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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

O sr. Osorio de Vasconcellos: — V. ex.ª, concedendo-me a palavra, adivinhou certamente o pensamento que me estava inspirando quando tive a honra de me dirigir á presidencia. E não admira, é igualmente forte em todos os corações, não só dos membros d'esta casa, mas de todos os bons e leaes portuguezes, o sentimento de dôr que se manifesta n'este momento. (Apoiados.)

Eu queria pedir a V. ex.ª que propozesse á camara que não só fosse nomeada uma commissão, como é costume n'estas occasiões, mas que ao mesmo tempo fossem convidados todos os srs. deputados para que, querendo, se associassem á manifestação, para que seja mais eloquente o testemunho de profunda saudade e respeito immenso pela morte do grande homem que já pertence á historia. (Apoiados.)

Mas, sr. presidente, eu não podia certamente ficar mudo n'esta occasião, comquanto dentro do meu peito seja immensa a dôr, e comquanto saiba com toda a certeza, que essa dôr não a posso eu manifestar por palavras, principalmente depois das que com tanta eloquencia foram proferidas pelos deputados que me precederam. Ha, porém, obrigações de honra, e eu sou impellido por dois deveres igualmente respeitaveis, como membro do partido reformista a cujos destinos presidiu o nobre marquez, e como ultimo ajudante de campo que s. ex.ª teve quando foi presidente do conselho de ministros e ministro da guerra. E n'esta dupla qualidade seja-me permittida apenas uma singelíssima manifestação, que mais não posso, e dizer que eu, individualidade pequena e mesquinha, me associo ao sentimento enorme' sob o qual geme todo o paiz. (Muitos apoiados.) Não é louca vaidade em mim, que fui companheiro do illustre marquez de Sá, que o amei como succede a todos aquelles que tiveram a honra de o tratar intimamente, vir á beira do sepulchro levantar a minha voz — é o sentimento do dever.

Oh! sr. presidente, é um dever do coração; a alma quasi se refluiria dentro em si, se porventura não tivesse esta expansão. (Apoiados.)

Mas, sr. presidente, perante aquelle nobre vulto cessam todas as individualidades. Lembremo-nos, e eu de certo não posso deixar de o fazer como membro do partido reformista; lembremo-nos, digo, que o nobre marquez de Sá presidiu aos destinos d'este honrado, d'este democratico partido; por duas vezes foi presidente do conselho em situações reformistas; sempre nos amparou com o seu conselho e com os seus esforços; sempre foi o nosso chefe, nobre e respeitavel (apoiados), devotado entre os devotados, leal entre os leaes (muitos apoiados). Era da patria, mas foi tambem do seu partido; nunca o abandonou na prospera e adversa fortuna, e sempre o illustrou e honrou nos transes melindrosos da governação publica (apoiados).

Sem querer, portanto, amesquinhar a memoria do illustre estadista, cuja morte estamos pranteando, reduzindo-o ás proporções que podiam parecer pequenas, de um simples chefe de partido, eu, em nome d'esse partido, de certo o teria trahido, se porventura não citasse para nós este pergaminho, esta honra, este brazão. E como membro do partido reformista declaro que o nosso sentimento é duplamente grande; é grande, porque somos tão bons e tão leaes portuguezes como aquelles que o são melhores e mais leaes. (Apoiados.) Mas nós, reformistas, perdemos tambem o nosso chefe. (Apoiados.) Eram grandes, eram grandíssimas a honra, o lustre e a gloria que nos advinham do nosso chefe, d'esse homem cuja vida foi uma verdadeira epopéa; que combateu desde qua3Í ao saír da infancia pela independencia da patria, e que depois tanto sangue verteu nos campos de batalha pela liberdade. Esse homem, que foi um dos heroes mais estrenuos o indefessos da democracia (apoiados); esse homem foi o chefe do partido reformista, e esse partido ha de ter sempre diante dos olhos a imagem d'aquelle que lhe foi chefe, d'aquelle que lhe foi guia e que depois de morto lhe ha de ser eterno brazão. (Apoiados). Sobre as cinzas ainda quentes de Sá da Bandeira o partido jura imitar-lhe os altos exemplos. (Apoiados.)

Vozes: — Muito bem.

O sr. Palma: — Não pretendo elevar o sentimento da camara, porque se o facto em si o não tivesse elevado, os eloquentes discursos proferidos pelos illustres deputados o teriam de certo feito; mas como representante do circulo de Santarem n'esta casa, parece-me que interpreto bem a vontade e sentimento dos habitantes do circulo, que tenho a honra de representar, agradecendo á camara a manifestação que acaba de dar á memoria do illustre marquez de Sá.

O sr. Presidente: — A ordem do dia para terça feira é a que estava annunciada para hoje.

Está levantada a sessão.

Eram tres horas e vinte minutos da tarde.

Sessão de 7 de janeiro