O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

70

DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

tura com maior brilho, as praticas parlamentares da Inglaterra.

Apoiados.

Vozes: — Muito bem.

Estupendo milagre da logica, da liberdade e da rasão, cujas consequencias se haviam de manifestar brevemente em esplendidos fructos, quando na Criméa os vencidos do Novara se cobriam de gloria guiados por La Marmora, um illustre morto tambem (apoiados); quando no congresso de París o conde de Cavour soltava esta phrase retumbante a questão da Italia, face a face com o representante da Austria, e coberto de applausos pela Inglaterra, pela França e pela propria Russia.

Vozes: — Muito bem.

As scintillações dos sonhos febricitantes transformaram-se breve em estrellas propicias, que, como o astro biblico, conduziram e guiaram a Italia no caminho resplandecente da sua unidade.

Applausos geraes.

E não se julgue, sr. presidente, que Victor Manuel obedecia apenas ao movimento, como materia inerte. Não. O rei do Piemonte, modelo perfeitissimo de reis constitucionaes, sabia imprimir pelas suas mãos o movimento, e era o digno emulo do conde de Cavour, o seu collaborador e companheiro. Entre aquelles dois cerebros havia convivio intimo. (Apoiados.) Quereis sabel-o, srs. deputados? Ouvi. Formou-se o primeiro ministerio liberal depois de Novara, presidido, creio, pelo illustre e benemerito marquez Massimo d'Azeglio, que procedeu ás eleições immediatamente e reuniu o parlamento.

Passados dois annos, Victor Manuel chamou o conde de Cavour, esse homem que por si só é a epopéa do patriotismo na sua maior elevação. (Apoiados.) Esse homem que se não define, porque ninguem define o immenso, o absoluto, o grandioso; esse homem por quem chora, não só a Italia, mas a humanidade, emquanto a humanidade souber respeitar a sua divina essencia.

Muitos apoiados.

Cavour era um revolucionario, e a sua entrada nos negocios o mesmo foi que abrirem-se os diques, que continham em enorme reservatorio, todas as conquistas moraes e materiaes do seculo XIX. O marquez Massimo d’Azeglio recuou espavorido frente a frente com aquella actividade devoradora, que construia caminhos de ferro quando no erario não havia um ceitil para solver o resgate da patria. D'Azeglio um dia procurou Victor Manuel, demittiu-se de ministro, porque não queria acceitar as tremendas responsabilidades de Cavour, o louco sublime.

Victor Manuel fitou D'Azeglio, com aquelle olhar profundo, perspicaz e bom, e redarguiu: «Eu entendo-me com Cavour». E sorriu.

Queria dizer: eu comprehendo-o, eu estou á altura da sua obra, reconheço as suas concepções, julgo-me com força bastante robusta, com intelligencia bastante elevada, para acompanhar aquelle genio nos seus vôos altaneiros. N'isto está o elogio de um e outro. (Apoiados). É que um e outro tinham o braço dos fortes e a intelligencia dos eleitos...

Vozes: — Muito bem.

Porque, não o esqueçamos, na obra da redempção italiana, no conjuncto dos esforços que se empregaram e em que se manifestou a expressão do sacrificio levantada á altura mais sublime, houve dois homens que eram as idéas mães, as idéas geratrizes. Esses dois homens, ai de nós! a ambos já os tragou o sepulchro, foram Cavour e Victor Manuel!

Apoiados geraes.

Felizmente que em Caprera ainda se ergue o heroe popular, legendario, como o cedro nas immensas solidões. Apoiados.

Eu não quero fazer a historia da restauração italiana. Não cabe no meu esforço nem n’estes limites.

Bosquejando em rapidissimo trecho aquella aurora, ao mesmo tempo jocunda e tenebrosa; jocunda porque era toda de luz, tenebrosa porque surgiu no meio de ruinas e miserias; bosquejando este quadro, eu só quiz mostrar que Victor Manuel representou no throno a idéa redemptora e revolucionaria. (Apoiados.) O solio italiano foi uma conquista da revolução.

Apoiados.

Eu estou fallando diante de uma assembléa illustrada, que conhece perfeitamente o que em historia se chama a idéa revolucionaria. Não é a idéa anarchica (apoiados), é a idéa da redempção, é aquella idéa que leva os cidadãos livres a proclamar e defender todas as liberdades necessarias e a protestar energicamente contra todas os invasões das velhas e odientas tyrannias.

Apoiados.

Victor Manuel representou a revolução no que ella tem de mais sublime, a democracia no que ella tem de mais grandioso. Victor Manuel era o homem verdadeiramente deste seculo, porque, se por um lado dava a mão a essa serie de illustres guerreiros da casa de Saboia, que derramaram o seu sangue por todos os campos de batalha da Europa, e que, partindo do pobre Castello rouqueiro de Annecy, depois de luctas seculares, conseguiram alongar pela espada e pela diplomacia o seu exiguo patrimonio feudal; por outro lado Victor Manuel era o rei cidadão, era o rei soldado, era o rei de Novara e Solferino, era o esforçado e indomito batalhador, que em Palestro, quando os zuavos francezes o não deixavam subir ao assalto, soltava-se d'elles, e clamava com a voz rouca do enthusiasmo: «Rapazes, ha aqui campo e gloria para todos!»

Vozes: — Muito bem, muito bem.

Portanto eu saúdo em Victor Manuel a tradição. Eu saúdo igualmente em Victor Manuel um dos symbolos da democracia, da liberdade, da revolução, da realisação d'esse sonho secular, que teve tantos martyres, quanto os grandes pensadores da Italia, que começou em Campanella, soffrendo nas presigangas do santo officio, para acabar hoje, n'este martyr, porque Victor Manuel foi tambem, não só o heroe, mas ainda o martyr da patria.

Sr. presidente, um dia passava o Dante exule junto de um mosteiro. Vinha grave e austero como uma visão fatidica. Viu-o um monge compadecido, que lhe perguntou: O que vaes buscando, bom homem? Pace, respondeu o sombrio asceta. Pois bem. Repouse em paz o grande homem, que tanto lidou pela patria e pela humanidade.

Applausos geraes.

Vozes: — Muito bem, muito bem.

O orador foi comprimentado pelos seus collegas.

O sr. Presidente: — A grande deputação, que ha de levar os pezames a Sua Magestade El-Rei e a Sua Magestade a Rainha, será composta dos seguintes srs.:

Antonio Cardoso Avelino.

Antonio Augusto Teixeira de Vasconcellos.

Thomás Ribeiro.

Anselmo José Braamcamp.

José Dias Ferreira.

Luiz de Almeida Coelho de Campos.

Pedro Jacome Correia.

Alberto Osorio de Vasconcellos.

Manuel de Assumpção.

Francisco Van-Zeller.

Augusto de Mello Gouveia.

Visconde de Villa Nova da Rainha.

Os srs. deputados que quizerem, podem acompanhar a deputação.

A ordem do dia para segunda feira é a que estava dada para hoje.

Está levantada a sessão. Eram tres horas da tarde.