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isto? Pois o acto onde se apresentam documentos d'esta ordem servirá para consolidar o syslema representativo? Se eleições assim feitas servem para consolidar o syslema representativo, enlão aquelles onde não houve protestos, onde tudo correu regular, ou a contenda foi decidida entre amigos e boa paz só servem para desmoronar o syslema representativo. Segundo as idéas dos senhores da commissão os eleitos por um circulo, onde a urna foi cercada d'eslas circumstancias, esses é que são os legítimos representantes do povo, e os outros, onde a eleição correu regular, onde não houve protestos, d'onde se não apresentam documentos da natureza destes, essas eleições,-longe de concorrerem para consolidar o syslema representativo, só servem para o desmoronar! Ninguém respeita mais os membros da commissão do que eu, mas cu asseguro á junla que não assignava islo; eu penso de diverso modo.
Os documentos que eu tenho citado estão aqui lodos. A minha opinião era que se mandasse proceder a outra eleição, e que se mandasse conhecer criminalmente de lodos esles factos. Aqui estão os documentos e relatório do governador civil, que mandou proceder a um inquérito, mas o governador civil é suspeito, porque era interessado n'esle trabalho; por consequência quem devia ir conhecer d'islo era outra pessoa, e conhecer judicial e não administrativamente; embora a questão fosse administrativa era entrega-la ao poder judicial; porque aqui não ha partidos, isto interessa a lodos, porque hoje somos opposição, amanhã seremos maioria; é necessário liquidar estes factos, que não podem ficar impunes, não pôde ser.
Os actos de moralidade devem vir do alio, e a junta não pôde approvar actos d'esta ordem sem se compromellcr peranle o publico. A questão não é politica; de que vale vir mais um deputado para a maioria? A maioria está grande, não precisa de mais um deputado, assim como a opposição não ganha com ler um deputado demais ou de menos, e desgraçados de nós se limitarmos as nossas considerações a estes interesses pequenos. Se sc approvar este parecer a maioria ganha um voto, mas a opposição ganha muilo lá fora; é uma grande sementeira para a opposição sc se approvar esta eleição. A politica pois pôde ganhar com a approvação d'esta eleição, podem ganhar os dois partidos, maioria c opposição, mas a moralidade c a justiça hão de soffrer e gemer por força se não forem punidos estes factos. (Apoiados.)
Não posso pois deixar de dizer que houve crime, mas quem foi o criminoso não me atrevo a dize-lo; o que é necessário é que a aucloridade pelas vias legaes trate de saber onde eslá o crime, mas não entregar o'conhecimento, a syndicancia d'este negocio ao governador civil, á aucloridade adminiilra-liva, porque essa desgraçadamente foi interessada n'esta pugna, foi interessada n'esta eleição, porque houve o empenho de excluir um homem, e debaixo d'este pensamento é que se marchou dc violência em violência.
Não quero, cansar mais a atlenção da junta. Impuz-me provar que n'esta eleição não houve nem liberdade, nem verdade, enão me cansarei de dizer que houve crime; quem foi o criminoso não mc atrevo a dize-lo, mas penso qne a camara não pôde approvar estes factos, e deve usar dos meios legaes para fazer que sejam punidos, e se saiba quem são os verdadeiros criminosos.
Sr. presidente, é necessário que acabemos com isto por uma vez, e que se entre no caminho normal; não pôde ser que nós aqui auclorisemos tudo e não façamos caso das formulas, d'aquellas que resumem cm si todas as garantias so-ciaes.
Não pôde s,cr que a camara se constitua cm jury unicamente, e que nós vamos aqui a julgar cada um pelas informações particulares que tiver. Eu sei particularmente o que occor.reu, mas entendo que esla junta não pôde dar uma decisão justa e reconhecer se o faclo é verdadeiro ou não; o que eu reconheço é a existência de criminosos, que c necessário que se punam. Não demos o exemplo de immoralidade, aliás seremos victimas.
Não me sentarei sem fazer uma declaração. Eu. não faço
discursos, converso naturalmente com a camara, analyso os documentos, faço as considerações que me occorrem, em sura-ma fallo sem ordem nenhuma, porque os factos é que impressionam e não os discursos brilhantes; mas n'esle descosido de argumentação é possível que escapem palavras que tenham algum resaibo, que vão offender algumas pessoas, e por isso faço a declaração para sempre de que retiro toda e qualquer expressão que possa saber a offensa pessoal. Eu respeito lodos os srs. deputados eleitos, respeito a opinião de todas as pessoas, e porque não tenho intenção de ofTender ninguém, retiro, como acabo de dizer, todas as expressões que possam ser tomadas em tal conta, e eslou prompto para dar todas as explicações conducentes a convencer a assembléa de que as minhas intenções são estas.
Concluo pois, que não havendo liberdade, nem verdade n'esta eleição; antes sendo evidente que houve crimes, não podemos approvar similhantes actos, sem nos tornarmos cúmplices em altcntados que horrorisam.
Os exemplos dc moralidade devem partir dos corpos políticos, pois quando a corrupção vem de cima para as camadas inferiores da sociedade, caminhámos para uma dissolução inevitável.
Se approvarmos estes escândalos, se alem d'isso os canoni-sarmos, como fez a commissão, chamando-lhes pugnas incruentas, não devemos esperar que a lei se cumpra para o futuro.
Politica sem moralidade é o maior crime social.
O sr. A. n. Sampaio: — Senhores, não venho pedir a cabeça de ninguém, nem a punição de nenhum crime; venho sustentar a validade da eleição do Peso da Régua.
Caifás, sacerdote judeu da seita dos sadocens, que servia a Deus pelos iuteresses temporaes, também julgava que convinha que morresse um homem pelo povo; cu creio que podemos tratar d'esta eleição sem pedir a morte, nem a cabeça de ninguém.
A contrariedade de documentos não imporia pena de núllidade. Os altestados, ou adifferença de horas, não são cousas que deshonrem o syslema representativo. Mais desconfio eu de aclas que sendo feitas por um modelo trazem alé os pa-renlhesis do modelo, não mencionando o numero das lislas e lendo como modelo tantas, nas quaes se repara depois esta falta por uma enlre-linha que suppre tudo; e eslas são as das unanimidades. Ora as unanimidades concorrem menos, muito menos, para a consolidação do syslema representativo do que este zelo excitado, porque pôde haver excitação sem crime; os espíritos quasi sempre se excitam n'uma epocha eleitoral, mas podem eslar excitados sem que haja seenas eruentas. É esla a anarchia mansa do que fallava um estadista celebre, que foi membro d'esta camara e ministro distado, cuja perda deplorámos; (Apoiados.) e é ella que concorre para consolidar o syslema representativo c não as con-tradicções dé dois ou Ires indivíduos.
Liberdade e verdade são as condições dc uma boa eleição; e liberdade e verdade é o que houve na de que se Irala.
Nós vimos honlem estranhar que alguém quizesse achar a verdade fora das actas, e vimos hoje convencer as aclas dc crimes achados fora d'ellas. Nós vimos honlem condemnar a influencia da aucloridade e vimos depois condemnar a pasmaceira da aucloridade, chamando-lhe por irrisão primavera. Vimos tudo, vimos sustentar o pró c o conlra, e conclui das conlradicções a mesma cousa, que era a invalidade d'esta eleição, que não sei se sc concluiu, não sei se o illustre deputado a concluiu. O illustre deputado fallou de tudo; fallou do sr. Guilhermino de Barros, que por uma presciência soube que havia de ser deputado se a aucloridade não influísse; mas tratar da questão eleiloral, mostrar que tinha havido força que coagisse, isso não vimos nós.