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he preciso cair de Lisboa. Aqui mesmo temos uma corporação monastica, na qual ha tres partidos sancionados por uma bulla, a celebre Ternativa, vulgo Tripartita, que foi mandada executar por uma carta regia (*). Os tres partidos se denominão - Caraças, - Esperanças - Escolos, - e eu terei, se me dão licença, as sub-divisões. (A' ordem).... (Leia, leia). Lerei, porque isto he curioso. São os partidos declarados na bulla, a carta regia, e nomes ou reppelidos com que os padres muito se honrão. São pois os tres partidos creados pela bulla - Caraças, - Esperanças, - Escotos. - O primeiro subdividi-se em - Caraças Caetanas - Caraças linhares - Caraças carrancas - Caraças amarantes - Caraças athenasias. - O segundo subdivide-se em - Esperanças serras - Esperanças çapateiras - Esperanças almeidas - Esperanças porciunculas. - O terceiro subdivide-se em - Escotos marrecos - Escotos chouriços - Escotos claras - Escotos leonissas. - Ora quem diria que estes tres partidos creados por uma bulla, autorisados por cartas regias para solicitarem no capitulo os seus interesses, não só honrosos, mas lucrosos (honrosos, porque o provincial he o prelado maior da provincia, e lucroso, porque o provincialato antes da vinda dos francezes sempre rendeu no triennio de 36 a 40 contos de réis; e depois da saida dos francezes ainda rende de 16 a 20 contos): quem diria pois que estes partidos e suas subdivisões não fiscalisarião abertamente os seus interesses, para que no capricho se escolhessem para os empregos da provincia os religiosos mais conspicuos, e benemeritos, sendo a eleição feita por escrutinio secreto, e com todas as formalidades canonicas? Pois não he assim! O provincialão (que assim chamão ao padre que dispõe dos votos a seu arbitrio), o provincialão, apezar de serem os votos numerosos, governa sempre á sua vontade a eleição, e sahe eleito quem se quer, de sorte que se hoje 26 de Abril alguem lhe perguntar quem ha de sair provincial no dia 18 de Maio, em que se ha de celebrar o capitulo (e contra minha vontade, porque o Congresso não quiz olhar como urgente a indicação que eu fiz para se suspenderem) póde responder, se quizer falar verdade: ha de sair o padre Fulano!! Aqui está pois demonstrado por experiencia de longos annos que as eleições feitas por escrutinio secreto são infindas, e subornadas. De mais o systema das eleições secretas está em contradicção com as ideas liberaes. Nós queremos educar a Nação; queremos que seja livre ver e que em consequencia tenha sentimentos nobres, exprimindo com franqueza e lealdade os sentimentos do seu coração: e ordenamos que vote atraiçoadamente por escrutinio secreto!! Isto era proprio só do antigo governo despotico, que em 1803 convidou a Nação inteira, por editaes afixados por todas essas esquinas, a fazer denuncias em segredo, e até por cartas anonimas, contra os seus concidadãos, do que resultou fazerem-se injustiças, e despotismos sem numero! Eu mesmo, procurando um magistrado encarregado de tomar denuncias, observei como isso se fazia. Mandou-me entrar para uma sala em quanto não podia falar-me; entrei, e vi uma banca no meio da casa com um maço de papeis aberto, tinteiro, e arieiro, e duas cadeiras nos lados um homem aceado, que eslava sentado e só, a um lado da sala, se levantou, e vindo para mim, me disse com muito bom modo: V. m. tem alguma cousa que queira dizer? Respondi, que eu queria falar ao Ministro. Então reflecti que era o escrivão que tinha a devassa aberta, e esperava os denunciantes em segredo, que certamente lá não irião se as denuncias fossem dadas em publico, e confrontados os denunciantes com as victimas denunciadas. Argumentão finalmente alguns dos illustres Preopinantes com as nossas eleições da meza, que sempre se tem feito por escrutinio secreto. Assim he: mas isso o que prova he, que temos seguido a velha rotina, que eu reprovo, porque nem eu, nem algum dos illustres Deputados deste Congresso teriamos pejo de votar em publico no nosso Presidente, e Secretarios etc. Voto por tanto que as eleições dos Deputados ás Cortes sejão feitas por votos dados publicamente. E seria de desejar que já hoje fizéssemos um ensaio das eleições publicas, votando publicamente nas pessoas que devem servir na meza para o mez futuro.

Sendo chegada a hora destinada para as eleições da Meza, e não se julgando a materia sufficientemente discutida, ficou adiada.

Passando-se á eleição da Meza, correu-se o 1.° escrutinio para Presidente, e não produzindo pluralidade absoluta de votos, entrou em 2.° escrutinio o Sr. Camello Fortes com 41 votos, e o Sr. Luiz Paulino com 25, e saiu eleito o Sr. Camello Fortes, com 60 votos contra 44, não se achando presentes mais que 104 Deputados.

Corrido o 1.º escrutinio para a eleição de Vice-Presidente, saiu eleito o Sr. Luiz Paulino por pluralidade absoluta de 54 votos.

Seguiu-se a eleição de Secretarios: e sairão eleitos o Sr. Soares de Azevedo por 75 votos, o Sr. Felgueiras por 74, o Sr. Freire por 73, e o Sr. Barroso por 63; e para Secretarios substitutos o Sr. Araujo Lima por 10 votos, e os Srs. Peixoto, e Feijó, por 6 votos cada um.

Designou o Sr. Presidente para a ordem do dia a continuação do projecto das relações commerciaes entre Portugal e o Brazil.

Levantou-se a sessão ás duas horas da tarde. - Francisco Xavier Soares de Azevedo, Deputado Secretario.

(*) A Ternativa foi supplicada ao papa Clemente XII pelo capitulo provincial com beneplacito regio, e foi condedida ou creada pelo rescripto apostolico de 18 de Setembro de 1739, que foi mandado observar por carta regia de 13 de Julho de 1741. O dito resceipto foi depois confirmado por Benedicto XIV na bulla - In apostolica; dignilatis solio - datada em Roma aos 5 dos idus de Janeiro de 1742, e mandada observar por carta regia do 1.° de Junho de 1743. Nota do redactor.