iniciativas no sentido de evacuar algumas localidades, o rápido

desenvolvimento do incêndio não permitiu uma antecipação do que iria acontecer de modo a

conseguir salvar as vidas dos que pereceram no dia 17 de junho. Na verdade, nenhuma das

aldeias afetadas no período mais crítico, nomeadamente as que se encontram a leste da EN

236-1 terá sido alvo de qualquer evacuação.

O primeiro registo na fita do tempo relativo a evacuações refere a evacuação por uma patrulha

do SEPNA de um idoso, de um adulto e de quatro crianças entre as 19H30 perto de Aldeia das

Freiras e de mais duas crianças às 19h40 perto da rotunda de Outão (ambos os locais a sul do

IC 8). No entanto a GNR refere, num pedido de informação enviado pelo Ministério da

Administração Interna, que a patrulha SEPNA terá estado presente em Casal das Freiras um

pouco antes, entre as 19h13 e as 19h25.

Posteriormente encontram-se diversos registos de evacuação de populações com intervenção

da GNR, mas todos já a partir das 13h23 do dia 18 de junho. Entre esta data e o dia 20 de junho

é possível contabilizar mais de vinte ações de evacuação com participação da GNR.

Para além de outros momentos dramáticos relacionados com o perigo para vidas humanas

devido ao avanço do incêndio, é de referir o resgate cerca das 23h20 do dia 17 de junho, por

parte do Grupo de Intervenção Proteção e Socorro (GIPS) da patrulha do SEPNA antes referida,

na localidade de Coelheira, juntamente com dois civis, que se encontravam cercados pelo fogo.

13 DE OUTUBRO DE 2017 145

Página 146

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

145

8.4.3 O que poderia ter sido diferente

Tendo em conta que as mortes na EN 236-1 ocorreram na sequência da fuga a partir das aldeias

localizadas a este desta via, poderia ter-se colocado a hipótese de proceder ao corte das

estradas de acesso à EN 236-1. O desfecho de tal atuação teria sido provavelmente ainda pior

pois teria eventualmente implicado a ocorrência de mais vítimas, incluindo os próprios agentes

da autoridade.

Excluída esta hipótese, duas medidas poderiam no entanto ter sido tomadas, ambas

dependentes de informação que a GNR não dispunha. Poderia ter sido ordenada a evacuação

atempada das aldeias ameaçadas, ou poderiam ter sido tomadas medidas para que as pessoas

não saíssem de casa. Qualquer das decisões deveria ter resultado de uma análise adequada da

situação, de modo a prever o comportamento potencial do incêndio iniciado há mais de cinco

horas. Esta ausência de alerta precoce, por não ter sido feita a leitura do incêndio às 18h00 (e

mesmo antes) não permitiu impedir a maioria das fatalidades. Tal como é referido noutras partes

do presente relatório, este trabalho de antecipação deveria ter sido feito no seio do comando e

planeamento desta operação de socorro e deveria ter resultado na mobilização dos meios

necessários, incluindo a GNR, para evitar que se tivesse verificado uma fuga para a morte, tal

como veio a acontecer. Por sua vez, tal trabalho de antecipação só poderia ter sido feito com o

apoio de analistas de incêndios e de meteorologistas especializados, que permitisse uma

adequada avaliação da situação em tempo real. A verdade é que nenhuma destas competências

existe na ANPC, apesar da enorme gravidade e frequência dos incêndios em Portugal.

8.5. Cuidados de saúde

Este processo foi coordenado pelo Instituo Nacional de Emergência Médica – INEM e

desenvolveu-se em dois eixos diferentes: um para dar resposta às necessidades das populações

atingidas pelos incêndios e a segunda para proporcionar socorro aos operacionais envolvidos

nos teatros de operações.

O INEM teve em permanência um oficial de ligação junto do PCO. Foram-lhe atribuídas as

respetivas missões e, a partir daí, fazia o despacho de meios de acordo com a necessidade dos

pedidos. Para além de instalarem um Posto Médico Avançado (PMA) junto do PCO, em Avelar

no caso do incêndio de Pedrógão Grande.

Para esta ocorrência foram mobilizados 17 meios e 37 operacionais distribuídos da seguinte

forma:

 1 Veículo de Comando Tático (VCOT);

 4 Veículos Medico de Emergência e Reanimação (VMER);

 5 Ambulâncias tipo SBV (Suporte Básico de Vida);

 2 Ambulâncias tipo SIV (Suporte Imediato de Vida);

 1 Veículo de Intervenção em catástrofe (VIC);

 3 Unidades Móveis de Intervenção Psicológica de Emergência (UNIPE)

 1 Heli ligeiro, a que se associaram transitoriamente outros dois aparelhos.

A atuação do INEM contou com o apoio prestado pelas unidades de saúde locais e pela

segurança social e também pelas Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS).

A Comissão Técnica Independente ouviu os responsáveis pelos centros de Saúde de Pedrógão

Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera (este último via Presidente da Câmara

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 146

Página 147

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

146

Municipal). Os Centros de saúde, nesse dia 17, encerraram às 18h00 de sábado. Contudo, todos

foram reabertos antes das 24h00 desse mesmo dia 17 de junho (sábado). Não se verificaram

contactos com o PCO nem daí receberam quaisquer indicações. O trabalho foi articulado e

coordenado com o INEM, estando ao cuidado deste as situações de maior gravidade.

Alguns recursos médicos tiveram dificuldade em chegar aos Centros de Saúde por força do corte

dos acessos motivado pelos incêndios. A abertura do Centro de Saúde de Castanheira de Pera

foi garantida por um Médico dentista. Houve médicos, enfermeiros e auxiliares que se

mantiveram em funções durante longos períodos de tempo, garantindo que, durante todo o fim-

de-semana, os centros de saúde permanecessem abertos.

Alguns responsáveis deram nota da dificuldade em garantir alguns consumíveis, atendendo que

os Centros de Saúde não estão preparados nem equipados para responder a uma emergência

desta dimensão. Por esse motivo, a complementaridade com o INEM foi bastante relevada.

Não sendo competência do INEM, este prestou auxílio à medicina forense no âmbito da

identificação do local das fatalidades.

No incêndio de Góis a área médico-sanitária foi igualmente coordenada pelo INEM tendo sido

mobilizados 15 meios e 31 operacionais, a saber:

 2 Veículos de Comando Tático (VCOT);

 4 Veículos Medico de Emergência e Reanimação (VMER);

 5 Ambulâncias tipo SBV (Suporte Básico de Vida);

 3 Ambulâncias tipo SIV (Suporte Imediato de Vida);

 1 Heli ligeiro.

No âmbito dos contatos realizados, foi igualmente sublinhado o apoio prestado pelas unidades

de saúde locais, segurança social e outras instituições de solidariedade social.

As iniciativas do INEM beneficiaram de um forte envolvimento da Cruz Vermelha Portuguesa

(CVP).

No apoio às operações de evacuação de pessoas, para além das ambulâncias dos CB’s dos

respetivos distritos, foram mobilizados dois grupos de evacuação sanitária, sempre devidamente

articulados com o INEM: um do distrito de Lisboa, com 13 ambulâncias de socorro, e outro de

Castelo Branco, com seis ambulâncias de socorro.

No período de 17 a 22 de junho, o INEM prestou assistência a um conjunto de vítimas, de acordo

com a seguinte distribuição:

 Assistidos no incêndio de Pedrógão – 198;

 Assistidos no incêndio de Góis – 57;

 Feridos graves (Bombeiros) – 48;

 Feridos graves (GNR) – 3;

 Feridos graves (militares) – 1;

 Evacuações de Unidades de Saúde – 87;

 Vitímas mortais – 64.

13 DE OUTUBRO DE 2017 147

Página 148

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

147

Paralelamente à assistência médica, o INEM prestou apoio psicológico, em situação de crise, a

858 pessoas, nos diferentes concelhos afetados. Estas equipas do INEM tiveram o apoio de

psicólogos da Cruz Vermelha Portuguesa, da Policia de Segurança Pública, da Policia Marítima,

do Exército e da Câmara Municipal de Gondomar.

8.6. O sistema SIRESP

Uma das questões mais referidas em relação ao Incêndio de Pedrógão foi o desempenho da

rede de comunicações assegurada pela empresa SIRESP. Aliás, noutras situações passadas e

posteriores, a eventual insuficiência da rede SIRESP tem sido submetida a uma apreciação

constante, revelando dificuldades nas comunicações e sendo responsável por momentos de

interrupção.

Na região de Pedrógão Grande cinco antenas deixaram de estar conectadas com a rede,

permitindo apenas comunicações locais, isto é, comunicações que relacionavam os terminais

localizados em redor dessas antenas. Esta inibição contribuiu, por outro lado, para congestionar

as outras antenas que se mantiveram na rede. Embora esta situação seja desvalorizada pela

empresa SIRESP, reconhece-se que esta solução não pode ser admitida numa rede que

necessita de garantir comunicações entre os diversos pontos de decisão, muitos deles distantes

centenas de quilómetros, destinada a mobilizar recursos, a definir atuações de meios aéreos ou

de estabelecer estratégias de evacuação de pessoas.

A utilização de antenas móveis, no âmbito da solução tecnológica adotada pelo SIRESP, poderá

contribuir para superar eventuais destruições de ligações e de repor as condições operacionais

da rede. Mas não se consegue prever a dimensão das destruições de forma a colmatá-las todas

com antenas móveis.

Além disso é expectável que as diferentes tipologias de emergências, como por exemplo os

terramotos, as inundações ou os incêndios, exijam uma estrutura de emergência flexível e móvel,

que permita acorrer aos diversos pontos que necessitem de socorro. Não podemos esperar que

as emergências ocorram nos locais em que existam comunicações. O sistema de comunicações

deve estar preparado para acudir a todos os locais, mesmo os mais inacessíveis, para debelar

os seus efeitos, para socorrer as pessoas, para defender o património e para preservar o

ambiente. Recorde-se que o sistema SIRESP é estruturalmente rígido, baseando-se em 550

estações fixas e em duas estações móveis! Mesmo a utilização das antenas móveis estão

dependentes das acessibilidades, da distância e da operacionalidade das equipas que têm a

responsabilidade de as conduzir.

As equipas operacionais deveriam poder beneficiar de um modelo flexível e ter à sua disposição,

em qualquer ponto do território, a possibilidade de realizar as comunicações necessárias ao

desempenho das suas funções.

Uma outra questão que tem de ser evocada no caso do SIRESP é a complexidade de utilização

do sistema, designadamente dos seus terminais. A distribuição de um elevado número de

terminais por todas as forças e agentes com potencial intervenção em catástrofes conduz a uma

utilização que, em certos momentos, ultrapassa a capacidade do sistema. As informações, ainda

que parciais, fornecidas pela empresa SIRESP revelam esta pressão. Faltaria, contudo, mais

informação, sobre o número de utilizadores, designadamente sobre os pedidos de acesso em

simultâneo. Os dados publicados indicam o volume de tentativas de comunicação realizadas em

sucessivos períodos de duas horas, mas não nos fornece indicação alguma sobre o número de

utilizadores nesse período de tempo (há utilizadores que fizeram seguramente mais do que uma

tentativa para entrar no sistema). Por este motivo não se poderá saber se a capacidade foi

atingida ou se o sistema não consegue responder com simultaneidade ao fluxo de comunicações

que podem ser solicitadas em situações de emergência deste tipo.

Importa sublinhar, noutro nível, que a tecnologia TETRA (Terrestrial Trunked Radio), que suporta

a rede nacional de emergência e segurança, está tecnologicamente obsoleta quando comparado

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 148

Página 149

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

148

com as modernas tecnologias de comunicação. Para além da eficácia na própria comunicação,

obriga a uma dimensão de equipamentos que não se coaduna com a sua instalação em

aeronaves ou com a sua rápida implantação em qualquer local que exija comunicações fiáveis e

imediatas.

Os sistemas de comunicação necessários a operações de emergência têm de ser flexíveis e

prever a sua utilização em cenários diversificados. Incêndios, emergências médicas ou outras

situações em que se verifiquem condições extremas de calor, água, fogo ou aterros de todo o

tipo são cenários possíveis e que se têm de prever quando se estabelece um sistema de

comunicações. Os equipamentos necessários têm, por isso, requisitos operacionais distintos e

têm de garantir comunicações seguras e, nalguns casos, confidenciais.

Os sistemas de comunicação de emergência em Portugal poderiam ainda aproveitar as

capacidades proporcionadas pela tecnologia TETRA (2G) desde que sofressem um upgrade

adequado baseado no LTE (Long Term Evolution). Ou então deveriam evoluir para sistemas de

tecnologia avançada que incorpore capacidades 3G e 4G. O sistema TETRA foi desenvolvido

ainda no século passado e a evolução neste setor tem sido alucinante.

Refira-se que outros países estão já noutro patamar de inovação e que Portugal não deve

continuar a basear as suas comunicações em sistemas que, como se viu, são vulneráveis às

catástrofes que pretende socorrer.

Por outro lado o sistema permite neste momento a geolocalização (SIRESP GL), dos terminais

(rádios), mas apenas em tempo real e no CNOS, sendo importante que evolua muito rapidamente

para permitir uma utilização bastante mais alargada (PCO) e com registo histórico, dado tratar-

se de uma excelente ferramenta de recolha de informação, de apoio à decisão, coordenação e

monitorização.

A terceira questão que deve ser evocada diz respeito às modalidades de comunicação com a

população em geral, sobretudo na difusão de alertas, de avisos e de informações de âmbito

público. A existência de procedimentos rotineiros, rápidos e bem orientados é fundamental para

criar condições que permitam minimizar os efeitos de catástrofes.

A rede de telefones móveis é, genericamente, muito mais avançada tecnologicamente que o

sistema TETRA (tecnologia 2G). As redes telefónicas 3G oferecem capacidades 100 a 1000

vezes maiores que a tecnologia 2G. Esta não pode exibir mapas, fornecer informações de rota

em tempo real ou suportar as aplicações que são, na atualidade, instrumentos de uso quotidiano

nos telemóveis, nos iphones e nos tablets.

A disseminação dos telefones portáteis por toda a população permite conceber modalidades de

contacto para lançar alertas e avisos que não deverá ser descurado. A comunicação destinada

a pessoas idosas em meio rural, a deslocados, a instituições diversas, a núcleos populacionais

afastados, bem como ao público em geral é um potente meio de informar com rapidez de

eventuais catástrofes iminentes ou de situações que devem ser acompanhadas com extremo

cuidado.

Os sistemas de comunicações para emergência e abrangendo públicos alargados, utilizando as

redes de telefones móveis, são fáceis de estabelecer. No caso das autarquias, por exemplo,

precisam de definir uma lista de telefones móveis através dos quais possam difundir informações

úteis de emergência, por SMS ou por mensagens de voz. Tais sistemas são rotineiros em muitas

comunidades internacionais. Normalmente, as listas de chamadas cobrem não apenas os

residentes locais, mas outras pessoas interessadas, como membros da família, proprietários

residentes noutros lugares e outros. Embora esses sistemas possam não atingir diretamente

todos os interessados, permitem contudo distribuir amplamente informações e garantir uma

cobertura praticamente universal, pois mobilizam membros da família, vizinhos, amigos, colegas,

etc.

13 DE OUTUBRO DE 2017 149

Página 150

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

149

9. AVALIAÇÃO DE CENÁRIOS ALTERNATIVOS

9.1. Diferentes modelos de ocupação florestal e de gestão do combustível

Espaços florestais contínuos e, no caso em análise, ocupados predominantemente por

monoculturas de eucalipto e pinheiro bravo não sujeitas a gestão adequada face ao risco de

incêndio que representam, geram incêndios grandes e severos. A alteração do coberto florestal

no sentido da maior expressão de tipos florestais menos propensos ao fogo, mitigando os seus

impactes, ou alterando os seus padrões de propagação e intensidade e proporcionando

oportunidades de sucesso para as operações de combate podem constituir a longo prazo uma

resposta de raiz ao problema dos incêndios florestais. No curto prazo impõem-se respostas

baseadas na gestão estratégica do combustível acumulado.

O uso de modelos de simulação permite examinar os resultados associados a opções distintas

de ocupação do território, modelos de silvicultura e silvicultura preventiva. Para a região do Pinhal

Interior Norte – sendo os resultados extensíveis aos territórios vizinhos com condições

edafoclimáticas e padrões de uso do solo similares - a Figura 9.1 indica as reduções individuais

em área ardida associadas à diminuição da ocupação por eucaliptal sem gestão ativa por

ocupações florestais alternativas. Excluímos o pinhal bravo das opções em análise, dada a sua

progressiva substituição pelo eucalipto na região.

Figura 9.1 Área ardida resultante da transferência para outros cobertos florestais de áreas ocupadas por

eucalipto, obtida por simulação com o sistema Behave Plus assumindo modelos de combustível representativos:

M-EUC – eucaliptal com sub-bosque expressivo (situação de referência); M-CAD – folhosas caducifólias, com

sub-bosque expressivo; V-MH – matos sujeitos a fogo controlado frequente; M-ESC – folhosas de folha

persistente com sub-bosque expressivo; F-EUC – eucaliptal sem sub-bosque; F-FOL – folhosas caducifólias ou

de folha persistente sem sub-bosque.

Constata-se em primeiro lugar que a mera substituição do eucalipto, e o mesmo seria válido para

o pinheiro bravo, por espécies tidas como mais resistentes à propagação do fogo, como o

sobreiro, medronheiro e carvalhos, traria resultados modestos de diminuição da área ardida em

caso de existência de um estrato arbustivo relevante nos povoamentos. Em segundo lugar a

Figura 9.1 indica que a redução de acumulação do combustível em metade da área de eucaliptal

diminuiria a área ardida em 40%. Tal é corroborado pela observação de ilhas não ardidas ou de

fogo de baixa severidade no seio do eucaliptal ardido pelo incêndio de Góis, em propriedades

submetidas a gestão florestal e cujo combustível é tratado à taxa anual aproximada de 20%. O

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 150

Página 151

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

150

resultado mais expressivo resultaria porém da presença de bosques maduros e fechados de

quercíneas e outras folhosas, com uma redução da área ardida em cerca de 57% correspondente

à substituição de metade da área de eucalipto. Finalmente, manter baixas cargas de combustível

nas áreas de matos contribuiria também pouco para reduzir a área ardida.

Figura 9.2 Auto-extinção do incêndio de Pedrogão Grande no sobreiral junto à aldeia de

Ferraria de São João, Penela.

A principal implicação dos resultados reside na dificuldade em alcançar reduções significativas

de área queimada por substituição de espécies florestais. Para ser efetiva, essa substituição

exigirá gestão ativa do combustível até que os povoamentos adquiram uma estrutura que os

tornem menos suscetíveis de arder, por exemplo como no sobreiral de Ferraria de São João

(Figura 9.2) Assim, do ponto de vista da mitigação do perigo de incêndio, e independentemente

da existência de outros motivos para a substituição, é mais urgente optar por intervir nos

povoamentos existentes.

Importa referir que os resultados são tão-só indicativos, uma vez que exprimem o efeito passivo

(na ausência de combate), assumem dispersão aleatória na paisagem e não integram os efeitos

meteorológicos locais. A localização estratégica das substituições e intervenções de silvicultura

preventiva, com base na simulação espacial do comportamento do fogo, certamente produziria

resultados mais notórios.

9.2. Diferentes estratégias de gestão do fogo

A gestão do fogo deve ser diferenciada, respondendo aos problemas específicos e contextos

regionais, o que resulta em soluções distintas de balanceamento entre os investimentos alocados

às várias atividades da gestão do fogo.

Modelos empíricos existentes (BARROS et al. 2014) permitem examinar as consequências da

opção por diferentes combinações de quatro estratégias distintas de gestão do fogo,

respetivamente controlo de ignições, melhoria da resposta imediata a uma ocorrência evitando

que um fogacho se transforme num fogo (ou seja, que queime mais de 1 ha), melhoria do

combate evitando grandes incêndios (acima de 100 ha), e gestão do combustível. Como

indicadores de desempenho usaremos a área ardida e a severidade do fogo, inferida da

dimensão média dos fogos.

A Figura 9.3 compara os ganhos individuais inerentes a cada uma das opções quando as

restantes se mantêm constantes e nos níveis atuais. Na região do Pinhal Interior Norte, e em

13 DE OUTUBRO DE 2017 151

Página 152

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

151

contraste com as regiões do país onde ocorrem mais fogos, a redução da densidade de ignições

constitui a estratégia individual mais efetiva para reduzir a área ardida, o que se deve a

probabilidades relativamente elevadas de falha do ataque inicial e desenvolvimento de incêndios

progressivamente maiores, tal como determinado pelas características adversas do território.

São comparativamente mais modestos os resultados que advêm da enfâse na diminuição do

número de grandes incêndios.

Figura 9.3 Efeito individual da opção por cada uma das estratégias de gestão do combustível quando as

restantes se fixam nos valores atuais de desempenho ou esforço.

A efetividade relativa das quatro estratégias altera-se ao analisar o impacto na severidade do

fogo. Gerir o combustível é agora a opção mais avisada e diminuir o número de fogos não tem

qualquer efeito. O Quadro 9.1 qualifica o efeito relativo de cada uma das estratégias. Os

resultados sugerem portanto como escolha preferencial a aposta num mix de controlo de ignições

e controlo do combustível, ou seja, o foco na prevenção.

Quadro 9.1 Efeito qualitativo individual das estratégias de gestão do fogo.

Estratégia Efeito

Área ardida Severidade

Reduzir o n.º de ignições Elevado Moderado

Reduzir o n.º de fogos (>1 ha) Elevado Nulo

Reduzir o n.º de grandes fogos (>100 ha) Moderado Moderado a elevado

Gerir o combustível Elevado Elevado

Os resultados das políticas de gestão do fogo não são imediatos nem invariáveis ao longo do

tempo, pelo que podemos agora examinar as consequências a longo prazo (30 anos) da

implementação de duas combinações de estratégias:

 Prevenção, com redução gradual e constante do nº de ignições até alcançar 28% do

valor atual e gestão do combustível em 5% (ao ano) do território, após aumento

gradual durante 10 anos;

 combate, com redução anual constante de 2% no n.º de fogos e n.º de grandes fogos.

Fez-se variar estocasticamente (dentro da variação interanual observada) o perigo meteorológico

de incêndio ao longo da série temporal.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 152

Página 153

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

152

Verifica-se (Figura 9.4, gráficos superiores) que a opção pela prevenção resulta numa tendência

de decréscimo ao longo do tempo, tanto da severidade do fogo como da área ardida, sendo que

no pior ano (tal como ditado pela meteorologia) a dimensão do fogo médio e a área ardida

atingiram cerca de 60 e 90% do valor de partida, ou seja da média interanual atual.

Os resultados da opção pelo combate são distintos (Figura 9.4, gráficos inferiores). Não se

verifica qualquer melhoria ao longo do tempo, e nos anos com pirometeorologia mais

desfavorável o fogo médio é cerca de 50% maior do que atualmente. Nesses mesmos anos a

área ardida representa 250-300% do valor médio atual, com tendência crescente, o que sugere

a materialização do paradoxo do fogo e da “armadilha do combate”. Políticas concentradas no

combate a incêndios e que não tratam as causas estruturais do problema conduzem ao

agravamento da gravidade dos incêndios a prazo, o que seria provavelmente ainda mais notório

caso tivéssemos considerado na simulação as alterações climáticas que se anteveem. Estes

resultados confirmam aqueles que COLLINS et al. (2013) obtiveram para Portugal usando uma

abordagem de modelação diferente.

Figura 9.4 Resultados das estratégias de prevenção (em cima) e combate (em baixo) hipoteticamente aplicadas

ao Pinhal Interior Norte. As linhas a tracejado resultam do ajustamento de regressões lineares para identificar

tendências.

13 DE OUTUBRO DE 2017 153

Página 154

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

153

10. PROBLEMÁTICAS E RECOMENDAÇÕES

A apreciação dos acontecimentos em torno dos incêndios de Pedrógão Grande e de Góis,

integrando a informação recolhida após os numerosos contactos e entrevistas que a Comissão

Técnica Independente (CTI) realizou na região, permite avançar com algumas Reflexões e

Recomendações para o futuro. O conjunto de reflexões associa naturalmente a realidade

analisada à capacidade, às competências e à experiência dos membros da CTI, bem como aos

vários estudos, análises e propostas precedentes relativos ao Sistema Nacional de Defesa da

Floresta Contra Incêndios (SNDFCI). As recomendações, com as respetivas fundamentações,

permitem propor uma alteração das condições de ordenamento e gestão da floresta, de uma

nova estratégia e um novo enquadramento institucional no que respeita ao sistema de defesa da

floresta contra incêndios (diferenciando a defesa da floresta da proteção de pessoas e bens) e

de ajustamentos na estrutura da prevenção estrutural, mas também da proteção civil.

Neste último domínio, relacionado com a estrutura de proteção civil, as componentes decisivas

que contribuirão para melhorar o sistema incidem na qualificação dos recursos humanos e na

maior incorporação do conhecimento na previsão, na avaliação e na atuação perante as diversas

situações. Este aspeto é crítico e considera-se essencial que seja contemplado com urgência,

no sentido de permitir superar a atual situação, caracterizada por um misto de voluntarismo e de

ausência de confiança na estrutura. Neste âmbito destaca-se a oportunidade de aprendizagem

com base na reconstituição que deve constituir o IF de Pedrogão Grande, pelo seu impacto,

comportamento e dimensão. A enorme oportunidade de aprendizagem e melhoramento que

constituem a restituição, análise e difusão de acontecimentos e procedimentos nos Grandes

Incêndios Florestais (GIF), tem estado praticamente ausente do nosso sistema - exceção para o

Grupo de Análise e Uso do Fogo, entre 2006 e 2010 – pelo excessivo protecionismo que

confunde monitorização com atribuição de responsabilidades e resultados com procedimentos.

Este é outro dos paradigmas que mais urgentemente terá que ser alterado.

Muitas das recomendações propostas poderão ter aplicabilidade a curto prazo. Contudo a CTI

sublinha que a reconversão, não só da capacidade de intervir na floresta, como também do

combate aos incêndios florestais, constitui um processo multifacetado que deve ser adotado

progressivamente a médio e a longo prazo, mas assegurando a sua estabilidade. As soluções

imediatas, que reúnem um elevado consenso nos domínios técnico e da política setorial, devem

ser introduzidas logo que possível, de forma a minorar eventuais futuros acontecimentos com

uma expansão semelhante aos incêndios que se desenvolveram no verão de 2017.

O próprio SNDFCI, conduz à perceção de que, por um lado, existem pressupostos que na

realidade não se verificam e que contribuem para muitas das suas ineficiências e, por outro, que

possui lacunas que terão que ser colmatadas.

As recomendações propostas centram-se nos aspetos principais do problema, destinando-se

fundamentalmente a serem orientadoras para futuras políticas e estratégias de melhoramento

do atual SNDFCI.

O delineamento das futuras políticas e estratégias deverá ser concebido de forma exaustiva e

detalhada na próxima revisão do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios

(PNDFCI) que, por coerência com as propostas apresentadas no presente relatório, deverá

alterar a sua designação para Plano Nacional de Proteção Contra Incêndios Rurais (PNPCIR), e

ser antecipada para o início de 2018, de forma a ficar completamente revisto e aprovado antes

do término do plano vigente.

Esta revisão deverá ser efetuada por equipas multidisciplinares que integrem personalidades

com elevado grau de conhecimento, experiência e independência, no âmbito da gestão do fogo

numa conceção transversal e abrangente, desde as políticas e estratégias à resposta

operacional.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 154

Página 155

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

154

Atendendo à interdependência e transversalidade de muitas das medidas propostas,

essencialmente relacionadas com a participação de recursos humanos devidamente

capacitados, responsabilizados e enquadrados, para a obtenção de intervenções eficazes e

eficientes, dedicam-se noutra área deste relatório um capítulo específico (capítulo 11) com um

maior grau de desenvolvimento e com dois subcapítulos. Um dedicado aos princípios diretores

de uma nova organização de coordenação, com componente operacional, que deverá ser criada

no âmbito do SNDFCI, a Agência de Gestão Integrada de Fogos (AGIF). Outro relativo às suas

competências e organização. Conhecimento, especialização, estratégia, racionalização de

custos, reconhecimento, valorização profissional, monitorização, transparência e governança,

podem constituir as chaves da solução que estão na base do funcionamento da estrutura

proposta.

A. SISTEMA

10.1 REFORMULAR OS PRINCÍPIOS DO SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DA FLORESTA CONTRA

INCÊNDIOS

O sistema está baseado na Defesa da Floresta Contra Incêndios, apesar de, na prática, a grande

maioria dos investimentos, nomeadamente os realizados na prevenção, e das prioridades dos

principais intervenientes terem como objetivo fundamental a defesa das pessoas e de bens

contra os incêndios florestais.

Este desfasamento entre os objetivos e a realidade conduz a erros de orientação estratégica e

organizacional resultando em deficiências nas duas perspetivas, não se salvaguardando

eficazmente os investimentos florestais ou o património natural, e registando-se em simultâneo

um número crescente de vítimas e de prejuízos nas infraestruturas e no edificado. Na realidade

justapõem-se urgência e socorro confundindo-se os intervenientes e as intervenções.

Apesar da grande dependência das duas situações, que terá justificado a ligação entre os dois

objetivos, a normal prioridade atribuída à defesa de pessoas e bens (no sentido de património

construído), nos teatros de operação que incluam interfaces urbano-florestal, provoca na

realidade fluxos de meios e intervenções que perturbam a eficácia do combate ao incêndio

florestal, aumentando progressivamente o risco para um número crescente de pessoas e de

bens, entrando-se num crescente ciclo vicioso, ingerível nas condições atuais do DECIF.

A elevada frequência com que ocorrem incêndios de interface urbano-florestal, a existência de

conhecimento vocacionado para a prevenção e combate a incêndios rurais e para a proteção

civil, associados a especificidades existentes nas entidades que podem ser orientadas para cada

um dos objetivos, aconselham e permitem a distinção operacional e de responsabilidade entre

as duas componentes, assumindo-se que na origem do problema estão os incêndios rurais e os

comportamentos associados aos mesmos. Importa referir que também ao nível da prevenção e

preparação se misturam intervenientes e intervenções com o objetivo de diminuir a expressão e

a extensão dos incêndios florestais. Estas intervenções, marcadamente do âmbito da defesa de

pessoas e de infraestruturas, que têm especificidades técnicas e utilizações diferenciadas em

termos operacionais, devem ser executadas e/ou acompanhadas por entidades com

responsabilidades específicas na gestão e na intervenção local.

A ocorrência de acidente grave ou de vítimas durante as operações de combate provoca uma

elevada ansiedade, instabilidade e perturbação nos intervenientes e no dispositivo de combate

a incêndios, que é normal e naturalmente este é preterido para segundo plano, mas que acarreta

deficiências importantes na organização das operações.

Propostas:

Alteração profunda dos princípios de base considerados, adotando-se desde logo a designação

e a atuação subsequente, passando-se da atual Defesa da Floresta Contra Incêndios (DFCI)

13 DE OUTUBRO DE 2017 155

Página 156

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

155

para a Defesa Contra Incêndios Rurais (DCIR), que deverá assentar num conceito mais

abrangente, assente na realidade e de aplicação urgente, o Sistema Nacional de Gestão

Integrada de Fogos Rurais (SNGIFR), subdividido nas componentes da Gestão de Fogos Rurais

(GFR), orientado para os espaços florestais, e da Proteção Contra Incêndios Rurais (PCIR)

incluindo as pessoas e bens.

Desenvolvimento e implementação do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais

(desenvolvido no capítulo 11.1 deste relatório), composto pelas duas componentes

interdependentes e complementares, mas com objetivos, gestão e responsabilização autónoma:

a Gestão de Fogos Rurais (GFR), e a Proteção Contra Incêndios Rurais (PCIR).

Considerara necessidade de valorizar e individualizar a gestão de fatalidade que se deve ocupar

em exclusivo da assistência às vítimas e do acompanhamento e informação aos seus familiares.

10 .2 MAIOR INTEGRAÇÃO DA PREVENÇÃO E DO COMBATE

A organização atual do SNDFCI em três pilares, sem a atuação de elementos de interligação

reciprocamente reconhecidos, contribui para a setorização de organismos e desligamento entre

ações que têm que ser obrigatoriamente complementares, o que conduz a que se efetuem

elevados investimentos em infraestruturas que não têm utilização ou sem repercussão nos

resultados esperados.

Os intervenientes na prevenção e na gestão florestais não participam frequentemente nas

decisões operacionais de combate aos incêndios, por ação ou omissão, não sendo valorizados

os conhecimentos existentes e a importância que os mesmos têm que ter nas tomadas de

decisão.

Frequentemente não são utilizadas as oportunidades criadas pela prevenção estrutural nas

ações de combate, por desconhecimento da sua existência, por desadequação das intervenções

realizadas ou por falta de estratégia (de prevenção e/ou de supressão). Refira-se ainda que estas

situações induzem elevada desconfiança e descrédito nos investimentos da prevenção, pois

põem em causa a viabilidade e a racionalidade de qualquer estratégia de prevenção – ou de

intervenção – se não criarmos condições que impliquem a responsabilidade e obrigatoriedade

da sua utilização, que está intimamente associada ao uso do conhecimento e à implementação

de estratégias adequadas na gestão do fogo e das intervenções.

Propostas:

Participação das estruturas financiadas de forma permanente no âmbito do DECIF para a

supressão (ANPC, FEB, GIPS) em ações de prevenção, melhorando a utilização dos recursos

públicos. Na situação atual de clima e de comportamento de fogo é cada vez mais difícil

pretender que as alterações nos complexos de combustíveis permitam a supressão passiva do

fogo, pelo que terá sempre que ser garantida a utilização destas oportunidades no âmbito do

combate (supressão ativa).

A participação de elementos destas estruturas na realização de ações de prevenção estrutural,

para além de aumentar a capacidade da sua execução, constitui-se como excelente

oportunidade de treino, de aproximação entre entidades, da maior utilização de oportunidades

na supressão e de aumento de eficiência.

Utilizar os ensinamentos do combate para ajustar devidamente a prevenção estrutural. Aumentar

a proporção de intervenções de gestão de combustíveis de forma estratégica, implementada nos

locais que mais facilmente se apresentam como oportunidades de combate e recorrendo ao

dimensionamento e às técnicas mais adaptadas a cada situação.

Criar condições para a utilização prioritária e racional das oportunidades de combate

proporcionadas nas situações com reduzida carga e continuidade de combustíveis, através da

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 156

Página 157

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

156

participação dos intervenientes da prevenção e da definição e implementação de estratégias

ajustadas.

10 .3 MONITORIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DO SISTEMA E DOS SEUS

INTERVENIENTES

O sistema de monitorização e acompanhamento que existe atualmente, relativo aos incêndios

rurais, limita-se à avaliação do cumprimento das metas do PNDFCI, situando-se portanto a um

nível muito geral e cujos resultados não têm tido repercussão no SNDFCI.

Não existem procedimentos efetivos que exijam e determinem a avaliação da eficácia e da

eficiência do SNDFCI em todas as suas componentes e agentes, desde a formação que é

ministrada aos intervenientes, às ações de prevenção e de combate, à sua utilização e

interligação, ou à eficiência financeira das intervenções ou estruturas.

Propostas:

Implementação de processos transparentes e periódicos de avaliação do Sistema nas suas

componentes estratégicas:

 Avaliação da eficiência dos investimentos efetuados em prevenção,

independentemente da sua origem pública ou privada. Deverão ser avaliados o

posicionamento, o dimensionamento, as técnicas, a frequência, os resultados e os

montantes dos investimentos. O sistema deverá tender progressivamente para a

implementação de princípios de gestão estratégica e eficiente de combustíveis.

 Avaliação da utilização das ações de prevenção no âmbito do combate e da sua

interação.

 Avaliação do desempenho das diferentes forças nas ações de supressão, em particular

dos responsáveis pelas manobras de uso do fogo, com registo obrigatório na fita de

tempo.

 Avaliação sistemática dos Grandes Incêndios Florestais (GIF) e de situações de

reacendimentos.

 Avaliação da alocação dos recursos nos processos do SNDFCI e da sua eficiência.

B. CONHECIMENTO

10.4 GARANTIR A INTRODUÇÃO CONSISTENTE DE CONHECIMENTO

NAS DIVERSOS COMPONENTES DO SISTEMA

As perspetivas de sucesso do combate não podem estar predominantemente associadas ao

número e à capacidade dos meios, sem plena utilização do conhecimento na definição de

estratégias, da adoção de técnicas e do estabelecimento de táticas de combate dos

intervenientes considerando as condições do território e de propagação do fogo que facilitam a

sua supressão.

Exemplo deste paradigma é a vã esperança frequentemente assumida e divulgada (nas

operações, com reflexo na comunicação social) de que, com a entrada dos meios aéreos, o

sucesso do combate pode melhorar, quando se sabe que estes não podem operar nas condições

mais favoráveis para a supressão (período noturno associado a menores temperatura e maiores

humidades relativas). É frequentemente invocada a necessidade de mais meios nas operações

13 DE OUTUBRO DE 2017 157

Página 158

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

157

em geral de CIF ou noutras intervenções específicas. O nosso país tem vindo desde há vários

anos a reforçar o dispositivo e o investimento (desde 1981, mas com mais ênfase desde o ano

2000) com mais meios de todos os tipos e sem que o sucesso do ataque ampliado (ATA) tenha

refletido esse incremento (tendo-se mesmo agravado com o aumento do número e da dimensão

dos grandes e sobretudo dos muito grandes incêndios florestais).

Por outro lado, praticamente nunca é dado qualquer relevo à existência ou inexistência de

conhecimento disponível e da estratégia que explica o sucesso ou insucesso das intervenções,

como se se tratassem de ações em que a racionalidade pode ser secundarizada, quando a

complexidade do problema e a ciência do combate aos incêndios florestais recomenda

exatamente o contrário, com a estratégia e a capacidade de antecipação a sobreporem-se em

importância ao número e à capacidade dos meios de combate.

Propostas:

Máximo aproveitamento das condições meteorológicas que facilitam as ações de supressão. São

normalmente as condições noturnas, sobretudo quando a recuperação da humidade atmosférica

é importante (acima dos ~80 %), as que propiciam elevadas probabilidades de sucesso e de

maior rendimento das ações de supressão, desde que as estratégias, técnicas e locais de

combate sejam delineados atempadamente de forma eficaz, normalmente durante o dia. Esta

estratégia pressupõe a existência e a mobilização de decisores com capacidade de previsão e

de antecipação, munidos de informação operacional de qualidade e de operacionais capazes,

responsabilizados e responsáveis. O IPMA deverá proporcionar informação técnica com

resolução temporal adequada ao sistema de apoio à decisão.

Promoção da máxima complementaridade entre intervenções de meios aéreos e intervenções

terrestres. A intervenção dos meios aéreos deve estar diretamente associada à possibilidade de

intervenção terrestre, aproveitando de forma eficaz a redução de intensidade provocada pela

ação dos primeiros.

Existência de especialistas no Sistema com capacidade reconhecida para análise de incêndio e

para a sua participação nas decisões estratégicas e operacionais. Verificação de que as

propostas de atuação em ATA (estratégias, técnicas, táticas e organização operacional) têm em

consideração o comportamento esperado do fogo, o aproveitamento das melhores

oportunidades de combate e são adequadas às capacidades de extinção.

Presença de especialistas de várias disciplinas, com perfis reconhecidos e competências

devidamente ajustadas às necessidades, nos centros de decisão, Garantir que nos centros de

decisão a todos os níveis – desde o nacional ao local – existem especialistas reconhecidos das

diferentes disciplinas com importância no comportamento e supressão do fogo e na organização

logística que possam contribuir adequadamente para a preparação e resolução das situações.

10 .5 GRAU DE PREVISIBIL IDADE NOS INCÊNDIOS FLORESTAIS

O DECIF, ainda que atempadamente planeado e organizado, é nas operações de supressão

fundamentalmente reativo, atuando com frequência como se os incêndios fossem um

acontecimento de elevada imprevisibilidade, como qualquer outro acontecimento de proteção

civil ou catastrófico que carece de socorro. Acontece que os incêndios florestais são, em

particular num país com o histórico e as características das ocorrências de Portugal, um

acontecimento bastante previsível, onde a eficácia está diretamente ligada à capacidade de

antecipação. Se em muitos dos eventos mais graves de proteção civil – terramotos, erupções,

incêndios urbanos, acidentes rodoviários ferroviários ou aeronáuticos – existe pouca ou

nenhuma previsibilidade e, por isso, escassas condições de antecipação, nos incêndios

florestais, atuando-se fundamentalmente em socorro (pós-emergência e assistência às vitimas),

mesmo na supressão, é imperativo que se antecipe a intervenção com base na probabilidade da

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 158

Página 159

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

158

sua ocorrência e no comportamento expectável, extremamente previsíveis com o conhecimento

e as ferramentas atualmente existentes.

Exemplo prático desta constatação é a atribuição do insucesso da supressão a mudanças súbitas

na direção e força do vento, o que é frequentemente invocado por vários intervenientes do

DECIF. No entanto, em situações normais (portanto não extremas) de vento, que são as mais

comuns em Portugal, e com o grau de previsibilidade atualmente existente, esta é a tipologia de

fogo – incêndios de vento – cujo comportamento é mais fácil de prever, permitindo delinear

antecipadamente estratégias e táticas de combate com grandes possibilidades de sucesso. As

dificuldades registadas em muitos teatros de operações, associadas a incêndios de vento, estão

frequentemente relacionadas com intervenções reativas baseadas em estratégias erradas que

privilegiam a atuação imediata na cabeça do incêndio, cuja intensidade frequentemente

ultrapassa (qualquer) capacidade de extinção. Sublinhe-se que estratégias erradas nesta

tipologia de incêndios acarretam quase invariavelmente grandes áreas ardidas.

No SNDFCI não existe uma estratégia de atuação deliberada de identificação e

acompanhamento de ocorrências para antecipar grandes incêndios e resolver as suas causas.

Situações de perigo meteorológico muito elevado ou extremo ocorrem com frequência crescente

fora do período crítico, originando grandes incêndios, sem que o dispositivo esteja ajustado a

estas situações de risco.

Por outro lado, a elevada ocorrência de grandes incêndios florestais no nosso país e que se

verifica desde há décadas, propicia a existência de historial de incêndios considerável, por um

lado, e de acumulação de experiências, por outro, que deverá contribuir para aumentar o grau

de conhecimento, a qualidade da formação e por isso as possibilidades de sucesso dos

intervenientes na coordenação e no combate.

Propostas:

As condições em que ocorrem incêndios florestais no nosso país, em particular aquelas que

propiciam a ocorrência de grandes incêndios florestais, estão bastante bem identificadas e

permitem uma elevada previsibilidade. As previsões meteorológicas a curto e médio prazo são

bastante fiáveis, permitindo uma elevada antecipação da sua influência no comportamento do

fogo. Os sistemas de informação geográfica e as facilidades de caraterização da ocupação do

solo e de caraterização de risco estrutural permitem compreender e antecipar rapidamente a

influência da orografia e dos combustíveis no comportamento do fogo. Existe tecnologia (de

simulação espacial do fogo) que pode contribuir para aferir e predizer o comportamento do fogo

e a propagação dos incêndios.

Adaptar a organização do Sistema e as intervenções às condições previstas e ao comportamento

esperado do fogo, garantindo que:

 O Sistema deverá ter a contribuição de colaboradores internos e/ou externos capazes

de analisar as previsões e as condições presentes e futuras com influência na

probabilidade e no comportamento do fogo;

 O dispositivo e os procedimentos são adequados às condições de perigo

meteorológico, com base na flexibilização da disponibilização de meios nas diferentes

fases do dispositivo através do reforço de estruturas profissionais;

 As previsões chegam e são obrigatoriamente tidas em devida consideração por todos

os intervenientes com responsabilidade no sistema, a todos os níveis;

 As estratégias, as táticas delineadas, a ativação e o balanceamento de meios e o

planeamento das operações são proporcionais e adequadas ao comportamento

observado e esperado do fogo e aos elementos em risco. As decisões operacionais

13 DE OUTUBRO DE 2017 159

Página 160

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

159

são baseadas na análise dos fatores preponderantes, imediatos e futuros para o

comportamento do fogo, atuando-se fundamentalmente em antecipação;

 Adotar à escala nacional procedimentos de identificação e de resolução local de causas

de incêndios, replicando bons exemplos locais já implementados em Portugal e

eventualmente complementados por imagens de satélite;

 Aumentar o esforço na determinação de causas, através nomeadamente da alocação

dos recursos atualmente aplicados no levantamento de áreas ardidas, que deve ser

completamente substituído por imagens de satélite de maior precisão geométrica

disponível;

 Divulgar e implementar procedimentos de preparação no território para locais com

incidência anormal de ocorrências. Garantir a utilização operacional das informações

do SGIF, nomeadamente quanto ao número e concentração de ignições para

orientação de ações de fiscalização, de vigilância, de deteção, de diálogo com as

populações através da ligação entre todas as entidades envolvidas no Sistema, com

orientações para o nível municipal;

10 .6 PROMOVER A INVESTIGAÇÃO CIENTÍF ICA APLICADA NO ÂMBITO

DO SISTEMA NACIONAL DE DEF ESA DA FLORESTA CONTRA

INCÊNDIOS

A insuficiente incorporação de conhecimento nos mecanismos relacionados com o sistema

nacional de defesa da floresta contra incêndios é um dos aspetos que está presente em

praticamente todos os momentos desta problemática.

Nos diversos planos da intervenção, incluindo a prevenção, a previsão, o combate ou as

operações exigidas no final de cada acontecimento são muitas vezes condicionadas por

perceções empíricas, por palpites generosos ou por visões pouco fundamentadas.

É neste domínio que se entende que o investimento futuro em ciência deve ser dinamizado,

fazendo convergir capacidades de produção de conhecimento com as atividades que preenchem

as diversas componentes do sistema nacional da defesa da floresta contra incêndios.

Reconhece-se que a capacidade de produção de conhecimento instalada nos centros de

investigação das instituições portuguesas (universidades e laboratórios e Estado) não estará,

muitas vezes orientada para a solução dos problemas concretos suscitados pelo sistema de

defesa da floresta contra incêndios. A completa superação desse desajustamento corresponderá

a uma situação que admitirá o uso do conhecimento como um dos componentes obrigatórios

para o êxito das estratégias, das táticas e das lideranças operacionais.

Para além das capacidades instaladas nas instituições portuguesas, valerá a pena sublinhar as

disponibilidades financeiras recentemente referidas pela Comissão Europeia (através do

Comissário para a Investigação, Ciência e Inovação), as quais podem gerar programas robustos

de I&D, com fortes componentes práticas de inovação.

Propostas:

 Identificação das áreas prioritárias para desenvolver projetos de investigação científica

aplicada, para além das que resultam das necessidades prementes do sistema

nacional de defesa da floresta contra incêndios:

i. Gestão do fogo

ii. Comportamento de fogos extremos

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 160

Página 161

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

160

iii. Modelos de ordenamento e silvicultura preventiva.

 Lançamento de um programa de I&D aplicada para gerar instrumentos informáticos de

simulação e de apoio à decisão, incorporando a diversidade de variáveis associadas

ao comportamento dos incêndios florestais;

 Utilização das aplicações informáticas de simulação para fins pedagógicos,

incorporando-as nas ações de formação de nível secundário e superior, mas também

nas iniciativas de curta duração organizadas pela Escola Nacional de Bombeiros;

 Desenvolvimento de iniciativas de I&D aplicadas na área da meteorologia e da

previsão, comprometendo diversas instituições, designadamente o IPMA, e definindo

como objetivos o reforço do fornecimento de informações e de instruções práticas

capazes de condicionarem as atuações operacionais de prevenção, de pré-

posicionamento e de combate

 A estabilidade, permanência e sustentabilidade destas iniciativas deverá basear-se na

criação de um Laboratório Colaborativo, impulsionado pelas empresas e entidades

florestais, integrando os diversos agentes de proteção civil comprometidos com a

defesa da floresta contra incêndios e associando as universidades e laboratórios de

Estado com trabalho científico desenvolvido nestas áreas. Um programa especial,

impulsionado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e suportado pelo complexo

empresas-entidades de proteção civil-centros de I&D, deverá ser delineado e

desenvolvido.

C. RECURSOS HUMANOS

10.7 RECURSOS HUMANOS QUALIF ICADOS, COMPONENTE CRÍT ICA DO

SISTEMA

Neste momento não são garantidas competências no DECIF que assegurem uma utilização

transversal e essencial do conhecimento científico ou das ferramentas existentes de apoio à

decisão operacional, mesmo das de utilização mais acessível, simples e eficaz, como as

previsões meteorológicas. O Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF)

não prevê a obrigatoriedade da existência de recursos humanos especializados com formação e

experiência profissional que se constituam como um fator que garanta da utilização das

ferramentas de previsão e/ou de apoio à decisão, ou da implementação eficaz das normas de

organização do sistema.

Os teatros de operações dos grandes incêndios rurais que ocorrem em Portugal atingem

frequentemente uma quantidade e diversidade de meios cuja gestão logística e operacional

ultrapassa recorrentemente a capacidade de organização dos intervenientes presentes nos

postos de comando operacionais. O incêndio de Pedrógão Grande ilustra bem esta insuficiência.

Não existe correlação, que deveria ser obrigatória, entre as competências pessoais e os cargos

ou funções das estruturas da ANPC. Os cargos de comando/coordenação da estrutura

operacional (EO) da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) são atribuídos por nomeação

e não por concurso, apenas existindo o requisito de possuir uma licenciatura (qualquer área de

formação). Não existem, em qualquer das áreas de competência da proteção e socorro, perfis

definidos e conteúdos funcionais, nem sistema de verificação ou validação oficial da capacidade

dos nomeados para o desempenho das funções.

O sistema atual não diferencia nem promove especialização, capacidade ou qualidade de

desempenho.

13 DE OUTUBRO DE 2017 161

Página 162

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

161

Propostas:

Os sistemas de proteção civil devem ser constituídos por profissionais que devem possuir as

competências e a experiência adequada para o desempenho das funções. Nas funções e cargos,

por inerência, devem existir condições de capacitação pessoal, de progressão em função da

experiência e do desempenho, que garantam à sociedade serem esses profissionais

efetivamente capazes de contribuir de forma séria e responsável para a proteção.

Definição de perfis correspondentes às funções desempenhadas nas estruturas de proteção civil

e substituição de nomeações por concursos:

 Devem ser definidos os perfis profissionais e conteúdos funcionais correspondentes a

cada função e cargo previstos no SGO, criando-se uma carreira de gestão de

emergência na administração pública;

 Substituição progressiva, mas com implementação imediata, do atual sistema de

nomeações, por sistema de concursos, com base na formação, nas competências, na

experiência e no mérito, de acordo com os perfis definidos para as funções e

submetendo-se às regras de seleção de dirigentes superiores previstas na

administração pública;

 Adoção do perfil de qualificações europeu para a definição do conteúdo das diversas

funções associadas à proteção civil. (Anexo 11)

10 .8 FORMAÇÃO E QUALIF ICAÇÃO EX IGENTES E AJUSTADAS ÀS

NECESSIDADES DO SISTEMA

A atual estrutura de formação está baseada nas competências internas às estruturas das

Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários, adquiridas exclusivamente no âmbito de

formações pontuais (que dão origem a acesso na carreira/promoções) e que são ministradas

pela Escola Nacional de Bombeiros (de forma presencial ou a distância). Não está assegurada

a adequada utilização dos conhecimentos e ferramentas atualmente existentes de apoio à

decisão.

A cadeia de comando operacional assenta formalmente (art. 5º do SIOPS) numa hierarquização

do processo de decisão e execução, mas que na prática não é efetivamente exercida entre a

ANPC e os corpos de bombeiros.

A utilização e valorização de formação especializada adequada é fortemente limitada em

sistemas de voluntariado, devido ao elevado grau de indisponibilidade e de rotação dos

intervenientes, cada vez mais acentuado.

Não existe uma classificação que permita diferenciar o conhecimento/especialização e a

hierarquia, sobrepondo-se a segunda à primeira quando deveria acontecer o contrário, pelo

menos no nível de definição estratégica e de decisões de táticas e de manobras.

Falta avaliação e certificação adequada, com base em sistemas independentes com parâmetros

internacionais, dos conteúdos formativos e dos próprios formadores da ENB. A formação

ministrada não é complementada nem validada com ações desenvolvidas em ambiente real. A

exclusividade do sistema de formação da Escola Nacional de Bombeiros na certificação e

evolução das carreiras dos Bombeiros Voluntários não permite a evolução e eficácia formativa

no âmbito de uma carreira profissional de especialização. Atualmente, na ENB, o acento tónico

é colocado mais na instrução do que na formação, apesar da função de instrução ser da

responsabilidade dos comandantes dos corpos de bombeiros.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 162

Página 163

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

162

Propostas:

Importa superar de forma rápida e eficaz esta determinante deficiência do sistema, já que a

formação e falta de capacidade dos intervenientes constituem uma das principais limitações de

qualquer sistema, em particular em sistemas de proteção civil.

A compreensão dos fenómenos holísticos que influenciam os fogos rurais exige um elevado grau

de multidisciplinaridade, de especialização e de profissionalismo nas funções de decisão e de

responsabilidade, que não se coaduna com empirismos ou amadorismos. O princípio de que em

Portugal todos sabem fazer fogo, partilhado por uma fatia importante da população portuguesa,

leva a que se tenha um elevadíssimo número de ignições causadas por incúria, mas não se pode

penalizar duplamente o país ao servir também de princípio de regulação de decisões de gestão

ou combate a fogos com base apenas em empirismo e experiência não validada. Preconiza-se

a análise adequada dos sistemas de formação no âmbito do combate a incêndios florestais,

nomeadamente:

 Identificação de pessoas e/ou entidades – nacionais ou estrangeiras - com capacidade

para a avaliação dos formadores e dos conteúdos ministrados no âmbito das ações de

formação de CIF ministradas pela ENB e sua avaliação por essas entidades;

 Avaliação da eficácia e da eficiência das formações ministradas no âmbito da ENB nas

temáticas dos incêndios florestais estudando a possibilidade da sua evolução para o

sistema formal de ensino;

 Estruturação e desenvolvimento de procedimentos para o reconhecimento por

entidades competentes dos módulos formativos no âmbito do SGO de incêndios

florestais, ministrados por qualquer entidade que demonstre capacidade para sua

organização e realização;

 Estruturação de áreas no ensino profissional, integradas no catálogo nacional de

qualificações orientadas para a proteção civil;

 Criação e/ou reformulação de linhas de ensino para graduação e pós-graduação nas

áreas da prevenção e combate a incêndios florestais, baseada no sistema politécnico

e mobilizando parcerias com sistemas mais experientes em matérias relacionadas com

liderança, comando e logística (como a Academia Militar) e com a defesa da floresta

contra incêndios (incluindo Universidades).

Dotar o sistema da capacidade técnica necessária e reforçar as estruturas operacionais

profissionais através de:

 Criação de uma função especializada, transversal a todos os pilares do SGIFR, que

permita a integração e evolução de conhecimento, o aumento da capacidade

estratégica de decisão e a monitorização do próprio Sistema

 Reforço progressivo do grau de profissionalização de operacionais, através

nomeadamente do reforço das estruturas dos GIPS e da FEB.

 Criação de bolsa de especialistas em incêndios florestais que possam ser chamados a

colaborar com os vários pilares do sistema para a definição de políticas e estratégias.

13 DE OUTUBRO DE 2017 163

Página 164

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

163

D. ORDENAMENTO E GESTÃO

10.9 ORDENAMENTO FLORESTAL

As soluções de ordenamento apontadas são, em geral, conhecidas e reclamadas por muitos e

incluem, tipicamente, a diversificação da floresta e a utilização de espécies que conduzam a

formações menos combustíveis.

Sabe-se que o Pinheiro bravo (Pinus. pinaster) sem redução da carga combustível dos matos no

seu interior conduz, em condições de secura, a incêndios de grande intensidade, como sucede

em geral com uma boa parte das espécies resinosas para as quais existem modelos de fogos

de copas bem desenvolvidos.

E sabemos que o Eucalipto (Eucalyptus globulus) nas mesmas condições, para além da maior

intensidade dos incêndios pela existência de concentrações muito significativas de compostos

voláteis facilmente combustíveis nas suas folhas, tem também a característica de projetar focos

de incêndio secundários a grandes distâncias, em particular pelo facto de ter uma casca que nos

períodos de maior seca e calor se destaca e enrola podendo arder durante largos minutos. Na

Austrália há registos de focos secundários a 20 quilómetros da frente de fogo original...

E manchas contínuas de misturas das duas espécies, pinheiro e eucalipto, infelizmente comuns

em situações de gestão deficiente, é a receita, mais cedo ou mais tarde, para o desastre.

Para estas duas espécies a regra é a da gestão do combustível no sub-bosque. Sem combustível

no seu interior estas florestas, em vez de um problema sério, podem fazer parte da solução.

Sabe-se, por outro lado, que as folhas das espécies de folha caduca, como as dos carvalhos,

castanheiros ou outras folhosas, por terem um grande teor de humidade, não são propícias a

fogos de copas e devem portanto ser consideradas em misturas com outras espécies ou em

áreas estratégicas para contrariar a fácil propagação dos incêndios.

E no Pinhal Interior modelos de silvicultura apropriados com Sobreiro e com Medronheiro têm

demonstrado fazer parte integrante de uma solução em que a diversificação da floresta tem de

ser um objetivo.

Propostas:

1. Revisão das metas dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal de modo a

procurar obter um consenso sobre a floresta que se quer e o seu enquadramento no

ordenamento do território.

As metas dos PROF, que tinham exatamente esse objetivo, publicadas em 2006 e 2007

seriam entretanto suspensas em 2011 com a justificação de que os dados do 6º

Inventário Florestal Nacional (6º) a tal aconselhariam. Entretanto, passados mais de seis

anos desde essa decisão os dados do Inventário Florestal Nacional nunca foram

tornados públicos e as metas continuam suspensas. No entanto, através da Portaria n.º

364/2013, de 20 de dezembro e do Despacho n.º 782/2014, de 17 de janeiro, ficaram

definidos os conteúdos detalhados dos PROF "de 2.ª geração".

A oportunidade da finalização a curto prazo destes novos PROFs pode ser utilizada para

que, a partir do conhecimento dos últimos dados do Inventário Florestal Nacional, se

revejam as metas inicialmente estabelecidas no sentido de possibilitar que a nível da

Região PROF e dos concelhos, sejam cada vez mais incorporadas as questões

associadas aos incêndios florestais.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 164

Página 165

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

164

2. A maior proximidade e acompanhamento do ordenamento florestal pelas entidades

municipais depois de integração dos PROF nos Planos Diretores Municipais

A ótica do pensar global e atuar local deve ser aqui otimizada. A existência de uma

Estratégia Florestal Nacional enquadradora e de Planos Regionais de Ordenamento

Florestal mais específicos não tem consequência se não for acompanhada pelo nível

municipal e pela adequada integração daqueles exercícios de planeamento nos Planos

Diretores Municipais que são o elo de ligação aos cidadãos.

3. Criação de programa específico para o apoio à instalação e implementação de

modelos de silvicultura que utilizem carvalhos, castanheiros e outras folhosas

Modelos de silvicultura que utilizem espécies de crescimento mais lento podem ser mais

interessantes do ponto de vista da economia dos proprietários florestais mas obrigam a

um período de espera de alguns anos.

A criação de programa específico que compense a perda de rendimento por alguns anos

para a criação de florestas de carvalhos, castanheiros e outras folhosas seria a forma

de, num quadro de propriedade individual fragmentada, os proprietários e as

associações de produtores florestais, se poderem encaminhar para outros tipos de

floresta, menos rentáveis numa perspetiva de curto prazo mas que a médio e longo prazo

poderão ser ainda mais rentáveis do que as catuais alternativas e com menor perigo de

incêndio para as próprias florestas e para as aldeias existentes no espaço florestal.

10 .10 PRIVILEGIAR O USO DO SOLO EM DETRIMENTO DE DIREITOS DE

ABANDONO

A reforma do SNDFCI tem que de considerar as causas estruturais dos incêndios florestais, como

único caminho para reduzir a médio prazo os problemas que estes originam em Portugal. Para

isso há que enfrentar as questões relacionadas com o ordenamento florestal, ou mesmo, de um

modo mais geral, das questões ligadas ao ordenamento dos usos do solo e gestão das

propriedades nas áreas rurais.

O abandono rural, refletido nas propriedades sem dono conhecido ou sem intenção de

intervenção, e os grandes incêndios florestais como consequência, constituem os maiores

entraves à valorização do espaço e à necessária compartimentação da paisagem que podem

contribuir de forma preponderante para a contenção dos GIF.

A existência de propriedades sem dono conhecido compromete frequentemente as

oportunidades de gestão ou de prevenção que são, ou possam vir a ser, desenvolvidas por

aqueles que pretendem investir no setor florestal.

Propostas:

A CTI considera que são necessárias mudanças no quadro institucional e nas políticas públicas

que, sem alterar a atual distribuição da propriedade, promovam de modo decidido a mobilização

produtiva e a adequada gestão das terras. Dois princípios devem presidir a essas medidas: o

exercício dos direitos associados à propriedade privada subordina-se e deve estar condicionado

a prioridades coletivas (a começar pela segurança das pessoas); o Estado não se substitui aos

proprietários que cumprarm os seus deveres, mas corresponsabiliza-os no cuidado e gestão das

suas terras.

Algumas iniciativas desenvolvidas nos últimos anos, como os Fundos Imobiliários Florestais, as

zonas de intervenção florestal (ZIF) e, mais recentemente, as entidades de gestão florestal

(EGF), são bons exemplos que pretendem estabelecer fórmulas que possibilitam a constituição

de unidades produtivas de dimensão suficiente, através do ordenamento e gestão comum das

13 DE OUTUBRO DE 2017 165

Página 166

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

165

superfícies florestais de diferentes proprietários. Mas essas figuras têm duas fortes

condicionantes à gestão ou de implementação de medidas de proteção estrutural: a incorporação

das terras é sempre voluntária para os proprietários, e pressupõe sempre a sua identificação.

A CTI recomenda:

a) O quadro normativo das ZIF e das EGF deve estabelecer que o ordenamento florestal e

as decisões sobre gestão da terra num perímetro territorial, uma vez que seja aprovado

pela maioria dos seus proprietários, obrigará todas as propriedades desse perímetro.

Isto é aplicável às terras sem dono conhecido (já estabelecido para as EGF) mas

também às restantes propriedades. Em qualquer caso deverá ser obrigatória a

integração das propriedades na ZIF ou EGF, sempre que seja delimitada uma zona de

intervenção integrada, apoiada num plano de gestão da área correspondente.

Para resolver as impossibilidades criadas pela falta de identificação de proprietários, devem ser

criadas disposições legais que permitam que a intenção de realizar investimentos e de gerir

interesses comuns (entenda-se da comunidade ou de grupo de proprietários), se possa sobrepor

à ausência de registo de propriedade ou da falta de participação de proprietários por um tempo

determinado, salvaguardando-se sempre os direitos de propriedade.

b) Aprovação de um normativo que introduza a obrigação de todos os proprietários se

corresponsabilizarem na gestão das suas terras, estabelecendo um regime

sancionatório para os que incumpram essas obrigações (para os proprietários de terras

em situação de abandono manifesto que constituam comprovadamente um elevado risco

de incêndio para as propriedades limítrofes, estando estas integradas num plano de

gestão).

Nestas condições os proprietários podem ter três opções: iniciar uma gestão adequada

das terras; integração das terras numa ZIF, EGF ou outra fórmula de gestão coletiva; ou

cedência das propriedades ao Banco de Terras (ou na Bolsa Nacional de Terras).

 Implementação de medidas conducentes à perca de direitos de propriedade, em

situações de interesse público, para quem não assegurar os mínimos deveres de

proprietário, nomeadamente a atualização de registos nas conservatórias /finanças.

Este normativo poderia ter aplicação, numa fase inicial, nas áreas declaradas de alto e muito alto

risco de incêndio e em Zonas de Proteção aos Aglomerados.

10 .11 PROTEÇÃO DE PESSOAS E BENS E VALORIZAÇÃO DOS

ESPAÇOS FLORESTAIS

Apesar da preocupação teórica preponderante (ou pelo menos divulgada), da proteção de

pessoas e de bens, na prática esta é extremamente incipiente, já que, em geral, nem as pessoas

– proprietários e residentes - nem as entidades envolvidas têm conseguido este objetivo,

nomeadamente ao nível da prevenção.

A organização dos territórios, o decréscimo e o envelhecimento da população rural, as limitações

implícitas à supremacia dos direitos de propriedade (mesmo na ausência da sua afirmação

presencial e administrativa), e as várias questões relacionadas com as capacidades de

valorização, gestão, retorno e eficácia de investimento no setor, têm-se constituído como

elementos fortemente limitadores à implementação de ações com escala para atenuar este

problema.

Normalmente associam-se os grandes incêndios florestais a determinadas espécies florestais,

contudo são os combustíveis mais superficiais (herbáceas e matos) o maior fator de propagação

do fogo nos nossos ecossistemas. O que efetivamente mais determina a propagação do fogo e

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 166

Página 167

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

166

a sua expansão são as áreas sem qualquer gestão, com elevadas cargas de combustíveis

superficiais.

Os proprietários florestais são frequentemente culpabilizados pela opinião pública, que associa

frequentemente os incêndios florestais a determinados usos do território, nomeadamente à

instalação de povoamentos com espécies de maior inflamabilidade.

A Autoridade Florestal Nacional nas áreas que tem sob sua gestão não tem, nas últimas décadas,

conseguido orientar a sua conduta dentro dos parâmetros que ela própria definiu como boas

práticas de ordenamento e bons princípios de gestão e de atuação para totalidade do território

nacional;

Os serviços florestais, outrora a representação máxima da ruralidade e da dispersão da decisão

e da intervenção no território, dominados progressivamente por uma visão e perspetiva urbana,

centralizadora, desfasada e desligada da floresta e dos seus utilizadores, constitui-se

frequentemente como entidade impeditiva de investimentos e gestão florestal, por não

apresentar soluções adaptadas às novas realidades e iniciativas;

Sendo o fogo o mais transversal e principal problema da floresta portuguesa desde há vários

anos, a Autoridade Florestal Nacional não se encontra atualmente organizada de modo a

priorizar as suas obrigações para a prevenção e proteção florestal contra incêndios. A estrutura

de governança do dispositivo de prevenção estrutural (ICNF, Sapadores Florestais, Gabinetes

Técnicos Florestais, etc.) aqui identificada como problemática está descrita no Anexo 8

(Problemática do Dispositivo de Prevenção Estrutural);

É frequente definirem-se estratégias e fazer-se planeamento florestal sem considerar os

principais decisores, i.e., os proprietários, e ou utilizadores do território e por isso os resultados

obtidos são pouco efetivos e consequentes;

Apoios públicos ao investimento florestal predominantemente orientados para a intervenção

pontual à instalação ou à manutenção de ecossistemas que asseguram de per si a sua

longevidade e perenidade, constituem um elevado desperdício de fundos a curto/médio prazo

com parcos resultados para a sociedade;

Intervenções de instalação de povoamentos florestais dentro de uma regulamentação

normalmente complexa, morosa e muitas vezes sem fundamento, por contraponto a

intervenções à margem da lei sem que, normalmente, haja consequências para quem as faz.

Propostas:

 Atendendo à relevância, particularidade e abrangência da temática do incremento de

medidas estruturais para proteção de pessoas e bens edificados na interface urbano-

florestal, foram desenvolvidas propostas com base em sistemas de subsidiariedade, de

sustentabilidade de intervenções, de sobreposição de interesses públicos a interesses

e ausências privadas e de identificação, organização e preparação dos locais e das

pessoas, no capítulo específico no anexo 10 designado Proteção dos Aglomerados

Contra Incêndios Rurais (PACIR).

 Identificar os utilizadores do território e trabalhar com estes no sentido da constituição

de formações arbustivas ou arbóreas com menor combustibilidade e da adoção de

práticas sustentáveis – de preferência produtivas - que reduzam o risco de incêndios e

ajudem a mitigar o problema.

 Fomentar e promover novas iniciativas ou casos de sucesso de investimentos privados

em valorização, gestão e proteção, de áreas devidamente dimensionadas, com base

nomeadamente na criação de fundos imobiliários florestais, da criação de fundos de

gestão florestal, de entidades de gestão florestal, ZIF ou outros.

13 DE OUTUBRO DE 2017 167

Página 168

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

167

 Conjugar esforços públicos e privados no sentido de aumentar a eficiência das

intervenções de gestão, prevenção, vigilância e supressão.

 Orientar as medidas de apoio ao desenvolvimento rural, de valorização do solo, e de

diminuição do risco de incêndio de forma concertada e consequente no território,

dirigidas fundamentalmente para apoiar os que aí trabalham.

 Desenvolver programas de alteração do uso do solo que promovam a gestão em

detrimento do abstencionismo e economias puras de recoleção. A possibilidade de

comercialização de direitos de plantação de eucaliptal – com base no exemplo dos

direitos de plantação da vinha – pode permitir a transferência da espécie de áreas sem

qualquer tipo de gestão, e normalmente de grande recorrência de fogo, para áreas de

investimento com gestão e proteção, assumindo que quem investe tem maior

propensão para gerir e proteger.

 Reformulação da Autoridade Florestal Nacional nos seus princípios, forma e

capacidade de atuação, preocupada com a regulação do setor florestal em geral, mas

focalizada na gestão das áreas sob regime florestal e na prevenção estrutural;

 Recuperação da orgânica responsável pela Gestão de Fogos Rurais (ex DFCI) no seio

da Autoridade Florestal Nacional, como previsto no PNDFCI. No Anexo 9

(Recomendações para o Pilar da Prevenção Estrutural) apresenta-se o conjunto de

propostas relacionadas com a adaptação do dispositivo de prevenção estrutural da

responsabilidade da Autoridade Florestal Nacional;

 Promoção do desenvolvimento do setor pela Autoridade Florestal Nacional,

apresentando alternativas viáveis e sustentáveis de produção/proteção às populações

rurais;

 Definir código técnico de DFCI da responsabilidade da Ordem dos Engenheiros, por

exemplo, que seja atualizado anualmente, por forma a considerar os novos avanços

técnicos e a corrigir normas entretanto desajustadas. A existência de um código com

estas características permitirá expurgar a Lei de matérias técnicas que se cristalizam

com o passar dos anos e comprometemos objetivos da própria Lei;

 Apresentar, favorecer e induzir alternativas de investimentos aos/dos proprietários que

contribuam simultaneamente para resultados financeiros, sociais e ambientais de

médio e longo prazo;

 As organizações representativas das entidades privadas no setor devem concorrer, de

forma séria e profissional, para a apresentação de alternativas de utilização e de gestão

aos proprietários;

 Penalização fiscal da falta de utilização e sobretudo da economia extrativa – ausência

de gestão - com base em espécies de rápido crescimento;

 Apoio público aos investimentos florestais em Portugal, face à experiência do passado

e à incidência do fogo, orientados para a promoção da durabilidade e viabilidade dos

mesmos, sob a forma de compromisso de média/longa duração, que compense

positivamente à posteriori todas as externalidades fornecidas à sociedade, desde que

ultrapassada a fase de máxima de risco (idades mais jovens de coabitação entre os

espécimes instalados e a vegetação adventícia);

 As perdas de rendimento de investimentos privados originadas pela necessidade

proteção contra incêndios florestais devem ser compensadas através da proteção

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 168

Página 169

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

168

gerada para as áreas envolventes, baseados em perspetiva de gestão e de risco

partilhados;

 Apoio a iniciativas privadas de investimento e gestão sustentável e racional de

conglomerados de áreas com dimensão e localização estratégicas.

10 .12 ADEQUADO USO DO FOGO NA PREVENÇÃO

O tipo de campanhas “Portugal sem fogos depende de todos” é altamente questionável face

aos resultados que, particularmente este ano, estão dramaticamente à vista de todos. Este

tipo de mensagens irreais pode contribuir para acentuar o problema, empurrando

frequentemente a utilização do fogo em espaço rural para os momentos de maior risco.

Objetivos impossíveis comprometem e ridicularizam os esforços sérios que possam ser feitos

para a resolução do problema e para a imprescindível gestão do fogo na paisagem, num país

com clima mediterrânico e com enorme tradição e abuso de uso do fogo.

As limitações administrativas impostas a esses agentes estão desajustadas e não têm

surtido qualquer efeito. Devidamente enquadradas, poderiam contribuir eficazmente para a

compartimentação do território, essencial para a diminuição da área afetada por grandes

incêndios rurais.

O uso recorrente do fogo em muitos territórios de montanha está normalmente associado às

necessidades de renovação de pastagens. Esses fogos são sucessivamente alvo de

combate, quando poderiam ser enquadrados e resolvidos de forma mais racional e efetiva.

Demasiada carga administrativa no uso do fogo técnico na prevenção – fogo controlado –

que limita os seus utilizadores e a sua utilização. As regras impostas, e frequentemente

avaliadas por quem não domina o assunto, emitindo respostas desajustadas perante janelas

de oportunidade e possibilidades do uso da técnica, não têm atualmente qualquer

fundamento prático, constituindo-se apenas como um entrave ou impedimento ao seu uso.

Na situação atual dos nossos territórios, com uma proporção elevada de áreas de matos não

aproveitados ou utilizados, deve ser fortemente implementado o planeamento e o uso do

fogo controlado para contribuir de forma eficaz para a contenção dos incêndios.

Uso quase inexistente do fogo controlado no interior dos povoamentos florestais, apesar dos

conhecimentos e experiência existentes e de em determinadas circunstancias (por exemplo

em bastios de pinheiro bravo), ser a única técnica que permite diminuir o risco de incêndio

de forma eficaz.

Propostas:

Desenvolvimento de programa nacional de gestão do fogo em três vertentes:

 Uso tradicional do fogo. Identificar potenciais utilizadores do território que possam usar

o fogo como ferramenta de gestão. Definir condições, territórios e momentos em que o

fogo possa ser usado para alcançar objetivos de gestão do território e criar canais de

comunicação simples e eficazes com os interessados para que saibam que o podem

utilizar à sua responsabilidade. Durante esses momentos organizar e implementar

dispositivos de acompanhamento dessas ações através dos agentes do Sistema

(prevenção estrutural, operacional e combate) que assegurem a vigilância das ações e

intervenham em caso de necessidade. Estas ações constituirão excelentes

oportunidades de treino dos intervenientes e permitirão a implementação de mosaicos

de gestão de combustíveis com custos reduzidos.

13 DE OUTUBRO DE 2017 169

Página 170

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

169

 Uso do fogo controlado. Deverá ser desenvolvido e implementado programa ambicioso

e devidamente dimensionado de uso do fogo controlado em áreas de matos e de

floresta com intervenientes do sistema e/ou beneficiando de outsourcing. A qualidade

técnica e os resultados da prática do fogo controlado deverão ser monitorizados pela

Autoridade Florestal Nacional.

 Definição de condições e de procedimentos para a classificação de incêndios de

gestão, cujo balanço de impactos seja positivo para a gestão de fogos rurais e para os

utilizadores do território, e cujas intervenções de supressão se possam limitar ao seu

confinamento em limites pré-definidos.

 Implementação rápida e à escala nacional de um programa nacional de uso do fogo,

que integre todas estas componentes.

E. GESTÃO DE OPERAÇÕES DE COMBATE

10.13 VALORIZAÇÃO E PROTEÇÃO DO POSTO DE COMANDO

É necessário que as decisões num posto de comando operacional, sobretudo nas situações de

grandes incêndios florestais ou quando exista potencial para tal, sejam tomadas com base em

informações tecnicamente credíveis e suportadas por análises que permitam definir

corretamente as técnicas e táticas de combate.

Por outro lado, é frequente a participação de pessoas que, apesar de representarem entidades

oficiais ou órgãos da comunicação social, não trazem qualquer contributo para a racional e

efetiva gestão das operações e tomada de decisões, perturbando frequentemente o adequado

funcionamento do posto de comando.

Propostas:

Organização de postos de comando compostos por quem efetivamente pode contribuir para a

resolução do problema e diferenciação deste com outros postos de coordenação,

nomeadamente de comunicação social, de apoio social ou de logística em geral.

 Necessidade de se cumprirem estritamente e sem exceção as regras definidas no SGO

relativamente à organização e composição dos PCO. Identificar as informações que

devem existir num PCO, quem as deve fornecer e as competências que deverão estar

representadas e por quem.

 Presenças nos PCO fundamentadas nas necessidades organizacionais e nas

competências.

 Obrigatoriedade de organização paralela aos PCO e em locais autónomos de áreas

dedicadas às entidades sem intervenção direta no TO, nomeadamente para

autoridades e comunicação social.

10 .14 INCREMENTAR A EFICÁCIA DA PRIMEIRA INTERVENÇÃO E

DAS REGRAS DO AT I

Desde 2006 que se tem vindo a incrementar o êxito da primeira intervenção, fase em que os

incêndios são mais facilmente controlados. Existe ainda uma proporção importante de equipas

do DECIF que, apesar de vocacionadas para a primeira intervenção Equipas de Combate a

Incêndios (ECIN), dos corpos de bombeiros, estão frequentemente estacionadas nos quartéis

das Associações Humanitárias dos Bombeiros Voluntários (AHBV). Deve promover-se o pre-

posicionamento para a melhor distribuição e cobertura dos locais de maior risco e a rápida

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 170

Página 171

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

170

chegada aos locais de ocorrências, aproveitando-se assim oportunidades de sucesso na primeira

intervenção.

Esta colocação de meios no território permitiria o desempenho de outras funções

complementares, de vigilância, deteção, fiscalização e dissuasão, podendo contribuir também

para diminuir de forma importante o número de ocorrências e sobretudo as ocorrências

negligentes.

Propostas

O melhoramento da ATI deverá continuar a ser incrementado através de todas as possibilidades,

nomeadamente através da profissionalização dos intervenientes.

Reforço da distribuição e colocação no território de forma estratégica de todos os meios

dedicados à primeira intervenção. A distribuição deverá ser feita de forma estratégica em função

de: visibilidade, risco estrutural e meteorológico, acessibilidades, probabilidade de ocorrências,

e dos meios existentes para a primeira intervenção ao nível de cada município.

10 .15 REFORÇAR A CAPACIDADE DE ATAQUE AMPLIADO ATA

O Ataque Ampliado (ATA) constitui um dos sérios problemas que terá que ser seriamente

encarado. Sabe-se que cerca de 8% dos incêndios passam à fase de ATA, sendo os restantes

92% resolvidos em ATI. É necessário dar uma maior atenção a estes 8%, pois a severidade e a

capacidade de destruição que comportam é a responsável pela destruição de casas, de

equipamentos, de infraestruturas e, nos incêndios mais agressivos, de vidas humanas.

A concretização de algumas das Recomendações apresentadas neste Relatório, se adotadas,

permitirão, a prazo, limitar as ignições verificadas no país, que chegam a atingir, em média dos

últimos 10 anos, as 15.600 ignições anuais, e sobretudo a reduzir as que se transformam em

incêndios de dimensões apreciáveis. Por isso, o reforço da capacidade de ATA para acorrer aos

incêndios que atingem grandes dimensões deverá ser criterioso, evitando-se que se façam

investimentos na área do combate que poderão ser, futuramente, desnecessários.

Importa recordar que os investimentos a realizar em equipas profissionais, no âmbito dos GIPS

ou da FEB, têm objetivos bem mais amplos que o combate a incêndios florestais. O socorro a

catástrofes de todo o tipo de carácter civil, que se admitem existirem no futuro com maior

frequência, poderá constituir uma exigência adicional que contribuirá para o reforço daquelas

forças. No quadro do combate a incêndios rurais, esse investimento deverá ser limitado, seletivo

e submetido a melhor reflexão, no pressuposto que a qualificação das intervenções e o

investimento em prevenção seguirá um novo percurso.

O país não terá especialistas devidamente capacitados e em número suficiente para comandar,

dirigir e coordenar situações simultâneas de exceção. No caso dos IF de Pedrógão Grande e de

Góis trataram-se de complexas ações de socorro, motivadas por incêndios florestais, mas que

no futuro podem ser causadas por quaisquer outras tipologias de socorro.

Propostas:

À semelhança do ATI, o reforço das forças profissionais, e da sua capacitação, especialmente

vocacionadas para o ATA deverá ser incrementado, estabelecendo-se critérios para o seu

posicionamento nas áreas mais críticas do país.

Deverá ser criada uma bolsa de peritos, nacionais e/ou internacionais, devidamente certificados

para poderem apoiar ou assumir o comando de operações de socorro de extrema complexidade,

sejam elas provocadas por qualquer tipo de socorro.

13 DE OUTUBRO DE 2017 171

Página 172

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

171

10.16 MELHORAR O SISTEMA DE COMUN ICAÇÕES E DE REGISTO

DE INFORMAÇÕES

O sistema de comunicações existente, baseado na rede SIRESP foi adotado há uns anos e

representou uma enorme evolução em relação aos diversos sistemas então existentes,

fragmentados e de qualidade sofrível. As diversas forças e entidades que passaram a beneficiar

da rede SIRESP não escondem as enormes vantagens que este novo sistema introduziu nas

comunicações dedicadas a operações de socorro e de emergências.

Contudo, reconhece-se que no domínio das telecomunicações a evolução tecnológica nos

últimos anos tem sido vertiginosa, a ponto de se considerar que um bom sistema validado no dia

hoje possa se considerado, amanhã, como completamente obsoleto.

Além disso, é necessário entender que os diversos sistemas de comunicações têm eles próprios

margens variáveis de evolução, razão pela qual não se podem considerar como modelos que

não permitem novos ajustamentos, designadamente desenvolvendo no seu âmbito novas

capacidades.

A intervenção de meios tecnologicamente sofisticados, conciliando deteção remota, cobertura

aérea, imagem, vídeo com instrumentos de uso generalizado e com aplicações de apoio à

decisão, aponta para procurar evoluir para as soluções que garantam eficácia às operações de

previsão, de socorro e de combate.

Propostas:

No âmbito da rede SIRESP, utilizando o sistema TETRA e admitindo-se que este sistema se irá

manter ativo ainda por um certo período de tempo:

 Aumentar o número de antenas móveis e distribuí-las criteriosamente pelo território,

em função das áreas de maior risco;

 Introduzir normas de gestão das comunicações, no âmbito do sistema TETRA,

estabelecendo prioridades para as comunicações, criando grupos de comunicação ou

adotando normas adicionais de parametrização que permitem aumentar capacidades

locais para beneficiar as áreas geográficas abrangidas por catástrofes;

 Garantir que a rede de fibra ótica utilize, sempre que possível, as condutas

subterrâneas existentes ao longo dos itinerários rodoviários;

 Explorar a possibilidade de garantir que as comunicações se possam desenvolver, de

forma redundante, através de feixes hertzianos ou, com maior expressão, de ligações

por satélite, podendo estas últimas serem limitadas às áreas geográficas abrangidas

por catástrofes e ativadas por períodos limitados;

 Revisitar as condições do concurso no que respeita à instalação da fibra ótica, bem

como a estrutura empresarial do SIRESP, a qual integra na atualidade empresas

insolventes, em processo de revitalização ou de credibilidade duvidosa, para além da

impossibilidade de escolha no mercado dos equipamentos que possam ser fornecidos

nas melhores condições de preço e qualidade;

 Desenvolver um intensivo programa de formação orientado para os utilizadores dos

terminais SIRESP, para que todos esses agentes possam explorar o potencial dos

sistemas de comunicações.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 172

Página 173

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

172

No âmbito de sistemas tecnologicamente mais avançados:

 Avançar com um período de análise de outros sistemas de comunicação existentes,

tecnologicamente mais avançados (3G ou 4G), criando um roteiro capaz de avaliar e

selecionar as melhores soluções para o sistema de comunicações de emergência;

 Explorar eventuais possibilidades de, no âmbito da cooperação europeia, desenvolver

sistemas tecnologicamente avançados que incorporem tecnologia de ponta,

inteligência europeia e financiamento comunitário, modelo que interessará

seguramente vários países.

10 .17 REFORÇO DO PAPEL DAS FORÇAS ARMADAS NO APOIO AO

SISTEMA DE PROTEÇÃO CIVIL

As Forças Armadas, sendo agentes de Proteção Civil, não estão devidamente enquadradas nos

dispositivos e estão subaproveitadas nas operações de defesa da floresta e de combate aos

incêndios rurais. A visita realizada, no âmbito dos trabalhos da Comissão Técnica Independente,

à Unidade Militar de Emergências, em Madrid, permitiu analisar um conjunto de possibilidades

assumidas, no país vizinho, pelas Forças Armadas.

Não estando o sistema nacional de proteção civil estruturado com uma forte componente das

Forças Armadas, é, contudo, possível identificar algumas funções que estas podem

desempenhar, beneficiando da coordenação do Regimento de Apoio Militar de Emergência,

criado em 2014 e inserido na Estratégia de Defesa Nacional. O exemplo espanhol, embora com

outra escala, permite ampliar o papel das Forças Armadas como agente de proteção civil em

Portugal.

O Regimento de Apoio Militar de Emergência (RAME), criado no âmbito da reforma Defesa 2020,

materializou-se, porém, numa versão minimalista da intenção inicial, pois acabou por não se

constituir como uma unidade militar com capacidades, meios e processos dos diferentes ramos

das Forças Armadas.

O atual RAME, na situação atual, não tem condições nem capacidade para ser verdadeiramente

útil em operações de emergência.

Muitas das iniciativas que poderão ser desenvolvidas pelas Forças Armadas podem constituir

um elemento de oportunidade para definir melhor o seu papel no quadro de um modelo futuro

nacional de Proteção Civil.

Propostas:

Enquadrar devidamente as mais-valias existentes no âmbito das Forças Armadas no âmbito do

SNGIFR, com especial incidência no apoio logístico às operações de combate e no rescaldo,

nomeadamente:

 No apoio à coordenação, organização e implementação de toda a logística associada

à gestão de ocorrências de carácter excecional com envolvimento de elevado número

de meios, designadamente:

o Na confeção e distribuição de refeições;

o Na montagem de locais de descanso e de banhos;

o No fornecimento de energia;

o No fornecimento de iluminação de emergência;

o Na captação e potabilização de água;

13 DE OUTUBRO DE 2017 173

Página 174

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

173

o Na instalação de bombas de drenagem de alto débito;

o Nos apoios diversos na área das vias de comunicação;

o Nos apoios diversos na área das construções verticais;

o No apoio diverso na área dos reconhecimentos (itinerários, pontes,

áreas urbanas destruídas, etc.);

o No apoio sanitário.

 No rescaldo e na vigilância de reacendimentos;

 No patrulhamento de áreas com elevado risco estrutural ou de defesa prioritária, em

particular em períodos de elevado risco meteorológico de incêndio;

 No apoio logístico às populações e em situação de evacuação

Deverá eventualmente definir-se as modalidades para ampliar a intervenção e mobilização de

meios dos diferentes ramos das Forças Armadas, designadamente em operações de prevenção

estrutural e coordenados pela Autoridade Florestal Nacional.

F. POPULAÇÕES

10 .18 ENVOLVER A SOCIEDADE NO PROBLEMA DOS INCÊNDIOS –

A QUESTÃO DAS IGNIÇÕES

Portugal tem um elevadíssimo número de ignições quando comparado com os restantes países

do Sul da Europa. Entre 2010 e 2015 registaram-se anualmente uma média de 1,7 ignições por

cada 1000 habitantes, o que representa um valor seis vezes superior ao de Espanha e 19 vezes

superior ao da Grécia. Por outro lado, sabe-se que, ao contrário dos incêndios de Pedrógão

Grande e Góis, cerca de 98% das ignições que originam incêndios têm origem humana.

Contrariamente ao mito profusamente difundido pela comunicação social e inadvertidamente

aproveitado por alguns responsáveis políticos, a maior parte dessas ignições está associada a

negligências e acidentes e não a atos dolosos. A desresponsabilização da sociedade quanto ao

problema dos incêndios encontra aqui talvez a sua expressão mais evidente. É mais cómodo

culpar “criminosos” desconhecidos do que assumir a nossa responsabilidade e evitar

comportamentos de risco. Dificilmente se conseguirá encontrar apenas na tradição milenar de

utilização do fogo pelos povos do Mediterrâneo uma explicação adequada para o que se passa

em Portugal a este respeito, já que a situação dos restantes países é bem diferente. Trata-se

sobretudo de um problema de educação, sensibilização, consciencialização e responsabilização.

Apesar de a esmagadora maioria das ignições resultarem em fogachos (até 1 ha de área

queimada), o elevado número de ignições pode ter um efeito devastador em dias de elevado

risco meteorológico, dificultando fortemente a gestão dos meios de combate. Há por isso que

tentar reduzir o número de ignições para valores compatíveis com uma sociedade informada e

consciente do problema. Muito embora este objetivo seja dificultado pela grande diversidade de

causas associadas a diferentes atividades, comportamentos e motivações, é possível fazer mais

do que o que tem sido feito até agora a este respeito. A forte redução do orçamento dedicado a

campanhas de sensibilização, bem patente em 2017, indicia um alheamento deste problema por

parte da Administração. Por outro lado, há que alargar a estratégia, até agora focada em

campanhas generalistas, para ações no terreno dedicadas aos diferentes grupos responsáveis

pelas ignições.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 174

Página 175

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

174

Propostas:

 Rever a estratégia nacional de prevenção das ignições através da inclusão de ações

no terreno, especificamente dedicadas aos diferentes grupos responsáveis por essas

ignições; estas ações devem ter a participação dos diferentes agentes com implantação

local incluindo bombeiros, sapadores florestais e GNR.

 Envolver a comunicação social, para que seja parte da solução em vez de ser parte do

problema; é possível dentro do quadro legal chegar a acordo com a comunicação social

no sentido de:

o Deixar de fomentar o mito do fogo posto e passar a contribuir para a

prevenção de comportamentos de risco;

o Substituir a produção de reportagens espetáculo por um trabalho em

colaboração com as autoridades, já que o papel dos media pode ser de

extrema importância se for canalizado para a produção de informação

útil (ver ponto seguinte).

 Tornar automática a emissão de avisos à população em dias de elevado risco de

incêndio. Esses avisos devem incluir a proibição de fazer fogo e outras atividades de

risco, e deverão desejavelmente envolver todos os órgãos de comunicação social.

 Trabalhar com as empresas de comunicações, no sentido de encontrar soluções

expeditas para uma comunicação rápida e abrangente, incluindo a transmissão de

mensagens por SMS, sobre: comportamentos de risco, alertas e medidas de

autoproteção, dirigidas para públicos específicos ou para pessoas localizadas em

áreas determinadas.

10 .19 ASSOCIAR AS POPULAÇÕES ÀS MEDIDAS DE PROTEÇÃO

CONTRA INCÊNDIOS RURAIS

Apesar da elevada frequência, da enorme incidência geográfica e da repetida ocorrência de

incêndios rurais de grande dimensão no nosso país, não há suficiente educação das populações

urbanas ou rurais sobre as medidas a tomar para a autoproteção da sua integridade e dos seus

bens.

Nos aglomerados rurais do interior do país existe um elevado número de edificações

abandonadas que não asseguram qualquer proteção contra a entrada do fogo, constituindo-se

ainda como fator de elevado perigo para a propagação do fogo para as habitações circundantes.

A comunicação social, sobretudo algumas televisões, tem neste particular prestado serviço

menos acertado à sociedade, difundindo mensagens erradas indutoras de comportamentos

perigosos, apresentando frequentemente edificações abandonadas e devolutas destruídas pelo

fogo como habitações de primeira residência.

Propostas:

Desenvolver iniciativas transversais de autoproteção contra incêndios florestais.

 Dinamizar um programa geral de sensibilização para toda a população portuguesa,

reforçando as ações que são já desenvolvidas, abrangendo sobretudo as populações

das áreas de maior risco. Este programa deve incidir sobre as necessárias mudanças

nos comportamentos de circulação, de autoproteção da integridade física e da

segurança do edificado em incêndios florestais.

13 DE OUTUBRO DE 2017 175

Página 176

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

175

 Sensibilizar os órgãos de comunicação social no sentido de incentivarem a divulgação

de mensagens indutoras de comportamentos positivos de autoproteção, bem como a

valorização de boas práticas de proteção que tenham contribuído para a proteção de

populações.

 Criar sistemas expeditos e rotineiros de difusão da informação sobre limitações à

circulação e à permanência em determinadas áreas.

 Responsabilizar as autarquias locais pela identificação das edificações com maior risco

estrutural de incêndio, informando os seus proprietários da não responsabilidade

pública da sua proteção e do risco que as mesmas representam para a segurança de

pessoas e de outras edificações.

 Desenvolver através das Juntas de Freguesia, com apoio de várias instituições,

designadamente das que incidem a sua atividade em territórios rurais, de ações de

demonstrações para proteção da população contra incêndios rurais;

 Definição e criação de sistemas rápidos de alerta, capazes de abranger segmentos

significativas da população presente (residente e/ou visitante) e destinados a transmitir

em tempo útil informações e indicações úteis, sugerindo condutas de emergência e

garantindo maior proteção das populações.

10 .20 MOBILIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO CONHECIMENT O E

COLABORAÇÃO LOCAIS

Muitas das operações de emergência e de socorro de âmbito local confrontam-se com situações

que podem ter algum paralelismo com acontecimentos passados. As populações podem ser, por

isso, depositárias de conhecimento acumulado sobre as fragilidades do território, sobre as

debilidades do património construído ou sobre comportamentos coletivos que deverão ser

adotados.

Este quadro reconhece que existe possibilidade das operações de emergência poderem

beneficiar de contributos locais (residentes, empresas ou outros agentes com intervenção no

território, como caçadores, resineiros, etc.) no âmbito de fornecimento de informação e auxílio à

prevenção, de apoio logístico, de ajuda às populações e de mobilização de equipamentos

destinados a intervir nas ações de supressão.

Propostas

Fomentar a participação e colaboração de agentes e intervenientes locais e dos utilizadores do

território, promovidos e coordenados pelos Serviços Municipais de Proteção Civil e Gabinetes

Técnicos Florestais.

Desenvolver processos para identificar, informar, formar e enquadrar agentes locais que possam

participar no SNDFCI.

Promover iniciativas que permitam enquadrar e apoiar utilizações produtivas do território,

existentes ou a impulsionar, com impacto na defesa dos territórios contra incêndios rurais,

nomeadamente no âmbito da pastorícia, da gestão cinegética, da condução e colheita de

produtos silvestres (ex. cogumelos, medronhos, etc.) da resinagem ou de outras que sejam

identificadas.

Fomentar, enquadrar e apoiar a constituição de equipas de valorização e proteção florestal,

promovendo a sua constituição e integrando utilizadores do território, com elevada permanência

no tempo e profunda inserção territorial, orientadas para assumir compromissos de cumprimento

de tarefas e de funções no âmbito da defesa contra incêndios rurais (utilizando por exemplo

alguns dos princípios do programa nacional de sapadores florestais).

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 176

Página 177

Página 178

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

177

11. AGÊNCIA PARA A GESTÃO INTEGRADA DOS FOGOS

RURAIS (AGIF)

11.1 Princípios

1. Reformular o problema.

A “proteção de pessoas e bens” e a “gestão dos incêndios rurais” devem autonomizar-se no

âmbito da prevenção e da supressão de incêndios e constituir as duas componentes

fundamentais de um sistema global que se designa de Sistema de Gestão Integrada de Fogos

Rurais (SGIFR). A pretensão de proceder em simultâneo à defesa da floresta contra incêndios e

à defesa de pessoas e de bens, dando normalmente a prioridade à segunda, implica

frequentemente um enorme desajustamento de meios, objetivos e responsabilidades, causando

desequilíbrios que afetam fortemente as duas componentes.

2. Garantir a sustentabilidade da política de Gestão Integrada de Fogos Rurais

(GIFR).

A política de GIFR é uma política de longo prazo. Na sua execução exige-se um compromisso

ético, de respeito e fidelidade aos Programas e Planos definidos no âmbito do Sistema de GIFR

(que sucede e substitui o SNDFCI), durante os seus períodos de vigência, por parte dos

diferentes quadrantes políticos nacionais. Impõe-se a continuidade e determinação no

prosseguimento das políticas independentemente das mudanças de (e nos) Governos. O

Sistema precisa de maturidade e ética na forma como a política é exercida.

3. Integrar e responsabilizar os agentes locais na resolução do problema

O problema dos incêndios rurais e da defesa dos aglomerados depende e afeta em primeira

instância os agentes locais que ocupam o território. As intervenções para a sua resolução

deverão integrar o contributo e a participação dos habitantes e dos utilizadores do território na

resolução das causas, no desenvolvimento e implementação das soluções de autoproteção, de

preparação e de gestão dos territórios.

Deve também, acautelar-se o estabelecimento de um novo enquadramento que garanta a

coesão social das comunidades, em função das alterações sócio ecológicas que se vêm

estabelecendo no território.

4. A política de GIFR é transversal a diferentes ministérios, não tem um caráter

setorial.

É necessário um apoio técnico especializado e qualificado que assegure a coordenação e a

integração do Sistema de GIFR, e a máxima eficiência dos investimentos realizados,

assegurando as melhores práticas de governança e de gestão do risco, que garanta a ligação e

cooperação entre os três pilares do sistema.

5. O funcionamento do SGIFR deve ser sujeito, anualmente, ao escrutínio da

sociedade.

A monitorização periódica de todo o sistema deve ser feita por uma entidade supervisora que

tenha agilidade e flexibilidade e que domine tecnicamente as componentes de planeamento

estratégico e operacional, participando ativamente em todas as etapas dos processos, já que

esta é a melhor forma de compreender e discernir sobre a efetividade das ações e dos agentes.

6. O Sistema deve ser desenvolvido com base em conhecimento e inteligência.

Devem utilizar-se as soluções técnicas de apoio à decisão mais atuais, nomeadamente as

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 178

Página 179

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

178

opções de gestão que emergem da necessidade de reorganizar o espaço, contrariando a

homogeneidade paisagística. O estado atual do conhecimento relativo aos fogos rurais é

bastante avançado com ferramentas específicas de apoio que permitem uma antecipação e que

facilitam a decisão. Mas exigem especialização e profissionalização dos seus utilizadores, pelo

menos ao nível técnico de planeamento estratégico e de coordenação para se atingirem

resultados satisfatórios.

7. Fortalecer todo o Sistema de GIFR, em particular os Serviços da Administração

Pública, responsáveis por cada um dos pilares.

O sistema nacional de GIFR deve seguir um caminho mutualista, onde a cooperação e a

complementaridade entre as agências são favorecidas por interações positivas e sinérgicas que

conduzem à constituição de comunidades seguras contra incêndios e a ecossistemas florestais

sustentáveis (Mateus & Fernandes, 2014).

8. Necessidade de integração de capacidade técnica

O fortalecimento do sistema assenta num reforço do processo formativo e na aquisição acelerada

e continuada de competências, englobando todos os agentes nele intervenientes, com base nas

melhores técnicas disponíveis.

9. Uniformização de competências

Com o objetivo de facilitar a coordenação, num quadro de interagências para a emergência em

Grandes Incêndios Florestais (antes, durante e depois), as capacidades do pessoal que neles

participa devem ser padronizadas, independentemente da organização de que provenham, e da

posição hierárquica que aí detenham.

10. Gestão financeira integrada e transparente

É essencial perceber com rigor o peso financeiro de cada pilar coordenador do sistema, o peso

do próprio sistema e o retorno dos investimentos realizados em termos de proteção civil e

florestal. A avaliação financeira do Sistema deve ser desenvolvida anualmente por entidade

Supervisora.

13 DE OUTUBRO DE 2017 179

Página 180

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

179

11.2 Agência para a Gestão Integrada de Fogos - AGIF

Fundamentação

Uma das razões que explica que o sistema atual não tenha evoluído, ou tenha mesmo regredido,

é a falta de procedimentos de avaliação. Este facto repercute-se na degradação dos resultados

obtidos. A falta de hierarquias efetivas no SNDFCI, que se perde na transição entre entidades,

cria ineficácias que terão que ser identificadas e resolvidas com base na avaliação do

desempenho de cada entidade e agentes envolvidos.

Existem basicamente duas grandes possibilidades para se melhorar a eficácia do sistema

nacional de defesa da floresta contra incêndios:

 A sua reformulação completa refazendo estruturas e investimentos;

 a sua transformação progressiva pelo reforço da transparência e da especialização,

alicerçada nos investimentos e estruturas existentes, reforçando-a com a introdução das

competências deficitárias ou inexistentes e adaptando-as progressivamente, com base

numa efetiva avaliação de desempenho, de responsabilização e de incorporação de

conhecimento.

No entanto, a adoção da segunda possibilidade não deverá implicar que, a médio prazo, não se

possa vir a verificar a necessidade de recorrer à sua reformulação completa, se o sistema, após

avaliação, não continuar a corresponder eficaz e progressivamente aos seus objetivos.

A atual proposta enquadra-se na segunda possibilidade, explorando o que existe em termos

organizacionais e de meios alocados, aproveitando as suas virtudes e tentando colmatar os seus

defeitos. As propostas de melhoria da eficácia têm em consideração os esforços financeiros e

organizativos realizados, numa perspetiva de rentabilização dos recursos, de eficiência de

resultados e também do tempo necessário para a sua obtenção.

Os recursos e as organizações atualmente existentes mantêm a sua estabilidade organizacional,

pelo menos numa fase inicial, defendendo-se que sejam colmatadas as principais lacunas ao

nível do planeamento, da integração e interação entre entidades e intervenções, da estratégia,

inteligência e avaliação do sistema. E, no médio prazo, deverá validar-se o cumprimento eficaz

das missões que lhe são atribuídas. Esta perspetiva de estabilidade e manutenção

organizacional implica, não obstante, a criação de uma nova entidade que, de forma autónoma,

transversal e hierarquicamente superior, monitorize e assegure a implementação das lacunas

identificadas.

Esta entidade garante a análise integrada do sistema, acompanha a sua articulação e é atuante

no território. O seu funcionamento orienta-se para o apoio ao planeamento, à decisão e à

intervenção, no âmbito dos três pilares. Avaliza junto do poder político a informação e a

monitorização sobre o funcionamento do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR).

Utiliza as ferramentas técnicas mais evoluídas de apoio à decisão na previsão e intervenção.

Assegura também, a aplicação e o desenvolvimento dessas técnicas no âmbito da prevenção,

da pré-supressão, da supressão e da imprescindível utilização das complementaridades destas

componentes.

A entidade deverá ter duas componentes principais: a) avaliação de políticas, planeamento e

finanças e b) conhecimento, estratégias e operações;

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 180

Página 181

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

180

Competências da Agência no âmbito da avaliação de políticas, planeamento e finanças:

1. Apoiar a formulação das políticas e estratégias de gestão integrada de fogos rurais.

2. Coordenar a elaboração e a execução de um novo Plano Nacional de Gestão Integrada

de Fogos Rurais (PNGIFR 2019-2039), recorrendo a recursos internos e externos.

3. Analisar as disponibilidades financeiras dos diferentes pilares do Sistema, contribuindo

para um balanceamento progressivo dos recursos entre Prevenção, Pré-supressão e

Supressão, considerando a totalidade dos instrumentos financeiros disponíveis, diretos

e indiretos, nacionais e europeus, que contribuam para a implementação do PNGIFR.

4. Contribuir para a definição e mobilização dos instrumentos de financiamento para os

investimentos em GIFR.

5. Dar parecer e propor superiormente a aprovação das propostas anuais de orçamento

de GIFR referentes aos três pilares.

6. Monitorizar a execução anual, física e financeira, de cada pilar do SGIFR.

7. Emitir pareceres sobre programas, planos, propostas legislativas, regulamentos e

diretivas de nível nacional, apresentados pelas entidades coordenadoras dos três

pilares.

8. No nível regional a AGIF deverá avaliar e dar parecer sobre a eficácia dos

investimentos anuais feitos em ações de prevenção estrutural, incluindo as da

responsabilidade das empresas que atuam no território. Essa avaliação deve induzir à

integração das ações de gestão de combustível e investimentos associados,

racionalizando as atuações em locais estratégicos identificados na paisagem como

essenciais para minimizar o risco de progressão dos incêndios, evitando intervenções

desgarradas do todo e desperdício de recursos, i.e., aplicando com maior eficiência os

investimentos financeiros.

Competências da Agência no âmbito do conhecimento, estratégias e operações:

1. Garantir a integração e articulação de necessidades, valias e complementaridade dos

diferentes pilares do atual SNDFCI (futuro SGIFR)

2. Validar o Quadro de Qualificações do SGIFR e acredita as entidades formadoras e

certificadoras de competências e capacitação profissional no âmbito da GIFR.

3. Apoiar a decisão e a intervenção operacional no âmbito das competências dos três

pilares.

4. Avaliação das situações de ineficácia ou ineficiência do sistema, reportando os

resultados às entidades implicadas e à tutela.

5. Análise e tratamento de informações relevantes de apoio à decisão e à gestão no

âmbito da: prevenção, fiscalização, vigilância, deteção, pré-supressão, combate e

reabilitação de áreas afetadas.

6. Promoção e desenvolvimento de ações de formação, de valorização de boas práticas

– learning lessons - e de reforço de capacitação dos diversos pilares do SGIFR.

7. Comunicação de informações de apoio à organização, preparação, gestão, decisão e

intervenção às várias entidades do SGIFR.

8. Definição da organização no território do SGIFR em função das perspetivas de risco de

incêndio.

13 DE OUTUBRO DE 2017 181

Página 182

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

181

9. Em colaboração com o ICNF, recolha, tratamento (de outubro a maio), e

disponibilização de forma expedita e de fácil consulta (Web) de toda a informação

relativa a ações de prevenção estrutural realizadas no território nacional.

10. Colaboração no planeamento e na (ou da) execução de intervenções estratégicas de

prevenção de interesse público, nomeadamente no âmbito do programa nacional do

uso do fogo.

11. Promover e integrar a participação das forças de combate na prevenção e dos

intervenientes da prevenção no combate, e coordenar estas participações.

12. Funcionar como uma célula de crise, constituída por elementos com o perfil do tipo

“sénior com competências em análise e uso do fogo e gestão de fogo técnico”, com

capacidade para participar em GIF.

13. Definição de estratégias de combate a incêndios florestais em condições potenciais de

deflagração de grandes incêndios florestais e em teatros de operações (TO)

complexos. Participação nesses TO com equipas especializadas de análise de

incêndios para definição de táticas, técnicas de combate, alocação e colocação de

meios e avaliação da eficácia das intervenções.

14. Em colaboração com as entidades competentes, proceder à identificação de incêndios

de interface e à necessidade de implementação de coordenação diferenciada para o

combate ao incêndio florestal e a defesa de pessoas e bens.

15. Definição, em colaboração com o ICNF, das condições em que se possam desenvolver

incêndios que recebem a classificação de fogos de gestão (confinamento versus

supressão).

16. A nível regional a AGIF tem a responsabilidade de reavaliar a localização dos meios

dos três pilares, com o objetivo de propor a dotação com mais recursos nas zonas onde

existe maios probabilidade de ocorrência de ocorrerem muito grandes incêndios

(>500ha).

Dependência hierárquica

A Agência deverá ser criada na dependência direta da Presidência do Conselho de Ministros

(PCM).

Para maior garantia de independência e estabilidade da Agência, é constituído um conselho

técnico consultivo e de avaliação composto por peritos, sugerindo-se que a sua composição

possa ser equacionada pela Assembleia da República. A este conselho deverá competir a

análise da atividade da AGIF e do Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais e

pronunciar-se sobre os perfis dos recursos humanos da Agência.

Composição técnica da Agência

 A Agência é constituída por especialistas com formação de base ao nível das

licenciaturas (nível 7), relacionadas com a organização, gestão e proteção do território,

designadamente da engenharia florestal ou outras que sejam consideradas necessárias,

com especialização em Incêndios Florestais;

 Os lugares são ocupados por concurso público, de acordo com as regras da

Administração Pública;

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 182

Página 183

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

182

 A entidade deverá ser constituída por unidades que atuem até ao nível regional/distrital.

Em cada região deverão existir equipas de especialistas operacionais de apoio à

intervenção. A alocação do número de técnicos às equipas distritais deverá ser feita em

função do risco de incêndio florestal do distrito. As equipas distritais terão mobilidade

para todo o território nacional (continente e ilhas), deslocando-se sempre que necessário

para ações de prevenção, pré-supressão ou supressão para outros distritos, substituindo

ou reforçando localmente o dispositivo.

13 DE OUTUBRO DE 2017 183

Página 184

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

183

ANEXOS

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 184

Página 185

Página 186

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

Índice de Anexos

ANEXO 1 Lista de Pessoas e Instituições Contactadas nos termos nº 1, artº 4º,

lei 49-A/2017, 10 de julho

ANEXO 2 Quadro Custo social dos incêndios

ANEXO 3 Financiamento da prevenção e combate a incêndios florestais com

fundos europeus

ANEXO 4 Metodologia Capítulo 5

ANEXO 5 Organização do território, esclarecimentos sobre defesa de pessoas

e bens e defesa da floresta

ANEXO 6 Gestão de combustíveis planeada e executada na área dos 11

concelhos

ANEXO 7 INSTROP_03_2014_ INSTROP_03_2014_Freguesias

prioritárias_para_intervenção_com_mais_do_que_um_MA_ATI

ANEXO 8 Problemática do dispositivo de Prevenção Estrutural

ANEXO 9 Recomendações para Pilar Prevenção Estrutural

ANEXO 10 Propostas para a Proteção dos Aglomerados Contra Incêndios

Rurais (PACIR)

ANEXO 11 Pressupostos e princípios de organização para o Sistema de Gestão

Integrada de Fogos Rurais

ANEXO 12 Lista de Abreviaturas e Acrónimos

ANEXO 13 Referências bibliográficas

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 186

Página 187

Página 188

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 188

Página 189

13 DE OUTUBRO DE 2017 189

Página 190

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 190

Página 191

13 DE OUTUBRO DE 2017 191

Página 192

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 192

Página 193

13 DE OUTUBRO DE 2017 193

Página 194

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 194

Página 195

13 DE OUTUBRO DE 2017 195

Página 196

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 196

Página 197

13 DE OUTUBRO DE 2017 197

Página 198

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 198

Página 199

13 DE OUTUBRO DE 2017 199

Página 200

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 200

Página 201

13 DE OUTUBRO DE 2017 201

Página 202

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 202

Página 203

13 DE OUTUBRO DE 2017 203

Página 204

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 204

Página 205

13 DE OUTUBRO DE 2017 205

Página 206

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 206

Página 207

13 DE OUTUBRO DE 2017 207

Página 208

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 208

Página 209

13 DE OUTUBRO DE 2017 209

Página 210

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 210

Página 211

13 DE OUTUBRO DE 2017 211

Página 212

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 212

Página 213

13 DE OUTUBRO DE 2017 213

Página 214

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 214

Página 215

13 DE OUTUBRO DE 2017 215

Página 216

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 216

Página 217

13 DE OUTUBRO DE 2017 217

Página 218

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Este é um documento de carácter RESERVADO que não se destina à divulgação pública e visa definir procedimentos, que durante períodos de maior ou menor duração, regulam aspetos técnicos e operacionais de determinadas atividades.

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Para Execução/Planeamento: CNOS / CDOS / SALOC CNOS e CDOS Revoga: INSTROP 12/2012 de 18 MAI 2012

Para conhecimento:PRES ANPC / DN ANPC / CADIS VALIDADE: Até determinação em contrário.

Referência: Lei n.º 11/A-2013, de 21 de janeiro Diretiva Operacional Nacional nº 2 – DECIF

Página 1 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

A Directiva Operacional Nacional (DON) n.º 2, relativa ao Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF), determina o accionamento de um único meio aéreo em ataque inicial (ATI). Sendo esta a norma aplicável por defeito, não obsta a que, conforme expresso no mesmo documento, possa existir empenhamento adicional de meios aéreos de ATI, estando este pendente da anuência prévia, do Comando Nacional de Operações de Socorro (CNOS). O facto de alguns locais oferecerem condições particularmente favoráveis à rápida propagação de incêndios, torna factor de eficácia, mas também de eficiência, que a decisão de accionar mais do que um meio aéreo, até um máximo de 2 (dois), em ATI, seja um procedimento mais célere, dispensando a anuência previamente referida no momento da ocorrência, tendo essa mesma anuência sido dada, por defeito, para áreas bem identificadas. Decorridos dois anos da implementação desta INSTROP e considerando que a ocorrência de alguns grandes incêndios conduziu à diminuição da perigosidade de incêndio florestal associado conjugadamente com a reorganização administrativa das freguesias, expressa na Lei n.º 11/A-2013, de 21 de janeiro, torna-se necessário proceder a uma atualização desta listagem. Face ao exposto, tendo em consideração as reanálises realizadas em sede de susceptibilidade a incêndio, à existência de áreas particularmente sensíveis ou de valor a preservar, e capacidade local de intervenção, e à reorganização administrativa operada, atualiza a presente INSTROP quais as freguesias para as quais se dispensam os Comandos Distritais de Operações de Socorro (CDOS) de contacto prévio com o CNOS para autorização de accionamento de mais do que um meio aéreo ATI. Para ocorrências com desenvolvimento em outras freguesias, não listadas na Tabela 1, aplica-se o procedimento previsto na Directiva Operacional Nacional n.º 2 - DECIF. Com vista ao cumprimento do disposto na presente INSTROP, fornece o CNOS, em momento inicial e em actualizações subsequentes, ficheiro KML/KMZ que possa utilizar-se como orientador, sobre solução Google Maps/Google Earth ou compatível, do processo de decisão e empenhamento de meios aéreos. O procedimento de excepção definido na presente INSTROP é aplicável durante a Fase Charlie do DECIF. Nas demais fases, aplica-se o procedimento expresso na Directiva Operacional n.º 2- DECIF, sem excepções.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 218

Página 219

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 2 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Tabela 1 – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI Distrito Concelho Freguesia

AVEIRO ÁGUEDA Macinhata do Vouga

AVEIRO ÁGUEDA Valongo do Vouga

AVEIRO ÁGUEDA União das freguesias de Águeda e Borralha

AVEIRO ÁGUEDA União das freguesias de Belazaima do Chão, Castanheira do Vouga e Agadão

AVEIRO ÁGUEDA União das freguesias de Trofa, Segadães e Lamas do Vouga

AVEIRO ÁGUEDA União das freguesias do Préstimo e Macieira de Alcoba

AVEIRO ALBERGARIA-A-VELHA Alquerubim

AVEIRO ALBERGARIA-A-VELHA Branca

AVEIRO ALBERGARIA-A-VELHA Ribeira de Fráguas

AVEIRO ALBERGARIA-A-VELHA Albergaria-a-Velha e Valmaior

AVEIRO ANADIA Avelãs de Cima

AVEIRO ANADIA Moita

AVEIRO ANADIA Vila Nova de Monsarros

AVEIRO AROUCA Alvarenga

AVEIRO AROUCA Escariz

AVEIRO AROUCA Fermedo

AVEIRO AROUCA Mansores

AVEIRO AROUCA Moldes

AVEIRO AROUCA Rossas

AVEIRO AROUCA Santa Eulália

AVEIRO AROUCA São Miguel do Mato

AVEIRO AROUCA Tropeço

AVEIRO AROUCA Urrô

AVEIRO AROUCA Várzea

AVEIRO AROUCA União das freguesias de Arouca e Burgo

AVEIRO AROUCA União das freguesias de Cabreiros e Albergaria da Serra

AVEIRO AROUCA União das freguesias de Canelas e Espiunca

AVEIRO AROUCA União das freguesias de Covelo de Paivó e Janarde

AVEIRO AVEIRO São Jacinto

AVEIRO CASTELO DE PAIVA Fornos

AVEIRO CASTELO DE PAIVA Real

AVEIRO CASTELO DE PAIVA Santa Maria de Sardoura

AVEIRO CASTELO DE PAIVA São Martinho de Sardoura

AVEIRO CASTELO DE PAIVA União das freguesias de Raiva, Pedorido e Paraíso

AVEIRO CASTELO DE PAIVA União das freguesias de Sobrado e Bairros

AVEIRO ESPINHO Paramos

AVEIRO ESPINHO Silvalde

AVEIRO SANTA MARIA DA FEIRA Milheirós de Poiares

AVEIRO SANTA MARIA DA FEIRA Romariz

AVEIRO SANTA MARIA DA FEIRA União das freguesias de Caldas de São Jorge e Pigeiros

AVEIRO SANTA MARIA DA FEIRA União das freguesias de Canedo, Vale e Vila Maior

AVEIRO SANTA MARIA DA FEIRA União das freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande

AVEIRO ÍLHAVO Ílhavo (São Salvador)

AVEIRO MEALHADA Luso

AVEIRO MEALHADA Vacariça

AVEIRO OLIVEIRA DE AZEMÉIS Carregosa

AVEIRO OLIVEIRA DE AZEMÉIS Cesar

AVEIRO OLIVEIRA DE AZEMÉIS Fajões

AVEIRO OLIVEIRA DE AZEMÉIS Macieira de Sarnes

AVEIRO OLIVEIRA DE AZEMÉIS Ossela

AVEIRO OLIVEIRA DE AZEMÉIS São Roque

13 DE OUTUBRO DE 2017 219

Página 220

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 3 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Distrito Concelho Freguesia

AVEIRO OLIVEIRA DE AZEMÉIS União das freguesias de Nogueira do Cravo e Pindelo

AVEIRO OLIVEIRA DE AZEMÉIS União das freguesias de Oliveira de Azeméis, Santiago de Riba-Ul, Ul, Macinhata da Seixa e Madail

AVEIRO OLIVEIRA DE AZEMÉIS União das freguesias de Pinheiro da Bemposta, Travanca e Palmaz

AVEIRO OVAR Cortegaça

AVEIRO OVAR Esmoriz

AVEIRO OVAR Maceda

AVEIRO OVAR União das freguesias de Ovar, São João, Arada e São Vicente de Pereira Jusã

AVEIRO SEVER DO VOUGA Couto de Esteves

AVEIRO SEVER DO VOUGA Pessegueiro do Vouga

AVEIRO SEVER DO VOUGA Rocas do Vouga

AVEIRO SEVER DO VOUGA Sever do Vouga

AVEIRO SEVER DO VOUGA Talhadas

AVEIRO SEVER DO VOUGA União das freguesias de Cedrim e Paradela

AVEIRO SEVER DO VOUGA União das freguesias de Silva Escura e Dornelas

AVEIRO VAGOS Calvão

AVEIRO VAGOS Gafanha da Boa Hora

AVEIRO VAGOS Santo André de Vagos

AVEIRO VAGOS União das freguesias de Vagos e Santo António

AVEIRO VALE DE CAMBRA Arões

AVEIRO VALE DE CAMBRA Cepelos

AVEIRO VALE DE CAMBRA Junqueira

AVEIRO VALE DE CAMBRA União das freguesias de Vila Chã, Codal e Vila Cova de Perrinho

BEJA ALMODÔVAR Santa Cruz

BEJA ALMODÔVAR São Barnabé

BEJA ALMODÔVAR União das freguesias de Santa Clara-a-Nova e Gomes Aires

BEJA ODEMIRA Relíquias

BEJA ODEMIRA Sabóia

BEJA ODEMIRA São Luís

BEJA ODEMIRA São Martinho das Amoreiras

BEJA ODEMIRA Luzianes-Gare

BEJA ODEMIRA Santa Clara-a-Velha

BEJA ODEMIRA São Salvador e Santa Maria

BEJA OURIQUE Santana da Serra

BRAGA AMARES Bouro (Santa Maria)

BRAGA AMARES Bouro (Santa Marta)

BRAGA BARCELOS Fragoso

BRAGA BRAGA Espinho

BRAGA BRAGA União das freguesias de Este (São Pedro e São Mamede)

BRAGA BRAGA União das freguesias de Nogueira, Fraião e Lamaçães

BRAGA BRAGA União das freguesias de Nogueiró e Tenões

BRAGA CABECEIRAS DE BASTO União das freguesias de Gondiães e Vilar de Cunhas

BRAGA CELORICO DE BASTO Arnóia

BRAGA CELORICO DE BASTO Codeçoso

BRAGA CELORICO DE BASTO União das freguesias de Canedo de Basto e Corgo

BRAGA CELORICO DE BASTO União das freguesias de Veade, Gagos e Molares

BRAGA GUIMARÃES Costa

BRAGA TERRAS DE BOURO Campo do Gerês

BRAGA TERRAS DE BOURO Rio Caldo

BRAGA TERRAS DE BOURO Valdosende BRAGA TERRAS DE BOURO União das freguesias de Chorense e Monte

Tabela 1 (cont.) – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 220

Página 221

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 4 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Distrito Concelho Freguesia

BRAGA VIEIRA DO MINHO Cantelães

BRAGA VIEIRA DO MINHO Pinheiro

BRAGA VIEIRA DO MINHO União das freguesias de Ruivães e Campos

CASTELO BRANCO BELMONTE Maçainhas

CASTELO BRANCO BELMONTE União das freguesias de Belmonte e Colmeal da Torre

CASTELO BRANCO CASTELO BRANCO Almaceda

CASTELO BRANCO CASTELO BRANCO Benquerenças

CASTELO BRANCO CASTELO BRANCO Malpica do Tejo

CASTELO BRANCO CASTELO BRANCO Salgueiro do Campo

CASTELO BRANCO CASTELO BRANCO Santo André das Tojeiras

CASTELO BRANCO CASTELO BRANCO São Vicente da Beira

CASTELO BRANCO CASTELO BRANCO Sarzedas

CASTELO BRANCO CASTELO BRANCO União das freguesias de Cebolais de Cima e Retaxo

CASTELO BRANCO CASTELO BRANCO União das freguesias de Freixial e Juncal do Campo

CASTELO BRANCO CASTELO BRANCO União das freguesias de Ninho do Açor e Sobral do Campo

CASTELO BRANCO COVILHÃ Aldeia de São Francisco de Assis

CASTELO BRANCO COVILHÃ Cortes do Meio

CASTELO BRANCO COVILHÃ Dominguizo

CASTELO BRANCO COVILHÃ Erada

CASTELO BRANCO COVILHÃ Orjais

CASTELO BRANCO COVILHÃ Paul

CASTELO BRANCO COVILHÃ Peraboa

CASTELO BRANCO COVILHÃ São Jorge da Beira

CASTELO BRANCO COVILHÃ Sobral de São Miguel

CASTELO BRANCO COVILHÃ Unhais da Serra

CASTELO BRANCO COVILHÃ Verdelhos

CASTELO BRANCO COVILHÃ União das freguesias de Barco e Coutada

CASTELO BRANCO COVILHÃ União das freguesias de Cantar-Galo e Vila do Carvalho

CASTELO BRANCO COVILHÃ União das freguesias de Casegas e Ourondo

CASTELO BRANCO COVILHÃ União das freguesias de Covilhã e Canhoso

CASTELO BRANCO COVILHÃ União das freguesias de Peso e Vales do Rio

CASTELO BRANCO COVILHÃ União das freguesias de Teixoso e Sarzedo

CASTELO BRANCO COVILHÃ União das freguesias de Vale Formoso e Aldeia do Souto

CASTELO BRANCO FUNDÃO Barroca

CASTELO BRANCO FUNDÃO Bogas de Cima

CASTELO BRANCO FUNDÃO Capinha

CASTELO BRANCO FUNDÃO Castelejo

CASTELO BRANCO FUNDÃO Fatela

CASTELO BRANCO FUNDÃO Lavacolhos

CASTELO BRANCO FUNDÃO Pêro Viseu

CASTELO BRANCO FUNDÃO Silvares

CASTELO BRANCO FUNDÃO Souto da Casa

CASTELO BRANCO FUNDÃO Enxames

CASTELO BRANCO FUNDÃO Três Povos

CASTELO BRANCO FUNDÃO União das freguesias de Janeiro de Cima e Bogas de Baixo

CASTELO BRANCO IDANHA-A-NOVA Medelim

CASTELO BRANCO IDANHA-A-NOVA Oledo

CASTELO BRANCO IDANHA-A-NOVA Penha Garcia

CASTELO BRANCO IDANHA-A-NOVA Proença-a-Velha

CASTELO BRANCO IDANHA-A-NOVA São Miguel de Acha

Tabela 1 (cont.) – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

13 DE OUTUBRO DE 2017 221

Página 222

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 5 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Distrito Concelho Freguesia

CASTELO BRANCO IDANHA-A-NOVA União das freguesias de Idanha-a-Nova e Alcafozes

CASTELO BRANCO IDANHA-A-NOVA União das freguesias de Monsanto e Idanha-a-Velha

CASTELO BRANCO OLEIROS Álvaro

CASTELO BRANCO OLEIROS Cambas

CASTELO BRANCO OLEIROS Isna

CASTELO BRANCO OLEIROS Madeirã

CASTELO BRANCO OLEIROS Mosteiro

CASTELO BRANCO OLEIROS Orvalho

CASTELO BRANCO OLEIROS Sarnadas de São Simão

CASTELO BRANCO OLEIROS Sobral

CASTELO BRANCO OLEIROS Estreito-Vilar Barroco

CASTELO BRANCO OLEIROS Oleiros-Amieira

CASTELO BRANCO PENAMACOR Meimão

CASTELO BRANCO PENAMACOR Penamacor

CASTELO BRANCO PENAMACOR Salvador

CASTELO BRANCO PENAMACOR União das freguesias de Aldeia do Bispo, Águas e Aldeia de João Pires

CASTELO BRANCO PROENÇA-A-NOVA Montes da Senhora

CASTELO BRANCO PROENÇA-A-NOVA São Pedro do Esteval

CASTELO BRANCO PROENÇA-A-NOVA União das freguesias de Proença-a-Nova e Peral

CASTELO BRANCO PROENÇA-A-NOVA União das freguesias de Sobreira Formosa e Alvito da Beira

CASTELO BRANCO SERTÃ Cabeçudo

CASTELO BRANCO SERTÃ Carvalhal

CASTELO BRANCO SERTÃ Castelo

CASTELO BRANCO SERTÃ Pedrógão Pequeno

CASTELO BRANCO SERTÃ Sertã

CASTELO BRANCO SERTÃ Troviscal

CASTELO BRANCO SERTÃ Várzea dos Cavaleiros

CASTELO BRANCO SERTÃ União das freguesias de Cernache do Bonjardim, Nesperal e Palhais

CASTELO BRANCO SERTÃ União das freguesias de Cumeada e Marmeleiro

CASTELO BRANCO SERTÃ União das freguesias de Ermida e Figueiredo

CASTELO BRANCO VILA DE REI Fundada

CASTELO BRANCO VILA DE REI São João do Peso

CASTELO BRANCO VILA DE REI Vila de Rei

CASTELO BRANCO VILA VELHA DE RÓDÃO Fratel

CASTELO BRANCO VILA VELHA DE RÓDÃO Sarnadas de Ródão

CASTELO BRANCO VILA VELHA DE RÓDÃO Vila Velha de Ródão

COIMBRA ARGANIL Arganil

COIMBRA ARGANIL Benfeita

COIMBRA ARGANIL Celavisa

COIMBRA ARGANIL Folques

COIMBRA ARGANIL Piódão

COIMBRA ARGANIL Pomares

COIMBRA ARGANIL São Martinho da Cortiça

COIMBRA ARGANIL União das freguesias de Cepos e Teixeira

COIMBRA ARGANIL União das freguesias de Cerdeira e Moura da Serra

COIMBRA ARGANIL União das freguesias de Coja e Barril de Alva

COIMBRA ARGANIL União das freguesias de Vila Cova de Alva e Anseriz

COIMBRA CANTANHEDE Tocha

COIMBRA COIMBRA Almalaguês

COIMBRA COIMBRA Torres do Mondego

Tabela 1 (cont.) – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 222

Página 223

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 6 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Distrito Concelho Freguesia

COIMBRA COIMBRA União das freguesias de Coimbra (Sé Nova, Santa Cruz, Almedina e São Bartolomeu)

COIMBRA COIMBRA União das freguesias de São Martinho do Bispo e Ribeira de Frades

COIMBRA COIMBRA União das freguesias de Taveiro, Ameal e Arzila

COIMBRA CONDEIXA-A-NOVA Anobra

COIMBRA CONDEIXA-A-NOVA Ega

COIMBRA CONDEIXA-A-NOVA União das freguesias de Vila Seca e Bem da Fé

COIMBRA FIGUEIRA DA FOZ Marinha das Ondas

COIMBRA FIGUEIRA DA FOZ São Pedro

COIMBRA FIGUEIRA DA FOZ Bom Sucesso

COIMBRA FIGUEIRA DA FOZ Alhadas

COIMBRA FIGUEIRA DA FOZ Buarcos

COIMBRA FIGUEIRA DA FOZ Ferreira-a-Nova e Santana

COIMBRA FIGUEIRA DA FOZ Lavos

COIMBRA FIGUEIRA DA FOZ Paião

COIMBRA FIGUEIRA DA FOZ Quiaios

COIMBRA GÓIS Alvares

COIMBRA GÓIS Góis

COIMBRA GÓIS Vila Nova do Ceira

COIMBRA GÓIS União das freguesias de Cadafaz e Colmeal

COIMBRA LOUSÃ Serpins

COIMBRA LOUSÃ União das freguesias de Lousã e Vilarinho

COIMBRA MIRA Mira

COIMBRA MIRA Seixo

COIMBRA MIRA Praia de Mira

COIMBRA MIRANDA DO CORVO Miranda do Corvo

COIMBRA MIRANDA DO CORVO Vila Nova

COIMBRA MONTEMOR-O-VELHO Pereira

COIMBRA MONTEMOR-O-VELHO União das freguesias de Montemor-o-Velho e Gatões

COIMBRA OLIVEIRA DO HOSPITAL Aldeia das Dez

COIMBRA OLIVEIRA DO HOSPITAL Alvoco das Várzeas

COIMBRA OLIVEIRA DO HOSPITAL Lagares

COIMBRA OLIVEIRA DO HOSPITAL Meruge

COIMBRA OLIVEIRA DO HOSPITAL Seixo da Beira

COIMBRA OLIVEIRA DO HOSPITAL Travanca de Lagos

COIMBRA OLIVEIRA DO HOSPITAL União das freguesias de Ervedal e Vila Franca da Beira

COIMBRA OLIVEIRA DO HOSPITAL União das freguesias de Lagos da Beira e Lajeosa

COIMBRA PAMPILHOSA DA SERRA Cabril

COIMBRA PAMPILHOSA DA SERRA Dornelas do Zêzere

COIMBRA PAMPILHOSA DA SERRA Janeiro de Baixo

COIMBRA PAMPILHOSA DA SERRA Pampilhosa da Serra

COIMBRA PAMPILHOSA DA SERRA Pessegueiro

COIMBRA PAMPILHOSA DA SERRA Unhais-o-Velho

COIMBRA PAMPILHOSA DA SERRA Fajão-Vidual

COIMBRA PENACOVA Carvalho

COIMBRA PENACOVA Figueira de Lorvão

COIMBRA PENACOVA Penacova

COIMBRA PENELA Cumeeira

COIMBRA PENELA Espinhal

COIMBRA SOURE Alfarelos

COIMBRA SOURE Tapéus

Tabela 1 (cont.) – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo AT

13 DE OUTUBRO DE 2017 223

Página 224

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 7 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Distrito Concelho Freguesia

COIMBRA SOURE Vila Nova de Anços

COIMBRA SOURE União das freguesias de Degracias e Pombalinho

COIMBRA TÁBUA Carapinha

COIMBRA TÁBUA Midões

COIMBRA TÁBUA Mouronho

COIMBRA TÁBUA Póvoa de Midões

COIMBRA TÁBUA União das freguesias de Ázere e Covelo

COIMBRA TÁBUA União das freguesias de Espariz e Sinde

COIMBRA TÁBUA União das freguesias de Pinheiro de Coja e Meda de Mouros

COIMBRA VILA NOVA DE POIARES Lavegadas

COIMBRA VILA NOVA DE POIARES São Miguel de Poiares

ÉVORA ESTREMOZ Glória

ÉVORA REDONDO Redondo

ÉVORA VIANA DO ALENTEJO Alcáçovas

FARO LOULÉ Alte

FARO LOULÉ Ameixial

FARO LOULÉ Salir

FARO LOULÉ União de freguesias de Querença, Tôr e Benafim

FARO MONCHIQUE Alferce

FARO MONCHIQUE Monchique

FARO SILVES São Bartolomeu de Messines

FARO SILVES São Marcos da Serra

GUARDA AGUIAR DA BEIRA Carapito

GUARDA AGUIAR DA BEIRA Cortiçada

GUARDA AGUIAR DA BEIRA Dornelas

GUARDA AGUIAR DA BEIRA Eirado

GUARDA AGUIAR DA BEIRA Forninhos

GUARDA AGUIAR DA BEIRA Pena Verde

GUARDA AGUIAR DA BEIRA Pinheiro

GUARDA AGUIAR DA BEIRA União das freguesias de Aguiar da Beira e Coruche

GUARDA AGUIAR DA BEIRA União das freguesias de Sequeiros e Gradiz

GUARDA AGUIAR DA BEIRA União das freguesias de Souto de Aguiar da Beira e Valverde

GUARDA FORNOS DE ALGODRES Matança

GUARDA FORNOS DE ALGODRES Queiriz

GUARDA GOUVEIA Folgosinho

GUARDA GOUVEIA União das freguesias de Aldeias e Mangualde da Serra

GUARDA GUARDA Famalicão

GUARDA GUARDA Fernão Joanes

GUARDA GUARDA Valhelhas

GUARDA GUARDA Videmonte

GUARDA MANTEIGAS Sameiro

GUARDA MANTEIGAS Manteigas (Santa Maria)

GUARDA MANTEIGAS Manteigas (São Pedro)

GUARDA MANTEIGAS Vale de Amoreira

GUARDA SABUGAL Malcata

GUARDA SABUGAL Quadrazais

GUARDA SEIA Alvoco da Serra

GUARDA SEIA Loriga

GUARDA SEIA Sabugueiro

GUARDA SEIA Sandomil

Tabela 1 (cont.) – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 224

Página 225

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 8 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Distrito Concelho Freguesia

GUARDA SEIA Santiago

GUARDA SEIA Sazes da Beira

GUARDA SEIA Teixeira

GUARDA SEIA Valezim

GUARDA SEIA Vila Cova à Coelheira

GUARDA SEIA União das freguesias de Sameice e Santa Eulália

GUARDA SEIA União das freguesias de Torrozelo e Folhadosa

GUARDA SEIA União das freguesias de Vide e Cabeça

LEIRIA ALCOBAÇA Benedita

LEIRIA ALCOBAÇA Évora de Alcobaça

LEIRIA ALCOBAÇA Turquel

LEIRIA ALCOBAÇA Aljubarrota

LEIRIA ALVAIÁZERE Almoster

LEIRIA ALVAIÁZERE Maçãs de Dona Maria

LEIRIA ALVAIÁZERE Pelmá

LEIRIA ALVAIÁZERE Alvaiázere

LEIRIA ALVAIÁZERE Pussos São Pedro

LEIRIA ANSIÃO Alvorge

LEIRIA ANSIÃO Avelar

LEIRIA ANSIÃO Chão de Couce

LEIRIA ANSIÃO Pousaflores

LEIRIA ANSIÃO Santiago da Guarda

LEIRIA ANSIÃO Ansião

LEIRIA BATALHA São Mamede

LEIRIA CASTANHEIRA DE PÊRA União das freguesias de Castanheira de Pêra e Coentral

LEIRIA FIGUEIRÓ DOS VINHOS Aguda

LEIRIA FIGUEIRÓ DOS VINHOS Arega

LEIRIA FIGUEIRÓ DOS VINHOS Campelo

LEIRIA FIGUEIRÓ DOS VINHOS União das freguesias de Figueiró dos Vinhos e Bairradas

LEIRIA LEIRIA Caranguejeira

LEIRIA LEIRIA Coimbrão

LEIRIA LEIRIA Bajouca

LEIRIA LEIRIA União das freguesias de Colmeias e Memória

LEIRIA LEIRIA União das freguesias de Monte Real e Carvide

LEIRIA LEIRIA União das freguesias de Monte Redondo e Carreira

LEIRIA MARINHA GRANDE Marinha Grande

LEIRIA MARINHA GRANDE Vieira de Leiria

LEIRIA PEDRÓGÃO GRANDE Graça

LEIRIA PEDRÓGÃO GRANDE Pedrógão Grande

LEIRIA PEDRÓGÃO GRANDE Vila Facaia

LEIRIA POMBAL Abiul

LEIRIA POMBAL Almagreira

LEIRIA POMBAL Carnide

LEIRIA POMBAL Carriço

LEIRIA POMBAL Louriçal

LEIRIA POMBAL Pelariga

LEIRIA POMBAL Pombal

LEIRIA POMBAL Redinha

LEIRIA POMBAL Vermoil

LEIRIA POMBAL Vila Cã

Tabela 1 (cont.) – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

13 DE OUTUBRO DE 2017 225

Página 226

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 9 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Distrito Concelho Freguesia

LEIRIA POMBAL Meirinhas

LEIRIA POMBAL União das freguesias de Guia, Ilha e Mata Mourisca

LEIRIA POMBAL União das freguesias de Santiago e São Simão de Litém e Albergaria dos Doze

LEIRIA PORTO DE MÓS Alqueidão da Serra

LEIRIA PORTO DE MÓS Mira de Aire

LEIRIA PORTO DE MÓS Pedreiras

LEIRIA PORTO DE MÓS São Bento

LEIRIA PORTO DE MÓS Serro Ventoso

LEIRIA PORTO DE MÓS União das freguesias de Alvados e Alcaria

LEIRIA PORTO DE MÓS União das freguesias de Arrimal e Mendiga

PORTALEGRE CASTELO DE VIDE Nossa Senhora da Graça de Póvoa e Meadas

PORTALEGRE GAVIÃO Belver

PORTALEGRE GAVIÃO Comenda

PORTALEGRE GAVIÃO União das freguesias de Gavião e Atalaia

PORTALEGRE NISA Montalvão

PORTALEGRE NISA Santana

PORTALEGRE NISA São Matias

PORTALEGRE NISA União das freguesias de Arez e Amieira do Tejo

PORTALEGRE NISA União das freguesias de Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e São Simão

PORTO AMARANTE Ansiães

PORTO AMARANTE Fridão

PORTO AMARANTE Rebordelo

PORTO AMARANTE União das freguesias de Aboadela, Sanche e Várzea

PORTO AMARANTE União das freguesias de Olo e Canadelo

PORTO FELGUEIRAS União das freguesias de Macieira da Lixa e Caramos

PORTO FELGUEIRAS União das freguesias de Vila Cova da Lixa e Borba de Godim

PORTO GONDOMAR Lomba

PORTO GONDOMAR União das freguesias de Fânzeres e São Pedro da Cova

PORTO GONDOMAR União das freguesias de Foz do Sousa e Covelo

PORTO GONDOMAR União das freguesias de Melres e Medas

PORTO LOUSADA Sousela

PORTO LOUSADA União das freguesias de Lustosa e Barrosas (Santo Estêvão)

PORTO MAIA Folgosa

PORTO MAIA Nogueira e Silva Escura

PORTO PAÇOS DE FERREIRA Eiriz

PORTO PAÇOS DE FERREIRA Penamaior

PORTO PAÇOS DE FERREIRA Seroa

PORTO PAREDES Aguiar de Sousa

PORTO PAREDES Sobreira

PORTO PENAFIEL Capela

PORTO PENAFIEL Sebolido

PORTO PENAFIEL Rio Mau

PORTO PENAFIEL Lagares e Figueira

PORTO SANTO TIRSO Agrela

PORTO SANTO TIRSO Água Longa

PORTO SANTO TIRSO Monte Córdova

PORTO SANTO TIRSO Reguenga

PORTO SANTO TIRSO União das freguesias de Carreira e Refojos de Riba de Ave

PORTO SANTO TIRSO União das freguesias de Lamelas e Guimarei

PORTO VALONGO Valongo

Tabela 1 (cont.) – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 226

Página 227

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 10 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Distrito Concelho Freguesia

PORTO VALONGO União das freguesias de Campo e Sobrado

PORTO TROFA Covelas

PORTO TROFA União das freguesias de Coronado (São Romão e São Mamede)

SANTARÉM ABRANTES Martinchel

SANTARÉM ABRANTES Fontes

SANTARÉM ABRANTES Carvalhal

SANTARÉM ABRANTES União das freguesias de Aldeia do Mato e Souto

SANTARÉM ALCANENA Minde

SANTARÉM FERREIRA DO ZÊZERE Águas Belas

SANTARÉM FERREIRA DO ZÊZERE Beco

SANTARÉM FERREIRA DO ZÊZERE Ferreira do Zêzere

SANTARÉM MAÇÃO Amêndoa

SANTARÉM MAÇÃO Cardigos

SANTARÉM MAÇÃO Carvoeiro

SANTARÉM MAÇÃO Envendos

SANTARÉM MAÇÃO União das freguesias de Mação, Penhascoso e Aboboreira

SANTARÉM SARDOAL Alcaravela

SANTARÉM SARDOAL Santiago de Montalegre

SANTARÉM TOMAR Olalhas

SANTARÉM TOMAR Sabacheira

SANTARÉM TOMAR União das freguesias de Além da Ribeira e Pedreira

SANTARÉM TOMAR União das freguesias de Serra e Junceira

SANTARÉM TORRES NOVAS Pedrógão

SANTARÉM OURÉM Espite

SANTARÉM OURÉM Urqueira

SANTARÉM OURÉM Nossa Senhora da Piedade

SANTARÉM OURÉM União das freguesias de Freixianda, Ribeira do Fárrio e Formigais

SANTARÉM OURÉM União das freguesias de Gondemaria e Olival

SANTARÉM OURÉM União das freguesias de Matas e Cercal

VIANA DO CASTELO ARCOS DE VALDEVEZ Cabreiro

VIANA DO CASTELO ARCOS DE VALDEVEZ Gavieira

VIANA DO CASTELO ARCOS DE VALDEVEZ Padroso

VIANA DO CASTELO ARCOS DE VALDEVEZ Sistelo

VIANA DO CASTELO ARCOS DE VALDEVEZ Soajo

VIANA DO CASTELO ARCOS DE VALDEVEZ União das freguesias de Alvora e Loureda

VIANA DO CASTELO ARCOS DE VALDEVEZ União das freguesias de Portela e Extremo

VIANA DO CASTELO CAMINHA União das freguesias de Arga (Baixo, Cima e São João)

VIANA DO CASTELO CAMINHA União das freguesias de Gondar e Orbacém

VIANA DO CASTELO MELGAÇO União das freguesias de Castro Laboreiro e Lamas de Mouro

VIANA DO CASTELO MONÇÃO Abedim

VIANA DO CASTELO MONÇÃO Merufe

VIANA DO CASTELO MONÇÃO Portela

VIANA DO CASTELO MONÇÃO Riba de Mouro

VIANA DO CASTELO MONÇÃO Tangil

VIANA DO CASTELO MONÇÃO União das freguesias de Anhões e Luzio

VIANA DO CASTELO MONÇÃO União das freguesias de Messegães, Valadares e Sá

VIANA DO CASTELO PAREDES DE COURA Romarigães

VIANA DO CASTELO PAREDES DE COURA União das freguesias de Paredes de Coura e Resende

VIANA DO CASTELO PONTE DA BARCA Britelo

VIANA DO CASTELO PONTE DA BARCA Lindoso

Tabela 1 (cont.) – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

13 DE OUTUBRO DE 2017 227

Página 228

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 11 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Distrito Concelho Freguesia

VIANA DO CASTELO PONTE DA BARCA União das freguesias de Entre Ambos-os-Rios, Ermida e Germil

VIANA DO CASTELO PONTE DE LIMA Calvelo

VIANA DO CASTELO PONTE DE LIMA Estorãos

VIANA DO CASTELO PONTE DE LIMA Labruja

VIANA DO CASTELO PONTE DE LIMA Poiares

VIANA DO CASTELO PONTE DE LIMA Vitorino das Donas

VIANA DO CASTELO PONTE DE LIMA Ardegão, Freixo e Mato

VIANA DO CASTELO PONTE DE LIMA Cabração e Moreira do Lima

VIANA DO CASTELO PONTE DE LIMA Labrujó, Rendufe e Vilar do Monte

VIANA DO CASTELO PONTE DE LIMA Navió e Vitorino dos Piães

VIANA DO CASTELO VALENÇA Boivão

VIANA DO CASTELO VALENÇA União das freguesias de São Julião e Silva

VIANA DO CASTELO VIANA DO CASTELO Alvarães

VIANA DO CASTELO VIANA DO CASTELO Amonde

VIANA DO CASTELO VIANA DO CASTELO Castelo do Neiva

VIANA DO CASTELO VIANA DO CASTELO Freixieiro de Soutelo

VIANA DO CASTELO VIANA DO CASTELO Lanheses

VIANA DO CASTELO VIANA DO CASTELO Montaria

VIANA DO CASTELO VIANA DO CASTELO Mujães

VIANA DO CASTELO VIANA DO CASTELO União das freguesias de Barroselas e Carvoeiro

VIANA DO CASTELO VIANA DO CASTELO União das freguesias de Geraz do Lima (Santa Maria, Santa Leocádia e Moreira) e Deão

VIANA DO CASTELO VIANA DO CASTELO União das freguesias de Nogueira, Meixedo e Vilar de Murteda

VIANA DO CASTELO VIANA DO CASTELO União das freguesias de Subportela, Deocriste e Portela Susã

VIANA DO CASTELO VIANA DO CASTELO União das freguesias de Torre e Vila Mou

VIANA DO CASTELO VILA NOVA DE CERVEIRA Covas

VIANA DO CASTELO VILA NOVA DE CERVEIRA Mentrestido

VILA REAL ALIJÓ Vila Verde

VILA REAL ALIJÓ Vilar de Maçada

VILA REAL BOTICAS Dornelas

VILA REAL BOTICAS Pinho

VILA REAL BOTICAS Boticas e Granja

VILA REAL BOTICAS Codessoso, Curros e Fiães do Tâmega

VILA REAL CHAVES Anelhe

VILA REAL CHAVES Faiões

VILA REAL CHAVES União das freguesias de Loivos e Póvoa de Agrações

VILA REAL CHAVES Vidago (União das freguesias de Vidago, Arcossó, Selhariz e Vilarinho das Paranheiras)

VILA REAL MONDIM DE BASTO Bilhó

VILA REAL MONDIM DE BASTO Vilar de Ferreiros

VILA REAL MONDIM DE BASTO União das freguesias de Ermelo e Pardelhas

VILA REAL MONTALEGRE Salto

VILA REAL MONTALEGRE União das freguesias de Montalegre e Padroso

VILA REAL MURÇA Valongo de Milhais

VILA REAL RIBEIRA DE PENA Canedo

VILA REAL RIBEIRA DE PENA Santa Marinha

VILA REAL RIBEIRA DE PENA União das freguesias de Ribeira de Pena (Salvador) e Santo Aleixo de Além-Tâmega

VILA REAL SABROSA União das freguesias de São Martinho de Antas e Paradela de Guiães

VILA REAL SANTA MARTA DE PENAGUIÃO Fontes

VILA REAL SANTA MARTA DE PENAGUIÃO União das freguesias de Louredo e Fornelos

VILA REAL VALPAÇOS São Pedro de Veiga de Lila

VILA REAL VALPAÇOS Carrazedo de Montenegro e Curros

Tabela 1 (cont.) – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 228

Página 229

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 12 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Distrito Concelho Freguesia

VILA REAL VILA POUCA DE AGUIAR Bornes de Aguiar

VILA REAL VILA POUCA DE AGUIAR Bragado

VILA REAL VILA POUCA DE AGUIAR Capeludos

VILA REAL VILA POUCA DE AGUIAR Tresminas

VILA REAL VILA POUCA DE AGUIAR Valoura

VILA REAL VILA POUCA DE AGUIAR Vila Pouca de Aguiar

VILA REAL VILA POUCA DE AGUIAR União das freguesias de Pensalvos e Parada de Monteiros

VILA REAL VILA REAL Abaças

VILA REAL VILA REAL Andrães

VILA REAL VILA REAL Campeã

VILA REAL VILA REAL Folhadela

VILA REAL VILA REAL Torgueda

VILA REAL VILA REAL União das freguesias de Mouçós e Lamares

VISEU ARMAMAR Cimbres

VISEU ARMAMAR Santa Cruz

VISEU ARMAMAR São Cosmado

VISEU ARMAMAR São Martinho das Chãs

VISEU ARMAMAR União das freguesias de Aricera e Goujoim

VISEU CARREGAL DO SAL Beijós

VISEU CARREGAL DO SAL Cabanas de Viriato

VISEU CARREGAL DO SAL Oliveira do Conde

VISEU CARREGAL DO SAL Parada

VISEU CARREGAL DO SAL União das freguesias de Currelos, Papízios e Sobral

VISEU CASTRO DAIRE Almofala

VISEU CASTRO DAIRE Cabril

VISEU CASTRO DAIRE Castro Daire

VISEU CASTRO DAIRE Mões

VISEU CASTRO DAIRE Moledo

VISEU CASTRO DAIRE Pepim

VISEU CASTRO DAIRE Pinheiro

VISEU CASTRO DAIRE União das freguesias de Mamouros, Alva e Ribolhos

VISEU CASTRO DAIRE União das freguesias de Parada de Ester e Ester

VISEU CASTRO DAIRE União das freguesias de Reriz e Gafanhão

VISEU CINFÃES Cinfães

VISEU CINFÃES Fornelos

VISEU CINFÃES Oliveira do Douro

VISEU CINFÃES São Cristóvão de Nogueira

VISEU CINFÃES Souselo

VISEU CINFÃES Travanca

VISEU LAMEGO Avões

VISEU LAMEGO Lalim

VISEU LAMEGO Lazarim

VISEU LAMEGO Penajóia

VISEU LAMEGO Vila Nova de Souto d'El-Rei

VISEU LAMEGO Lamego (Almacave e Sé)

VISEU LAMEGO União das freguesias de Bigorne, Magueija e Pretarouca

VISEU LAMEGO União das freguesias de Cepões, Meijinhos e Melcões

VISEU MANGUALDE Alcafache

VISEU MANGUALDE Fornos de Maceira Dão

VISEU MANGUALDE União das freguesias de Mangualde, Mesquitela e Cunha Alta

Tabela 1 (cont.) – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

13 DE OUTUBRO DE 2017 229

Página 230

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 13 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Distrito Concelho Freguesia

VISEU MOIMENTA DA BEIRA Caria

VISEU MOIMENTA DA BEIRA Leomil

VISEU MOIMENTA DA BEIRA União das freguesias de Pêra Velha, Aldeia de Nacomba e Ariz

VISEU MOIMENTA DA BEIRA União das freguesias de Peva e Segões

VISEU MORTÁGUA Cercosa

VISEU MORTÁGUA Espinho

VISEU MORTÁGUA Marmeleira

VISEU MORTÁGUA Pala

VISEU MORTÁGUA Sobral

VISEU MORTÁGUA Trezói

VISEU MORTÁGUA União das freguesias de Mortágua, Vale de Remígio, Cortegaça e Almaça

VISEU NELAS Canas de Senhorim

VISEU NELAS Nelas

VISEU NELAS Senhorim

VISEU NELAS Vilar Seco

VISEU NELAS Lapa do Lobo

VISEU NELAS União das freguesias de Carvalhal Redondo e Aguieira

VISEU OLIVEIRA DE FRADES Arcozelo das Maias

VISEU OLIVEIRA DE FRADES Pinheiro

VISEU OLIVEIRA DE FRADES Ribeiradio

VISEU OLIVEIRA DE FRADES São João da Serra

VISEU OLIVEIRA DE FRADES União das freguesias de Arca e Varzielas

VISEU OLIVEIRA DE FRADES União das freguesias de Destriz e Reigoso

VISEU PENALVA DO CASTELO Castelo de Penalva

VISEU PENALVA DO CASTELO Germil

VISEU PENALVA DO CASTELO Ínsua

VISEU PENALVA DO CASTELO Real

VISEU PENALVA DO CASTELO Trancozelos

VISEU PENALVA DO CASTELO União das freguesias de Antas e Matela

VISEU PENEDONO Beselga

VISEU PENEDONO Castainço

VISEU PENEDONO Penela da Beira

VISEU PENEDONO Souto

VISEU PENEDONO União das freguesias de Antas e Ourozinho

VISEU PENEDONO União das freguesias de Penedono e Granja

VISEU RESENDE Barrô

VISEU RESENDE Cárquere

VISEU RESENDE Paus

VISEU RESENDE Resende

VISEU RESENDE São Cipriano

VISEU RESENDE São Martinho de Mouros

VISEU SANTA COMBA DÃO Pinheiro de Ázere

VISEU SANTA COMBA DÃO União das freguesias de Ovoa e Vimieiro

VISEU SANTA COMBA DÃO União das freguesias de Santa Comba Dão e Couto do Mosteiro

VISEU SANTA COMBA DÃO União das freguesias de Treixedo e Nagozela

VISEU SÃO JOÃO DA PESQUEIRA Ervedosa do Douro

VISEU SÃO JOÃO DA PESQUEIRA Nagozelo do Douro

VISEU SÃO JOÃO DA PESQUEIRA União das freguesias de São João da Pesqueira e Várzea de Trevões

VISEU SÃO PEDRO DO SUL Bordonhos

VISEU SÃO PEDRO DO SUL Figueiredo de Alva

Tabela 1 (cont.) – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 230

Página 231

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 14 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Distrito Concelho Freguesia

VISEU SÃO PEDRO DO SUL Manhouce

VISEU SÃO PEDRO DO SUL Pindelo dos Milagres

VISEU SÃO PEDRO DO SUL Sul

VISEU SÃO PEDRO DO SUL Valadares

VISEU SÃO PEDRO DO SUL União das freguesias de Carvalhais e Candal

VISEU SÃO PEDRO DO SUL União das freguesias de Santa Cruz da Trapa e São Cristóvão de Lafões

VISEU SÃO PEDRO DO SUL União das freguesias de São Martinho das Moitas e Covas do Rio

VISEU SÃO PEDRO DO SUL União das freguesias de São Pedro do Sul, Várzea e Baiões

VISEU SÃTÃO Ferreira de Aves

VISEU SÃTÃO Mioma

VISEU SÃTÃO Rio de Moinhos

VISEU SÃTÃO São Miguel de Vila Boa

VISEU SÃTÃO Sátão

VISEU SÃTÃO Silvã de Cima

VISEU SÃTÃO União das freguesias de Romãs, Decermilo e Vila Longa

VISEU SERNANCELHE Arnas

VISEU SERNANCELHE Carregal

VISEU SERNANCELHE Quintela

VISEU SERNANCELHE União das freguesias de Ferreirim e Macieira

VISEU SERNANCELHE União das freguesias de Fonte Arcada e Escurquela

VISEU SERNANCELHE União das freguesias de Sernancelhe e Sarzeda

VISEU TABUAÇO Arcos

VISEU TABUAÇO Desejosa

VISEU TABUAÇO Longa

VISEU TABUAÇO Sendim

VISEU TABUAÇO União das freguesias de Barcos e Santa Leocádia

VISEU TAROUCA Mondim da Beira

VISEU TAROUCA União das freguesias de Gouviães e Ucanha

VISEU TAROUCA União das freguesias de Granja Nova e Vila Chã da Beira

VISEU TAROUCA União das freguesias de Tarouca e Dálvares

VISEU TONDELA Campo de Besteiros

VISEU TONDELA Dardavaz

VISEU TONDELA Ferreirós do Dão

VISEU TONDELA Guardão

VISEU TONDELA Lajeosa do Dão

VISEU TONDELA Molelos

VISEU TONDELA União das freguesias de Barreiro de Besteiros e Tourigo

VISEU TONDELA União das freguesias de Caparrosa e Silvares

VISEU TONDELA União das freguesias de São João do Monte e Mosteirinho

VISEU VILA NOVA DE PAIVA Queiriga

VISEU VILA NOVA DE PAIVA Vila Cova à Coelheira

VISEU VILA NOVA DE PAIVA União das freguesias de Vila Nova de Paiva, Alhais e Fráguas

VISEU VISEU Bodiosa

VISEU VISEU Calde

VISEU VISEU Campo

VISEU VISEU Cavernães

VISEU VISEU Cota

VISEU VISEU Lordosa

VISEU VISEU São João de Lourosa

VISEU VISEU São Pedro de France

Tabela 1 (cont.) – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

13 DE OUTUBRO DE 2017 231

Página 232

INSTROP Instrução Operacional

03 2014

Data: 05-05-2014 Assunto: Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

Página 15 de 15 Este documento tem carácter:

RESERVADO

Comando Nacional de Operações de Socorro

Distrito Concelho Freguesia

VISEU VISEU União das freguesias de Barreiros e Cepões

VISEU VISEU União das freguesias de Boa Aldeia, Farminhão e Torredeita

VISEU VISEU União das freguesias de Couto de Baixo e Couto de Cima

VISEU VISEU União das freguesias de Fail e Vila Chã de Sá

VISEU VISEU União das freguesias de São Cipriano e Vil de Souto

VISEU VOUZELA Alcofra

VISEU VOUZELA Campia

VISEU VOUZELA Queirã

VISEU VOUZELA Ventosa

Tabela 1 (cont.) – Freguesias prioritárias para intervenção com mais do que um meio aéreo ATI

O Comandante Operacional Nacional

ORIGINAL ASSINADO E ARQUIVADO NO CNOS

José Manuel Moura

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 232

Página 233

Problemática do Dispositivo de Prevenção Estrutural (gestão de combustíveis) 1

ANEXO 8. Problemática: A estrutura de governança do dispositivo de

prevenção estrutural (ICNF, Sapadores Florestais, Gabinetes Técnicos

Florestais, etc.)

Índice

Dispositivo de Prevenção Estrutural [1-2] . . . . . 1

I. Coordenação nacional do dispositivo de prevenção estrutural [3-5] . . 2

II. Fundo Florestal Permanente [6-9] . . . . . . 3

III. Coordenação regional do dispositivo de prevenção estrutural [10-12]. . 4

IV. Gabinetes Técnicos Florestais [13-22] . . . . . 4

V. Estruturas operacionais de prevenção estrutural [23] . . . . 6

1. Programa de Sapadores Florestais [24-36] . . . . . 6

2. Corpo Nacional de Agentes Florestais [37-43] . . . . 11

3. Equipas de Prevenção das Câmaras Municipais [44-45] . . . 13

4. Equipas de empresas privadas, no âmbito da prevenção estrutural [46-50] . 13

5. Entidades do Dispositivo de Prevenção, atualmente extintas [51-53] . 14

VI. Sensibilização [54-56] . . . . . . 15

Dispositivo de Prevenção Estrutural

1. O Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de junho, estabeleceu as medidas e ações estruturais e

operacionais relativas à prevenção e proteção das florestas contra incêndios, a desenvolver no

âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios (SNDFCI). Este sistema

assenta em três pilares fundamentais, o primeiro relativo à prevenção estrutural, o segundo

referente à vigilância, deteção e fiscalização e o terceiro respeitante ao combate, rescaldo e

vigilância pós- incêndio, e pretende enquadrar duas dimensões de defesa que se

complementam: a defesa de pessoas e bens e a defesa da floresta.

2. Nos termos da Lei, cabe à Autoridade Florestal Nacional (leia-se ICNF) a coordenação das

ações de prevenção estrutural (primeiro pilar), nas vertentes de sensibilização, planeamento,

organização do território florestal, silvicultura e infraestruturação. Compete à Autoridade

Florestal Nacional a organização e coordenação do dispositivo de prevenção estrutural, que

durante o período crítico se integra na estrutura operacional coordenada pela Autoridade

Nacional de Proteção Civil.

I. Coordenação nacional do dispositivo de prevenção estrutural

3. O ICNF, I. P., entidade investida de autoridade florestal nacional, prossegue atribuições do

Ministério da Agricultura, Florestas e do Desenvolvimento Rural e do Ministério do Ambiente,

13 DE OUTUBRO DE 2017 233

Página 234

Problemática do Dispositivo de Prevenção Estrutural (gestão de combustíveis) 2

sob superintendência e tutela do respetivo ministro, conforme plasmado na Lei Orgânica do

Instituto. Esta dupla tutela não facilita a objetividade requerida a um serviço que lida com

matérias tão suscetíveis de proteção florestal que implicam com a salvaguarda de vidas e

bens.

No ICNF a coordenação de nível nacional da prevenção estrutural (o primeiro pilar do SNDFCI)

é desenvolvida por uma equipa técnica integrada na divisão de defesa da floresta e valorização

das áreas públicas (a “divisão” é primeiro patamar na hierarquia da administração pública).

4. Em 2003, a coordenação da prevenção estrutural era desenvolvida na Divisão de Proteção

Florestal da Direção Geral das Florestas que se ocupava de Defesa da Floresta contra

Incêndios (DFCI) e de outros assuntos de proteção florestal, como pragas e doenças, entre

outros; entre 2004 e 2006 a coordenação da prevenção estrutural foi enquadrada na Agência

para a Prevenção dos Incêndios Florestais (APIF) e foi equiparada a uma Direção Geral; nesse

período existia ainda a Divisão de Defesa da Floresta contra Incêndios, enquadrada num

departamento da Direção Geral dos Recursos Florestais (DGRF), que evoluiu da anterior

Divisão de Proteção Florestal; entre 2006-2008, com a extinção da APIF e na sequência do

estabelecido no Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios (PNDFCI) publicado

em 2006, a estrutura de coordenação da prevenção estrutural foi organizada numa Subdireção-

Geral, no seio da DGRF, dedicada 100% ao tema da DFCI, agregando os recursos humanos

da APIF e de outras entidades, como da equipa técnica do Conselho Nacional de

Reflorestação, de elementos da equipa que realizou o estudo do Plano Nacional de DFCI, entre

outras, chegando a contabilizar 70 técnicos dedicados à coordenação da prevenção estrutural

e seus agentes (incluindo os Coordenadores de Prevenção Estrutural); - de 2008 a 2012, com

a criação da Autoridade Florestal Nacional que sucedeu à DGRF, a coordenação da prevenção

estrutural fez parte de uma Direção Nacional, equiparada a Subdireção-Geral, tendo sido neste

período repartida a sua atividade entre a DFCI e a sanidade florestal; no final de 2012, com a

criação do ICNF, a Direção Nacional foi extinta e a matéria da prevenção estrutural volta a

fazer parte de uma Divisão (1/3 de uma divisão) que se ocupa de DFCI, sanidade florestal e

gestão de áreas públicas; em 2015 esta divisão passa a ocupar-se de DFCI e da valorização

de áreas públicas, voltando ao nível hierárquico que o assunto tinha em 2003. A prevenção

estrutural está atualmente diluída na multiplicidade de atribuições do ICNF.

5. As tarefas, relacionadas com a prevenção estrutural, desenvolvidas pelos técnicos da

administração pública central que garantiriam o acompanhamento de todo o sistema, nos 3

níveis municipal, distrital e nacional, foram perdendo consistência em face das mudanças

estruturais a que os Serviços foram sujeitos. O número de técnicos alocados às matérias de

prevenção estrutural foi reduzido progressivamente. Atualmente dedicam-se a esta tarefa 6

técnicos superiores a tempo inteiro e mais 4 a tempo parcial.

II. Fundo Florestal Permanente

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 234

Página 235

Problemática do Dispositivo de Prevenção Estrutural (gestão de combustíveis) 3

6. Em 2004, na sequência dos grandes incêndios de 2003, foram criadas estruturas dedicadas

à prevenção florestal, como a Agência para a Prevenção de Incêndios Florestais (APIF) e o

Fundo Florestal Permanente (FFP), a par de uma reestruturação orgânica dos Serviços

Florestais (então Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF)) e da criação das comissões

municipais de defesa da floresta contra incêndios.

7. O Fundo Florestal Permanente, integrado no Instituto de Financiamento da Agricultura e

Pescas (IFAP), constituía uma pequena unidade técnico-financeira que geria o provento de

uma eco-taxa sobre os combustíveis petrolíferos, com orçamentos anuais estimados entre 20 e

30 milhões de euros e tinha como objetivo, entre outros, o financiamento da prevenção e

proteção florestal. O regulamento do FFP foi alterado 5 vezes nos primeiros 10 anos de

funcionamento e teve 15 despachos normativos de aprovação de programas de apoios, e

alterações desses mesmos programas. Em 2012 o FFP foi integrado no Instituto de

Conservação da Natureza e das Florestas. No quadro seguinte apresenta-se a execução

financeira do FFP desde 2013.

Eixos de Intervenção /

Anos

Execução Financeira

2013201420152016

Eixo I - Sensibilização e

Informação 385,75 € 62.962,37 € - € - €

Eixo II - Defesa da

Floresta Contra

Incêndios

12.656.979,80 € 14.166.227,77 € 12.362.836,34 € 14.587.477,52 €

Eixo III - Promoção do

Investimento, da gestão

e ordenamento

Florestais

386.860,85 € 11.927,23 € 103.588,11 € 4.311.734,54 €

Eixo IV -

Sustentabilidade da

Floresta

37.060,50 € 36.889,93 € - € - €

Eixo V - Investigação

Aplicada,

experimentação e

conhecimento

109.707,67 € 2.687,62 € - € - €

13.190.994,57 € 14.280.694,92 € 12.466.424,45 € 18.899.212,06 €

Fonte: Plano de atividades 2017 – ICNF

8. O FFP, inicialmente vocacionado para o financiamento das ações de prevenção estrutural

evoluiu para uma perspetiva de apoiar também a gestão florestal. Apesar desta alteração o

grosso do financiamento tem sido gasto no financiamento das equipas de sapadores florestais

e dos gabinetes técnicos florestais. Pontualmente foram apoiados investimentos noutros pilares

do Sistema, destacando-se o financiamento de 2 M€ para meios aéreos em 2011 e de 2 M€

para a operação floresta segura, materializada em ações de patrulhamento, vigilância e

fiscalização das zonas florestais, da responsabilidade da GNR, em 2016.

9. A estrutura técnica de coordenação nacional da prevenção estrutural não participa na gestão

do FFP.

13 DE OUTUBRO DE 2017 235

Página 236

Problemática do Dispositivo de Prevenção Estrutural (gestão de combustíveis) 4

III. Coordenação regional do dispositivo de prevenção estrutural

10. Nas regiões, a coordenação da Prevenção Estrutural é feita por Distrito. Em cada Distrito

existe um técnico, o Coordenador de Prevenção Estrutural (CPE) do ICNF que assume a

organização distrital, no âmbito do planeamento e aplicação das diretivas operacionais,

articulando com os diferentes agentes e meios implicados no pilar da prevenção Estrutural.

11. Os coordenadores de prevenção estrutural, em número de 18, foram criados entre 2004 e

2006, sucedendo aos coordenadores dos centros de prevenção e deteção da Direção Geral

dos Recursos Florestais (DGRF), tendo a sua função sido estabelecida na portaria n.º 35/2009

de 16 de janeiro, que regulamentava o funcionamento do dispositivo de prevenção estrutural –

DIPE, entretanto revogada.

12. A nível Regional, atualmente, apenas os Coordenadores de Prevenção Estrutural (CPE)

estão dedicado a 100% à DFCI, estando envolvidos no acompanhamento das comissões

distritais de defesa da floresta e a elaboração dos Planos Distritais de DFCI, colaboram na

avaliação dos Planos Municipais DFCI e participam em todas as Comissões de Municipais do

distrito e ainda avaliam os planos e relatórios de atividades das equipas de sapadores florestais

e coordenam a sua atividade no âmbito do serviço público. O CPE, ao nível distrital é o

elemento de ligação operacional com as estruturas do Sistema Nacional de Proteção Civil -

Oficial de Ligação aos CCOD/CDOS. Com a extinção dos Governos Civis o Sistema descartou

18 técnicos (então denominados Elos técnicos) dedicados ao planeamento distrital e ao

acompanhamento da execução das medidas planeadas, tendo esta função sido absorvida

pelos CPE.

IV. Gabinetes Técnicos Florestais

13. Em 2004 foi criada a figura do Gabinete Técnico Florestal (GTF) para funcionar nas

Câmaras Municipais, cujas atribuições se subordinam aos princípios consagrados na Lei de

Bases da Política Floresta e por isso se integram no pilar da Prevenção Estrutural.

14. O momento da criação destes gabinetes é considerado, por alguns autores, o marco do

início da “municipalização da política florestal”, com a migração de inúmeros técnicos das

associações florestais para os GTF e a consequente desvalorização do movimento associativo.

15. Com a publicação da Lei n.º 20/2009 de 12 de maio foram transferidas atribuições para os

municípios do continente em matéria de constituição e funcionamento dos gabinetes técnicos

florestais, bem como outras no domínio da prevenção e da defesa da floresta. De acordo com

a Lei, as Câmaras Municipais, por via dos seus Gabinetes Técnicos Florestais, elaboram dos

planos municipais de defesa da floresta contra incêndios (PMDFCI), que apresentam à

comissão municipal de defesa da floresta para aprovação por parte do ICNF. Têm também a

incumbência de procederem ao registo cartográfico anual de todas as ações de gestão de

combustíveis, de recolherem, registarem e atualizarem a base de dados da Rede de Defesa da

Floresta contra Incêndios (RDFCI), e, entre outras atribuições, de fazerem o acompanhamento

dos trabalhos de gestão de combustíveis de acordo com o artigo 15.º do Decreto-Lei n.º

124/2006, de 28 de junho.

16. Anualmente são transferidas para os municípios as dotações inscritas no Fundo Florestal

Permanente relativas aos gabinetes técnicos florestais num montante total que ascende a

cerca de 3,9 M€, conforme informação veiculada pelo ICNF relativa à despesas do FFP. Estes

Gabinetes são constituídos por, no mínimo, um técnico superior com formação base adequada

à função (preferencialmente Eng.ª Florestal). O apoio anual a cada município ascende a 24 000

€ / ano.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 236

Página 237

Problemática do Dispositivo de Prevenção Estrutural (gestão de combustíveis) 5

17. Dos 278 municípios de Portugal Continental, 267 municípios têm gabinete técnico

constituído.

18. Dos 278 municípios de Portugal Continental, 204 municípios têm o Plano de Defesa da

Floresta contra Incêndios (PMDFCI) de 2.ª geração aprovado, 68 municípios ainda com Planos

de 1.ª geração e 6 municípios sem plano (sendo que um dos municípios não carece de plano).

19. No primeiro trimestre de cada ano são elaborados/atualizados os Planos Operacionais

Municipais (POM) que operacionalizam o PMDFCI, em particular nas ações de vigilância,

deteção, fiscalização, 1.ª intervenção, combate, rescaldo e vigilância pós-incêndio,

particularizando a execução destas ações.

20. A coordenação do dispositivo municipal é realizada pelo GTF no POM. Neste documento é

feito o inventário de viaturas e equipamentos disponíveis, o levantamento dos meios

complementares de apoio ao combate, são delineados o esquema de comunicação e os

procedimentos de atuação, a lista de contactos, é estabelecida a rede de vigilância e deteção

de incêndios e os sectores territoriais DFCI e locais estratégicos de estacionamento (LEE) para

vigilância e deteção, 1.ª intervenção, combate e rescaldo e vigilância pós-incêndio. Uma

componente fundamental do POM é a cartografia de apoio à decisão, na qual é feita a

representação cartográfica das redes DFCI, o que constitui uma importante ferramenta de

apoio às operações de 1.ª intervenção, combate e rescaldo, visando aumentar os níveis de

segurança dos intervenientes nessas operações.

21. Das entrevistas realizadas aos 11 GTF dos Concelhos objeto de análise pela CTI, fica

evidente não existir no Sistema uma equipa com capacidade para coordenar adequadamente

as atividades dos GTF. O ICNF, nos últimos anos, não tem tido essa capacidade. Os técnicos

dos Gabinetes Técnicos Municipais atualmente trabalham isoladamente, de forma

desarticulada, e muitas vezes em matérias que extravasam as atribuições que inicialmente lhes

foram imputadas. O acompanhamento/monitorização dos planos é nulo ou praticamente nulo e

em consequência a fiscalização correlata também.

V. Estruturas operacionais de prevenção estrutural

22. No âmbito do pilar da prevenção estrutural coordenado pelo ICNF, existem atualmente

duas estruturas operacionais individualizáveis que se dedicam à execução de obra de

prevenção (silvicultura preventiva, com ênfase na gestão de combustíveis) no território

nacional. São elas, as equipas de Sapadores Florestais e as equipas CNAF (Corpo

Nacional de Agentes Florestais) ambas referenciadas como integrantes de um dispositivo de

prevenção nas diretivas DECIF da ANPC de cada ano, apesar deste (o DIPE – Dispositivo

Integrado de Prevenção Estrutural) ter sido extinto com a revogação da portaria n.º 35/2009 de

16 de janeiro pela Lei Orgânica do ICNF em 2012.

1. Programa de Sapadores Florestais

23. Desde a década de 1980 que existia um corpo de brigadas de vigilância e primeira

intervenção no âmbito dos Serviços Florestais. Eram equipas contratadas pelos Serviços,

constituídas por trabalhadores para além dos quadros da administração pública, para

funcionarem no período crítico/semestre estival. A sua atuação incidia fundamentalmente em

áreas sob gestão do Estado e numa faixa externa contígua de até 3 km. A extinção do Instituto

Florestal, em 1996, criou um problema à sua continuação (deixou de existir uma estrutura local

pública de gestão florestal e instalou-se a indefinição quanto ao futuro), o que levou à criação

em 1999 de equipas de Sapadores Florestais, inicialmente patrocinados, em parte iguais, pelo

Ministério da Agricultura e pelo Ministério da Administração Interna.

13 DE OUTUBRO DE 2017 237

Página 238

Problemática do Dispositivo de Prevenção Estrutural (gestão de combustíveis) 6

24. As equipas de sapadores florestais foram criadas com a publicação do Decreto-Lei n.º

179/99, de 21 de maio, que cria, reconhece e regulamenta a atividade das equipas de

sapadores florestais, como instrumento da política florestal, visando contribuir para a

diminuição do risco de incêndio e valorização do património florestal continental, numa ação

conjugada de esforços das diferentes entidades empenhadas na defesa da floresta contra os

incêndios. Numa primeira fase, a constituição de equipas de Sapadores Florestais (eSF) teve

especial incidência nos espaços florestais privados e nas áreas baldias, de forma a privilegiar a

gestão associativa.

25. O Decreto-Lei n.º 179/99, que vigorou até 2009, previa que os apoios ao funcionamento

assumiam a forma de subsídio a fundo perdido por períodos anuais ou plurianuais não

superiores a 5 anos. O apoio anual por equipa correspondia a 75% dos encargos diretos com a

contratação dos sapadores, até ao montante máximo de 7000 contos (cerca de 35000 €).

26. Em 1999 foram, pois, atribuídas e constituídas as primeiras 33 equipas de sapadores

florestais (eSF). Nos anos que se seguiram foram sendo atribuídas, constituídas e extinguidas

equipas de sapadores, conforme se pode ver no quadro seguinte. Atualmente funcionam 291

equipas de sapadores florestais, considerando já as 20 eSF apresentadas em Oliveira do

Hospital no dia 8 de agosto do corrente ano.

eSF/ano Atribuídas Constituídas extintas Existentes

1999 33 33 0 33

2000 31 31 5 59

2001 39 39 2 96

2002 17 17 4 109

2003 17 17 6 120

2004 62 62 5 177

2005 0 0 6 171

2006 20 4 5 170

2007 20 36 3 203

2008 39 39 2 240

2009 61 5 6 239

2010 0 39 4 274

2011 0 14 6 282

2012 0 2 4 280

2013 0 0 5 275

2014 0 0 1 274

2015 0 0 3 271

2016 0 0 0 271*

ago/07 20 20 0 291

Total 359 358 67 291

* O número de equipas constante no Dispositivo Especial de Combate aos Incêndios

Florestais - DECIF é 255, no SISF (base de dados automatizada do ICNF) é 267 e no

memorando interno de 2017 o número apontado é de 271, conforme quadro em cima.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 238

Página 239

Problemática do Dispositivo de Prevenção Estrutural (gestão de combustíveis) 7

27. Após quatro anos de vigência dos SF, em 2004 é promovida a primeira alteração ao

Decreto-Lei n.º 179/99 com a publicação do Decreto-Lei n.º 94/2004, de 22 de abril, tendo sido

alargada a possibilidade de constituição a empresas de capitais públicos proprietárias, gestoras

ou detentoras de áreas florestais ou de infraestruturas florestais. Foi também revisto o sistema

de apoios relativamente às despesas elegíveis e aos sistemas de majoração, tendo subjacente

um sistema de regressão progressiva dos subsídios do Estado, no pressuposto de uma

crescente autossuficiência financeira da entidade detentora de equipa(s). Contudo, estas

alterações vieram a revelar-se um fator de instabilidade financeira para as entidades,

especialmente as organizações de produtores florestais. Foram também estabelecidos novos

critérios de prioridade para seleção de equipas, no sentido de melhor adequar a distribuição

das equipas aos locais de maior risco de incêndio e de maior património florestal. Foi

igualmente criada a possibilidade de se constituírem brigadas de sapadores florestais, dotadas

de equipamento complementar, para maior eficácia das operações de gestão de combustível.

28. Em 2006, é publicado o Decreto-lei n.º 38/2006, de 20 de fevereiro, que altera pela

segunda vez o suprarreferido Decreto-Lei n.º 179/99, com vista a distinguir as funções de

serviço público das de serviço às suas entidades patronais. Foi também garantido um subsídio

anual permanente a fundo perdido num montante não superior a 35 000 €, como contrapartida

de serviço público a prestar em áreas públicas ou geridas pelo Estado. Foi também criada a

figura da requisição das eSF no apoio ao combate a incêndios florestais, no rescaldo e

vigilância pós-incêndio, sob ordens do comando operacional do teatro de operações.

29. Em 2009, foi publicado o Decreto-Lei n.º 109/2009, de 15 de maio, que revogou o Decreto-

Lei n.º 179/99, de 21 de maio. A seleção e aprovação das eSF passou a ser da competência do

membro do governo que tutela o setor florestal, o reequipamento das eSF passou a ser da

responsabilidade das respetivas entidades titulares e foi promovido o alargamento das funções

dos sapadores florestais à gestão florestal, antes focada apenas na prevenção de incêndios.

Nos critérios de seleção de equipas o fator “risco de incêndio” e “património florestal” deixa de

ser equacionado na lei. Nos anos 2008 e 2009 foi dada prioridade à constituição de equipas

tuteladas por Câmaras Municipais. Em 2010 foi interrompida a constituição de novas equipas e

o programa entrou numa fase de gestão corrente.

Em 2012, com a criação do ICNF I.P., o Fundo Florestal Permanente foi absorvido por parte

deste Instituto e o apoio ao funcionamento das eSF, que até essa data se processava com

base em protocolos celebrados entre a Autoridade Florestal Nacional e as entidades

detentoras de equipas, e desde 2009, também com o Instituto de Financiamento da

Agricultura e Pescas, I.P., passa a ser atribuído através de candidaturas formalizadas junto

do Fundo Florestal Permanente.

30. Em 2017, com a publicação do Decreto-Lei n.º 8/2017, de 9 de janeiro, que revoga o

Decreto-Lei n.º 109/2009, de 15 de maio, mantem-se o foco na silvicultura e defesa da floresta.

As funções desempenhadas pelos sapadores florestais na área do combate aos incêndios

florestais são agora centradas exclusivamente na primeira intervenção em incêndios nascentes

e no apoio a operações de rescaldo e vigilância ativa pós-rescaldo. O apoio ao combate

apenas poderá ser prestado pelo sapador enquanto agente de proteção civil, nos termos da Lei

de bases de Proteção Civil. Os procedimentos de atribuição dos apoios pelo Fundo Florestal

Permanente (FFP) assentam na publicação de concurso e apresentação de candidaturas por

parte das entidades titulares de equipas. As equipas de sapadores florestais passam a ser

criadas por deliberação do conselho diretivo do ICNF, I.P.. Neste diploma foi retomada a ideia

da agregação das equipas* com a figura do agrupamento de equipas de sapadores florestais,

porém apenas destinadas a otimizar a capacidade de intervenção das equipas em atividades

13 DE OUTUBRO DE 2017 239

Página 240

Problemática do Dispositivo de Prevenção Estrutural (gestão de combustíveis) 8

de silvicultura preventiva, através da utilização partilhada de equipamento mecânico,

complementar ao detido pelas equipas.

*Nos termos do Decreto-lei n.º 38/2006, de 20 de fevereiro a brigada de sapadores florestais

consistia no agrupamento de três ou mais equipas de sapadores florestais vizinhas que, por

razões de operacionalidade, atuavam conjuntamente e dispunham de equipamento

complementar comum. Este conceito foi abandonado com a publicação do Decreto-Lei n.º

109/2009, de 15 de maio.

31. A administração pública em parceria com as organizações de produtores, privados e

baldios, iniciou, como se disse atrás, em 1999-2000 a constituição das primeiras equipas de

Sapadores Florestais. Atualmente, nos termos do Decreto-Lei n.º 8/2017, de 9 de janeiro,

podem ser titulares de equipas de sapadores florestais as entidades gestoras de zonas de

intervenção florestal, as associações e cooperativas reconhecidas como organizações de

produtores florestais registadas no ICNF I.P., os órgãos de gestão dos baldios e suas

associações, as cooperativas de interesse público, mas também as autarquias locais e

entidades intermunicipais ou os órgãos e serviços da administração direta e indireta do Estado.

32. O Estado providencia o investimento inicial para o equipamento de cada equipa

(fardamento próprio para cada uma das componentes da sua atividade, equipamento de

proteção individual e equipamento coletivo, nomeadamente equipamento manual, moto manual

e viatura equipada para as atividades a desenvolver no âmbito das suas funções), bem como

comparticipa as despesas de manutenção e operacionais, incluindo os salários dos sapadores.

Aos Sapadores Florestais é também garantido apoio para formação profissional em silvicultura

preventiva e defesa da floresta. Cada equipa de sapadores florestais é constituída por cinco

elementos, devendo ser chefiada por um deles, a quem cabe a coordenação dos demais na

realização das ações decorrentes da atividade da equipa.

33. Tendo por base o relatório de avaliação do programa sapadores florestais publicado em

dezembro de 2015, pode estabelecer-se um perfil generalista do sapador florestal: - a maioria

dos sapadores florestais é do sexo masculino; o escalão etário dominante situa-se entre os 40

e os 59 anos de idade, seguido de perto pelo escalão superior, entre os 50 e os 59 anos; - a

maioria dos sapadores inquiridos tem o ensino básico, sendo uma percentagem significativa

apenas detentora do 1.º ciclo; - o principal motivo de ingresso na profissão é a falta de

alternativas de emprego; - uma percentagem significativa dos sapadores são oriundos da área

da construção civil, sendo esta a principal área de emprego prévia ao ingresso na profissão de

sapador florestal.

34. Conforme evidenciado nos diferentes relatórios de avaliação do programa de sapadores

florestais, nomeadamente a “Análise de 11 anos de atividade” feita em abril de 2010 e ainda a

“Avaliação do Programa de Sapadores Florestais” de dezembro de 2015 referido no ponto

anterior, são vários os constrangimentos relatados que se mantêm na atualidade. Por se

considerarem questões basilares, destacam-se 3 problemas. Em primeiro lugar, no período

2009 a 2016 não foram atribuídas novas equipas, tendo sido interrompida a dinâmica da

criação de equipas com vista a atingir a meta de 500 eSF estabelecida na Estratégia Nacional

para as Florestas, mas não foram consolidadas as equipas existentes com medidas de reforço

da sua atividade, em particular no que diz respeito às necessidades de reequipamento. Em

segundo lugar, e tendo presente o considerável pacote financeiro envolvido neste Programa*,

o modo de organização e de coordenação do Programa de Sapadores Florestais não considera

uma equipa técnica reforçada em recursos humanos, dotada de autonomia, para

acompanhamento, coordenação e gestão nacional do Programa. O acompanhamento técnico

permanente das eSF por parte das entidades patronais não tem sido garantido na sua

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 240

Página 241

Problemática do Dispositivo de Prevenção Estrutural (gestão de combustíveis) 9

plenitude, não estando este aspeto ser considerado em termos de recursos humanos, físicos e

financeiros, na revisão do modelo de organização do programa. Em terceiro lugar, não tem

sido equacionada a atualização dos salários dos sapadores**, não estando prevista uma tabela

salarial assente numa carreira profissional de sapador florestal compatível com a exigência

física e responsabilidade do trabalho, que permita o estabelecimento de escalões de

diferenciação remuneratória em função dos anos de experiência ou de um reforço das

competências específicas do trabalhador (para, a título de exemplo, o desempenho de funções

de chefia ou coordenação da equipa), e contribua para a necessária melhoria de notoriedade

pública da profissão.

* Custos gerais para o Estado: 11 640 000 € /ano, apenas de apoio ao funcionamento das

equipas; 1 338 000 € para constituição de 20 equipas em 2017. O custo do equipamento

para constituição/substituição de uma equipa ascende a cerca de 60 000€. Acresce o custo

da formação das equipas e o custo de coordenação do programa.

**Os baixos salários (remuneração desajustada face à exigência do trabalho) são o principal

motivo da dificuldade para encontrar interessados em ingressar na profissão de Sapador

Florestal, segundo inquérito feito às Entidades Gestoras das equipas.

2. Corpo Nacional de Agentes Florestais

35. O corpo nacional de agentes florestais formado no âmbito do ICNF é constituído por

assistentes operacionais organizados em equipas de 3 a 5 elementos, consoante o número e

capacidade dos recursos existentes. Em 2017 desenvolvem atividade 23 CNAF

correspondendo a 98 elementos, de acordo com o Dispositivo Especial de Combate aos

Incêndios Florestais - DECIF.

36. A sua atividade incide fundamentalmente no apoio à gestão florestal nos cerca de 500 000

ha de matas nacionais (propriedade do Estado) e perímetros florestais (baldios sob cogestão

do Estado), sobretudo na execução de trabalhos diversos de silvicultura, principalmente na

marcação de arvoredo e fiscalização dos cortes de material lenhoso.

37. Durante o período crítico, estas equipas são integradas no Dispositivo Especial de

Combate aos Incêndios Florestais – DECIF, desempenhando atividades de vigilância e pré-

posicionamento para primeira intervenção (esta, no caso de equipas constituídas por 4 ou mais

elementos) e de apoio ao rescaldo e vigilância pós incêndio.

38. A estrutura etária dominante corresponde à classe 55-60 anos. Tem havido uma redução

substantiva neste corpo de agentes nos anos mais recentes (cerca de 14%), tendência que se

manterá nos próximos anos. No entanto, em 2017, na sequência dos incêndios ocorridos nos

últimos anos no Parque Nacional da Peneda Gerês, e seguindo recomendações da AR

(Resolução da Assembleia da República n.º 118/2010), foi reforçado este corpo em 10 equipas

de 5 elementos cada, tendo sido adquiridas viaturas todo-o-terreno com unidade hidráulica de

supressão de incêndios, equipamento em tudo semelhante ao das eSF. Estas equipas, por não

estarem constituídas à data de publicação do DECIF, não foram consideradas naquele

documento.

39. Paralelamente a este corpo CNAF, existem ainda outras equipas do ICNF que, sem

estarem especificadas no DECIF como integrantes do dispositivo de prevenção, constituem

também um recurso disponível do ICNF. No DECIF estão referenciadas como equipas de

vigilantes da natureza com capacidade para intervirem na vigilância e na deteção, sob a

coordenação da GNR. De acordo com memorando interno do ICNF de 2017, existem 24

13 DE OUTUBRO DE 2017 241

Página 242

Problemática do Dispositivo de Prevenção Estrutural (gestão de combustíveis) 10

equipas nestas condições, constituídas por 58 trabalhadores que utilizam viaturas todo-o-

terreno com unidade hidráulica de supressão de incêndios. Destas equipas apenas 4 (as que

têm 4 elementos), podem fazer 1.ª intervenção, as restantes 20 estão inibidas de a fazer,

ficando apenas aptas para fazer vigilância. A existência de equipas com viaturas todo-o-terreno

com um tanque com capacidade de 450 a 500 litros de água, mas sem disponibilidade para

desenvolverem uma 1.ª intervenção traduz uma realidade equívoca, a que se acrescenta o

facto de, por não terem vinculo à “estrutura de prevenção nacional”, dependerem das

modalidades de gestão regional de meios do ICNF nem sempre uniformes no todo nacional.

40. O ICNF dispõe tratores, maquinaria pesada (máquinas de rastos tipo bulldozer, incluindo

retroescavadoras) e diferentes alfaias que constituem uma importante componente para gestão

realizada nos perímetros florestais. Em muitas situações, estas intervenções são a face visível

da gestão florestal nas áreas públicas e comunitárias. Esta maquinaria é utilizada sobretudo na

beneficiação dos caminhos florestais, mas também na gestão de combustíveis utilizando

grades de discos ou corta matos. O inventário das máquinas não está disponível. A utilização

e gestão das máquinas é feita pelos departamentos regionais do ICNF sem que haja uma

desejável coordenação nacional.

3. Equipas de Prevenção das Câmaras Municipais

41. Ainda no âmbito das estruturas operacionais de prevenção estrutural, normalmente

referenciadas nos planos operacionais municipais (POM), existem equipas de vigilância e

primeira intervenção das câmaras municiais que desenvolvem também ações de gestão de

combustível. Estas equipas, em grande parte das situações, foram constituídas em 2004/2005

através do Programa AGRIS que financiava a aquisição de viaturas com Kit de primeira

intervenção e material sapador, mantendo-se operacionais na atualidade. Esta força

operacional dos municípios não está especificada no DECIF, nem está enquadrada como

agente de proteção civil.

42. Inúmeras Câmaras Municipais dispõem de máquinas com alfaias para corte de matos. Esta

maquinaria é utilizada para beneficiação de caminhos e para limpezas de mato junto da rede

viária. O seu inventário é, habitualmente, contabilizado nos POM.

4. Equipas de empresas privadas, no âmbito da prevenção estrutural

43. Ao nível da prevenção estrutural podem contabilizar-se ainda a equipas das empresas de

celulose que se dedicam à gestão de combustíveis integrada no modelo de silvicultura, nas

propriedades geridas pelas empresas e que, durante o período crítico de incêndio florestal

realizam primeira intervenção nas áreas que se encontram sob a jurisdição do agrupamento

complementar de empresas do grupo The Navigator Company e do grupo ALTRI, a

AFOCELCA.

44. Acrescentam-se também, por evidente pertinência, as equipas das empresas florestais

prestadoras de serviços, que desenvolvem trabalho de prevenção estrutural (gestão de

combustíveis) contratado por parte dos proprietários/produtores florestais. Estes trabalhos são

muitas vezes subsidiados por programas comunitários.

48. O trabalho desenvolvido pelas entidades referidas nos 4 pontos anteriores (equipas e

recursos físicos de prevenção das Câmaras Municipais e de empresas privadas), não é

atualmente contabilizado, nem avaliado, nem integrado no âmbito do pilar da prevenção

estrutural.

45. Constituem uma exceção as limpezas definidas nos Planos Municipais de Defesa da

Floresta, da responsabilidade das empresas gestoras das redes viária ou ferroviária ou nas

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 242

Página 243

Problemática do Dispositivo de Prevenção Estrutural (gestão de combustíveis) 11

linhas de transporte e distribuição de energia elétrica, que embora nem sempre cumpram as

distâncias legais, são contabilizadas pelos GTF.

5. Entidades do Dispositivo de Prevenção, atualmente extintas

46. O GeFoCo (Grupo de gestores de fogo técnico, conforme foi definido no Dispositivo

Integrado de Prevenção Estrutural em 2009 - Portaria n.º 35/2009, de 16 de janeiro) foi um

programa que pretendia incrementar a gestão de combustíveis com Fogo Controlado (área

públicas e privadas) - Vigorou entre 2006 e 2009.

47. GAUF foi um grupo especializado em análise e uso do fogo que iniciou a sua experiência

em 2006, mas foi oficializado em 2007 na Diretiva Operacional Nacional n,º 2/2007 da ANPC.

Em 2009 integrou o Dispositivo de Prevenção Estrutural (DIPE). Nos primeiros 3 ou 4 anos o

grupo foi uma estrutura permanente no seio do serviço florestal. Numa perspetiva de

incremento desta valência foi dada formação a técnicos com perfil e capacidade para

integrarem o GAUF. Esta formação, altamente especializada, necessitava de um programa de

tutoria de pelo menos 5 anos. Em 2010 a metodologia GAUF foi abandonada e foram

constituídas de forma minimal nesse ano e nos anos seguintes, até 2014, equipas GAUF em

processo ad hoc.

53. Ao longo dos últimos 15 anos, no âmbito da prevenção estrutural (gestão de combustíveis)

foram surgindo algumas iniciativas estilo “pop up”, que apareceram e desapareceram. O Plano

Vulcano do Exército que vigorou entre 2004 e 2010 e cujos agentes faziam parte do DIPE e a

operação Faunos entre 2014, 2015 e 2016 com o objetivo de colaborar na execução da rede

primária em perímetros florestais (baldios em cogestão com o Estado) foram disso exemplo.

VI. Sensibilização

54. A coordenação das ações de sensibilização é da responsabilidade do primeiro pilar do

Sistema Nacional de DFCI, a prevenção estrutural. Para 2017 foi elaborado um Plano Nacional

de Sensibilização DFCI. Este Plano segue a linha do desenvolvido nos últimos anos. A

sensibilização em DFCI da responsabilidade do ICNF tem assentado sobretudo na produção

de folhetos e na sua distribuição por um conjunto de entidades, sem, contudo, se saber se a

informação chega ao utilizador final. A boa vontade do Plano esbarra na falta de recursos para

a sua execução.

55. No período crítico mantém-se a campanha televisiva com o slogan “Portugal sem Fogos

depende de todos” da responsabilidade do Ministério da Administração Interna em parceria

com o Movimento Eco Empresas contra os Fogos. O Movimento ECO – Empresas contra os

fogos - é um movimento da sociedade civil, em parceria com o Governo, presidido pelo Dr.

Murteira Nabo, que engloba as grandes empresas e marcas a operar em Portugal e que se

uniram com o objetivo de difundir, a todos os cidadãos, mensagens de prevenção e combate

aos incêndios florestais, de forma massificada.

56. A GNR desenvolveu, em todo o território nacional, desde o início do ano e até ao dia 14 de

maio, através do Serviço de Proteção da Natureza e Ambiente (SEPNA) e do Grupo de

Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS), diversas ações de sensibilização junto das

populações, em especial das comunidades escolares, sobre a problemática dos incêndios

florestais, numa operação chamada “Floresta Protegida”. Esta iniciativa não tem tido

envolvimento por parte do ICNF.

13 DE OUTUBRO DE 2017 243

Página 244

ANEXO 9. Recomendações para o Pilar da Prevenção Estrutural

Entidade coordenadora nacional do dispositivo de prevenção estrutural - AUTORIDADE

FLORESTAL NACIONAL

A Autoridade Florestal Nacional deve, nos termos do novo PNGIFR, dispor de recursos

técnicos e materiais, exclusivamente dirigidos para a Defesa da Floresta Contra Incêndios, de

forma permanente, coordenados por uma Unidade Nacional de GIFR como determinado no

atual PNDFCI, e por Distrito organizados em equipas técnicas de operações de Prevenção e

Apoio ao Combate. A alteração orgânica da Autoridade Florestal Nacional deve priorizar e

focar-se nas matérias que têm implicação direta na questão dos incêndios florestais.

1. A Unidade Nacional de GIFR deve considerar, a nível central, um número suficiente

de unidades orgânicas com recursos técnicos adequados, para:

a. Coordenação, apoio e integração dos Gabinetes Técnicos Florestais (GTF)

O Programa de Gabinetes Técnicos Florestais deve ser reformulado no sentido de integrar todo

o esforço técnico individual municipal em equipas supramunicipais, numa lógica de

concentração de recursos técnicos, com ganhos evidentes em massa crítica e de maior

enfoque no problema.

Deve realizar-se a monitorização, tendo por base uma folha de obra, anual do PMGIFR por

parte da Comissão Municipal de Defesa da Floresta (CMDF). Para isso, para além da

tradicional reunião da Comissão Municipal de Defesa da Floresta de início de campanha,

normalmente realizada em Abril, deve ser obrigatoriamente realizada uma reunião no fim de

cada período crítico para avaliação global. Esta reunião deve, também, constituir o início de um

novo ciclo, onde cada entidade se responsabiliza pelo desenvolvimento das ações a executar

nos meses seguintes e até ao próximo período crítico, tendo por base a cartografia e

cronogramas constantes do planeamento municipal de GIFR.

b. Coordenação do Programa Nacional de Sapadores Florestais (PNSF)

Tendo presente o considerável pacote financeiro envolvido neste Programa, a sua

coordenação deve ser desenvolvida por uma equipa técnica dedicada e reforçada em recursos

humanos, dotada de autonomia para formação, acompanhamento, coordenação e gestão

nacional de todo o Programa.

O acompanhamento técnico permanente das equipas de Sapadores Florestais por parte das

suas entidades patronais tem de ser garantido, devendo este aspeto ser considerado em

termos de recursos humanos, físicos e financeiros, na revisão do modelo de organização do

programa.

Tendo em conta que no período 2009 a 2016 não foram atribuídas novas equipas, deverá ser

retomada a dinâmica da criação de equipas com vista a atingir a meta de 500 eSF estabelecida

na Estratégia Nacional para as Florestas, mas também consolidar as equipas existentes com

medidas de reforço da sua atividade, em particular no que diz respeito às necessidades de

reequipamento e operações.

Deve proceder-se à atualização dos salários dos sapadores, prevendo uma tabela salarial que

assente nos perfis profissionais do Quadro de Qualificações do SNGIFR, a integrar na carreira

profissional do sapador florestal, compatível com a exigência física e responsabilidade do

trabalho, que permita o estabelecimento de escalões de diferenciação remuneratória em

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 244

Página 245

função dos anos de experiência ou de um reforço das competências específicas do trabalhador

(para, a título de exemplo, o desempenho de funções de chefia ou coordenação da equipa),

contribuindo para a necessária melhoria de notoriedade pública da profissão. Neste particular,

o aumento do nível de qualificações mínimo para o secundário deve ser equacionado e o

programa de formação profissional deve considerar a reciclagem periódica dos sapadores e ter

uma forte componente relacionada com incêndios florestais, nomeadamente no que diz

respeito à sua atuação no teatro de operações (comportamento do fogo, passagem de

comando e comunicações).

Devem constituir-se brigadas de sapadores florestais, de forma a alargar o espectro de atuação

na prevenção, em moldes a definir. O objetivo é constituir brigadas com cerca de 15 elementos,

conseguindo-se assim potenciar a força de trabalho e produzir tarefas com maior eficácia. Para

tal, há que adaptar à condição de brigada e equacionar investimentos em meios mecânicos de

gestão de combustíveis que aumentam a produtividade e a competitividade.

c. Coordenação do Plano Nacional de Gestão de Combustíveis (PNGC)

O Plano Nacional de Gestão de Combustíveis deve ter em conta, preferencialmente, os usos

diferenciados do território (agrícola, silvo pastoril, etc.) e incluir também, a execução de fogo

controlado, o acompanhamento do uso do fogo tradicional e ainda a possibilidade de promover

reconversões de formações compostas por espécies altamente inflamáveis em locais

estratégicos de defesa e combate.

Deve ser retomado o programa de gestão de combustíveis articulado com ações de análise e

uso do fogo, ligando o planeamento e a prevenção (AUTORIDADE FLORESTAL NACIONAL) à

capacidade de execução (ANPC –FEB, GIPS e EIP).

Das estratégias de prevenção destacam-se alguns princípios de silvicultura que se relacionam

diretamente com a gestão de biomassa florestal. As tipologias “mosaico” e “rede primária de

faixas de gestão de combustível” devem ser trabalhadas nessa perspetiva. Estas medidas de

silvicultura, muitas vezes “cirúrgicas”, constituem um conjunto de ações pontuais ou lineares

que visam a criação de descontinuidades no combustível, em locais estratégicos, para impedir

ou dificultar a progressão de potenciais grandes incêndios nas áreas florestais, criando

oportunidades para um combate eficaz. Estas medidas assumem-se como fator de valorização

dos recursos florestais em alternativa aos modelos de gestão de combustível de corte e

remoção de matos de caráter não produtivo

Estas opções passam pela promoção da compartimentação das manchas florestais puras

através de plantações novas, ou reconversões, ou ainda adensamentos, com outras espécies

arbóreas ou arbustivas, nas redes de defesa da floresta contra incêndios ou em manchas mais

alargadas a elas associadas. As espécies florestais a utilizar devem ser criteriosamente

escolhidas em função da vegetação natural potencial para cada local, apontando-se duas

hipóteses:

1. Espécies de baixa inflamabilidade/combustibilidade (arbóreas ou arbustivas autóctones, em

monocultura ou consociadas, podendo tirar-se partido de espécies de sombra e permitindo-se

a adoção de um intervalo grande de densidades de acordo com a espécie escolhida e as

condições edafoclimáticas. Como exemplos apontam-se os carvalhos roble e negral, o

sobreiro, o vidoeiro, o castanheiro, a figueira, a aveleira, a alfarrobeira, o azereiro, o loureiro, o

azevinho, o medronheiro, a pereira brava, a cerejeira de Santa Lúcia, o pilriteiro, o lentisco,

mas também a azinheira, a oliveira, a aveleira e a amoreira, etc,).

13 DE OUTUBRO DE 2017 245

Página 246

2. Espécies plantadas em faixas de alta densidade1, promovendo um efeito de barreira por

quebra da continuidade de combustível ao nível do solo (para este fim existem bons exemplos

de núcleos de resinosas de folha miúda nos perímetros florestais do Minho. Como exemplo

indicador apontam-se o cipreste-do-buçaco, o cedro-do-atlas, o cipreste-comum, o zimbro, o

larício, mas também o camecípare, o pinheiro-silvestre ou a pseudotsuga, etc.).

Estas medidas devem ser previstas em planos estratégicos de gestão de combustíveis,

podendo ser inscritos nos Planos Específicos de Intervenção Florestal (PEIF).

Obrigatoriamente, as medidas referidas devem refletir a análise do histórico dos incêndios

florestais e o conhecimento do comportamento do fogo, com o objetivo de promover mudanças

em locais estratégicos que conduzam a alterações dos modelos de combustível nesses locais

e produzam condições que estejam dentro das capacidades de extinção da estrutura de

combate.

As medidas preconizadas neste Relatório que se relacionam com a gestão e ordenamento

florestal são complementares às referidas neste ponto do presente anexo.

d. Coordenação da Plano Nacional de Educação e Sensibilização

A estrutura de coordenação de nível nacional da prevenção estrutural deverá ser reforçada em

meios humanos e financeiros para desenvolver cabalmente a coordenação deste item.

A educação e sensibilização sobre incêndios rurais deve ter em conta os diferentes tipos de

público-alvo, com influência no número extremamente elevado de ignições que ocorre em

Portugal;

Deve ser um programa de longo-prazo, abrangendo todos os grupos etários.

Deve ser consistente e coerente ao longo do tempo, independentemente das alterações da

tutela.

Deve ter como objetivo principal fazer com que a sociedade entenda que é parte integrante do

problema e que como tal, cada cidadão tem o dever de se constituir como parte da solução;

Deve funcionar em estreita articulação com os meios de comunicação social, de modo a

contrariar o paradigma atual do cidadão espetador que olha para os incêndios como para um

reality-show e não para um problema que lhe diz diretamente respeito.

e. Coordenação do FFP e apoio a investimentos

A estrutura técnica de coordenação nacional da prevenção estrutural não participa na gestão

do FFP nem na macrodefinição das prioridades de investimento apoiadas por fundos

comunitários. Considera-se fundamental que o FFP seja coordenado pela Subdireção Nacional

1 As faixas de alta densidade são povoamentos conduzidos em alto-fuste regular, em compassos muito apertados, formando um coberto muito opaco à luz e ao vento. São desprovidos do estrato arbustivo e quase sempre compostos

por espécies resinosas pouco inflamáveis e produtoras de horizontes orgânicos superficiais relativamente húmidos e

compactos. Deverão cumprir as seguintes especificações:

- Ser localizadas nos fundos dos vales, junto às infraestruturas viárias, nas orlas dos povoamentos (a barlavento) ou

noutros locais estratégicos definidos no âmbito do estudo do comportamento do fogo;

- Possuírem uma área mínima de 1 ha e uma profundidade superior a 100 m;

- Serem compostos por espécies de agulha/folha curta, nomeadamente Abies pinsapo, Cedrus atlantica, Pseudotsuga

menziesii, Pinus pinea, Pinus sylvestris, Chamaecyparis lawsoniana, Cupressus (lusitanica, macrocarpa), Sequoia

sempervirens, Taxodium distichum ou Taxus baccata (Conselho Nacional de Reflorestação, 2005).

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 246

Página 247

coordenadora do dispositivo de prevenção estrutural e que esta participe na macrodefinição

das prioridades acima referidas.

f. Nível regional

Para coordenar o dispositivo de prevenção estrutural, devem ser criadas unidades orgânicas

para GIFR (norte, centro e sul) com recursos humanos (técnicos) que garantam o apoio

dedicado aos Gabinetes Técnicos Florestais (GTF) municipais e intermunicipais, ao Programa

Nacional de Sapadores Florestais, ao Plano Nacional de gestão de combustíveis (inclui apoio a

ações de fogo controlado e de fogo tradicional e a reconversões povoamentos/espécies

altamente inflamáveis) e ao Plano Nacional de Educação e Sensibilização, respetivamente.

À estrutura regional de GIFR compete contabilizar, avaliar e integrar o trabalho desenvolvido

pelas equipas de prevenção estrutural (integrando o trabalho de maquinaria pesada). Esta

competência, inclui o trabalho desenvolvido pelas diferentes equipas das Câmaras Municipais

e as das empresas privadas (empresas de celulose que se dedicam à gestão de combustíveis

integrada no modelo de silvicultura), OPF e empresas florestais prestadoras de serviços que

desenvolvem o trabalho de gestão de combustível contratado pelos proprietários/produtores

florestais (muitas vezes subsidiados por programas comunitários e nacionais).

Nas regiões onde existem equipas do Corpo Nacional de Agentes Florestais e outras aptas

para integrarem o dispositivo de prevenção (incluindo as equipas de futuros guardas florestais)

deve ser considerada a sua coordenação por um elemento técnico (a acrescentar ao número

de técnicos já indicado) pertencente à Divisão Regional. Este elemento técnico deve também

ter a responsabilidade da coordenação da gestão das máquinas propriedade da Autoridade

Florestal Nacional (tratores, maquinaria pesada - máquinas de rastos tipo bulldozer, incluindo

retroescavadoras - e diferentes alfaias) que constituem um importante componente da gestão

realizada nos perímetros florestais. Todos estes recursos devem ser inventariados e integrados

no âmbito dos Planos Distritais de GIFR. Às funções desempenhadas pelos recursos humanos

afetos a estas equipas deve corresponder um perfil profissional no âmbito do Quadro de

Qualificações do SNGIFR.

2. Posição da Autoridade Florestal Nacional relativa à gestão de áreas públicas e

comunitárias

No âmbito da gestão florestal a Autoridade Florestal Nacional deve, através do exemplo de

bem gerir as áreas públicas e comunitárias, ser a referência da cultura florestal nacional para o

restante território de cariz privado, assegurando aí o cumprimento efetivo das boas práticas de

gestão, proteção e ordenamento florestal.

A gestão das áreas públicas deverá refletir os desenvolvimentos mais recentes do

conhecimento científico, estratégicos, económicos e da defesa da floresta.

Os terrenos comunitários somam hoje mais de meio milhão de hectares – representado cerca

de 6% da superfície de Portugal continental.

Ao nível da gestão dos recursos florestais, tem-se vindo a assistir a uma progressiva

capacitação técnica das comunidades locais, sendo hoje a grande maioria das unidades de

baldio geridas por conselhos diretivos (69%, de um total de 1149 submetidas ao regime

florestal), independentemente da modalidade de administração, que em 73% é feita em regime

de associação entre os compartes e a Autoridade Florestal Nacional. Refira-se que das

unidades de baldio constituídas até 1993, um total de 44 (correspondendo a cerca de 4%)

pediram recentemente o fim do regime de associação entre os compartes e o Estado.

13 DE OUTUBRO DE 2017 247

Página 248

É importante reconhecer que o desafio da gestão de 6% do território nacional, com a adoção

de novos modelos de gestão flexíveis, visando o incremento da participação dos compartes no

respeito dos valores sociais, económicos e ambientais das Unidades de Baldio deve ser

potenciado. Nas áreas comunitárias em co-gestão o próprio termo deverá constituir-se como a

referência de atuação da instituição, colaborando e fazendo colaborar ativamente os compartes

nas decisões e na gestão, apoiando e incrementando o potencial humano de utilização e

valorização destes espaços como a mais eficaz e eficiente forma de assegurar a sua defesa

contra incêndios florestais. Devem ser potenciadas as grandes vantagens destes territórios,

nomeadamente a sua grande dimensão e continuidade, o seu posicionamento estratégico no

território e de compartimentação do espaço relativamente à DFCI, se devidamente

infraestruturado e gerido, e o elevado retorno direto e indireto que as aldeias, os seus

habitantes e o Estado podem obter duma gestão correta que privilegie o seu uso sustentável

pelo homem.

Duma forma geral em todas as áreas comunitárias – com ou sem gestão conjunta -a instituição

nacional responsável pelas florestas e pelo ambiente deve apresentar-se como promotora ativa

e facilitadora de iniciativas de gestão e de valorização sustentável do território, como parceiro

das entidades locais e não como barreira administrativa e ausente desses territórios,

fomentando uma gestão florestal profissional e sustentável, que potencie o aumento da

produtividade e da rentabilidade dos ativos florestais, bem como a criação de emprego e o

desenvolvimento económico.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 248

Página 249

ANEXO 10. Propostas para a Proteção dos Aglomerados Contra Incêndios

Rurais (PACIR)

Conteúdo

Situação atual da vulnerabilidade dos aglomerados habitacionais aos incêndios rurais ........... 2

A. Elementos da dinâmica global das áreas rurais em Portugal que ao longo das últimas

décadas têm incrementado fortemente a vulnerabilidade dos aglomerados populacionais

face aos incêndios rurais ................................................................................................................. 2

B. O baixo (quase nulo) cumprimento do previsto na normativa vigente relativamente às

intervenções de proteção dos aglomerados populacionais ........................................................ 2

C. Consequências da deficiente preparação da defesa dos aglomerados

populacionais, para as ações de combate aos incêndios florestais ......................................... 3

D. Condições da supressão que limitam a eficácia das ações de gestão de

combustíveis na envolvente dos aglomerados............................................................................. 3

E. As envolventes dos aglomerados apresentam algumas caraterísticas particulares que

podem contribuir para a sua eficácia e eficiência, nomeadamente: ......................................... 3

F. A percepção das necessidades de autoprotecção (na prevenção e na supressão),

induzidas pelas fatalidades ocorridas, criam condições particulares para intervenções,

nomeadamente: ................................................................................................................................ 4

Contributos para a criação de interfaces urbano florestais mais resilientes ao fogo .................. 5

Enquadramento ................................................................................................................................. 5

Elementos essenciais e condicionantes das intervenções ......................................................... 5

Organização das intervenções. Programa piloto ......................................................................... 9

Organização programa de apoio à implementação das ZPA................................................... 10

Outras ações associadas à defesa dos aglomerados contra incêndios florestais .................... 11

13 DE OUTUBRO DE 2017 249

Página 250

Situação atual da vulnerabilidade dos aglomerados habitacionais aos incêndios

rurais

A. Elementos da dinâmica global das áreas rurais em Portugal que ao longo das últimas

décadas têm incrementado fortemente a vulnerabilidade dos aglomerados

populacionais face aos incêndios rurais

 Dispersão das edificações nos meios rurais, com a existência de um número muito

elevado de aglomerados de pequenas dimensões dispersos pelo território.

 Retrocesso ou desaparecimento da agricultura no contorno dos aglomerados

populacionais (onde tradicionalmente tinha maior implementação), ligado á intensa

diminuição e envelhecimento dos habitantes locais e da mão-de-obra agrícola.

 Expansão desordenada do espaço florestal, cultivado ou natural, até as proximidades

das habitações / aglomerados.

B. O baixo (quase nulo) cumprimento do previsto na normativa vigente relativamente às

intervenções de proteção dos aglomerados populacionais

A priorização do sistema e dos agentes nele envolvidos – inclusive da maioria dos que o estão

por inerências de funções afetos ao sistema florestal, como os técnicos dos Gabinetes

Técnicos Florestais - na defesa de pessoas e de bens (entenda-se aqui como bens móveis ou

imóveis construídos ou adquiridos, em que a floresta não é incluída), tem levado a uma

crescente priorização das tentativas de investimentos e das intervenções de prevenção

estrutural nessa área, em particular para a defesa dos aglomerados. Apesar disto, as faixas de

proteção aos aglomerados previstas na legislação, no âmbito das FGC da Rede Secundária,

não estão, duma forma geral e representativa, implementadas nos concelhos abrangidos (ou

em quaisquer outros).

A efetiva implementação das intervenções de gestão de combustíveis, para proteção aos

aglomerados populacionais, previstas na legislação, tem sido limitada devido a vários fatores,

que nos foram sendo referidos durante as entrevistas realizadas ou que derivam do

conhecimento prévio da própria equipa da CTI, nomeadamente:

o Intervenções onerosas e normalmente sem qualquer retorno para o proprietário;

o Intervenções com interesse diferido, cujo investimento se destina

fundamentalmente a proteger bens de terceiros (edificações);

o Impossibilidade de identificação, ausência de proprietários e existência de múltiplos

proprietários (coproprietários para o mesmo prédio - heranças indivisas ou não

registadas);

o Ausência de valorização, gestão ou qualquer intervenção (abstenção dos

proprietários);

o Recusa dos proprietários na execução do regulamentado;

o Dificuldade na aplicação das notificações e/ou contra-ordenações previstas na

legislação por parte das CM, por questões sociais, políticas ou eleitoralistas;

o Inviabilidade financeira da execução das medidas, por incapacidade do proprietário

ou por inviabilizar a gestão e o investimento florestal na área;

o Ocupação indevida do espaço não respeitando a legislação ou regulamentação

(espécies florestais e/ou espaçamento entre arvores),

o Indevida concessão de autorizações – RJAAR –contraditórias à legislação e a

instruções do próprio ICNF;

o Utilização indevida de autorizações no âmbito do RJAAR, devido à falta de

fiscalização e à pouca eficácia das medidas de coação;

o Reduzida eficácia no tempo das intervenções, pela rápida recuperação da

vegetação, implicando necessidade de intervenções frequentes no mesmo espaço;

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 250

Página 251

o Dificuldade na compreensão dos principíos que justificarão as regras – espécies,

espaçamentos, cargas;

o Não existência de regras, normas, ou aconselhamento, adapatados às diferentes

situações, nomeadamente às espécies arbóreas, ou à orografia;

o Dificuldade/impossibilidade de aplicação da legislação a prédios que, apesar de

ocupação florestal (normalmente abandonados, ocupados por vegetação

espontânea), estão classificados como prédios urbanos ou dentro do urbano

consolidado, apesar de serem aqueles que podem configurar maior perigo;

C. Consequências da deficiente preparação da defesa dos aglomerados populacionais,

para as ações de combate aos incêndios florestais

 Dispersão dos intervenientes na coordenação e na supressão entre:

o combate ao incêndio florestal no espaço florestal;

o combate ao incêndio na interface ou no edificado;

o ações de proteção civil.

 Desafetação de meios no combate ao incêndio florestal, para priorização das ações de

defesa a pessoas e bens, implicando frequentemente uma maior progressão e dimensão

do incêndio florestal e as consequências inerentes de risco para pessoas e bens;

 Frequente falta de eficácia das intervenções na supressão devido a:

o Eficácia das intervenções de gestão de combustíveis muito dependente das

espécies arbóreas existentes, das técnicas de intervenção utilizadas e de outros

fatores com influência no comportamento do fogo, tais como a orografia e a

meteorologia;

o Intervenções pontuais, sem coerência no espaço e no tempo, contrariando um dos

principíos básicos das faixas de gestão de combustíveis, a ancoragem;

D. Condições da supressão que limitam a eficácia das ações de gestão de combustíveis

na envolvente dos aglomerados

 Desconhecimento pelos intervenientes na supressão dos locais com gestão de

combustíveis, implicando a sua não utilização ou utilização aleatória e pontual;

 Falta de planeamento e/ou de coordenação das ações de supressão para a contenção do

fogo nas envolventes aos aglomerados, mas ainda nitidamente nos espaços florestais;

 Deficiências das edificações que agravam o risco de incêndio:

o Existência de construções sem condições que garantam alguma resistência à

entrada do fogo (construções devolutas, sem telhados, portas ou janelas);

o Falta de identificação e de localização de pontos critícos dentro dos aglomerados

(construções que não garantem qualquer resistência à propagação do fogo e que

constituem frequentemente o maior risco de propagação do fogo para construções

em boas condições).

E. As envolventes dos aglomerados apresentam algumas caraterísticas particulares

que podem contribuir para a sua eficácia e eficiência, nomeadamente:

 Existência de solos com maior disponibilidade de água e de terra arável –

comparativamente com os espaços tipicamente florestais mais afastados dos

aglomerados – já que normalmente as aldeias eram instaladas em locais em que os

solos na sua periferia permitiam a instalação de culturas agrícolas de sequerio ou de

regadio. Possibilidade de utilização de espécies mais exigentes, nomeadamente para a

produção de frutos, que possibilitam a implementação de atividades produtivas, que

garantem algum retorno de investimento e promovem a visitação e utilização do

espaço;

13 DE OUTUBRO DE 2017 251

Página 252

 A proximidade destes terrenos aos locais de habitação facilita a sua frequência e as

ações de manutenção;

 A evidência do interesse destas áreas para a segurança dos habitantes dos

aglomerados facilita a compreensão da sua importância e a percepção do interesse

comum.

F. A percepção das necessidades de autoprotecção (na prevenção e na supressão),

induzidas pelas fatalidades ocorridas, criam condições particulares para

intervenções, nomeadamente:

 Aumentam a consciencialização e a noção de risco e de perigo;

 Contribuem para a agregação e associação dos habitantes;

 Aumentam a apetência e a disponibilidade dos habitantes dos aglomerados rurais para

intervenções que contribuam para a sua segurança;

 Criam condições – como se comprova por algumas iniciativas já em desenvolvimento

em aglomerados afetados pelo IF de PG - para decisões e atividades de gestão

conjunta e partilhada de espaços;

 Cria oportunidades de sobreposição do interesse público – de proteção das pessoas e

de bens edificados – ao interesse privado da propriedade, podendo criar condições

locais para que os proprietários ausentes ou inativos sejam substituídos pelos

presentes e ativos nas decisões e intervenções.

 Esse contexto facilita também a adoção de medidas mais enérgicaspelas instituições

públicas, tanto do Governo nacional como das Cámaras Municipais, para o

cumprimento da normativa vigente, incluindo se necessário a aprovação de programas

apoiados por fundos públicos.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 252

Página 253

Contributos para a criação de interfaces urbano florestais mais resilientes ao

fogo

Face a estas situações propõem-se algumas orientações que contribuam para a criação de

condições estruturais que permitam diminuir o risco de incêndio florestal nos aglomerados em

espaço rural. Estas orientações pretendem contribuir para assegurar o respeito pelos

pressupostos de base que devem ser garantidos, nomeadamente de subsidiariedade,

capacidade local de implementação, razoabilidade financeira, perenização, eficácia e

sobretudo eficiência nas intervenções programadas e implementadas. No entanto, para cada

situação deverão ser os intervenientes locais dos que gerem e utilizam o território a encontrar

as suas próprias soluções de intervenção e de gestão (principio da subsidiariedade),

desejavelmente respeitando os princípios de base enumerados.

Enquadramento

Durante as entrevistas realizadas, aos presidentes das CM e técnicos dos GTF e OPF, foi

recorrente e insistente a preocupação com a segurança das povoações e a criação de “aldeias

resilientes ao fogo”, nomeadamente através da criação de interfaces compostas por complexos

vegetais com menor combustibilidade, que permitam alterar o comportamento do fogo,

diminuindo o risco de afetação de pessoas e bens e criando melhores condições para a

proteção desses espaços. Na prática trata-se de intervir num espaço de largura a definir para

cada caso – atualmente está regulamentado em 100 metros - à volta dos aglomerados que

assegure pela sua ocupação (pela carga reduzida e descontinuidade de complexo

combustíveis), uma reduzida intensidade do fogo e a proteção das habitações e de outros

bens.

Este tipo de estruturação, associada a outras medidas, pode provocar alterações na

organização do território que diminuam o impacto dos incêndios rurais, não só nas pessoas e

bens como também na própria floresta, pela menor ocorrência de situações graves e de difícil

gestão de proteção de pessoas e bens e pela maior atenção que poderá ser prestada à

contenção do incêndio florestal.

Este será com certeza um tema largamente abordado nos próximos tempos, tal como o

comprovam já algumas iniciativas e propostas de organização do território. Neste sentido

pretendemos deixar algumas propostas para que essas medidas sejam efetivas a médio e

sobretudo a longo prazo, evitando o investimento em medidas pontuais de impacto imediato,

sem que sejam criadas condições para a sua razoabilidade financeira, perenidade no tempo e

eficácia final. A substituição de proprietários (sobretudo dos desconhecidos, ausentes ou

abstencionistas) na alteração do uso do solo, incidindo apenas na gestão de combustíveis

imediata ou na instalação de novas culturas, sem a criação de condições para a sua

manutenção, implicaria um elevado investimento cujo efeito se perderia muito rapidamente.

Elementos essenciais e condicionantes das intervenções

Os trabalhos a desenvolver deverão ser efetuados por técnicos com formação/conhecimentos

na área dos incêndios florestais e da proteção civil, com o apoio direto das instituições locais,

das autoridades e dos habitantes. Atendendo ao elevado volume de trabalho e de

financiamento será difícil que na sua totalidade e em tempo útil possa ser executado apenas

com base nos recursos locais existentes, sendo previsível que venham a necessitar de apoio

externo, que deverá ser fornecido por entidades com capacidade, capacidade financeira,

conhecimentos técnicos e experiência no terreno nas áreas da DFCI e/ou da proteção civil.

13 DE OUTUBRO DE 2017 253

Página 254

a) Identificação dos aglomerados a intervir:

i. Com base no conhecimento local, na capacidade local de intervenção (número e

capacidade dos habitantes), na informação do risco, da perigosidadee do

histórico de incêndios, da localização topográfica, das acessibilidades, e da

ocupação do solo, identificar para cada municipío os aglomerados populacionais

– aldeias - com necessidades de criação de faixa de proteção dos aglomerados

contra incêndios rurais, que poderão ser designadas por Zonas de Proteção à

Aldeia (ZPA), que é a designação utilizada nas aldeias de Ferraria de São João e

Casal de São Simão para iniciativas deste tipo;

ii. Distinguir os aglomerados em que devem ser desenvolvidas as ZPA, daqueles

em que deva ser feita apenas proteção civil, em função das características da

população (idade, densidade, número de habitantes) e do potencial de

implementação das ZPA. Esta distinção deverá ser feita ao nível local, entre a

CM, as JF, as AHBV e os habitantes.

b) Situações a referenciar e delimitar:

i. Com base na distância de referência definida ou a definir para a implementação da

ZPA para cada aglomerado, proceder ao levantamento da utilização e da ocupação do

solo, referenciando todas as situações em que será necessário intervir por ordem de

prioridade e das propostas potenciais do tipo de intervenção a implementar.

A distância de referência deverá ser apenas orientativa, tendo como ponto de partida

os 100 metros definidos na legislação, a contar dos limites externos do aglomerado

urbano, mas ajustável para cada situação em função das condições locais e do

comportamento esperado do fogo e das condições do edificado.

Estas situações deverão ser numa primeira fase identificadas e delimitadas

cartograficamente (recurso a SIG), com posterior validação no terreno.

É imperativo que as intervenções ocorrem de forma contínua nos territórios

identificados e que assim se mantenham ao longo do tempo, de forma a respeitar o

principio da ancoragem. Este princípio significa que não possam existir áreas sem

intervenção, ou que não respeitem as regras da carga e continuidade de combustíveis

no interior das faixas definidas, sob pena de comprometer todo o investimento e

esforços realizados nas restantes áreas.

c) Questão da identificação dos proprietários e da intervenção nas propriedades.

A questão do levantamento cadastral tem sido recorrentemente apontada como um entrave

(talvez o principal) para a normal gestão do território. Sendo verdade que o desconhecimento

do proprietário levanta sérias dificuldades ao ordenamento do território, é necessário

considerar que existem várias limitações que não serão ultrapassáveis pelo levantamento

cadastral, nomeadamente:

i. Questão das heranças. A legislação existente relativa a esta assunto é bastante

permissiva, permitindo que as propriedades possam continuar em situação não

regularizada ou em herança indivisa por tempo indeterminado, o que se traduz em:

 Desactualização progressiva do levantamento cadastral por morte do proprietário

identificado no momento do levantamento;

 Dificuldade ou impossibilidade em identificar os atuais proprietários, por situação

de heranças não regularizadas há vários de anos (frequentemente dezenas), sem

definição ou registo de declaração de herdeiros. Estas situações complicam

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 254

Página 255

sobremaneira todo o processo, podendo por exemplo ser necessário identificar

vários co-proprietários para uma única parcela (que pode ter apenas algumas

centenas de metros quadrados), o que implica um completo desequilíbrio

custo/benefício para a sociedade.

Na prática a não alteração da permissividade relativamente às heranças pode implicar a

desatualização permanente e progressiva de qualquer esforço de cadastro, ou a

necessidade da sua atualização constante às custas e em prejuízo das finanças públicas.

Por outro lado, a liberdade de opção existente relativamente ao uso (ou não uso) do solo,

acrescida do que seguidamente se refere implica que, apesar de todo o esforço feito na

identificação da propriedade, não se opere qualquer mudança na situação de partida que

se pretendia alterar.

d) Dificuldade da aplicação de sanções previstas na legislação em vigor relativamente às

obrigatoriedades de gestão de combustíveis.

Em comunidades rurais de baixa densidade, com baixos rendimentos, com relações

familiares e sociais de bastante proximidade e de reduzido número de eleitores é

frequentemente dificíl, ver impossível, ser intransigente na aplicação da legislação, criando-

se excepções – que podem ser socialmente e financeiramente justificáveis – que

progressivamente se generalizam. Acresce ainda o desconhecimento ou impossibilidade

frequente de identificação e localização (morada atual) dos proprietários. Por outro lado

são normalmente mais fáceis de identificar e agir sobre aqueles que exercem alguma

atividade nessas áreas, acabando por se criar uma situação de injustiça ao imputar apenas

aos que utilizam ou valorizam o território a responsabilidade das intervenções ou o

pagamento das coimas pelo não cumprimento das obrigações legais.

e) Propriedades sem qualquer utilização/intervenção

Para além das dificuldades referidas na identificação dos proprietários, acresce que,

mesmo quando identificados, existe sempre a dificuldade em promover a utilização /

intervenção em áreas cujos proprietários são completamente abstencionistas por opção ou

por limitações várias – capacidade financeira, ausência, etc. – acabando por recair o ónus

da proteção dessas propriedades e das consequências que o abandono possa provocar

em terceiros, nos vizinhos, habitantes do território ou sociedade em geral. Substituirmo-nos

a esses proprietários pontualmente, por exemplo através da plantação de espécies mais

resilientes ao fogo, implicará muito provavelmente a completa falta de manutenção desses

investimentos, o que representará que deixará de cumprir o objetivo proposto a muito curto

prazo (de 2 a 4 anos). Por outro lado este tipo de intervenções traduzir-se-á por uma

situação de forte injustiça social, ao financiar os abstencionistas, mesmo que de forma

indireta, podendo implicar sentimentos controversos nos que trabalham e investem de

forma autónoma conduzindo a potenciais desistências nas intervenções.

f) Identificação de construções devolutas ou sem condições de autoproteção contra incêndios

rurais.

Existem nos meios rurais um número importante e crescente de edificações devolutas, sem

qualquer utilização ou manutenção, ou outras que, apesar de não devolutas, ou mesmo

habitadas, apresentam situações de risco acrescido através da deficiência de infra

estruturas – janelas, telhados, portas, etc. – que facilitam a entrada do fogo. Estas são as

mais vulneráveis ao fogo e à sua entrada nos núcleos habitacionais, implicando perigo

acrescido para a vizinhança e sobretudo para as habitações e habitantes nas suas

imediações.

13 DE OUTUBRO DE 2017 255

Página 256

Na situação atual de risco de incêndio e face ao ocorrido no IF de PG estas situações

deverão ser identificadas, registadas e informados oficialmente os proprietários – de mais

fácil identificação que dos prédios rústicos - da situação de perigo, das necessidades de

intervenção para minimização do risco de incêndio e da responsabilidade em que podem

incorrer de prejuízos para o seu património e para terceiros, não se responsabilizando

nenhuma entidade pela defesa do seu património, que o próprio não defende nem

preserva.

Estas situações devem ainda ser referenciadas cartograficamente como pontos críticos

para informação operacional, em POM ou em qualquer noutro instrumento de apoio à

decisão.

Nestas circunstâncias, em particular nas situações de edificações isoladas, fora dos

aglomerados, os proprietários dos prédios rústicos circundantes deverão ser libertos do

cumprimento do DL 17/2009 até que o proprietário do prédio urbano proceda às obras

indicadas pelas entidades.

Nas situações deste tipo de edificações que estejam habitadas por residentes que

manifestamente não possam assegurar as obras necessárias que garantam a resistência

ao fogo florestal, a resolução deverá ser assegurada através de iniciativas públicas.

g) Tipologia de intervenções

A rápida recuperação da vegetação e a forte acumulação de combustíveis limitam a

eficácia das intervenções pontuais de gestão de combustíveis a um curto período de

tempo. Acresce ainda o elevado custo deste tipo de intervenções, que cumprem apenas

objetivos de diminuição de ocorrência e do impacto de eventos diferidos no tempo e no

espaço, normalmente sem qualquer retorno financeiro.

Por outro lado os territórios envolventes dos aglomerados populacionais são normalmente

aqueles em que se encontram os melhores solos, permitindo a utilização de espécies e de

culturas mais exigentes.

Por estas razões e também de forma a valorizar estes territórios, devem ser privilegiadas

iniciativas que permitam:

 Promoção de usos do solo que reduzam a intensidade do fogo e o risco de

propagação para edificações. Utilização de espécies de baixa inflamabilidade,

elevado teor de humidade nos períodos secos, ou que promovam o

desenvolvimento de complexos vegetais de reduzida combustibilidade.

 Minimização das intervenções de manutenção não produtivas;

 Promoção de atividades humanas de manutenção e colheitas produtivas;

As culturas agrícolas de sequeiro ou regadio – anuais ou perenes - constituem sem dúvida

a primeira prioridade, desde que os proprietários ou quem a eles se substitua tenha

capacidade para a sua gestão e manutenção.

Dentro das várias espécies agro-florestais que possam vir a ser designadas para utilização

destacam-se desde já as culturas perenes com espécies produtoras de frutos frescos ou

secos, nomeadamente o medronheiro, o castanheiro, a nogueira, a aveleira, o pistáchio ou

outros, desde que adaptadas às condições edafo-climáticas dos diferentes locais, que

satisfazem todas as condições referidas com possibilidade de retorno dos investimentos

realizados. Apesar de em situações extremas estas formações poderem também ser

percorridas pelo fogo – como tudo o que é orgânico em condições extremas, sobretudo de

propagação por focos secundários – o seu comportamento aumenta de forma

preponderante as probabilidades de sucesso das intervenções de supressão.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 256

Página 257

Nas situações de povoamentos instalados – de forma natural ou artificial – com espécies

que aumentem o risco de incêndio, será necessário trabalhar com os proprietários/gestores

no sentido da reconversão dos povoamentos na largura que vier a ser definida, ou quando

tal não seja possível, fazer aplicar a legislação em vigor quanto à carga e continuidade de

combustíveis e ao espaçamento entre arvores e copas.

Organização das intervenções. Programa piloto

Para a resolução dos problemas identificados, nomeadamente os relacionados com a

identificação dos proprietários e da afetação das propriedades, devem ser encontrados

mecanismos que permitam resolver rapidamente as situações, impedindo que as mesmas

transitem para processos administrativos morosos, custosos e desgastantes, que condenem a

coerência, a execução temporal e a eficiência pretendida. Nestas situações o interesse e a

segurança pública – das comunidades - deverá sempre prevalecer sobre o interesse privado e

sobretudo sobre o desinteresse ou abandono público ou privado. Neste sentido propõem-se

medidas excepcionais para a resolução deste problema excepcional, que o é pela fatalidade,

dimensão, frequência e impacto financeiro, e não pela raridade.

Atendendo a que a utilização destes territórios poderá ter limitações ao seu uso que se podem

constituir como limitações à iniciativa privada devido a interesses públicos – a defesa de

pessoas e bens – que não existem noutros territórios, propõe-se que seja delineado e testado

um programa de apoio à sua implementação, que compense eventuais necessidades de

investimento ou de percas de rendimento, a suportar pelos fundos de recuperação existentes,

ou por outros recursos que possam ser mobilizados.

Neste sentido propõe-se a criação de um programa de apoio à instalação e manutenção de

culturas que cumpram os objetivos das ZPA, que apoie nas áreas identificadas a instalação de

novas culturas e atribua prémios de manutenção de forma reduzida e forfetária no final do 4º e

do 10º ano de vida das intervenções. Estes prémios deverão ser instituídos de forma e em

valores que se constituem como incentivo à criação de condições que minimizem as

necessidades de manutenção e não fatores que as promovam para a receção das verbas. Na

prática as opções por usos de solo que minimizem as intervenções de gestão não produtivas

deverão ser as mais compensatórias (pela não necessidade de utilização do apoio para gestão

não produtiva e não pelo montante em si próprio).

Por outro lado o comité de gestão criado – CGZPA - para a gestão das áreas intervencionadas

deverá ter a possibilidade de se substituir aos proprietários desconhecidos, ausentes ou

simplesmente abstencionistas. Terá a capacidade de decidir e intervir nessas áreas, segundo

os mesmos principíos acima referidos. Para estas áreas deverá existir uma contabilidade

organizada (segundo os principíos de gestão de condomínios) que permita a total

transparência dos meios envolvidos. Em qualquer momento em que o proprietário queira

recuperar a gestão da sua área, terá o direito de o fazer sendo confrontado com o deve e haver

e respeitando o saldo final – de pagamento ou de benefício – que deverá ser saldado,

comprometendo-se o mesmo a respeitar os principíos da ZPA previamente definidas. O

CGZPA fará a gestão normal destas áreas com todas as capacidades inerentes a uma

entidade gestora e recuperará uma parte dos lucros para gastos de gestão, quando existirem,

sempre que o proprietário queira assumir a gestão dos investimentos efetuados. O CGZPA

poderá ter à sua responsabilidade e ser constituído preferencialmente por moradores que

desenvolvam outras atividades e intervenções no âmbito das ações de proteção civil, tais como

aquelas referidas nesta proposta sobre a organização de populações em caso de necessidade

e da identificação das edificações perigosas. Este comité de gestão deverá também ser o

interlocutor privilegiado para todas as outras ações de DFCI que decorram no seu território,

para o fornecimento de informações locais de apoio à decisão, e quando possível e aplicável

constituir-se como unidade local de proteção civil.

13 DE OUTUBRO DE 2017 257

Página 258

É difícil proteger ou defender sem conhecer, sendo que muito do conhecimento necessário

para defender é o conhecimento da realidade local. Tal como é difícil proteger de forma eficaz

aquilo que não nos pertence ou de que não necessitamos para nos securizar, viver ou

trabalhar, e é neste principio que estes comités de gestão de defesa contra incêndios florestais

podem também fazer a diferença, ao chamar aos ocupantes do território as decisões e muita

da iniciativa da sua própria defesa.

Organização programa de apoio à implementação das ZPA

Nos aglomerados identificados para implementação de ZPA:

 Realização de reunião com entidades locais voluntárias – JF, CD, CM, OPF, etc… - para

organização de comité local de DCIR;

 Caraterização e Identificação geral do potencial edafo-climático da ZPA e das culturas

resilientes ao fogo (entre o leque proposto a nível nacional);

 Identificação ativa e voluntária dos proprietários;

 Identificação e localização simplificada das propriedades;

 Identificação dos locais sem uso e sem proprietário identificado ou ausente;

 Elaboração de cartografia simplificada em SIG com ocupação e propriedade;

 Publicitação por edital das propriedades desconhecidas e anúncio de que a gestão destas

propriedades será efefuada pelo CGZPA, com todos os poderes de gestão, se o

proprietário não se identificar;

 Apresentação de propostas de intervenção para a ZPA e identificação das ações a

implementar em cada local / propriedade e de estimativa dos investimentos a realizar na

implementação e manutenção e das receitas esperadas;

 Assinatura de compromisso de gestão pelos proprietários e CGZPA;

 Publicitação por edital local das ações a implementar nas áreas sem proprietário conhecido

ou que não pretendam proceder à sua gestão;

 Implementação e manutenção das ações pelos proprietários ou CGZPA;

 Avaliação e registo anual do risco pelo CGZPA com apoio das entidades locais e regionais

envolvidas na DCIR;

 Avaliação periódica – quinquenal - do programa.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 258

Página 259

Outras ações associadas à defesa dos aglomerados contra incêndios florestais

As ações de prevenção estrutural de minimização do risco de incêndios florestais na

envolvente dos aglomerados deverão ser consertadas com outras iniciaitivas, nomeadamente:

.1. Ações de informação para autoproteção. Organização de campanhas de informação e

educação dos habitantes em espaços rurais. Foi referido que este deveria ser um

tema a trabalhar na educação dos jovens, ao nível das escolas, tendo sido

exemplificado que: se conseguimos educar a população a proceder à triagem dos

resíduos para a reciclagem não deverá ser impossível conseguir trabalhar com êxito

para melhor nos autoprotegermos contra os incêndios florestais.

.2. Organização da supressão a incêndios florestais com responsabilidades especificas

definidas e atribuídas para a defesa de pessoas e bens no âmbito da supressão;

.3. Organização e implementação de forma autónoma, e independente da

responsabilidade operacional do combate a incêndios florestais, mas sob coordenação

da ANPC, das ações de proteção civil e de apoio a sinistrados em particular e às

populações em geral, em situações de emergência em ocorrências de incêndios

florestais.

.4. Identificação e inclusão no POM, ou outra informação de apoio operacional, dos locais

e das suas características, para cada aglomerado populacional, com condições de

segurança para a retirada e salvaguarda da população em caso de incêndio florestal.

Refira-se que no municipío de Oleiros este trabalho está já a ser desenvolvido. Neste

âmbito deverão ser identificadas para a cada aglomerado 2 ou 3 pessoas que façam a

gestão local destas ações. Estas pessoas devem receber a preparação necessária

para a organização e implementação destas ações e para a informação e apoio que

deverão transmitir internamente e para o exterior. Estas ações deverão ser

privilegiadas em detrimento da evacuação e deslocamento das populações, que só

deverá ocorrer em casos extremos, para os aglomerados em que não exista nenhum

edifício que possa garantir a segurança necessária.

13 DE OUTUBRO DE 2017 259

Página 260

1

ANEXO 11. PRESSUPOSTOS E PRINCIPÍOS DE ORGANIZAÇÃO PARA O SISTEMA DE

GESTÃO INTEGRADA DE FOGOS RURAIS

“Não tenho um caminho novo. O que tenho de novo é o jeito de caminhar.” Thiago de Mello.

O Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR)

PRESSUPOSTOS

1. Os incêndios florestais/rurais são um problema extremamente grave em Portugal, tal como ficou comprovado de forma dramática em 2017 e tal como o comprovam todos os indicadores (percentagem de floresta queimada e número de fogos por 1000 habitantes, por exemplo) que colocam o nosso País numa situação extremamente desfavorável em comparação com o resto do Mundo.

2. O empenho do País na resolução/diminuição/mitigação do problema deve ser proporcional à sua gravidade, o que não tem acontecido até agora;

3. Os incêndios florestais não são uma fatalidade dependente de fatores externos, não controláveis (meteorologia, incendiários) e não previsíveis, tal como é percebido por uma parte da sociedade;

4. A dimensão social dos incêndios florestais é tão ou mais importante que a sua dimensão tecnológica, pelo que é fundamental o envolvimento dos cidadãos e da sociedade na resolução do problema;

5. Os avanços técnicos, tecnológicos e científicos a este respeito têm sido muito grandes, sem que Portugal tenha até agora feito uso adequado desse conhecimento.

6. O atual sistema tripartido, com múltiplos agentes sem integração adequada, apresenta deficiências de governança que dificultam a execução eficaz e sustentada, no espaço e no tempo, de um programa equilibrado e flexível de gestão do risco (Oliveira, 2017).

7. Os incêndios florestais têm uma especificidade própria, multidisciplinar, exigindo especialização dedicada à resolução/diminuição/mitigação deste problema.

8. Portugal tem vindo a investir de forma importante ao longo dos anos no reforço de meios humanos e materiais dispersos por várias entidades, sem qualquer avaliação da sua eficácia, que, num principio de racionalidade financeira e de capitalização de experiência, deverão ser considerados e rentabilizados nas propostas de melhoramento de eficácia e de eficiência do sistema.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 260

Página 261

2

Princípios:

1. Reformular o problema.

A “proteção de pessoas e bens” e a “gestão dos incêndios rurais” devem autonomizar-se no âmbito da prevenção e da supressão de incêndios e constituir as duas componentes fundamentais de um sistema global que se designa de Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR). A pretensão de proceder em simultâneo à defesa da floresta contra incêndios e à defesa de pessoas e de bens, priorizando normalmente a segunda, implica frequentemente um enorme desajustamento de meios, objetivos e responsabilidades, causando desequilíbrios que afetam fortemente as duas componentes.

O SGIFR inclui:

 Proteção Contra Incêndios Rurais (PCIR) abrangendo as ações de sensibilização, educação, vigilância, prevenção, pré-supressão e supressão especificamente dirigidas para a proteção de pessoas e bens nas interfaces urbano-florestais. Na PCIR deverão estar implicadas de forma mais direta entidades com responsabilidade no ordenamento, gestão, fiscalização e proteção de pessoas e do património construído, e incrementados fortemente os princípios da autoproteção e da subsidiariedade1.

Prevenção e preparação: Estruturação do território para a defesa dos aglomerados contra incêndios rurais (rede secundária de proteção aos aglomerados e às infraestruturas de acesso aos mesmos). Análise, adequação e classificação do património construído em meio rural. Definição, difusão e implementação de medidas de autoproteção das populações rurais permanentes e ocasionais, das edificações e das infraestruturas. Preparação de materiais de sensibilização, formação e educação das populações (no âmbito deste relatório são apresentadas propostas especificas para este objetivo, as zonas de proteção dos aglomerados).

Combate (apenas quando se assuma a diferenciação): entidades, organizações e operacionais que coordenam e intervêm nas ações de supressão e gestão para proteção das populações e construções, com particular ênfase para as organizações locais (sobretudo de abrangência municipal), pelo elevado conhecimento e ligação ao território e às pessoas.

No apoio às pessoas afetadas e na sua proteção direta: dotar organizações específicas do apoio, orientação e proteção de pessoas (ANPC/CM/BV/INEM/segurança social), nomeadamente para recomendação de abrigos de proteção, gestão de ações de evacuação e de apoio de informação a familiares de vítimas.

 Gestão de Fogos Rurais (GFR) que compreende as atividades de prevenção, vigilância armada, pré-supressão e supressão de incêndios em espaços rurais, em particular nos espaços florestais, fora das zonas de interface urbano-florestal2.

As componentes da prevenção e preparação devem ser dirigidas especificamente para a estruturação do território com os objetivos de diminuição das ocorrências e da extensão de incêndios nos espaços florestais, com base nos conceitos atuais dos mosaicos, da rede primária, da rede secundária fora dos aglomerados, da rede terciária e da vigilância e intervenção dirigida especificamente para comportamentos de risco. Deve também ter uma forte componente associada ao uso tradicional do fogo, nomeadamente queima de matos e renovação de pastagens: enquadramento, organização, minimização de impactos, apoio, utilização para treino de operacionais. Enquadramento, financiamento e apoio à execução do uso do fogo técnico. Preparação de materiais de sensibilização, formação e educação de utilizadores dos espaços naturais.

1A componente da Proteção Contra Incêndios Rurais (PCIR) assente em princípios de subsidiariedade tem a participação da GNR, da ANPC, das AH, das Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Comissões Locais e Pontos Focais de Proteção Contra Incêndios Rurais (novos agentes a promover ao nível de aldeias e freguesias) e Agentes Locais de Proteção Civil, 2Na componente da Gestão de Fogos Rurais (GFR) participam a estrutura operacional da AGIF, o ICNF, a ANPC, os Corpos de Bombeiros (na medida das disponibilidades em função da priorização na PCIR) as Câmaras Municipais e agentes locais com intervenção no setor agrário.

13 DE OUTUBRO DE 2017 261

Página 262

3

No combate o sistema deverá ser organizado de maneira a que sempre que ocorram, ou seja previsível ocorrerem, incêndios em situação de ataque ampliado (ATA) nas interfaces urbano-florestais, existam entidades e organizações (previamente identificadas no sistema, que deverão abranger nomeadamente os GIPS, a FEB e grupos de reforço dos Corpos de Bombeiros), que se dediquem especificamente à gestão do incêndio no espaço florestal com coordenação especializada e operacionais dedicados em exclusivo, sob comando único que coordena os dois subcomandos.

2. Garantir a sustentabilidade da política de Gestão Integrada de Fogos Rurais (GIFR).

A política de GIFR é de longo prazo. Exige-se um compromisso ético, de respeito e fidelidade aos Programas e Planos definidos no âmbito do Sistema de GIFR (que sucede e substitui o SNDFCI), durante os seus períodos de vigência, por parte dos diferentes quadrantes políticos nacionais. Impõe-se a continuidade e determinação no prosseguimento das políticas independentemente das mudanças de (e nos) Governos. O Sistema precisa de maturidade e ética na forma como a política é exercida.

3. Integrar e responsabilizar os agentes locais na resolução do problema

O problema dos incêndios rurais e da defesa dos aglomerados depende e afeta em primeira instância os agentes locais que ocupam o território. As intervenções para a sua resolução deverão integrar o contributo e a participação dos habitantes e dos utilizadores do território na resolução das causas, no desenvolvimento e implementação das soluções de autoproteção, de preparação e de gestão dos territórios.

4. A política de GIFR é transversal a diferentes ministérios, não tem um caráter setorial.

É necessário um apoio técnico especializado e independente de alto nível que assegure a coordenação e a integração do Sistema Nacional de GIFR, e a máxima eficiência dos investimentos realizados, assegurando as melhores práticas de governança e de gestão do risco, que garanta a ligação e cooperação entre os 3 pilares do sistema.

A noção holística do sistema deve nortear a atuação dos agentes. Promover sinergias e a complementaridade entre agentes é essencial para o sucesso do Sistema. A possibilidade do estabelecimento de coligações superaditivas entre os diferentes pilares deve ser considerada. As ligações entre as diferentes partes do sistema devem ser estabelecidas operacionalmente de forma permanente, ao nível nacional, regional e municipal. É condição sinequanon garantir-se um “tempo adequado”, no mínimo de 5 anos (com renovação ou integração definitiva no aparelho do estado), à entidade que venha a assumir a responsabilidade da coordenação e supervisão do SIFR, de forma a poder implementar e avaliar eficazmente as medidas necessárias ao seu desenvolvimento. O grau de formação, experiência e formação necessária exige durabilidade e estabilidade de organizações e de funções.

5. O funcionamento do SIFR deve ser sujeito, anualmente, ao escrutínio da sociedade.

A monitorização periódica de todo o sistema deve ser feita por uma entidade supervisora que tenha agilidade e flexibilidade e domine tecnicamente as componentes de planeamento estratégico e operacional, participando ativamente e com responsabilidade em todas as etapas dos processos, já que esta é a melhor forma de compreender e discernir sobre a efetividade das ações e dos agentes.

6. O Sistema deve ser desenvolvido com base em conhecimento e inteligência.

Devem utilizar-se as soluções técnicas de apoio à decisão mais atuais, nomeadamente as opções de gestão que emergem na necessidade de reorganizar o território, contrariando a homogeneidade paisagística. O estado atual do conhecimento relativo aos fogos rurais é bastante avançado com ferramentas específicas de apoio que permitem antecipação e que facilitam a decisão, mas que exigem especialização e profissionalização dos seus utilizadores, pelo menos ao nível técnico de planeamento estratégico e de coordenação para se atingirem resultados satisfatórios.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 262

Página 263

4

7. Fortalecer todo o Sistema de GIFR, em particular os Serviços da Administração Pública, responsáveis por cada um dos pilares.

O sistema nacional de GIFR deve seguir um único caminho, mutualista, e onde a cooperação e a complementaridade entre as agências são favorecidas por interações positivas e sinérgicas que conduzem à constituição de comunidades seguras contra incêndios e a ecossistemas florestais sustentáveis (Mateus & Fernandes, 2014).

Deve ser garantida a uniformidade, nos níveis hierárquicos de responsabilidade, entre os três pilares coordenadores.

Às equipas coordenadoras de cada componente (pilares) do Sistema, deve ser garantida estabilidade e capacidade executiva (com agilidade financeira) compatível com a dimensão do problema dos incêndios rurais.

O fortalecimento destas equipas passa pela sua renovação num processo de adaptação das estruturas orgânicas da Administração Pública responsáveis pelos pilares do Sistema.

A falta de coesão entre os agentes do atual Sistema não é um problema estático pois resulta da história do próprio Sistema e evolui com ele. A resolução desta questão não é automática e depende da adoção continuada de comportamentos interdependentes pelos diferentes atores. O aumento da coesão pode ser acelerado se os processos formativos dos agentes incidirem também no comportamento e na articulação entre os agentes. A formação deve criar oportunidades, fora do cenário habitual das operações, de treino conjunto ou exercícios de simulação, para desenvolver o bom relacionamento entre os agentes, essencial para o sucesso do sistema.

8. Necessidade de integração do conhecimento técnico

O fortalecimento do Sistema assenta num reforço do processo formativo e na aquisição de competências, acelerado e continuado, de todos os agentes nele intervenientes, com base no melhor conhecimento técnico disponível.

Devem ser definidos, para cada posição/função a ocupar/desempenhar no Sistema Nacional de GIFR, perfis profissionais que determinem as competências e capacidades inerentes a essas posições/funções e criado o Quadro de Qualificações para o SGIFR.

O sistema necessita de avaliação do desempenho, de forma que as deficiências ou irresponsabilidade de uns não ponham em causa os investimentos, o trabalho e o esforço de todos. A falta de processos de avaliação de sistemas e de participantes é causa da falência de organizações, que poderiam resolver as suas próprias deficiências e melhorar o seu desempenho.

Na avaliação do sistema deve haver especial cuidado na escolha dos indicadores e metas. Devem evitar-se a limitação dos tradicionais indicadores (ignições e área ardida) dependentes de fatores variáveis como a meteorologia.

A integração das experiências vividas ao longo do tempo e de todo o sistema, num princípio construtor de retorno de experiências e de aprendizagem com os erros, é a melhor forma de garantir a evolução dos agentes e do funcionamento de organizações e de sistemas. Um sistema, como o atual, que não depende da avaliação de desempenho nem avalia as situações para melhor as perceber e multiplicar o conhecimento não é concebível à luz dos sistemas normais de organização de processos e muito menos em ações de proteção civil.

O processo formativo de todos os agentes do Sistema deve partir do princípio da melhoria contínua, que integra a avaliação da atividade por eles desenvolvida durante o ano.

Esta avaliação contínua não visa culpabilizar os agentes, mas permite identificar os erros, para que se aprenda com eles. O complexo de culpa inviabiliza a aprendizagem, pelo contrário, a análise e difusão das situações e operações, independentemente dos atores permite aprender, num processo contínuo de acumular e partilhar experiências.

A avaliação proactiva tem por objetivo a melhoria progressiva do sistema, garantindo a capacidade de este se adaptar às mudanças de contexto.

A avaliação deve ser feita de forma independente dos resultados obtidos. As decisões a avaliar são as que foram tomadas com base em determinadas premissas num momento em que se

13 DE OUTUBRO DE 2017 263

Página 264

5

desconhece o resultado dessas decisões. A avaliação das decisões deve pois ser feita tendo em consideração essas premissas e não partindo dos resultados obtidos.

A capacitação dos agentes através deste processo formativo deve ser institucionalizada.

As Universidades podem ajudar a construir o plano formativo dos agentes do sistema, podendo ser adaptadas a Portugal boas experiências formativas de outros países.

9. A gestão integrada das disponibilidades financeiras é essencial para o bom funcionamento, transparente, equilibrado e uno do Sistema de GIFR.

É essencial perceber com rigor o peso financeiro de cada pilar coordenador do Sistema, o peso do próprio Sistema e o retorno dos investimentos realizados em termos de proteção civil e florestal. A avaliação financeira do Sistema deve ser desenvolvida anualmente por entidade Supervisora.

É necessário atenuar a predominância acentuada de auto reforço dos investimentos (nacionais e europeus) na componente de “supressão”, tendendo para um equilíbrio entre as várias componentes com reforço da prevenção

O Orçamento de Estado deve especificar uma rúbrica para o Sistema de Gestão de Fogos Rurais no seu todo, que permita a sua validação e monitorização.

10. Normalização de competências:

Com o objetivo de facilitar a coordenação, num quadro interagências para a emergência, em

Grandes Incêndios Florestais (antes, durante e depois), as capacidades do pessoal que neles

participa devem ser padronizadas, independentemente da organização de que provenham, e da

classificação hierárquica que aí detenham. Isto cria capacidade de coordenação, pois

caracteriza-se capacidade e não hierarquia, que é atribuída ao nível de cada interveniente e não

da organização. Este princípio não se destina a criar um novo sistema de seleção e de formação

de pessoal, mas a suportar sistemas existentes e torná-los compatíveis entre si num cenário de

interagências, compatíveis com as necessidades da emergência, que abrangem da rotatividade

à reação, e desde a manobra à tática e à estratégia. Trata-se de substituir a adição de meios

com a capacidade de apagar chamas, pela montagem de dispositivos de intervenção

preparados, coordenados, treinados e eficientes para todas as funções que as emergências

dinâmicas dessa magnitude requerem.

A proposta não se baseia na definição da formação - horas, conteúdos, cursos - nem nas

posições que as organizações devem definir, mas na padronização do que o operador deve

saber e deve ser capaz de fazer - competências, conhecimento, aptidões - para ocupar posições

em incêndios florestais. É deixada às organizações a decisão sobre a forma de alcançar essas

capacidades - formação, práticas, experiência, exercícios - bem como quem pode alcançá-las

(seleção, locais de trabalho, classificações, hierarquias). Desta forma direcionam-se esforços

para utilizar os recursos de formação de pessoal de forma eficiente, proporcionando flexibilidade

às organizações, facilitando a mobilidade dos trabalhadores e dirigindo esforços para a

compatibilidade, progressão e excelência.

O esforço centra-se na definição do padrão comum do que o trabalhador sabe, é capaz de

fazer, sabe ser e estar, baseado em competências comuns. As competências são a

capacidade demonstrada de usar conhecimentos e aptidões, adotar procedimentos, bem

como atitudes e destrezas pessoais e sociais para o desenvolvimento profissional.

O foco do sistema passa das horas de formação reconhecidas em títulos, para o reconhecimento

formal das evidências dos resultados da aprendizagem. A capacitação é um processo

permanente de desenvolvimento de comportamentos e atitudes, talentos e conhecimento de

todos os intervenientes, não é apenas uma questão de escolas ou centros de formação, mas

integra processos de seleção e promoção verticais e horizontais, formação, qualificações,

práticas, exercícios e integração de experiências.

O Quadro Europeu de Qualificações (EQF) para a aprendizagem permanente enquadra esta

mudança de paradigma entre o que se recebe - formação - e o que se sabe - capacidade (Jornal

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 264

Página 265

6

Oficial da UE, 2008). Neste contexto, Portugal, como muitos outros países da UE, desenvolve

qualificações genéricas de bombeiro e de técnico de proteção civil.

Exemplos de modelos que integram competências para incêndios florestais:

- EUROFIRE. 2009. Eurofire Competency Standards. http://www.fire.uni-freiburg.de/eurofire/tc_cs_en.html

- CLIF, 2017. Estándares de competencias y extinción del director técnico de extinción. Ed. Ministerio de Agricultura, Pesca, Alimentación y Medio Ambiente. España..Link: http://www.mapama.gob.es/es/desarrollo-rural/temas/politica-forestal/2017_estandaresdte_nivelesa_b_c_tcm7-465315.PDF

- NATIONAL RURAL FIRE AUTHORITY NEW ZEALAND; 2007. Vegetation Fire Competency standards. http://www.nzqa.govt.nz/

- INFOCAT. 2015. Plà de Protecció Civil Català de IncendisForestals. Pla d’Actuació del Grupd´Intervenció.

- NATIONAL WILDFIRE COORDINATING GROUP: o Wildland Fire Qualification System Guide. PMS 310-1. (em actualização

permanente). https://www.nwcg.gov/publications/310-1 o Taskbooks para las posiciones del Incident Command System (em actulização

permanente). https://www.nwcg.gov/publications/position-taskbooks

Estrutura de competências

Não se recomenda desenvolver competências únicas para cada posição, mas procurar primeiro

as competências comuns, estruturando-as a partir daí. Também facilita o enquadramento de

competências comuns entre diferentes perfis, para agendar formação e treino comuns.

Uma possível estrutura não recolheria apenas as funções de operações, mas também as de

direção da intervenção, de coordenação de operações e de pessoal, e de gestão de informação,

chaves para reforçar ou recuperar a iniciativa em emergências que ameacem colapsar o sistema.

Nos distintos níveis da escala de comando estas funções desenvolvem-se de forma distinta.

Assim, com base em níveis e funções, constrói-se uma escala que ajuda a definir as unidades

mínimas de competência que se definirão.

Estas estruturas de competência permitem oferecer aos profissionais das organizações não

apenas a melhoria da qualificação profissional ao longo da vida, mas facilitam os planos de

promoção horizontal e vertical, seguindo itinerários formativos dentro de um plano de carreira.

13 DE OUTUBRO DE 2017 265

Página 266

7

Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5 6. 7.

OPERARIO ENCARREGADO CHEFE UNIDADE/GRUPO

CHEFE SECTOR

INTERVENÇÃO Dirigir intervenção nível 0

Dirigir intervenção nível 1

Dirigir intervenção nível 2

OPERAÇÕES Executa com ferramentas

Leva a cabo manobras simples

Organiza manobras complexas

Organiza táctica em sectores

ANALISE E PLANIFICAÇÃO

Observa e interpreta o comportamento do

fogo

Planifica manobras complexas

Planifica táctica no sector

EQUIPA E COMANDO

Colabora sob supervisão

Assume responsabilidades

em tarefas

Comanda uma unidade /

Coordena um grupo

Coordena o sector

LOGÍSTICA

COORDENAÇÃO E SUPORTE

Suporte desde centro de controlo

Suporte desde centro de comando

em PCO

Coordenação do suporte desde o

centro de comando

Quadro 11.1. Estrutura de competências, Combate. Matriz de competências em função da posição no dispositivo (horizontal) e da posição na emergência (vertical). Níveis de 1 a 8, estabelecidos no quadro europeu de qualificações. Explicitam-se os níveis 2 a 4 por serem os mais importantes ao nível de Ataque inicial (ATI) e de Ataque ampliado (ATA), sendo aqueles em que se tem que garantir desde o primeiro momento as competências de análise e planificação, entre outras. (Projeto europeu FP7, FireParadox, Miralles et al, 2013)

11. Comando e controlo tipo missão

Para adaptar-se a novos desafios, a riscos e cenários incertos, raros e evolutivos, com muita

informação redundante e interações complexas, devem ser tomadas muitas decisões de forma

rápida. Nesta situação, geram-se estrangulamentos na gestão da informação e nas decisões,

que podem pesar em toda a emergência e levar à perca do contacto com a realidade.

As estruturas de comando e controlo tradicionais, criadas em cenários de incêndios

rotineiros, nos quais o êxito depende de impor ordem e certeza no campo das operações,

fracassam. A excessiva centralização da informação e a autoridade paralisam o sistema.

A planificação centralizada expira.

Quando o êxito depende da capacidade para adaptar-se a um cenário complexo, caótico, instável

e incerto, que se altera constantemente, tem que se combinar uma intenção centralizada, com

uma execução descentralizada, subsidiária. A compreensão comum da situação permite que se

sincronizem as decisões tomadas pelos vários níveis de comandos intervenientes. É o comando

tipo missão, em que se facilita a iniciativa disciplinada dos subordinados, seguindo uma

intenção clara do comando. As linhas de comando, informação e administração separam-se.

A ênfase é colocada na separação entre a arte de comandar, e a ciência do controle. A primeira

é a liderança da resolução da emergência e o desenvolvimento permanente das equipes. A

segunda, coordenada pelo comando com a sua equipa e exercida em toda a estrutura, envolve

a regulação de forças e sistemas para cumprir a intenção do comando.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 266

Página 267

8

O comando tipo missão, adequado a este tipo de situações, requer trabalhar previamente a

confiança mútua, a tomada de decisão proactiva, a agilidade e adaptabilidade, e a coesão das

equipas.

Esta mudança de uma organização de comando e controle baseada em meios mais ou

menos formados, para uma estrutura de missão e controle com claras capacidades, é dos

desafios organizacionais mais importantes que temos que enfrentar para superar

situações como as verificadas em 17 de junho em Pedrógão Grande.

13 DE OUTUBRO DE 2017 267

Página 268

ANEXO 12. Lista de Abreviaturas e Acrónimos

AA – Área de Atuação

ADESA – Associação Desenvolvimento Regional da Serra do Açor

AFOCELCA – Agrupamento Complementar Empresas, Navigator e Altri

AGIF – Agência para a Gestão Integrada de Fogos

AHBV – Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários

ANPC – Autoridade Nacional de Proteção Civil

APC – Agentes de Proteção Civil

AROME – Modelo de Previsão Numérica do Tempo de Área Limitada

ATI – Ataque Inicial

ATA – Ataque Ampliado

BAL – Base de Apoio Logístico

BUI – Índice de Disponibilidade de Combustível

CADIS – Comandante Operacional de Agrupamento Distrital

CAS – Comandante de Assistência

CB – Corpo de Bombeiros

CCA – Conselho Consultivo e de Avaliação

CDOS – Comando Distrital de Operações de Socorro

CETAC – Centro Tático de Comando

CM – Câmaras Municipais

CMA – Centros de Meios Aéreos

CMDFCI – Comissão Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios

CNAF – Corpo Nacional de Agentes Florestais

CNOS – Comando Nacional de Operações de Socorro

CODIS – Comandante Operacional Distrital

CONAC – Comandante Operacional Nacional

COPAR – Coordenador de Operações Aéreas

COS – Comandante das Operações de Socorro

CPE – Coordenador Prevenção Estrutural

CPO – Comandante de Permanência às Operações

CTI – Comissão Técnica Independente

CTO – Comunicado Técnico Operacional

CVP – Cruz Vermelha Portuguesa

DC – Índice de Seca

DECIF – Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais

DFCI – Defesa da Floresta Contra Incêndios

DGAM – Direção-Geral da Autoridade Marítima

DIOPS – Dispositivo Integrado das Operações de Proteção e Socorro

DIPE – Dispositivo Integrado de Prevenção Estrutural

DMC – Humidade da Manta Morta

DON – Diretiva Operacional Nacional

EAE – Estado de Alerta Especial

ECIN – Equipa de Combate a Incêndios Florestais

EDP – Energias de Portugal

EIP – Equipa de Intervenção Permanente

EGF – Entidades de Gestão Florestal

EMGFA – Estado-Maior General das Forças Armadas

ENB – Escola Nacional de Bombeiros

ENF – Estratégia Nacional para as Florestas

EO – Estrutura Operacional

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 268

Página 269

EPCO – Equipa de Posto de Comando Operacional

ERAS – Equipa de Reconhecimento e Avaliação da Situação

ESF – Equipa de Sapadores Florestais

EUA – Estados Unidos da América

FEADER – Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural

FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

FFAA – Forças Armadas

FFDI – Índice de Perigo Meteorológico de Incêndio

FEB – Força Especial de Bombeiros

FFP – Fundo Florestal Permanente

FGC – Faixa Gestão de Combustível

FSE – Fundo Social Europeu

FWI – Forest fire Weather Index

GCIF – Grupo de Combate a Incêndios Florestais

GEFOCO – Grupo de Especialistas em Fogo Controlado

GFR – Gestão de Fogos Rurais

GIPE – Grupo de Intervenção Permanente

GIPS – Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro da GNR

GNR – Guarda Nacional Republicana

GRUATA – Grupo de Reforço para Ataque Ampliado

GRIF – Grupo de Reforço para Combate a Incêndios Florestais

GSM – Global System for Mobile Communications

GTF – Gabinete Técnico Florestal

HEATA – Helicópteros de Ataque Ampliado

HEATI – Helicópteros de Ataque Inicial

HESA – Helicóptero de Socorro e Assistência

ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas

IESE – Instituto Estudos Sociais Económicos

IF – Incêndio Florestal

IFN – Inventário Florestal Nacional

INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica

INESC TEC – Instituto Engenharia de Sistemas e Computadores-Tecnologia e Ciência

INOP – Inoperacional

INSTROP – Instrução operacional

IPG – Incêndio Pedrógão Grande

IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera

IPSS – Instituições Particulares de Solidariedade Social

ISA – Instituo Superior de Agronomia

ISI – Índice de Velocidade de Propagação do Fogo

LTE – Long Term Evolution

MAFDR – Ministério Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural

MAI – Ministra da Administração Interna/Ministério da Administração Interna

MARAC – Meios Aéreos de Reconhecimento, Avaliação e Coordenação

MPGC – Mosaico de Parcelas de Gestão de Combustível

NDVI – Normalized Difference Vegetation Índex

OCS – Órgãos de Comunicação Social

OPAR – Oficial de Operações Aéreas

OPTEL – Operador de Telecomunicações

PACIR – Proteção de Aglomerados Contra Incêndios Rurais

PCIR – Proteção Contra Incêndios Rurais

PCM – Presidência do Conselho de Ministros

PCO – Posto de Comando Operacional

13 DE OUTUBRO DE 2017 269

Página 270

PDR – Programa de Desenvolvimento Rural

PEIF – Plano Especifico Incêndio Florestal

PJ – Polícia Judiciária

PMA – Posto Médico Avançado

PMDFCI – Plano Municipal de Defesa Floresta Contra Incêndios

PNDFCI – Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios

PNGC – Plano Nacional Gestão de Combustíveis

PNGIFR – Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais

PNSF – Plano Nacional Sapadores Florestais

POM – Plano Operacional Municipal

POSEUR – Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso Recursos

POSIT – Ponto de Situação

PROF – Plano Regional de Ordenamento Florestal

PSP – Polícia de Segurança Pública

RCDM – Relatório de Controlo Diário de Missão

RDFCI – Rede Defesa Floresta Contra Incêndios

REN – Redes Energéticas Nacionais

RJAAR – Regime Jurídico aplicável às Ações de Arborização e Rearborização

RNAP – Rede Nacional de Áreas Protegidas

RNPV – Rede Nacional de Postos de Vigia

ROB – Rede Operacional dos Bombeiros

RVM – Rede Viária Municipal

SADO – Sistema de Apoio à Decisão Operacional

SBV – Suporte Básico de Vida

SDFCI – Sistema de Defesa da Floresta Contra Incêndios

SEPNA – Serviço Proteção da Natureza e Ambiente

SE – Sua Excelência

SF – Sapadores Florestais

SGIFR – Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais

SGIF – Sistema de Gestão de Informação de Fogos Florestais

SGO – Sistema de Gestão de Operações

SIOPS – Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro

SMS – Short Message Service

SIRESP – Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal

SIV – Suporte Imediato de Vida

SMPC – Serviço Municipal de Proteção Civil

TETRA – Terrestrial Trunked Rádio

TO – Teatro de Operações

UNIPE – Unidade Intervenção de Psicologia de Emergência

VC3 – Veículo de Comando, Controlo e Comunicações

VFCI – Veículo Florestal de Combate a Incêndios

VCOC – Veículo de Comando e Comunicações

VCOT – Veículo de Comando Tático

VMER – Veículo Médico de Emergência e Reanimação

VPCC – Veículo de Planeamento, Comando e Comunicações

ZA – Zona de Apoio

ZCR – Zona de Concentração e Reserva

ZIF – Zona de Intervenção Florestal

ZPA – Zona de Proteção dos Aglomerados

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 270

Página 271

ANEXO 13.Referências bibliográficas

ABATZOGLOU, J.T., WILLIAMS, A.P. (2016). “Impact of anthropogenic climate change on

wildfire across western US forests”.Proceedings of the National Academy of Sciences,

113.42, 11770-11775.

ALEXANDER, M.E., & CRUZ, M.G (2017).Analysis of crowning potential associated with the

2017 Pedrogão Grande Fire in Portugal. Relatório para a Comissão Técnica Independente.

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA (2015). Grupo de Trabalho Para Análise da Problemática dos

Incêndios Florestais, Relatório Final, 286 pp.

BARROS, A., BORGES, J., BOTEQUIM, B., CLARO, J., COLLINS, R., de NEUFVILLE, R.,

FERNANDES, P., FORNÉS, H., LOUREIRO, C., MARQUES, A., MELO, I., MIRRA, I.,

OLIVEIRA, T., PACHECO, A. & PEREIRA, J. (2014). FIRE-ENGINE, from empirical studies

to system design and policy – a cohesive tool set: application to the municipalities of

Gondomar, Penafiel, Valongo, Mafra, Torres Vedras, and Odemira. INESC-Porto.

BARROS, A.M.G., PEREIRA, J.M.C. & LUND, U.J. (2012). “Identifying geographical patterns

of wildfire orientation: A watershed-based analysis”.Forest Ecology and Management, 2012,

264, 98-107.

BEAVER, A. (2017).Technical report - FFDI for Portugal firestorm June 2017.

BEIGHLEY, M., & A. C. HYDE. Systemic Risk and Portugal’s Forest Fire Defense Strategy

An Assessment of Wildfire Management and Response Capability. A Report Submitted to

Grupo PortucelSoporcel. Beighley Consulting, September 2009

BEIGHLEY, M., QUESINBERRY, M. (2004).USA—Portugal wildland fire technical exchange

project—final report.USDA Forest Service.

BOTELHO, H., LOUREIRO, C., FERNANDES, P.(2008). Avaliação do desempenho do

ataque ampliado a incêndios florestais – relatório final. Vila Real, Protocolo ANPC/UTAD.

BYRAM, G.M. (1954). Atmospheric conditions related to blowup fires. Station Paper SE-SP-

35.Asheville, NC, USDA-Forest Service, Southeastern Forest Experiment Station, 36 pp.

CASTELLNOU, M., ÁLVAREZ, R., ALMODOVAR, J., MARTINS, F.M., CRISTOBAL, P.,

ALFONSO, L., BASILE, G. (2017). Situación de incendios forestales en Chile entre Enero-

Febrero 2017. TechnicalReportMision en la República de Chile. European Civil

ProtectionMechanism. DGECHO.

COEN, J, (2017). (Sem título). Relatório para a Comissão Técnica Independente.

COLLINS, R. D., DE NEUFVILLE, R., CLARO, J., OLIVEIRA, T. & PACHECO, A.P. (2013).

“Forest fire management to avoid unintended consequences: A case study of Portugal using

system dynamics”. Journal of Environmental Management, 130, 1-9.

COTEC. Benchmarking de Sistemas de prevenção e Combate a Incêndios florestais.

Iniciativa COTEC sobre incêndios florestais, Dezembro 2004.

DGRF (2007). Estratégia Nacional para as Florestas. Direcção-Geral dos Recursos

Florestais. Lisboa, Imprensa Nacional da Casa da Moeda, 219 pp.

EUROPEAN COMMISSION - Joint Research Centre (2004).Forest Fires in Europe 2003 fire

campaign – Report n.º 4. European Communities, 52 pp.

13 DE OUTUBRO DE 2017 271

Página 272

Experiencia chilena em Portugal 2002. 5 pág. Sem data. Não publicado

FERNANDES, P.M. (2008). “Desempenho do sistema de DFCI em Portugal Continental nos

períodos de 2001-2005 e 2006-2008”. In: SILVA, J.S., DEUS, E. & SALDANHA, L. (Eds.).

Incêndios Florestais: 5 Anos Após 2003, LPN/AFN, 139-147.

FERNANDES, P.M. (2009). “Combining forest structure data and fuel modelling to assess fire

hazard in Portugal”.Annals of Forest Science, 66, 4, 415p1-415p9.

FERNANDES, P.M., BARROS, A.G., PINTO, A., & SANTOS, J.A. (2016).“Characteristics and

controls of extremely large wildfires in the western Mediterranean Basin”.Journal of

Geophysical Research: Biogeosciences,121, 2141–2157.

FERNANDES, P.M., LOUREIRO, C., MAGALHÃES, M., FERREIRA, P., & FERNANDES, M.

(2012). “Fuel age, weather and burn probability in Portugal”.International Journal of Wildland

Fire, 21, 380-384.

FERNANDES, P.M., MONTEIRO-HENRIQUES, T., GUIOMAR, N., LOUREIRO, C. &

BARROS, A.G. (2016). “Bottom-up variables govern large-fire size in Portugal”. Ecosystems,

19, 1362-1375.

FERNANDES, P.M., PACHECO, A.P., ALMEIDA, R., CLARO, J. (2016). “The role of fire

suppression force in limiting the spread of extremely large forest fires in Portugal”. European

Journal of Forest Research, 135, 253-262.

FROMM, M., LINDSEY, D.T., SERVRANCKX, R., YUE, G., TRICKL, T., SICA, R., DOUCET,

P., GODIN-BEEKMANN, S. (2010).“The untold story of pyrocumulonimbus”.Bulletin of the

American Meteorological Society, 91,9, 1193-1209.

FUNDAÇÃO LUSO AMERICANA. Prevenção, deteção e combate de fogos florestais. Vários.

Lisboa, Março 2005.

GOENS, D.W., ANDREWS, P.L. (1998). Weather and fire behavior factors related to the

1990 Dude Fire near Payson, AZ. NWCG Wildland Fire Leadership Development Program.

HARRIS, S., ANDERSON, W., KILINK, M., & FOGARTY, L. (2011).Establishing a link

between the power of fire and community loss: The first step towards developing a bushfire

severity scale. Fire and Adaptive Management Report Series No 89, Melbourne, Department

of Sustainability and Environment, Victorian Government.

IESE (2014) Avaliação Intercalar do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios

(2006-2012), Relatório Final. ICNF, 191 pp.

INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA. Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra

Incêndios. Lisboa 2005

IPMA (2017a). Boletim climatológico sazonal – primavera de 2017. Divisão de Clima e

Alterações Climáticas, Lisboa.

IPMA (2017b). Boletim climatológico - junho 2017. Divisão de Clima e Alterações Climáticas,

Lisboa.

IPMA (2017c). Relatório – condições meteorológicas associadas ao incêndio de Pedrogão

Grande de 17 Junho 2017. Departamento de Meteorologia e Geofísica, Lisboa.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 272

Página 273

IPMA (2017d). Relatório – Análise detalhada da evolução da pluma de incêndio, incêndio de

Pedrogão Grande. Lisboa.

JOHNSON, R.H., SCHUMACHER, R.S., RUPPERT JR, J.H., LINDSEY, D.T., RUTHFORD,

J.E. & KRIEDERMAN, L. (2014). “The role of convective outflow in the Waldo Canyon

fire”.Monthly Weather Review, 142, 9, 3061-3080.

KERR, J.W., BUCK, C.C., CLINE, W.E., MARTIN, S. & Nelson, W.D. (1971).Nuclear

weapons effects in a forest environment - thermal and fire. Report DASIAC-SR-112). General

Electric Company. Santa Barbara: Department of Defense Nuclear Information and Analysis

Center.

LANG, T.J., RUTLEDGE, S.A., DoLAN, B., KREHBIEL, P., RISON, W. & Lindsey, D.T.

(2014). “Lightning in wildfire smoke plumes observed in Colorado during summer 2012”.

Monthly Weather Review, 142, 2, 489-507.

LAREAU, N.P. & CLEMENTS, C.B. (2016).Environmental controls on pyrocumulus and

pyrocumulonimbus initiation and development. Atmospheric Chemistry and Physics, 16, 6,

4005.

LIGA PARA A PROTEÇÃO DA NATUREZA. Incêndios Florestais, 5 anos após 2003.

Coimbra, Outubro 2008

MATEUS (2015). Incêndios Florestais em Portugal: dinâmicas e políticas. Dissertação de

Mestrado em Engenharia Florestal. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 92 pp.

MATEUS, P. & FERNANDES, P.M. (2014). “Forest fires in Portugal: dynamics, causes and

policies”. In: REBOREDO, F. (Ed.).Forest Context and Policies in Portugal, Present and

Future Challenges.New York, Springer, 97-115.

MILLS, G. & MCCAW, L. (2010).Atmospheric stability environments and fire weather in

Australia—Extending the Haines Index. CAWCR Tech. Rep. 20. Melbourne: Bureau of

Meteorology.

NOBLE, I.R., GILL, A.M., BARY, G.A.V. (1980). McArthur's fire‐danger meters expressed as

equations. Austral Ecology, 5, 2: 201-203.

OLIVEIRA, S.L.J., PEREIRA, J.M.C., & CARREIRAS, J.M.B. (2012). “Fire frequency analysis

in Portugal (1975–2005), using Landsat-based burnt area maps”.International Journal of

Wildland Fire, 21, 1, 48-60.

PINTO, A., FERNANDES, P.M., & LOUREIRO (2014).Guia de fogo controlado em eucaliptal.

Vila Real GIFF SA / UTAD.

PLUCINSKI, M.P., SULLIVAN, A.L., Rucinski, C.J., & Prakash, M. (2017). “Improving the

reliability and utility of operational bushfire behaviour predictions in Australian

vegetation”.Environmental Modelling & Software, 91, 1-12.

POTTER, B.E. (2017). PedrógãoGrandeFireReport.USDA Forest Service, AirFire Team,

Pacific Northwest Research Station, Seattle, WA.7 pp.

ROTHERMEL, R. (1991). Predicting the behavior and size of crown fires in the northern

Rocky Mountains.USDA Forest Service, Intermountain Research Station, Research Paper

INT-438, 46 pp.

13 DE OUTUBRO DE 2017 273

Página 274

RYAN K. C. (1982). Techniques for assessing fire damage to trees. Intermountain Fire

Council and Rocky Mountain Fire Council Proceedings. USDA Forest Service Intermountain

Forest and Experiment Station: Jackson WY, pp. 1-11.

SALGUEIRO, A. The Portugueses Nacional Programme on Supression Fire: GAUF Team

Actions. In Best Practices of Fire Use – Prescribed Burning and Suppression Fire

Programmes in Selected Case-Study Regions in Europe. European Forest Institute. 2011

THURSTON, W., TORY, K.J., FAWCETT, R.J. & KEPERT, J.D. (2015).Large-eddy

simulations of pyro-convection and its sensitivity to environmental conditions. In: Research

proceedings for the Bushfire and Natural Hazards CRC & AFAC conference, Adelaide.

TRIBUNAL DE CONTAS. Auditoria orientada Às transferências financeiras da autoridade

nacional de proteção civil para as associações humanitárias de bombeiros no ano de 2013.

Relatório nº 1/2016 – 2ª S. Processo nº 4/2015-AUDIT.

UTAD/ANPC. Avaliação do Desempenho do Ataque Ampliado a Incêndios Florestais. Vila

Real, Janeiro 2008

WAKIMOTO, R.M. (1985). Forecasting dry microburst activity over the high plains.Monthly

Weather Review, 113.7, 1131-1143.

WENDELL, G.W., STOREY, T.G. Y Byram, G.M. (1962). Forest fuels on organic and

associated soils in the Coastal Plain of North Carolina. Station Paper 144. Asheville, NC:

USDA Forest Service, Southeastern Forest Experiment Station.

WERTH, P.A., POTTER, B.E., ALEXANDER, M.E., CLEMENTS, C.B., CRUZ, M.G., FINNEY,

M.A., FORTHOFER, J.M., GOODRICK, S.L., HOFFMAN, C., JOLLY, W.M., MCALLISTER,

S.S., OTTMAR, R.D. & PARSONS, R.A. (2016). Synthesis of knowledge of extreme fire

behavior: volume 2 for fire behavior specialists, researchers, and meteorologists. Gen. Tech.

Rep. PNW-GTR-891. Portland, OR: USDA Forest Service, Pacific Northwest Research

Station. 258 pp.

WESTERLING, A.L. (2016). “Increasing western US forest wildfire activity: sensitivity to

changes in the timing of spring”.Philosophical Transactions of the Royal Society B, 371.1696,

20150178.

Textos legais e outros documentos oficiais

Lei nº 49-A/2017, de 10 de julho, cria a Comissão Técnica Independente;

Lei n.º 27/2006, de 3 de julho – Lei de Bases da Proteção Civil (LBPC) com as alterações

introduzidas pela Leis Orgânica n.º1/2011, de 30 de novembro e pela Lei n.º 80/2015, de 3

de agosto;

Lei n.º 65/2007, de 12 de novembro com as alterações introduzidas pelo Decreto-lei n.º

114/2011, de 30 de novembro – Organização da Proteção Civil Municipal;

Lei n.º 53/2008, de 29 de agosto, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 59/2015, de 24

de junho – Lei de Segurança Interna;

Resolução de Conselho de Ministros n.º 65/2006, de 26 de maio – Plano Nacional de Defesa

da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI);

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 274

Página 275

Resolução de Conselho de Ministros n.º 87/2013, de 11 de dezembro – Aprova o Plano

Nacional de Emergência de Proteção Civil;

Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de junho, com as alterações introduzidas pelos Decretos-Lei

n.º 17/2009, de 14 de janeiro, n.º 114/2011, de 30 de novembro e n.º 83/2014, de 23 de maio

– Sistema de Defesa da Floresta Contra Incêndios (SDFCI);

Decreto-Lei n.º 134/2006, de 25 de julho – Sistema Integrado de Operações de Proteção e

Socorro (SIOPS), com as alterações introduzidas pelos Decretos-Lei n.º 144/2011, de 30 de

novembro e n.º 72/2013, de 31 de maio;

Decreto-Lei n.º 73/2013, de 31 de maio – Lei Orgânica da Autoridade Nacional Proteção Civil

(ANPC), com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 163/2014, de 31 de outubro;

Decreto-Lei n.º 241/2007, de 21 de junho – Regime Jurídico dos Bombeiros Portugueses,

com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 249/2012, de 21 de novembro;

Decreto-Lei n.º 247/2007, de 27 de junho – Regime Jurídico dos Corpos de Bombeiros (CB)

com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 248/2012, de 21 de novembro;

Decreto-Lei n.º 109/2009, de 15 de maio – Regime Jurídico aplicável à criação e

funcionamento das Equipas de Sapadores Florestais (ESF);

Portaria n.º 1358/2007, de 15 de outubro, alterada pela Portaria n.º 75/2011 – Equipas de

Intervenção Permanentes (EIP);

Portaria nº 302/2008, 18 de Abril, aprova anualmente uma Diretiva Operacional Nacional;

Portaria n.º 35/2009, de 16 de Janeiro – Define o Dispositivo Integrado de Prevenção

Estrutural (DIPE) da Autoridade Florestal Nacional (AFN);

Declaração da Comissão Nacional de Proteção Civil (CNPC) n.º 97/2007, de 6 de fevereiro –

Estado de Alerta para as organizações integrantes do SIOPS;

Declaração da CNPC n.º 344/2008, de 2 de setembro – Regulamento de Funcionamento dos

Centros de Coordenação Operacional (CCO);

Despacho do Secretário de Estado da Proteção Civil (SEPC) n.º 22396/2007, de 6 de agosto

– Criação da Força Especial de Bombeiros (FEB);

Despacho do Presidente da ANPC n.º 19734/2009, de 31 de julho – Organização e

Funcionamento da FEB;

Despacho do Presidente da ANPC n.º 3551/2015, de 13 de janeiro, publicado no DR, 2ª

série, nº 69 de 9 de abril – Estabelece o desenvolvimento, a simbologia e as ferramentas do

sistema de gestão de operações;

Diretiva Operacional Nacional da ANPC n.º 1 – Dispositivo Integrado das Operações de

Proteção e Socorro;

Diretiva Operacional Nacional da ANPC nº 02 – Dispositivo Especial de Combate a Incêndios

2017;

Normas de Execução Permanente (NEP) da ANPC;

Normas Operacionais Permanentes (NOP) do Comando Nacional de Operações de Socorro

(CNOS) da ANPC;

Instruções Operacionais do CNOS/ANPC;

Comunicados Técnicos Operacionais do CNOS/ANPC;

Relatório da ANPC de 06 de julho de 2017 ao incêndio de Pedrógão Grande remetido à MAI;

13 DE OUTUBRO DE 2017 275

Página 276

Relatório da ANPC de 07 de agosto de 2017 de resposta à MAI;

Relatórios da ANPC de controlo de missão diário dos meios aéreos em 2017;

Ocorrências dos incêndios através do SADO–Sistema de Apoio à Decisão Operacional da

ANPC.

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 276

Página 277

RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE

187

APÊNDICES

13 DE OUTUBRO DE 2017 277

Página 278

Página 279

1/13

COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE - NOTA PRÉVIA

EM 22 DE JULHO UM APONTAMENTO ACERCA DOS ACONTECIMENTOS

1. MISSÃO E ATRIBUIÇÕES DA COMISSÃO

A Comissão Técnica Independente tem por missão proceder a uma avaliação

independente em relação aos incêndios florestais ocorridos nos concelhos de

Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Ansião Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos,

Arganil, Góis, Penela, Pampilhosa da Serra, Oleiros e Sertã entre 17 e 24 de Junho

de 2017.

Para o desempenho da sua missão, são conferidas à Comissão as seguintes

atribuições:

a) Analisar e avaliar todas as origens, características e dinâmicas dos incêndios

referidos, incluindo os que se prendem com o ordenamento florestal na área

afetada e as respostas nos planos preventivo e do combate operacional, bem

como emitir as conclusões e as recomendações entendidas pertinentes para

aplicação futura;

b) Analisar e avaliar a atuação de todas as entidades do sistema de proteção

civil e do dispositivo de combate a incêndios, dos sistemas de comunicação e

informações e de serviços públicos relevantes, nomeadamente de

infraestruturas de transportes, de cuidados de saúde, de meteorologia, de

forças de segurança e órgãos de polícia, incluindo ações e omissões e a

coordenação entre elas, nos dias imediatamente anteriores e no período

desde o início dos incêndios referidos e até à sua extinção.

2. COMENTÁRIOS GERAIS

Delimitando os comentários à área que se conhece, e de um ponto de vista mais

geral deverão ser abordados pelo menos os seguintes aspetos: a. Do ponto de

vista da preparação/prevenção

Contribuir para coligir dados essenciais para se responder ao que está

sublinhado no texto.

13 DE OUTUBRO DE 2017 279

Página 280

2/13

Analisar e avaliar todas as origens, características e dinâmicas dos incêndios

referidos, incluindo os que se prendem com o ordenamento florestal na área

afetada e as respostas nos planos preventivo e do combate operacional, bem

como emitir as conclusões e as recomendações entendidas pertinentes para

aplicação futura.

Por detrás do que é a visibilidade e o mediatismo da prestação do socorro está um

enorme trabalho invisível, completo, ingrato, difícil, mas fundamental de

preparação/prevenção.

Este trabalho inclui, entre outros aspetos:

- identificação dos riscos a nível nacional, regional e local;

- estabelecimento de planos para fazer face a esses riscos, aos diversos níveis;

- treino da aplicação desses planos com os diferentes agentes previsivelmente

intervenientes;

- sensibilização das populações e sua preparação para agir caso esses riscos se

concretizem;

- envolvimento de entidades internacionais em exercícios mais alargados para

simulação e preparação de situações mais graves.

(1) O patamar municipal da Proteção Civil

A Lei de Bases de Proteção Civil – Lei 27/2006 de 3 de Julho, alterada e

republicada pela Lei 80/2015 de 3 de Agosto – assenta vários princípios um dos

quais é o princípio da subsidiariedade: ou seja, o patamar superior só

acuta/intervém quando estão esgotadas as possibilidades do patamar inferior.

Ou seja, o primeiro patamar da proteção civil é o nível municipal. O presidente

da Câmara Municipal é, nos termos da lei, o responsável pela proteção civil

municipal (o enquadramento institucional e operacional da Proteção Civil

Municipal é regulado pela Lei 65/2007 de 12 de Novembro).

Por isso, e porque uma ocorrência antes de ser nacional foi certamente local e

depois distrital, importará ter uma noção do que foi efetuado, pelos diferentes

patamares da Proteção Civil, do ponto de vista de

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 280

Página 281

3/13

preparação/prevenção/precaução em geral e preparação/prevenção em

concreto para fazer face à situação em análise.

Importa neste caso concreto ter claro se foi identificado e difundido com

antecedência, da existência de um período alargado de temperaturas muito

elevadas e de humidades muito baixas, fora do período de maior existência de

meios de combate disponíveis (humanos e materiais), numa altura em que seria

expectável um movimento de massas para as praias e posterior regresso das

mesmas (fim de semana).

Neste domínio identificam-se assim, desde já, os seguintes aspectos a

considerar para todos os municípios da área abrangida pelas ocorrências em

análise:

- Como está organizada a Proteção Civil a nível municipal?

- De que recursos dispõe? Características e qualificações dos seus recursos

humanos.

- Que catividades desenvolve o Serviço Municipal de Proteção Civil (SMPC)?

- Como se relaciona com os Agentes de Proteção Civil existentes no concelho?

- Como se relaciona com o patamar distrital da Proteção Civil (ANPC)?

- Existe levantamento dos riscos a nível municipal e distrital?

- Existe um Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil em vigor? Que

refere?

- Que atividades de prevenção/sensibilização são desenvolvidas junto dos

munícipes, atendendo a que se trata de zonas com elevado risco de ocorrência

de incêndios florestais?

- Quais os Corpos de Bombeiros na área do Município e quais as suas

capacidades, em especial face aos riscos identificados para o Concelho?

Ou seja saber se:

O patamar municipal da Proteção Civil (SMPC) está devidamente organizado.

Existe uma estrutura e recursos adequados e se o serviço tem missão,

objetivos e atividade.

Os riscos do concelho estão identificados e são objeto de “trabalho” junto

dos Agentes de Proteção Civil e das populações.

13 DE OUTUBRO DE 2017 281

Página 282

4/13

Existe uma informação e sensibilização das populações para os diferentes riscos

do concelho? (o que cada um deve fazer em caso de …).

Se as capacidades e recursos dos Corpos de Bombeiros do Município são

adequadas em face dos riscos identificados.

Ainda no âmbito da preparação importa, para o caso concreto dos incêndios em

causa, saber quais as medidas em concreto é que foram adotadas pelo patamar

municipal em face dos avisos e alertas do IPMA e da ANPC relativamente ao

período de condições meteorológicas adversas que se aproximava:

- Quando receberam a informação do IPMA?

- Quando receberam informação da ANPC (Nacional ou Distrital) e que

informação?

- Prontidão dos Serviços Municipais de Proteção Civil?

- Que informação e conselhos foram dados à população?

- Houve aumento do efetivo de prevenção nos Corpos de Bombeiros?

- Aumento da prontidão de pessoal para reforço em caso de necessidade?

- Que informação ou articulação foi feita com os demais agentes de proteção

civil existentes ao nível municipal?

- entre outras.

(2) Os patamares distrital, supradistrital e nacional da proteção civil

Atenta a aplicação do princípio da subsidiariedade, uma ocorrência é

sucessivamente tratada aos níveis indicados conforme as por ela exigidas.

Importa por isso que se perceba, do ponto de vista preventivo, como estão

articulados normalmente os patamares distritais e a sua relação com os Serviços

Municipais de Proteção Civil, ou seja, como se relacionam no dia-a-dia e numa

situação normal ou numa qualquer ocorrência, genérica.

Esta informação é relevante para perceber a relação entre o patamar municipal

e o patamar distrital na área geográfica em causa.

Da mesma forma, importa perceber as relações do patamar distrital para “cima”

no que respeita à decisão, difusão e adoção de medidas preventivas. O

patamar supradistrital ainda que existindo em lei, terá sido (?) eliminado pelo

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 282

Página 283

5/13

atual responsável pela ANPC. Assim, ao que parece, não existiam Comandantes

de Agrupamento Distrital em funções.

Isto significa que à data – como hoje – os dezoito Comandantes Distritais de

Operações de Socorro (CODIS), relacionavam-se diretamente com o

Comandante Nacional de Operações de Socorro, incluindo para o

balanceamento de meios, que deixou assim de ter um primeiro patamar de

articulação ao nível dos Agrupamentos de Distrito.

Há por isso que perceber como foram redefinidas as relações e articulações

entre os patamares distrital e nacional nomeadamente na circulação da

informação, e na adoção de medidas de caracter preventivo ou preparatório.

Havendo uma alteração “de facto” da estrutura houveram necessariamente

alterações de processos e de procedimentos face ao que eram os praticados até

à data, importando verificar/avaliar os impactos dessas alterações, efetuadas a

pouco tempo das fases de maior risco do Dispositivo Especial de Combate a

Incêndios Florestais.

Importa ainda perceber, para a situação em concreto, as medidas que foram

tomadas, em face da informação prestada pelo IMPA (na semana da ocorrência)

relativamente às condições meteorológicas adversas que se avizinhavam:

- Quando foi fornecida informação pelo IPMA;

- Qual o conteúdo dessa informação;

- Qual a decisão operacional tomada em sede de Centro Coordenador

Operacional Nacional (CCON) que reúne todas as 3ªs feiras de manhã e é

presidido pelo Presidente da ANPC:

- quanto ao nível de alerta para as diferentes zonas do país;

- quanto à eventual mobilização de meios de intervenção e se pré- -

posicionamento mais perto de áreas em maior risco de incêndios;

- quanto a uma maior articulação com o IPMA para permanente acesso a

informação meteorológica relevante e atualizada;

- quanto aos meios aéreos disponíveis no dispositivo;

13 DE OUTUBRO DE 2017 283

Página 284

6/13

- quanto a outros agentes de proteção civil, nomeadamente Forças de

Segurança, Instituto da Conservação da Natureza e Florestas e Forças

Armadas;

- Quais as decisões operacionais do Centro Coordenador Operacional

Distrital (CCDO) (que reúne habitualmente às quartas-feiras) em face das

informações recebidas e das decisões do CCON?

- Quais as informações e determinações comunicadas ao patamar

municipal (SMPC) e aos Corpos de Bombeiros da área em causa e quando

foram essas indicações transmitidas.

Como elemento adicional importante como referência desta matéria importa

considerar e analisar a Diretiva Operacional Nacional (DON) nº. 2 – Dispositivo

Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) que apresenta o dispositivo

em cada uma das fases e define um alargado conjunto de procedimentos.

(3) Conclusão

a. Nestes domínios do planeamento, preparação, prevenção e precaução

importa identificar o que tem vindo a ser feito nos diferentes patamares da

proteção civil, com especial relevância para o patamar municipal pelo papel

muito relevante que tem nesta matéria, pela proximidade com as

populações e com o conhecimento em concreto das realidades locais. Para

além das atividades gerais pretende-se também saber, em concreto, o que

foi efetuado em termos de preparação para a situação oportunamente

identificada e comunicada pelo IPMA.

b. Do ponto de vista do combate

Contribuir para coligir dados essenciais para se responder ao que está

sublinhado.

Analisar e avaliar todas as origens, características e dinâmicas dos

incêndios referidos, incluindo os que se prendem com o ordenamento

florestal área afetada e as respostas nos planos preventivo e do

combate operacional, bem como emitir as conclusões e as

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 284

Página 285

7/13

recomendações entendidas pertinentes para aplicação futura; Analisar

e avaliar a atuação de todas as entidades do sistema de proteção civil

e do dispositivo de combate a incêndios, dos sistemas de

comunicação e informações e de serviços públicos relevantes,

nomeadamente de infraestruturas de transportes, de cuidados de

saúde, de meteorologia, de forças de segurança e órgãos de polícia,

incluindo ações e omissões e a coordenação entre elas, nos dias

imediatamente anteriores e no período desde o início dos incêndios

referidos e até à sua extinção.

O horizonte temporal em causa é muito alargado, parecendo que o período

mais relevante para análise do que correu mal será o período entre 3ª. feira

antes do incêndio – onde terão que ser analisadas com muita atenção as

medidas preventivas e precautelares adotadas face a um risco muito

grande que estava identificado – e a meia-noite do primeiro dia do incêndio.

Salvo melhor opinião, o problema esteve neste período, onde deveria ter

sido possível:

- identificar o início do incêndio e combatê-lo com um ataque inicial muito

musculado, atendendo à zona onde o mesmo se desenvolvia, por demais

conhecida dos bombeiros em termos de risco potencial;

Para tal seria necessário ter disponíveis forças de intervenção operacional

(pré-posicionadas) com elevada disponibilidade e prazos de intervenção

curtos;

- avaliar e identificar o potencial de propagação do incêndio definindo desde

logo itinerários a “esvaziar” e a encerrar;

Para tal seria importante o conhecimento do terreno e das suas

características, informação das condições meteorológicas no momento e

previsões locais no curto prazo e informação do terreno a partir de

operacionais ou de reconhecimentos a efetuar ao mesmo (terrestre ou

aéreo).

13 DE OUTUBRO DE 2017 285

Página 286

8/13

Seria ainda importante ter ligação com as forças de segurança para a

implementação da delimitação da zona do sinistro impedindo entradas na

mesma por parte da população;

- informar as populações dos aglomerados em risco potencial sobre as

medidas de autoproteção pessoal a adotar para a eventualidade de

aproximação do fogo.

Para tal as populações destes aglomerados deveriam saber o que fazer,

genericamente, em caso de ocorrência de um incêndio que os pudesse

afetar, medida de prevenção essencial numa zona de população muito

envelhecida e isolada, face a uma ameaça com uma probabilidade de

ocorrência elevada e de se tornar uma ocorrência muito perigosa ainda mais

elevada. É (devia ser) claro para todos que no caso de uma ocorrência grave,

num primeiro momento é variável de acordo com vários fatores mas pode

ser de minutos ou de horas. E as populações têm que ter uma informação

básica sobre o que fazer para não tomar as opções erradas. Esta seria uma

responsabilidade objetiva do patamar municipal, como referido atrás:

- informar as pessoas que estavam nas zonas de lazer existentes na área de

risco e orientá-las nas opções a tomar.

Conhecendo as características da zona, o tratar-se de um fim-de-semana,

em fim de época escolar, e sendo a previsão das condições meteorológicas

conhecida, não seria difícil prever um enorme afluxo e concentração de

pessoas (da zona e não só) em determinados locais. Por isso deveria ter sido

dada atenção à prestação de informação a essas pessoas orientando-as nas

opções a tomar (saírem ou esperarem).

Tendo sempre por base o primado da preservação da vida humana face à

perda do património. Mas as vítimas humanas, o que importa evitar a todo

o custo, só poderiam ter sido evitadas com medidas adotadas no intervalo

de tempo atrás identificado.

(1) A ANPC: Organização e pessoal antes e depois da implementação da nova

filosofia

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 286

Página 287

9/13

Atendendo às alterações que a estrutura operacional parece ter sofrido, importa

identificar essa estrutura real e as pessoas que nela servem (caracterizando as

pessoas a sua experiência, desde quando desempenham as funções, e qual a

função que desempenhavam antes de virem para a ANPC, pois poderiam já estar

ligados à emergência e socorro).

O desaparecimento do patamar supramunicipal terá tido certamente

consequências na organização do Comando Nacional, nomeadamente ao nível

dos Adjuntos e eventualmente da chefia das células. E por isso terá também tido

consequências ao nível dos procedimentos.

Algumas questões a ponderar:

- Quem é quem na ANPC à data do incêndio, incluindo data do início de funções

e experiência neste domínio?

- Se adequado, quem esteve anteriormente em funções, desde quando e a sua

experiência neste domínio?

- Como está organizado na prática o CNOS e como é feita a articulação com os

18 CDOS?

- Quais as alterações de procedimentos que entretanto tiveram lugar?

(2) Preparação para o “Com bate”

Importará ainda identificar se ocorreram alterações nos procedimentos e nas

orientações operacionais relativamente à experiência de anos anteriores, quem

foi abrangido por essa alteração e que medidas de preparação/treino foram

adotadas. Existindo rotinas assumidas de anos anteriores, importa verificar se

as alterações orgânicas e de pessoas tiveram como consequência a alteração de

procedimentos com impactos no desempenho operacional.

- Quais as ações de formação e treino operacional realizadas para preparação

para o DECIF 2017 pelos diferentes agentes de proteção civil?

- Houve diferenças face ao ano anterior de:

- tipo de formação/treino operacional;

- treino de comunicações; - procedimentos operacionais;

13 DE OUTUBRO DE 2017 287

Página 288

10/13

- organização de postos de comando.

Em caso afirmativo importará caracterizar essas alterações.

Esta informação deverá ser recolhida em todos os níveis operacionais (do

Comando Nacional aos Corpos de Bombeiros) para se verificar se existe uma

perceção única destas questões nos diversos patamares operacionais.

(3) Os Agentes de Proteção Civil no período que antecedeu as ocorrências

Importa perceber como se comportaram todos os patamares da Proteção Civil e

seus agentes nos dias que antecederam a ocorrência e desde que foi difundida

pelo IPMA a informação da previsão de um período de condições

meteorológicas adversas.

O que foi concretizado:

- sensibilização do pessoal?

- aumento da prontidão do seu pessoal?

- maior número de elementos imediatamente disponível?

- maior prontidão/disponibilidade de meios?

- outras medidas de aumento da prontidão de meios de intervenção?

Estas questões poderão ser aplicadas aos corpos de bombeiros, aos serviços de

proteção civil, às forças de segurança, e todos os demais intervenientes no

combate aos incêndios, integrantes do DECIF 2017.

(4) O Combate e a Coordenação

Aqui terá que ser analisada a fita do tempo do Sistema de Apoio à Decisão

Operacional (SADO) para se identificarem os aspetos pretendidos.

Será importante avaliar em especial no período entre o início da ocorrência e

as 23H00:

- o aumento dos efetivos de combate (pessoal e outros recursos) ao longo do

tempo;

- a organização do Teatro de Operações e a alocação de recursos;

- quem foram os Comandantes das Operações de Socorro (COS) ao longo desse

período, em que momentos foi sendo escalada a responsabilidade pelo

Comando das Operações e que medidas tomaram em especial no que se

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 288

Página 289

11/13

refere ao pedido de meios, à avaliação da área de operações e às orientações

dadas a todas as forças no terreno de todas as entidades intervenientes;

- foram respeitadas as disposições definidas no Sistema de Gestão das

Operações em vigor?

- como foi efetuada a avaliação inicial da situação e como foi articulada a

intervenção nos momentos iniciais, em particular na articulação com a GNR

para a definição do controlo e orientação de autoproteção;

- como foi efetuada a articulação com os SMPC para a ligação às populações

em geral, e para a definição de procedimentos a adotar: evacuar/ficar em

casa/outras medidas de autoproteção;

- como foi estando organizado e articulado o posto de comando ao longo deste

período e como foi assegurado o seu funcionamento e segurança;

- como foi gerida a intervenção dos meios aéreos disponíveis, na articulação

com o CNOS.

Importa ainda avaliar a real importância das quebras de comunicação nos

resultados da ocorrência de Pedrógão e verificar as razões das mesmas, para

além do facto de ter ardido a fibra ótica:

- como foi definida e administrada a rede de comunicações?

- como se comportaram as diferentes redes de comunicações ao longo do

período em causa?

- qual o número de rádios SIRESP dentro da zona da ocorrência? Quem detinha

e operava estes rádios?

- como estavam estabelecidas as redes?

- quem realmente tinha rádios SIRESP na zona e os utilizou provavelmente de

forma desregrada (ANPC/Bombeiros/SMPC/GNR/outras entidades)? -

existem e foram implementados mecanismos de disciplina no uso da rede

SIRESP?

Será importante avaliar cuidadosamente a forma como funcionou a relação

entre a ANPC e as Forças Armadas. Ficou bem patente que ela não funcionou de

forma adequada, também por culpa das Forças Armadas. A evidente procura de

13 DE OUTUBRO DE 2017 289

Página 290

12/13

protagonismos sectoriais, foram uma evidência da não existência de uma

verdadeira e adequada coordenação a nível superior (no CNOS com o oficial de

ligação). O aparecimento do Comandante Naval na área de operações, por

exemplo, pode ter dado algum tipo de dividendos à Marinha Portuguesa do

ponto de vista político mas é negativo para as Forças Armadas e para o CEMGFA.

A ida do CEME ao terreno com o Ministro da Defesa veio reforçar o papel

propagandístico do apoio às populações. O EMGFA, que deve coordenar estes

apoios nos termos da Lei, nem apareceu nem foi citado. A ANPC, enquanto

entidade coordenadora tem um papel de coordenação que não fez. Também

aqui muito há a rever para que tal situação não volte a acontecer.

Importa também fazer a avaliação dos aspetos de comunicação verificados

durante a ocorrência e o impacto na opinião pública da “imagem” que passou.

Há muito a aprender do mau que foi:

- o poder político intrometeu-se na condução de uma operação de socorro

tornando a zona de posto de comando, que deve ser uma área preservada,

para nela se poder ter a calma possível para se tomarem decisões, num circo

de permanente promiscuidade entre elementos da estrutura operacional e

jornalistas, com resultados bem nefastos como o caso do “avião fantasma”

(visível na relação entre o COS e a jornalista da SIC);

- o comando operacional no terreno “caiu” sistematicamente em

preocupações com os VIP as quais se adicionavam à já de si dramática

situação operacional;

- as informações de natureza operacional eram fornecidas de forma

aparentemente oportunística, pelo poder político.

Finalmente, importa avaliar também a atuação política no que são as suas

responsabilidades durante o combate, com a eventual ativação de planos de

emergência municipais e distritais e a declaração do estado de alerta,

contingência ou calamidade.

c. Quanto às demais entidades

Não queremos pronunciar-nos nestes domínios. Todavia:

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 290

Página 291

13/13

• Parece relevante avaliar a coordenação com a GNR e com o Instituto

de Medicina Legal e Ciências Forenses face ao número de vítimas e

ao tempo para a recolha dos corpos das vítimas mortais.

• Parece relevante avaliar a ligação com o INEM (normalmente muito

boa) e a forma como terão sido “integrados” outros elementos como

Escuteiros, Cruz Vermelha Portuguesa e outras entidades.

22 de Julho de 2017

Frutuoso Pires Mateus

Tenente-General – Engenheiro Militar

13 DE OUTUBRO DE 2017 291

Página 292

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 292

Página 293

13 DE OUTUBRO DE 2017 293

Página 294

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 294

Página 295

13 DE OUTUBRO DE 2017 295

Página 296

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 296

Página 297

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 299

Página 298

II SÉRIE-E — NÚMERO 3 299

A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

Páginas Relacionadas
Página 0001:
Sexta-feira, 13 de outubro de 2017 II Série-E — Número 3 XIII LEGISLATURA 3.ª SESSÃO
Página 0004:
3 ÍNDICE SUMÁRIO EXECUTIVO ................................................
Página 0005:
4 7.1.1 Metodologia de análise ..........................................................
Página 0006:
5 D.ORDENAMENTO E GESTÃO ................................................................
Página 0008:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 7 SUMÁRIO EXECUTIVO Os acontec
Página 0009:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 8  Qualificação Esta problemática ab
Página 0010:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 9 tenham um carácter estritamente qua
Página 0011:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 10 ondulada e continuidade florestal
Página 0012:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 11 Quadro 1 Descrição sumária do incê
Página 0013:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 12 A previsibilidade dos eventos
Página 0014:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 13 total (inclui povoamentos floresta
Página 0015:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 14 inicial do incêndio de Pedrógão Gr
Página 0016:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 15 O Posto de Comando Operacional (PC
Página 0017:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 16 pelas suas características, pela l
Página 0018:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 17 1. Sistema  O sistema de d
Página 0019:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 18 2. Conhecimento  Como se
Página 0020:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 19  As modalidades de seleção dos op
Página 0021:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 20 plantações novas, ou reconversões,
Página 0022:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 21  A primeira intervenção, designad
Página 0023:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 22 6. Populações  A sociedade
Página 0024:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 23  Neste sentido é proposta a criaç
Página 0026:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 25 1. NOTA PRÉVIA A Assembleia
Página 0027:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 26 A atividade da CTI iniciou-se com
Página 0028:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 27 o convite e prestaram com isso o a
Página 0030:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 29 2. OS INCÊNDIOS EM ANÁLISE
Página 0031:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 30 Os dois primeiros incêndios, pelas
Página 0032:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 31 O âmbito espacial da análise deste
Página 0034:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 33 3. IMPACTOS E TENDÊNCIAS NACIONAIS
Página 0035:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 34 Figura 3.2 Tendências de lo
Página 0036:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 35 Figura 3.3 Tendências (1998-2017)
Página 0037:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 36 Figura 3.4 Número de fatali
Página 0038:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 37 Quadro 3.2 Custos e perdas médias
Página 0039:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 38 . Figura 3.5 Evolução dos
Página 0040:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 39 Quadro 3.3 Estimativa da despesa p
Página 0041:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 40 Não é também percetível em que med
Página 0042:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 41 4. MUDANÇAS NO TERRITÓRIO E NO REG
Página 0043:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 42 A população residente está envelhe
Página 0044:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 43 Figura 4.2 Número de agrega
Página 0045:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 44 4.2 A dinâmica do uso do solo
Página 0046:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 45 É importante, neste quadro, saber
Página 0047:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 46 Figura 4.5 Evolução percent
Página 0048:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 47 Figura 4.6 Ocupação (%) dos
Página 0049:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 48 Quadro 4.2 Distribuição da área ar
Página 0050:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 49 Grande, Castanheira de Pera e Figu
Página 0051:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 50 O mesmo tipo de análise pode ser e
Página 0052:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 51 Em média, a área anual ardida do t
Página 0053:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 52 O intervalo médio de retorno do fo
Página 0054:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 53 5. O COMPORTAMENTO DO FOGO
Página 0055:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 54 Figura 5.2 Valores médios semanai
Página 0056:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 55 Nova). Esta classificação é basead
Página 0057:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 56 A presença de um vale depressionár
Página 0058:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 57 Figura 5.7 Combinações entr
Página 0059:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 58 Figura 5.8 Previsão para o
Página 0060:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 59 Figura 5.9 Temperatura e hu
Página 0061:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 60 Figura 5.10 Temperatura e h
Página 0062:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 61 5.2. O incêndio de Pedrogão Grande
Página 0063:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 62 facilitado a ignição e subsequente
Página 0064:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 63 Figura 5.12 Isolinha
Página 0065:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 64 5.2.3. Períodos de propagação do f
Página 0066:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 65 Dos relatórios (ANPC, GNR) e teste
Página 0067:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 66 Período 18h00-19h00 Por vol
Página 0068:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 67 crescem rapidamente, como em Alago
Página 0069:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 68 apresentadas com maior resolução t
Página 0070:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 69 entre as 15h00 e as 17h00, corresp
Página 0071:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 70 5.3. O incêndio de Góis Ded
Página 0072:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 71 Figura 5.16 Isolinhas de propagaçã
Página 0073:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 72 Figura 5.17 Severida
Página 0074:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 73 5.4. Explicação e discussão do com
Página 0075:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 74 a 2017, todos eles no verão e apen
Página 0076:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 75 Outras variáveis apresentam na Fig
Página 0077:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 76 Figura 5.19 Variáveis que d
Página 0078:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 77 Quadro 5.4 Métricas de comportamen
Página 0079:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 78 2017 o conceito de “aridez” do com
Página 0080:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 79 Figura 5.20 Simulações do c
Página 0081:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 80 pirometeorologia adversa. Havendo
Página 0082:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 81 5.4.4. O papel da instabilidade at
Página 0083:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 82 A leitura dos dados da radiossonda
Página 0084:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 83 Figura 5.24 Radiossondagem de Lisb
Página 0085:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 84 extremo do incêndio entre as 19 e
Página 0086:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 85 Foi ainda pouco referido neste rel
Página 0087:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 86 De acordo com este modelo os compo
Página 0088:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 87 de Góis tem 81 ha (quando em Pedro
Página 0089:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 88 5.5. Relevância para as operações
Página 0090:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 89 Quadro 5.6 Rácio do esforço de com
Página 0091:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 90 É manifesta a rigidez dos procedim
Página 0092:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 91 6. REGISTO E ANÁLISE DAS FATALIDAD
Página 0093:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 92 Quadro 6.1 – Listagem dos 20 locai
Página 0094:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 93 Figura 6.1 – Isócronas de p
Página 0095:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 94 6.1.2 Uso do solo e gestão dos com
Página 0096:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 95 propagou às casas. Essa determinaç
Página 0097:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 96 6.2.1 Caracterização das vítimas e
Página 0098:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 97 6.2.2 Relação entre as vítimas e a
Página 0099:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 98 Figura 6.5 – Situação pós-i
Página 0100:
RELATÓRIO | COMISSÃO TÉCNICA INDEPENDENTE 99 Tentando traduzir as distâncias em

Descarregar páginas

Página Inicial Inválida
Página Final Inválida

×