O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO N.° 3 DE 11 DE JANEIRO DE 1902 3

mara, onde ha tantos e tão formosos talentos, alguns d'elles virão depois de mim dizer em phrases apropriadas á grandeza do assumpto, quem foi Joaquim Mousinho, o muito que o país deve á sua memoria (Muitos apoiadas), e viremos então que a patria portuguesa acaba de soffrer uma grande perda, uma perda nacional! Então talvez penseis, Senhores Deputados, como eu penso já, que a gloriosa bandeira das quinas, esse symbolo augusto da patria, cm que hontem vimos Mousinho envolvido, e que elle pelo seu esforçado valor tão alto ergueu nas campanhas de Africa, talvez penseis, digo, como eu penso já, que ella devia estar envolta em crepes.

Mas se a pragmatica não permitto essa manifestação de pesar e de luto, ella está com certeza, na alma de todos aquelles que, como todos nós, estremeceram de jubilo, e sentiram bater apressado o coração, quando, em 1896, nos chegou a noticia do feito extraordinario praticado por Joaquim Mousinho, que foi, por assim dizer, o epilogo glorioso d'essa sublime epopeia escrita em Africa com sangue dos nossos soldados. (Apoiados).

Sr. Presidente: foi, ha tres dias, no dia 8 de janeiro, que Joaquim Mousinho pôs termo á sua vida pelo modo tragico que todos nós conhecemos. Foi tambem em um outro dia 8 de janeiro, seis annos exactamente contados dia a dia, que no Parlamento Português se fez a apotheose de Joaquim Mousinho de Albuquerque, e dos seus valentes companheiros de armas. (Apoiados).

Foi em 8 de janeiro de 1896 que nas Côrtes Portuguesas, na Camara dos Senhores Deputados e na Camara dos Pares, se realizaram as sessões mais notaveis a que eu tenho assistido. (Muitos apoiados}.

Nesse dia, vi eu, vimos nós todos, marejados de lagrimas olhos pouco habituados a chorar. (Muitos apoiadas).

Era porque nesse dia tinhamos o sentimento do rejuvenescimento da patria; e era isto o que a todos enchia de jubilo. (Muitos apoiados}.

A estrella de Portugal, que desapparecera por tanto tempo do firmamento, acabava de se levantar em Africa com o seu antigo fulgor! (Muitos apoiados).

Isto explica, isto justifica a commoção que todos nós sentimos naquelle momento. (Muitos apoiados).

Sr. Presidente, tudo em Mousinho era singular! Pondo de parte as suas façanhas, que não ha português, que não conheça, não falando no seu talento, que era muito, (Apoiados) não falando na sua illustração, que muita era tambem, direi apenas duas palavras sobre o seu caracter, sobre a sua especial psychologia: pensando um pouco no seu feitio moral, ficámos verdadeiramente surprehendidos, verdadeiramente admirados.

Por um phenomeno de atavismo, talvez, Mousinho de Albuquerque não era um homem da sua epoca. Mousinho era, por assim dizer, o cavalleiro de outro tempo, o ca-valleiro da idade media (Muitos apoiados), com qualidades, talvez com defeitos, que hoje mal se podem comprehender. (Muitos apoiados).

Nesta epoca de descrença real, e, felizmente, talvez mais de fingida descrença, Mousinho era um crente, e tinha a coragem de publicamente o confessar. (Muitos apoiados}.

Nesta epoca, em que foi preciso inventar um euphemismo, uma palavra especial, para significar a versatilidade facil de opiniões, Joaquim Mousinho era um homem de profundas convicções, de convicções absolutas, que altivamente defendia contra todas as opiniões, quaesquer que fossem, por mais contrarias, por mais oppostas ás opiniões hoje geralmente acceitas; por mais contrarias e oppostas que fossem até aos dogmas da sociedade moderna.

Joaquim Mousinho, Sr. Presidente, e esse era talvez o seu maior defeito- Joaquim Mousinho, nesta epoca, em que toda e qualquer manifestação externa, e o sentimento apaixonado, grandioso, enthusiasta, é considerado muitas vezes, quasi sempre, como uma incorrecção, quando não é considerado ainda cousa peor, como ridiculo, Joaquim Mousinho foi sempre, meus senhores, um apaixonado que não escondia os seus enthusiasmos, que nunca se dignou afivelar no rosto uma mascara que occultasse aos outros o que pensava, o que sentia. (Muitos apoiados).

Sr. Presidente: para que um homem assim, para que um homem tão avido de gloria, tão conscio do seu valor, tão devotado ao seu rei e á sua patria; para que um homem que tinha soffrido tanto e passado privações tão grandes nos inhospitos climas de Africa, viesse afinal a deixar-se vencer na luta da vida, é preciso que elle soffresse muito nos ultimos dias, é preciso quo fosse muito grande a tormenta que se lhe desencadeou no espirito!

Joaquim Mousinho, não era, disse o já, um homem d'esta epoca; não era susceptivel de só adaptar ao meio em que vivemos.

Joaquim Mousinho praticou um acto que todos nós lamentamos. É por isso que prestada a homenagem do meu respeito e admiração ao heroe que tão alto levantou o nome da patria, vou terminar, curvando-me reverente perante o grande infortunio d'esse homem que se chamou Joaquim Mousinho de Albuquerque.

Vozes: - Muito bem, muito bem.

(S. Exa. não reviu estas notas).

(A proposta vae adeante publicada ao verificar se a votação).

O Sr. Pereira dos Santos: - Vem, tambem, associar-se ao voto de sentimento, de dor e pesar, proposto pelo Sr. Presidente, pela perda de Mousinho de Albuquerque. Já foi longo o rol, feito na primeira sessão d'esta Camara, de perdas de cidadãos illustres, que, pelos seus serviços, tanto honraram o país. Foi grande, tambem, o pesar manifestado pela saudosa memoria de tantos collegas nas lides parlamentares.

Nessa sessão, o illustre leader da maioria regeneradora, o sr. Conselheiro Arroyo, com a sua palavra eloquente e alevantada, prestando homenagem a todos esses cavalheiros, e fazendo a consagração do seu alto valor e serviços, bem accentuou, em dolorosas phrases, a circumstancia triste de serem muitos os que tinhamos de prantear. (Apoiados).

Mal diriam, porem, todos que, na seguinte sessão, tão cedo, teriam de vir ao Parlamento commemorar, ainda mais, o nome de um heroe tão distincto, que tão alevantadamente se tornou merecedor das honras d'esta Camara!

Quando todos viram, na ultima sessão, levantar-se a voz quente de oradores illustres, consagrando o nome illustre de Antonio Ennes, e prestar homenagem, aos altos serviços que elle, como diplomata, e com raro tino administrativo, prestara, para o alevantamento da provincia de Moçambique, mal diriam, certamente, que nesse momento, a essa hora, evolava-se d'esta vida o extraordinario heroe, que tão alto levantou o prestigio nacional, que tão fundo falou á alma e a consciencia nacional. (Vozes: - Muito bem).

A perda de Mousinho de Albuquerque transmittiu-se a todos os pontos do país com vertiginosa rapidez; e de toda a parte nos chegam, já, os echos do enorme pesar que, em toda a nação, cansou tão infausto acontecimento. ( Vozes: - Muito bem).

Que contraste pronunciado, com essas manifestações de jubilo, patrioticas, com que foram acolhidas no pais, em 1896, as noticias, quo levantaram tão superiormente o espirito nacional, que tanto encheram de prestigio a nação portuguesa, que tão fundo calaram no coração do povo português, e tão rapidamente fizeram vibrar as cordas mais intimas do sentimento humano! (Vozes:-Muito bem).

Como representante legitimo da nação, á Camara dos Senhores Deputados compete exprimir, em nome da mesma nação, o voto de sentimento, pesar e luto, que neste momento está soffrendo todo o povo português.