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tem esses Grãos Académicos, que querem ter em tão pouco, e de que a Universidade é avara. Para se avaliarem devidamente essas habilitações, convém ter pre>enle que esle Estabelecimento Lilterario, o mais antigo e illuslre que possuímos, tem dado, com poucas (se bem que primorosas) excepções, tildo o que neste Paiz houve, e ha de mais dislinclo na carreira fias Lellras: as cadeiras do Magistério estão alli oc-eupadas por Capacidades da mais alia distincção, homens de saber profundo, e mancebos de talentos transcendentes; e linalinpnle o ensino das Sciencias mais inelhodico alli, mais regular, e por lanto mais profícuo do qne o de muitas das mais celebres Academias da Europa, não cede a alguma destas na proficiência da instrucção, e na extensão dos conhecimentos que se incumbe de diffundir. Os factos de incapacidade, provados a homens habilitados com Gráos Académicos, são excepções que confirmam a regra, e que devem naturalmente explicar-se pela falta de protecção que ns Lellras sempre sentiram neste Paiz, do que resulta que muitos homens, alias hábeis, se vêem forçados a abandonal-ns a seu lotai esquecimento. É indispensável abrir uma carreira, e offerecer um futuro aos alumnos das Sciencias, se se qirer que sejam cultivadas com zelo e esmero. Concluo votando pela doutrina do arligo, com exclusão de todas as Emendas e Substituições.
O Sr. Assis de Carvalho: — Sr. Presidenle, é realmente cousa nalural que em um Parlamento, qire tem de se regular pelo direito, se venha pôr ern duvida, qrre os homens habilitados nas Escolas Publi-bas corn Titulos Scientificos, sâo Sábios de direilo, e que os que não tèem estas habilitações, são leigos de Direilo, ainda que haja algum Sabio de faclo! .... . Isto podia ser objeclo de conversação n'um Gabinete, ou em qualquer outra parte, como distracção, mas que no Parlamento, que tem de se regular pelo Direito, se dign, que um homem a quem a Universi-dadade disse — «Éu vos concedo urna Carla deLei-tras, podeis usar delia em beneficio da Sociedade »— não tern lettras, nem pôde usar delias em beneficio da mesma Sociedade, é realmente cousa notável ! .. . Quem é juiz das Lettras de alguém ? Será o Parlamento ou os Corpos Scientificos para esse fim ins-tiluidos ? , ' '
Se uma Corporação Scientifica disser em alguma das suas Sessões publicas que algum dos Srs. Deputados é in hábil -para o ser, será islo conforme aos principios sociaes ?
Sr. Presidente, a Sciencia não se improvisa, a ' Sciencia aprende-se lechnica e classicamente, nas Escolas Publicas, nas Academias, e nas Universidades; tem urna linguagem própria e technica, que é inaccessivel aos Professores que nâo frequentam o Sancluario da Sciencia, não se podem habituar a nsal-a quando não vivem corn os Sábios nas Escolas Publicas; nem podem conhecer a que idéas as expressões techinas são correspondentes. Adinira-rne muilo que o illustre Deputado que quer, que os Officiaes da Secrelaria de Marinha sejam encyolopedi-cos, entenda que ha encyclopedia fóra das Sciencias ; os Otliciaes da Secrelaria de Marinha precisam ser encyclopedicos, mas para se ser encyclopedico, nâo é preciso aprender nas AulaS ! ! .. . Nào sei onde estejam as Sciencias fóra das Escolas Publicas ; os que as nào frequentam, nem podem saber o modo de aprender; o melhodo somente éum cahos para elles; quem Vol. 7.* — Joi.ho — 1848 — Sessão N." 6.
não frequenta as Aulas, nem pôde saber aprender ainda que tenha muila vontade. As Sciencias era quaesquer Aulas estão classificadas de tal modo, que fóra do que alli se ensina, nâo ha senão garrulice, não ha nada.
O ill iislre Deputado citou o exemplo de muitos Homens Sábios que temos lido, quenão sâo Bacharéis nem Doutores; porém, Sr. Presidente, esses Homens Sábios aprenderam nas Escolas Publicas; o Sr. J. Alonleiro da Rocha, aprendeu nos Collegios de Jesus, e os Jesuítas tinham muilo boas Escolas e muito bons Alestres; e se o Marquez de Pombal lhe deu o Titulo de Doutor para o incorporar na Universidade de Coimbra, foi uuicamenle porque era preciso esséGráo para fazer parle do Corpo da Universidade, e não porque elle nâo tivesse aprendido nas Escolas. O mesmo digo a respeito dos outros Sábios que o illustre Depulado citou; consla-me que frequentaram as Escolas Publicas tanto de Pnriz como de Porlugal; alguns sei eu, que se não deshonrarnm de ir ás Aulas de Orfila e de Blainville, e a muitas outras em Pariz; muitos Pares do lleino, na emigração, frequentaram as Aulas Publicas em Pariz, e 'fóra das Aulas não se aprende a Sciencia.
Agora pelo que diz respeilo á oulra observação que fez o illuslre Depulado, achando disparidade-ein exigir-se a 10.1 Cadeira para os que frequentaram 03 Lycèos, e não se exigir para os qrre frequentaram a Universidade de Coimbra nns differenles especialidades de Bacharel, direi eu, que os que frequentam Direilo, tèem a Cadeira de Economia Polilica; osqne frequentam Mathemalica, lêem Filosofia Natural, ele.; isto é, fica contrabalançada a falta da, 10." Cadeira nos Malhematicos e Filósofos com a abundância de oulros conhecimentos qne não tèem áquelles que frequentam a 10.* Cadeira, e se o Sr. Deputado quer que os Officiaes da Secrelaria de Marinha sejain encyclopedicos, nâo sei que haja homem encyclopedico alheio das Sciencias. Por tanlo, Sr. Presidenle, insisto nas idéas que hontem emilli a este respeilo, reservo ainda a palavra que lenho segunda vez., para dizer mais alguma cousa se fôr necessário.
O Sr. Poças Falcão: — Sr. Presidente, pouco ac-crescenlarei ao'que. acaba de dizer o illuslre Depula-' do, mas não pôde deixar de-maravilhnr-me também, que se venha dizer nesla Casa, que não ha presum-pção de direito a favor daquelles que frequentaram as Escolas, quando é nesses que naturalmente deve residir a Sciencia. Eu confesso que ha homens que não teem esses estudos regulares, e todavia podem dizer-se Sábios, e pôde dizer-se que teem muilos conhecimentos; porém é certo que islo são excepções á regra geral, porque ern geral ninguém poderá negar, que os homens que Icem um curso de estudos regular, teem a presumpçâo a seu favor. Alas eu quero ir mais adiante do que foi o nobre Depulado que acabou de fallar; eu digo, que esse meio é mais efficaz do que é o meio do concurso, à que parece se quer recorrer; digo'que é mais efficaz, porque, se os concursos fossem feilos perante Anjos, e se estes fossem os examinadores, então poder-se-ía dizer que nâo podiam falhar, e qué se havia de dar sempre a preferencia aomerilo, mas como são feitos peranle homens, hão de ser sujeitos ás mesmas falhas, com a differença porém que, para se obler um Titulo scientifico da Universidade, da Escola Polylechnica ou mesmo dos Ly-