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eu pergunto, se viriam a cabo essas grandes medidas sem uma revolução violenta? Ora, Sr. Presidente, para se instituir a segunda camara; que preencha estes fins, será um embaraço a sua eleição popular, e a sua duração? Não o concebo. Um Sr. Deputado por Bragança asseverou que lhe parecia que a maioria da nação queria uma camara vitalícia; e outro Sr. Deputado, respondendo, disse que isso era duvidoso. Eu, pelo contrario, com toda a segurança posso avançar que a nação não quer, senão uma camara temporaria. (Apoiado.) Sr. Presidente, para que foi a revolução de Setembro? Principalmente, para a emenda da segunda camara. Que quiz a nação? Ser verdadeiramente representada; abjurou dos privilegios de representação, e monopolio de legisladores. (Apoiado.) Sr. Presidente, ou tem sido um sonho tudo o que se tem passado de Setembro para cá, ou é força confessar esta verdade. Mas continuemos em outros argumentos, os argumentos de imitação, e ahi vem a Inglaterra com toda a sua aristocracia forte e poderosa, mas pergunta-se: e nós temos cá essa aristocracia? Respondem todos: não. Então com que havemos de imitar? Fujamos de imitar a Belgica, dizia um Sr. Deputado, porque lá as eleições são dominadas por um poderoso clero, por uma immensa aristocracia moral. Pergunta-se igualmente: temos cá esse clero poderoso, essa aristocracia formidavel? Responde-se: não. Então, a que vem a paridade? Então de que temos a fugir? Sr. Presidente, eu entendo que toda a grande sciência do publicista, e do homem de estado consiste na applicação. Ler um livro de direito publico, sabe-lo de cor, nada mais facil; applicar os princípios á hypothese, eis o difficil. Deixemo-nos pois de imitar, porque está feito, deixemo-nos de fazer, só porque está escripto. Esqueçamos por agora os outros paizes, lembremo-nos só do nosso. Sejamos politicos, mas Portuguezes. Se Portugal tem hoje classe privilegiada para representar prove-se, e contemos com ella; se não a tem, então representemos o que devemos representar, e deixemo-nos de representações por imitação. (Apoiado.) Até servio um á falta de outros o argumento dos subsidios! Disse-se: se fazemos uma camara temporaria é preciso subsidia-la! Como se tira tal consequencia é que eu não sei! Pois o caracter de vitalícia dá-lhe dinheiro? A simples nomeação do Rei torna rico quem o não é? Se nós damos a grande propriedade como o sine que non da cadeira senatoria, empobrece o Senador, porque é eleito do povo ? Ainda quando fosse preciso dar-lhe subsídios seria isso argumento para formar uma camara vitalícia? Eu deixo este argumento á consideração de todo o homem sensato. Agora vamos aos argumentos de terror, e de medo, que as nações poderosas nos não acabem a liberdade.

Sr. Presidente, é ver muito pouco ao longe quem não descobre que desde 1830 para cá as cousas mudaram na Europa, e que outro futuro separa a liberdade: que hoje não está Carlos X. era França, nem o Duque d'Angouleme para capitanear os exercitos da fé; o estado actual da França, se ainda parece um tanto ameaçador, é precario, por que está ligado a uma vida; é duração dum homem emprehendedor, forte, e caprichoso do seu governo; se ainda se não realisou a verdadeira monarchia de Julho, o celebre programa do Hotel-de-Vil]e, ninguem pense que elle continuará ad oeternum completa deceçpção. O systema político, que se liga á existencia de um indivíduo, e não é a expressão da vontade geral, e necessidade sociaes é ephemero, porque acaba com o homem que o sustenta. Hoje já não ha Barks, e Pitts, que preguem cruzadas contra a liberdade, nem um John Bull tão facil de convencer, que lhe abra os cordões da bolça. Chamo o testemunho de todos os Srs. que estiveram em Inglaterra, quando se soube dos acontecimentos de Julho: que digam como elles alli seriam recebidos, com geraes expressões d'applauso, e interesse. Desde a guerra de Napoleão pezam 700 milhões de divida sobre a nação inglesa; e as dividas dos estados não são talvez das mais pequenas garantias da liberdade. Sr. Presidente, aventurarei mais um reflexão, que agora me lembra, e é a differença, que acho na formação da segunda Camara pela maioria da Commissão. Ella quer para o futuro a nomeação, simples do Rei, e para agora á eleição do povo. De duas uma; ou agora desconfia da Corôa, ou para o futuro se teme do povo. Eu, Sr. Presidente, nem receio agora o Throno, de temo nunca, da influencia do povo na eleição da segunda Camara.

Terminarei, Sr. Presidente, declarando que muito me maravilho hoje em 1837, o em Portugal a querer se estabelecer uma representação de privilegio, e dar-se um direito excepcional a favor de poucos, em perfeita quebra de todos os principios de liberdade, alguma já vencidos por este Congresso. (Apoiado, apoiado).

O Sr. Lopes de Moraes: - Sr. Presidente, os governos começaram com as nações, e estas começaram por governar-se antes que houvesse política, e sciencia; de governo. Inspirações instinctivas, movidas pela necessidade, dictaram as primeiras formas do governo, diversas conforme os valiados modos de existencia da associação, mas sempre destinadas ao bem geral da mesma associação nacional composta sempre de governantes, e governados. Os governantes bem que instituidos para o bem geral da associação, que os investio do poder para esse fim, pela natureza mesmo do poder, que tende sempre para augmentar, e pelo interesse proprio, sempre seductor, e sempre movel, o mais constante das acções humanas, não tardariam a abusar dessa poder em proveito proprio, ora illudindo, ora oppiimindo os governados: estes ora illudidos, ora opprimidos seriam por isso mesmo advertidos da illusão, e constrangidos mais tarde, ou mais cedo, a reagir contra a oppressão, tomando a liberdade, como os governantes tinham tomado o despotismo; porque, nem uma, nem o outro jámais se dão, mas sim se tomam. Desta maneira mostra a razão que nações, governos, e revoluções, tudo data quasi da mesma epoca, sempre co-existiram, talvez jamais deixem de co-existir: até hoje a historia, e observação de todos os tempos, e logares confirma, o que a razão a este respeito não deixa de mostrar, a quem tem a força, e a paciencia de pensar.

Esta lucta sempre mais, ou menos repetido, é que talvez jamais deixará de repetir se entre governamos, e governados, a todos fez necessario observar, e reflectir sobre os factos governativos, e revolucionarios, considerados nas suas causas, e nos seus effeitos, mais bem, ou mais mal apreciados. Daqui se foram formando duas políticas, a primeira dos governantes, isto é, a sciencia de illudir, e opprimir como ainda é: a segunda dos governados, isto é, a sciencia de prevenir a illusão, e de reprimir a oppressão; a primeira é do despotismo político; a segunda da liberdade política.

Ambas estas sciencias oppostas estabeleceram suas maximas, e principios geraes, porque sem isso não ha sciencia; mas esses princípios, em vez de serem expressões resumidas das relações constantes, e geraes dos factos observados, imparcialmente examinados, e meditados, foram pelo contrario na maior parte expressões mais, ou menos equivocas de interesses oppostos, que não podiam conciliar se na applicacação desses princípios: uns queriam uma obediencia cega, outros uma liberdade sem limite. Uma epoca chegou depois de seculos da lucta, que ainda dura, em que pouco e pouco a razão, e a justiça foi tomando o logar da força e do arbítrio, e em que o livre exame foi succedendo às crenças impostas pela illusão, e sustentadas pela força; e então todas os factos, todos os princípios seja da physica, seja da moral, foram, e estão sendo chamados a exame perante o tribunal da razão. Este espirito de observação e exame, tem do reformado, ampliado, e aperfeiçoado as sciencias, e as artes, defendendo-as comsigo nas massas sociaes, aonde tem multiplicado todas as capacidades individuaes scientificas, e