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SESSÃO DE 15 DE ABRIL DE 1887 69

diante, o calor na voz apaixonada, a electricidade na communicativa eloquencia. (Apoiados)
Ha uma palavra que define Fontes, era vibrante, não era? (Apoiados.) Sim, vibrante, como a corda de um violino; e veiu a morte de subito, e quebrou de um momento para o outro esse instrumento maravilhoso, que pouco antes enchia esta sala com as suas vibrações potentes; gelou-se perante a morte, deixando bem uma memoria eterna no coração dos que sobrevivem, uma eterna gloria no livro de oiro da patria. (Apoiados. - Vozes: - Muito bem.)
Esse livro de oiro, de lucto, enriquece-se com os nomes que nós perdemos.
A liberdade em Portugal teve duas grandes epochas, 1834 e 1851, a revolução e a pacificação, o louro e a oliveira, o alvião e a espada, a tempestade que derruba o velho edificio, e o trabalho que consolida, completa e corôa o edificio das novas instituições, tenda de um dia em que a humanidade se abriga para repousar um instante do seu eterno caminhar.
O movimento admiravel de 1851 póde dizer-se que se symbolisa em Fontes Pereira de Mello. Podem discutil-o; podem contestal-o, podem guerreal-o, mas o movimento que elle iniciou todos o seguem fatalmente.
Pão certo aos funccionarios, pagamento honrado da divida nacional atravez de todas as difficuldades; estradas, fomento para o paiz, reformas constitucionaes no parlamento e pelo parlamento, e não na guerra civil e pela guerra civil, eis aqui o programma de 1851, que todos, principiando pelos seus mais ardentes adversarios, se ufanam de seguir.
É este, sr. presidente, o caracteristico dos genios politicos verdadeiramente immortaes, é terem deixado profundamente impresso o seu cunho na historia do seu paiz.
O que se escreve na areia da politica partidaria vem a onda e apaga-o; mas o que se escreve na pedra do monumento publico da politica nacional isso desafia os seculos. (Apoiados. - Vozes: - Muito bem.)
Por isso, tenho visto na minha carreira parlamentar o parlamento esquecer as suas divergencias, as suas dissenções para se curvar unanime perante Joaquim Antonio de Aguiar, que foi o revolucionario; perante Sá da Bandeira, que foi o emancipador heroico, e agora perante Fontes Pereira de Mello, que foi o semeador sublime d'essa abençoada colheita que está enchendo os nossos celleiros nacionaes de prosperidade e de paz, e as nossas almas do culto radioso e pacifico
Da liberdade. (Muitos apoiados.)
Ámanhã recomeçarão as nossas luctas acerbas, acerbas como eram aquellas em que elle tomava parte, mas o que se passa hoje n'esta casa é consolador para todos.
Consola pensar que chega um momento em que emmudecem todos os clamores insensatos, e em que as vozes mais irritadas são aquellas que entoam mais alto o cantico da apotheose. (Apoiados.- Vozes: - Muito bem.)
É que, como dizia ha pouco um grande escriptor francez: -o que se faz para a bulha faz-se para o vento - mas, digo eu apenas o que se faz pela patria, o que se faz pelo bem, isso faz-se para a justiça, faz-se para a immortalidade. (Muitos apoiados.)
Vozes: - Muito bem, muito bem.
(O orador foi cumprimentado por muitos srs. deputados de todos os lados da camara.)
O sr. Antonio Candido: - A maioria da camara ouviu com profundo sentimento e com a mais respeitosa sympathia as eloquentissimas palavras proferidas pelo sr. Pinheiro Chagas; e eu, sabendo que interpreto a vontade de todos os meus amigos politicos, (Apoiados.) proponho que, depois de consagrada esta merecida homenagem a Fontes Pereira de Mello pelos oradores que queiram inscrever-se, v. exa. levante logo a sessão. (Muitos apoiados.)
Fica assim o dia de hoje assignalado e ennobrecido por um acto de verdadeira justiça nacional.
Foi para fazer esta proposta que eu pedi a palavra; mas, tendo-a n'este momento, vou tomar algum espaço de tempo á camara, menos para justificar a minha proposta, que é recebida com unanimes applausos, (Apoiados.) do que para satisfazer o meu coração, que a morte do eminente estadista impressionou e commoveu tão profundamente!
É claro que não me cabe a mim o honroso encargo da sua oração funebre. Esse dever, que é um acto de justiça e o desafogo de grandes saudades, pertencia á sua illustre familia politica, que tão fervorosamente tem sabido zelar e enaltecer a memoria do que foi seu chefe venerado e prestigiosissimo!
Lamentando que ainda se não tivesse feito uma apreciação exacta, e completa de William Pitt, dizia ha pouco um grande escriptor francez, que é tambem um critico eminente:
"Compare-se o numero dos grandes homens ao numero dos grandes historiadores, e ver-se-ha que é bem mais difficil julgar a gloria do que merecel-a.
Am la bem que a esplendida gloria do distinctissimo homem d'estado, cuja commemoração se faz hoje aqui, foi comprehendida e julgada devidamente pelo brilhante orador que me precedeu. Ainda bem que a palavra de Pinheiro Chagas, palavra illuminada e quente, que tem sempre os relevos e as incrustações mais preciosas da historia, da arte, do coração e do espirito, soube modular, com harmoniosa e sentida eloquencia, o hymno e a elegia do que fôra seu chefe e seu amigo! (Apoiados.)
Fontes, foi na politica portugueza, um dos homens mais combatidos do seu tempo.
Era bem natural.
Quando um homem de extraordinarias faculdades personalisa um pensamento politico, activo e militante, a lucta que elle determina tem forçosamente de ser intensa e apaixonada: os que o seguem cobram alento, a toda a hora, da qualidade do chefe, e os que o combatem têem de graduar o esforço pela resistencia que encontram. (Muitos apoiados.)
D'este logar, onde tenho a honra de fallar agora, fiz a Fontes Pereira de Mello a mais calorosa e convicta opposição. Não me doe o coração, porque o respeitei sempre; não me accusa a consciencia, porque cumpri o meu dever (Apoiados.) Mas tenho saudades, vivas saudades, d'aquelle luctador formidavel e bello, aprumado, correcto, eloquentissimo, cheio de gloria e de poder, com quem era uma honra insigne terçar as armas leaes do argumento e da palavra!
E direi mais que, entre as recordações agradaveis da minha vida, o tempo não ha de delir nunca da gentillissima deferencia com que elle recebeu sempre, sem ver a minha humildade, a expressão, tantas vezes apaixonada, da minha hostilidade parlamentar!
O destino d'este homem de estado foi exemplarmente feliz. Teve, durante a vida, o ruido, a lucta e o prestigio, que elle. pretendia e amava; agora, morto, tem mais do que a paz; tem a paz e tem a gloria!
É justo!
Foi grande e foi bom.
Este seculo é infinitamente complexo. Quando, no futuro, a critica inventariar o seu immenso trabalho e a sua opulencia, terá de descrever todos os ideaes da psychologia humana, todos os problemas da philosophia social, a theoria e a applicação de todas as sciencias, a revolução em todas as suas fórmas, a affirmação e a negação de todas as cousas, uma ancia de vida, como nunca houve, e uma sensação de dôr, como nunca a alma humana soffreu! (Muitos apoiados.)
Não será possivel caracterisar por uma só idéa dominante e por um unico titulo a labutação gloriosa do seculo XIX. Mas, entre os seus grandes serviços prestados á civilisação humana, destacará sempre, em grande relevo,