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54 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

tinha mais informações a dar-lhe até ao presente, nem as podia ter (Apoiados.) Que idéa fazia o illustre deputado das informações, que precisava ter?
Não sabe s. exa. que é preciso levantar autos de infracção, com intervenção de testemunhas? Pois havia de limitar-se a proceder por informações que lhe desse a auctoridade, simplesmente, desacompanhadas de quaesquer provas? Houve tumultos? Houve desordens? Tudo isso, segundo a lei, tem de ser authenticado em autos, com inquirição de testemunhas, sendo esses autos mandados depois ao poder judicial. Em face d'esses autos e d'essas informações é que o governo podia depois formar a sua opinião e assentar o seu juizo sobre qualquer responsabilidade em que possa ter incorrido a auctoridade civil ou militar do Porto.
Nem, sequer tinha ainda, nem podia ter, um relatorio circumstanciado dos acontecimentos do Porto.
O sr. Pinheiro Chagas: - Dou-lhe os meus parabens pelo governador civil que tem no Porto .
0 Orador: - Pois se os acontecimentos occorreram hontem no Porto, como é que podia ter já o relatorio d'elles? (Muitos apoiados.)
O sr. Pinheiro Chagas: - Se s. exa. quer, eu dou-lhe o supplemento do Jornal do Porto, que dá conta d'elles.O Orador: - Então o illustre deputado quer que se faça obra pelas informações dos jornaes ? Não póde ser! Só agora, depois de estar fallando o illustre deputado, è, que recebera, mandado pelo seu illustre collega da guerra, a informação que s. exa., teve acerca dos acontecimentos de hontem, e ainda não acabara de ler essas informações. Mas do governador civil não tinha mais que informações telegraphicas.
Mas que grandes acontecimentos foram esses, que tanto inflamam o illustre deputado! Foi, nem mais nem menos, a acreditar o que dizem os jornaes, a dispersão de uns grupos, que não quizeram retirar se diante da intimação da auctoridade militar, mas sem que resultasse d'essa dispersão nenhum ferimento.
O sr. Arroyo: - Se v. exa. não tem informações, como sabe o que é que houve? (Apoiados.)
O Orador: - Fallamos todos ao mesmo tempo ?
O sr. Arroyo: - V. exa. é tambem presidente da camara, alem de ser presidente do conselho?
O orador: - Que era verdade, que era presidente do conselho, aqui e em toda a parte; até para reprimir a desordem. (Apoiados.)
(Interrupção do sr. Pinheiro Chagas.)
Perdoe-lhe s. exa., respondia á arguição de que o governo não tinha força para reprimir a desordem. (Apoiados.)
O paiz está perfeitamente tranquillo e socegado. (Apoiados.) As desordens não existem senão onde as têem provocado; (Apoiados.) não existem em mais parte nenhuma; o paiz está tranquillo; quem não está tranquillo, quem está desasocegado era s. exa. e os seus companheiros.
(Alguns srs. deputados pedem a palavra.)
Não queria, não desejava dizer estas cousas; mas o illustre deputado é que o collocou n'este terreno, dizendo e affirmando alto e bom som, e com a auctoridade da sua palavra, que o paiz estava inquieto, estava em desordem, estava todo sublevado, e o que o governo não mantinha a paz publica! Que era obrigado a declarar ao illustre deputado, sem receio de que possa ser desmentido, com documentos, que o paiz estava perfeitamente socegado. (Apoiados.)
O sr. Pinheiro Chagas:- E Matosinhos?
O Orador: - S. exa. não sabe o que foi Matosinhos? Matosinhos foi uma questão pessoal, particularissima. (Apoiados.) Não veiu isso explicado em todos os jornaes? O que houve em Matosinhos não tem significação politica. (Apoiados.) Queria s.ex.ª que viesse repetir o que todos
sabem, e que está explicado em todos os jornaes? O que houve em Matosinhos foi um movimento popular contra um individuo que tinha.
(Interrupção do sr. Pinheiro Chagas.)
Só no tempo em que s. exa. foi ministro, é que não houve desordens em parte nenhuma? (Apoiados.)
(Interrupção do sr. Pinheiro Chagas.)
S. exa. já se não recorda de que, com os seus collegas, saiu do governo por causa da celebre questão de Braga e Guimarães, questão que elle, orador, tivera a fortuna de resolver? (Apoiados.)
Já se não lembrava d'isso? Os homens que sairam do poder diante de um conflicto, que ia pondo em anarchia uma grande parte do reino, esses é que são os pacificadores do paiz ! (Apoiados.)
Nunca houve desordens, tumultos, mortes no tempo em que s. ex.ªs governaram ! Nunca.
O sr. Marçal Pacheco: - Salvo a redacção.
O Orador:-Só agora é que está o paiz em desordem.
Tinha dado ordem ás auctoridades para que inquirissem minuciosamente quem são os auctores e promotores das desordens (Apoiados.) Póde v. exa. ter a certeza de que não será o governo quem os ha de julgar; mas ha de mandar para o poder judicial os autos que se levantarem, e então se provará quem são os desordeiros.
Então veremos quem são os instigadores da desordem, veremos se o paiz não está socegado e se o governo não tem força para manter a ordem.
Mas porque é toda esta indignação do sr. Pinheiro Chagas? Porque se limitava a dizer á camara a verdade; não tinha outras informações senão as que constam de telegramas. Não houve tempo para a auctoridade mandar outros esclarecimentos, mas logo que venham, procurará formar juizo a respeito da responsabilidade em que possam ter incorrido as auctoridades do Porto. Queria o illustre deputado que demitisse o governador civil simplesmente porque não mandou ainda um relatorio circumstanciado dos acontecimentos que tiveram logar hontem no Porto?
É uma injustiça e chega a ser quasi uma barbaridade! Custa a crer, que o sr. Pinheiro Chagas, homem de um criterio elevado, quizesse que se demittisse o sr. governador civil do Porto, porque não tenha praticado um impossivel !
Não fazia a vontade ao illustre deputado de sair d'aqui. (Apoiados). Esteja certo d'isso; perante as suas intimações é que não sairá d'aqui: não é porque tenha ambição de estar n'este logar. Dizia isto sem rhetorica. O illustre deputado, que foi ministro, sabe que quem está n'esta situação, ao cabo de dois annos deve estar fatigado e desejoso de ceder o seu logar a quem melhor o desempenho; não tinha saude nem ambição para se conservar n'elle, e tem a consciencia de que a posição que occupa era muito superior aos seus recursos intellectuaes. Que a esse respeito não tinha duvida em concordar com o illustre deputado. (Vozes: - Não apoiado).
Mas desde que estava investido n'estas responsabilidades e como sabe o que deve á corôa, ao seu partido e ao paiz, creia que não sáe assim por uma intimação de s. ex.ª; estava completamente illudido a esse respeito. Tinha a força para governar, tanta quanta é precisa, e não via ainda nenhuma indicação constitucional em que lhe fosse apontada a necessidade da sua exoneração. Creia s. exa. que quando a vir, não se demora aqui muito tempo, nem será necessario que o empurrem como tem acontecido a outros. (Apoiados).
Desejava governar sobretudo com a opinião. (Apoiados). Ainda ha poucos dias o procurava uma numerosa commissão de operarios para lhe representar a respeito da questão das licenças e disse-lhe leal e francamente: "que achava que, faziam muito bem em representar dentro da legalidade; sempre que assim fizessem haviam de achar apoio sincero e seria o seu primeiro advogado". (Apoiados).E tivera a for-