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Com tudo, Sr. Presidente, quer parecer-me, posto que lhe não ouvisse, que o quanto se diz respeito a idade deteriora as funcções cerebraes, e que por isso não deve ser a camara vitalicia para não tornar-se hebete; quer parecer-me que tudo isso é do illustre Doutor, e então eu o advirto que se a idade deteriora as funcções, tambem ella as aperfeiçõa: elle sabe que o observador Gall, em que já o ouvi falar aqui, assevera que aos quarenta annos de idade só é perfeita e completa a madureza do cerebro, e é esta a idade requerida no Brasil para ser senador, não obstante serem ahi as vidas mais curtas: em Roma se requeriam sessenta annos d’idade para entrar no Senado, e Roma não é menos meridional que Lisboa: na Inglaterra, e França os homens de sessenta annos estão ordinariamente no seu maior vigor intellectual, como se observa nas universidades, e academias, e o mesmo nas tribunas parlamentares, e entre nós. Que idade terá agora o Sr. Silvestre Pinheiro? Que idade teria o Sr. Manoel Fernandes Thomaz? O Sr. José Monteiro da Rocha? E tantos outros sabios portuguezes sexagenarios e septugenarios, e mais ainda, os quaes acabaram com o seu vigor cerebral sem alteração? E com effeito, se ordinariamente os orgãos duram o triplo do tempo, que levam a desenvolver, como se observa pela duração ordinaria da vida, setenta é cinco annos, nada admira, que mesmo aos oitenta annos, quando ahi se chega, o cerebro conserve ainda seu vigor, se aos quarenta, se completa a sua desenvolução; mas antes disso ordinariamente acaba a vida. De resto não é a hebetude, que parece recear-se nos taes vitlaicios, é a ambição excessiva, o que suppõe excesso d’acção: ora entendam-nos! (Apoiado, e riso).

Agora, Sr. Presidente, em quanto ao parallelo entre a economia animal, e a economia social; o qual parece ao nacional uma recordação do apologo d’Agrippa, direi que, segando me lembra, aquelle apologo era simples, e foi bem applicado á situação da sociedade romana: consistia ella (creio eu) n’uma lucta figurada entre a cabeça e os membros, e terminada por um veto da barriga, (riso)mas hoje creio eu que toda a lucta vem do velo imposto á barriga, principalmente dos empregados publicos. (Apoiado, e riso). — Contarei um caso que em 1820 me succedeo com um destes lavradores, a que chamam doutores, que os ha, e as vezes tem melhor senso que nós outros. (Apoiado), Conversava eu e outros como eu, que nada viamos melhor que as idéas do tempo, em materia de revoluções; apontavamos causas, prediziamos effeitos, e o lavrador ouvia: eis senão quando nos diz elle muito serio = fortes asnos, tudo isto é fome. = (Apoiado). Mil vezes me tem lembrado, depois disso, o dito do lavrador; mas deixemos isso, e vamos ao parallelo do illustre Doutor.

Compara elle o systema e o poder nervoso da economia animal com o poder legislativo na economia social: até aqui vamos bem; cada um é reputador na sua respectiva repartição; mas então porque se irritou tanto o illustre Doutor contra as denominações, alta camara, e baixa camara, que só serão empregadas vulgarmente? Na linguagem politica, vejo eu camara dos Lords, e dos Communs, dos Pares, e Senadores, e dos Deputados; nada d’alta, nem de baixa camara; o que aliàs teria todo o logar conforme o seu parallelo. E com effeito deixando comparações medicas, que muito gosto sejam produzidas por homens d’outras profissões, o que indica a extensão de seu espirito, e é symptoma do contrario nos homens de profissão, eu em linguagem que todos entendem apontarei uma camara
alta e uma baixa no parallelo produzido. Todos sentem, e todos sabem que ha no homem uma razão e um instincto ordinariamente em conflicto: é isto que exprimia 5. Paulo quando dizia sentir em si duas naturezas oppostas: é isto que exprimiu um antigo Filosofo nas seguintes palavras = Video melibra, proboque, deteriora sequor = é isto a que nós sentimos todos os dias em desejos, que a razão condemna; a todos sabemos que é neste conflicto, que está a moralidade e a virtude; e ninguem ha que não refira a razão e o pensamento á camara alta da cabeça, e os desejos ao coração, ou camara baixa do epigastro: e ninguem ha que não entenda que se a camara alta não tiver um veto sobre a baixa, o homem racional e moral desapparece, e tudo fica uma alimaria. (Riso, e apoiado).

Agora sem fazer de charlatão, porque me dirijo ao illustre Doutor, e aos collegas de profissão; lembro, e todos o sabem, que a camara do cerebro tem direita e esquerda, e por consequencia centro, tudo formado d’orgãos vitalicios, e vitaes; e o mesmo se dá na camara do epigastro, e por conseguinte a divisão em direita, e esquerda da-se nos componentes de cada camara, é não d’uma a respeito da outra; das quaes a do cerebro é sempre superior, e constitue a excellencia do homem, racionalidade, e moralidade; animalidade pertence mais á inferior. Finalmente não quero progredir no parallelo, que levaria longe e lembraria a segunda camara prerogativas tão eminentes, que não conviria conceder-lhe: mas desculpando taes parallelos em homens cheios das idéas de sua profissão sublime e transcendente, voltemos ao illustre bacharel.

Teimava o illustre advogado diante de tres collegas nossos, que o Sr. Silvestre Pinheiro era de opinião d’uma segunda camara electiva e temporaria, e lhe retorqui eu que não era assim: recalcitrou com a infallibilidade de advogado, e eu lhe disse então que ia buscar o seu manual do cidadão para nos desenganar-mos, no que elle conveio, e prometteu esperar. Nescio, como fui, voltei depois de alguns minutos com o livro, mas não pude pilhar mais o advogado. Eu, Sr. Presidente, sou um pequeno proprietario, e V. Exca. um grande: e como quem tem terras tem guerras, já eu sabia, que esta gente troca de falso a cada passo, e quando se lhe descobre o jogo vão-se safando pela tangente. Apoiados, e risos) Assim o tenho eu sempre observado nas minhas poucas demandas, que me tem feito meu proprio advogado. Foi perseguido pelos migueis, e depois de 50 mezes de prisão fui eu mesmo que advoguei a minha causa: disse na na minha defeza mais do que aquillo por que muitos estavam presos, e fallei com mais acrimonia a meus juizes (ou meus carrascos) do que hoje fallo; ahi estão as testemunhas....
(Vozes: — É verdade, é verdade) Confessei que era constitucional e nenhuma justificação dei, e parece-me que foi o illustre advogado, a que alludo quem assignou minhas razões, que outros tinham medo de assignar. Eu, Sr. Presidente, nunca tive medo, nem preso o tinha de meus carrascos, a quem dizia verdades amargas; mas a verdade e a justiça são como a gravidade, que obra constantemente e foi com ellas que amoleci a dureza daquelles perseguidores. Diz-se por ahi que é por medo que uns votam d’uma maneira, outros d’outra; pois estejam certos que eu nenhum tenho, e creio que assim succede aos meus collegas. (Apoiado.) Vamos ao caso do nosso filosofo politico, que peço licença para ler ao illustre advogado alguns §§, e mais ainda porque tenho ouvido outros muitos, que laboram no mesmo equivoco.

No §. 269 diz (leu). Bem se vê que segundo a organisação social) imaginada por este politico é sua opinião que n’uma só camara, dividida em tres secções, de commercio, industria, e estatistica, se representem todos os interesses nacionaes, cujo conflicto seja necessario regular por leis. No §. 270 diz (leu): aqui se a razão, porque no seu systema se não divide o poder legislativo em duas camaras, como se pratica em todos os governos representativos. No §. 272 diz (leu): daqui se vê que nas realesas representativas, onde a corôa é perpetua, é indispensavel uma segunda camara. No §. 273 diz (leu): daqui se vê que este politico não rejeita a opinião geral, de que a segunda camara não deve, como a primeira, ter a sua origem de eleitores. No §. 277 diz (leu): daqui se vê que uma segunda camara electiva é,