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138 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

tiveram de ser repatriados: vieram n´um estado deploravel, parecendo verdadeiros cadaveres ambulantes. Outro tanto succedeu a 31 praças, que regressaram ao reino no peior estado, e que naturalmente nunca mais poderão lograr saude e terão de pedir ao governo que lhes dê as pensões devidas.

Servidores da patria, que por aquella fórma se portaram, não hão de acabar, naturalmente, por andar mendigando. (Apoiados.)

As circumstancias forçaram, por conseguinte, a repatriar 2 officiaes e 31 praças de pret. E dos que por lá se conservam, bastantes têem direito a passar á reserva, o que patenteia mais outra iniquidade.

Já vê v. exa. e a camara que o quadro não póde ser menos lisonjeiro, e o sr. ministro da marinha tem obrigação de pôr ponto a este triste estado de cousas. (Apoiados.)

Quero crer que s. exa., compenetrado do que estou dizendo, sem phantasiar, por isso que não faço mais do que tornar conhecidos da camara os numeros e algarismos que me são fornecidos officialmente, vae tomar providencias para que embora haja que enviar nova expedição para Moçambique, a que alli está actualmente seja immediatamente repatriada.

Referindo-me a Moçambique, e visto ser a segunda vez que fallo n´esta casa, depois do facto glorioso de Chaimite, não posso deixar de dizer que, no meu fôro intimo, estou plenamente convencido de que Monsinho de Albuquerque é um heroe a valer, um heroe de fino quilate, d´aquelles que não têem receio de confrontos historicos (Apoiados), um militar distinctissimo, commissario regio como deve ser, porque, em todos os feitos que se têem praticado n´aquella provincia, é elle que, á frente das suas tropas, com o seu exemplo de valor, as leva ao combate, colhendo louros para a patria. (Apoiados.)

E elle, que é um heroe authentico e garantido, ha de ter feito saber ao sr. ministro da marinha que aquellas tropas não podem continuar a permanecer ali, precisando ser substituidas.

A este respeito não tenho nenhum documento official; mas confio tanto nos meritos d´aquelle varão illustre e assignalado militar, que estou perfeitamente seguro que não me engano.

Não se trata de commissarios regios para exclusivamente ouvirem tiros de polvora sêcca - salvas de artilheria, nem de prelado, presidente de conselho governativo, isto é, de perfeitas nullidades, sob o ponto de vista militar. Trata-se de um homem que está ali felizmente para gloria do paiz e do exercito, perfeitamente conhecedor das necessidades da provincia, - de um homem que com o seu exemplo, vigor o coragem todos os dias está dando provas de quanto vale. A despeito de tudo quanto se propale, o seu logar é ali, onde nas circunvizinhanças enxameiam os aventureiros sem escrupulos do especie alguma, e a quem saberá responder á letra, se elles se desmandarem. Por todos estes motivos quero crer que Monsinho de Albuquerque já pediu providencias ao governo ácerca d´aquella força, que não póde lá servir senão para estorvo, alem de que elle tem bom coração para não poder assistir, sem se compungir, áquelles desastrosos acontecimentos, que não póde remediar.

Concluindo a explanação das minhas perguntas, aguardo a resposta do sr. ministro da marinha, não para lhe responder depois, porque v. exa., sr. presidente, estabeleceu preceitos que não quero infringir por principio algum, porque tendo por v. exa. todo o respeito, não só como presidente, mas como homem, e amigo, desejo ser o deputado mais facil de dirigir, n´esta casa.

Limito por aqui as minhas considerações, o que não quer dizer que em outra sessão, se a resposta do sr. ministro me não agradar, eu não insista em pedir o repatriamento das torças que não estão ali, na actualidade, senão a dar um mau exemplo, sob o ponto do vista de administração publica.

Vozes: - Muito bem.

(O orador não reviu as notas tachygraphicas.)

Mandou-se expedir o requerimento.

O sr. Ministro da Marinha (Barros Gomes): - Sr. presidente, é facil a minha situação, visto que hoje, como ha dias, me encontro no fundo absolutamente de accordo com o illustre deputado que me interrogou. O desejo do governo não é, nem podia ser outro, senão o de fazer repatriar aquellas tropas. O governo está possuido mais de que ninguem dos graves interesses que comprometteria se por acaso podesse penetrar no espirito dos officiaes, que commandam, e dos soldados, que combatem, a suspeita de que estavam esquecidos pelos poderes publicos, e que os sacrificios que fazem da sua vida e saude eram mal apreciados e postos de banda, inutilisando esse esforço e tornando justamente impossivel de se reproduzir ámanhã, quando as circumstancias nos obrigassem a appellar de novo para o brio militar dos elementos componentes do nosso exercito (Apoiados.)

O que explica um pouco esta situação apparentemente indecisa, é que o governo veiu encontrar um periodo de transição. É indispensavel incutir, no espirito dos que administram as nossas colonias, que não é compativel com as forças financeiras do paiz a continuação indefinida d´este recurso ás expedições militares, em que pomos á prova o brio, o patriotismo e a boa vontade das nossas tropas continentaes. O esforço explica-se em circumstancias anormaes; mas, em circumstancias ordinarias, é indispensavel que os elementos da nossa defeza colonial estejam organisados por fórma que só não torne necessario recorrer a este constante sacrificio do exercito.

Eu ainda hoje estou hesitando, com respeito á India, sobre se seria possivel poupar o thesouro e o exercito; mas s. exa. não supponham que, quando fallo de sacrificios do thesouro e do exercito, ponho em parallelo o sacrificio das vidas e o sangue dos soldados portugueses com o esforço pecuniario do paiz.

Mas ainda n´este momento, não tenho a certeza, se poderei poupar, ao soldado portuguez, primeiro, e ao thesouro nacional depauperado e abatido, em segundo logar, o sacrificio de nova expedição á India.

Tenho obrigação de ver se isso é possivel, sem comprometter tambem os interesses e a segurança d´aquella provincia.

Por isto é que tenho talvez retardado um pouco mais a resolução d´esse ponto.

Demais, como v. exa. sabe, nomeei uma commissão composta dos homens que considerei mais competentes, para me proporem um plano de reorganisação das forças do ultramar; mas declaro desde já que não espero por esse trabalho; e que para a India, talvez, e para Moçambique, com certeza, vae tratar-se de organisar uma expedição, que substitua aquella que lá está.

Respondo agora, concretamente, ás perguntas do illutre deputado.

Diz s. exa.: "Porque motivo foi o Africa a Livorno?"

Foi para levar a guarnição para o novo cruzador Adamastor; e com ella o armamento, as munições, as rações, os generos, o mobiliario - emfim, tudo quanto era indispensavel para que o Adamastor podesse vir para o reino, porque a commissão dá o navio mas não dá o armamento, nem o mobiliario, nem as munições que aquelle vaso de guerra deve trazer para Lisboa e seria muito importante a despeza a fazer-se com o fretamento de um navio do commercio, para levar todas estas cousas necessarias.

Agora, pergunta s. exa. mais: - "Por que se demora o Africa em Livorno?"

Em primeiro logar, e isto era ponto para responder tambem ao illustre deputado o sr. Ferreira de Almeida...

Mas sem me antecipar na resposta a s. exa., direi ao