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liva, e não queria ser morto com violência. Eu direi como Mirabeait, (cito o exemplo d'um grande homem) que quando sentiu que sobre a sua cabeça pesava o dedo de Deus, disse —Rodeai o meu leito das musicaa as mais harmoniosas, queimai defronte de miin os aromas mais deliciosos, e coroai-rne de ílo-res.
O Sr. José Estevão: — Isso não pôde ser, não ha cá verba no Orçamento (Risadas geraesj.
Orador: — Mas quando eu me resolvi a entrar neste debate, e' porque confiava no born senso, e il-lustraçâo desta Junta, e tenho rasão para confiar. Sr. Presidente, assaz tern sido cruel e dura a experiência das nossas dissensões políticas; pois não temos nós andado aqui constantemente a levar ao cume da montanha esse rochedo do condemnado da Fabula ?
Assim temos andado desde que em Portugal raiou a aurora da liberdade. Sr. Presidente, eu peço á illustre Commissâo que seja benevolente, que se compenetre da minha situação (Apoiados). Pois bem ; eu vou dizer aquillo que eu intendo que não deve ficarem silencio, ainda que, corno diz um grande .homem, que e. um dos ornamentos da Tribuna Fran-ccza, e Mr.dc Lamarlinc. — O julgamento lento e silencioso da Historia não compete á Tribuna, porque a Tribuna falia sempre a linguagem das paixões. —
Sr. Presidente, alguém quiz distinguir no Parecer da Commissâo duas questões, a questão das cifras, e a questão dos factos, embora sejam differentes; mas o que senão pôde duvidar, e que tanto nas questões de cifras, como nas questões de factos, quem as ha de resolver e o raciocínio, o raciocínio d o instrumento com que se tractam questões de toda a ordern : e se o raciocínio se engana mui (a* vezes quando se faz uma addição de cifras, lambem o raciocínio se pôde illndir quando tiramos dos factos consequências ille-gitimas. Perdôe-me a illustre Commissâo, não lenho o menor desejo de aggredir, mas permitia que lhe .diga, se ella foi inexacta nas cifras, não podia ser lambem inexacta nas conclusões que deduziu? A sua boa fé e reconhecida, e eu sou o primeiro a prestar-lhe testemunho: mas se a Commissâo confessa, que je enganou nos cálculos, que fez, também podia errar nas conclusões, que affirmou. Eu, Sr. Presidente, sei o molivo porque Deos collocou a cabeça superior ao coração, e para que a razão domine ò sentimento; eu não desejo senão fallar verdade; nem paixão alguma me oíFusca o entendimento: é uma historia o que eu vou contar, singela, e exacta ; c" uma collec-ção de factos, que hei de referir, para ver se o raciocínio descobre a sua ligação, ou patentca as causas, que os produziram.
O Districlo de Villa Real ha muito que está n'urn estado violento; isto foi dicto pelo Sr. Conde de Villa Real, a quem eu muito respeito, porque e um Cavalheiro muito dislincto, e um Proprietário que anima a agricultura, c que tem alli uma grande casa ; mas, Sr. Presidente, eu hei de pôr de parte todas estás considerações sociaes, para dizer a verdade ; pois porque o Sr. D. Fernando tern sobre a sua cabeça uma coroa de Conde, e porque eu sou plebeo, sem mercês, nem fitas, nem titulo?, hão de as minhas palavras produzir menor credito ? Sr. Presidente, dizia o Sr. Conde de Villa Real—AquelleDislricto, desde muito que está. n'um estado violento, eanarchico — pois não é tão violento eanarchico cotnoS. K x.* disse, a anarchia existe quando não ha chefes, alli talvez haja cabeças de .Voi. l." —JANF.IIIO—1858.
mais... Mas aquclle Districlo está n1 um estado vio-lento, e quem podia evitar que elle o estivesse? A questão e' esta : —Vós que governais desde o ponto A sereis responsável pelo estado do Dislricto, n'umadata muitíssima anterior a do vosso governo?—-Parece-me que em boa razão ninguém pôde fazer responsável nem o Governo, nem as Aucloridades, por isso mesmo que de tempo muito antigo aquelle Districlo e um pouco violento, e o que não é de admirar pela natureza dos seus habitantes; o Districto e montanhoso, e o caracter dos seus habitantes participa da rudeza do seu terreno.
Sr. Presidente, em todo o Paiz e' conhecido o caracter dos habitantes do Douro, pois não se diz que rio Douro se dá um tiro por um cacho de uvas? Mas não e disto que se.quer fullar... Eu não desejo es-candecer irritações, nem venho aqui fazer increpação a ninguém, todas as Auctoridades que alli têern governado para mini são sagradas, neste logar, principalmente aquellas que não estão presentes; seria uma falta de generosidade, embora conhecesse ale' certo ponto, que aquelle Districto tinha sido rnal governado, abusar da minha posição; eu quero ser generoso, e porque sou pequeno, e preciso da generosidade dos outros. Mas, Sr. Presidente, foi nomeado para Governador Civil do Dislricto de Villa Real um distincto Cavalheiro o Sr. António Pinto de Lemos, o Districto estava em agitação quando elle foi para alli, e se fosse outro, quem sabe o que teria acontecido... Mas vamos a ver, vamos a examinar o que. fez para diminuir essa irritação, vamos a ver o que fez ? Sr. Presidente, estavam suspensos quasi todos os Administradores daquelle Concelho; porque o Governo não linha approvado as propostas de demissão, que lhe haviam sido dirigidas pelo antecessor do Sr. Pinto de Lemos, liste Funccionario conservou doze Administradores dos que achou servindo, levantou a suspensão a quatro, e os que faltam para vinte e cinco que e' a sua totalidade, foram escolhidos de entre os Presidentes de Camará?, ou Juizes Ordinários. Para estas nomeações tomou uma regra, e uma regra geral. Houve uma única excepção, Sr. Presidente, e foi a favor do Administrador do Concelho de Sabroza, acerca do qual eu invoco o testemunho do illustre (/onde de Villa Real, porque o conhece bern : já foi companheiro d'armas de S. Ex." Este Cavalheiro foi ate' pelo Sr. Conde de Villa Real escolhido Administrador para governar esse Concelho : d um Cavalheiro distincio: pertence a uma das famílias mais brilhantes c dislinctas daquclia Província ; e o Governador Civil nào o nomearia para alli, senão fosse uma Representação de 200 das principaes pessoas daquclia localidade, que pediam o nomeasse. Eis-aqui está o motivo porque se afiíistou da regra que tinha estabelecido para as nomeações.
Sr. Presidente, eu tenho de citar aqui muitos fa-, ctos, mas peço aos Srs. Deputados que, se por ventura duvidarem da authentecidade dos documentos que eu tiver de apresentar, ou a que rne referir, tenham a bondade de mo dizer, porque eu estou prompto a aprcsental-os. Eu não quero improvisar: não quero dizer senão a verdade. Foi deste modo que elle or-ganisou o pessoal da Administração, procurando pessoas de todos os Partidos: hão foi exclusivo: não teve urn vista este ou aquelle Partido. Desgraçadamente o nosso Paiz está, retalhado em Partidos, c èllc foi a todos o? Partidos: nqui está a relação dos Adminis-