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128 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

«Espero que v. exa. acceda a esta minha requisição, dignando-se attender a que hei de empenhar esforços para não empregar a força armada senão depois de esgotados todos os meios prudentes, e seja esse o único recurso de que se possa lançar mão.»

(Interrompendo a leitura.)

Estas são as instrucções geraes que são dadas a todas as forças que vão exercer as funcções de policia.

Aqui estão agora as taes palavras, srs. deputados, que feriram a minha attenção:
a Lembro respeitosamente que ha conveniencia em que O destacamento se componha de homens que não sejam naturaes da localidade para onde são destinados, isto quanto Beja possivel.»

Não sei o que significa tal exigencia, em verdade, tanto mais que o referido administrador não indica os motivos della! Mas, se é licito o direito de interpretação sobre os documentos, direi que, se a força que ia destacada para a Ribeira Brava estava animada de desejos e intuitos conciliadores, se estava empenhada em esgotar todos os meios brandos e pacíficos para que a ordem não fosse alterada, a recommendação do administrador da Ponta do Sol não se comprehende.

A mim, que sou leigo na materia, parece-me, pelo contrario, que soldados conhecedores d'aquella população seriam os mais próprios para a missão de paz de que iam ser investidos.

Pois, por ventura, quando os desordeiros vissem nas fileiras da força armada um irmão, um pae, um filho, não faria isso com que elles se mantivessem em respeito, se não por virtude da lei, ao menos pelos laços de sangue, pelo respeito aos affectos que não se quebram, nem mesmo que o coração do homem palpite por debaixo de uma farda de soldado?

Eu creio que sim, srs. deputados, mas o sr. administrador da Ponta do Sol entendeu o contrario, entendeu que para a missão pacifica, de que tanto alardeia, e que infelizmente havia de ser coroada de tão tristes resultados, eram precisos homens, que não tivessem na Ribeira Brava parentes nem adherentes, como se diz em phrase juridica.

O que quer isto dizer, repito?

Tenho aqui era todos os jornaes independentes, que por essa epocha se publicavam na Madeira, as queixas continuadas contra a pressão da força publica nas vesperas do acto eleitoral; era este o grito constante e unanima dos homens mais serios de todos os partidos, pois todos elles achavam estranho e altamente censuravel, que no momento em que o povo ia reunir-se para a mais augusta das funcções que um cidadão póde exercer num paiz livre, no momento em que o povo ia, em nome da lei, depor na uma o seu voto para escolher aquelles que o haviam de representar nas cortes constituintes, fosse exactamente nessa occasião constrangido e violentado no exercicio do seu direito, pela presença da força armada, a qual, n'este caso, nós já sabemos a que tristes acontecimentos devia assistir, ou melhor, devia provocar!

Assim, eu já demonstrei em primeiro logar, que não havia agitação alguma durante o período eleitoral, como o confirmou o sr. ministro do reino no documento que me enviou; em segundo logar, fiz notar á camara que, mesmo no caso de ter havido na Ribeira Brava alguma agitação, era verdadeiramente enygmatica e contraproducente a particularidade indicada na escolha da força.

Agora, como desejo ser methodico, mas ao mesmo tempo completo, para que o
assumpto fique bem elucidado, passarei ao segundo capitulo da minha exposição.

Admittamos por um momento e por hypothese, que as auctoridades da Madeira tinham rasão nas suas precauções.

Seria então porque a attitude dos jornaes republicanos fosse uma attitude ameaçadora, já que a respeito de agitação nos campos sabemos bem que não existia? Mostremos o valor de tal allegação.

Para isto eu vou ler á camara alguns trechos, os mais importantes, dos jornaes que devem ser considerados os orgãos officiaes do partido republicano na Madeira, e que o são effectivamente. Vejamos qual era a linguagem d'esses jornaes nas vesperas da eleição, e d'esta fórma creio que a demonstração ficará completa.

Começarei pelo O povo, o jornal mais importante, pela sua antiguidade, do nosso partido naquella ilha. E escolhi deste jornal, de propósito o numero do dia 28 de junho, por dizer do momento critico e agudo da situação, numero que traz os retratos dos tres candidatos republicanos, vindo a biographia d'estes precedida de um manifesto aos eleitores.

N'este jornal, portanto, deve encontrar-se a ultima palavra do partido republicano na lucta que se ia ferir.

Vejamos que doutrinas subversivas pregavam aquelles novos catilinas, contra os
quaes todoe os cuidados e precauções da autoridade não eram demasiadas.

Só faltou n'esta casa um Cicero que viesse render graças ao capitolio por ter salvo a republica de tão grande calamidade!

Não leio o manifesto todo, porque isso seria demasiadamente fatigante para a camara; mas creio que os trechos que vou citar são tão decisivos, que excluem absolutamente a possibilidade de coexistencia com trechos do mesmo artigo e do mesmo jornal, propagando doutrinas contrarias.

Que dizia então O povo, na vespera da eleição, quando era preciso que todos estivessem preparados com as armas engatilhadas e com os punhaes bem afiados para levar a cabo a tal liquidação social?

Dizia o seguinte:

«Para que a nação se liberte do jugo desses tyrannetes risíveis, para que se erga do abatimento e da vergonha em que a collocaram os maus governos, que a impellem para a bancarrota e para a perda da propria autonomia, não é mister correr os transes dolorosos da revolução, não é preciso empregar a pólvora e a bala: basta uma simples lista lançada na urna, contendo os nomes de homens sabios, patriotas, honradas e convictos democratas, e está feita a revolução.»

Oh sr. presidente! que parece a v. exa. a doutrina d'aquelles facinoras, porque é assim que elles lá eram appellidados pelos candidatos monarchicos?!

A mim, até com franqueza o digo, me parece demasiadamente commovedora a theoria de que a revolução se fará simplesmente com as listas.

Mas vejamos outro trecho, que completa este:

«Não receieis cousa alguma; permanecei tranquillos dentro da ordem e da legalidade e votae livremente nos vossos candidatos.

«Porem mais do que as bayonetas a simples lista que levais á urna, se ella contiver os nomes dos homens dignos o sábios a quem deveis confiar o vosso mandato.

«Que o espectaculo da força armada não nos intimide, antes seja para nós mais um estimulo era sustentar tenazmente o nosso direito contestado.

«Lembrae-vos que o habito não faz o monge, e quer sob a bluse, quer sob a farda, no peito do artista como no peito do soldado, o coração que livre nasceu póde sentir igualmente o mesmo affecto pela liberdade.»

Vê v. exa. e vê a camara como estas palavras são tudo quanto ha de mais ordeiro, tudo quanto ha de mais serio, tudo quanto ha de mais nobre e mais digno em homens que apresentam os seus candidatos n'uma pugna eleitoral. Onde estão aqui phrases de odio? Onde está aqui incitamento á revolta? Onde está aqui o chamamento a essa liquidação social de que tanto se alardeou?

Mas ha mais, e creio que a camara o terá notado. O jornal O povo, embora caracterisando, conforme era justo, os