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á guilhotina mais de oitenta mil victimas de todas as jerarchias, de ambos os sexos, e de todas as idades!

Desenganado então, de que não era possivel a igualdade, e a justiça nas sociedades humanas, extasiou-se com a sublimidade do discurso de Rosseau sobre a origem da desigualdade das condições do homem, e foi gozar da verdadeira liberdade entre os selvagens do Canadá, onde passou uma deliciosa noite, em mais deliciosa companhia que eu lhe não invejo! Ahi mesmo não se esqueceu de dar ordens ao hollandez, que o acompanhava. Tanto a son insçu o dominava o amor da superioridade! Depois desta, e d'outras viagens, é S. Exa. o Visconde de Chateaubriand, de quem o honrado Membro, a quem respondo, nos leu aqui duas paginas em menoscabo da aristocracia!

O honrado Membro, que não gosta de citações, depois de nos ter citado como authoridades irrecusaveis. Odillon Barrot, Mauguin, e o veneravel Lafayette pareceu incommodado com o reflexo da luz da veneranda galeria, que eu lhe havia patenteado do lado contrario, com os bustos de Cicero até Montesquieu, e de Foz ate Benjamin Constant. Mas o que mais offendeu o illustre Deputado, foi esta asserção motivada do Achilles da Liberdade na Tribuna Parlamentar. "Quando se colloca um homem num logar tão elevado, como o Throno d'um Monarcha, se quizermos dispensa-lo de estar sempre com o alfange na mão, é necessario
rodea-lo d'outros homens, que tenham um interesse particular em o sustentar." O illustre Deputado vio então o Rei de França rodeado desses homens, ha seis annos, continuamente com o alfange na mão. Mas, durante todo este periodo, eu só vejo o Rei dos Francezes armado da espada da justiça contra os agitadores, e facciosos regicidas; da espada, que poseram na sua mão, por mutuo consentimento, os Pares do Reino, e os Deputados do povo; espada, que não póde descarregar o golpe, senão depois d'uma sentença proferida por juizes tão conspicuos, e depois de taes formalidades protectoras da innocencia, que tem feito, que ella tenha sido sempre o oraculo da justiça. O honrado Membro não quiz ver na Inglaterra um Monarcha rodeado dos mesmos homens, ha já cento e quarenta e oito annos, sem que uma só vez, em tão longo periodo, tivesse necessidade de recorrer ao seu alfange! Elle recommendou-me por fim que não fizesse destas citações, que não abonavam a minha logica. Não me accusa a consciencia de lhe ter merecido tanta urbanidade que me authorisa para lhe recommendar que não faça destas recommendações, que não abonam a sua critica!

O illustre Deputado, respondendo a uma das minhas considerações em favor da Camara vitalicia dos Senadores, em quanto eu figurava esta instituição como o Fantheon das grandes illustrações sociaes vivas, como o fim d'uma carreira aberta a todas as ambições nobres, como uma recompensa legitima do desinteresse, da coragem, e do patriotismo, propria igualmente para servir de estimulo as classes elevadas da sociedade, a fim de se applicarem aos estudos peniveis da sciencia, da politica e administração dos Estados: - respondendo, digo, a esta consideração, fez uma invectivn amarga contra o Senado, que imaginou logo composto exclusivamente dos talentos, e das luzes, a mais insupportavel de todas as aristocracias, e dos Empregados publicos, a quem por este modo eu queria entregar a bolsa do Povo, que era o mesmo que entregar os contribuintes aos recebedores!

O illustre Deputado em toda esta discussão tem imitado a tactica do ultimo dos Horacios contra os Curiacios. Não podendo combater os tres elementos unidos, usou dos seus ardis para separa-los. Mas rogo-lhe que observe que o Rei, a Aristocracia, e o Povo, no meu sistema de composição do Corpo Legislativo, só podem ser bem considerados no seu ajuntamento, e debaixo das relações de sua mutua dependencia, porque é esta que produz sua concordia, que os
sujeita a regras fixas, e lhes dá uma marcha uniforme, e sustentada.

Note que fazendo a censura aos talentos, além de ser ingrato á Natureza, faz a censura a duas Camaras homogeneas, e electivas , onde só pode prevalecer esta especie de Aristocracia. - Note mais, que a minha Camara de Senadores, além das outras differenças da Camara dos Deputados, ainda se destinguirá desta, em não ser composta (electivamente) de dous terços de Empregados publicos, como a actual, mas sim de dous terços dos maiores contribuintes da Nação!
Porém, Sr. Presidente, o que mais tem posto em tortura o meu adversario d'opinião, e seus amigos politicos, é a resposta cabal ao argumento, que eu fiz aqui pela primeira vez, que funda a necessidade de declarar inamoviveis os Senadores, a fim de poderem desempenhar com sufficiente independencia da Coroa, e do Povo as elevadas funcções, que lhes devem ser conferidas como juizes dos crimes, que forem commettidos pelos Principes de sangue da Casa Real, e dos outros grandes do Reino, e dos altos funccionarios do Estado. - Uns tem pertendido negar aos Senadores todas as funcções de uma alta Corte judiciaria, e fazer julgar os Grandes da terra pelos mesmos Juizes, que devem conhecer dos crimes da communidade dos Cidadãos; e querem que um Juizo composto de homens, creaturas, e dependentes dos criminosos, tenha assaz de valôr, e integridade para decidir contra os seus superiores, investidos de tudo quanto póde impôr respeito aos sentidos, e á imaginação! - Outros tem negado que a inamovibilidade dos Juizes seja necessaria para manter a sua independencia , e tem pertendido disputar na urna eleitoral os logares da Magistratura, como os de Senador, e Deputado. Venham mais ambas estas novidades, para em tudo se parecer a nossa com as outras Monarchias Constitucionaes da Europa. - Mas o meu especial adversario, e ao mesmo tempo meu amigo, que não quer que os Senadores sejam Juizes, disse que a independencia nestes é uma garantia, e que naquelles é um perigo, e desafiou a todos para lhe responderem. - Eu lhe respondo que a independencia absoluta seria um perigo, tanto nos Senadores, como nos Juizes, mas que a dependencia immediata d'uns e d'outros, quer seja da Corôa, quer do Povo, que os elegesse e demittisse a seu arbitrio, seria ainda mais calamitosa nos Senadores que nos Juizes, porque uma Lei má importa infinitas más sentenças!

Sr. Presidente, vou-me sentindo cançado: os meus illustres adversarios, além das vantagens moraes, que tem sobre mim, tambem me excedem em vigor fisico. Eu quizera responder a todos os seus argumentos, para o que trazia notas; mas faltam-me as forças, e o meu nobre amigo o sr. Barão da Ribeira de Sabrosa me tirou a necessidade deste trabalho. Não posso com tudo deixar sem observação, o que os advogados da opinião contraria tem dito, ácerca das clausulas das nossas procurações, que segundo a minha opinião, e a dos meus amigos politicos, nos adstringem a compôr a Monarchia Constitucional dos elementos indicados no Projecto da maioria da Commissão. - Elles (os nossos contrarios) tem dito diversas cousas a este respeito, interpretações forçadas, vicios d'origem, etc., etc.

Eu respeito as nossas procurações, como a vontade expressa dos nossos Constituintes, quero dizer, de toda a Nação Portugueza. Mas admittindo de graça que ellas tenham algum vicio, desde que nós as rectificamos, por um juramento á face dos Altares, em que promettemos cumpri-las, não nos resta outra alternativa entre o cumprimento, e o perjurio.

Sr. Presidente, se todas as considerações, que levo feitas, e que me parece serem capazes de nos persuadir que tanto os principios do direito publico filosofico, como os factos das revoluções das sociedades, e dos interesses reaes dos societarios, d'acordo com a letra e espirito do nosso mandato,