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26 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

maio passado, um aviso da Beira Railway de que até segunda indicação ficava suspenso o transporto de mercadorias suas. Simplesmente inverosimil.

Quanto a concessões, a estatistica e outros documentos dignou do credito, demonstram serem em larga escala para beneficio de inglezes. A Beira Railway dispõe, ao longo das suas 245 milhas de caminho de ferro, do farms de 5:000 hectares, alternadas de um a outro lado da via ferrea; a Premiers Concession possue na fronteira 50 farms de 1:000 hectares cada uma; e, tão pouco cuidado se emprega um materia do concessões que, quasi se ia apoderando do toda a região mineira de Manica, conforme se deprehende dos seguintes periodos de um relatorio ha pouco apresentado pelo sr. Meyrelles do Canto, secretario geral e director dos serviços administrativos da companhia de Moçambique.

«Examinado o mappa, traçado por accordo entre o governador Machado o sr. Parsonson em 5 de abril de 1894, verifiquei que um certo numero do farms da concussão se achavam já demarcadas no districto de Manica, e que, portanto, o que restava era impedir que, em vista dos direitos conferidos á Premier Concessions pelo contracto de 7 de dezembro de 1895, não fossem mais farms transferida para esse districto, o que realmente viria a abranger tamanha area que praticamente se poderia dizer que a região mineira de Manica se achava coberta pelas demarcações da Premier Concessions.»

N'outro relatorio do conselho de administração encontram-se umas notas, que vale a pena referir aqui:

Durante o anno do 1894, foram concedidas dezeseis licenças a pesquizadores, dos quaes 1 portuguez, 9 inglezes, 1 irlandez, 4 allemães e 1 francez.

Alludindo ao movimento no porto da Beira, vê-se que, no segundo semestre de 1892, embarcações entraram:

Tonelagem

22 portuguezas............................. 8:499
7 allemãs...................................2:089
1 arabe..................................... 97
39 inglezas............................... 25:257

Em 1893:

4 portuguezas............................ 3:524
2 francezas.............................. 784
15 allemãs............................... 17:952
7 arabes................................ 612
74 inglezas.............................. 67:393

Em 1894:

2 portuguezas............................ 1:711
5 arabes............................... 377
1 dinamarqueza.......................... 410
28 allemãs............................... 41:668
1 sueca................................... 332
80 inglezas............................... 129:307
1 noruegueza.............................. 638

N'estas estatisticas o que naturalmente causa reparos não é o augmento dos navios inglezes e da sua tonelagem; é o decrescimento simultaneo dos portuguezes.

Quero frisar ainda, n'esta altura, que são terminantes e insistentes as censuras com relação á nacionalidade dos empregados da companhia.

No Mossurize tom cotado um inglez; no Barue outro, o sr. Taylor; o chefe dos serviços do agrimensura é o sr. Danford. O jornalista britannico que citei, affirma serem inglezes os chefes das mais importantes repartições publicas; o bravo Mousinho do Albuquerque, governador geral da provincia, sustenta na sua correspondencia uma lucta com a companhia para a expulsão do elemento inglez.

Todavia, a companhia affirma, n'uma pequena estatistica, que tem apenas dois empregados de origem ingleza.

Tenho toda a consideração pelos illustres representantes da companhia, mas o meu espirito fica hesitante o inclinado a crer que haverá talvez alguns equivocos na estatistica.

Sr. presidente, é bastante visivel que as provincias de Angola e Moçambique excitam a cobiça, aguçam o appetite de nações poderosas. Allemães, ao sul de Angola e ao norte de Moçambique, inglezes a norte e sul d'esta provincia, lançam olhos do voracidade para essas riquezas que os estonteiam. Pela força ou pela astucia, ora usando do direito do mais forte, ora aproveitando-se da nossa proverbial incuria, pretendem a todo o transe expoliar-nos. Entre os logares mais ameaçados está Manica e Sofala, acaso mais ainda do que Lourenço Marque, porque aqui movem-se ambições variadas, e alem, pela situação geographica e pela visinhança da antipathica south Africa, são naturalmente os inglezes os zelosos pretendentes. Acresce que as condições d'esses terrenos são na realidade tentadoras. A sedução manifesta-se sob tantas fórmas... O solo uberrimo, produzindo quasi espontaneamente todos os cereaes; a fauna e a flora riquissimas; nas planicies baixas e visinhas do mar, o cacau; a 500 metros de altitude, o chá; n'umas regiões a canna de assucar, o caoutchouc, o tabaco, o algodão, a gomma copal, a cêra e todos os fructos da região tropical. O clima salubre, com especialidade em Manica, onde é verdadeiramente benefico. Rios navegaveis: o Zambeze, o pungue, o Busi, o Save. Povoações florescentes: a Beira, Fontesvilla, Chimoia, Villa Barreto, Nova Macequece, situada entre o Vumba e o Munene, abundante de aguas e centro de todo o commercio com a Rhodesia. Portos favorecidos pela natureza, bastando citar o da Beira, que offerece ainda a superioridade de estar, relativamente, a pequena distancia de Bulawayo e de Salisbury. Emquanto a primeira d'estas importantes localidades dista do Cabo 2:059 kilometros o a segunda 2:574, distam respectivamente da Beira 928 e 610 kilometros. A todas estas considerações ajunta-se a riqueza aurifera dos terrenos, os melhores depois dos do Transvaal por causa da percentagem do oiro extraindo do quartzo, da espessura do filão, e sobre tudo, da continuidade e regularidade que apresentam, em especial, no Revue.

Á vista, pois, do que fica exposto, o do muito que ainda haveria para ponderar, não admira que os inglezes appeteçam tão saborosa presa.

E o que pratica a companhia de Moçambique para se defender o defender-nos? Que faz ella para conservar portuguez o que portuguez lhe foi dado? Nada, ou peor; a companhia facilita a realisação de um sonho dourado dos seus e dos nossos inimigos. A continuarem as cousas n'este caminho, não virá longe o dia em que se torne effectivo certo artigo da carta organica da South Africa, artigo muito significativo, quo nos não deixa illusões, e que nos devia collocar de sobreaviso. É aquelle famoso artigo 16.º, concebido n'estes termos: «No caso da companhia vir a adquirir algum porto ou portos»... Lendo-se, vê-se immediatamente do que se trata.

A companhia já veiu a publico para se justificar das arguições que lhe são dirigidas. Eu, sr. presidente, não desejo ser desagradavel a ninguem; mas, com franqueza, sempre quero obtemperar que em vez de se justificar, mais só comprometteu; porque, em ultima analyse, confessou a veracidade dos casos, que oram condemnados, e apenas pretendeu mostrar que n'elles não tinha responsabilidade.

Então, sr. presidente, se os empregados são, ou, pelo menos, têem sido inglezes; se não promove a instrucção, não cria missões, não estabelece colonos; se a propriedade está na mão dos inglezes, se o caminho de ferro é absolutamente inglez, em tudo e por tudo, emfim, se nenhuns moios adopta para firmar a soberania portugueza, senão conservando portuguezes a maioria dos membros