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tinha querellas particulares que vingar Camara dos Lords quando propoz a sua reforma nunca se lembrou de uma Camara electiva, e temporaria: e Porque tinha, como tem, o bem do seu paiz a peito, e é homem que vê ao longe Sr. Presidente, eu não quero dizer que os illustres Deputados, que aqui sustentam o contrario, não tenham a mais perfeita boa fé; não certamente, porque sendo eu admirador daquella maxima do grande Bailcy, um dos mais distinctos jurisconsultos de Inglaterra, que sustenta que everi man is intilcul to his own thoughts and ideas, por isso de bom grado concedo aos mais, o que reclamo para mim, a mais perfeita boa fé; nem se diga nós não precisamos déssa garantia, temos assaz força para resistir a quaesquer ataques, Sr. Presidente, eu não acredito que constituida, como se acha actualmente a nação portugueza, se possa dispensar tão essencial garantia, porque, Sr. Presidente, Lisboa é testemunha de qne já em 1823 se disse isso mesmo; lagrimas se derramaram com as mãos nas espadas, no meio da representação nacional se fizeram protestos de morrer sustentando as instituições juradas, etc., e o que se viu Sr. Presidente? As lagrimas eram de Crocodilo; os que choravam foram para Villa Franca, e em poucos dias o absolutismo triunfou! Sr. Presidente, já aqui nos aconselhou um soldado da liberdade, um distincto collega nosso, que bastava de experiencias. Eu, homem independente, sem partido, sem aspirar a mais que á conservação de uma casaca liza, como esta tal, e até da mesma côr da que usava o grande Washington, aconselho o mesmo; devo á liberdade (com ordem) de outro paiz, o que possuo; sou por isso amigo sincero da liberdade justa, e moderada; com estes princípios fui chamado do seio da minha familia. Recebi um mandato dos habitantes de Lisboa para vir aqui, nisso fiz grande sacrificio: aqui estou forte para sustentar as minhas convicções, se não agradarem que me não tornem cá a mandar; entretanto com ellas firme declaro que não cedo a ninguem em amor ao meu paiz, e com o mote que adoptei de que :

Frios sustos não adejem
Em torno desta Camêna
Pois se alguns me criminar em
A razão não me condemna;

prosseguirei na minha carreira. Diz-se-nos que uma segunda Camara electiva é maior garantia! Sr. Presidente, os cordões da bolsa publica são a grande, a formidavel garantia do povo: o mais illude-se. Quando a camarilha (segundo então se disse) d’El Rei de Inglaterra repentinamente conseguiu que o monarcha demittisse o patriotico Ministerio Grey, chamando o duque de Wellington a formar uma nova administração opposta aos principios da reforma, que auxilio achou elle, o primeiro capitão ao seculo, o profundo politico, n’uma Camara de Lords hereditaria, no veto absoluto, e tantas mais garantias em quantas abunda a Corôa de Inglaterra? Nenhum; tudo cahiu, tudo foi nada em presença da grande garantia; os cordões da bolsa publica, que estavam nas mãos dos representantes do povo. Lodr Ebrington fez uma moção na Camara dos communs para que se suspendessem os subsidios á nova administração, que o duque Wellington ia formar: (o que se venceu) em seguimento outra, para que se mandasse uma respeitosa mensagem dar parte a Sua Magestade daquella resolução; e o que se seguiu Sr. Presidente? O duque de Wellington o declarou logo na noite immediata na Camara dos Lords, que em virtude daquella resolução elle não podia organisar uma administração, porque sem meios não ha governo: esta, Sr. Presidente, é a grande garantia toda do povo, e a sua taboa de salvação; garantia nunca exercida em Portugal até á convucação deste Congresso; e foi na Commissão de fazenda a que pertenci, que (como V. Exca. bem sabe) se notou ao Ministerio que, se queria continuar a receber os antigos impostos antes de votado o orçamento, o pedisse aos representantes do povo neste Congresso reunidos; assim se fez, e bom é que o povo saiba que sem o consentimento de seus representantes não são obrigados a pagar os mesmos tributos dous annos seguidos, porque todos os annos devem ser votados, augmentados, ou diminuidos, conforme os ditos seus representantes julgarem para bem do paiz.

Sr. Presidente, em duas visitas, que fiz a Portugal no tems po da usurpação observei que os miguelistas dizam = temo-a tropa, temos as massas, mas tudo que tem propriedade são nossos inimigos; não importa, diziam alguns menos reflectidos; e a um dos mais notaveis ouvi dizer = em se cortando seis mil cabeças estamos descançados; e como elles tem propriedade, tanto melhor, porque temos que dar aos patriotas. Assim pouco mais ou menos o dizia tambem o padre Lagosta, quando escrevia dos que fugiam: deixa-los ir, como cá lhes fica a propriedade temos mais que repartir pelos benemeritos. Sr. Presidente, tudo isto é recente; as massas, as baionetas, a mesma tyrannia, tudo cahiu; e todo o governo que se não apoiar na propriedade, e no talento, cahirá. Muito mais longe podéra eu levar meus argumentos com factos de nossos dias; porém concluirei votando por uma segunda Camara vitalicia, tirada da propriedade com censo.

O Sr. Franzini: - Sr. Presidente, tractando-se de um dos objectos mais transcendentes do novo Pacto Social que este illustre Congresso vai offerecer á briosa Nação que representa, julguei do meu dever motivar a minha opinião, não me limitando a um voto silencioso, porém sem a vaidade de me persuadir que poderia esclarecer uma questão já tractada com a maior eloquencia, e erudição pelos conspicuos talentos que adornam este Congresso. — Acresce mais que a minha posição social, e a fallencia de ambição mo collocam na situação mais imparcial a este respeito, pois não aspirando ao eminente logar de Senador, fico por isso mesmo livre em advogar a cerca da segunda Camara, sem receio de que se me possam attribuir nas particulares.

Começarei pois declarando francamente, que não diviso estabilidade alguma nas instituições projectadas, uma vez que a segunda Camara não seja vitalicia, de origem diversa da Camara electiva, o composta do cathegorias escolhidas por um sistema mixto nas quatro classes da aristocracia dominante, já definidas com tanta exactidão por alguns illustres oradores; a saber, a do nascimento, da riqueza, dos talentos, e do poder. — Póde o Congresso legislar sobre o papel, o que bem lhe parecer, mas já mais fará desapparecer de facto a poderosa influencia que estas classes exercem sobre a especie humana, quando ella se acha reunida em sociedades. A historia de todos os tempos, a nossa experiencia, e o raciocinio nos fazem palpavel esta verdade; logo se estas classes não forem interessadas na conservação das instituições, ellas minoram a sua base, e o edificio promptamente se derrubará. Consiste pois a habilidade em identificar os interesses destas classes com os da sociedade em geral. Foi este o grande problema politico, que a illustração dos tempos modernos parece ter resolvido na creação de duas Camaras, e é aos seus inventores que nós devemos recorrer se quizemos acertar. É á experiencia e á theoria creada pelas duas mais poderosas e illustradas Nações do Universo, a quem devemos pedir os esclarecimentos necessarios para resolver tão delicado problema.

O que se observa pois na Inglaterra, paiz classico de uma bem entendida liberdade? Uma Camara hereditaria, escolhida pelo Rei entre as personagens mais salientes da Nação. Em França os mesmos principios regulam a existencia dessa segunda Camara, com a differença ultimamente introduzida, de ser vitalicia. — O mesmo se observa em todos os estados da Allemanha, aonde existe o systema representativo, e até mesmo no Brasil, apezar da sua reconhecida tendencia para a democracia. — Mencionou-se as duas exoticas excepções da Belgica e da Hespanha; porém