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124 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

traz comsigo consequencias perniciosas; serve principalmente, para amontoar a cifra da estatistica criminal.

Se progredir é dilatar cada vez mais os horisontes da intelligencia humana, é tambem embeber a emocionalidade no nectar dos puros affectos; é tambem avigorar a vontade na pratica do bem, no cumprimento do dever.

Ora a nossa instrucção publica despreza quasi por completo o ensino da moral, a não ser nas escolas de instrucção primaria, onde se ensinam rudimentos insignificantes, ou antes, aonde se grudam nos cerebros das creanças rudimentos insignificantes que não podem ser bem assimilados, e depois nunca mais se pensa em moral.

Na instrucção publica deve seguir-se o que se faz lá fóra. Lá fóra ensina-se moral e religião nos diversos cursos.

E se eu quizera relancear um pouco a vista pelo nosso passado, o que é que vemos? De onde efflorou a nossa grandeza? Vamos logo á origem. Pois não foi a fé religiosa que accendeu uma fornalha do heroismo no peito de cada soldado em Ourique?

Basta ler as nossas chonicas para se ver que foi a fé religiosa que animou e inspirou os nossos heroes. E, sr. presidente, não ha heroicidade n'um povo sem que elle tenha um ideal sublime. O ideal é para o homem e para a sociedade o que a seiva vital é para a planta. E que a fé religiosa inspirou e guiou sempre os nossos grandes heroes patenteia-o brilhantemente a nossa grande epopêa, sacrario diamantino onde se realisou o hypostasis do genio da patria com o estro de Camões.

Ahi se encontra refulgente o ideal portuguez, sempre irisado pela inspiração moral.

E se quizermos seguir a curva da nossa decadencia facilmente a entroncaremos no esfriamento do enthusiasmo religioso e na consequente enervação dos costumes. (Apoiados.)

Sr. presidente, se temos a peito a reabilitação da patria, entendo que devemos principiar pela disciplinação dos costumes e pela regeneração dos caracteres.

Eu não conheço nenhum agente mais energico de transformação social, nenhum instrumento mais poderoso de progresso, nenhum manancial mais fecundo de prosperidades do que um systema de educação publica. (Apoiados.)

Pôde dizer-se que n'un bom systema de educação se contém o germen de onde efflora e se expande todo o progresso, toda a civilisação.

A grandeza de uma nação não se afere pelo perimetro do seu territorio, mas pelo vigor das suas energias, pelo seu trabalho, pela sua moralidade e pelo seu ideal.

Ora, a nossa instrucção publica, desde a implantação do constitucionalismo, nunca mais pensou em ensinar moral senão na instrucção primaria.

Confia-se o ensino da moral e da religião á ignorancia e direcção das mães de familia.

A acção educadora do catholicismo não tem sido tão extensa e intensa como podia e devia, porque a orientação politica do nosso seculo lh'o tem infelizmente impedido.

O sr. Presidente: - O sr. deputado tem um quarto de hora para concluir o seu discurso.

O Orador: - Eu concluo já, sr. presidente.

Estou abusando excessivamente da complacencia da camara.

Vozes: - Não está, não está.

O Orador: - Vou concluir; mas antes d'isso desejo dirigir um appello fervoroso ao patriotismo e á illustração do governo e da camara.

Creio que no meio das discordias e das paixões que nos agitam e dividem, ha um elo que prende todos os carações; é a aspiração ardentissima, que estua em todo o peito verdadeiramente portuguez, de levantar a patria, senão á grandeza epica de outras eras, senão ao seu antigo explendor, pelo menos á categoriia de uma nação honrado, independente e livro. (Apoiados.} Não conheço meio mais directo para preparar as gerações do futuro e a grandeza da patria do que um bom systema de educação e ensino.

Debalde se trabalhará para resolver as questões economicas e financeiras, se não se resolver a crise moral, e esta não se resolve senão preparando o futuro com a implantação da bons principios da moralidade. (Apoiados.)

Dizia eu que apesar das discordias e das paixões que mais ou menos apparentemente nos dividem, palpita em todos os corações portuguezes uma aspiração nobilissima pelo resurgimento da patria.

Eu quizera que d'este ideal fulgurante, d'este annel de luz purissima, irradiassem ondas de calor era tal quantidade e com tal intensidade que aquecessem o nosso enthusiasmo, accendessem os nossos brios, galvanisassem a nossa coragem, para que os nossos esforços se unissem e os nossos sacrificios só congregassem: n'um trabalho de tytans para honra e gloria da patria. (Apoiados.)

Eu quizera que o governo e a camara, que contam no seu seio membros tão conspicuos, pelos seus talentos e virtudes, deixassem na sua passagem pelas regiões do poder legislativo e executivo um suleo de luz fulgentissima, que ficasse illuminando a penumbra indecisa do futuro da patria.

Eu quizera que desafogada e melhorada a situação economica e financeira do paiz, fundassemos um thesouro preciosissimo de prosperidades, estabelecendo um systema e educação publica bem estudado, bem ponderado e completo de geito que, não só illuminasse as intelligencias, mas reconstituisse os caracteres, depurasse os costumes e oxigenasse a nossa atmosphera moral. (Vozes: - Muito bem.)

A primeira condição para levar a effeito este trabalho que, reconheço, ser uma tarefa eriçada de difficuldades, mas tanto mais honrosa para aquelles que pozessem hombros a empreza tão arrojada, mas tão fecunda, a primeira condição, digo, é termos fé, termos esperança do que a patria será rehabilitada, não pelo auxilio estranho, mas pelo esforço dos seus proprios filhos. O desalento, a indifferença é o primeiro degrau do tumulo. O desalento é a primeira imagem do espectro da morte projectada na retina intellectual do enfermo....

Coragem e fé!

A fé remove as montanhas.

Para concluir permitia-me v. exa. que ou imite uma phrase conceituosa de um economista italiano, que ha dias foi aqui citada por um nosso collega: Metade da minha alma pertence á educação da minha patria, e a outra metade pertence á educação da humanidade.

Se orador foi muito cumprimentado.)

O sr. Ministro da Justiça (Veiga Beirão): - Ouvi com toda a attenção as judiciosas considerações apresentadas com toda a erudição pelo illustre deputado, e prometto transmittil-as, tão fielmente quanto me seja possivel, ao sr. presidente do conselho.

O sr. Presidente: - Poucos minutos faltam para se entrar na ordem do dia, mas eu devo dar uma satisfação á camara.

Alguns srs. deputados, mesmo da maioria, significaram-me que na sessão anterior houve equivoco da minha parte, porque parece que era intenção da maioria dar a palavra ao sr. Mello e Sousa, quando elle a reclamou depois da resposta do sr. ministro da fazenda. (Apoiados.)

A mesa interpretou de fórma diversa a votação, mas se porventura alguns srs. deputados, por deferencia, não pediram a rectificação da votação, eu agradeço essa deferencia, mas peço que ella se não repita porque desde o momento em que da parte da mesa houver equivoco, o meu dever é rectifical-o. Acho que a camara me auxiliará n'um pedido que vou fazer: que dê a palavra ao sr. Mello e Sousa, para liquidar esse incidente, e que elle se possa prolongar alem da hora de se passar á ordem do dia, para