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SESSÃO DE 7 DE JANEIRO DE 188 9

N'este paiz, no exercicio de uma tambem muito alta magistratura politica.
O sr. Anselmo Braamcamp era para todos nós, amigos e adversários, um exemplo salutar, um incentivo que nos impellia para o caminho da virtude e do bem; a personificação viva do que seja a acção da consciência e de quanto valham os caracteres que vêem no cumprimento do dever a norma constante do seu procedimento.
Dirigindo um partido político com fundas raízes em a nossa tradição constitucional; á frente de uma situação, e com um logar nos conselhos do Soberano; tomando parte nas deliberações parlamentares; quer em todas essas situações, as mais eminentes a que um paiz regido por instituições representativas póde elevar um homem, quer ainda no desempenho das funcções as mais modestas, mostrou sempre Anselmo Braamcamp a mais escrupulosa consideração pelos seus deveres, a que tudo sacrificava, o mais porfiado empenho em não deslisar, por pouco que fosse, dessa norma suprema, dessa inflexivel linha recta, desse procedimento severo e inspirado por um forte e viril patriotismo que sempre lhe vivificou o nobilissimo espirito.
Mais leal servidor da monarchia não o tem, por certo havido em Portugal; mas tambem coração mais aberto para todas as legitimas aspirações da democracia, para tudo quanto haja de são, de verdadeiro e de salutar nas affirmações liberaes, tambem não poderá facilmente encontrar-se. (Apoiados.) Outros conseguiram excedel-o no brilhantismo da palavra, e nas manifestações da eloquência, mas ninguém por certo, lhe levou a palma na pureza das crenças, na devoção pelos princípios, no amor sincero pelo seu paiz.
Nem poderá tambem asseverar-se que, na qualidade de chefe de um partido, que fora dirigido por homens, como Passos Manuel, o marquez de Sá, o duque de Loulé, e o bispo de Vizeu, Anselmo Braamcamp tivesse desmerecido de tão illustres quanto honradas tradições, deixando de prestar verdadeiro culto às liberdades políticas, e á mais austera moralidade no governo. (Apoiados.) Não foi, por certo, em suas mãos que se rebaixou a bandeira tão nobre desse partido! (Apoiados.)
Parece-me que resumo nestas palavras o melhor elogio do homem que presidio ha pouco aos seus destinos; acrescentarei, porém, ainda como traço "saliente da sua individualidade quanto o seu espirito se conservava aberto para todas as conquistas da intelligencia humana.
Agora mesmo, quando a idade mais o convidava ao descanso, e a doença lhe ia já minando as suas aliás sempre débeis forças, elle, acceitando a moderna transformação das idéas na esphera das sciencias sociaes e politicas, percebendo o que havia de illusorio, de excessivamente doutrinário e exclusivo nos ideaes, aliás generosos, que inspiraram os homens de 1836, não hesitava em saudar o despontar entre nós da nova escola, fortalecendo com o prestigio do seu nome os que a evangelisam e professam.
Anselmo Braamcamp, e poucos o fariam na sua idade e na sua posição, não duvidou na solemne e pubica manifestação partidária, ultima em que tomou parte, mostrar que conhecia e declarar que acceitava as novas idéas, e que tinha pelo seu lado, do modo mais completo, a consciência da feição perfeitamente positiva e anti-doutrinaria, imposta hoje á direcção política das sociedades por uma comprehensão scientinca menos acanhada do seu modo de ser constitucional, e tambem por uma experiência amargamente adquirida por effeito do predomínio de utopias e noções empiricas, e se não falsas, incompletas e acanhadas.
E fallo sem receio de positivismo, pesando inteira e completamente a responsabilidade da expressão, porque a meus olhos nenhum facto ha mais positivo, mais persistentemente affirmado na historia, do que a existencia real das grandes forças moraes, únicas que transformam, elevam e ennobrecem o homem, únicas que podem dar alicerce seguro, manter e vivificar os grandes agrupamentos humanos, chamados nações.
Tive a honra de ser collega de Anselmo Braamcamp na ultima situação por elle constituída. É esse o titulo que invoco para delle fallar neste momento. Não é chegada agora a opportunidade de me referir aos seus actos como ministro. Poderiam talvez ser apreciados de modo diverso nesta casa á luz de uma tambem diversa critica; cingindo-me, pois, áquillo em que por certo me acompanham todos os collegas, direi apenas que esse homem revelou no desempenho de tão alto cargo a dedicação mais santa, mais alevantada e mais nobre pelo bem estar da sua pátria; que poz a sua vontade perseverante e intelligencia esclarecida ao serviço da defeza dos interesses e da dignidade do seu paiz, em momentos para este bem solemnes; e que, finalmente, pelo exemplo legado de um tão puro civismo, ainda hoje a sua memória póde prestar, e permitia Deus que o preste de facto, um grande serviço a todos nós. (Apoiados.)
Sr. presidente, termino renovando a v. exa. a expressão do meu reconhecimento pelas palavras de justiça que proferiu ha pouco, e agradeço á camara os applausos com que as acolheu, revelando assim o seu sentir e o seu pensar ácerca de um vulto tão benemérito como foi Anselmo José Braamcamp. (Muitos apoiados.)
O sr. Presidente: - Julgo opportuno encerrar por hoje os nossos trabalhos. A ordem do dia para amanhã é a que estava dada para hoje.
Está levantada a sessão. Eram quatro horas da tarde.

Redactor = Rodrigues Cordeiro.