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56 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPURADOS

se lhe pederiam mais impostos o governo violando a constituição, em dictadura, pelo ministerio das obras publicas, lançava até um addicional de l5 por cento para as extraordinarias despesas, e mais que extraordinarias, estravagantes despezas que se têem feito, pelo ministerio das obras publicas. (Apoiados.) O ministerio , depois de ter feito affirmar ao augusto chefe do estado que não se pedia ao povo mais impostos, veiu ao parlamento com essa mesma affirmação, mas lançava tanto quanto pôde lançar, e tanto quanto permittia o cansaço de quatro ou cinco mezes de sessão, de dia e do noite.
Q sr. José Luciano de Castro quer seguir este anno o mesmo systema, quer levar-nos pelo cangaço. As primeiras sessões é para o desabafo, mas em nos prostrando pelo cangaço, arranca nos depois tudo quanto quiser. Pois s. exa como presidente do conselho de ministros, não fica afflicto quando lhe recordar essa phrase, que a sua força consiste em estafar os seus adversarios. Quando a opposição parlamentar, por um excesso de condescendencia e de attenção para com o governo, permittia ao sr. Marianno de Carvalho que discutisse na outra casa do parlamento o orçamento, e que viesse para aqui um ministro estranho á pasta da fazenda discutir um projecto de fazenda, quando a opposição parlamentar tinha pelo seu collega essa grande attenção, s. exa responde: estafem-se; no principio desabafos, e para o fim arranco-lhe o que quizer. Dou-lhe os parabens, seja essa a sua melhor coroa, seja esse o seu maior triumpho.
Quando sair do ministerio, não se esqueça de dizer que conquistou as suas esporas de oiro de presidente do conselho de ministros, governando por ter cansado physicamente a opposição. Não foram as suas idéas que triumpharam, a sua politica que vingou, foi o cansaço physico da opposição que lhe permittiu continuar a arrastar essa vida, que é de tudo menos de governo que tem idéas, de partido que tem programma. (Apoiados.)
O sr. José Luciano de Castro lembrou-se, em resposta ao meu amigo o sr. Pinheiro Chagas, de amesquinhar os acontecimentos que se tinham passado n'outra legislatura, e lembrou se de perguntar que grandes acontecimentos foram esses. Tambem o anno passado, quando se abriu o parlamento, quando se davam cargas de cavallaria no Porto e s. exa mandava para ali um navio de guerra para substituir a penitenciaria ou as cadeias do Porto, perguntava n'esta camara onde estão os mortos, entendendo que a questão não tinha importancia, porque ninguem tinha morrido. (Riso.)
Agora s. exa deve estar satisfeito debaixo d'esse ponto de vista. Eu faço justiça ás suas qualidades como homem, e não posso acreditar que o seu coração esteja tão prazenteiro como apparentemente s. exa tem estado ; quero acreditar que s. exa tem um profundo desgosto, uma grande magua por saber que se arranca a vida a alguns desgraçados, que o direito de petição não era uma palavra sagrada, o direito de se reunir para protestar contra o procedimento do governo.
Eu estou convencido d'isso. Mas o sr. José Luciano disse hontem umas palavras, que me parece que deviam ficar gravadas na memoria de todos aquelles que as ouviram.
Disse s. exa que, se a opposição está triumphante e o governo está contente porque fica, entoemos todos um cantico de alegria. Pois entoe s. exa esse cantico! Pela minha parte, eu não me associo a s. exa, mas lembre-se o sr. José Luciano de que tambem a cigarra cantava durante o verão e que depois a formiga mandou-a dansar.
Oxalá que o povo não se lembre de dizer ao sr. José Luciano que chegou tambem à sua vez de dansar!
Vozes : - Muito bem, muito bem.
Leu-se na meza a seguinte:

Moção de ordem

A camara, ouvidas as explicações do governo, passa
immediatamente a eleger a sua commissão de fazenda, a fim de que esta, no mais curto espaço de tempo, dê parecer sobre as medidas apresentadas na ultima sessão pelos srs. ministros da fazenda e deputado Franco Castello Branco. = Frederico Arouca.
Foi admittida.

O sr. Frederico Laranjo (sobre a ordem): Sr. presidente, começo por ler e por mandar para a mesa a minha moção de ordem.
(Leu.}
Sr. presidente, um estrangeiro, que, por acaso, não conhecedor do paiz e de que n'elle se passa, entrasse n'aquellas tribunas, quando ha pouco fallava o sr. Manuel d'Assumpção, persuadir-se-ia por certo, pelas idéas e pelo tom do orador, que o paiz estava chegado a uma d'aquellas horas solemnes em que, no meio das grandes convulsões populares, faz crise e se afunda um governo, uma dynastia ou uma nacionalidade; mas, se continuasse a assistir á sessão, a primitiva impressão de tristeza e de susto passar-lhe ia de todo ao ouvir o sr. Arouca terminar o seu discurso com a recordação de uma fabula alegre - a da formiga e da cigarra; veria com effeito que não havia crise de nacionalidade, nem de fórma de governo, nem de homens de governo, nem mesmo de ordem publica. (Apoiados.)
A questão é de fabulas; a fabula vem a proposito, mas invertida, como, por um acaso feliz, o foi pelo proprio illustre deputado que a citou. Se o governo caisse do poder, o paiz diria poucos dias depois aos deputados da actual opposição cantaram e gritaram hontem? Pois dansem agora! Dansem agora, porque não bastam discursos inflammados para manter e continuar a reorganisação administrativa e financeira começada e levada tanto adiante por este governo. (Muitos apoiados.)
Caia o governo, clama a opposição, porque tem havido desordens n'alguns pontos do paiz. Mas, não basta esse facto, para que um governo se dê por perdido, alias onde iriam, quanto tempo durariam os governos da Inglaterra, da França, da Belgica, de todos os paizes da Europa onde ha liberdade e opinião publica, mas onde tambem não são raros os motins e as desordens? (Apoiados.)
Inepto seria o governo que diante das intimações da opposição, unicamente por se levantarem, ou antes por se promoverem algumas desordens, saisse logo d'aquelles logares. O dever do governo é persistir, é conservar se, emquanto se não provar que os promotores das desordens têem rasão; emquanto se não provar que a agitação é justificada. (Apoiados.) O dever do governo é persistir e ficar, emquanto estiver com elle, como está, a maioria sensata e illustrada do paiz. (Apoiados.)
Será a agitação justificada, e, antes ainda d'esta pergunta, será espontanea?
Todos os annos agora, ao abrir-se o parlamento, ha aqui ou acolá alguns tumultos ou algumas tentativas de tumultos ; esta periodicidade da desordem revela a sua natureza, a sua indole, os seus intuitos. (Apoiados.) Quieto, tranquillo, bem motivos da agitação nos intervallos parlamentares, o povo agita-se de de repente ao abrir-se esta casa; os motivos apparecem em tempo prefixo! Que curiosa periodicidade! Que singular coincidencia! (Apoiados.)
Mas analysemos os motivos da agitação.
São dois esses motivos; qualquer d'elles o mais injusto e o mais insignificante possivel. (Apoiados.)
Um é pedir-se a contribuição industrial a alguns vendedores ambulantes por meio de licenças.
Entendeu se desde ha muito que deviam pagar o imposto industrial não só os commerciantes que tenham uma loja, um estabelecimento fixo, mas tambem os que, sem terem essa despeza, andavam vendendo pelas diversas terras do paiz ou pelas ruas de uma mesma terra. Ha muito que isto é assim, assim com regeneradores, assim