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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

duos governamentaes, Antonio de Mello e Silva, Antonio da Silva Minamó e Miguel Saraiva, os quaes, sem immediatamente tratarem de averiguar quem tinha dado os tiros, ordenaram e fizeram evacuar por meio da tropa o adro da igreja aos opposicionistas que ali se achavam, levando os até ao fundo da rua da Igreja ao arco, e não obstante as queixas d’estes, que supplicavam lhe deixassem vigiar e guardar a uma como o tinham feito na noite antecedente de 13 para 14; não lhe foi isso permittido nem o poderam conseguir da auctoridade administrativa os cavalheiros opposicionistas, que para isso o foram procurar a sua casa os bachareis Francisco Pinto Ribeiro de Moraes, Antonio Hortencio Ferreira da Fonseca e o cidadão Antonio de Frias Eça Ribeiro, a quem o administrador, com ares algum tanto desabridos, lhe dissera que não se revogavam as ordens que estavam dadas. E em virtude de uma resposta d’estas vieram esses cavalheiros para minha casa, aonde me contaram o que exposto fica, e em virtude de tudo isto, eu com os mesmos e alguns outros senhores que ali tambem estavam em minha casa, tratámos de socegar os individuos opposicionistas que tinham sido expulsos do adro da igreja, e que tinham ido a minha casa na maior parte dar parte do que lhes tinha acontecido, os quaes sossegaram e trataram de se deitar, como deitaram cada um por onde pôde, saíndo ainda alguns para irem ficar á casa das obras e participarem pelo telegrapho o occorrido, e pedindo providencias assim para o ministro do reino como para o governo civil da Guarda. Passada assim a noite do dia 14 e amanhecendo para o dia 15, alguns dos individuos que em minha casa tinham pernoitado, saíram e foram ver o que havia no adro da igreja, aonde os guardas que estavam postados ás differentes entradas do mesmo os não deixaram entrar, e d’isto vieram dar conhecimento em minha casa, e se espalhou logo por todos os individuos que da opposição se achavam em differentes partes, que a entrada no adro da igreja estava prohibida mesmo de dia. Em virtude de tudo isto resolveu-se entre alguns opposicionistas o requerer se ao ex.mo juiz de direito d'esta comarca exame judicial na urna antes d'ella ser aberta para o que se apresentou requerimento ao ex.mo juiz de direito, e deferindo ao mesmo mandou que se procedesse ao exame com assistencia do ministerio publico, e, em seguida, não sendo ainda nove horas da manhã, se dirigiu para o local da assembléa para proceder ao exame na urna; porém quando ía subindo com os empregados do juizo, que mandára chamar pelas escadas da entrada do lado do norte, a sentinella que ali estava collocada não o deixou entrar, em virtude do que desceu as escadarias e veiu para a rua que está ao fundo, e ahi se conservou até que dando nove horas appareceu saíndo de sua casa, que é contigua, o presidente da mesa Amandio Eduardo da Motta Veiga, e o administrador do concelho, e todos subiram então aquella entrada e se aproximaram com os mais individuos que os seguiam na retaguarda, e entre os quaes eu ía, e todos nos approximámos á porta lateral da igreja do lado do norte. N'essa mesma occasião toda a tropa que estava no adro da igreja e que então estava commandada por um official inferior, formou em frente da dita porta lateral; e n'este estado o presidente da mesa, que tinha na mão as chaves da porta, a mandou abrir, e disse que não consentia que entrassem para dentro da igreja com o ex.mo juiz, a quem franqueou a porta para com os seus empregados irem proceder ao exame já mencionado, Ayres de Albuquerque e Luiz Ribeiro Sotto Maior que ali se achavam, porque não eram eleitores n'esta assembléa, ao que estes lhe disseram em altercação que entre uns e os outros houve, que deviam entrar, por isso mesmo que elles tinham em seu poder alguns sinetes com que tinham no dia antecedente ajudado a lacrar a sellar a uma. N'este acto o ex.mo juiz em voz alta e intelligivel, e voltando se com especialidade para o presidente da mesa: «aqui agora quem manda sou eu, hão de entrar todos os senhores que tiverem os sinetes e as mais pessoas que julgar necessarias para o exame, pois os mando intimar», dirigindo-se para o escrivão que ali estava. Em virtude d’estas ordens do ex.mo juiz entraram para dentro da igreja alem do presidente da mesa o ex.mo juiz com os empregados, dr. delegado, o dr. Hortencio, Ayres de Albuquerque, Thiago de Albuquerque, Luiz Ribeiro Bacellar, estes quatro por terem sinetes, e tambem Antonio Ribeiro Sedrim e Antonio Rodrigues Prata, para servirem de testemunhas, segundo me parece. Procedeu o ex.mo juiz ao exame, e fóra da igreja, durante o tempo que durou o exame, esteve á porta lateral da igreja do lado do norte formada toda a tropa que ali se achava, a qual foi mandada carregar armas pelo official inferior que então a commandava, e pôr bayonetas em bôca das armas, e n'esta attitude se conservou até que se concluiu o exame dentro da igreja, havendo fóra perfeito socego, a não serem algumas palavras em voz alta e desabridas que Manuel Borges da Silva, residente em Lisboa, e que n’aquella occasião se achava no adro da igreja, e que de proposito viera de Lisboa, segundo ouvira dizer, para coadjuvar a eleição governamental do dr. Manuel Eduardo da Motta Veiga, dirigira ao cidadão eleitor d'esta villa, Francisco de Almeida Mello, o qual teve toda a prudencia n'essa occasião e por isso não deu logar a haver tumulto algum ou desordem, para provocar a qual lhe foram dirigidas as expressões e palavras que dirigiu o dito Manuel Borges da Silva, no meu entender e de outras pessoas. Terminado o exame, o ex.mo juiz saíu, e á porta por onde tinha entrado disse para mim e outras pessoas que tambem ali se achavam a pouca distancia da mesma: «a uma está intacta, agora vigiem os votos», e saíu; e após d’elle apparece immediatamente o administrador do concelho, trazendo expulsos para fóra da igreja os dois cidadãos que tinham entrado para dentro com os sinetes, Ayres de Albuquerque e juiz Ribeiro Bacellar, e mandou entrar a tropa que estava formada em frente da mesma porta só meia aberta, a qual toda entrou para dentro da igreja conforme estava, com bayonetas em bôca da arma e armas carregadas, e acabando esta de entrar, appareceu á porta o administrador Casal, dizendo: «os eleitores podem entrar, mas hão de ser revistados»; eu, que estava já encostado á porta do lado de fóra, e bem assim Antonio de Frias Eça Ribeiro, pozemos immediatamente os pés no degrau da porta, entrando primeiro Antonio de Frias, que foi revistado e apalpado pelo administrador, bem como eu, estando a este acto uma sentinella á porta; seguiram-se após de mim outros, mas que não sei quem foram, e eu o Antonio de Frias entrámos pelo corpo da igreja acima e chegámos á mesa onde estava a uma, tendo passado por meio de duas alas da tropa, e ao chegarmos, observei eu e vi que havia do lado direito do presidente e ao cimo da mesa altercação entre elle presidente e o dr. Hortensio, que ali estava, desde o exame á uma, bem como tambem estava do lado esquerdo o eleitor Thiago de Albuquerque, que tambem ali tinha ficado desde aquelle acto. A altercação que havia e se estava fazendo ao dr. Hortensio e Thiago de Albuquerque por parte do presidente e administrador Casal, que para aquelle sitio já tinha regressado da porta onde estava quando eu entrei, era a ordenar a saída do local da mesa ao dr. Hortensio e Thiago do Albuquerque para d'ali saírem, bem como eu o Antonio de Frias, a fim de não observarmos nem vermos detrás dos escrutinadores os bilhetes e a leitura dos nomes que elles continham. O dr. Hortensio, eu e os mais supramencionados, redarguimos que nós estavamos ali em virtude do nosso direito, por isso que a lei eleitoral permitte a nossa estada junto á mesa, bem como a todo e qualquer eleitor. N'essa occasião reparei, e acho junto a mim um official, que suppuz ao vel-o ser o capitão que tinha vindo com a força armada requisitada pela auctoridade administrativa, e vendo a illegalidade que o presidente da mesa e administrador do concelho estavam commettendo, e querendo eu e os mais que ali nos achavamos, que o acto do escrutinio a que es-

Sessão de 13 de janeiro de 1879.