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132 DIARIO BA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

«Na assembléa da freguezia de Canhas alguns agitadores da localidade, juntamente com os eleitores da freguesia da Magdalena do Mar, pretenderam perturbar o acto eleitoral, tentando apoderar-se da uma e invalidar a eleição, sendo mister recorrer á força publica, que os dispersou, etc.»

Quer dizer, o sr. governador civil da Madeira denuncia a respeito da assembléa da Magdalena um acto grave praticado na igreja, uma tentativa de se apropriarem da urna, resultando d'ahi a intervenção da força publica.

O protesto apresentado pelos eleitores republicanos á assembléa de apuramento do circulo n.º 97 refere-se tambem, como o documento official que acabo de ler á camara, a um tumulto dentro da igreja, já se vê attribuindo-o a causa bem diversa. Mas com relação á existência de uma desordem dentro do templo, concordam tanto o protesto, como o officio do sr. Serra, e Moura.

É mesmo a segunda vez que os documentos officiaes vem confirmar a veracidade do que affirmam os signatarios do protesto mencionado.

Quer v. exa. agora saber o que se diz na acta da assembléa de Canhas? É isto:

«E quando se estava procedendo a esta chamada apresentou-se nas proximidades da assembléa um grupo de povo e cidadãos, não eleitores, fazendo grande motim e assuada, de sorte que o presidente consultou a mesa se conviria requisitar a força armada para manter a ordem dos trabalhos eleitoraes e deliberando a mesa affirmativamente o presidente suspendeu os trabalhos eleitoraes e requisitou força armada ao commandante do destacamento estacionado n'esta freguezia, a quem ordenou que dispersasse os tumultuosos e restabelecesse a ordem e socego na assembléa e proximidades, o que o referido commandante cumpriu dispersando os grupos dos amotinadores, em breve restabeleceu a ordem e socego pelo que o presidente mandou retirar a força armada para seu quartel e meia hora depois declarou que se ia continuar nos trabalhos eleitoraes, e sendo cinco horas da tarde o mesmo presidente declarou que desde este momento começava a contar-se as duas horas marcadas no artigo 67.° do mesmo decreto.»

De maneira que o sr. Thomás Nunes Serra e Moura, governador civil da Madeira, diz que houve um tumulto na igreja, que ali intentaram apoderar-se da uma e perturbar o acto eleitoral.

O sr. Teixeira de Vasconoellos: - Individuos não eleitores.

O Orador: - Eleitores conjunctamente com agitadores da localidade, é o que se diz no documento citado.

A questão é que o sr. Serra e Moura diz que o facto se deu; que n'aquella assembléa tentaram apoderar-se da uma e perturbar o acto eleitoral.

Mas a acta da assembléa de Ganhas refere-se apenas a uma assuada e a motim nas proximidades da assembléa.

Se eu quizesse examinar miudamente todo o processo, teria muito ainda que contar á camara, mas creio que o referido basta para dar a medida do valor das actas n'esta eleição!

Vou abreviar as minhas observações, porque desejo terminar hoje, e evitar de ficar com a palavra ainda reservada para a sessão seguinte.

Falta-me apenas meia hora, mas conto ter tempo para expor á camara o que me resta por dizer, reservando-me o direito de replicar ou restabelecer a verdade das minhas asserções quando, por ventura, os factos que affirmei, sejam por alguem aqui contestados.

Disse eu, logo no principio do meu discurso, que antes da eleição não havia agitação alguma na Madeira, por isso que o proprio sr. ministro do reino entendera que aquelle districto não lhe devia merecer mais cuidados do que os outros districtos do continente, onde uma paz octaviana reinara sem interrupção.

Mostrei tambem como na occasião em que se tinha realisado o acto eleitoral, para a Ribeira Brava haviam convergido todas as pressões, porque os candidatos monarchicos tinham a certeza de que, se não fossem soccorridos pelas imposições da força, nunca conseguiriam triumphar dos candidatos republicanos; visto que, torno a dizer, e a repetir com intenção, alguns dias antes de 29 de junho elles se julgavam completamente perdidos.

Vou agora, para terminar, provar á camara que mesmo depois dos fusilamentos da Ribeira Brava não houve na Madeira agitação revolucionaria ou ameaças de vingança em que tanto têem fallado os jornalistas mal informados ou facciosos.

Não houve nada d'isso, sr. presidente! Os morticinios da Madeira não foram o resultado da legitima defeza da parte da tropa contra o povo, mas sim a consequencia do um criminoso plano de terror, pelo qual terão de responder perante a historia, já que a justiça de hoje os não quer ou os não póde alcançar, aquelles que d'elle se tornaram cúmplices ou foram seus instigadores!...

Eu digo a v. exa. que se porventura, e creio que já hontem toquei de leve neste argumento, se tomasse a serio que a agitação na Madeira fosse promovida ou planeada pelo partido republicano; se se acreditasse haver empenho de, a todo o custo, este partido se aproveitar das circumstancias; eu digo que se teria procurado evitar que elle tentasse um golpe de mão no Funchal, porque esta cidade é o centro da propaganda republicana; é o nucleo de onde ella irradia para os concelhos ruraes; é o foco onde as forças do nosso partido se encontram reunidas e, o que mais vale, disciplinadas.

Mas em tal não se pensou. Pelo contrario, desguarneceu-se o Funchal de tropas
nas vesperas e no dia da eleição!

É pois crivel que se o partido republicano estivesse tão excitado, como caprichavam em pintal-o os chronistas officiaes, o governador civil se atrevesse a desguarnecer de tropas a cidade, deixando-a á mercê dos revolucionarios?!

O sr. governador civil do Funchal sentia grandes receios que os amotinados da assembléa da Ribeira Brava fossem atacar o sitio onde estava aquartelada a força, o que em verdade seria um acontecimento extraordinario para a sorte da ilha da Madeira, attenta a importancia estrategica de tal quartel. Mas o mesmo sr. governador deixava ficar o Funchal desguarnecido de tropas, e não tinha medo que os taes revolucionarios, ali mais numerosos do que em qualquer outra parte, forcassem a fortaleza de S. Lourenço! Risum teneatis...

Vê-se bem que, quaesquer que sejam os argumentos que se empreguem para calumniar o partido republicano e tornal-o responsavel pelas desgraças succedidas, sempre se chega á conclusão de que o revolucionado não era elle, mas o governo, os seus agentes, e os inspiradores d'esses agentes, aos quaes cabe grande parte da gloria de tão heroicas façanhas!

Mas é ainda o sr. ministro do reino quem vem dar-me rasão n'este ponto. Tudo quanto para Lisboa escrevesse o sr. governador civil do Funchal, a proposito de desordens republicanas, era uma pura fabula, diria mesmo para comedia, se a palavra fosse parlamentar, e v. exa. m'a permittisse. Mas, em todo o caso, affirmarei que não passava de uma combinação para fazer effeito no publico. O ministerio sabia bem que não havia nada. E quer v. exa. a prova?

Recorda-se sem duvida a camara que na segunda sessão da junta preparatoria eu pedi, pelo ministerio do reino, copia dos telegrammas o mais correspondencia trocada entre o sr. presidente do conselho ou o sr. ministro do reino e as auctoridades tanto civis como militares do Funchal durante o periodo eleitoral, e depois d'esse até á nomeação definitiva do sr. governador Vasco Guedes.

Pelos documentos que apresentei ha pouco se vê que antes da eleição não tinha havido nada extraordinario, por