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10 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

a, ella dá todos os affectos do seu coração (Muitos apoia-dos), Alguém tão grande na sua dor, tão digna no seu soffrimento. (Apoiados geraes).

E por tudo isso que nós nos associamos de todo o coração ao voto de sentimento que V. Exa. propôs pela catastrofe de Italia. (Apoiados geraes). (Vozes: - Muito bem).

O Sr. Alexandre Braga: - Declara que o partido republicano, por intermédio dos seus representantes em Côrtes, se associa commovidamente ao voto de sentimento que a Camara vae lavrar, pela catastrophe que enlutou a grande pátria italiana e sacudiu a sentimentalidade do mundo num fundo e angustiado abalo de dulorosa magua, de pungente surpresa e de contagiosa solidariedade humana.

A tragica e apavorante desgraça, fosse qual fosse o logar incerto da terra em que ella se produzisse, bastaria a confranger de dilacerante piedade todas as fibras das almas bem formadas, e, para as victimas da cullossal desventura, e para a nação, amargurada e afflicta por tão suprema e inarravel dor, iria toda a expressão do nosso affecto, da nossa sympathia, da nossa maguada tristeza; mas a pátria, ferida pelo allucinante pesadelo de horrores, foi a da gloriosa terra da Italia, nossa irmã pela raça, pela estreita affinidade de lingua e ainda pela commum aspiração que nos eleva a um mesmo ideal de liberdade e de resgate.

Dizer Italia é evocar toda a maravilhosa civilização de uma raça eleita, que, através das incontaveis eras, viveu e soffreu na insaciada aspiração da arte, no encanto e na fascinação de um ideal de belleza suprema e na busca a vida, tenaz, palpitante, insoffrida, de uma mais larga e mais tolerante, de uma mais generosa e nobre liberdade. Na doce e energica sonancia deste nome de Italia revive a fulgida ala dos predestinados de genio, herdeiros da Hellenia, que animou os marmores de Paros, immortalizando-os, em Phidias e Praxiteles, vivificando-os nas linhas harmoniosas e sobrias do Partenon, na curva maternal do collo genésico de Venus; da Hellenia, que fundiu a magia das tintas na lendaria e inédita maravilha de colorido que illuminou as telas de Zeuxis,Parrasio e Apelles; da Hellenia, que galvanizou para a vida ephetuera do tablado, contorcionadas na expressão das supremas angustias e das implacaveis satyras, as criações gigantescas de Sophocles, de Eschylo, de Euripedes e de Aristofanes; da Hellenia soberba, que encarnou a eterna aspiração de liberdade e de justiça na palavra fulminante e vingadora de Demosthenes e de Eschines.

Foi a patria de Savanarolae de Giordano Bruno, arrastados á fogueira pela intolerancia fanatica do Papado, foi a patria de Dante, de Petrarcha e de Boccacio, e para os republicanos, para os que anceiam por uma transformação salvadora da pobre pátria portuguesa, envilecida e espoliada, foi a patria da revolta de Milão, a pátria heróica que respondeu ás violencias sanguinarias de Humberto, ás felicitações que elle mandou ás tropas assassinas e ao galardão que, de modo proprio, offereceu ao general Bava Beccaris, pondo-lhe ao peito uma gran-cruz, fazendo entrar no Parlamento cerca de cem Deputados da extrema esquerda, e forçando a monarchia ferina, que fizera a primavera de sangue, a entrar, domada e submissa, num caminho de transigencias, de concessões e de liberdades. Para os republicanos, foi a pátria de Garibaldi, a terra mãe de Mazzini, cuja intrepida audácia de revolucionario oppôs ao mysticismo conservador de Gioberti, sonhando a illusoria alliança da igreja e da liberdade, na visionada tutela dos Estados italianos pelo Papado, a formula salvadora de Dio e Populo, que traria pela republica, depois da Roma dos Cesares e dos Papas, a Roma liberta do povo.

A sua soberba e corajosa audácia foi vencida, é certo, pela formula de timido opportunismo que encarnou a ideia da unificação na figura, sempre minuscula de um homem, embora esse homem fosse, por acaso, um rei.

Se elle vencido não fora, não teria a nobre Itália de contemporizar com o Papado, não teria a terra orgulhosa de liberdade de humilhar-se perante o sólio romano, vendo repellir pelo pontifice, altivo e desdenhoso, a carta submissa de Victor Manuel ao entrar na cidade sagrada. Triunfou passageiramente, por certo, porque os séculos são instantes na vida da humanidade, um lastimoso equivoco da historia, mas sejam quaes forem os destinos da Itália, não ha duvida de que a sua unificação e a sua grandeza actual ella as deve originariamente, indiscutivelmente, ao patriotismo, á coragem, á abnegação e ao sacrificio dos republicanos, que a despertaram para a liberdade e para a luta.

É esta a saudação que os republicanos enviam á Italia como sendo a expressão do seu profundo sentimento pela desgraça que a feriu.

(O discurso será publicado na integra quando o orador restituir as notas tachygraphicas).

O Sr. Pinheiro Torres: - Depois do discurso, eloquentissimo na forma e no estylo, do orador que o precedeu, elle, orador, nada devia dizer: no entanto tem que cumprir um dever, é o de se associar, em nome do partido que n'esta Camara representa, ao voto de sentimento proposto pela catrastrophe que feriu a Itália, grande nação, berço da civilização, que ao mesmo tempo que nos educa, encanta e deslumbra pela producção do seu génio e da sua alma abrasadora, na arte, na pintura e na musica, nos mostra a sua anciã de conquista pelo alem.

Essa catastrophe horrenda, que tantas victimas produziu, despertou em toda a humanidade um movimento intensivo de solidariedade, e Portugal foi dos paises que mais fez, porque ainda não póde esquecer a medonha catastrophe de 1755 que devastou Lisboa.

E se não podemos esquecer, ao falar de Messina, da horrivel catastrophe que tambem nos victimou, não podemos tambem esquecer que os Reis de Itália, que tão bem souberam cumprir o seu dever, porque um rei nunca é tão grande como quando desce até junto do seu povo, nem o arcebispo de Messina, que, descalço, envolto no seu manto e de báculo na mão, ia por entre os escombros lançar a benção aos moribundos.

(O discurso será publicado na integra quando o orador restituir as notas tachygraphicas).

O Sr. Presidente: - Está esgotada a inscrição. Creio que a Camara, em vista da manifestação, quererá que a proposta seja approvada por acclamação. (Apoiados geraes).

A primeira sessão é no sabbado, á hora regimental, e a ordem do dia é a eleição da lista quintupla para a escolha dos supplentes á presidencia e a eleição de commissões.

Está levantada a sessão.

Eram 5 horas e 10 minutos da tarde.

O REDACTOR = Luiz de Moraes Carvalho.