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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

dos, mas todos na formar. Todos mortos, mas todos no seu posto. (Apoiados.)

Eis aqui como eu entendo a politica e como eu a professo, não me parecendo necessario dizer que tudo isto está subordinado ao amor da patria, ao progresso e bem estar da sociedade, pois que este é o fim a que toda a politica se dirige e é esta a letra que todos os partidos apresentam em suas divisas.

Já d'aqui V. ex.ª vê que não hei de fazer grande fortuna pela politica, pois que tão acanhadamente a comprehendo.

Tambem sou do numero d'aquelles que estão convencidos de que nunca as insinuações que inspira a cólera deram maior auctoridade aos argumentos que a rasão suggere. Não duvidarei jamais da sinceridade, nem do desinteresso, nem do patriotismo dos homens que n'esta casa pugnam por uma opinião encontrada á que eu professo, e entendo que calumniar os meus adversarios seria calumniar-me a mim; por isso procurarei sempre honra-los, honrando-me do combate em que nos empenharmos. (Apoiados.) Peço a Deus que desvie dos meus ouvidos aquella voz do santo pontifico que dizia ao orgulhoso Sicambro: «Curva a fronte, orgulhoso Sicambro, adora o que queimaste, queima o que adoraste!» E entre Guizot e Coriolano, preferirei sempre Guizot.

Feitas estas declarações, simplesmente me limitarei a dizer resumidamente á camara os motivos que me determinaram a rejeitar a proposta da reforma da carta. E na verdade, se outras ratões eu não tivesse, bastava-me uma phrase do meu illustre collega o sr. Pinheiro Chagas.

Disse s. ex.ª, fallando da demagogia, que ella estava um pouco desacreditada.

Ora, eu não quero que nós vamos emprehender a discussão e reforma do nosso codigo fundamental, n'esta epocha revolta em que terriveis convulsões têem agitado a Europa, e em que, apesar das lições espantosas que nos deram as nações vizinhas, um talento gigante como o do sr. Pinheiro Chagas, rasão esclarecidissima, consciencia bem provada, vem dizer entre nós que a demagogia está apenas um pouco desacreditada.

O sr. Pinheiro Chagas: — Disse um pouco como podia dizer muito; e agora digo muito.

O Orador: — Apraz-me a rectificação, porque estou affeito a entender 03 homens pelas palavras, e quando os homens são como s. ex.ª mestres em linguagem portugueza, mestres em litteratura, em historia e em philosophia, as suas palavras significam sempre o que naturalmente significam.

(Interrupção do sr. Pinheiro Chagas.)

Mas se s. ex.ª confessa que a demagogia está completamente desacreditada por seus crimes e desvarios, por suas utopias e loucuras, não faltará quem pense e pregue o contrario, e procure e deseje com anciã ensejo favoravel para, aproveitando a ignorancia de uns, a miseria de outros, as ambições desordenadas, os caprichos dos descontentes, as especulações dos aventureiros, levantar grito de revolta, que seria o terror para todos, a desgraça para muitos e a ruina para a nação.

E s. ex.ª sabe muito bem que a discussão do nosso codigo fundamental se não limitaria a ser feita no parlamento, e que na imprensa e nas praças publicas haviam todos os pretendidos reformadores sociaes, os vulgarisadores da nova idéa, os apostolos de extravagantes redempções, empenhar todas as suas forças para fazerem vingar as suas doutrinas. É d'este modo que se fazem as revoluções, as revoluções tremendas que tudo destroem e nada edificam. E uma revolução é sempre uma espantosa calamidade, mesmo quando é exigida por imperiosíssimas necessidades sociaes.

E que necessidade temos nós de correr os riscos de uma revolução que, no estado actual da Europa, se me afigura seria inevitavel? Pois não gosâmo3 nós de plena liberdade, não estão abertos todos os caminhos para todas as aptidões,

não temos garantidos nossos direitos, não professámos uma sensata democracia?

De certo, sr. presidente; e porque d'isto estou convencido, porque o observo e experimento, não reconheci a necessidade urgente da reforma da nossa carta constitucional e votei contra a proposta apresentada pelo sr. Pinheiro Chagas.

Eu, sr. presidente, cuja vida publica é tão curta e tão singela que a todos está patente; eu, cuja carreira parlamentar data de hontem apenas, como todos conhecem; vida que não tem paginas de gloria e que eu por minhas mãos rasgo sem dó, fui já accusado não sei de que contradicções e apostasias, chegando a dizer-se que tinha despedaçado o meu idolo, a democracia. Agora maior será o clamor, e todavia não é verdadeiro o crime de que me accusam.

Amo a democracia porque sou seu filho, quanto sou a ella o devo. Mas para os que me accusam a democracia é um idolo, para mim é uma verdade, é uma religião.

E quer V. ex.ª saber qual é a democracia que eu professo, aquella pela qual eu vivo, e pela qual terei a coragem de morrer?

E a que se empenha na elevação de todas as almas á luz, de todas as consciencias ao dever, de todos os corações ao amor. (Apoiados.)

Não vae apostoliar a revolução nas praças publicas, não trabalha nas barricadas, não traz comsigo a bilha do petróleo, não bate as palma3 á guilhotina, não divinisa Marat. Não a rala ciúme iniquo, porque a felicidade embala outros nos seus braços ou porque a alguns a gloria lhes enrama a fronte com virentas palmas; não ateia as lutas desgraçadas entre o capital e o trabalho (apoiados) não levanta antagonismos entre os interesses sociaes, não envenena a desgraça chamada miseria com a peçonha chamada inveja, não vae alistar nos covis do vicio as hordas dos miseraveis para os arremessar contra a sociedade, não decreta n'um impeto de vergonhosa estupidez a abolição do Eterno. Detesta Robspierre como detesta Torquemada, inspiram-lhe igual terror Almaric e Maillard, horrorisa-se, com as matanças da Saint-Barthelemy como com as carnificinas da revolução. (Apoiados,)

Mas adora S. Vicente de Paula e S. Francisco Xavier.

Inspira-lhe mais veneração mgr. Afre hasteando sobre a barricada a cruz do Redemptor, symbolo de paz no meio de horrores da guerra civil, do que o enthusiasta Baudin.

Espera mais da escola que resgata da ignorancia, da officina que redime da miseria, da sciencia que ennobrece o espirito e avassalla as forças da natureza, do que dos combates das ruas de Paria ou de que das constituições sonhadas pelos intransigentes da França, pelos intransigentes da Hespanha.

Prefere o sonhador Pestalozzi ao socialista Blanqui; (apoiados), e encontra mais préstimo em um tecelão como Jacquart do que em um revolucionario como Carl Max. Sobre tudo, não desdenha da patria, porque acima d'esta patria nossa formosissima só vê aquelle Deus que lhe deu as suas chagas por brazão, quando nós eramos os soldados da cruz e os apostolos da religião do amor. (Vozes: — Muito bem.)

Aqui está a democracia que eu professo, que eu sempre professei; e agora desafio eu quem quer que seja que cite uma phrase minha que esteja em contradicção com o que deixo dito, ou que note uma acção contradictoria em o meu proceder.

(Pausa.)

Sr. presidente, não vejo que haja necessidade de nos occuparmos agora da reforma do nosso codigo fundamental; não conheço difficuldade que elle nos levantasse, não me diz a historia que elle fosse já alguma vez obstaculo ao nosso progressivo desenvolvimento, ou servisse de peias á legitima expansão da nossa liberdade; não nos sobra tempo para nos occuparmos com discussões byzantinas, e receio