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18 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

de que não fiz uma affirmativa ousada quando disse que Carlos Lobo d'Avila era o conjuncto mais completo, mais perfeito e harmonioso de todos os dotes que modernamente devem revestir um homem d'estado.

Por isso, sr. presidente, ao findar o meu discurso, eu repito que elle estava destinado a ser o chefe ou dirigente - o nome pouco importa - de uma politica monarchica e patriotica visando ao levantamento persistente e constante da nossa existencia nacional, a fim de que attinja o apogeu de gloria dos seus antigos tempos.

Carlos Lobo d'Avila é um nome que nas occasiões dif fieeÍB ha de ser lembrado com saudade e com tristeza como tambem com saudade e com tristeza era lembrado eni França, Armando Garrei, que, pelo talento, pela variedade das aptidões, pelo encanto pessoal do convívio e até pela morte prematura e trágica, tanto lembra o nosso desventurado amigo e antigo companheiro!

Quando os successos de 1848 e 1852 vinham entenebrecer e por vezes avermelhar com sangue o céu da França, lembravam ali todos com saudade, com respeito e com tristeza, a memória de Armando Garrei, ceifado tão cedo aos destinos do seu paiz. Da mesma forma eu afianço, que de Carlos Lobo d'Avila, nas occasiões difficeis, todos os que o conheceram, principalmente aquelles que foram seus collegas, se hão de recordar, como de uma destas forças verdadeiramente insubstituiveis na governação do estado e que uma vez quebrada, ha de necessariamente trazer a esta sociedade um vácuo, que não vejo como possa sei preenchido. (Muitos apoiados.)

N'esta parte, o illustre orador que me precedeu, - e chamo-lhe assim, porque bem eloquentemente demonstrou hoje que é um orador distincto, (Apoiados.) - o illustre orador o sr. Moncada, disse bem: Carlos Valbom deixa um vacuo impreenchivel na sociedade politica portugueza. (Apoiados.) De todos os que já são conhecidos pelas suas qualidades de homens de governo, de todos aquelles que já têem dado demonstrações publicas, não vejo nenhum - e n'isto não vae offensa para nenhum dos meus collegas, nem para ninguem, - não vejo nenhum que possa reunir o conjuncto de qualidades que se encontravam em Carlos Lobo d'Avila!

Por isso, a camara, occupando-se hoje da sua memoria e querendo, por um lado, glorifical-a e, por outro lado, como que suavisar, com este ultimo balsamo, o coração ulcerado da sua familia extremosa, não cumpre simplesmente uma praxe de cortezia, alias merecida, como tem praticado para com outros homens: - a camara pratica um acto patriotico, como praticava hontem ao enaltecer os vencedores das campanhas de Africa. (Muitos apoiados.)

Carlos Lobo d'Avila não foi simplesmente ferido aos trinta e cinco annos, na flor da sua juventude; Carlos Lobo d'Avila foi ferido quando defendia brilhantemente, valentemente, os interesses do seu paiz; foi fulminado no meio do combate, como os bravos de Coolela, combatendo, como elles, pela prosperidade, pela honra e pela gloria de Portugal! (Muitos apoiados.)

Vozes: - Muito bem.

(O orador foi comprimentado por todos os srs. deputados e alguns pares do reino que se achavam na sala.)

(S. exa. não reviu este discurso.)

(Foi introduzido na sala, prestou juramento e tomou assento o sr. Mota Gomes.)

O sr. Santos Viegas: - Ao ouvir as palavras ha pouco proferidas por v. exa., propondo um voto de sentimento pela morte do illustre estadista Carlos Lobo d'Avila, não me consente o animo deixar de tomar parte nesta manifestação de pezar, associando-me cordialmente ao que v. exa. propoz á camara.

A representação nacional, que logo na sua primeira sessão, depois de constituída, celebrou victorias, encontra-se na necessidade triste de commemorar tambem a falta de um dos seus mais antigos e mais queridos eleitos.

E tem rasão.

Comprehende-se bem, que sem que a representação nacional se allivie da magna que a opprime, não possa entregar-se serena, attenta o reflectidamente aos minuciosos e árduos trabalhos que é chamada a desempenhar.

Emquanto se não desfazem em chuva as nuvens, que se acastellam no ar, não se retinge o azul do firmamento, e assim tambem emquanto não se liquidam em lagrimas as dores intensas, não se abonança o coração dorido.

Precisamos desabafar, para que possamos entrar serenamente na normalidade das nossas funcções legislativas, sempre graves, hoje gravissimas.

Sendo a dor uma cousa vulgar e a adversidade uma cousa certa, são todavia uma e outra o que ha de mais difficil definição; dir-se-ía que as palavras, as imagens, todos os recursos da imaginação e da intelligencia succumbem n'este lance supremo, em que o sentimento lhes pede que o traduzam, que o reproduzam emfim, com toda a sua intensidade, com toda a sua vehemencia.

Quando a patria mais precisava de altas capacidades para affrontar as difficuldades que se têem amontoado em torno de si, para dar batalha às difficuldades, que nos têem perseguido, perde uma das maiores o que equivale no meu entender a affirmar que é a perda de muitas.

Carlos Lobo d'Avila tinha taes qualidades, privilegios tão singulares, dous tão notaveis, que divididos por muitos, ainda caberia um quinhão rasoavel aquelles que entrassem nessa partilha; (Apoiados.) e Carlos Lobo d'Avila, todavia, principiava agora a dizer de si, mas principiava pela forma como acabam os mais illustres.

Carlos Lobo d'Avila parecia providencialmente talhado para as grandes crises, reconhecia-se que esta altíssima capacidade se ostentara e revellara quando eram graves as circunstancias do seu tempo; tinha todo o frescor da mocidade e toda a experiencia da velhice; dir-se-ía que todas as aspirações, todas as ambições, todos os santos e elevados ideaes de um espirito novo se uniam e casavam com a prudencia, com a reflexão, com a serenidade de um espirito martellado e desilludido.

Sr. presidente, Carlos Lobo d'Avila foi.....quasi não chegou a ser homem, porque não tinha tempo de ser homem a contar pelos annos. Elle teve de saber por intuição e presciencia, o que só poderia alcançar e conhecer á custa de amargas desillusões da vida pratica.

Carlos Lobo d'Avila na sua curta passagem pelo mundo não teve tempo de dar pelo que era, de reparar na confiança que inspirava, nem no rasto luminoso que deixava na sua passagem, foi simplesmente um meteoro.

O assombro foi para nós. Se no mundo planetário ha destes phenomenos, e se uns astros giram com maior velocidade de que outros, no mundo dos espiritos ha precisamente o mesmo, ha espiritos que fazem o seu giro com vertiginosa velocidade, e Carlos Lobo d'Avila foi precisamente um d'elles.

Se fosse possivel, sem o ver, ouvil-o na tribuna, nos conselhos internacionaes, nos conselhos da coroa; se fosse possivel, sem o conhecer, ler os seus relatorios, os seus artigos jornalisticos, se isto fosse possivel, dir-se-ía que estava ali um estadista verdadeiramente consummado; mas, se depois, elle nos apparecesse, no vigor da vida, o moço, nós duvidaríamos de que podesse ser aquelle que assim fallava, que assim aconselhava e redigia, aquelle enfim que assim argumentava e assim resolvia.

Nos duellos da palavra que eu tenho, diga-se de passagem, por unicos racionaes, bons e nobres, cruzou muitas vezes a sua espada Carlos Lobo d'Avila com os principaes batalhadores do seu tempo, e se algum ficou mal ferido, não foi de certo elle. Nas pugnas da imprensa as mais Illustres e renhidas, quando não chegam a estontear, Caros Lobo d'Avila foi um dos primeiros batalhadores, e
entre as figuras que sobresaiam, não deixava nunca de ver a sua,