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SESSÃO N.° 3 DE 8 DE JANEIRO DE 1896 9

affrontavam; perigos a que denodadamente se expozeram em Lourenço Marques, em Inhambane, na India e em Timor. (Muitos apoiados.}

Finalmente, direi tambem, em nome do governo, que bem mereceram da patria todos quantos pelo seu braço, pelos seus talentos, pelo seu esforço, pelo seu valor e pela sua disciplina contribuiram para os ingentes e brilhantes triumphos ultimamente alcançados nos nossos dominios ultramarinos. (Muitos apoiados.) Bem mereceram da patria todos esses que ergueram alto, muito alto, tão alto que não era quasi permittido esperar que a tal altura se erguesse, a sagrada bandeira das quinas, symbolo augusto da nossa nacionalidade. (Vozes: - Muito bem, muito bem.)

Sr. presidente, não é agora a occasião de celebrar n'este logar os feitos heroicos, praticados individualmente pelos nossos bravos officiaes e pelos nossos valentes soldados; nem mesmo esse ultimo que veiu pôr um termo glorioso á nossa campanha na Africa oriental, nem mesmo esse que nos encheu de jubilo o coração de todos nós, e que, por assim dizer, nos transportou aos tempos do D. João I e de D. Affonso V, nem mesmo esse eu quero hoje enaltecer em especial. Foram, porém, tantos e tão extraordinarios os feitos heroicos praticados pelos nossos valentes marinheiros e soldados, que eu creio que nenhum portuguez deixará de sentir-se orgulhoso ao rememeral-os; (Apoiados.) e como muito bem disse o sr. Luiz Osorio, não ha inveja, não ha ciume, não ha pessimismo mesmo que os possam pôr em duvida. (Muitos apoiados.)

Sr. presidente, affirmando que na nossa historia patria figura grande numero de heroes e que os nomes de muitos outros se inscreverão n'ella, diz-se apenas uma verdade que está sem duvida escripta no coração de todos nós. (Apoiados.)

Como as forças de mar e terra no seu sentir, no seu civismo, na sua intrepidez, no seu valor e na sua disciplina valem precisamente o que vale o povo de onde ellas vem, creio que todos nós nos devemos sentir orgulhosos ao relembrar os feitos heroicos, as brilhantes victorias alcançadas ultimamente em Africa pelo nosso exercito e armada, (Apoiadas.) porque estes feitos vieram mais uma vez demonstrar ao mundo que o soldado portuguez tem qualidades raras, aptidões excepcionalissimas, e que nós somos ainda esse povo de heroes, avido de gloria, que póde ser vencido pelo numero, mas que por nenhum povo póde ser excedido e difficilmente igualado. (Vozes: - Muito bem.)

Honremos pois, o exercito e a armada. Honremos estas duas collectividades, que póde dizer-se, constituem uma só, e que estão sempre promptas a verter o seu sangue pela patria. (Apoiados.)

Votando a moção apresentada pelo illustre deputado o sr. Luiz Osorio, mostrâmos a nossa gratidão, e prestamos a nossa homenagem a esse punhado de bravos que á custa dos maiores sacrificios e affrontando perigos terriveis, levantou nos nossos dominios ultramarinos o prestigio do nome portuguez, fazendo-o refulgir com o brilho de outros tempos. (Apoiados.)

Unamo-nos todos nós, os que estamos aqui, n'um só voto, mas voto ardente e sincero, pedindo a Deus que as campanhas que nós ferimos em 1895, sejam o inicio de uma nova epocha de gloria para o nosso querido Portugal. (Muitos apoiados.)

Seja esse o nosso mais ardente desejo, seja essa a nossa unica ambição.

Vozes: - Muito bem, muito bem.

O orador foi saudado com uma salva de palmas e em seguida comprimentado por muitos srs. deputados.

(S. exa. não reviu este discurso.)

O sr. F. J. Patricio: - Seja esta victoria o inicio glorioso de dias prosperos e felizes para a patria. (Apoiados.) Seja tambem este acontecimento um bello auspicio para os trabalhos d'esta casa. Não podemos começar melhor. Não podemos iniciar mais afortunadamente os nossos trabalhos para o bem do paiz e gloria nacional, do que impulsionados pelo calor que nos dão essas victorias, guiados por essa luz que derrama o triumpho obtido pelos nossos soldados e marinheiros. (Apoiados.)

É preciso alevantar a alma nacional, e esse esforço está-o realisando um punhado de bravos, que tendo aberto caminho por entre as lagrimas dos entes mais queridos, foram, longe da patria, affrontando os rigores do clima, e o ardor das febres, respirando o ar pestilento dos pantanos, expondo-se aos golpes das azagaias e ás balas dos inimigos, fazer triumphar a bandeira gloriosa das quinas, que tendo ainda, ha bem pouco tempo, servido de mortalha ao pobre sertanejo da Africa occidental, triumphava agora nas mãos dos bravos expedicionarios na Africa oriental.(Apoiados.)

Afastemos para bem longe essa onda de scepticismo em que muitas vezes nos querem envolver. Afastemos para bem longe o receio de uma dissolução social que os fatalistas para ahi andam a annunciar-nos. (Apoiados.)

Um povo que tem occasião de fazer reviver na sua historia contemporanea os brios do passado, e por um modo tão distincto, prova bem altaneiramente que nem a febre da descrença lhe crestou a fronte altiva, nem o enfraquecimento moral lhe bate no peito para arrancar do sacrario da alma as suas convicções de autonomo, independente e livre. (Vozes: - Muito bem.)

A alma da patria rejubila ao contemplar os nossos bravos soldados e valentes marinheiros. (Apoiados.) Digam que está fraca e depauperada a nossa raça.
Alcunhem de abatida a nossa epocha. Ahi está a lição dos nossos dias. Ahi está um punhado de homens, quarenta e seis, com um brioso official á frente, vencendo e derrotando um potentado negro e assombrando o mundo com o estrondo de uma luzentissima victoria!

Batalhadores como outr'ora, leaes á pátria, cheios de valor e heroismo como sempre, os nossos briosos soldados e marinheiros, guiados por officiaes illustrados e valentes, não ha trabalho que os fatigue, não ha lucta que os apavore, nem inimigo que os prostre!

Á luz esplendida d'este seculo apparecem tão bellamente os heroes portuguezes nas campanhas africanas, que bem demonstram que á nossa patria não faltam corações generosos que lhe renovem a vida: o que se passou na Africa oriental honrava o mais esforçado exercito do mundo. A ultima noticia recebida ha dias ácerca da prisão do potentado negro, do temeroso Gungunhana, esse feito de armas realisado por um pequeno troço de quarenta e seis soldados, tem a nota mais caracteristica do heroismo: é um formoso traço épico! É novo, é dos nossos dias, embora segundo a nossa historia e as nossas tradições pareça antigo! (Vozes: - Muito bem.)

Hoje, que as questões de africa tão altamente interessam, é-nos sempre grato, que n'esta casa commemoremos, quer o valor dos nossos valentes expedicionarios, quer a ousadia e sem temor dos nossos marinheiros. (Apoiados.)

Os nossos dominios ultramarinos representam uma herança gloriosa, representam uma tradição de honra, representam um facto notavel na historia da civilisação; pois agora sejam as recentes victorias a posse que firma a herança; sejam o padrão que exalce as glorias passadas; sejam o facto comprovado, o inicio de utilidades praticas e irrecusaveis. O nosso exercito comprehendeu perfeitamente a occasião em que a patria reclamava os seus serviços e correspondeu-lhe com a lealdade mais completa; (Apoiados.) officiaes e soldados brilharam pela sua dedicação, deslumbraram pela sua disciplina.

No nosso exercito não é diante dos perigos que se deserta, que se trepida, que um só se abate! (Vozes: - Muito bem.)

Officiaes e soldados abandonaram nas ondas do mar as saudades da familia e dos entes que lhes eram mais queridos, e foram lá fora conquistar uma luzente victoria; fo-