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lamentavel desleixo, todos alli acabaram às mãos das devastadoras epidemias. Mas dizem os Açorianos, nós combatemos pela boa causa Sr. Presidente, essa é que é a nossa desgraça : quem diz isso não é pai, se o fosse, se tivesse a desventura de ver um filho ir perder a vida por uma causa , que não ama, por uma causa em que seu pai, seus irmãos estão perseguidos, sua familia desolada, seus bens sequestrados, não dizia tal. Todos os heroes que apresenta a historia, e de que ha grande parte em Portugal, e até no sexo feminino, todos elles davão de boa vontade seus filhos, não choravam quando elles morriam cela causa que queriam defender: mas este caso é differente, ver morrer os filhos pela causa aborrecida; isto é que custa. Por consequencia não acho ainda sufficientes motivos tirados desta causa, para votar a favor do projecto.

Accresce de mais a mais, que em Portugal não só foram recrutados os homens, ultimamente foram recrutadas as creanças, eu vi passar levas de rapazes de 12 até 14 annos, porque não havia, com que encher as fileiras, lançou-se mão das creanças para tambores, e os tambores passavam para as fileiras das baionetas. Vinham as creanças a, chorar, como era proprio da sua idade, e as avós lavadas em lagrimas, as mães e os pais: e este foi talvez o maior mal, foi a ultima punhalada, que os loucos, e imprevistos, com manifesto prejuiso seu, sectarios de D. Miguel deram no systema d'elle; isto é, que revoltou finalmente, e metteu em grande perturbação e ódio contra tantas violencias os povos, e as massas das aldêas. Se nos formos pois a comparar males com males, estamos sem duvida em iguaes circumstancias, se é que não estamos em peiore comtudo, d'aqui não se segue que eu deixe devotar a favor do projecto, e é que por esta razão: o recrutamento é de 8700 homens. Ora vamos a ver os que se perdem, não entrando os Açores temos Angra com 255 recrutas, Ponta-Delgada com 190, e temos Horta com 55 - eu não vi na destrinça do recrutamento mais nenhum districto nos Açores ora sommando tudo isto, faz 495 moços. Com effeito isto não é uma grande porção de gente, que possa fazer muita differença no recrutamento: consequentemente voto que se lhe faça esta graça, por duas razões, que se tem dado, e que merecem ser attendidas em grande parte; mas com a condição de que aquillo que se abater no recrutamento dos Açores, não venha a carregar sobre as outras Provincias de Portugal, porque sendo assim, isto é, accrescendo a quota que está lançada aos outros districtos, então não voto pelo projecto.

O Sr. Almeida Garrett. - Eu voto contra o projecto, mas tambem não voto pela absoluta rejeição d'elle. As rasões que tenho ouvido de um lado, e d'outro, e as que ponderei por num mesmo, quasi todas elucidadas e desenvolvidas já pela brilhante discussão, que sobre a materia tem havido, modificaram em parte as minhas opiniões, primitivas, que eram de absoluta rejeição.

Duas grandes e principies considerações aqui temos, a questão verdadeiramente de cifras, que de passagem direi, é a que mais pode comigo neste caso e a consideração de sentimento e conveniencia que tambem não deixa de modificar as opiniões, de um Deputado de boa fé, porque é certo que se consideramos todas as questões unicamente pelas outras, havemos de errar muitas vezes, e por ventura tantas, quantos erra o que sómente por sympathias, julga e decide.

Haverá cousa de meio acento que na Europa surgio uma seita de philosafos, cujo empunho, e regra principal de argumentação era descarnar as, questões de suas circumstancias naturaes todas, reduzi-las a meras equações algebricas, e a titulo de sentimentalismo, despresar tudo quanto o intimo sentimento do homem de seu coração lhe diz, para não pensar senão com a cabeça. Fatal e terrivel reacção da philosofia contra os prejuizos e preconceitos dogmaticos da escolla
antiga, que (pois é condicção humana errar sempre) nos arremeçou para o extremo contrario. Do inteiro despreso dos valores absolutos das cousas, viemos a cahir no opposto vicio, o de não dar nenhum às circumstancias que naturalmente rodeam a cada objecto, a considerá-lo isoladamente, e a reduzir a theoria das cousas humanas a um mero calculo de cifras. Esta doutrina teve grandes apostolos, entre os quaes o eminentissimo Condorcet, e á sombra de illustres nomes, causou tamanhos daninos no mundo, como todas as doutrinas de systema suas predecessoras: que ainda cabeça de sábio não inventou systema, que não custasse caro a seus seguidores e oppositores.
Felizmente hoje temos chegado a melhores tempos, porque menos systhematicos. Por minha parte, nesta como em todas as questões, quero entrar com a cabeça e com o coração. E assim como não desejo ser desvairado pelos argumentos irracionaes das paixões, que é a política das sympathias, tambem não quizera fazer da arte de governar os homens, do systema da administração da republica uma simples calculação de economia politica, que tantas vezes é certissima nas theses, e erradissima nas hypotheses, segundo vulgarmente se diz: - porque a pbrase é recebida, mas falsa, que não ha cousa que, sendo certa na these, forçosamente o não deva ser na hypothese. - o ponto está todo em que nada ha neste mundo, que verdadeiramente se possa chamar these, nua vez que a queiram applicar a mais hypotheses do que ella naturalmente com prebende: e theses absolutas e umversaes não as ha fora da mathematica. Usei pois, sem a adoptar, daquella phrase vulgar, para ser entendido; e applicando estes princípios á nossa questão sujeita, direi, com perdão da illustre Commissão, a cujo parecer me opponho um parte, que os principios geraes, em que se funda me não parecem todos exactos em si e nas suas applicações, e que as consequencias por tanto, ou forçosamente cadução, porque os principios não são exactos; ou porque rectamente d'elles não derivam.
Disse-se, e muito bem se disse, que o pedido de braços, que se faz ao paiz para a sustentação do Estado, é uma contribuição como qualquer outra. - Inquestionavelmente -. Dizem as Constituições de todos os paizes (e quando ellas o não dizem, entende-se do mesmo modo; porque ha certas regras, que por não estarem escriptas no Codigo Constitucional, nem por isso são menos regras, e menus constitucionaes) dizem por todas as Constituições do mundo, expressa, ou lautamente, que todo o cidadão é obrigado a contribuir para a sustentação do Estado com uma quota da seus haveres, e de seu trabalho pessoal. Todo o cidadão é obrigado a defender o Estado, com as armas na mão: mas a obrigação, posto que geral, deste serviço que todos devem, não é, nem póde ser do mesmo modo prestada por todos. O chefe de família, por exemplo, servindo na Guarda Nacional, tam cumpridamente satisfaz a esta obrigação, como o outro cidadão que em outras circumstancus é sugeito ao chamado recrutamento de primeira linha. Ora como nem todos os cidadãos, neste ultimo caso, são sempre, e no mesmo tempo precisos nas fileiras do exercito, segue-se que deve haver sorteamento. Esta é a regra do serviço militar em todo o paiz de governo representativo: e fóra d'aqui não ha salvação. Todos nós desde o velho até ao moço, em quanto absolutamente não estamos impossibilitados, somos todos soldados. Que o diga a Constituição de vinte, ou a de vinte e seis, ou nenhuma; a lei é mais antiga que ellas, e fica sempre a mesma, e inalteravel por mais que se mudem e alterem os codigos politicos escriptos. O recrutamento pois e uma contribuirão como qualquer outra, é um encargo que o Estado, por necessidade impõe, e nenhum serviço até então prestado, nenhum que se deva prestar, ou se possa prestar, póde eximir o cidadão desta obrigação; ella é permanente, e constante. Mas tambem é inquestionavel, que quando uma divisão territorial qualquer, uma porção