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SESSÃO N.° 10 DE 7 DE JULHO DE 1897 137

que toda a demora no repatriamento d´aquellas forças representa uma iniquidade! (Apoiados.)

Já tive occasião de dizer que o transporte Africa não póde estar em Livorno a fazer villagiatura, emquanto as tropas na India e, accrescento agora, em Moçambique tambem,, estão a morrer, dizimadas pela anemia palustre, depois de tecem cumprido briosa, honrada, patriotica e valentemente o seu dever. (Apoiados.)

Se as tropas portuguezas, nobremente e em todas as circunstancias, estão promptas, sem vacillações, a irem pugnar nas provincias ultramarinas pela honra e interesses patrios, o governo tem o dever estricto, depois de cumprida por ellas a sua missão, de lhes corresponder com justiça, não só repatriando-as, mas do acudir e valer ás familias d´aquelles que lá deixaram a vida pelo paiz. (Apoiados)

Evidentemente não se podem deixar essas tropas, retidas em inhospitas regiões, á espera que acabe a villagiatura do vapor que foi a Livorno. Seria uma ironia pungente, um contraste absoluto com o cumprimento de um sagrado dever.

A despeito de todas as economias annunciadas á camara pelo sr. ministro da marinha, ouvi que n´esse transporte se deram passagens a particulares, porventura gratuitas, e que não eram certamente obrigatorias! (Apoiados.)

O Africa não póde continuar em Livorno, porque d´essa demora resulta, repito e repetirei sempre, uma iniquidade - a não repatriação immediata das forças expedicionarias. (Apoiados.)

Por consequencia, é preciso que o sr. ministro, da marinha justifique categoricamente perante a camara o que está o Africa a fazer em Livorno (Apoiados .); porque é que lá se está demorando, porque e que não vem para desempenhar a commissão do repatriamento das forças expedicionarias, conforme é de direito e como é humano que se faça, já e já, urgentemente, segundo o impõem as circumstancias que tenho apresentado á camara e que estão impressionando e commovendo o espirito publico!

Sr. presidente, e dito isto, vou hoje tratar mais especialmente do repatriamento das forças expedicionarias de Moçambique, e devo desde já declarar que tenho mais alguns dados para referir-me a cavallaria 4 do que ás outras tropas expedicionarias, n´aquella provincia, porque as forcas de cavallaria sendo da minha brigada, conheço-as mais de perto.

Ainda ha poucos dias li n´um jornal de Lisboa, o Correio Nacional que, parece-me, não póde ser suspeito ao sr. ministro da marinha, que um distincto official, o governador do districto de Moçambique, se empenhara n´um combate, na região dos namarraes, no qual houve bastantes mortes e em que tomaram parte tambem 47 praças de caçadores, mas todas n´um estado de abatimento tal que mettiam dó.

Não tenho dados officiaes, repito, para apreciar, com excepção da cavallaria, a situação precisa dos outros expedicionarios; mas consta, pela publicidade dos jornaes, que elles estão igualmente em estado miseravel, sob o ponto de vista sanitario.

Ora isto não póde continuar, como não póde admittir-se que as tropas expedicionarias, depois de combaterem brilhantemente pelos interesses patrios, se encontrem desamparadas, dando-se margem por esta fórma a que comece a ter visos de aphorismo o que me dizem n´uma carta - que é melhor ser deportado que expedicionario, porque o deportado póde ir para lá com a sua familia e tem tempo marcado para o seu exilio, e o expedicionario não a póde levar comsigo, nem sabe o tempo que tem de lá estar!

Succede, mais como já tive occasião de dizer, que as primeiras forças expedicionarias que d´aqui foram para a India só lá estiveram oito mezes, parecendo que tinham lampada na casa de Mecca, emquanto que estas que lá estão não a têem. Mas têem, sr. presidente, pela minha parte, procurador dedicado, porque não deixarei de insistir perante o governo, para que as mande repatriar, como deve, como é de justiça! (Apoiados.)

Mas dizia eu, que podia tratar mais especialmente das forças de cavallaria 4. Com offeito, as forças d´este regimento embarcaram em 19 de junho de 1896; portanto ha mais de um anno que estão em Moçambique.

Este contingente compunha-se de 66 praças de pret e 4 officiaes, e permitta-me a camara que acrescente, que não estou tratando de patrocinar servidores do estado, que não patenteassem, briosa e denodadamente o seu valor.

Entraram elles no combate de Mojenga, cujas operações se realisaram nos dias 19 e 20 de outubro de 1896, e d´elles houve 6 feridos, que foram 2 sargento, l cabo l clarim e 2 soldados. Um sargento e um clarim perderam no combate, os cavallos em que montavam.

Varias são as recompensas especiaes propostas para premiar o esforço excepcional com que a companhia de cavallaria n.° 4 se conduziu, figurando em taes propostas 1 official, 5 sargentos, 3 cabos e 5 soldados.

Infelizmente os feitos de Mujenga, apesar de gloriosos, não foram decisivos, e teve de ser reforçada a torça de cavallaria n.° 4 que ali operou, não só porque assim era preciso pelas necessidades da campanha, mas ainda porque já n´esta occasião havia lá soldados que careciam de ser repatriados.

Esta força foi elevada a 112 praças de pret, e fez toda a ultima campanha dos namarraes, a qual durou de 24 de fevereiro a 28 de março, isto é, um mez e quatro dias.

Comprehende-se, pois, a situação em que ficaram estas pobres homens, depois d´este periodo, relativamente largo, de campanha em Africa, sujeitos a todas as incommodidades possiveis e imaginaveis.

Eu não appellarei para sentimentos humanitarios, porque outro dia, quando appellei para o bom coração do sr. ministro da marinha, s. exa. disse-me que tinha só que attender aos seus deveres.

Pensei que não tinha proferido uma heresia, appellando para o seu coração, porque n´esse momento os deveres estavam de accordo, confundiam-se, com o sentimento. Mas eu quero agora invocar apenas o dever a cumprir, que tem o homem publico, o ministro, em presença da situação que vou expor.

Acabada a campanha dos namarraes, que, como disse, durou um mez e quatro dias, com todas as incommodidades, com todas na privações que se dão na guerra, n´um clima d´aquelles, e na peior epocha, os soldados firam completamente exhauridos de forças e principiaram a ser atacados de anemia palustre. Pois, n´esse misero estado mandaram-os estacionar em Mossuril, que é dos pontos mais insalubres que ha em Africa; posso mesmo chamar-lhe - insaluberrimo. O resultado d´isto foi que até agora ali morreram seis!

Segundo ao sr. ministro da marinha, o seu evangelho é fazer economias. Dada essa orientação, nada ha mais economico, do que mandar para aquellas regiões, d´esses benemeritos servidores do estado, aproveitai-os emquanto elles têem força, para poderem combater, e deixal-os por lá ficar, porque o clima encarrega-se de os matar: enterram-se depois, e até se não faz despeza com o padre!

D´aqui a pouco já não haverá soldados a repatriar, e portanto o Africa póde continuar na sua villagiatura. (Vozes: - Muito bem.)

Limitando-me, pois, a expor factos que são de origem official, o que o sr. ministro da marinha não póde contestar, direi, recapitulando, que morreram em Mossuril seis homens, depois da campanha dos namarraes.

Se se tivesse devidamente providenciado, os soldados teriam sido mandados retirar d´ali, e provavelmente não haveria essas mortes a lamentar.

Mas ha ainda mais.

Dos officiaes, dois d´elles, o capitão e o veterinario,