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SESSÃO N.º 7 DE 14 DE JANEIRO DE 1896 37

para fazer um relatorio, e esse relatorio, bem como outro dos srs. Agostinho Cabral e Taneredo do Casal Ribeiro, agronomos, membros da commissão do commercio de vinhos e azeites, quando este ultimo sonhar ha pouco tempo foi á America do Sul acreditar os nossos vinhos para o estabelecimento de novos mercados, relatorio que estava a imprimir, mandei tirar copias á imprensa nacional e re-metti-as á associação do agricultura portugueza, que se tem mostrado sempre zelosa e desejosa do desenvolvimento do nosso commercio de vinhos e azeites. Mandei tambem ouvir a associação commercial do Porto, a camara de commercio de Lisboa e todos os syndicatos do paiz, e a todos fiz saber que o governo estava empenhado e envidava todos os esforços, a fim de que a exposição se realise de forma e maneira honrosas para o nosso paiz.

E um dos pontos a que principalmente me referia era á necessidade que havia de formar typos bem caracterisados e definidos, de fórma a poderem acreditar-se e quando de lá viessem requisições, houvesse no paiz os recursos necessarios para satisfazel-as.

Ainda não ha muito houve uma exposição em Berlim, onde os nossos vinhos foram muito apreciados, mas quando se fizeram as requisições em virtude das amostras apresentadas, os mercados não appareceram habilitados a fornecer d'esses vinhos em quantidade sufficiente, porque não correspondiam a typos verdadeiramente definidos e caracterisados.

Devo acrescentar mais, como esclarecimento ao illustre deputado e á camara, que recebi tambem hoje da real associação do agricultura um officio, que se encontrou no caminho com o que era enviado pela direcção geral de agricultura, chamando a attenção do governo para este objecto, e affirmando que pela sua parte estava prompta a coadjuvar o governo em tudo quanto podosse para bem d'esta cruzada, em que todos andâmos empenhados.

São estas as informações que posso dar ao illustre deputado e estou persuadido que hão de satisfazel-o.

Vozes: - Muito bem.

(S. exa. não reviu.)

O sr. Costa Pinto: - Agradeço ao illustre ministro das obras publicas as importantissimas informações que deu á camara e que realmente são, tanto quanto se póde julgar n'este momento, de grande vantagem.

A remessa dos nossos vinhos á exposição do Transvaal com typos, como s. exa. disse, perfeitamente definidos e caracterisados, é na verdade de uma grande vantagem para o nosso paiz.

O sr. Ferreira de Almeida: - Sr. presidente, tres ordens de considerações e rasões mo obrigam a pedir a attenção da camara, usando da palavra.

Na ordem das considerações está em primeiro logar a que diz respeito aos factos heroicos realisados nos nossos dominios de alem-mar; em seguida para com o governo; e depois com respeito ao illustre commissario regio, que em Moçambique teve sob a sua absoluta direcção todos os serviços que lhe foram confiados em circumstancias bastante criticas no modo do ser d'aquella provincia ultramarina.

As rasões que me impellem a fallar são as que derivam da circumstancia de pertencer ou a uma corporação militar, ter assento n'esta camara, e ter sido membro do poder executivo n'esse periodo extraordinario, em que as angustias, as preoccupações de toda a ordem nos trouxeram por muito tempo afflictos, por isso que o prestigio do nome portuguez tinha decaido profundamente em todo o nosso vasto dominio ultramarino desde o extremo oriente.

Os esforços empregados conseguiram, felizmente, impor de novo o prestigio do nosso nome, n'esse periodo extraordinario em que a rebellião e o menosprezo da nossa auctoridade se manifestou em Timor, na India, attingiu o seu periodo agudo em Lourenço Marques, e se fez sentir ainda na Guiné e em Angola.

Felizmente, n'um curto periodo de dez mezes foi debellada essa explosão extraordinaria, reconquistando-se o antigo prestigio, e obtendo de novo a devida acceitacão e consideração a nossa auctoridade. (Apoiados.)

A camara pronunciou-se já, e com justos louvores, sobre os feitos gloriosos que tiveram logar, principalmente em Moçambique. Mas a camara só fará uma idéa precisa o profunda de quanto foram bem merecidos esses louvores, de quanto foram bem merecidas todas as demonstrações para com os servidores do estado, que se empenharam n'essa campanha, quando souber qual era o estado de decadencia em que estava o prestigio da auctoridade e do nome portuguez, notoriamente em Lourenço Marques.

Para isso, peço licença para ler á camara um documento do caracter semi-official, que mostra a situação precaria em que nos achavamos em Lourenço Marques em janeiro de 1895.

É uma carta do sr. Antonio Ennes, commissario regio em Moçambique, datada de 7 de fevereiro, depois do famoso combate do Marraquene, que consigna de uma maneira precisa e frizante o ponto do partida da conquista do prestigio perdido do nome portuguez:

"Lourenço Marques, 7 de fevereiro de 1895. - Meu caro amigo.- Não o felicitei nem felicito pela sua nomeação, porque eu já sei o que isso é. Mas creia que ainda é peior a situação em que eu me vejo. Esta provincia chegou ao cumulo de desorganisação, e é um verdadeiro trabalho do Hercules evitar as consequencias fataes de muitos annos, se não seculos, de erros e desaforos. Apenas aqui cheguei tive de fazer alguma cousa para combater a rebellião, que, do braços cruzados, tinham deixado medrar e alastrar, e que todos os dias vinha recair no coração da cidade. Os estrangeiros discutiam na imprensa a covardia dos portugueses e entre os negros corria já como aphorismo que branco é mulher. Alguns regulos queriam sair a campo, mas não tinham confiança no nosso auxilio."

Pelo que a camara acaba do ouvir ler, fica bem claro qual era o conceito em que se tinha o nome portuguez nos nossos dominios, o quanto elle tinha decaído! "Veja a camara, portanto, o esforço enorme que foi necessario empregar para romper contra todos estes humilhantes conceitos e para reconquistar o antiga prestigio! Só assim a camara comprehenderá o valor e o alcance do seu elogio. Não são os arrojados factos singulares, que sem duvida por si só constituem uma epopêa, que devem attender-se: é bom notar-se que teve de se começar do nada para se chegar até ao ponto a que se chegou!!

(Continuou e concluiu a leitura proseguindo.)

As forças que tinham partido a 28 de janeiro, tiveram em 2 de fevereiro o famoso combate de Marraquene, em que começou a firmar-se o prestigio do nosso nome, e em que gloriosamente foram arredados os epithetos infames o ridiculos com que estrangeiros e indigenas nos classificavam: era o primeiro passo de uma reivindicação justa, era o primeiro passo decisivo na serio de jornadas gloriosas, com que a nossa historia ultramarina se assignala no anno de 1895.

Sr. presidente, viu v. exa. e a camara, pela leitura que fiz, que em 17 de janeiro, em que o commissario regio chegava a Lourenço Marques, a situação era extraordinariamente embaraçosa, o quanto abatido estava o prestigio do nome portuguez! E v. exa. sabe e a camara, que o prestigio do nome é alguma cousa: é meia força, é meia conquista, é um elemento poderoso de acção!

A este tempo, tomei ou posse do meu logar nos conselhos da corôa. Tive conhecimento do plano combinado com o commissario regio, que apenas foi alterado n'um ponto por proposta minha, substituindo-se um regimento de infanteria com 1:078 praças e officiaes, por dois batalhões em pé de guerra, na força de 1:832 praças, representando um effectivo de mais de 700 praças, do que o anteriormente combinado.