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é um acto profundamente anti-solidário! São esses actos anti-solidários que queremos evitar. Poderíamos citar outros casos. Portanto, a solidariedade também é eliminar o desperdício.
O Sr. Deputado João Pinho de Almeida falou em mais e melhor política cultural, que também foi o último toque na intervenção do Sr. Deputado Gonçalo Capitão. Sim, claro que sim, porém melhor dentro deste sentido que tenho explicado e dentro de um sentido de aperfeiçoamento, de aprofundamento, mas sem procurar a perfeição e evitando sempre o dirigismo. Isso, para nós, é fundamental. A cultura não pode ser dirigismo, não pode ser a cultura do gosto. Quando refiro a escolhas, são obviamente escolhas que não têm a ver com conteúdos. É evidente que as escolhas são: agora, faz-se isto porque não há meios para fazer tudo e, depois, no próximo ano faz-se aquilo.
Já tenho visto despontar essa solidariedade em muitas outras pessoas, mas outros não. É evidente que é fácil querer ter tudo na sua terra, sem ver que ao lado está uma terra que já tem e que talvez pudesse haver uma complementaridade entre as duas, pois estão separadas em termos de tempo por dez ou vinte minutos de carro. Bom, haverá que esperar que as pessoas interiorizem mais esta nova noção de tempo/espaço e temos de compreender que ainda não a tenham e, sobretudo, compreender que povoações que, durante décadas, se viram privadas de equipamentos culturais os queiram agora. Temos de jogar com essas expectativas numa perspectiva de solidariedade, mas sem desperdício e sem duplicações.
Aliás, é para evitar duplicações que estamos a proceder a estas fusões, pois, por exemplo, no caso do IPPAR, toda a gente sabe que há duplicações. Seria impensável reproduzir essas duplicações ao nível local, se não, qualquer dia, cada bairro de uma grande cidade reivindicaria um conjunto de equipamentos, o que seria absurdo. É porque podem fazer-se tais exigências a nível de equipamentos de saúde ou educativos, até por causa das crianças, mas não se podem fazer a nível de equipamento cultural pois não teria sentido.
Passo a falar de modernização, arquivos e turismo cultural.
Sr. Deputado João Pinho de Almeida, estou de acordo com tudo o que disse. Julgo que este orçamento, até pela postura que estou agora a transmitir, reflecte uma leitura moderna da cultura, que não é uma leitura quantitativa, mas é, obviamente, política. É que aquilo que acontece com alguns, não digo todos, Srs. Deputados da oposição é que têm uma leitura da cultura que, a meu ver, sai do campo da política, não jogando com o factor das possibilidades e das prioridades que lhe são inerentes, antes dando a impressão de que é possível fazer tudo ao mesmo tempo. Ora, isto é a pura negação da política, porque nada tem a ver com a política cultural.
A política cultural, como os Srs. Deputados Gonçalo Capitão e João Pinho de Almeida muito bem disseram e na linha do que aqui temos estado a falar, deve estabelecer uma série de prioridades. Além da modernização, que deve ser levada a cabo, está a fazer-se um grande esforço no campo dos arquivos: está a ser dado apoio aos arquivos municipais e faltam apenas dois arquivos distritais para a respectiva rede ficar completa - os arquivos de Viseu e de Évora. Com certeza que serão feitos logo que possível porque se trata de uma matéria muito importante. Esses arquivos consubstanciam a memória do País.
Estamos também preocupados - há pouco tempo, assisti a um colóquio sobre essa matéria - com o facto de haver arquivos de grandes homens políticos dos dois últimos séculos que estão em risco de se perder ou que precisam de ser melhor tratados ou melhor conhecidos.
Relativamente ao turismo cultural - não sei se já falei disto alguma vez em público -, temos a ideia de fazer guias acessíveis. O facto de o Ministério da Cultura ter publicações de extraordinário mérito e de extraordinária relevância - o IPPAR já editou um caderno sobre os castelos e vai editar cadernos sucessivos sobre os conjuntos monásticos e sobre outros conjuntos monumentais - não impede que possa haver um guia único ou uma série de guias, como acontece noutros países, em que se assinalem os grandes monumentos, os museus, os grandes pontos do património e - porque não falar de outros aspectos? - incluir informações práticas para o turismo cultural: como lá chegar, onde dormir, onde comer. Trata-se, portanto, de fazer essa ligação entre a cultura e o turismo e de incitar as pessoas a irem conhecer. Não falo apenas dos monumentos e dos museus, mas também do conhecimento do chamado património imaterial.
Como o Sr. Deputado Lino de Carvalho se encontra presente - com a idade que temos já não nos comprometemos um ao outro com o nosso passado político respectivo -, vou dar um exemplo de património imaterial (não consubstanciado em matéria): é evidente que o turismo cultural tem de incluir, por exemplo, a audição dos magníficos corais alentejanos! Trata-se de património imaterial, mas as pessoas têm de saber onde é que existe e como é que se pode lá chegar. Para não ficar só pelo Alentejo, também posso referir as tradições orais e outras do Norte e do Centro do País.
Pode convencer-se os jovens de que têm a ganhar muitíssimo no aspecto estético e até no aspecto da formação da identidade se os pais, os familiares os levarem a conhecer bem as nossas raízes históricas e culturais, quer do ponto de vista da cultura popular, quer dos monumentos, quer dos museus. É isso que forma o tal sentimento de pertença.
Os Srs. Deputados certamente compartilharão desta visão transversal e muito importante da cultura em todos os aspectos da vida na sociedade contemporânea.

O Sr. Presidente: - Passamos à segunda ronda de perguntas, para o que já estão inscritos os seguintes Srs. Deputados, dispondo cada um de 3 minutos: Luiz Fagundes Duarte, Lino de Carvalho, Victor Baptista, Manuela Melo e Ricardo Fonseca de Almeida. Desse modo, poderemos eventualmente terminar por volta das 21 horas e 15 minutos. Recordo, a propósito, que estamos aqui desde as 10 horas e 30 minutos com uma escassa hora para intervalo de almoço.
Tem, pois, a palavra o Sr. Deputado Luiz Fagundes Duarte.

O Sr. Luiz Fagundes Duarte (PS): - Sr. Presidente, serei muito breve dado o adiantado da hora e porque, depois das considerações de filosofia cultural que o Sr. Ministro aqui fez, acho que já nada mais temos a acrescentar nessa área.
Sabemos todos - e o Sr. Ministro sabe-o melhor do que ninguém, embora encontre atenuantes - que, diga-se o que se disser, o orçamento para a cultura continua muito baixo,