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SESSÃO N.º 4 DE 9 DE JANEIRO DE 1896 15

O quadro é triste, mas é expressivo!

Veja-se: ao percorrer a sessão de 1894 encontro a palavra de Carlos Lobo d'Avila como a mais festejada de todas que se ouviram no parlamento; em 1806, ao iniciarem-se os trabalhos parlamentares, é já sobre a sua morte que se ouvem as palavras dos differentes oradores, pranteando o sou mallogrado destino, o seu breve passamento por esta vida!...

Hontem, n'esta casa, resaltava a alegria e o jubilo nas palavras dos oradores; explodia o enthusiasmo; ouviam-se applausos. Hoje a tristeza e a dor traspaçam o coração não só do todos aquelles que tenham ou queiram usar da palavra n'esta casa, mas de todos aquelles que nos escutam, de todos aquelles que conheceram Carlos Lobo d'Avila!...

Tanto para o pequeno como para o grande, tanto para os indivíduos como para as nações, as alegrias o as tristezas succedem-se n'uma serie tão interrompida e tão desconhecida e mysteriosa, que é bem verdade não haver porque envaidecer-nos com alegrias nem com triumphos, tão rapidamente uns desapparecera e outros só apagam; tão verdade é não haver porque deixar-nos abater o avassallar pelas desgraças o pelos desastres, porque, como tudo o que é mundano, umas e outros são instaveis e ephemeros! (Vozes: - Muito bem.)

Ha um anno a esta parte perdeu Portugal quatro dos seus homens mais eminentes e, o que é peior, dos mais uteis. (Apoiados.)

Em setembro de 1894 fallecia Oliveira Martins, em dezembro Pedro do Carvalho, nos primeiros mezes de 1896 Pinheiro Chagas e em setembro Carlos Lobo d'Avila!

O paiz, repito, perdeu quatro dos seus homens mais eminentes, nenhum dos quaes, na esphera da sua acção e particularidades do seu espirito, tem quem o substitua. (Apoiados.) E eu perdi, não só quatro dos meus amigos mais caros, mas, posso dizel-o, quatro dos mais poderosos o principios auxiliares da vida política que tenho feito; e, sobretudo, da missão politica de que me encarreguei, juntamente com os meus collegas n'este governo.

Oliveira Martins, que, n'esta ultima parte do século, seguramente foi em Portugal o maior pensador; Oliveira Martins, cujo conselho, cuja auctoridade, cujo ensinamento, estava sempre ao serviço de qualquer consulta com que o procurasse; Oliveira Martins, que tantas vozes me animou em horas de desalento, que tantas vezes commigo compartilhou alegrias e tristezas; Oliveira Martins podia e devia, no seu paiz, em mais de uma occasiao difficil e tormentosa, exercer um importante logar do ponderação politica. A sua auctoridade, os seus conhecimentos e a sua respeitabilidade davam-lhe para isso justificado direito.

Oliveira Martins deixou nas lettras patrias um vacuo até agora empreendido.

Na politica, se a sua acção foi mais restricta, é porque não póde ser superior ao desanimo e ao desgosto, que n'ella tambem avassallou um outro historiador, cuja memoria tanto relembrava, cujo destino tanto se pareceu com o d'elle: Alexandre Herculano. Ainda assim, a sua curta passagem polo poder bastou para o assignalar como um grande elemento de ponderação em certos o determinados momentos da vida politica portugueza.

Pouco depois desappareceu Pedro do Carvalho, o mais infatigavel, o mais desinteressado, o mais desambicioso de todos os servidores do estado. Menos conhecido, menos popular, deixando o seu nome vinculado a obras do menor publicidade, Pedro de Carvalho, para quantos o conheceram, para todos aquelles que como ministros, como pares, como deputados, como burocratas, tiveram de recorrer ao seu auxilio, á sua collaboração, ao seu conselho, - foi sempre um recurso poderoso.

E, sr. presidente, quer na direcção do banco de Portugal, quer nas consultas da coroa, quer particularmente como collaborador do todos os trabalhos que se lhe entregavam, era sempre a imagem luminosa da patria aquella que elle via o tratava de servir com dedicação.

Da politica, onde tinha estado, não queria nada, e nada queria do interesses mundanos. A sua vida foi bastante larga para mostrar que era isento do ambições, e os seus trabalhos foram mais pela patria do que pela politica a que os individuos que se lhe dirigiam pertenciam, porque Pedro de Carvalho a todos prestava o auxilio da sua poderosa intelligencia e saber.

Eu perdi n'elle mais do que nenhum outro homem publico, porque por mim manifestou sempre uma preferencia immerecida; não havia louvores com que a sua affeição me não honrasse, e, tendo confiança na minha boa vontade, desveladamente me aconselhou todas as vezes que á sua experiência recorri.

Pinheiro Chagas - sabem-no todos os membros d'esta camara, sabem-no todos os membros do partido regenerador - era, não só o espirito mais brilhante de Portugal no seu tempo, mas para mim o mais apaixonado o mais dedicado de todos os amigos. Ainda horas antes de morrer mo deu provas da maior affeição e ternura que um homem póde merecer de outro homem.

Finalmente, quando eu julgava que com o desapparecimento d'esse findara a serie do golpes que a fatalidade, tem tanta inclemencia estava descarregando sobre o paiz tambem sobre mim, inesperadamente, fulminadoramente, desapparecia Carlos Lobo d'Avila o querido companheiro de todos os momentos, de todos os instantes, o collaborador de todos os meus actos, de todos os meus pensamentos, de todos os meus projectos politicos!...

Carlos Lobo d'Avila, pelas ligações commigo, pela intimidade e lealdade, constituiu um exemplo sem precedentes na historia politica do nosso paiz. Posso dizel-o assim com justiça para a sua memoria, e posso tambem dizel-o como affirmação de um facto incontroverso, incontestavel. Nunca entre dois homens politicos existiu no nosso paiz maior intimidade. Nunca nenhum homem politico foi mais leal a outro do que Carlos Lobo d'Avila o foi para commigo durante todo o tempo em que politicamente collaboramos ao lado um do outro.

V. exa. e a camara comprehendem o esforço que eu faço para ter de dizer sobre a memória do Carlos Valbom, não aquillo que impetuosamente me esta subindo do coração aos labios, mas algumas palavras pensadas, reflectidas, subordinadas a estes moldes de estylo ou da eloquencia parlamentar talvez faceis para quem veja diante de si só a obra que tem de analysar e não, como eu, o cadaver ainda quente d'aquelle que falleceu quasi em meus braços!

Mas, visto que essa é a minha obrigação, - obrigação cruel! - visto que é osso o meu dever, vou, o mais rapidamente que possa, dizer de Carlos Lobo d'Avila, o necessario para que se tenha a nitida comprehensão de que a sua perda não foi simplesmente a perda de um homem eminente, a perda de uma força política importante. A perda de Carlos Lobo d'Avila foi, no meu entender, chamada com muita propriedade "uma perda nacional", não tanto pelos serviços que elle já tinha prestado ao paiz, mas por aquelles que elle podia vir ainda a prestar. (Apoiados.)

Ha dias, num folheto politico publicado por um dos homens mais eminentes do paiz, - a quem eu respeito, seja qual for a justiça com que me trate, - homem que tinha por Carlos Valbom uma affeição quasi paternal, - dizia elle que a "Carlos era a flor da sua geração, pelo talento, pelo saber, pela gentileza das maneiras e pela bondade do coração". (Apoiados.) Tudo isto é inteiramente verdade o póde não sor só confirmado, mas jurado por todos aquelles que tiveram com elle uma intimidade tão grande como eu, ou, pelo menos, o conhecimento pessoal bastante para poder ajuizar das qualidades e dos dotes d'aquelle homem publico. (Apoiados.) Mas não é só isso o que se podia dizer d'elle: era mais, muito mais. No meu entender - n'isto não vae a preoccupação rhetorica de enaltecer o as-